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SELETIVIDADE DO SISTEMA

DE JUSTIÇA CRIMINAL

A relação entre a guerra às


drogas e o racismo estrutural
RESUMO DA CRIMINALIZAÇÃO DA
CANNABIS

• CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
• ENTRE 1500 E 1856
– BRASIL RECEBEU 5 MI DE NEGROS ESCRAVIZADOS
– RIO DE JANEIRO RECEBEU 60% DO TOTAL DO BRASIL
– RIO DE JANEIRO RECEBEU 20% DO TOTAL DO MUNDO
– RIO DE JANEIRO RECEBEU 1 DE CADA 5 ESCRAVIZADOS
– RIO DE JANEIRO CHEGOU A TER MAIS NEGROS QUE
HOMENS LIVRES
RESUMO DA CRIMINALIZAÇÃO DA
CANNABIS
• RACISMO CIENTÍFICO : crença pseudocientífica de que existem
evidências empíricas que apoiam ou justificam discriminação racial ou a
crença de que uma raça é superior a outra.

• CRIMINALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE HERANÇA AFRICANA -


A associação entre maconha e religiosidade negra parece ter sido uma
estratégia importante no combate às práticas de costumes de origem
africana. A medicina, por um lado, perseguia os curandeiros por não
serem diplomados e por buscarem a cura através das plantas e por outro
lado condenava o uso da maconha tanto como remédio como quanto
elemento de tradição negra no uso recreativo e, portanto, incivilizada.

• RODRIGUES DÓRIA E PERNAMBUCO FILHO


RESUMO DA CRIMINALIZAÇÃO DA
CANNABIS

• LINHA DO TEMPO:
– 1830 PROIBIÇÃO NA CÂMARA DO RIO DE
JANEIRO. VENDEDOR MULTA, CONSUMIDOR 3
DIAS DE PRISÃO
– 1924 CONFERÊNCIA DO ÓPIO – INCLUSÃO DA
CANNABIS POR UMA INFLUÊNCIA BRASILEIRA
– 1932 PROIBIÇÃO NACIONAL
ELEMENTO SUSPEITO

• INFLUÊNCIA DO RACISMO NA CONSTRUÇÃO DO SUSPEITO


– Ultrapassada a origem da criminalização da venda e
consumo da maconha e demais práticas relativas aos
negros escravizados nos leva a pensar, qual a reflexo atual
desse projeto de país iniciado na virada do século XIX para
o século XX?
– E a criminalização histórica, como projeto de estado
baseado em uma política eugenista, influência na atuação
contemporânea das instituições brasileiras. Sobretudo
daquelas responsáveis por regular as relações humanas,
como é o caso das policiais.
CRIAÇÃO DO ELEMENTO SUSPEITO
• “A diferença é que no morro todos são suspeitos. Até uma
menina de 12 anos é suspeita. Pois nós já vimos uma portando
um fuzil, mesmo sabendo que tem muita gente boa lá.” (Praça
da BPM da ZS)

• “O suspeito é o biótipo que todos nós fazemos a avaliação.


Avaliação que a senhora faz, todo mundo faz. É aquele biótipo
quando a senhora está entrando na sua rua, a senhora
observa. Não adianta, não vamos aqui forçar a barra e não
vamos... todos nós somos parte da sociedade. Esse biótipo que
a senhora está pensando, não adianta...”
(Oficial da polícia militar do Rio de Janeiro)
CRIAÇÃO DO ELEMENTO SUSPEITO
• “Depende do local. Por exemplo, dentro de uma comunidade eu já
posso com tranquilidade começar a partir dos oito anos. O jornal
está trazendo hoje: menor com 13 anos foi abordado no centro da
cidade por um policial militar com um revólver 38” (Oficial da PM
do subúrbio)

• “Os jovens principalmente, por serem jovens e imaturos, pela falta


de educação. Isso se dá muito a noite, na madrugada. Ele trata o
policial como ele trata normalmente a mãe e o pai, com extrema
falta de respeito. O policial por sua vez retruca, esse jovem não está
acostumado a ser questionado há o choque. O policial tem que usar
a força, a farda... essa é a grande situação.” (Oficial PM do centro)
O QUANTO O RACISMO INFLUENCIA NA ATUAÇÃO POLICIAL
SEGUNDO OS PRÓPRIOS POLICIAIS?

• “Veja bem, tudo isso é muito conceitual. Em primeiro lugar,


a nossa população é basicamente mestiça. Por exemplo, eu
me definiria como negro, como pardo ou moreno? Vai muito
do que as pessoas conceituam como negro ou branco.”
Oficial da PM

• “Cor, sem preconceitos. A cor é fundamental, também.


Não digo nem a cor, digo, apresentação social, A cor,
num primeiro momento, pode ser importante para a
abordagem, num primeiro momento , mas o mais
importante é a apresentação pessoal.” MAJOR da ZS
• LOCAIS ONDE JOVENS ENTENDEM QUE SÃO
PARTICULARMENTE SUSPEITOS:
• • Jovens negros: ônibus, agências bancárias, shoppings,
supermercados
• • Jovens brancos e/ou universitários: Lapa, No garage,
Prazeres, saída do Emoções na Rocinha, saída de bailes
• 60% dos cariocas consideram que as abordagens policiais
são seletivas pela aparência física
• 40% acreditam na influência da cor
• 20% acreditam na influência do modo de se vestir
• A nota de confiabilidade da PM é 4.9
CRIMINALIZAÇÃO

• PRIMÁRIA
Exercida pelas agências políticas – poder legislativo

• SECUNDÁRIA
Ações punitivas exercidas sobre pessoas concretas –
se desenvolve desde a investigação policial, prisão
até a execução de pena
SELETIVIDADE

• PASSIVA

• ATIVA

“A JUSTIÇA É COMO UMA SERPENTE, SÓ MODER OS PÉS DESCALÇO”


EDUARDO GALEANO
SELETIVIDADE E CIFRA OCULTA

Fatores:
• Visibilidade das infrações
• Adequação ao estereótipos de criminoso
• Incapacidade do agente de se beneficiar da
corrupção
• Vulnerabilidade da violência
SISTEMA PENAL PARA CONTROLE SOCIAL

• Em todos os países industrializados a guerra contra


as drogas reforçou o controle do Estado sobre as
classes ditas “perigosas”

• Todo o sistema culmina em um controle social


criminalizando os consumidores falhos, ou seja, a
massa dos excluídos que não tem recurso de
consumo, indesejados pelo capital.
• Possibilitando um conceito de cidadania negativa -
setores vulneráveis, ontem escravos hoje massas
urbanas marginalizadas, que só conhecem a
cidadania ao avesso, pela opressão. Como a favela
que tem o seu único contato com o Estado ao olhar
a ponto do fuzil de um policial

• Ponto central do Direito Penal é que o exercício de


poder não se dirige a repressão do delito – basta ver
a não existência de repressão em bairros nobres - e
sim a contenção de grupos sociais específicos.
• O que determina a atuação do sistema de justiça criminal são
as condições materiais de existência e a etnia dos envolvidos.
A criminalização do consumo e comércio de algumas
substâncias entorpecentes foi a justificativa ideal para isso.

• Iniciado nos EUA com associação dos Chineses ao ópio, dos


Mexicanos a maconha e dos negros a cocaína. Desembarcou
no Brasil com a criminalização de pretos e pobres e sua
associação direta com territórios violentos, comércio e
consumo, primeiro da maconha e depois das demais drogas.

“ser pobre é característica de ser criminoso


ou ser criminoso é característica de ser pobre?”
ATUAÇÃO DO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL PERANTE
MENORES ENTRE 1968 E 1988, ALGUNS RELATOS

• N.C.S. menina, 15 anos, detida “após ronda na quadra de


ensaios da Mangueira” 03/03/68, encontrado um vidro
pequeno de “loló” em sua blusa. – Internada por 1 ano e meio

• M.C.R. 17 anos, menina, branca, moradora de Botafogo,


detida em 13/07/73 com um “embrulho contendo erva”.
Entregue a mãe com liberdade assistida 3 dias depois. Após 1
mês é apresentado um atestado médico particular e o
processo é arquivado.
• R.O.M. preto, 17 anos, morador da favela de Rocha
Miranda, margeador gráfico, detido em18/02/1973 com
10 cartuchos de maconha,declarou na delegacia ser
viciado há dois anos e quer iria vender para ajudar sua
mãe financeiramente. Internado

• L.A.B.M. 17 ano, branco, detido em 25/07/1973


fumando maconha em um carro roubado. Já havia sido
detido por furto. É internado por 2 dias. Internação
convertida em liberdade assistida já que sua mãe se
compromete a levá-lo para Brasília e submetê-lo ao
tratamento adequado
• F.L.P.B. branco, 17 anos, morador de cobertura na
Avenida Atlântica preso em 11/07/73 com duas
“trouxinhas” de maconha e um “papel” de cocaína.
Em sentença o juiz determina entrega do menor ao
pai. (peso da família)

• J.R.C. 15 anos, preto, analfabeto, vendedor de limão


em feira livre, morador do Morro de São Carlos, no
Estácio. Preso no dia 06/12/73 cheirando “cheirinho
da loló”. Tem residência fixa, trabalho, mora com a
avó e o irmão. Em sentença é determinado sua
internação onde fica por 4 meses. (família
relativizada)
LEI DE DROGAS ATUAL – 11.343/2006
ATUAÇÃO COMO MECANISMO DE CONTROLE

ARTIGO 28, § 2

“Para determinar se a droga destinava-se a consumo


pessoal, o juiz atenderá:
• à natureza e à quantidade da substância apreendida,
• ao local e às condições em que se desenvolveu a ação,
• às circunstâncias sociais e pessoais,
• bem como à conduta e aos antecedentes do agente.”
SELETIVIDADE DA ATUAÇÃO POLICIAL EM
NÚMEROS
OCORRÊNCIAS POLICIAIS - CRIME DE TRÁFICO
ANO 2005 - FLAGRANTES POR DELEGACIAS
ZONA NORTE

• 34° DP – BANGU - 186


• 36° DP – STA CRUZ - 89
• 21° DP – BONSUCESS - 83
• 62° DP – IMBARIÊ - 67
• 17° DP – S. CRISTÓVÃO - 63
SELETIVIDADE DA ATUAÇÃO POLICIAL EM
NÚMEROS
OCORRÊNCIAS POLICIAIS - CRIME DE TRÁFICO
ANO 2005 - FLAGRANTES POR DELEGACIAS
ZONA SUL

• 15° DP GÁVEA – 17
• 10° DP BOTAFOGO - 15
• 12° DP COPACABANA – 14
• 14° DP LEBLON – 9
• 13° DP IPANEMA – 5
• 16° DP BARRA DA TIJUCA - 3
TOTAL 63
SENTENÇAS POR BAIRRO DA OCORRÊNCIA
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO 15/16

REGIÃO - OCORRÊNCIAS
ZONA NORTE - 563
ZONA SUL - 75

POPULAÇÃO
ZONA NORTE - 1.2 MI
ZONA SUL - 700 MIL

• Z.NORTE O DOBRO DA POPULAÇÃO DA Z.SUL


• E 7 VEZES MAIS OCORRÊNCIAS
ESTRUTURA DO SISTEMA DE JUSTIÇA DO ESTADO

POLÍCIA CIVIL – INVESTIGATIVA


POLÍCIA MILITAR – OSTENSIVA/FLAGRANTES

• O JUDICIÁRIO TEM SUA ATUAÇÃO DELIMITADA PELAS AÇÕES


POLICIAIS
• SÃO OS POLICIAIS QUE “CONTROLAM O JUDICIÁRIO”,
DECIDINDO QUEM VAI SER PROCESSADO E JULGADO
CRIMINALMENTE
• MANTENDO AO JUDICIÁRIO UMA APARÊNCIA DE ISENÇÃO E
PUREZA
• MINISTÉRIO PÚBLICO
• JUÍZES CRIMINAIS
POLICIAL COMO FISCAL DA SUA
PRÓPRIA ATUAÇÃO

• SÚMULA 70 "O fato de restringir-se a prova oral a


depoimentos de autoridades policiais e seus agentes não
desautoriza a condenação.“
• POLICIAL COMO FONTE DE PROVA DA SUA PRÓPRIA
ATUAÇÃO
• 74% DAS PRISÕES TEM APENAS OS POLICIAIS COMO
TESTEMUNHAS
• 54% DAS CONDENAÇÃOES POR TRÁFICO TEM COMO PROVA
APENAS O DEPOIMENTO POLICIAL
• 41% DOS ACUSADOS POR TRÁFICO NO RIO RESPONDEM
TAMBÉM POR ASSOCIAÇÃO. A MÉDIA NACIONAL É 12%
AUTOS DE RESISTÊNCIA

• EM 10 ANOS 9.019 PESSOAS EXECUTADAS PELA POLÍCIA


• EM 2014 3.022 PESSOAS FORAM MORTAS PELAS POLICIAS DO
BRASIL. 581 FORAM NO RIO DE JANEIRO
• EM 2014 1 DE CADA 6 PESSOAS MORTAS PELA POLICIA
BRASILEIRA FOI MORTA NO RIO DE JANEIRO
• 2016: 1 DE CADA 5 MORTAS PELA POLICIA BRASILEIRA FOI
MORTA NO RIO DE JANEIRO
• 2018: 1 DE CADA 4 MORTAS PELA POLICIA BRASILEIRA FOI
MORTA NO RIO DE JANEIRO
• RIO DE JANEIRO COMPORTA 8% DA POPULAÇÃO NACIONAL
• 99% DOS AUTOS DE RESISTÊNCIA SÃO ARQUIVADOS
• A PMERJ MATA SOZINHA?
JOEL LUIZ COSTA
ADVOGADO CRIMINAL
21. 99495-6586
jlcostaadv@gmail.com
@joelluizc

#Fogo nos racistas

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