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Flordelis: entenda o caso da

deputada acusada de mandar


matar o marido
Investigação envolve relações familiares complexas

A deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD) Foto: Fernando Frazão - 25.jun.2019 /Agência
Brasil

Anna Satie, da CNN


26/08/2020 às 19:08

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou nesta semana
uma operação que mira os envolvidos na morte do pastor Anderson
do Carmo de Souza – assassinado com mais de 30 tiros em junho de
2019.

A ex-mulher dele, a deputada federal e também pastora Flordelis


(PSD-RJ) foi indiciada como a mandante do crime . Ela não pode ser
presa por ter imunidade parlamentar — deputados e senadores só
podem ser detidos se forem pegos em flagrante cometendo um crime
inafiançável.

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domiciliar

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foro

O mesmo privilégio não se estende à família de congressistas: sete


de seus filhos foram presos, preventivamente, suspeitos de
participação no crime. Flordelis é mãe de 55 filhos, quatro deles
biológicos.

Ela já era bastante famosa antes do ocorrido: em 2009, foi lançado


um filme sobre a vida dela, estrelado por Bruna Marquezine,
Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Hilbert e Deborah Secco. Em 2018, a
pastora foi a mulher mais votada para o cargo de deputada federal do
Rio de Janeiro.

O crime chama a atenção pelo tamanho da família, a relação entre


eles e a quantidade de perguntas não respondidas. Entenda melhor o
caso Flordelis.
Quem é Flordelis?
Nas redes sociais, Flordelis dos Santos de Souza se apresenta como
deputada federal, mãe de 55 filhos, viúva do pastor Anderson,
pastora e cantora gospel.

Desde adolescente, ela recebia crianças em situação de abandono


onde morava, na favela do Jacarezinho, zona norte carioca.  

Em 1994, adotou de uma só vez 37 crianças, sobreviventes da


chacina da Candelária. Com a grande família, composta por 51 filhos
adotivos e quatro biológicos, fundou uma comunidade evangélica que
levava seu nome, o ministério Flordelis.

Em junho de 2019, o marido, também pastor Anderson do Carmo, foi


morto com 30 tiros ao chegar de madrugada na casa onde morava
em Pendotiba, Niterói. Flordelis disse, na época, que o crime teria
sido parte de um assalto.

Desde a data, a deputada rememora o ex-marido em publicações


saudosas em seus perfis no Facebook e Instagram.
A relação Flordelis e Anderson

Flordelis e Anderson do CarmoFoto: Instagram/ Reprodução

Antes de se casar com Flordelis, Anderson já havia sido filho e genro


dela. Isso porque ela recebeu Anderson em sua casa como um de
seus protegidos. Na época, ele se relacionou com Simone, uma de
suas irmãs e filha biológica de Flordelis. A deputada e o filho adotivo
se casaram em 1994: ela tinha 33 anos, ele, 17.

Essa não é a única relação disputada dentro da família. Em junho


deste ano, Flordelis admitiu que Daniel, rapaz que apresentava como
único filho biológico de seu casamento com Anderson, é adotivo —
no entanto, não houve qualquer processo de adoção formal.

Outro caso semelhante é o da neta Rayane, que teria sido a primeira


criança a ser acolhida na casa de Flordelis e foi registrada como filha
de Simone. No entanto, também não há nenhum processo legal
nesse sentido e o ECA (Estatuto Legal da Criança e do Adolescente)
também não o permitiria: a diferença de idade entre Simone e
Rayane é de 13 anos — para requerer a adoção, é necessário que o
pretendente tenha ao menos 16 anos a mais.

As relações informais não são o maior problema da família no


momento. O inquérito da polícia concluiu que ao menos sete filhos de
Flordelis estão envolvidos na morte do pastor Anderson.

O crime
Na madrugada de 16 de junho, Anderson do Carmo foi assassinado
com 30 tiros na garagem da casa da família, em Pendotiba, Niterói.
Flordelis disse se tratar de um assalto, mas as câmeras de
segurança do imóvel não registraram a entrada de ninguém estranho.

No velório de Anderson, Flávio, um dos filhos biológicos da pastora,


foi preso, apontado como o autor dos disparos. Poucas horas depois,
Lucas, filho adotivo do casal, também foi detido, suspeito de ter
fornecido a arma do crime ao irmão.

Lucas negou aos investigadores a participação no crime, mas após


um tempo de detenção, escreveu uma carta, por meio da qual
assumia responsabilidade pelo assassinato. Pouco tempo depois, ele
negou autoria da carta e disse que só havia copiado um documento
escrito pela própria Flordelis.
A investigação
Operação da Polícia Civil mirou pessoas relacionadas à família de
FlordelisFoto: Divulgação – 24.ago.2020 / DHNSGI
Nesta semana, a pastora foi indiciada, suspeita de ser a mandante
do assassinato. Uma operação da Polícia Civil, chamada de Lucas
12, prendeu nove pessoas ligadas à família — dentre esses, seis
filhos e uma neta de Flordelis.

Segundo as investigações, a deputada já vinha tentando matar o


marido envenenado desde 2018, colocando arsênico na comida dele.
O motivo seria o controle do dinheiro do Ministério Flordelis e
relações de poder dentro da família.

Em uma troca de mensagens com um de seus filhos, a deputada


disse que o assassinato de Anderson seria a única saída. “Fazer o
quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome
de Deus”, escreveu.

O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa


do Rio de Janeiro, delegado Antônio Ricardo, disse que o núcleo
familiar de Flordelis formava uma organização criminosa.

Nesta terça-feira (25), Flordelis entregou seu passaporte ao


Ministério Público e está proibida de sair do país. Para ir à Brasília,
precisa comunicar com antecedência. Ela também não pode entrar
em contato com testemunhas ou com os outros réus do caso.

No mesmo dia, seu partido, o PSD, suspendeu a filiação da


deputada. 

Seu advogado, Anderson Rollemberg, afirmou que ela é inocente e


que a investigação está fazendo uma “ginástica” para enquadrá-la
como mandante.

“Ela não tinha ingerência sobre o dinheiro. Ela é cantora gospel, líder
religiosa e parlamentar. A questão dela sempre foi dar o melhor para
necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Para a defesa, está
havendo um grande equívoco no desfecho da investigação”, disse.
“Os elementos não são suficientes para que seja denunciada. Existe
uma ilação, uma ginástica muito grande pra colocar a deputada como
mandante. A defesa está pasma com o que viu”, afirmou o advogado.

Foro especial
Líderes da Câmara devem se reunir na próxima semana para debater
o que poderá ser feito com o mandato da deputada Flordelis (PSD-
RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, o pastor
Anderson Carmo.

“Estamos aguardando o recebimento da documentação pelo


Ministério Público do Rio de Janeiro. E, na próxima semana, vou
fazer reunião da mesa e depois uma reunião com os líderes, vamos
discutir o assunto e ver de que forma a Câmara quer encaminhar
esse assunto”, afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-
RJ), nesta quarta-feira, 26.

“Vou reunir a Mesa, vou reunir os líderes e vamos decidir em


conjunto. Eu não posso decidir tudo sozinho, não é o melhor
caminho”, disse.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, recebeu nesta quarta-feira


(26) um ofício assinado por 27 senadores de 11 partidos que cobram
a inclusão em pauta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
que acaba com o foro privilegiado para autoridades. Pelo texto,
apenas os presidentes da República, da Câmara, do Senado e do
Supremo Tribunal Federal teriam a direto à prerrogativa.

No ofício, os parlamentares citam o indiciamento de Flordelis. Ré na


Justiça, ela não pode ser presa por ter imunidade parlamentar, que
prevê prisão apenas em casos de flagrante de crimes inafiançáveis.

Aprovada no Senado em 2017, a PEC está pronta para ser votada no


plenário da Câmara dos Deputados desde o fim de 2018 após passar
pelas Comissões de Constituição e Justiça e Especial.  Veja
quem assinou o pedido de inclusão em pauta da
PEC 333 de 2017:
Senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) 
Senador Álvaro Dias (PODEMOS-PR) 
Senador Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE) 
Senador Plínio Valério (PSDB-AM) 
Senador Major Olímpio (PSL-SP) 
Senador Fabiano Contarato (REDE-ES) 
Senador Flávio Arns (REDE-PR) 
Senador Eduardo Girão (PODEMOS- CE) 
Senador Jorge Kajuru (CIDADANIA-GO) 
Senador Paulo Paim (PT-RS) 
Senador Styvenson Valentim (PODEMOS-RN) 
Senador Oriovisto Guimarães (PODEMOS-PR)
Senador Marcos do Val (PODEMOS-ES) 
Senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) 
Senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL) 
Senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) 
Senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ) 
Senadora Leila Barros (PSB-DF) 
Senador Jorginho Mello (PL-SC) 
Senadora Eliziane Gama (CIDADANIA-MA) 
Senador Reguffe (PODEMOS-DF) 
Senador Luiz do Carmo (MDB-GO) 
Senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) 
Senador Esperidião Amin (PP-SC) 
Senador Carlos Viana (PSD-MG) 
Senador Dário Berger (MDB-SC)
Senador Lasier Martins (PODEMOS-RS)
(Com informações de Jéssica Otoboni, Jairo Nascimento,
Thayana Nascimento, Leandro Resende e Daniel Adjuto da CNN
em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília)

Filha e neta de Flordelis


pedem conversão de prisão
preventiva em domiciliar
Solicitação foi feita para Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica
da parlamentar, e Rayane dos Santos Oliveira, filha adotiva de Simone

Filha e neta de Flordelis pedem


conversão de prisão preventiva
em domiciliar
Solicitação foi feita para Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da parlamentar,
e Rayane dos Santos Oliveira, filha adotiva de Simone
Flordelis na Câmara dos DeputadosFoto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados (12.dez.2018)

Jairo Nascimento e Stéfano Salles, da CNN no Rio


26/08/2020 às 16:25
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Responsável pela defesa de quatro filhos da deputada federal


Flordelis (PSD) e de uma neta, o advogado Luiz Felipe Alves
informou à CNN nesta quarta-feira que pediu a conversão de duas
prisões preventivas em domiciliar.
A solicitação foi feita para Simone dos Santos Rodrigues, filha
biológica da parlamentar, e Rayane dos Santos Oliveira, filha adotiva
de Simone. As duas foram presas na segunda-feira, quando foi
deflagrada a operação Lucas 12, da Polícia Federal. 

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Após caso Flordelis, 26 senadores pressionam Maia a pautar fim do
foro

Segundo o advogado, a situação de saúde de Simone é delicada e


inspira cuidados especiais. “Ela tem câncer e 33 nódulos no corpo.
Um tumor está muito grande e ela já estava até com cirurgia
marcada. A outra (neta) é por estar amamentando, ela tem uma filha
de cinco meses de idade. Então, em razão desses motivos, por
razões de humanidade, deve ser convertida a prisão preventiva em
domiciliar”, afirmou Luiz Felipe Alves. 

Simone chegou a passar mal na segunda-feira, quando estava na


Delegacia de Homicídios de Niterói, Região Metropolitana do Rio, e
foi atendida por profissionais do Samu. No local, os policiais disseram
no dia que permitiram que ela levasse remédios para o tratamento
oncológico.

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