Você está na página 1de 67

Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

REVISTA
mobile

Semanal | 19.1.2024

“ABRA A
PORTA,
É A POLÍCIA
94
FEDERAL”
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

/ Capa
“ABRA A PORTA, É A POLÍCIA
FEDERAL”
3 | Carlos Jordy, um extremista na mira da
Justiça, por Henrique Rodrigues
edição #94

/ Política
12 | Moro: STF determina investigação no
caso Tony Garcia, por Plínio Teodoro
/ Comunicação
conteúdo |

17 | Quem tem medo da regulação das


redes sociais?, por Ivan Longo
/ Economia
27 | A existência de bilionários é um risco
para a democracia?, por Raphael Sanz
/ Brasil
35 | Bares alegres e descolados não foram
feitos para o chilique dos fascistas, por
Julinho Bittencourt
/ Global
40 | O desprezo pelos palestinos, por Hamid
Dabashi
49 | Alemanha: plano neonazista para
expulsar imigrantes choca população, por
Ivan Longo
/ Televisão
62 | BBB 24: “Eu não sou viado”, por Marcelo
Hailer

65 / Expediente
Foto capa: Agência Senado
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reprodução vídeo

Capa

Carlos Jordy,
um extremista na
mira da Justiça
por Henrique Rodrigues
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

“Abra a porta, é a Polícia Federal!”. Foi assim


que o deputado acordou na manhã de quinta
(18), numa ação que encurrala e amedronta os
“falcões” do bolsonarismo

O
dia mal tinha começado em Niterói (RJ)
e uma figura célebre do bolsonarismo,
o deputado federal Carlos Jordy (PL-
RJ), um extremista incontido e irascível que
ocupa atualmente o cargo de líder da oposição
na Câmara, foi acordado com a campainha
em casa. “Abra a porta, é a Polícia Federal!”,
alguém disse ainda na calçada.
Os agentes estavam não só em sua
residência, mas também entravam naquele
momento em seu gabinete na Câmara dos
Deputados. O mandado fora expedido, por
razões óbvias de prerrogativa de foro, pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), assinado pelo
ministro Alexandre de Moraes, o homem da toga
negra que apavora a extrema direita brasileira
Jordy entrou na alça de mira da Justiça
por sua suposta participação como artífice
nas ações golpistas e antidemocráticas que
se desenrolaram entre o final de 2022, com
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Carlos Moura/SCO/STF


O ministro Alexandre de Moraes, o homem da toga negra
que apavora a extrema direita brasileira

a derrota nas urnas de Jair Bolsonaro (PL)


para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a primeira
semana do novo governo, que balançou com
os ataques de 8 de janeiro.
Com um discurso sempre cínico de “defesa da
liberdade”, Jordy é um clássico da fauna política
da extrema direita atual. Sempre “defendendo
o cidadão de bem, a família, pelas criancinhas
e pela pureza da infância”, o parlamentar foi
flagrado pela PF trocando mensagens com um
perigoso extremista de Campos dos Goytacazes
(RJ) que “chefiava” as turbas criminosas
que infernizavam o Brasil no final de 2022,
bloqueando estradas porque seu candidato foi
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
rechaçado nas urnas.
Trata-se de Carlos
Victor de Carvalho,
conhecido como
CVC, um militante
que administrava
pelo menos 15
grupos de WhatsApp
com milhares de
seguidores, e um dos
responsáveis pelas
interrupções em
rodovias no Rio de
Janeiro.
Para piorar tudo, Jordy manteve contato
estreito com Carvalho enquanto este tinha
um mandado de prisão expedido pelo STF e
mantinha-se foragido da Justiça semanas após
os ataques em Brasília. O sujeito chamava o
deputado de “meu líder” e, durante os dias em
que obstruía estradas com entulho e barricadas,
pedia a Jordy “orientações de como fazer”.
“Fato que contribui com a sustentação
da linha de investigação de participação do
parlamentar é que no dia 17/01/2023, quando
CVC [Carlos Victor de Carvalho] encontrava-
se foragido, CARLOS JORDY faz contato
telefônico com aquele. Sendo que, como
parlamentar, representante da população
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
brasileira, ao tomar conhecimento do destino do
foragido seu dever como agente público seria
comunicar imediatamente a autoridade policial”,
diz o documento assinado por Moraes que
autorizou a busca e apreensão nos endereços
do parlamentar.

Foto Reprodução

E a coisa não para por aí. O enrosco do


deputado bolsonarista com a trama golpista
é muito mais profundo. Um de seus principais
assessores, Tacimar Hoendel, que ocupava
o posto de secretário parlamentar de Jordy,
era presença notória no ajuntamento da
extrema direita que congregava criminosos
de todo o país para tentar impedir a posse
do então presidente eleito Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) na porta do Quartel-General do
Exército em Brasília. Ele postava ameaças
claras à democracia brasileira nas redes e já
era conhecido da PF e do inquérito que tramita
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
no STF e investiga os atos de banditismo dos
bolsonaristas na capital da República.
Para completar as suspeitas contra Hoendel,
o assessor esteve ainda presente em encontros
golpistas na sede do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), órgão que se converteu
em cerne da tentativa frustrada de implodir a
democracia no país, chefiado no antigo governo
pelo funesto general Augusto Heleno, no
Palácio do Planalto.

Maré pode estar subindo


para bolsonaristas
O que de fato preocupou a tropa
tresloucada dos discípulos de Jair Bolsonaro
no Congresso, sobretudo na Câmara, com
a ação que mirou Jordy é a possibilidade
de “a maré estar subindo” para o segmento
golpista ultrarreacionário, o que pode levar
muita gente “ao afogamento”. A autorização
de Moraes para a investigação avançar sobre
o deputado fluminense é lida por alguns como
um sinal de que outros desses “falcões”
extremistas podem entrar na roda, já que a
participação do grupo nos atos golpistas é
mais do que óbvia e evidente.
Não foi à toa que a oposição emitiu uma nota
conjunta atacando Moraes e gritando para que
a imunidade parlamentar “seja respeitada”, em
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Fotos Câmara dos Deputados


Amedrontados, os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo
Gayer (PL-GO) foram às redes sociais defender Jordy

que pese o fato de essas figuras “confundirem”


tal proteção prevista na Constituição Federal
com um surreal direito para planejar golpes de
Estado, o que definitivamente não existe. Duas
outras personalidades do rol de celerados do
bolsonarismo muito conhecidas, os deputados
federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo
Gayer (PL-GO), correram imediatamente para
as redes para defender Jordy ainda na manhã
de quinta, lançando mão da bobajada habitual
delirante que versa sobre um Brasil imaginário
que estaria sob uma ditadura.
Há ainda outros deputados preocupados
com os avanços do STF contra os golpistas
encastelados no Congresso. É o caso de André
Fernandes (PL-CE), Silvia Waiãpi (PL-AP) e
Clarissa Tércio (PP-PE), que também são alvos
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reprodução
Jordy com Jair
e Carlos Bolsonaro

de inquéritos por incentivarem os ataques de 8


de janeiro.
À essa altura, se o Supremo irá recuar de
sua tarefa de buscar os criminosos golpistas
que quase sequestraram o Brasil onde quer
que estejam, inclusive dentro do Legislativo e se
escondendo atrás da imunidade parlamentar,
isso ninguém sabe ainda. Mas a tomar pelas
ações de Alexandre de Moraes, implacável
na busca pelos responsáveis pelo malfadado
golpe, os bolsonaristas com foro privilegiado
têm muito com o que se preocupar.w

u Clique aqui e assista ao Fala, Rovai: “Tic tac:


PF pega Jordy e Nikolas chora de medo”.

u Clique aqui e assista ao Fórum Onze e Meia:


“Jordy, Nikolas e Gayer com o coador na mão”.

u Clique aqui e assista à íntegra da fala de Carlos


Jordy que fez PF investigá-lo.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

APOIE
benfeitoria.com/ato18episodio3

FILMES

Direção
Luiz Carlos Azenha

EP.3
Contragolpe
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Marcos Oliveira/Agência Senado


Política

Sergio Moro
STF determina
investigação no caso
Tony Garcia
Ex-deputado e empresário afirma que
atuou como agente infiltrado de Moro para
grampear autoridades; informações poderiam
ser usadas para chantagear quem
se colocasse contra a Lava Jato
por Plínio Teodoro

O
ministro Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal (STF), determinou à
Polícia Federal (PF) e à Procuradoria-
Geral da República (PGR) a abertura de
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
investigação sobre o acordo de delação firmado
pelo ex-deputado Tony Garcia com o então juiz
e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que é
considerado o “embrião” da Lava Jato.

Empresário e ex-deputado estadual


paranaense, Tony Garcia afirma ter
desempenhado o papel de “agente infiltrado” de
Moro na Lava Jato.
A decisão atende a pedido da PF e da
PGR, que afirmam existir indícios dos crimes
de coação, chantagem, constrangimento
ilegal e organização criminosa cometidos por
Moro no caso. A informação é de Daniela
Lima, da GloboNews.
Tony Garcia afirma que, em 2004, após ser
preso no contexto de uma investigação contra o
Consórcio Nacional Garibaldi, firmou um acordo
de colaboração premiada com Moro.
Na prática, no entanto, o acordo previa
que ele atuasse como um agente infiltrado,
grampeando autoridades com foro privilegiado
especialmente do Poder Judiciário e do Tribunal
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
de Contas do estado. Segundo Garcia, as
informações poderiam ser usadas por Moro
e pela Lava Jato para chantagear quem se
colocasse contra a operação.
O acordo de delação estava em
sigilo na 13ª Vara Federal de
Curitiba, mas foi enviado ao
STF quando o juiz Eduardo
Appio assumiu a jurisdição e
teve contato com o conteúdo
— o magistrado foi afastado da
13ª Vara em manobra de aliados de Moro.
Segundo a PGR, na representação junto
ao STF, “o acordo de colaboração foi utilizado
como instrumento de constrangimento ilegal”.
Já a PF vê indícios de que “a colaboração
premiada foi desvirtuada de forma a funcionar
como instrumento de chantagem e de
manipulação probatória”.
Tanto a PF quanto a PGR pediram
nominalmente a inclusão de Moro, de sua
mulher, Rosangela Moro, e de procuradores
que atuaram no acordo de Tony e na Lava
Jato como investigados.
Dias Toffoli autorizou a
abertura do inquérito e de
diligências pedidas pela PGR
no dia 19 de dezembro. A
decisão está sob sigilo.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Nas redes, Tony
Garcia sinalizou que tinha
conhecimento da abertura do
inquérito. Em publicação no
domingo (14) na rede X, o ex-
deputado escreveu: “ATENÇÃO!!! Aproxima-se
suavemente o momento em que falsos heróis
têm o mesmo destino dos corruptos imbecis.
TIC TAC TIC TAC TIC TAC!!!”.
Na publicação, Garcia
compartilhou a imagem de um lobo
em pele de cordeiro.

AS ACUSAÇÕES
DE TONY GARCIA

Agente infiltrado
Garcia alega ter atuado
como um “agente infiltrado” do Ministério
Público, com a missão de auxiliar nas
investigações conduzidas pela Lava Jato. Ele
afirma que trabalhou intensamente, com apoio
da Polícia Federal, durante dois anos e meio,
tendo acesso a recursos como segurança
pessoal e interceptação telefônica.

Investigações ilegais
Tony Garcia diz que Moro e os procuradores
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
designaram-lhe tarefas que, do ponto de vista
legal, estavam além da competência do ex-
juiz. Isso incluiria investigações de autoridades
paranaenses com foro privilegiado, o que é
considerado irregular.

Uso de grampos ilegais


Uma das acusações mais graves envolve
o uso de grampos ilegais em conversas
de desembargadores, juízes e ministros do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Garcia
alega ter participado dessa ação e apresentou
evidências que sustentam sua alegação.

Chantagem com vídeos


Tony Garcia também afirma ter sido parte
de um esquema que chantageou os juízes
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4) com imagens comprometedoras de
desembargadores em festas. Ele alega que
Sergio Moro teria se beneficiado desses vídeos.w

u Clique aqui e assista à entrevista do jurista


Kakay no Fórum Café: “Moro fatalmente será
preso”.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reprodução
Comunicação

Quem tem medo


da regulação das
redes sociais?
Em entrevista à Fórum, a jornalista
Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor
da Internet no Brasil, desmistifica proposta
que é alvo de ataques orquestrados de
bolsonaristas e big techs para gerar pânico
entre a população
por Ivan Longo

N
o último dia 8 de janeiro, data que
marcou o primeiro aniversário dos
atos golpistas protagonizados por
bolsonaristas radicais em Brasília, o debate
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
sobre a regulação das redes sociais no Brasil
foi reacendido.
Durante a cerimônia no Congresso Nacional,
tanto o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), quanto o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenderam
a regulamentação para transformar a internet em
um ambiente mais saudável e em consonância
com o Estado Democrático de Direito.
Moraes e Lula associaram diretamente
a ausência de regulamentação das redes
sociais no Brasil aos eventos de janeiro de
2023, caracterizados em grande parte pela
organização, via internet, de atos golpistas
mediante a disseminação de fake news e


discursos de ódio em plataformas digitais.

“Há a necessidade
da implementação de
uma regulamentação
moderna, conforme tem
sido debatido no mundo
democrático, e já adotada,
por exemplo, na União
Europeia e no Canadá”, afirmou Moraes.

“A falta de regulamentação e a ausência de


responsabilização das redes sociais, aliadas
à falta de transparência na utilização da
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
inteligência artificial e dos algoritmos, deixaram
os usuários vulneráveis à demagogia e à
manipulação política, permitindo a livre atuação
do novo populismo digital extremista e de seus


pretendentes a ditadores”, acrescentou.

Lula, por sua vez,


setenciou: “Que ninguém
confunda liberdade com
permissão para atentar
contra a democracia”.

“Liberdade não é uma


autorização para disseminar mentiras sobre
as vacinas nas redes sociais, o que pode ter
resultado na morte de centenas de milhares
de brasileiros por covid. Liberdade não é o
direito de pregar a instalação de um regime
autoritário e o assassinato de adversários. As
mentiras, a desinformação e os discursos de
ódio foram o combustível para o 8 de janeiro.
Nossa democracia permanecerá sob constante
ameaça enquanto não nos comprometermos
com firmeza na regulação das redes sociais.”

Quem tem medo da regulação?


O governo Lula quer sair do atraso
e seguir os passos de países como
Alemanha, França, Reino Unido, Austrália,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Canadá, China e Índia, que nos últimos
anos aprovaram leis de regulação das
redes sociais, com normas específicas
para a operação de grandes empresas
de tecnologia, as chamadas big techs,
estabelecendo sanções rigorosas, inclusive
a possibilidade de exclusão do mercado em
caso de violação. Aqui estamos falando de
plataformas como Facebook, Instagram,
YouTube, X (antigo Twitter), entre outras.

Fotos Câmara dos Deputados


Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do PL 2.630, e o relator
do projeto de lei Orlando Silva (PCdoB-SP)

No Brasil, a principal proposta em discussão


no Congresso Nacional para regulamentar as
redes sociais é o Projeto de Lei 2.630/2020,
conhecido como PL das Fake News.
Apresentado pelo senador Alessandro Vieira
(MDB-SE) em 2020, o projeto foi votado pelo
Senado no mesmo ano, mas enfrenta resistência
de parlamentares bolsonaristas na Câmara. Eles
disseminam informações falsas, alegando que o
projeto instituirá “censura na internet”.
Em linhas gerais, o PL, com relatoria na
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Câmara do deputado federal Orlando Silva
(PCdoB-SP), visa combater a desinformação e o
discurso de ódio na internet, responsabilizando
as grandes plataformas e aplicando sanções.

Foto Reproduçao

Em entrevista à Fórum, a jornalista Renata


Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI), órgão vinculado ao
Ministério da Ciência e Tecnologia responsável
por estabelecer diretrizes estratégicas
relacionadas ao uso e desenvolvimento
da internet, destacou a importância da
regulamentação das redes sociais. Segundo
ela, “a regulação das redes sociais não tem
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
nada a ver com censura”, mas define regras
mínimas para a operação dessas empresas
no país, tal como acontece com todas as
atividades econômicas.
Confira os principais trechos da entrevista de
Renata Mielli.

Fórum — O que é exatamente a regulação


das redes sociais? O que está em jogo no
projeto que tramita na Câmara?
Renata Mielli — Toda atividade econômica
que ocorre num país tem uma regulação
específica, são os parâmetros definidos pelo
Estado brasileiro das responsabilidades que o
setor econômico que atua numa determinada
área precisa ter para garantir a prestação de um
serviço de qualidade que atenda ao interesse
público. Assim como na energia elétrica e no
comércio. As redes sociais, sendo empresas
privadas, atuam no Brasil sem nenhum tipo de
regra. Quando discutimos regulação, queremos
definir como essas redes sociais respondem
ao usuário e qual a responsabilidade dessas
plataformas em casos específicos, como
ataques virtuais ou golpes. Atualmente, não
há canais de diálogo para o usuário nesses
casos, nem parâmetros definidos. Portanto,
a regulação das redes sociais não tem nada
a ver com censura, mas sim com a definição
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
de regras mínimas para a operação dessas
empresas no país.

Fórum — Por que você acredita que exista


uma crítica tão forte por parte da extrema
direita com relação ao projeto de regulação
das redes? Qual o temor?
Renata Mielli — Porque, dentre as várias
regras previstas no atual projeto de lei, o
PL 2.630, que trata da responsabilidade,
transparência e liberdade na internet, existem
obrigações relacionadas à transparência
em como essas redes sociais lidam com
seus conteúdos internos. A transparência
inclui como essas plataformas removem
conteúdos, pois atualmente, sem parâmetros
públicos, elas removem conteúdos por regras
próprias. A obrigação de transparência para
impulsionamento e publicidade dos conteúdos,
por exemplo, permite que usuários e poder
público tenham acesso a informações sobre
quanto foi usado para impulsionar e quem
financiou. Isso vai contra os interesses da
extrema direita, que gasta muito dinheiro para
impulsionar conteúdos de discurso de ódio,
que atentam contra a saúde pública, como no
caso dos conteúdos antivacina, ou como lives
monetizadas no YouTube para incitar o 8 de
janeiro. As regras de transparência expõem a
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
extrema direita nessa ação nociva de produção
de conteúdos que atentam contra a democracia.
Quem dissemina esse tipo de conteúdo? Um
ambiente menos tóxico nas redes sociais, mais
transparente e mais democrático não é do
interesse da extrema direita.

Fórum — Você enxerga alguma disposição


do Congresso Nacional em votar esse
projeto de lei? Ou há uma discussão
maior dentro do governo Lula agora?
Tem expectativas de que isso possa ser
aprovado em breve?
Renata Mielli — Eu acho que é importante
dizer que uma parte do Congresso Nacional tem
compromisso e interesse de votar esse projeto
já há bastante tempo. Inclusive, o próprio
presidente da Câmara, Arthur Lira, trabalhou
politicamente para pautar esse projeto e aprovar
urgência. Uma parte importante do Parlamento
concorda com esse projeto, mas ainda temos
um Congresso muito conservador, com uma
base de parlamentares ligada à extrema direita
muito grande. O governo do presidente Lula
tem trabalhado pela aprovação do PL 2.630
desde que assumiu no ano passado. Em
diversas oportunidades, o próprio presidente da
República enfatizou a importância da aprovação
dessa lei. No ato do 8 de janeiro, ministros
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
do STF também abordaram esse tema, e têm
discutido sobre isso em outras situações. Uma
parte da sociedade civil também se manifestou.
No final do ano, ocorreram casos, como
suicídios, após ações e violência resultante de
ataques nas redes sociais.
Agora, no início deste ano legislativo,
acreditamos que o projeto volte com força para
ser debatido, temos um ambiente propício para
aprovar. No entanto, não podemos subestimar
a força do lobby das empresas de tecnologia,
que atuaram de forma ilegal para impedir a
aprovação do projeto e distorcer a visão da
sociedade com desinformação sobre o que
seria aprovado. Nossa expectativa é que o
projeto seja debatido com força agora no início
do ano legislativo, mas só será concretizada
se trabalharmos em conjunto, mobilizando a
sociedade civil, a imprensa progressista e o
setor progressista da sociedade para garantir
um ambiente mais saudável nas redes sociais
no Brasil.w
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

JORNALISMO
AUTÊNTICO E
VERDADEIRO
Acesse todos os dias
www.revistaforum.com.br
i

o seu
portal de notícias

apoie.revistaforum.com.br
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Economia

A EXISTÊNCIA DE
BILIONÁRIOS
É UM RISCO
PARA A
DEMOCRACIA?
Colagem Marcos Guinoza

Em entrevista à Fórum, Jefferson


Nascimento, da Oxfam Brasil, fala sobre
relatório que apresenta dados alarmantes
sobre o futuro da humanidade
por Raphael Sanz

N
o começo da semana, a Oxfam Brasil
publicou o relatório Desigualdade S.A.
– Como o Poder Corporativo Divide
o Nosso Mundo e a Necessidade de Uma
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Nova Era de Ação Pública, em que mostra
uma série de dados alarmantes sobre os
rumos da humanidade sob o capitalismo. A
principal revelação é a de que, de 2020 para
cá, os cinco principais bilionários do mundo

OS CINCO MAIS RICOS QUE


FICARAM AINDA MAIS RICOS

Elon Musk
Tesla, SpaceX e X
29,3 bi (2020) g 245,5 bi (2023)
Variação: 737%

Bernard Arnault
LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton
90,6 bi (2020) g 191,3 bi (2023)
Variação: 111%

Jeff Bezos
Amazon
134,7 bi (2020) g 167,4 bi (2023)
Variação: 24%

Larry Ellison
Oracle
70,3 bi (2020) g 145,5 bi (2023)
Variação: 107%

Warren Buffett
Berkshire Hathaway
80,5 bi (2020) g 119,2 bi (2023)
Variação: 48%
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
dobraram suas riquezas enquanto 60% da
população do planeta, ou 5 bilhões de pessoas,
empobreceram no mesmo período.
Ao longo do relatório é detalhada uma série
de aspectos desse quadro de desigualdade
global, entre eles a hegemonia do capital
financeiro no controle das corporações e
o próprio poder dessas corporações, que
influenciam governos e manobram Estados
em todo o mundo para que seus interesses
sejam atendidos. Nesse sentido chegam
as políticas de austeridade, privatizações,
desregulamentação de leis trabalhistas e a forte
queda do poder dos salários, enquanto, do
outro lado da pirâmide, os principais acionistas
das principais corporações dragam a riqueza
gerada na produção e nos serviços.
Em dado momento, o relatório fala
abertamente que “fica nítido que a propriedade
de ações e participações, em termos
econômicos, reflete uma plutocracia e não
uma democracia”. A palavra em questão,
“plutocracia”, significa justamente o “governo
daqueles que têm grana”.
Nesse sentido, entrevistamos Jefferson
Nascimento, coordenador de Justiça Social
e Econômica da Oxfam Brasil, para comentar
o relatório e nos responder em que medida,
exatamente, a mera existência desses
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Divulgação
Jefferson Nascimento, da Oxfam Brasil

bilionários pode produzir uma desigualdade


que coloque as democracias em xeque e
abra caminho para que a extrema direita se
apresente como alternativa.

A existência de bilionários é um
risco para a democracia?
Essa tem sido, justamente, uma preocupação
nossa. Não só da Oxfam no Brasil, como da
confederação Oxfam, de que fazemos parte e
que está presente em 65 países. Dentro desse
debate temos tentado colocar essa agenda da
necessidade de combater as desigualdades,
não apenas por ser a coisa certa a se fazer, mas
por uma série de razões.
Tem um argumento de ordem moral, de que
a gente não pode ter algumas pessoas com
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
tanto e outras com tão pouco; um de ordem
jurídica, que, no caso do Brasil, por exemplo, a
Constituição prevê que é uma das diretrizes da
República reduzir desigualdade; e um de ordem
política, no sentido de que, para onde se olha,
e os dados do relatório ressaltam isso, vemos
aumento da desigualdade e da concentração
de renda. Trata-se de um movimento que não
só ele não se abrandou com o contexto da
pandemia, como se intensificou no período,
assim como agora nesse momento pós-
pandêmico. Enquanto isso, no outro extremo
da humanidade, vemos os reflexos em mais de
90% da população.
Quando vemos esse cenário, ele em parte
explica o crescimento de candidaturas e
de políticos de extrema direita em todo o
mundo, embalados por questionamentos da
própria estrutura e ordem democrática em
diversos países.

Políticas de austeridade
Essa não é uma vinculação nova e o
nosso relatório fala um pouco desse contexto
econômico no qual o planeta se insere, que
teve um momento de auge nos anos 1990,
e é marcado pela lógica das políticas de
austeridade. Ela impõe ser necessário reduzir o
papel do Estado e os investimentos públicos,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

“ “PARA ONDE SE
OLHA, E OS DADOS
DO RELATÓRIO
RESSALTAM ISSO,
VEMOS AUMENTO DA
DESIGUALDADE”

abrindo espaço para empresas privadas


dominarem, inclusive, o fornecimento de
serviços públicos.
Há todo um capítulo no relatório falando a
respeito disso, de como essa lógica de redução
do Estado e a presença de atores privados,
fornecendo serviços públicos essenciais,
fez com que alguns setores se tornassem
monopolistas e como isso tem um impacto
significativo. Por exemplo, a partir do momento
que os serviços de saúde começam a ser
majoritariamente exercidos por atores privados,
eles ganham uma capacidade enorme de ditar
preços e condições regulatórias no mercado.

Extrema direita
Vimos ao mesmo tempo essa redução
do papel do Estado, esse aumento das
desigualdades e quem propõe saídas baratas,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
de alguma maneira, têm sido vários políticos
de extrema direita, que acabam capitalizando
esse contexto de piora da condição de vida
para apontar o dedo para quem? Para os
migrantes, os pobres, os indesejados. Isso de
alguma maneira, tendo uma adesão ampla em
determinados locais, irá oferecer uma resposta
errada para uma questão presente em grande
parte dos países.
Hoje mesmo uma notícia
no jornal me chamou muita
atenção e está diretamente
ligada a esse debate. Donald
Trump venceu a primeira
primária republicana nos
Estados Unidos com uma
margem significativa sobre o
segundo colocado. Inclusive repercutiu bastante
o discurso que ele fez, falando que os Estados
Unidos estão sendo invadidos por terroristas,
que é algo que não tem nenhum tipo de lastro
nos fatos. E, segundo matéria da Folha, o apoio
a ele cresce em todos os perfis, mas é maior
ainda entre os mais pobres.
Temos parcelas grandes da população
que são afetadas pelas desigualdades, pela
concentração de renda, e enxergam como
única alternativa ir no sentido de discursos
radicais à extrema direita. Nesse sentido, há
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
riscos mais diretos à democracia.

Poder corporativo
No relatório, a gente menciona essa dinâmica
em que grandes empresas transnacionais que
se instalam nos países também se aproveitam
desse contexto pautado pela lógica da redução
do papel do Estado, de desregulamentação,
e acabam explorando ao máximo a sua
capacidade de atuar de uma maneira
monopolística. Isso está conectado a essa
prevalência dos mercados de capitais.
Então esse tipo de atuação, regido por
uma lógica de remuneração de acionistas,
principalmente de grandes acionistas,
independentemente do impacto que esse tipo
de atuação tem, irá prever uma maximização
do lucro e do crescimento em detrimento de
todo o resto.w

u Clique aqui e acesse a íntegra do estudo


Desigualdade S.A. da Oxfam Brasil.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Pintura do artista
Vanderlei Hassan
homenageia o Bar do
Torto, em Santos

Divulgação
Brasil

Bares alegres e
descolados não foram
feitos para o chilique
dos fascistas
por Julinho Bittencourt

F
ui dono de bar durante quase 20 anos
em Santos, litoral de São Paulo. Foi um
boteco que ficou bem conhecido chamado
Torto. O nome tinha um simples significado. O
estabelecimento ficava em um dos inúmeros
prédios tortos da cidade. Eles ficaram assim por
terem sido construídos em solo inadequado,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
sobre um lençol freático. Ao menos foi essa a
explicação que sempre ouvi.
Trocando em miúdos, o prédio onde ficava
o bar não seria construído se existisse uma
legislação adequada. Bem, ao menos é isso
o que eu sempre achei disso tudo e de várias
outras coisas da vida. Enfim, era um bar com
música ao vivo e ficou conhecido principalmente
por isso. Mas havia outras coisas, muitas outras.

Reprodução

Um bolsonarista enfurecido rasgou placa com nome de Marielle Franco


e quebrou o vidro de um quadro com desenho do presidente Lula no bar
Armazém São Joaquim, em Santa Teresa, Rio de Janeiro

O Torto, assim como qualquer outro bar


do planeta, refletia a mentalidade dos que o
comandavam, no caso eu, outro sócio músico,
o Biela, e meu primo Alfredo. E nós éramos
todos de esquerda, progressistas, e o bar,
com os seus frequentadores, refletia essa
mentalidade. Exatamente como o bar em Santa
Teresa, no Rio de Janeiro, que tinha quadros
do Lula e da ex-vereadora Marielle Franco
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
nas paredes. Um vídeo do local foi parar nas
redes sociais nesta semana. Nele, um fascista
rasga um cartaz com a foto de Marielle e tenta
quebrar um quadro com o presidente Lula.

Conselhos e mais conselhos

Sempre ouvi de
algumas pessoas que
não deveria me expor
tanto assim enquanto
dono de bar. Eu e
meus sócios. E sempre
demos de ombros.
Em várias campanhas
vi músicos falarem,
cantarem jingles, hastearem bandeiras e tudo
o mais, sempre de esquerda. Alguns poucos
clientes furiosos me perguntavam o que eu faria
se ocorresse o contrário. Se alguém subisse
uma bandeira do então candidato Fernando
Collor ou, até mesmo, do Bolsonaro. Respondia
que não faria nada, não seria preciso. Que
eles experimentassem fazer pra ver a vaia e o
repúdio que iriam sofrer.
Da mesma maneira que nunca me imaginei indo
a uma casa de tiros falar mal do Bolsonaro. Tenho
apego à vida e muito mais o que fazer, diga-se
de passagem. O grande problema das pessoas
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
de direita é que os seus lugares, quase que
invariavelmente, são chatos, muito pouco divertidos
e quase sempre ligados à violência e à morte.
Quando precisam se divertir, que ninguém
é de ferro, acabam indo parar em lugares
frequentados por progressistas e têm que
engolir Chico Buarque, Criolo, Caetano
Veloso, Pabllo Vittar, Ney Matogrosso,
LGBTs, negros, mulheres descoladas que se
sustentam, ideias que não admitem e cartazes
de gente que não suportam.
Sempre soube que os fascistas estavam por
lá, os reconhecia. Desde que mantivessem seu
corolário de asneiras calado, estava tudo certo.
Certa vez, no Torto, um sujeito que desfilava
pela cidade com um Jeep com uma Cruz de
Ferro, símbolo apropriado pelos nazistas, e
também uma suástica no braço, abordou uma
moça, tocando-a no braço. Ela prontamente
reagiu: “Você acha realmente que um nazista
como você vai arranjar alguém em um lugar
como este? Vá procurar sua turma”.
O tal nazista murchou, ficou alguns minutos
de cabeça baixa, levantou-se e desapareceu
para nunca mais voltar.
É só isso que se espera deles.w

u Clique aqui e assista ao Corte da Dri:


“Bolsonarista surtado”.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Clique aqui
e se inscreva
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reuters/Folhapress
Global

O desprezo pelos
palestinos
Em artigo, professor critica filósofos
ocidentais, em especial Jurgen Habermas,
por não se posicionarem contra
massacre de Gaza
por Hamid Dabashi

I
magine se o Irã, a Síria, o Líbano ou a
Turquia — com apoio político, armados e
diplomaticamente protegidos pela Rússia e
pela China — tivessem a vontade e os meios de
bombardear Tel Aviv por três meses, dia e noite,
assassinar dezenas de milhares de israelenses,
mutilar incontáveis outros, e transformar
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
a cidade em uma montanha inabitável de
escombros, como em Gaza hoje.
Apenas imagine por alguns segundos: o Irã
e seus aliados deliberadamente atingindo áreas
densamente povoadas de Tel Aviv, hospitais,
sinagogas, escolas, universidades, bibliotecas
— ou, de fato, qualquer outro lugar habitado —
para garantir o maior número possível de vítimas
civis. Eles diriam ao mundo que estavam apenas
atrás do primeiro-ministro israelense, Benjamin
Netanyahu, e de seu gabinete de guerra.
Pergunte-se o que os Estados Unidos, o
Reino Unido, a União Europeia, o Canadá ou a
Alemanha fariam com 24 horas do início desse
cenário ficcional.
Agora volte à realidade e considere o fato de
que, desde 7 de outubro (e há décadas antes
desse dia), os aliados ocidentais de Tel Aviv vêm
não apenas testemunhando o que Israel vem
fazendo com o povo palestino, como também
fornecendo equipamento militar, bombas,
munições e cobertura diplomática, enquanto
veículos de imprensa americanos têm oferecido
justificativas ideológicas para o massacre e
genocídio dos palestinos.
O cenário supracitado não seria tolerado
por um dia sequer pela atual ordem
mundial. Com banditismo militar dos
Estados Unidos, Europa, Austrália e Canadá
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reuters/Folhapress
Soldado israelense em Gaza

incondicionalmente ao lado de Israel, nós,


os desalentados do mundo, assim como os
palestinos, não podemos. Isso não é apenas
uma realidade política; é também pertinente
ao imaginário moral e ao universo filosófico
dessa coisa autodenominada “o Ocidente”.
Aqueles de nós fora da esfera do
imaginário moral europeu não existimos no
universo filosófico deles. Árabes, iranianos e
muçulmanos, povos da Ásia, África e América
Latina — nós não temos nenhuma realidade
ontológica para os filósofos europeus, exceto
de uma ameaça metafísica que deve ser
conquistada e silenciada.
Começando com Immanuel Kant e Georg
Wilhelm Friedrich Hegel, e continuando com
Emmanuel Levinas e Slavoj Zizek, nós somos
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
esquisitices, coisas, objetos conhecíveis os
quais aos orientalistas coube decifrar. Como
tais, o assassinato de dezenas de milhares de
nós por Israel, pelos Estados Unidos ou seus
aliados europeus não desperta a menor reação
da mente dos filósofos europeus.

Audiências tribais
europeias
Se você duvida, dê
uma olhada no que
dizem o eminente
filósofo Jürgen
Habermas e alguns
de seus colegas, que
em descarado ato
de cruel vulgaridade,
apoiaram o massacre
de Israel contra os
palestinos. A questão
não é mais o que
pensamos de Habermas, hoje com 94 anos,
enquanto ser humano. A questão é como o
vemos como cientista social, filósofo e pensador
crítico. O que ele pensa importa ao mundo hoje,
se é que já importou?
O mundo vem fazendo questionamentos
similares a respeito de um outro eminente
filósofo alemão, Martin Heidegger, à luz de
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
sua perniciosa afiliação ao nazismo. Na
minha opinião, nós precisamos questionar a
respeito do sionismo violento de Habermas
e as consequências significativas para o que
pensamos sobre todo o seu projeto filosófico?
Se Habermas não tem um milímetro de
espaço em seu imaginário moral para pessoas
como os palestinos, temos motivos para
considerar todo o seu projeto filosófico como
relacionado, de alguma maneira, com o restante
da humanidade — para além de sua audiência
europeia tribal imediata?
Em uma carta aberta a
Habermas, o conceituado
filósofo iraniano Asef Bayat
disse que ele “contradiz as
próprias ideias” quando se
trata da situação em Gaza.
Com todo o respeito, eu
discordo. Acredito que a indiferença
de Habermas diante das vidas palestinas é
completamente consistente com seu sionismo.
É perfeitamente consistente com uma visão
de mundo segundo a qual não europeus não
são completamente humanos, ou são “animais
humanos”, como declarou abertamente o
ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant.
Esse absoluto desprezo pelos palestinos
está profundamente enraizado no imaginário
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
filosófico alemão e europeu. É do senso comum
que, por causa da culpa do Holocausto, os
alemães desenvolveram um compromisso
sólido com Israel.
Porém, para o restante do mundo, agora
evidenciado pelo brilhante documento que a
África do Sul apresentou à Corte Internacional
de Justiça, há uma perfeita consistência entre o
que a Alemanha fez durante sua era nazista e o
que está fazendo agora na era sionista.
Eu acredito que o posicionamento de
Habermas está alinhado à política do Estado
alemão de participar do massacre sionista aos
palestinos. Está também alinhado por aqueles
que se passam por “esquerda alemã”, com
seu ódio racista, islamofóbico e xenofóbico aos
árabes e muçulmanos, e seu apoio em atacado
às ações genocidas do colonialismo israelense.
Precisamos nos perdoar por ter que acreditar
que o que a Alemanha tem hoje não é culpa
pelo Holocausto e sim nostalgia genocida, uma
vez que ela vem se locupletando indiretamente
do massacre israelense aos palestinos nos
últimos 100 anos (e não 100 dias).

Depravação moral
A acusação de eurocentrismo
sistematicamente atribuída à concepção
filosófica europeia de mundo não se baseia
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas


“O QUE A
ALEMANHA TEM
HOJE NÃO É CULPA
PELO HOLOCAUSTO
E SIM NOSTALGIA
GENOCIDA”

apenas em uma falha epistêmica em seu


pensamento. Ela é uma demonstração
consistente de depravação moral. Em diversas
ocasiões pretéritas, apontei o racismo incurável
no coração do pensamento filosófico europeu
em seus representantes mais celebrados nos
dias de hoje.
Essa depravação moral não é apenas um
tropeço ou um ponto cego ideológico. Ela está
inscrita profundamente nos imaginários filosóficos,
que se mantiveram incuravelmente
tribais.
E aqui precisamos nos
lembrar da citação do glorioso
poeta martiniquenho Aimé
Césaire: “Sim, seria válido
estudar clinicamente, em
detalhe, as etapas adotadas por
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Hitler e pelo hitlerismo para revelar a distinta,
extremamente humanista, extremamente cristã
burguesia do século XX, que, sem se dar conta
do Hitler dentro de si, do Hitler que a habita, do
Hitler em seus demônios, que, caso contra ela
se insurja, estará sendo inconsistente e que,
no fundo, ela não perdoa Hitler por seu crime
em si, por seu crime contra a humanidade,
não pela humilhação do ser humano enquanto
humano; é o crime contra o homem branco,
a humilhação do homem branco e o fato de
que ele aplicou à Europa os procedimentos
coloniais que até então estavam reservados
exclusivamente para [os povos árabes, indianos
e africanos]”.
A Palestina hoje é a extensão das atrocidades
coloniais que Césaire cita nessa passagem.
Habermas aparenta ignorar que seu apoio ao
massacre dos palestinos é completamente
consistente com o que seus ancestrais fizeram
na Namíbia durante o genocídio das tribos
Herero e Namaqua. Como a avestruz proverbial,
os filósofos alemães enfiaram a cabeça em seus
delírios europeus achando que o mundo não os
vê pelo que eles são.
Ao fim e ao cabo, da minha perspectiva,
Habermas não disse ou fez nada de
surpreendente ou contraditório, pelo contrário.
Ele vem sendo integralmente consistente no
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
incurável tribalismo de seu pedigree filosófico,
que falsamente assume uma posição universal.
O mundo agora está desiludido desse falso
senso de universalismo. Filósofos como V.Y.
Mudimbe, da República Democrática do Congo,
Walter Mignolo ou Enrique Dussel na Argentina
ou Kojin Karatani no Japão têm um pleito
muito mais legítimo de universalidade do que
Habermas e seus predecessores jamais tiveram.
Entendo que a falência moral do
posicionamento de Habermas sobre a Palestina
marca um ponto de virada na relação colonial
entre a Europa e o resto do mundo. O mundo
acordou do coma da etnofilosofia europeia.
Hoje, devemos essa libertação ao sofrimento
global de povos como os palestinos, cujo
prolongado heroísmo histórico e sacrifícios
finalmente desmantelaram a descarada barbárie
dos alicerces da “civilização ocidental”.

*Hamid Dabashi, professor de literatura comparada, cinema e


teoria pós-colonial da Universidade de Columbia, Nova York.
Tradução: Maira Pinheiro.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Manifestação contra
a extrema direita e o
neonazismo em Potsdam

Foto Reuters/Folhapress
Global

Alemanha: plano
neonazista para
expulsar imigrantes
choca população
Descoberta de reunião com membro de
partido ultradireitista e neonazistas provocou
manifestações contra a extrema direita
por Ivan Longo

M
ilhares de pessoas saíram às ruas no
domingo (14) em diferentes cidades
da Alemanha, incluindo a capital
Berlim, para protestar contra a extrema direita
do país. Em muitos locais, manifestantes
seguravam cartazes com inscrições pedindo o
banimento do partido ultradireitista Alternativa
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
para a Alemanha (em alemão: Alternative für
Deutschland, AfD), que tem entre seus quadros
políticos de orientação neonazista, e palavras
de apoio aos refugiados e imigrantes que
vivem no país.
Em Berlim o protesto reuniu cerca de 25 mil
pessoas. Em Potsdam, cidade próxima à capital,
por volta de 20 mil pessoas compareceram ao
ato, inclusive o chanceler federal alemão, que no
país é equivalente a um primeiro-ministro, Olaf
Scholz. As manifestações foram convocadas
por partidos de esquerda e centro-esquerda,
como O Partido Social-Democrata (em alemão:
Sozialdemokratische Partei Deutschlands, SPD),
Os Verdes (Die Grünen) e A Esquerda (Die
Linke)— as três legendas que formam a coalizão
que governa o país.
Foto Reuters/Folhapress

Qual a motivação das manifestações


As manifestações foram uma resposta à
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
reunião secreta entre nomes da extrema direita
e do neonazismo na Alemanha e na Europa,
empresários, advogados, médicos e membros
do partido ultradireitista AfD, em que foi
discutido um plano para expulsar imigrantes e
refugiados em massa do país.
O encontro em questão foi realizado em um
hotel na cidade de Potsdam, em novembro
de 2023, e veio à tona na última semana a
partir de reportagem do site de jornalismo
investigativo Correctiv.
Segundo a matéria, um
dos presentes à reunião
era Martin Sellner, teórico
da conspiração que lidera
o Movimento Identitário da
Áustria (IBÖ, na sigla em
alemão), que apresentou
um plano para expulsar da
Alemanha até dois milhões de
estrangeiros ou pessoas de origem estrangeira,
requerentes de refúgio, imigrantes e até mesmo
aqueles que possuem cidadania alemã que não
“se integraram” ao país.
O plano de Sellner prevê que, quando
o AfD chegar ao poder, o partido terá que
enfrentar o desafio de expulsar “cidadãos não
assimilados”. “Apresentei ali o meu livro e o
conceito identitário de remigração”, confirmou
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
o líder neonazista, em entrevista, após a
reunião vir à tona.
Ao menos três membros do AfD estiveram
na reunião: Roland Hartwig, assessor de Alice
Weidel, uma das líderes da legenda; o deputado
Gerrit Huy e Ulrich Siegmund, líder da bancada
do partido no estado da Saxônia-Anhalt.
Na segunda-feira (15), o
AfD anunciou a demissão
de Roland Hartwig,
informando que seu contrato
com a sigla foi encerrado
em “comum acordo”. Ulrich
Siegmund, por sua vez,
confirmou que estava no
encontro, mas não como
representante do Parlamento
ou de seu partido.
Antes, a legenda já havia se pronunciado
afirmando que Roland Hartwig, o assessor
demitido, esteve na reunião para apresentar um
projeto de mídia social e que não sabia que o
encontro seria para discutir expulsão em massa
de estrangeiros.
Logo após a reunião vir à tona por meio
da reportagem publicada na última semana,
entretanto, o deputado René Springer, porta-
voz de política social do grupo parlamentar
da AfD, confirmou os planos sombrios de seu
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
partido e que remontam ao período nazista.

“Devolveremos os
estrangeiros à sua terra
natal. Milhões de vezes.
Esse não é um plano
secreto. Isso é uma
promessa”, disparou.

Atualmente, cerca de um quarto da


população alemã tem origem estrangeira.

Olaf Scholz na
manifestação em
Potsdam

Foto Reuters/Folhapress

Reações
O plano do AfD para expulsar milhões de
imigrantes motivou protestos massivos contra a
ameaça de inspiração neonazista. Uma tônica
presente nos protestos foi a demanda pela
extinção do AfD, partido que tem notória ligação
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
com causas e nomes ligados ao neonazismo.
O chanceler alemão Olaf Scholz, que
compareceu à manifestação realizada em
Potsdam, fez um discurso enfático logo após a
reportagem sobre a reunião secreta da extrema
direita vir à tona e evocou o aprendizado do
passado para evitar os mesmos erros, em clara
referência ao regime nazista de Adolf Hitler.

“ “Quem aqui vive, aqui


trabalha e acredita nos
valores básicos da
nossa democracia
é um de nós”
Olaf Scholz

“Não permitiremos que ninguém diferencie


o ‘nós’ no nosso país com base no fato
de alguém ter ou não origem imigrante.
Protegemos a todos — independentemente
da origem, da cor da pele ou do desconforto
de alguém para fanáticos com fantasias de
assimilação. Qualquer pessoa que vá contra a
nossa ordem básica, livre e democrática é um
caso para o nosso Gabinete, para a agência de
inteligência e para o poder judicial. O fato de
aprendermos com a história não é apenas uma
afirmação da boca para fora. Os democratas
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
devem permanecer unidos.”
“Quem aqui vive, aqui trabalha e acredita
nos valores básicos da nossa democracia é
um de nós. Independentemente da origem ou
cor da pele. Ponto”, disse ainda o chanceler
ao repercutir escolha da palavra “remigração”
como a pior palavra de 2023 na Alemanha por
parte do júri da Unwort des Jahres (“despalavra
do ano”), na segunda-feira (15).

Foto Reuters/Folhapress

AfD e a ameaça neonazista


O partido Alternativa para a Alemanha foi
fundado em 2013 e conseguiu uma cadeira no
Parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017.
Trata-se de uma organização ultrarradical
que abriga os membros mais extremistas
do espectro político alemão. A sigla defende
abertamente ideias xenofóbicas, racistas,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
segregacionistas e violentas.
A legenda tem como sua principal plataforma
política a defesa de projetos antiimigração,
permeada de retóricas ultranacionalistas que
remetem ao nazismo. Diversos membros do
partido, inclusive, já tiveram comprovadamente
relações com grupos neonazistas e já fizeram
falas com teor nazista.
Björn Höcke, uma das
principais lideranças da sigla,
por exemplo, foi denunciado
pelo Ministério Público alemão
em 2023 por utilizar linguajar
nazista ao dizer que a política
migratória do país “nada mais
é que a eliminação do povo
alemão”, usando o slogan
nazista Alles für Deutschland
(em português, tudo pela Alemanha).
Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço
de inteligência interno da Alemanha, o BfV,
por tentativa de enfraquecer a constituição
democrática do país.
O que vem assustando os democratas e
progressistas alemães é o forte crescimento do
partido de inspirações neonazistas. As últimas
pesquisas revelam que o AfD já tem o apoio
de cerca de 24% dos alemães, o que o torna
o segundo partido mais popular do país, atrás
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
apenas do CDU, legenda da ex-chanceler
Angela Merkel. Para se ter uma ideia do
crescimento, na última eleição federal, em 2021,
o AfD teve 10,3% dos votos.
O partido vem se fortalecendo,
principalmente, na Alemanha Oriental, onde
haverá eleições este ano nos estados da
Turíngia, Saxônia e Brandemburgo.

Beatrix von Storch


e o marido em encontro
com Bolsonaro no
Palácio do Planalto

Foto Arquivo pessoal

Relações com Bolsonaro


Em 2021, o ex-presidente brasileiro Jair
Bolsonaro recebeu, no Palácio do Planalto, a
deputada alemã Beatrix von Storch, neta do
ministro das Finanças de Adolf Hitler (Johann
Ludwig Schwerin von Krosigk) e filiada ao AfD.
Beatrix von Storch também se encontrou
com a deputada radical Bia Kicis (PL-DF) e com
o filho do ex-presidente, o também deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em março daquele
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
mesmo ano, quando o ex-assessor especial
de assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe
Martins, fez um gesto supremacista no Senado,
o jornalista alemão Niklas Franzen concedeu
uma entrevista à Fórum em que apontou as
ligações do bolsonarismo com o AfD e as
semelhanças entre a extrema direita brasileira e
a alemã.

“Nós temos aqui um partido


no Parlamento, o AfD, são
‘amiguinhos’ do Bolsonaro,
há várias conexões entre o
governo Bolsonaro e esse
partido”, relatou.

“Quando a gente discute sobre


a extrema direita, a gente tem que levar em
conta que é uma tendência global. Mesmo
com o fato de que a Alemanha tenha leis mais
rígidas [para coibir manifestações da extrema
direita], nós temos um movimento muito forte
de neonazismo e especialmente de terrorismo
neonazista”, revelou ainda.
A página oficial do Museu do Holocausto
no Brasil reagiu e não só expôs os valores
antidemocráticos do AfD como também revelou
a ascendência nazista de Beatrix von Storch
quando a deputada alemã esteve no Brasil.
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto Reprodução
Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler
e avô de Beatrix von Storch, deputada filiada ao AfD

“E Beatrix von Storch, quem seria? Vice-


líder do partido, famosa por tuítes xenofóbicos
e neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk,
ministro nazista das Finanças e um dos poucos
membros do gabinete do Terceiro Reich a servir
continuamente desde a nomeação de Hitler
como chanceler”, diz postagem do museu.
“É evidente a preocupação e a inquietude
que esta aproximação entre tal figura
parlamentar brasileira e Beatrix von Storch
representam para os esforços de construção de
uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e
para nossa própria democracia”, continua.
Em novembro de 2022, um mês após a
vitória de Lula na eleição presidencial brasileira,
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Beatrix von Storch celebrou os atos golpistas
no Brasil e ainda difundiu a fake news de que
as manifestações de bolsonaristas reuniram
“dezenas de milhões”.
“Desde a eleição, dezenas de milhões vêm
se manifestando em todo o país e o número
está crescendo. Provavelmente não aconteceu
na história recente. E a mídia alemã? Eles não
mostram as fotos. Isso é fake news por meio de
ocultação”, escreveu no X (ex-Twitter), junto a
fotos de alguns desses protestos.
Vale ressaltar que o slogan utilizado por Jair
Bolsonaro em sua primeira eleição à Presidência,
em 2018, “Brasil acima de tudo, Deus acima de
todos”, remete ao slogan nazista Deutschland
über Alles, que significa “Alemanha acima de
tudo”. Já em 2022, o ex-presidente utilizou o
“Deus, Pátria, Família e Liberdade”, que faz
referência ao slogan fascista do regime de Benito
Mussolini na Itália, o Dio, patria e famiglia.w
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

CLIQUE
AQUI
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Foto TV Globo
Televisão

“Eu não
sou viado”
Fala de um dos participantes
do BBB 24 é uma expressão
homofóbica e não há o que discutir
por Marcelo Hailer

N
a noite de domingo (14), após a
formação do terceiro paredão no Big
Brother Brasil 24, o clima esquentou na
casa e o brother Davi, revoltado com a atitude
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
de Nizam, a quem classificou
como “falso” e “manipulador”,
partiu para cima do colega
e fez uma declaração
homofóbica e machista.
“Você chegou pra mim antes
da votação, aqui na cozinha, e eu
falei que ia votar em você... Eu sou homem, seu
puta. Não viaje comigo, não. Eu sou homem
nessa desgraça, não sou viado! Tenho 21 anos,
meu pai me fez homem”, declarou Davi.
Após a repercussão da fala de Davi, alguns
perfis correram para a internet afirmando que
a expressão “eu não sou viado”, no contexto
da Bahia, não tem conotação homofóbica.
Balela. “Eu não sou viado” é uma expressão
homofóbica em qualquer contexto. Não há
muito o que discutir sobre isso.

Ojeriza e ódio ao viado


Além da expressão “eu não sou viado”, Davi
também reforça a todo momento que o seu pai
“o fez homem”. Ou seja, além da homofobia
escancarada, a declaração do brother também
é machista. Aqui temos o combo: machismo e
homofobia, que sempre caminham juntos, mas
por quê?
Os berros de Davi — “eu sou homem” —
nos remetem ao que há de mais clássico no
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
pensamento masculinista e misógino: ojeriza,
ódio e distância de tudo aquilo que remete ao
feminino, pois este é lido como fraqueza, algo
menor e que deve ser repudiado.
“Meu pai me fez homem” é o cerne do
pensamento violento que estrutura a LGBTfobia
no Brasil. “Meu pai me fez homem” também traz
o caráter da vergonha e humilhação: não posso
decepcionar “quem me fez homem”, “tenho
que ser macho”, e tais atributos só podem ser
expressados aos berros e com muita violência.
Outro aspecto que deve ser entendido a
partir da expressão “meu pai me fez homem
[...], eu não sou viado” é o seu caráter
desumanizador: viado, nesse pensamento
homofóbico, não é homem, não é humano e,
consequentemente, pode ser eliminado.
A desumanização histórica das LGBT+ tem
este objetivo: a sua eliminação. E a expressão
“eu não sou viado” é o coração de tal violência,
que foi “naturalizada” e hoje estrutura a
mentalidade e as instituições brasileiras.
Não se trata de Davi, mas sim de entender que
a expressão “eu não sou viado” é homofóbica,
machista e violenta. E não importa o contexto
geográfico ou etário, “eu não sou viado” é uma
expressão homofóbica que deve ser eliminada de
nosso vocabulário, e não “naturalizada”.w
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
REVISTA

expediente | edição #94

Diretor de Redação
_ Renato Rovai

Editora executiva
_ Dri Delorenzo

Textos desta edição:


_ Henrique Rodrigues
_ Plínio Teodoro
_ Ivan Longo
_ Rapheal Sanz
_ Julinho Bittencourt
_ Hamid Dabashi
_ Marcelo Hailer

Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno

Acesse: revistaforum.com.br

youtube.com/forumrevista

@revistaforum

facebook.com/forumrevista

@revistaforum

Você também pode gostar