Você está na página 1de 4

05/11/2021 17:40 Imprensa normaliza Moro e Dallagnol como fez com Bolsonaro em 2018 - 05/11/2021 - UOL Notícias

3
NOTÍCIAS

K E N N E DY A L E N C A R

OPINIÃO

Imprensa normaliza Moro e Dallagnol como fez com Bolsonaro em 2018

Kennedy Alencar
Colunista do UOL
05/11/2021 11h28
Atualizada em 05/11/2021
15h01

A imprensa normaliza Sergio Moro e Deltan Dallagnol do mesmo jeito que fez com Jair Bolsonaro em 2018.
Todas as evidências e provas da ameaça à democracia, do falso moralismo, da intolerância à crítica e do
autoritarismo político saltam aos olhos, mas a dupla é vendida por certo jornalismo profissional como uma
versão moderada do conservadorismo brasileiro.

Trata-se de uma versão falsa.

PUBLICIDADE

Anúncio : (0:09)
https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/11/05/imprensa-normaliza-moro-e-dallagnol-como-fez-com-bolsonaro-em-2018.htm 1/7
05/11/2021 17:40 Imprensa normaliza Moro e Dallagnol como fez com Bolsonaro em 2018 - 05/11/2021 - UOL Notícias
Anúncio : (0:09)

Moro e Dallagnol representam a vertente mais perigosa para a democracia do bolsonarismo sem
Bolsonaro. Como viu Rosangela Moro, o "conge" e o genocida "são uma coisa só". Dallagnol é apenas um
minúsculo apêndice da dupla.

Moro decidiu se filiar ao Podemos e já colocou nas redes sociais sua pré-campanha presidencial. Na
tradicional mescla dos atentados em série à inculta e bela e da profundidade intelectual de um pires, ele
repete os chavões caros à Faria Lima sobre economia e o seu moralismo hipócrita sobre corrupção.

Dallagnol, que anunciou a saída do Ministério Público, deve seguir o mesmo caminho do ex-juiz com quem
combinava a estratégia da acusação para condenar o ex-presidente Lula e tirá-lo do jogo eleitoral de 2018,
pavimentando o caminho para a ascensão de Bolsonaro ao poder.

O ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato é aquele que deu um jeitinho para entrar na carreira e sai
agora dela de fininho, tentando evitar ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa.

Como lembrou o advogado e cientista político Fabio de Sá e Silva, professor de estudos brasileiros da
Universidade de Oklahoma, são inelegíveis pelo prazo de oito anos "magistrados e membros do Ministério
Público (...) que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo
administrativo disciplinar". O ex-procurador tem processos ainda abertos.

Quando políticos renunciavam a seus cargos eletivos a fim de manter direitos eleitorais, esses moralistas
sem moral diziam que era uma forma de buscar impunidade. Ao se beneficiar de pedidos de vista em série
para evitar a análise de seus casos no Conselho Nacional do Ministério Público, Dallagnol apostou na
prescrição, que sempre considerou uma forma de impunidade.

Moro e Dallagnol corromperam a lei processual pena na Lava Jato. Uma análise equilibrada das
mensagens da Operação Spoofing deixa isso claro, mas jornalistas afirmam que houve "falhas" e não
crimes da Lava Jato. Ora, é uma normalização das condutas criminosas de juiz e procurador.

Quando se trata dos processos do ex-presidente Lula, fala-se que o petista se beneficiou de vícios formais.
A mais alta corte do país decidiu que não houve juiz no processo do ex-presidente, mas um Torquemada.

https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/11/05/imprensa-normaliza-moro-e-dallagnol-como-fez-com-bolsonaro-em-2018.htm 2/7
05/11/2021 17:40 Imprensa normaliza Moro e Dallagnol como fez com Bolsonaro em 2018 - 05/11/2021 - UOL Notícias

Quando a Justiça considera que um juiz agiu com suspeição, como Moro no caso de Lula, isso não é mera
formalidade. É a ausência do devido processo legal, algo que contraria um princípio basilar do estado
democrático de direito, o de que todo cidadão tem o direito de ser bem acusado e julgado por um juiz
imparcial. Mas, para os democratas de pandemia, isso é só um detalhe formal.

Moro foi o juiz que viabilizou, numa decisão a jato no caso do apartamento do Guarujá, a saída de Lula da
disputa eleitoral em 2018. Divulgou uma delação frágil do ex-ministro petista Antonio Palocci Filho para
ajudar Bolsonaro na reta final da última eleição presidencial, enfraquecendo as chances de Fernando
Haddad, que substituiu Lula como candidato do PT.

As mensagens da Operação Spoofing mostraram a preocupação de Dallagnol com a fragilidade das


suspeitas contra Lula e a obsessão em encontrar uma forma de acusar e condenar o ex-presidente. As
conversas exibiram a clara preferência de Dallagnol e seus colegas de Curitiba pela candidatura de
Bolsonaro.

Moro foi diretamente responsável por enfraquecer a última tentativa da então presidente Dilma Rousseff
para evitar o impeachment. Em 2016, divulgou ilegalmente uma conversa de Dilma com Lula, criando o
ambiente político que levou o ministro do STF Gilmar Mendes, então lavajatista e hoje um crítico duro da
operação, a impedir a posse de Lula na Casa Civil.

Moro e Dallagnol foram os principais responsáveis pela destruição dos setores de construção e óleo e gás
do Brasil, atuando sem a menor responsabilidade financeira e visão estratégia sobre a economia de um
país que tinha peso geopolítico pré-Lava Jato. Com apoio da imprensa, pisaram fundo no acelerador de um
udenismo tosco para capturar o apoio da opinião pública, como escreveu Moro num artigo sobre a
Operação Mãos Limpas. O jornalismo serviu de correia de transmissão aos objetivos políticos da Lava Jato.

Quem deseja entender como o herói da República de Curitiba foi capaz de cometer tantos crimes ao
combater o crime pode assistir ao documentário "Sergio Moro: A construção de um juiz acima da lei", de
autoria de Luis Nassif, Marcelo Auler, Cintia Alves e Nacho Lemus. Tudo o que aconteceu na Lava Jato é
uma repetição em escala maior do caso Banestado, até mesmo a manipulação de competências para atrair
réus e processos para a sua jurisdição.

Quando cavou a vaga de ministro da Justiça de Bolsonaro, Moro fechou os olhos para as rachadinhas da
familícia. Apoiou a ampliação do porte e posse de armas desejada por Bolsonaro. Usou a Lei de
Segurança Nacional contra desafetos. Propôs uma "lei anticrime" ampliando excludentes de ilicitude a ponto
de transformar as polícias em esquadrões da morte oficiais. Teve dificuldade para negociar com o
Congresso, um exemplo de sua inabilidade política. É uma figura com ideias de extrema-direita.

Depois de trabalhar para uma consultoria americana que tinha como clientes empreiteiras que ajudou a
quebrar com suas decisões, Moro voltou ao Brasil para se filiar ao Podemos e participar de um encontro do
MBL, uma organização de fascistas.

Em 2018, democratas de pandemia fizeram falsa equivalência entre o PT e Bolsonaro no segundo turno.
Disseram que a democracia estava no centro do debate, como se pudesse haver comparação entre
Haddad e o fã do Ustra. Escreveram artigos apontando a garantia que dois superministros (Moro e Paulo
Guedes) dariam contra a falsidade das propostas de combate à corrupção e o plano econômico do
candidato mais despreparado da história das eleições brasileiras.
https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/11/05/imprensa-normaliza-moro-e-dallagnol-como-fez-com-bolsonaro-em-2018.htm 3/7
05/11/2021 17:40 Imprensa normaliza Moro e Dallagnol como fez com Bolsonaro em 2018 - 05/11/2021 - UOL Notícias

Moro e Dallagnol vão fazer oficialmente o que já faziam: política partidária. Mal tiraram a máscara, certo
jornalismo profissional se apressa em normalizá-los. Como boa parte é cúmplice da dupla, autocrítica nos
olhos dos outros é refresco.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

COMUNICAR ERRO

NEWSLETTERS PRA COMEÇAR O DIA

Comece o dia com as principais informações e termine as com análises dos colunistas do UOL. Duas edições diárias de
segunda a sexta.

estevaofc@uol.com.br

CADASTRAR

V E J A TA M B É M

Entre três "namoradas", Bolsonaro pagará caro para consolar as rejeitadas

Cinco dias antes da filiação de Moro ao Podemos, Bolsonaro vai ao Paraná

Pacheco cuida do bode, mas esquece o elefante

Conteúdo de Marca

Autocuidado e monitoramento contínuo da glicose: Uma vida saudável com diabetes

45 Comentários

Apenas assinantes podem ler e comentar 

Estêvão Ferreira Couto sair

Escreva seu comentário*

https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/11/05/imprensa-normaliza-moro-e-dallagnol-como-fez-com-bolsonaro-em-2018.htm 4/7

Você também pode gostar