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Roberto Jefferson faz

disparos de fuzil e atira


granada contra PF após
ordem de prisão de Moraes
Foto: Estadão

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Por Renato Vasconcelos, Rayanderson Guerra, Fabio Grellet e Julia Affonso

SÃO PAULO, BRASÍLIA E RIO – O ex-deputado federal Roberto


Jefferson (PTB) lançou uma granada contra agentes da Polícia
Federal, ferindo dois deles, na manhã deste domingo, 23, no
município de Levy Gasparian (RJ), onde ele cumpre prisão domiciliar
desde o começo do ano. O ex-parlamentar também efetuou disparos
de fuzil. De acordo com a PF, os agentes cumpriam um mandado de
prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), contra Jefferson, quando ele reagiu à
abordagem. Os agentes Karina Miranda e Marcelo Vilela estão fora
de perigo.

“Durante a diligência, o alvo do mandado reagiu à ordem de prisão


anunciada pelos policiais federais. Na ação, dois policiais foram
feridos por estilhaços de granada arremessada pelo alvo e levados
imediatamente ao pronto-socorro. Após o atendimento médico,
ambos foram liberados e passam bem. A equipe da PF foi reforçada e
os policiais permanecem no local com o objetivo de cumprir a
determinação judicial”, diz a nota da PF.

Embora tenha dito inicialmente que não iria se entregar para a polícia,
a defesa de Roberto Jefferson afirmou durante a tarde deste domingo
que ele aguardava a chegada do ministro da Justiça, Anderson
Torres, “para poder ir em segurança”. O ministro chegou ao local logo
depois para participar da negociação de rendição de Jefferson.
Ex-deputado Roberto Jefferson teria trocado tiros com agentes da Polícia Federal,
segundo sua filha, Cristiane Brasil. Foto: Reprodução/ Instagram/ Roberto Jefferson -
03/08/2021

Os agentes da Polícia Federal se deslocaram até o município da


Costa Verde fluminense ainda no sábado, 22, para cumprir um
mandado de prisão expedido por Moraes por “notórios e públicos”
descumprimentos de medidas cautelares impostas a Jefferson. Em
sua decisão, o ministro, cita as “ofensas e agressões abjetas” feitas à
ministra Cármen Lúcia na sexta-feira, 21.

“As inúmeras condutas do denunciado podem configurar, inclusive,


novos crimes, entre eles os delitos de calúnia, difamação, injúria (arts.
138 a 140 do Código Penal), de abolição violenta do estado
democrático de direito (art. 359-L do Código Penal) e de incitar,
publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra
os Poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade (art.
286, parágrafo único, do Código Penal), além da questão
discriminatória presente no vídeo de 21/10/2022″, ressaltou ainda o
ministro.

O ataque de Jefferson aos policiais federais foi inicialmente


comunicado pela filha dele e ex-deputada federal Cristiane Brasil.
Em um vídeo publicado mais cedo neste domingo nas redes sociais,
ela afirmou que o pai estava enfrentando os policiais a bala, e
classificou a Polícia Federal como “a Gestapo do Xandão”, em
referência à polícia da Alemanha nazista e a Moraes.
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“Meu pai está enfrentando hoje, domingo, meio-dia, a Gestapo do


Xandão, sozinho, a balas, pois não vai se entregar ao totalitarismo, à
ditadura do Judiciário sobre a democracia”, disse Cristiane no vídeo.

“Isso é só o estopim do que vai acontecer daqui para frente caso


aconteça alguma coisa com meu pai. O que eu tenho para dizer para
vocês é que ele não vai se entregar. Meu pai não vai se entregar.
Acabou. A masmorra para ele acabou. Ninguém vai calar a voz de um
inocente”, afirmou. Minutos depois das postagens, a conta da
ex-deputada no Twitter foi retirada do ar.

Um vídeo compartilhado nas redes sociais por parlamentares de


direita mostra o que parece ser um circuito interno de segurança da
casa de Jefferson. Uma voz, que se assemelha à do ex-deputado,
começa a dizer que não vai se entregar. “Chega, me cansei de ser
vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente. Eu vou enfrentá-los”,
afirma. Em outro vídeo, aparentemente no mesmo local, a narração
diz: “Eu vou mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em
mim, eu atirei neles, ó”.

No local onde, no começo do vídeo, se viam os agentes e uma


viatura da PF, apenas o veículo permanecia estacionado, com o que
parecia ser um rastro de sangue. “Já é a quarta vez que esses caras
voltam aqui. Chega, o pau cantou”.
Repúdio

Candidatos à Presidência condenaram o incidente envolvendo o


ex-deputado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou
que nunca viu a sociedade brasileira com tanta raiva, apesar dos
muitos anos como candidato.

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“Estamos há 50 anos disputando eleições neste país e nunca vimos


uma aberração dessa, uma cretinice dessa, que esse cidadão, que é
o meu adversário, estabeleceu no País. Ele conseguiu criar uma
parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que
espalha fake news o dia inteiro, sem se importar se o seu filho está
vendo ou não. É um desrespeito com a população, gera
comportamentos como o do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e
de outras pessoas que seguem nosso adversário”, disse o petista
durante entrevista coletiva de imprensa em São Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o ex-presidente do PTB


é aliado, repudiou as ofensas proferidas contra a ministra Cármen
Lúcia, a quem Jefferson chamou de “Bruxa de Blair” e “prostituta
arrombada”, e também sua reação contra a Polícia Federal. Contudo,
o presidente voltou a criticar a atuação da Justiça, dizendo repudiar “a
existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem
a atuação do MP”.
“Repudio as falas do senhor Roberto Jefferson contra a ministra
Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a
existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem
a atuação do MP”, escreveu Bolsonaro, que enviou o ministro da
Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, ao Rio de Janeiro
para acompanhar o “andamento deste lamentável episódio”.

Em sua rede social, Torres afirmou que o momento é “de tensão”,


mas que a pasta está empenhada em trabalhar para minimizar a
crise. “Ministério da Justiça está todo empenhado em apaziguar essa
crise, com brevidade, e da melhor forma possível”, escreveu.

Ofensas a Cármen Lúcia

O caso envolvendo a Polícia Federal acontece um dia após Jefferson


ser repudiado por integrantes das classes política e jurídica por atacar
com xingamentos a ministra do Cármen Lúcia, do STF. O
ex-deputado chamou a ministra de “prostituta arrombada” em um
vídeo divulgado na internet.

“Fui rever o voto da Bruxa de Blair, da Cármen Lúcifer, na censura


prévia à Jovem Pan. Olhei de novo, não dá para acreditar. Lembra
mesmo aquelas prostitutas, aquelas vagabundas arrombadas”, disse
Jefferson, que hoje se encontra em prisão domiciliar e é investigado
por atuação em milícia digital contra democracia.

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