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19/03/2019 Como vota Rio das Pedras, reduto da mais antiga milícia carioca | Brasil | EL PAÍS Brasil

Como vota Rio das Pedras, reduto da mais antiga milícia


carioca
Levantamento da agência Pública mostra quem são os políticos mais
votados na favela que ficou famosa após prisão de chefe da milícia ligado a
Flávio Bolsonaro

ADRIANO BELISÁRIO (AGÊNCIA PÚBLICA)

10 MAR 2019 - 23:41 CET

Desde que vieram à luz novas informações sobre as organizações


MAIS DA AGÊNCIA
PÚBLICA › criminosas chamadas de milícias, como o fato de que Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) empregou parentes e homenageou um miliciano
do Complexo Rio das Pedras, essa favela da zona oeste do Rio de
Janeiro tornou-se epicentro de um dos mais recentes escândalos
políticos do país. Para desvendar o jogo político local, a Pública fez
um levantamento inédito sobre os candidatos mais votados
naquelas seções eleitorais, com foco especial nos cargos de
“No Rio de Janeiro a
milícia não é um vereador e deputado estadual.
poder paralelo. É o
Estado”
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A Pública constatou que, em 2018, Flávio Bolsonaro foi o senador


mais votado em Rio das Pedras, com 8.729 votos, o equivalente a
17% do total.

Historicamente, porém, a performance eleitoral da família do


presidente não foi expressiva naquela região. Na disputa para cargos
Rede social de
ultradireita chega ao do Parlamento, a melhor votação foi em 2016, quando seu irmão
Brasil com acenos a Carlos Bolsonaro (PSL) foi o sétimo vereador mais bem colocado
Bolsonaro
por aquelas urnas, com 399 votos (1,5%).

O patriarca, Jair Bolsonaro (PSL), teve sua melhor performance na


disputa pelo cargo de deputado federal na eleição de 2014. Na
ocasião, foi o quarto mais votado em Rio das Pedras. O atual
presidente obteve então 623 votos (2%). Tanto em 2010 como em
As cifras de suicídios 2014 o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) liderou essa disputa.
entre policiais
revelam o alarmante
calvário do homens Desde 2010, o jogo eleitoral foi liderado principalmente pela família
de farda
Brazão, tradicional grupo político da zona oeste. Conselheiro
afastado do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão
foi alvo de uma operação da Polícia Federal em 21 de fevereiro, que apura tentativas de
atrapalhar a elucidação do homicídio de Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes.

O levantamento revela também candidatos ligados à milícia e outras práticas


criminosas, como assassinatos.

Em janeiro, por meio da Operação Intocáveis, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio
de Janeiro (MPRJ) prenderam milicianos de Rio das Pedras, acusados de extorsão,
homicídios e fraudes imobiliárias utilizando a Associação de Moradores do local. Um dos
principais líderes identificados é o ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, cuja mãe e
cuja esposa trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa
Estadual do Rio de Janeiro (Alerj).

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O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), em um pronunciamento no Senado em 26 de fevereiro. ROQUE DE


SÁ/AGÊNCIA SENADO

Coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco),


órgão do MPRJ que liderou a Operação Intocáveis, Simone Sibilio diz que as prisões de
janeiro não significaram o fim das investigações. Pelo contrário. “A investigação
prossegue com farto material, inclusive para aprofundar a possível relação com agentes
públicos, por conta do material apreendido e das novas denúncias recebidas desde
então. Demos um duro golpe naquela organização, mas temos preocupação que novas
lideranças possam surgir ou que o tráfico da Cidade de Deus vá para lá”, comenta a
promotora.

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Flávio também concedeu a Medalha Tiradentes – mais alta honraria da casa – a Adriano
e a outro miliciano denunciado pelo MPRJ. Hoje, Adriano está foragido da Justiça e é
suspeito de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco (Psol).

Miliciano chegou a obter 75% dos votos da região


Em levantamento municipal, a partir do Censo de 2010, Rio das Pedras já aparecia como
a terceira maior favela da cidade, com mais de 63 mil de habitantes. Já a Associação de
Moradores sustenta que o número está em torno de 140 mil.

Em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou 35.006 eleitores nas seções
eleitorais atribuídas a Rio das Pedras. Entretanto, os números podem ser ainda maiores,
considerando a expansão imobiliária na região e a ausência de delimitações oficiais do
local enquanto bairro. Oficialmente, a favela horizontal de Rio das Pedras se espalha
entre Itanhangá, Jacarepaguá e Anil.

Rio das Pedras é tido como berço de uma das mais antigas milícias do Rio de Janeiro,
que atua desde os anos 1970.

Há mais de 26 anos, o sociólogo José Cláudio Souza estuda as milícias. Ele explica que o
domínio mais direto sobre os votos da região onde atuam é uma das inovações dessas
organizações em relação a outros grupos criminosos. “Eles fazem um controle dos
títulos eleitorais das áreas, quantidade de votos de cada região e passam a vender estes
votos”, comenta.

No ano passado, autoridades fizeram um mapeamento oficial que identificou 300


currais eleitorais – entre eles Rio das Pedras – controlados pelo tráfico ou pelas milícias
na cidade. O problema é antigo. Dez anos antes, nos idos de 2008, a Alerj criou uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as milícias, após jornalistas
que cobriam o tema terem sido sequestrados e torturados. As conclusões já apontavam
para a influência das milícias no poder público, inclusive por meio de candidaturas
próprias.

Segundo o relatório final da CPI, a concentração de votos por local em eleições


proporcionais, como a de deputados estaduais e vereadores, chega normalmente a
cerca de 10% quando não há currais eleitorais. Assim, foi adotado o índice de 15% como

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“marco definidor de um padrão muito elevado” de concentração de votos, o que poderia


ser um indício de currais eleitorais ou, no caso, de controle pelas milícias.

Sob esse aspecto, a concentração de votos em Rio das Pedras impressiona.


Impulsionado por sua atuação na comunidade via Associação de Moradores e pela
transferência dos títulos de eleitor dos moradores imigrantes nordestinos, Josinaldo
Francisco da Cruz – o Nadinho de Rio das Pedras – se lançou candidato a vereador em
2004.

Na ocasião, Nadinho conseguiu 75% dos votos de Rio das Pedras e foi eleito, mas sua
ascensão política teve um final trágico.

Em uma investigação em 2006 sobre outros criminosos, o MPRJ apontou que Nadinho e
outros moradores passaram a integrar um “grupo paramilitar armado”, uma milícia, em
Rio das Pedras ainda no final dos anos 1990. À CPI das Milícias, em 2008, Nadinho
confirmou a existência de milícia na sua comunidade, mas à época negou fazer parte
dela.

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BRUNO FONSECA/AGÊNCIA PÚBLICA

O xadrez das milícias de Rio das Pedras


Em fevereiro de 2007, outro líder local e antigo parceiro de Nadinho foi assassinado. O
inspetor policial Félix Tostes foi executado dentro de seu carro, alvejado com mais de 40
disparos. No final do ano, Nadinho foi indiciado como mandante do crime – e,
posteriormente, a CPI o apontou como ex-líder da milícia de Rio das Pedras.

Antes disso, porém, em maio de 2007, como vereador, Nadinho recebeu a Medalha
Tiradentes na Alerj. O autor da homenagem foi o deputado Natalino, ex-policial preso no
ano seguinte sob acusação de liderar a milícia Liga da Justiça, que também atua na zona

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oeste. Por sua vez, Nadinho também homenageou Natalino com a Medalha Pedro
Ernesto, a comenda dos vereadores da cidade.

Em 2008, um delegado da Polícia Civil afirmou à CPI que ambos, Nadinho e Natalino,
fizeram uma parceria para eliminar Félix Tostes e ampliar domínio sobre Rio das Pedras.
Porém, de acordo com o delegado, outros criminosos fiéis a Félix assumiram o comando
e isolaram Nadinho. Entre eles, estaria Beto Bomba, que mais recentemente comandava
a Associação de Moradores de Rio das Pedras e foi um dos milicianos denunciados na
Operação Intocáveis.

No relatório da CPI, Nadinho aparece como “ex-líder” da milícia de Rio das Pedras,
enquanto Beto Bomba e outros figuram como mandantes à época. Além de seis nomes
de “prováveis lideranças da milícia” em Rio das Pedras, a CPI incluiu oito nomes de
“laranjas”, em especial familiares dos envolvidos.

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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Brasília. WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

Nadinho apoiou Rodrigo Maia


À CPI na Alerj, Nadinho confirmou a existência de milícia em Rio das Pedras, mas negou
fazer parte dela. Tanto Nadinho como Natalino eram filiados ao PFL, posteriormente
renomeado DEM. Era o partido de Cesar Maia, que durante seu terceiro mandato como
prefeito do Rio, entre 2005 e 2008, chegou a dizer que preferia as milícias ao tráfico.

Durante o segundo mandato de Cesar Maia, foi assinado – sem licitação – um contrato
de R$ 225 mil com a Associação de Moradores e Amigos de Rio das Pedras (Amarp)
cobrindo a prestação de serviços de assistência educacional e nutricional para a

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manutenção de creches no local entre 2003 e 2004. Na época, de acordo com apuração
da Pública, Nadinho presidia a associação.

O DEM é o partido de seu filho, Rodrigo Maia, que comanda hoje a Câmara dos
Deputados em Brasília. À CPI, Nadinho declarou ter apoiado a candidatura de Rodrigo
Maia a deputado federal. Em 2006, ele foi o segundo deputado federal mais votado em
Rio das Pedras, com 5% dos votos.

O domínio da família Brazão


Durante o depoimento à CPI, Nadinho citou nomes de policiais envolvidos com a milícia
na sua comunidade e disse que, a partir de então, sua vida estava em risco. Dito e feito:
em 2009, cerca de seis meses depois, ele foi executado, na zona oeste do Rio de
Janeiro, com mais de dez tiros.

Após a morte de Nadinho, o sobrenome Brazão passa a se destacar entre os campeões


de votos em Rio das Pedras. Antes disso, entre 2004 e 2010, os resultados das urnas
mostram uma performance tímida da família. O melhor resultado havia sido em 2006,
quando Domingos Brazão (MDB) conseguiu 2% dos votos e foi eleito deputado
estadual.

Depois, porém, o jogo mudou. Nas disputas para deputado estadual, em 2010 e 2014,
Domingos foi de longe o candidato com melhor performance eleitoral por aquelas urnas,
recebendo quase 30% do total de votos da região para o cargo. Já em 2012 e 2016, seu
irmão Chiquinho Brazão (MDB) venceu ali todos os vereadores concorrentes, mas
concentrou menos votos que Domingos, angariando aproximadamente 15% do total.

Na última eleição, Pedro Brazão (PR) se candidatou pela primeira vez e se elegeu
deputado estadual, com a segunda melhor votação em Rio das Pedras. Dessa vez, foram
1.547 eleitores, ou 6% do total. Pedro é cunhado de Domingos Brazão e, em 2018,
perdeu a liderança para a candidata Cleusa Preta Loira (PR), do mesmo partido,
moradora do local que obteve 7% dos votos.

A atuação eleitoral da família Brazão em Rio das Pedras foi citada por Nadinho e aparece
brevemente no relatório da CPI, quando ele trata das relações políticas nos redutos

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controlados por milicianos. Além de Domingos Brazão, ele nomeou outros candidatos,
como Álvaro Lins (PMDB), ex-deputado estadual e ex-chefe da Polícia Civil.

Em entrevista à Pública, Cleusa Preta Loira, que apoiou Nadinho e acompanhou as


campanhas políticas em Rio das Pedras desde os anos 2000, afirmou que nunca houve
uma relação efetiva entre Brazão e Nadinho. “Pelo contrário, ele [Brazão] nem entrava
lá”, afirma. Confirmando os dados levantados, segundo ela, foi a partir de 2010, já após
a morte de Nadinho, que a família Brazão passou a ter maior protagonismo eleitoral na
comunidade.

Segundo o documento final da CPI, a milícia do bairro de Oswaldo Cruz, na zona norte,
também teria influência política sobre a família Brazão. À época deputado, Domingos
Brazão não prestou depoimento, mas solicitou a gravação de todas audiências feitas
pela comissão.

Domingos Brazão é filho de portugueses, mas nasceu em Jacarepaguá, na zona oeste


do Rio de Janeiro. Ele mantinha um centro social com seu nome na região, que foi
fechado em 2010 pelo Tribunal Regional Eleitoral por ser usado para fins eleitorais.
Entre outras coisas, os fiscais encontraram ali cadeiras de rodas com a marca do
Sistema Único de Saúde (SUS) e registros de dados eleitorais de moradores. Por causa
desse evento, ele chegou a ter seu mandato cassado em 2011, mas a decisão foi
revertida no TSE.

Domingos não só permaneceu no cargo como foi reeleito. Em 2015, foi escolhido pelos
deputados da Alerj como um dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, tendo
seu nome ratificado pelo ex-governador Pezão. Enquanto ocupava o cargo, em abril de
2017, Domingos Brazão foi preso com outros conselheiros em um dos desdobramentos
da Lava Jato, sob acusação de receber propina de empresas.

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Domingos Brazão foi preso em um dos desdobramentos


da Lava Jato. ARQUIVO ALERJ

Não foi a sua primeira vez atrás das grades. Com 22 anos, Domingos Brazão foi preso
por assassinato, mas foi solto após a Justiça ter decidido que ele agiu em legítima
defesa. Em 2017, ele ficou pouco mais de uma semana preso. Atualmente, Brazão
aguarda em liberdade julgamento dos processos por corrupção. Procurados pela
Pública, os membros da família Brazão não responderam às tentativas de contato.

Mesmo com Domingos afastado da vida pública, a família Brazão continua se


expandindo politicamente. E, em 2018, garantiu uma cadeira na Alerj e outra na Câmara
dos Deputados, em Brasília.

Na última eleição, Chiquinho Brazão foi eleito deputado federal pelo partido Avante. Em
apenas dois anos, desde sua eleição anterior, em 2016, quando se tornou vereador pelo
Rio de Janeiro, sua declaração de bens aumentou de R$ 2,3 milhões para R$ 3,4
milhões, mais de R$ 1 milhão. Já o cunhado Pedro Brazão declarou R$ 1,9 milhão em
bens durante a candidatura que o tornou deputado estadual em 2018.

Apesar da migração recente de Chiquinho para o Avante, a família Brazão é


tradicionalmente ligada ao MDB, partido que, ao lado do PFL/DEM, concentrou quase
metade dos votos de Rio das Pedras para vereador e deputado estadual na última

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década. O MDB também esteve à frente da prefeitura e do governo do estado do Rio de


Janeiro, além de comandar a Alerj.

Outro candidato do MDB bem colocado em Rio das Pedras foi o vereador eleito Thiago
K. Ribeiro, sexto mais votado em 2016, com 1,6% dos votos totais. Ele é filho e sócio do
economista Jorge Luiz Ribeiro, preso em 2018 e acusado de ser o operador financeiro
do esquema de propina de Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Estadual e
conhecido cacique do MDB no Rio.

Da CPI das Milícias ao caso Marielle Franco


A CPI das Milícias reuniu também informações sobre grupos milicianos de regiões
próximas a Rio das Pedras, como a favela Gardênia Azul. Ex-presidente da Associação
de Moradores do local, o sargento bombeiro Cristiano Girão foi apontado como suposto
líder da milícia ali.

Segundo o relatório da CPI, documentos oficiais mostrariam que Girão chegou a


assassinar um morador da comunidade em 2004. O motivo seria o fato de ele ter se
recusado a colocar em sua casa propaganda política do então candidato a vereador.

Em 2008, pouco depois de eleito vereador – o segundo mais votado em Rio das Pedras,
com 5% dos votos –, Girão foi indiciado pela Polícia Federal por extorsão e lavagem de
dinheiro. Na denúncia feita pelo MPRJ, ligações interceptadas na Operação Intocáveis
mostram animosidade entre a milícia de Rio das Pedras e a de Gardênia Azul.

Depois de preso em 2009 por acusação de envolvimento com a milícia, só há notícias de


Girão ter retornado à sede do Legislativo carioca em março do ano passado, uma
semana antes do assassinato de Marielle Franco, conforme revelou o site The Intercept.
Segundo o site, o miliciano passou pelo sétimo andar do prédio, onde fica o gabinete de
Chiquinho Brazão (MDB).

No ano passado, seu irmão Domingos Brazão foi convocado a prestar explicações nas
investigações do caso Marielle. Isso porque uma das testemunhas do caso teria relações
com Gilberto Ribeiro da Costa, ex-assessor parlamentar de Domingos na Alerj.

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O vereador Marcelo Siciliano (PHS). AGÊNCIA BRASIL

De acordo com ela, o vereador Marcello Siciliano (PHS) seria o possível mandante da
execução que resultou na morte de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.
Contudo, os investigadores já suspeitavam da testemunha por possíveis disputas
políticas dos grupos da região. Em fevereiro de 2019, novas investigações da Polícia
Federal enfraqueceram as suspeitas sobre Siciliano.

Na zona oeste, Siciliano e a família Brazão são tidos como adversários políticos, por
disputarem votos. Na eleição passada, por exemplo, enquanto Chiquinho Brazão pedia
para si os votos para deputado federal, Marcelo Siciliano apoiou outro candidato, Tio
Carlos, que acabou não conquistando o cargo.

Depois da morte de Nadinho, o único político a acompanhar seu enterro foi o então
vereador Carlos Alberto Lavrado Cupello, o Tio Carlos, que mantinha com ele um projeto
social para crianças, conforme relatou a imprensa à época. Ele se elegeu vereador em
2008 pelo DEM.

Em 2012, Tio Carlos foi reconduzido à Câmara dos Vereadores. No cargo, votou a favor
da cassação de Deco (PR), vereador acusado de comandar a milícia da Praça Seca,
também na zona oeste da cidade.

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Dois anos depois, na eleição seguinte, Tio Carlos subiu um degrau e conquistou uma
vaga na Alerj pelo Solidariedade (SD), o mesmo partido do ex-policial Geiso Pereira
Turques, que em 2016 foi citado em depoimentos à CPI das Milícias como “participante
regular do encontro semanal da cúpula da milícia de Rio das Pedras”. Geiso foi um dos
políticos indiciados por extorsão e lavagem de dinheiro pela Polícia Federal em 2008,
junto com Girão.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), relator da CPI


das Milícias na ALERJ. WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

Entre 2012 e 2016, Tio Carlos e Geiso tiveram boa performance em Rio das Pedras,
ficando atrás apenas da família Brazão nas disputas eleitorais. Na corrida para a Alerj,
Tio Carlos conseguiu 6% dos votos de Rio das Pedras em 2012 e 5% em 2014. Já Geiso
levou 9% dos votos dali em 2016, mas teve a candidatura indeferida com base na Lei da
Ficha Limpa.

Quando concorreu, Geiso declarou ter mais de R$ 1 milhão em bens, sendo R$ 425 mil
em dinheiro vivo. Ele era proprietário do Castelo das Pedras, uma tradicional casa de
shows da região e já fora eleito vereador em São Gonçalo pelo PDT.

Mais conhecido como Geiso do Castelo, ele foi um dos indiciados pela CPI das Milícias e,
em 2015, foi expulso da Polícia Militar. A Pública solicitou à PMERJ esclarecimentos
sobre o desligamento do ex-policial, mas não obteve resposta.

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Milicianos interferem nas campanhas eleitorais


O impacto eleitoral das milícias foi analisado em um artigo de 2015 dos cientistas
políticos Daniel Hidalgo e Benjamin Lessing. Eles estudaram a influência política das
milícias entre 2002 e 2006, em especial nas candidaturas de membros das forças
policiais, e concluíram que os milicianos usaram o controle territorial para se elegerem
ou puxarem votos para aliados.

Hidalgo é professor de ciência política no Instituto de Tecnologia de Massachusetts


(MIT) e Lessing leciona a mesma disciplina na Universidade de Chicago, ambos nos
Estados Unidos. No estudo, disponível online, eles mostram um aumento de quase 50%
dos votos em candidatos de forças de segurança nas comunidades dominadas por
milícias.

Nas eleições analisadas pela Pública em Rio das Pedras, 2018 foi a única em que a
concentração de votos do candidato mais popular ficou significativamente abaixo da
margem de 15%, apontada como possível indício de “curral eleitoral” pela CPI das
Milícias. Pela primeira vez, em Rio das Pedras os votos nulos ou em branco superaram
as candidaturas para o Parlamento estadual ou municipal. Na eleição de 2018, 25% dos
eleitores dali optaram por anular ou votar em branco.

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No levantamento histórico dos mais votados, aparecem também partidos identificados


à esquerda, mas com menos força. O PT teve as candidaturas de Robson Leite, que
ficou entre os cinco melhores em 2008, 2010 e 2018.

Infográfico: Bruno Fonseca/Agência Pública

Relator da CPI das Milícias, que investigou os grupos criminosos da região, Marcelo
Freixo (Psol) foi o terceiro deputado mais votado em Rio das Pedras em 2014. Naquela
eleição para a Alerj, ele conseguiu 847 votos nominais na região – ou 3% do total.

Já a votação de Marielle Franco não se destacou em Rio das Pedras. Dos mais de 46 mil
votos que tornaram Marielle vereadora, apenas 101 foram registrados nas urnas de Rio
das Pedras. O equivalente a apenas 0,4% do total daquela área.

Reportagem: Adriano Belisário. Infográficos: Bruno Fonseca, da Pública.

Adere a

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