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Resenha sobre o texto “Os anos 1930: as incertezas do regime” de Dulce Chaves
Niterói, RJ
2023
Em seu texto “Os anos de 1930: as incertezas do regime” a autora Dulce Chaves Pandolfi
esclarece que seu objetivo é analisar o contexto político entre a Revolução de 1930 até a
inserção do Estado novo em 1937 e quais os interesses políticos que influenciaram ou
sofreram fortes repressões neste cenário de grandes mudanças políticas.
No decorrer do período pré-revolução, é certo que o coronelismo oligárquico obtinha
grande poder no cenário político brasileiro, todavia os tenentes brasileiros e os demais
reformistas eram contra este sistema, pois não estavam sendo beneficiados, visto que o corpo
tenentista não estavam recebendo demandas para seguir com seus serviços. Assim, com essa
revolta presente, criou-se a Aliança Liberal que tinha como objetivo não só a retirada das
oligarquias no cenário político, mas também outras pautas que este mesmo grupo defendia,
como a justiça social e a liberdade política.
Um dos principais personagens neste período e representante da Aliança Liberal, Getúlio
Vargas elegeu-se então nas eleições de 1930 para que conseguisse colocar em prática as
ideologias do movimento até então criado, ademais este perdeu as eleições e com o apoio dos
tenentistas, Vargas e demais superiores que não aceitaram tal resultado realizaram a
revolução de 30, colocando Vargas na Chefia do Governo Provisório da Nação.
Ademais mesmo este momento de pós-revolução e então inicio da Era Vargas, os interesses
políticos de grupos que compunham a Aliança Liberal começaram a ter conflitos de
interesses, pois enquanto alguns grupos desejavam que a democracia fosse implantada de
imediato no cenário político brasileiro, outros desejavam que as mudanças sociais fossem as
primeiras modificações políticas após a revolução.
A autora também esclarece que este início de pós-revolução tinha não só essa luta de
interesses, mas também o debate de como se seguiria o modelo de Estado a partir de então,
pois enquanto os reformistas desejavam um “Estado centralizador de orientação nacionalista
e reformista” (Pandolfi, 2013, p.17), os liberalistas desejavam um Estado com um modelo
federal e federal. Ademais, o governo provisório de Vargas optou por seguir com um modelo
centralizador e nacionalista, aspecto esse que será marcante na Era Vargas, pois para colocar
em prática esse novo modelo de Estado, Vargas irá propor uma nova Constituição para o
país, seguindo os interesses nacionalista e centralizador, e seu projeto nomeado como Estado
Novo inicia-se em 1930.
Como visto antes, a Revolução obteve forte influência do tenentismo e por este motivo no
cenário pós-revolução, o tenentismo ainda obteve um importante papel no decorrer dessa luta
de interesses, pois os primeiros anos da revolução foi marcada pela “militarização das
interventorias", ou seja, a maioria dos chefes de estado eram tenentistas e por isso o controle
central da política obteve uma ideologia tenentista que imposta para a maioria dos estados do
Brasil. Um exemplo de como seu poder foi integrado, é o fato de que nenhum estado
brasileiro podia solicitar empréstimos externos sem a autorização do poder central.
Mudanças sociais também foram um ponto de fundamental importância neste cenário, pois
o governo obtinha maior controle sobre os interesses de diferentes grupos e este foi o
propósito da criação do Ministério do Trabalho e de diversas leis trabalhistas, pois de acordo
com a autora essa medida de “implantar uma estrutura sindical corporativista na qual os
patrões e empregados, reunidos nas associações de classe, se transformassem em elementos
de sustentação do governo” (Pandolfi, 2013, p.20).
Ou seja, este cenário de pós-revolução sofreu com mudanças de Estado, mudanças sociais,
mudanças econômicas e em diversos outros âmbitos, todavia, em cada uma dessa mudanças
houve uma luta de interesses sejam eles de classe, de gênero e ideologias, e após todas essas
mudanças algum grupo se sentia desfavorecido, fato esse que causou diversas manifestações
no anos 30; esse foi o caso da Revolução de 1932 que foi formado pelas forças paulistas e
demais atores que eram contra o Governo Vargas; a força paulista estava insatisfeita com as
medidas do governo provisório, pois com a criação do Conselho Nacional do Café (CNC)
que tinha como objetivo evitar que somente São Paulo tivesse o controle total da produção
cafeeira, o estado paulista perdeu grande parte do seu protagonismo político, assim o
propósito da revolução tinha como objetivo o fim do regime ditatorial e maior autonomia
política e econômica. Pandolfi dirá que por mais que os paulistas terem sido derrotados pelas
forças militares, a revolução de 1932 foi importante para o cenário político brasileiro, pois
Vargas com o intuito de permanecer no poder convocou uma Assembleia Legislativa para
formular a nova Constituição do país e por mais que fosse contra a sua vontade, a nova
Constituição que foi implementada em 1934 obtinha como defesa os anseios liberais
democráticos.
Uma das características também presentes nos anos 30 foi a maior participação do povo
sobre a formulação da nova Constituição e isso proporcionou não só uma representação
maior sobre diversos grupos sociais, mas também o nascimento de diversos movimentos
sociais que lutavam por seus interesses, eclodindo no país diversas greves; dentre esses
movimentos havia a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora
(ANL), o conlfito de interesses era tanto que a AIB ganhou muitos seguidores, mas por ela
ser contra o regime na época (queriam derrubar o governo Vargas e colocar Luis Carlos
Prestes no lugar), tornou-se ilegal e as demais pessoas que também eram contra ao regime
atual foram presas. O controle de censura chegou ao ponto do governo implementar a Lei de
Segurança Nacional, que tinha como objetivo censurar os meios de comunicação que
manifestavam ações contra as forças armadas.
Ao mesmo tempo, por mais que Vargas estivesse seguindo corretamente a Constituição
elaborada em 1934, o mesmo já tinha dito que não concordava com ela e que a modificaria
assim que possível, ou seja, no período de sucessão presidencial no ano de 1937, o até então
presidente aproveitou do estado de guerra que estava acontecendo no país contra a os
comunistas para elaborar e intensificar o golpe de 1937.
Em suma, pode-se concluir que a autora deixa claro que a Revolução de 30 não foi o
resultado de uma só luta com somente um interesse, a Revolução de 30 foi composta por
diversas lutas, tendo cada uma delas um interesse e desejos políticos, tornando assim este
momento de grande mudanças sociais para diversos grupos, ademais, tornou-se também um
período de grande violência e repressão, pois por mais que seja um período em que diferentes
grupos sociais conseguiram conquistar seus direitos, demais grupos e movimentos foram
censurados e repreendidos pelos que possuíam maior poder; esta análise é o que torna o texto
tão interessante e revelador, pois mostra-se os dois lados da moeda, além de que a discussão
presente será de extrema relevância para uma compreensão atual do Brasil, visto que ainda
hoje segue essa luta por interesses que variam dependendo do grupo social.