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Caso Flordelis

O Caso Flordelis refere-se ao assassinato do pastor Anderson do Carmo de Souza em 16


de junho de 2019 em Niterói, no Rio de Janeiro. Nesse dia, Anderson foi morto a tiros ao
chegar em casa após ter ido caminhar com Flordelis, que disse aos policiais que o crime
havia sido um latrocínio. Os criminosos usaram toucas ninja para evitar a identificação.
Segundo investigação da Polícia Civil, Anderson foi morto a mando da esposa, a deputada
federal Flordelis, com participação de sete filhos do casal e uma neta, além de outras duas
pessoas. O Ministério Público Estadual ofereceu denúncia contra Flordelis por homicídio
triplamente qualificado e outros quatro crimes.

Antecedentes: a dinâmica familiar


Anderson e Flordelis se conheceram durante um culto evangélico em 1991 e se casaram
em 1994. Flordelis tinha três filhos biológicos: Adriano, Flávio e Simone. Anderson chegou
a namorar Simone antes de se casar com Flordelis, que era dezesseis anos mais velha.
Além dos três filhos de Flordelis e outros cinco filhos adotivos que constituíam a chamada
"primeira geração" da família, o casal adotou outras 47 crianças, em geral encontradas nas
ruas. A dinâmica familiar, no entanto, incluía um tratamento diferenciado entre os filhos:
enquanto os da "primeira geração" tinham acesso a comida de melhor qualidade, geladeira
e viviam no segundo andar da casa, numa área restrita, os demais 47 viviam numa área
coletiva no primeiro andar da casa, comendo apenas pão sem manteiga no café da manhã
e arroz, massa e salsicha no almoço e jantar. "O cenário surpreendeu investigadores e é
bem diferente do que era relatado por Flordelis nas últimas décadas, de que era uma casa
de amor e solidariedade", escreveu o G1 em 24 de agosto de 2020.
Anderson exercia todo poder familiar, inclusive controlando todo dinheiro, até mesmo o
do Ministério Flordelis, depois rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo. O
pastor era frequentemente descrito como "controlador" em relação à esposa, escolhendo
as roupas que Flordelis usava e determinando os temas que seriam pauta em suas
pregações perante os fiéis do Ministério Flordelis. Além disso, Anderson era o responsável
por administrar a vida financeira da família: costumava andar com grandes quantias de
dinheiro na mochila a fim de distribuir a determinados filhos do casal e à própria Flordelis.
Por este motivo, desentendimentos eram frequentes na dinâmica do casal, ao passo que
Anderson queixava-se que a parlamentar gastava excessivamente.
Flordelis também foi acusada de desviar dinheiro de sua igreja para usá-lo em benefícios
pessoais, como plano de saúde, e também em lazer. Uma das fiéis da igreja do casal
afirmou que Flordelis e Anderson frequentavam uma casa de swing na Barra da Tijuca,
onde a deputada tinha um quarto exclusivo, e constantemente saía de lá completamente
bêbada. Flordelis defendeu-se nas redes sociais, aos gritos, dizendo que processaria a fiel
por danos morais e que sua mãe, já idosa, não merecia sofrer com manchetes jornalísticas
mentirosas.

Investigações
A polícia começou as investigações e já no dia 17 de agosto acreditava que o crime
pudesse estar ligado a uma desavença familiar. Nos dias que se seguiram, com o
depoimento de um dos filhos (cujo nome não foi revelado), a polícia desvendou uma
"trama familiar" que envolvia a possibilidade de outras tentativas de assassinato desde
2018, e o oferecimento de dinheiro para a prática do crime. Segundo o G1, a testemunha
teria dito que a Flordelis e três filhas do casal colocavam arsênico na comida do pai, e que
uma das irmãs teria oferecido R$ 10 mil ao irmão Lucas dos Santos para matar o pastor,
que antes de falecer havia dado entrada no hospital por mais de oito vezes, com dores
estomacais, mas o veneno não era encontrado.
No dia 20 de junho, o filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos, admitiu ter dado seis
tiros em Anderson (a perícia constatou mais de trinta perfurações). Ele também disse que
Lucas havia comprado a arma. Ambos foram presos preventivamente por homicídio
qualificado e porque já tinham as prisões pendentes por outros crimes.
A motivação do crime foi financeira, pois Flordelis estava insatisfeita que seu marido
tivesse o controle financeiro e patrimonial de toda a família. Segundo as investigações da
polícia, a pastora não queria desmoralizar-se perante os fiéis de sua igreja com
um divórcio, sendo mais aceitável ficar viúva. Segundo as próprias palavras de Flordelis,
encontrada em troca de mensagens de seu celular: Fazer mais o quê? Se separar eu não
posso, porque não posso escandalizar o nome de Deus. Isso não!
Ao final do inquérito, em agosto de 2020, a polícia havia confirmado que:

 Além de Flordelis, sete filhos do casal e uma neta estavam envolvidos no crime;
 O grupo familiar tentava assassinar Anderson desde meados de 2018, com o uso de
veneno. A filha biológica de Flordelis, Simone, teria chegado a fazer pesquisas
sobre cianeto na Internet. Segundo as investigações, teria havido ao menos seis
tentativas de assassinato por envenenamento e uma outra por emboscada, quando
Anderson deveria ser morto a tiros por um assassino de aluguel. O crime só não
aconteceu porque a vítima, na ocasião, havia trocado de carro, o que teria confundido
o atirador;
 Que Flordelis havia oferecido dinheiro em troca do silêncio de alguns dos filhos e para
que Lucas, o adotivo preso por ter comprado a arma, assumisse o assassinato;
 O motivo do assassinato seria o descontentamento de Flordelis e alguns dos filhos
com o poder exercido por Anderson dentro do núcleo familiar, incluindo o controle
econômico de tudo.
O delegado Allan Duarte, responsável pelo caso, chegou a afirmar que "não se tratava de
uma família, mas de uma organização criminosa".
Nota: o filho que foi testemunha chave chama-se Alexander Felipe, conhecido como Luan. A operação
ganhou o nome Lucas 12, numa referência ao capítulo bíblico Lucas 12, que trata de mentira e hipocrisia.

Indiciamentos, julgamentos e penas

Flordelis e seu marido Anderson do Carmo em 2014

No dia 24 de agosto de 2020, após o fim do inquérito feito pela polícia, o Ministério Público
aceitou a denúncia contra Flordelis e outras dez pessoas. Dos onze indiciados, nove são
da família. Eles responderão por crimes diversos: homicídio triplamente qualificado,
tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização
criminosa majorada.
Três deles já estavam na cadeia desde 2019: os filhos Flávio e Lucas e o ex-PM Marcos
Siqueira da Costa; outros cinco filhos, uma neta e a esposa do PM foram presos no dia 24
de agosto, enquanto Flordelis não foi presa por ter imunidade parlamentar.
O também político e pastor Magno Malta usou o Twitter para escrever:
Flordelis tentou 6 vezes matar o marido, tramou a morte do marido Anderson do Carmo de
forma covarde! protegida pela famigerado imunidade parlamentar enquanto os filhos estão
pesos [sic]! A câmara não pode contemporiza [sic] com isso, deve casar [sic]
imediatamente! Covarde!
— Magno Malta no Twitter em 25 de agosto de 2020.

Na data de 11 de agosto de 2021, a Câmara dos Deputados aprovou a cassação do


mandato da deputada Flordelis, contando com 437 votos favoráveis, 7 contrários e 12
abstenções. Na ocasião, justificou-se a cassação pelo motivo de quebra de decoro
parlamentar. Em sua defesa, a deputada afirmou em sessão parlamentar que não haviam
elementos de ordem ético-disciplinar que permitiriam que seu mandato fosse cassado. Os
advogados de Flordelis, Rodrigo Faucz Pereira e Silva e Jader Marques, complementaram
o depoimento da deputada requisitando aos parlamentares votantes que aplicassem a
pena alternativa de suspensão de seis meses do mandato até o julgamento do crime
pelo Tribunal do Júri; proposta esta que não foi acatada pela Câmara.
Em 13 de agosto de 2021, a ex-deputada foi presa pela Polícia Civil em Niterói. Ela estava
em sua casa e antes da prisão, fez uma live negando as acusações que imputam contra
ela.

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