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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE HISTÓRIA
Direitos Humanos, Cidadania e Diversidades
Prof. Dr. Leandro Seawright Alonso

ENNYS VIEIRA ROCHA NETO


HENRIQUE SANTOS NUNES
JOÃO FELIPE RAMOS TELES
SARA RAYSSA TORRES DOS SANTOS
VITOR REIS CASARIL

GLEICE AGUILAR DOS SANTOS

Trabalho sobre violência de gênero com base na


entrevista de Gleice Aguilar dos Santos, para
apresentar na disciplina de “Direitos Humanos,
Cidadania e Diversidades” no curso de História
da Universidade Federal da Grande Dourados -
UFGD.

Prof. Dr. Leandro Seawright Alonso

DOURADOS
2022
GLEICE AGUILAR DOS SANTOS

Nascida no dia 05 de outubro de 1978, em Aquidauana. Criada por seus pais junto de
sua irmã. Se formou em Geografia, mas como policial militar se encontrou em sua profissão.
Passou em concurso no ano de 1998 e já morou em várias cidades do Mato Grosso do Sul como
Jardim, Guia Lopes da Laguna e Sidrolândia.
Gleice tem sete filhos, e seu primogênito nasceu quando ela tinha apenas 16 anos, se
chama Kevyn e se tornou policial militar, sua outra filha Barbara escolheu cursar Geografia,
também se espelhando e seguindo os passos honestos da mãe. Os outros cinco são: Gabriel,
Júlia, Thiago, Laiz e Livia que são frutos de quatro casamentos, todos foram assumidos por seu
atual marido Walter, com quem está casada há mais de dez anos.

RELACIONAMENTOS

Em seu primeiro relacionamento foi abandonada ainda grávida de seu segundo filho
dessa união, os criou sozinha passando por muita dificuldade e preconceito por ser tão nova e
mãe-solo. Mas sempre gostou de estudar e nunca os deixou faltar nada.
Seu segundo marido foi ela mesma quem o abandonou ao descobrir que ele era um
estelionatário, foi um casamento curto que durou poucos meses, cerca de seis... com quem teve
um filho. O choque foi grande, Gleice fala sobre o “Homem idealizado” e como sempre
idealizava o sonho de encontrar um “príncipe encantado” em sua vida que não foi um mar de
rosas.
Mas em seu terceiro casamento as coisas pareciam ter perdido os eixos, se tornou uma
tragédia. Conheceu seu marido no ano de 2002 o qual se encantou e admirou de maneira única
podemos assim dizer, tinha todos os atributos que procurava em um parceiro e tudo parecia ir
bem até que este começou a se revelar um indivíduo de personalidade manipuladora,
controladora e explosiva.
O medo e ameaças contra sua vida e de seus filhos se tornava rotina em sua vida, seu
então companheiro era um policial militar, e toda vez que se sentia contrariado em suas
discussões ameaçava abrir fogo em si, nas crianças e em Gleice que sempre estava com uma de
suas crianças no colo... procurou ajuda sem êxito, nada foi feito em seu favor e até levou culpa
pelo que ia acontecer em seguida. Infelizmente ela vivia em uma constante prisão, não podia
dançar, sair sozinha sem que tivesse uma supervisão... era um verdadeiro inferno na terra! Mas
iremos contar mais pra frente como Gleice deu a volta por cima, se libertou de todo o mal que
lhe ocorreu, e diz com alegria que é de fato livre!

QUEM É MARIA DA PENHA

Maria da Penha Maia Fernandes, uma farmacêutica nascida em Fortaleza, no Ceará, teve
sua história completamente mudada no ano de 1983. Foi nesse ano que o economista Marco
Antônio Heredia Viveros, seu então marido, na tentativa de forjar um assalto, tentou matá-la
pela primeira vez com o uso de uma espingarda. O tiro nas costas a deixou paraplégica.
Após meses de tratamento e diversas cirurgias, Maria da Penha voltou para casa e foi reclusa
em sua própria casa pelo marido. Passados 15 dias de cárcere privado, Marco Antônio fez nova
tentativa de assassinato ao tentar eletrocutá-la durante o banho. Receosa de sair de casa e perder
a guarda das filhas pela possível alegação de abandono de lar, Maria da Penha ingressou na
justiça para se afastar legalmente de casa e garantir seus direitos, sendo amparada pela família,
amigas e amigos. Concluídas as investigações, não restaram dúvidas de que os atentados à vida
de Maria da Penha haviam sido planejados e executados por Marco Antônio.
No entanto, o primeiro julgamento só aconteceu em 1991, ou seja, 8 anos depois dos
crimes. Marco Antônio foi condenado a 15 anos de prisão, mas pôde recorrer em liberdade.
Após muitos recursos, somente em 1996 aconteceu um novo julgamento, que resultou na
redução da pena de Marco Antônio a 10 anos e 6 meses de reclusão. Porém, diante das alegações
de irregularidades, a defesa conseguiu a anulação do julgamento. Diante dessas duas tentativas
de julgamento frustradas, em 1998 Maria da Penha levou o caso ao Centro pela Justiça e o
Direito Internacional – CEJIL e ao Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos
Direitos da Mulher – CLADEM, que denunciaram o Brasil na Comissão Interamericana de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos – CIDH/OEA considerando a grave
violação de direitos humanos e deveres protegidos por tratados em que o Brasil era signatário.
O Brasil foi notificado da denúncia e, mesmo oficiado por 4 vezes ao longo de 3 anos,
permaneceu em silêncio, resultando, em 2001, na condenação internacional do Brasil por
negligência, omissão e tolerância à violência doméstica e familiar contra as mulheres
brasileiras.
Assim, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA recomendou ao Brasil
a adoção de várias medidas, dentre elas “completar, rápida e efetivamente, o processamento
penal do responsável da agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da
Penha Maia Fernandes”, bem como “Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva
a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que
impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar as medidas
administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes”, além de determinar que o Estado
assegurasse à Maria da Penha uma reparação simbólica e material.
Além disso, determinou que o Brasil intensificasse o processo de reforma para evitar a
tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra
mulheres no Brasil, recomendando a capacitação de servidores públicos sobre o tema, a
simplificação dos procedimentos judiciais penais e a inclusão nos planos pedagógicos acerca
da importância do respeito às mulheres e reconhecimento desses direitos.
No ano de 2002, foram iniciados estudos para a elaboração de um projeto de lei para o
enfrentamento à violência doméstica contra a mulher. Em 2004, o Projeto de Lei 4.559/2004
foi encaminhado ao Congresso Nacional e, após algumas alterações, a Lei N. 11.340/2006,
conhecida como Lei Maria da Penha foi sancionada e publicada em 07 de agosto de 2006,
entrando em vigor em 22 de setembro do mesmo ano.

LEI MARIA DA PENHA

A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006 pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Com 46 artigos distribuídos em sete títulos, ela cria mecanismos para prevenir e
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição
Federal (art. 226, § 8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro.
A Lei Maria da Penha estabelece que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar
é crime, deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público.
Esses crimes são julgados nos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra a
Mulher. Contempla as violências contra as mulheres, que acontecem no convívio doméstico,
no âmbito familiar ou em relações íntimas de afeto. Portanto, a Lei Maria da Penha se aplica:
Aos maridos, namorados, companheiros, que morem ou não na mesma casa que a mulher.
A lei também tipifica as situações de violência doméstica, proíbe a aplicação de penas
pecuniárias aos agressores, amplia a pena de um para até três anos de prisão e determina o
encaminhamento das mulheres em situação de violência, assim como de seus dependentes, a
programas e serviços de proteção e de assistência social. A Lei nº 11.340, sancionada em 7 de
agosto de 2006, passou a ser chamada Lei Maria da Penha em homenagem à mulher cujo marido
tentou matá-la duas vezes e que desde então se dedica à causa do combate à violência contra as
mulheres. O texto legal foi resultado de um longo processo de discussão. A partir desses
debates, novas sugestões foram incluídas em um substitutivo. O resultado foi a aprovação por
unanimidade no Congresso Nacional.
Requisitos da Lei 11.340 que configuram violência doméstica seja cometida por alguém
que possua relação íntima de afeto, seja por laços naturais (biológicos), por afinidade ou por
vontade expressa; a relação íntima de afeto seja independente de coabitação; as relações
pessoais independem de orientação sexual. Em 2022, a Lei nº 14.310/22 determinou o registro
imediato, pela autoridade judicial, das medidas protetivas de urgência em favor da mulher em
situação de violência doméstica e familiar ou de seus dependentes.

EM PARALELO

Como podemos notar na entrevista com Gleice, pouco ou precisamente NADA foi feito
por ela em questão das violências tanto físicas quanto psicológicas sofridas em seus três
primeiros casamentos. Não havia lei que protegesse as mulheres de tais atos que tanto ferem a
integridade física e moral. A lei criada em homenagem a uma mulher que sofreu e conseguiu
dar a volta por cima depois de quase ser assassinada por um seu companheiro nos faz olhar para
a vida de Gleice e enxergar a mesma sede de justiça por todo mal causado em seu corpo e em
sua mente.
Tanto Maria da Penha quanto Gleice usaram de sua história carregada de traumas a
oportunidade de ajudar outras mulheres que passam por todo esse sofrimento oprimidas dentro
de casa e silenciadas muitas vezes pelo medo de perder seus filhos e o pior: temer por suas vidas
ambas foram guerreiras, conseguiram se libertar e saíram da situação de vítima a protetora.

O MERCADO DE TRABALHO

Nos dias atuais, Gleice fundou uma empresa com base em tecnologia, mas também
atuou na linha de frente protegendo centenas de mulheres tanto em prevenção quanto em
consequências de agressões.
Obteve bons resultados em sua carreira na polícia militar, teve reconhecimentos e até
foi premiada pela Ordem Brasileira dos Advogados do Brasil, OAB. Embora colheu bons frutos
nesse trabalho, ela notava como as mulheres eram oprimidas dentro de uma corporação ou de
qualquer âmbito que normalmente trabalham homens em sua maioria, percebia como um colega
que entrou há pouquíssimo tempo na corporação poderia escolher a viatura ao qual iria trabalhar
enquanto ela que já era uma veterana não possuía tal privilégio, além de tentativas de silenciar
sua voz de autoridade, voz a qual ela ESTUDOU para poder usar! Ou seja, Gleice já não era a
mulher de cabeça baixa e controlada, agora era livre, livre para poder passar por cima de todos
os obstáculos que colocassem em seu caminho, onde não a coubesse, não permaneceria. Por
essas questões e outras ela resolveu se aposentar, mas deixou um legado e até hoje recebe
denúncias e sempre está disposta a ajudar quem precisa. Gleice reforça que as mulheres devem
voltar a se unir como “irmãs” para que essa rede de apoio nunca se enfraqueça e que os índices
que infelizmente são altos de violência contra a mulher diminuam, Gleice e seus filhos são
sobreviventes!

REFERÊNCIAS

Entrevista com Gleice Aguilar dos Santos


https://www.aurum.com.br/blog/lei-11340/
https://www.tjce.jus.br/mulher/lei-maria-da-penha/
https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2022/agosto/lei-maria-da-penha-16-anos-
mudando-a-realidade-de-mulheres-em-situacao-de-vulnerabilidade
https://www.tjpr.jus.br/web/cevid/lei-maria-da-penha
https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da-penha.html
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/o-nucleo-
judiciario-da-mulher/quem-e-maria-da-penha
https://www.fmcidade101.com/gleice-aguilar-dos-santos-de-vitima-a-protetora

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