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1. POLÍTICA
O largo placar com quase 13 milhões de votos nordestinos a favor do candidato do partido
oposto, logo deu lugar a comentários preconceituosos e ofensivos partindo de perfis
bolsonaristas nas redes sociais, depois do primeiro turno das eleições de 2022, mas o fato é
recorrente.
Em 2010 e 2014, a eleição de Dilma Rousseff (PT) foi o estopim das ofensas e
depreciações direcionadas ao povo do nordeste, em uma série de postagens, mesmo com a
ex-presidente tendo vencido a primeira eleição em estados como o Rio de Janeiro e em São
Paulo.
O aumento dos ataques em época de eleições foi constatado pela pesquisa da Safernet,
uma ONG de proteção dos Direitos Humanos no ambiente digital. Um dia após o pleito do
dia 2 de outubro, a Organização recebeu 348 denúncias de Xenofobia contra dez relatos do
dia anterior. Com relação ao mesmo período do ano passado, o crescimento é avassalador,
visto que a instituição só recebeu uma denúncia. O levantamento realizado no primeiro
semestre de 2022, apontam que as denúncias de crimes que envolvem discurso de ódio na
internet cresceram 67,5% no primeiro semestre de 2022 na comparação com o mesmo
período de 2021. Já em relação a 2017, 2018 apresentou um crescimento de 595,5% nos
registros. De 2019 para 2020, o aumento foi de 111,20%.
"O discurso de ódio se alimenta de preconceitos já enraizados no imaginário das pessoas.
A discriminação contra os nordestinos é uma das manifestações desse preconceito e a
gente percebe que as eleições funcionam como um gatilho. Isso é resultado da divisão
política do país. Os nordestinos acabam sendo alvo de ataques porque o país tem
realidades muito diferentes e isso se reflete nos resultados das urnas quando a gente ver
quais candidatos tiveram mais votos no nordeste e no sudeste. O melhor antídoto contra o
preconceito é informação e diálogo. Enquanto a gente não for capaz de escutar e
compreender a realidade de quem é diferente de nós, dificilmente vamos conseguir conviver
respeitando as diferenças".
Migração nordestina
“Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo, nóis vamo a São Paulo, viver ou morrer”. O
verso da canção ‘A Triste Partida’ do poeta e repentista cearense Patativa do Assaré, ilustra
a realidade de milhares de migrantes nordestinos que deixaram sua terra natal em busca de
sobrevivência no sudeste do Brasil. A migração nordestina é um grande fator histórico para
o país. Para o professor da Universidade Federal do Ceará e doutor em história, Frederico
de Castro Neves, que estuda temas relacionados à seca, migração, movimentos e conflitos
sociais, é no final do século XIX que se estabelecem as diferenças regionais. Primeiro, entre
as regiões Norte e Sul. Depois, já no início do século XX, se forma a noção de Nordeste.
“O preconceito começa com a própria definição de nordestino, que tem a ver com a
formação da intelectualidade paulista nos anos de 1920, que estabelecia São Paulo como a
"locomotiva" do Brasil e as outras regiões como "vagões" a serem carregados pelo
desenvolvimento paulista. A reação veio com Gilberto Freyre, a partir de Recife, e a
definição do Nordeste como o "berço da nacionalidade". De qualquer maneira, o Nordeste
passou a ser definido como uma área pobre, agrícola, seca e mestiça. É, obviamente, uma
definição inteiramente arbitrária, mas que se firmou na cultura brasileira, tanto que hoje
falamos de "cultura nordestina" como se fosse um dado, uma coisa imemorial, que sempre
existiu”.
O preconceito contra o nordestino também pode ser analisado no contexto racial. A região
não sofreu colonialismo europeu, mantendo as características do seu povo que é negro,
pardo e indígena. Em um país, onde o branco é considerado descendente de europeu, as
diferenças se alargam ainda mais, elevando o regionalismo nordestino a patamares que
colocam a região como uma ameaça à direita antidemocrática, pois os ataques sofridos
devem ter respostas nas urnas. Para o cientista político Cleiton Monte, as reiteradas falas
do atual presidente na época e seus eleitores contra a região podem resultar em um tiro no
pé.
2. SOCIAL