[reflita a concepção de literatura enquanto produto social.]
Nicolas Marcos
As obras cânones são ou tentam ser o produto social que
representam uma civilização, evocam as características da cultura vigente de uma realidade incrível. Pois os cânones orais e textuais de tribos e povos ao passar dos séculos, torna-se o produto social literário que lhes pertencem. Ademais, isto deve-se talvez que pessoas queiram possuir algo que as defina como parte de algo maior.
O escritor Michael Riffaterre define a intertextualidade como o
fenômeno que orienta a leitura do texto (ou a oralidade cultural), ele ainda destaca uma noção de origem, ou seja, a intertextualidade é a referência (clara ou não) de uma voz anterior pela necessidade de pertencimento daquele autor(a). Toda literatura emana de outra anterior a ela, pois nada é novo debaixo do sol.
Como abordado no primeiro texto, segundo Candido, a arte
literária são um conjunto de fatores sociais que influenciam quem a influenciou, a escrita é a produção social e a leitura é a prática social. Por detrás das cortinas temos a impossibilidade da criação de texto ou de discurso que ainda não foi criado, citado ou cogitado. A literatura é um bem de todos e precisa estar acessível.
Como aborda Adriana Facina em Literatura e sociedade, a
literatura passou de invenção humana para parte da ciência humana, pois nela (na literatura) constam o contexto social, histórico e a antropologia. Um mundo da literatura se parece muito com o nosso, pois como podemos ver em Tlön, Uqbar, Orbis Tertius de J. L. Borges, na trama, devemos descobrir o que está acontecendo nas pesquisas feitas pelo protagonista. Sua análise é complexa, com termos filosóficos e muitas referências do mundo real. Mas ainda meio sóbrio. Às vezes, a história segue um caminho que parece conspiracionista e obscurantista. Assim, o contexto metafísico vai aparecendo aos poucos enquanto o pano de fundo do mistério vai mudando o seu mundo que ele conhece. O materialismo e o poder da palavra são temas mesquinhos, e questionados quando comparados com o novo mundo chamado Tlön. Neste conto, sabemos mais de Borges do que de um novo mundo, ou seja, toda produção social, revela a sua sociedade.