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Em janeiro, por meio da Operação Intocáveis, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio
de Janeiro (MPRJ) prenderam milicianos de Rio das Pedras, acusados de extorsão,
homicídios e fraudes imobiliárias utilizando a Associação de Moradores do local. Um dos
principais líderes identificados é o ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, cuja mãe e
cuja esposa trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa
Estadual do Rio de Janeiro (Alerj).
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19/03/2019 Como vota Rio das Pedras, reduto da mais antiga milícia carioca | Brasil | EL PAÍS Brasil
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Flávio também concedeu a Medalha Tiradentes – mais alta honraria da casa – a Adriano
e a outro miliciano denunciado pelo MPRJ. Hoje, Adriano está foragido da Justiça e é
suspeito de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco (Psol).
Em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou 35.006 eleitores nas seções
eleitorais atribuídas a Rio das Pedras. Entretanto, os números podem ser ainda maiores,
considerando a expansão imobiliária na região e a ausência de delimitações oficiais do
local enquanto bairro. Oficialmente, a favela horizontal de Rio das Pedras se espalha
entre Itanhangá, Jacarepaguá e Anil.
Rio das Pedras é tido como berço de uma das mais antigas milícias do Rio de Janeiro,
que atua desde os anos 1970.
Há mais de 26 anos, o sociólogo José Cláudio Souza estuda as milícias. Ele explica que o
domínio mais direto sobre os votos da região onde atuam é uma das inovações dessas
organizações em relação a outros grupos criminosos. “Eles fazem um controle dos
títulos eleitorais das áreas, quantidade de votos de cada região e passam a vender estes
votos”, comenta.
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Na ocasião, Nadinho conseguiu 75% dos votos de Rio das Pedras e foi eleito, mas sua
ascensão política teve um final trágico.
Em uma investigação em 2006 sobre outros criminosos, o MPRJ apontou que Nadinho e
outros moradores passaram a integrar um “grupo paramilitar armado”, uma milícia, em
Rio das Pedras ainda no final dos anos 1990. À CPI das Milícias, em 2008, Nadinho
confirmou a existência de milícia na sua comunidade, mas à época negou fazer parte
dela.
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Antes disso, porém, em maio de 2007, como vereador, Nadinho recebeu a Medalha
Tiradentes na Alerj. O autor da homenagem foi o deputado Natalino, ex-policial preso no
ano seguinte sob acusação de liderar a milícia Liga da Justiça, que também atua na zona
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oeste. Por sua vez, Nadinho também homenageou Natalino com a Medalha Pedro
Ernesto, a comenda dos vereadores da cidade.
Em 2008, um delegado da Polícia Civil afirmou à CPI que ambos, Nadinho e Natalino,
fizeram uma parceria para eliminar Félix Tostes e ampliar domínio sobre Rio das Pedras.
Porém, de acordo com o delegado, outros criminosos fiéis a Félix assumiram o comando
e isolaram Nadinho. Entre eles, estaria Beto Bomba, que mais recentemente comandava
a Associação de Moradores de Rio das Pedras e foi um dos milicianos denunciados na
Operação Intocáveis.
No relatório da CPI, Nadinho aparece como “ex-líder” da milícia de Rio das Pedras,
enquanto Beto Bomba e outros figuram como mandantes à época. Além de seis nomes
de “prováveis lideranças da milícia” em Rio das Pedras, a CPI incluiu oito nomes de
“laranjas”, em especial familiares dos envolvidos.
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Durante o segundo mandato de Cesar Maia, foi assinado – sem licitação – um contrato
de R$ 225 mil com a Associação de Moradores e Amigos de Rio das Pedras (Amarp)
cobrindo a prestação de serviços de assistência educacional e nutricional para a
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manutenção de creches no local entre 2003 e 2004. Na época, de acordo com apuração
da Pública, Nadinho presidia a associação.
O DEM é o partido de seu filho, Rodrigo Maia, que comanda hoje a Câmara dos
Deputados em Brasília. À CPI, Nadinho declarou ter apoiado a candidatura de Rodrigo
Maia a deputado federal. Em 2006, ele foi o segundo deputado federal mais votado em
Rio das Pedras, com 5% dos votos.
Depois, porém, o jogo mudou. Nas disputas para deputado estadual, em 2010 e 2014,
Domingos foi de longe o candidato com melhor performance eleitoral por aquelas urnas,
recebendo quase 30% do total de votos da região para o cargo. Já em 2012 e 2016, seu
irmão Chiquinho Brazão (MDB) venceu ali todos os vereadores concorrentes, mas
concentrou menos votos que Domingos, angariando aproximadamente 15% do total.
Na última eleição, Pedro Brazão (PR) se candidatou pela primeira vez e se elegeu
deputado estadual, com a segunda melhor votação em Rio das Pedras. Dessa vez, foram
1.547 eleitores, ou 6% do total. Pedro é cunhado de Domingos Brazão e, em 2018,
perdeu a liderança para a candidata Cleusa Preta Loira (PR), do mesmo partido,
moradora do local que obteve 7% dos votos.
A atuação eleitoral da família Brazão em Rio das Pedras foi citada por Nadinho e aparece
brevemente no relatório da CPI, quando ele trata das relações políticas nos redutos
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controlados por milicianos. Além de Domingos Brazão, ele nomeou outros candidatos,
como Álvaro Lins (PMDB), ex-deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil.
Segundo o documento final da CPI, a milícia do bairro de Oswaldo Cruz, na zona norte,
também teria influência política sobre a família Brazão. À época deputado, Domingos
Brazão não prestou depoimento, mas solicitou a gravação de todas audiências feitas
pela comissão.
Domingos não só permaneceu no cargo como foi reeleito. Em 2015, foi escolhido pelos
deputados da Alerj como um dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, tendo
seu nome ratificado pelo ex-governador Pezão. Enquanto ocupava o cargo, em abril de
2017, Domingos Brazão foi preso com outros conselheiros em um dos desdobramentos
da Lava Jato, sob acusação de receber propina de empresas.
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Não foi a sua primeira vez atrás das grades. Com 22 anos, Domingos Brazão foi preso
por assassinato, mas foi solto após a Justiça ter decidido que ele agiu em legítima
defesa. Em 2017, ele ficou pouco mais de uma semana preso. Atualmente, Brazão
aguarda em liberdade julgamento dos processos por corrupção. Procurados pela
Pública, os membros da família Brazão não responderam às tentativas de contato.
Na última eleição, Chiquinho Brazão foi eleito deputado federal pelo partido Avante. Em
apenas dois anos, desde sua eleição anterior, em 2016, quando se tornou vereador pelo
Rio de Janeiro, sua declaração de bens aumentou de R$ 2,3 milhões para R$ 3,4
milhões, mais de R$ 1 milhão. Já o cunhado Pedro Brazão declarou R$ 1,9 milhão em
bens durante a candidatura que o tornou deputado estadual em 2018.
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Outro candidato do MDB bem colocado em Rio das Pedras foi o vereador eleito Thiago
K. Ribeiro, sexto mais votado em 2016, com 1,6% dos votos totais. Ele é filho e sócio do
economista Jorge Luiz Ribeiro, preso em 2018 e acusado de ser o operador financeiro
do esquema de propina de Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Estadual e
conhecido cacique do MDB no Rio.
Em 2008, pouco depois de eleito vereador – o segundo mais votado em Rio das Pedras,
com 5% dos votos –, Girão foi indiciado pela Polícia Federal por extorsão e lavagem de
dinheiro. Na denúncia feita pelo MPRJ, ligações interceptadas na Operação Intocáveis
mostram animosidade entre a milícia de Rio das Pedras e a de Gardênia Azul.
No ano passado, seu irmão Domingos Brazão foi convocado a prestar explicações nas
investigações do caso Marielle. Isso porque uma das testemunhas do caso teria relações
com Gilberto Ribeiro da Costa, ex-assessor parlamentar de Domingos na Alerj.
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De acordo com ela, o vereador Marcello Siciliano (PHS) seria o possível mandante da
execução que resultou na morte de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.
Contudo, os investigadores já suspeitavam da testemunha por possíveis disputas
políticas dos grupos da região. Em fevereiro de 2019, novas investigações da Polícia
Federal enfraqueceram as suspeitas sobre Siciliano.
Na zona oeste, Siciliano e a família Brazão são tidos como adversários políticos, por
disputarem votos. Na eleição passada, por exemplo, enquanto Chiquinho Brazão pedia
para si os votos para deputado federal, Marcelo Siciliano apoiou outro candidato, Tio
Carlos, que acabou não conquistando o cargo.
Depois da morte de Nadinho, o único político a acompanhar seu enterro foi o então
vereador Carlos Alberto Lavrado Cupello, o Tio Carlos, que mantinha com ele um projeto
social para crianças, conforme relatou a imprensa à época. Ele se elegeu vereador em
2008 pelo DEM.
Em 2012, Tio Carlos foi reconduzido à Câmara dos Vereadores. No cargo, votou a favor
da cassação de Deco (PR), vereador acusado de comandar a milícia da Praça Seca,
também na zona oeste da cidade.
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Dois anos depois, na eleição seguinte, Tio Carlos subiu um degrau e conquistou uma
vaga na Alerj pelo Solidariedade (SD), o mesmo partido do ex-policial Geiso Pereira
Turques, que em 2016 foi citado em depoimentos à CPI das Milícias como “participante
regular do encontro semanal da cúpula da milícia de Rio das Pedras”. Geiso foi um dos
políticos indiciados por extorsão e lavagem de dinheiro pela Polícia Federal em 2008,
junto com Girão.
Entre 2012 e 2016, Tio Carlos e Geiso tiveram boa performance em Rio das Pedras,
ficando atrás apenas da família Brazão nas disputas eleitorais. Na corrida para a Alerj,
Tio Carlos conseguiu 6% dos votos de Rio das Pedras em 2012 e 5% em 2014. Já Geiso
levou 9% dos votos dali em 2016, mas teve a candidatura indeferida com base na Lei da
Ficha Limpa.
Quando concorreu, Geiso declarou ter mais de R$ 1 milhão em bens, sendo R$ 425 mil
em dinheiro vivo. Ele era proprietário do Castelo das Pedras, uma tradicional casa de
shows da região e já fora eleito vereador em São Gonçalo pelo PDT.
Mais conhecido como Geiso do Castelo, ele foi um dos indiciados pela CPI das Milícias e,
em 2015, foi expulso da Polícia Militar. A Pública solicitou à PMERJ esclarecimentos
sobre o desligamento do ex-policial, mas não obteve resposta.
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Nas eleições analisadas pela Pública em Rio das Pedras, 2018 foi a única em que a
concentração de votos do candidato mais popular ficou significativamente abaixo da
margem de 15%, apontada como possível indício de “curral eleitoral” pela CPI das
Milícias. Pela primeira vez, em Rio das Pedras os votos nulos ou em branco superaram
as candidaturas para o Parlamento estadual ou municipal. Na eleição de 2018, 25% dos
eleitores dali optaram por anular ou votar em branco.
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Relator da CPI das Milícias, que investigou os grupos criminosos da região, Marcelo
Freixo (Psol) foi o terceiro deputado mais votado em Rio das Pedras em 2014. Naquela
eleição para a Alerj, ele conseguiu 847 votos nominais na região – ou 3% do total.
Já a votação de Marielle Franco não se destacou em Rio das Pedras. Dos mais de 46 mil
votos que tornaram Marielle vereadora, apenas 101 foram registrados nas urnas de Rio
das Pedras. O equivalente a apenas 0,4% do total daquela área.
Adere a
ARQUIVADO EM:
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