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Crônicas de um Promotor de Justiça

( * ) José Wilson Furtado A POLÍCIA E A CORRUPÇÃO


Segundo matéria veiculada no Jornal "Estado de São Paulo",
edição do dia 10/10/94, artigo do jornalista Thelio Magalhães,
o Juiz Corregedor da Policia Judiciária, Francisco José Galvão
Bruno, remeteu à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo
(CORREGEPOL/SP), os seis volumes, com 1.100 páginas, da
sindicância que instaurou visando apurar a corrupção na
Polícia Paulista. O juiz determina à CORREGEPOL que sejam
instaurados inquéritos policiais quantos sejam necessários, a
partir das informações já coletadas. Lembrou o Magistrado
Bandeirante que a sindicância começou no dia 31 de maio de
1994, quando o informante policial José Gonzaga Moreira, o
"Zezinho do Ouro", procurou espontaneamente a
Corregedoria. Durante horas prestou informações que coloca
a Polícia Civil de São Paulo em maus lençóis. Suas
declarações foram encaradas com reservas, até mesmo face
ao caráter duvidoso do informante, que decorria dos próprios
fatos narrados. Entretanto, nem por isso se podia deixar de
investigar, elucidou a autoridade judiciária já mencionada.
Numa atitude corajosa, o Juiz Francisco Galvão Bruno
determinou a quebra do sigilo bancário de 34 policiais
envolvidos nas investigações, estendendo a medida a outros
sete policiais. Dos 41, ao todo investigados, dez são
delegados, um escrivão e os demais investigadores. Após
essas considerações, o Juiz Corregedor adotou três medidas:
a) Sejam iniciados tantos inquéritos quantos sejam
necessários a partir das informações contidas na sindicância;
b) Os inquéritos policiais correrão em absoluto sigilo. "A eles
somente poderão ter acesso os advogados constituídos"; c)
Os pedidos de prazo, salvo determinação específica em
contrário deste Juízo, poderão ser feitos por telex. É bom
lembrar, a guiza de arquivo, que no Estado do Amazonas, a
corrupção e a violência policiais culminaram com a extinção
da Polícia Civil, por força da Lei Nº 1.910/89. Senhor policial
prepotente e covarde, cuidado! (Tribuna do Ceará,
10/11/1994). A DEPENDÊNCIA DA NICOTINA O Comitê da
Food And Drug, concluiu que a nicotina é uma droga,
conforme anunciou David Kesseler, Diretor da FDA, Agência
de Drogas e Alimentos. A nicotina, portanto, entra na
categoria das substâncias que afetam a estrutura e o
funcionamento do corpo. Em conseqüência da descoberta
científica, surgiu como via de debates, um antagonismo de
idéias. Como se sabe, a dependência (vício ou hábito),
ocorre, normalmente, pela ingestão de substâncias que
acalmam, sedam, entorpecem e causam euforia ou
depressão. Contra os militantes antifumo mais ferrenhos
como Scott Ballin, da coalizão "Fumo ou Saúde", a FDA optou
por uma atitude mais prudente. Vai começar uma dura
batalha no combate à droga. O lobby do fumo propõe
estabelecer uma nova distinção entre as substâncias que
criam uma simples dependência e as que intoxicam o corpo
humano. Aliás, este é o entendimento do brilhante professor
Antonio Mourão Cavalcante, da Universidade Aberta do
Nordeste, no Curso Drogas: saber e agir, que coordenamos
em Senador Pompeu, pela sondas da Rádio Sertão Central. O
roqueiro Leo Jaime declarou: "Se meu filho me perguntar o
que eu acho sobre o que ele deve fazer: fumar cigarro, beber
cerveja ou fumar maconha, eu digo: vai fumar maconha que
é muito melhor" (Jornal "O Povo", 14/06/1991). Os
estudiosos Beeson e Mac Dermott dão a classificação às
drogas medicamentosas que causam dependência física ou
psíquica e as que causam os dois tipos de dependência Classe
I) Medicamentos que causa dependência psíquica e física: a)
tipo opiaceo (ou similar): morfina, benzomorfanos, grupo de
mepiridina; grupo da metdadona; b) tipo álcool-barbitúrico:
álcool etílico, paaldeído, hidrato de cloal; meprobromato,
carbinais terciários: anfetaminas; II) Medicamentos que
causa dependência psíquica: cocaína, alucinógenos, canabis,
brometos. Se você é amigo de Satanás, aí está um bom
cardápio. (Tribuna do Ceará, 29/05/1995). ESTRUTURA
PSÍQUICA DA CRIANÇA Na opinião do professor gaúcho,
Amadeu de Almeida Weiman, da Faculdade de Direito de
Canoas/RS, "A estrutura psíquica da criança passa a se
formar do conjunto de componentes sadios que, naturalmente
passa e introjetar toda esta imensa carga de sofrimento e
frustrações e, do balanço entre uma e outra é que terá o
homem sadio ou o neurótico ou psicótico". (Revista do
Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, ano 1976, vol.
I, loc. cit., pág.265). Dê-me uma criança até seus três anos e
eu lhe mostrarei adulto, diz o ditado. Um estudo neozelandês,
realizado nos últimos 21 anos, sugere, no entanto, que na
realidade, a idade correta é até três anos, e não sete. "Nossa
avaliação de temperamento até os três anos, conseguiu fortes
previsões para os adultos, diz o responsável pela pesquisa, o
estudioso Phil Silva, em uma entrevista especial ao repórter
Sim Luissor, da Reuters,(05/08/94). Aos três anos você pode
medir ou ter uma indicação segura do temperamento da
pessoa por certas características comportamentais que são
contínuas, diz Silva. Estatisticamente, esses traços carregam
uma forte correlação com o comportamento na vida adulta,
apesar de haver exceções. De acordo com o pesquisador, o
risco de uma criança se tornar criminoso na vida adulta,
pode, com grau de probabilidade, ser determinado aos três
anos de idade. O estudo é baseado em mais de mil casos de
crianças nascidas no intervalo de 1972 a 1993, na Cidade de
Dunedim, no Sul da Nova Zelândia. A pesquisa avaliou as
crianças e suas famílias em profundidade a cada dois anos,
até que fossem completados 15 anos de estudo e, depois
disso, a cada três anos. Isto representou uma mina de ouro
para a pesquisa acadêmica, fornecendo dados para mais de
500 publicações e artigos. O estudo está desmoronando
muitos mitos. Por exemplo: As crianças de mães que
trabalham fora não estão em desvantagem em relação
àquelas que se dedicam exclusivamente à casa e aos filhos. O
comportamento da criança em seu habitat é fundamental na
dosimetria de sua maturação. Que o presente artigo sirva de
subsídio àqueles que se dedicam ao estudo da criança.
(Tribuna do Ceará, 27/01/2000). BANDIDO COM RAZÃO No
LP da dupla Zezé Di Camarco & Luciano encontramos a faixa
intitulada: "Bandido com Razão", onde os versos traduzem a
figura do menino abandonado, marginalizado pela sociedade,
que o coloca sob a sarjeta, mercê de toda sorte, induzindo-o
à seara do crime: "Menino de rua eu te conheço/dignidade
não tem preço/menino de rua manchete de jornal/neste País
do carnaval, não tem comida pra você". A música é um grito
de alerta às autoridades sobre um problema cruciante e que
coloca o nosso País numa situação de penúria social. Segundo
os dados do Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência
(CBIA), baseado em informações de 27 Estados Brasileiros,
mais de 10 mil crianças e adolescentes, de 0 a 18 anos,
morreram de forma violenta, em sua maioria por acidentes de
trânsito e homicídio, no Brasil, nos últimos três anos. "O
impacto das chacinas que vitimizaram crianças e adolescentes
nos centros urbanos não pode obscurecer o expressivo
número de mortes violentas geradas por outras causas",
afirmou a Presidente da CBIA, Regina Lúcia Quadro Bertullim
em entrevista concedida ao jornalista Cleber Praxedes, da
Agência Estado de São Paulo – (NG/Morte/Crianças,
13/10/94). O CBIA concluiu em seu trabalho, que as crianças
na faixa de 0 a 4 anos morrem mais por afogamento, seguida
de acidentes de trânsito e queimadura. Na faixa de 5 a 11
anos, as maiores vítimas são em decorrência de acidentes de
trânsito e atropelamento, seguido de afogamento. Poucas são
as cidades que oferecem condições de sobrevivência à
criança. O Fundo das Nações Unidas apontou a Cidade de São
Caetano do Sul como sendo a que oferece melhores condições
de sobrevivência às crianças até seis anos. Enquanto isso,
vamos encontrar em outras cidades, como no Piauí, onde as
crianças se marginalizam usando lama nas veias como forma
de drogas, para conseguirem efeitos alucionógenos. A criança
que não é bem amada, lamentavelmente torna-se um
bandido com razão. (Tribuna do Ceará, 16/11/1994). CRIMES
HEDIONDOS Os crimes hediondos estavam regulados pela Lei
Nº 8.072, de 25 de julho de 1990, em virtude de
determinação constitucional (Art. 5º, Inciso III, da
Constituição Federal de 05/10/1988). A mencionada lei não
incluía o delito tentado (Cp. art. 14, Inc. II), como crime
hediondo. Por este motivo o Conselho de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana considera o novo texto mais rígido. São
ainda incluídos a prática de tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, além do terrorismo. Nos casos
de homicídio qualificado a pena vai de 12 a 30 anos. São
incluídos: os casos em que existe recompensa, motivo torpe
ou motivo fútil, emprego de veneno, fogo, explosivo, torturas,
asfixias ou outro meio cruel, emboscada ou ocultação de
outro crime, além de outros exemplos. Como enfatizamos em
nosso trabalho, "A luta pela justiça" (Tribuna do Ceará,
10/07/94), este quadro de mudança na legislação repressiva
nacional reflete o denodo e galhardia de uma mãe sofrida, no
caso, a novelista Glória Perez, que conseguiu apresentar
emenda popular com mais de 1,3 milhão de assinaturas no
Congresso Nacional, depois que sua filha, Daniela Perez, fora
assassinada por Guilherme de Pádua e Paula Tomáz, em
novembro de 1992, comoveu o País e levou à mudança na
legislação. A novelista Glória Perez, em entrevista concedida
a Rosângela Honor, da Agência Estado de São Paulo
(08/09/94), considerou uma vitória a decisão do Presidente
Itamar Franco de sancionar a lei que dispõe sobre homicídio
qualificado e crimes hediondos praticados por grupos de
extermínio e enfatizou: "A vitória é de todas as mães,
principalmente daquelas que perderam seus filhos". Com a
nova lei, o presidente Itamar Franco espera conter um dos
problemas sociais que vem carcomendo a vida dos governos
estaduais, podemos citar como parâmetros as chacinas da
Candelária, no Rio de Janeiro, e Pantanal, no Ceará. Face ao
princípio da Irretroatividade da Lei Penal, a nova lei não
deverá servir de referencial para punir os assassinos de
Daniela e nem os que mataram a pancadas o estudante
Marco Antonio Velasco, uma gangue em Brasília. (Tribuna do
Ceará, 29/09/1994). O JOGO DO BICHO E A IGREJA Certa
vez, ouvi de meu velho pai, quando passava pelo Mercado
Central, uma frase que me chamou a atenção: "Filho,
dinheiro obtido do jogo é herança do demônio". Vamos
encontrar nas escrituras sagradas, em Mateus 21:12, a
passagem de Jesus expulsando os cambistas que tentavam
transformar a casa do Senhor num covil de ladrões. Em toda
a minha adolescência, assisti a cenas em que a igreja sempre
repudia a prática dos jogos de azar, embora, aqui e acolá
realizasse os seus tradicionais leilões e bingos.
Hodiernamente, a coisa mudou, o jornal Agência Estado
(15/04/94), noticiou que diversas igrejas do Rio de Janeiro
estão na lista do mafioso Castor de Andrade. Este é um dos
pontos mais delicados levantados pela Procuradoria na
opinião de Antonio Biscaia. Um dos incluídos é o Padre Max
Lin Rodrigues, um dos mais conhecidos sacerdotes do Rio de
Janeiro, por se aproximar dos jovens e se vestir e falar como
eles. Castor de Andrade fazia doações ainda a outras igrejas,
como a de Santo Antonio, no centro do grande Rio. A loja "A
camélia flores", todas as segundas-feiras de manhã, decora e
ornamenta a igreja para receber a visita do poderoso chefão
do jogo do bicho. Dom Luciano Mendes de Almeida,
Presidente da 32ª Assembléia Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), que se realiza em Indiatuba, de modo sereno,
afirmou ao Jornal Nacional da Rede Globo (17/04/94), que a
legalização do jogo do bicho seria uma alternativa para tentar
desvincular esta atividade do narcotráfico e prostituição, e
enfatizou dizendo que as denúncias pela Diocese do Rio de
Janeiro. Acredita-se que Jesus voltará à Terra pela segunda
vez, e quando isto acontecer, o mestre dos mestres ficará
bastante decepcionado, pois encontrará parte de seu rebanho
acólito com ladrões e salteadores. (Tribuna do Ceará,
28/04/1994). A CORAGEM DE UM PROMOTOR DE JUSTIÇA
Em excelente trabalho, na coluna Interior, o velho Dutra de
Oliveira, escriba do melhor naipe, do time escol de Tribuna do
Ceará, sob o tema: "É difícil faer justiça", alude sobre os
percalços que enfrentamos como Promotor de Justiça Zonal
do Sertão Central, no afã de zelar pela proteiforme função
que nos foi incumbida e enfatiza como cátedra: "Uma das
coisas mais difíceis deste País é se fazer justiça. Quase
sempre a ação dos poderosos se sobrepõe aos ditames da
Lei. A ação muitas vezes maléfica da política regional,
estadual ou federal, atrapalha o trabalho dos que defendem
os injustiçados em todas as instâncias. Os crimes e
criminosos deste País, muitas vezes são julgados de acordo
com o prestígio político, econômico e social dos
protagonistas" (Dultra de Oliveira – É difícil fazer justiça.
Tribuna do Ceará, 29/07/93 – Coluna Interior). Segundo
informações colhidas da Agência Estado de São Paulo,
NG/PO/Eleição – Ceará, 147 – 03/10/94, o Promotor de
Justiça de Solonópole, a 378 quilômetros de Fortaleza,
Johnson Lira Coelho, encaminhou no dia das eleições, ao
Procurador Regional Eleitoral José Gerim Mendes Cavalcante,
um relatório completo contendo informações sobre a
distribuição de "presentes e dinheiro" pelo deputado Pinheiro
Landim (PMDB), candidato reeleito. Pelos dados recebidos
pelo Procurador, estão envolvidos nessa distribuição além da
vereadora Maria Laurice Moreira Freitas (PMDB), dois
eleitores e um comerciante. Todos foram indiciados por crime
eleitoral do art. 299, cuja pena é de reclusão até quatro anos
e pagamento de cinco a quinze dias-multa. Nas eleições de
1992, estivemos na Comarca de Solonópole, juntamente com
o Juiz Eleitoral, Dr. Marcos Aurélio Rodrigues. Os boatos
relatavam que o deputado já mencionado, na noite anterior
do pleito, distribuiu dinheiro em forma de vale.
Lamentavelmente não ratificamos os boatos, todavia, a voz
do povo ficou confirmada, é sem dúvida a voz de Deus.
(Tribuna do Ceará, 20/10/1994). O LINCHAMENTO DE
ITAPIÚNA Toda a imprensa alencarina noticiou, no dia do
feriado da República, sobre a execução do maníaco sexual
Francisco das Chagas Gomes Ferreira, conhecido nos
arrabaldes pelo pseudônimo de "Raimundo Dim", que de
modo frio e bárbaro eliminou os menores Antônio Emanoel de
Oliveira, de 10 anos e a irmã deste, Eva Maria de Oliveira, de
apenas 4 anos de idade, fato ocorrido na cidade de Itapiúna.
O mórbido pedófilo, após a prática de seu crime hediondo, for
apreso pelos diligentes aguazis da localidade de Sítio
Tatajuba, naquele Município, onde a população deste
lugarejo, diante da impunidade que campeia em nosso País, e
talvez nas leis dos homens, mormente, no Tribunal Popular
do Júri, resolveu fazer a sua própria justiça, o que não recebe
o beneplácito da lei. Recentemente, na cidade do Rio de
Janeiro, ocorreu um fato idêntico: os menores da favela do
Dique em Vigário Geral, queimaram vivo, na tarde do dia
29/setembro/93, o catador de papel Adilson Oliveira Barroso,
acusado de incendiar um barraco e provocar a morte de
Rafael Justino Cavalcante, de apenas nove (9) meses de
idade (O Globo, 20/09/93). A onda de linchamento,
lamentavelmente vem pegando. No Recife um linchamento
seguido de morte: revoltados com a morte de Valquíria Costa,
de 13 anos, estuprada e assassinada pelo próprio tio, João
Franco da Silva, cerca de 200 moradores do Alto Nova Olinda,
no Bairro de Peixinhos, lincharam e enforcaram o criminoso.
Já em São Paulo (Estado de São Paulo, 18/09/93), cerca de
50 moradores da Favela Pau Queimado, lincharam na
madrugada do dia 17/09/93, Ivanil Ribeiro, de 28 anos, a
socos e pauladas. O referido elemento matou a facadas seu
cunhado, o comerciante Armando Soares de Lima, ao
interferir numa tradicional briga de casal. Dutra de Oliveira,
em excelente artigo publicado em Tribuna do Ceará
(16/10/93), sob o título "Justiça Coletiva", explicita a matéria
com denodo e galhardia de mestre. Os linchamentos nos dias
hodiernos remontam a lei de Linch (justiça com as próprias
mãos), cujo nome refere-se ao estudioso Carlos Linch, que
não se sabe ao certo se foi fazendeiro ou juiz. No século XVII,
sumariamente se livrara dos adversários políticos mandando-
os à forca. Segundo a pseudo-lei, conhecida como Justiça
Privada, o povo se arvora em julgador dos criminosos, dos
quais se apodera em virtude da fraqueza do aparelho policial
e da Justiça, sentenciando os autores de homicídios em
frações de minutos, e, como se não bastasse, sob os aplausos
da massa neófita. A justiça naquela época não tinha meios de
controlar a onda de crimes e o povão assimilou os
ensinamentos de Linch. O vocábulo Linchar é usado nos dois
países: Brasil e Portugal. (Tribuna do Ceará, 18/11/1993).
VIOLÊNCIA NO CAMPO Segundo dados apresentados pelo
pesquisador Charles Mullher, no seminário realizado pela
Unicamp, no período de 01 a 05/09/94, sob a modernização
no campo, atualmente 38 milhões de brasileiros vivem na
Zona Rural, sendo 13 milhões de trabalhadores. Dutra de
Oliveira, com a experiência que lhe é peculiar, em sua coluna
"Municípios", abordou sobre o tradicional "Êxodo Rural". As
famílias sertanejas que não têm condições de sobreviver no
interior do Estado, emigram para a capital na esperança de
conseguir emprego, e casa para morar. A fome e a sede são
os responsáveis maiores pelo êxodo, uma vez que cada dia
que passa, o quadro piora e cada vez mais". Em Brasília,
Agência Estado de São Paulo, com excelente reportagem de
Cleber Praxedes, informou que nos primeiros oitos meses
deste ano de 1994, foram assassinados 11 trabalhadores
rurais em diversas regiões do País. Somente no Estado do
Maranhão, 12 pessoas entre trabalhadores, agentes de
pastoral e lideranças sindicais e políticas estão ameaçados de
morte. Esses dados fazem parte do documento produzido pela
Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e entre a organização de Direitos
Humanos Pax Christi que está com uma comitiva de 11
pessoas no Brasil investigando a violência no campo e nos
grandes centros urbanos (Agência Estado de São Paulo,
13/09/94). "No País do Carandiru, da Candelária, de Vigário
Geral, de tantos massacres, a dor dos pobres se tornou banal,
virou cifra, diz a CPT. O homem do campo continua sendo
marginalizado e vítima da violência urbana, estamos num ano
político, e é possível até que um canalha, querendo iludir ao
eleitor conclame o direito do nosso sertanejo, mais agora a
coisa será diferente, senhor político. (Tribuna do Ceará,
09/12/1994). CHACINA CHEGA AO CEARÁ O jornal Tribuna do
Ceará, em edição de domingo, dia 21/11/93, publico a
matéria: Menores são assassinados. Massacre é comparado
ao da Candelária no Rio. Na madrugada de sábado, na Favela
Pantanal, Bairro do Prefeito José Walter, recôncavo periférico
de nossa urbe, três menores foram executados de modo
bárbaro: André Gomes de Sousa, 14 anos, o "Duda",
Veridiano Duarte da Silva, 15 anos, o "Verinho", e Carlos
Antônio da Silva, 16 anos, "O Bife". Surgiram comentários, na
grande Fortaleza, loura desposada do sol, na linguagem do
poeta Paula Ney, que na consumação do fatídico evento,
houve a participação de policiais civis e/ou militares; outros
se enveredaram na melíflua hipótese de queima de arquivo,
visto que a Favela do Pantanal é um foco de violência, onde a
droga campeia, sem qualquer admoestação, face à
inexistência de um trabalho de polícia preventiva. Na escalada
vertiginosa da violência, o ano de 1993, foi marcado pela
execução de vítimas e inocentes e em nosso humilíssimo
trabalho traçamos um contorno estatístico deste peçonhento
quadro. Candelária, 13 de julho/1993 – Rio de Janeiro: oito
(8) crianças foram trucidadas em frente à Igreja da
Candelária. O tenente Marcelo Ferreira Cortês e os soldados
Marcus Vinícius e Cláudio Luís Capibaribe foram levados ao 2º
Tribunal do Júri. Vigário Geral: Rio de Janeiro, 30/agosto/93:
na madrugada, um dia depois do assassinato de quatro (4)
policiais, vinte e uma (21) pessoas foram mortas por trinta
(30) homens encapuzados. Concluiu-se que houve a
participação do deputado estadual Emir Laranjeiras, ex-
Comandante da Polícia Militar e o capitão da ativa Aguinaldo
Pirassol Ruas, ambos integrantes do grupo de extermínio da
Baixada Fluminense, denominado "Cavalos Corredores".
Favela do Coroado: Rio de Janeiro, 20/setembro/93: Numa
operação irregular praticada por policiais civis para
chantagear traficantes, oito (8) pessoas foram eliminadas
covardemente. Informou a Agência Globo, Rio, 28/09/93 –
AG.084: Foram quinze minutos de tensão. Depois de quatro
oras de batalha, o major Francisco Rangel, Comandante do
Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PM negociou a
rendição dos traficantes. Chacina da Avenida – Rio de
Janeiro: 18/09/93: Uma nova chacina fora registrada, onde
três (3) homens e uma (1) mulher foram assassinados e seus
corpos encontrados na Avenida do Automóvel Clube, na Zona
Norte do Grande Rio. Favela do Detran: Recife/PE: quatro
jovens foram mortos à bala sob suspeita de tráfico de droga.
Chacina do subúrbio de Salvador: 01/09/93: No subúrbio
ferroviário de Monteiro Lobato, ocorreu o extermínio de
quatro rapazes. Segundo o delegado Nivaldo Dorea, que
acompanhou de perto o caso, existia no subúrbio baiano uma
lista contendo o nome de cem (100) jovens condenados à
morte na área, provavelmente por pequenos comerciantes e
pessoas ligadas à polícia. Favela Pára-Pedro, Rio de Janeiro:
19/09/93: Quatro pessoas foram encontradas mortas a tiros
no fundo da Favela Pára-Pedro, no colégio, área do 9º BPM
(Rocha Miranda). Apenas uma das vítimas foi identificada:
Jefferson Conceição dos Santos, de 17 anos, morador do
Morro da Caixa D’Água, na Penha. O Ministério Público,
através de sua função proteiforme de zelar pela fiscalização e
execução da Lei, em todos os momentos esteve vigilante,
arriscando a própria sorte na caça aos executores de vítimas
indefesas. Em Brasília, o Promotor de Justiça da Infância e da
Juventude, Valdenor Queiroz, decidiu intimar a Secretária de
Desenvolvimento e Ação Comunitária, Maria do Barro, para
maiores explicações sobre a denúncia de matanças de jovens,
publicada no jornal "Correio Braziliense". No dia 21 de
setembro de 1993, o Brasil conquistou mais uma vitória no
País das chacinas. Nesta data, comemorou-se,
definitivamente a prescrição de um crime, que, há 20 anos
abalou o País pela crueldade quanto pelo suposto
envolvimento de sobrenomes ilustres do Regime Militar, e
chegou a ser investigado até pelo SNI. Com a perda do direito
de punir (prescrição), a Justiça não poderá mais colocar nas
grades os autores até hoje desconhecidos do assassinato de
Ana Lídia Braga, de sete (7) anos, encontrada nua, violentada
e estrangulada no dia 12 de setembro de 1973. Neste
hediondo crime houve o envolvimento de um filho do Ministro
da Justiça, Alfredo Buzaid. O Governador do Ceará, Ciro
Gomes tem razão, se não abrirmos os olhos, a terra de
Iracema será transformada num paiol de pólvora. (Tribuna do
Ceará, 02/12/1993). O ESCÂNDALO EMOCIONAL O jornalista
José Roberto de Alencar, quando entrevistado no programa
"Bom-dia Ceará", da TV Verdes mares, ediçãodo dia 24 de
junho/94, fez alusão sobre um escândalo noticiado pela
imprensa nacional, no tocante ao suposto caso de abuso
sexual praticado por uma Escola de São Paulo, onde seus
diretores foram presos e que depois de tudo ficou
comprovado não passava de uma notícia falsa. José Roberto
catalogou este caso, como um registro de escândalo da
imprensa e adiantou aos telespectadores alencarinos, que, às
vezes, a notícia recebe um impacto maior, devido ao fator
emotividade. O delegado de polícia de São Paulo, Gerson
Carvalho, concluiu na tarde do dia 22/06/94, os seis (6)
volumes do inquérito policial, que apurava a prática de abuso
sexual contra crianças na Escola de Educação Infantil Base,
na Aclimação, Bairro Paulista. Concluiu o Presidente do órgão
de gerência pública bandeirante, que nada aconteceu e em
entrevista exclusiva ao Jornal Bandeirante, enfatizou: "Não
houve crime nenhum. O pessoal da escola nada tem a ver
com isto, alem do abuso não ser comprovado o laudo
complementar do IML é por demais lacunoso". Saulo Costa
Nunes e sua mulher Cristina Nunes, responsáveis pela
Direção da Escola, ficaram presos durante quatro dias e
sentiram na pele todo o clima de uma injustiça. No entanto, o
casal tem uma grande preocupação com o filho menor de
iniciais R.N. que desde que os pais foram presos passou a
comer com as mãos, sem qualquer assistência. Depois dos
ânimos serenados, os próprios vizinhos da escola
manifestaram à imprensa, que tudo não passou de um
sensacionalismo. O exemplo da escola de São Paulo servirá
de alerta às pessoas inescrupulosas, que, no nefasto frenesi
egolátrico, não se importam em colocar sob um mar de lamas
o nome e a reputação de seus semelhantes, ou como se diz
na gíria, é um palhaço que sorri ao ver o circo pegar fogo.
(Tribuna do Ceará, 17/07/1994). O NARCOTRÁFICO E O
FUTEBOL O jornal de Bogotá, do dia 02/07/94, trazia a
seguinte manchete: "LA VIOLÊNCIA GOLPEA DE NUEVO AL
FUTBOL". O assassinato na madrugada do dia 01/07/94 do
jogador André Escobar marcou mais uma etapa da violência
no futebol colombiano, que há cinco anos viu morrer um
árbitro, Álvaro Ortega, provavelmente pelos tiros disparados
no narcotráfico. Escobar foi fuzilado com doze tiros. Com isto,
um dos melhores e mais queridos atletas colombianos, se
tornou mais uma vítima de uma série de escândalos que
abalaram o país do futebol, e logo depois da série de ameaças
recebidas pela Seleção durante sua participação no Mundial. A
presença do dinheiro do narcotráfico no futebol colombiano
teve sintomas mais evidentes, quando o presidente da Equipe
Nacional de Medelin, Herman Botero, foi extraditado aos
Estados Unidos pela lavagem de dólares em 1984. O fato
mais grave se apresentou em 23 de novembro de 1989,
quando o árbitro Álvaro Ortega foi eliminado em Medelin,
depois de dirigir na véspera uma partida entre os clubes de
primeira divisão Medellin e América. Ortega caminhava por
uma rua central dessa cidade, em companhia de outro árbitro
quando foi abordado por um grupo de apostadores, onde teve
morte imediata. Dois jogadores do Nacional de Medellin, René
Higuita e Felipe Perez, terminaram ano passado na prisão: o
primeiro por ter sido intermediário do resgate de uma jovem
seqüestrada, e o segundo por servir de apoio logístico ao
Cartel de Medelin. Também outro jogador do clube, Alberto
Cañas, foi assassinado, aparentemente por seus vínculos com
o mesmo grupo. As ameaças recebidas pela Seleção durante
a copa e o assassinato de André Escobar demonstram de
modo inequívoco, que a violência e o dinheiro sujo continuam
sendo uma sombra sinistra para o futebol da Colômbia. O
narcotráfico é o péssimo cartão de apresentação aos nossos
irmãos sulamericanos, e quem não estiver integrado ao
sistema, será uma fácil queima de arquivo. (Tribuna do
Ceará, 14/07/1994). O MP E A ESPIONAGEM Antigamente,
quando se falava em espionagem, a primeira idéia que se
chegava era a dos filmes de James Bond na luta contra a
máfia de Goldfinger. Modernamente, face à incidência dos
tradicionais delitos de cavalheiros, a espionagem atingiu aos
grandes centros urbanos. Em São Paulo, o Promotor de
Justiça Marco Antônio Ferreira Lima, ofereceu denúncia contra
Richard Sucrewn, Presidente da Phillip Morris, feitoque
tramita na 19ª Vara Criminal. O presidente da Phillip Morris é
acusado de praticar espionagem industrial, contra três ex-
funcionários: Antônio Carlos Ferreira, Ismael Pinheiro e José
Martinho Quintal Freitas, sócios da General Brands Alimentos.
Eles tiveram seus telefones grampeados, por um detetive
particular contratado pela Phillip Morris. Ocorre, porém, que o
detetive particular Waldir Matias dos Santos, contratado pelo
advogado Iyro Kusano, tentou extorquir dinheiro dos ex-
funcionários já mencionados. A revista Isto É, edição do dia
17/05/1995, rotulou a matéria sub oculo, com o título:
"Araponga trapalhão". O presidente da Phillip Morris foi
denunciado pelo Ministério Público bandeirante, pela prática
dos crimes de constrangimetno ilegal e violação do sigilo das
telecomunicações. A Constituição Federal de 05/10/1988, em
seu artigo 5º, Inciso VI, é de uma clareza solar, quando
prescreve in verbis: "São inadmissíveis, no processo, as
provas obtidas por meios ilícitos". (Grifos nossos). Ficou
famosa no Brasil, a sentença do pundonoroso Juiz Federal
Agapito Machado, no caso "inhame", em que absolveu vários
acusados, em face da imoral escuta telefônica, conseguida no
gabinete do Dr. Romeu Tuma, na época, Superintendente da
Polícia Federal, e o povo néscio e alheio a tudo, ficou a
indagar: Por que somente o motorista do caminhão foi
condenado? O Ministério Público Bandeirante frenou a uma
atividade típica de mafiosos, pois o sigilo de comunicação é
inviolável. (Tribuna do Ceará, 03/08/1995). A QUEDA DE UM
ÍDOLO O mundo futebolístico internacional recebeu com
impacto a notícia da Fifa, confirmando que o jogador Diego
Maradona estava dopado na partida contra a Nigéria. A
análise confirmou a presença de "Efedrina", geralmente
utilizada como descongestionante nasal. É por demais
lamentável, que tudo aconteça com um jovem talentoso, que
encantou o mundo com suas jogadas mirabolantes e que na
última quinta-feira (30/06/94), deixou o esporte perplexo e
triste. Maradona implodiu um castelo de conquistas e glórias,
caso tivesse participado do prélio contra Bulgária, onde a
Argentina perdeu por 2x0, para disputar a última partido do
Grupo D, seria o jogador com o maior número de partidas
mundiais (fase final) disputadas. No último sábado 25/06/94,
no jogo contra a Nigéria, Maradona igualou o recorde do
alemão Uwe Seeler e do polonês Wladislau Zmuda, com 21
jogos, os três atuaram em quatro Copas do Mundo. Na tarde
do dia 14/06/94, logo após um treino contra uma equipe de
juniores, da cidade argentina de Romário, Diego Maradona
em entrevista a um jornal de Boston (AFP), assim se
expressou: "Fiz tudo o que pude. Estou satisfeito com o
treinamento e agora tudo está nas mãos de Deus" (AFP-
Boston-GMT). Naquela oportunidade, Maradona garantiu que
estava mais veloz e mais relaxado em campo. Através da
Tribuna do Ceará, em três (3) edições, abordamos a matéria
sub oculo, sob o título: "O dopping no futebol", onde
relatamos que o médico Eduardo de Rose, coordenador da
Equipe Antidopping, em entrevista à imprensa de Porto
Alegre, no dia 02/08/1993, fez relato que um outro jogador
do escrete argentino, no caso, o Cannigia, teria sido incluído
na lista de dopados, onde fora encontrada cocaína na sua
urina. A glória do sucesso não se conquista em um dia, o que
se antagoniza com a queda, o mundo inteiro ao som da
antológica música-ópera: "Don’t cry for me Argentina",
chorou a derrota de seu ídolo querido. (Tribuna do Ceará,
07/07/1994). RELAÇÕES INCESTUOSAS A Rede Globo lançou
no final de abril/95, a minissérie "Engraçadinha". Trata-se de
uma adaptação da obra do imortal Nelson Rodrigues, onde
escandaliza os costumes da década de 40, com a personagem
"Engraçadinha". Em um dos capítulos, levado ao ar na
quarta-feira, dia 03/05/95, o fogoso amante, "Primo Sílvio",
vivido pelo ator Ângelo Antônio, ao descobrir que tinha
praticado relações sexuais com a própria prima, pratica a
autocastração. A palavra incesto vem do latim "Incestus",
significando machado, impuro, não casto (in + castus),
portanto, o seu cometimento deixaria a família sem
castidade, impura. Aurélio Buarque de Holanda, em seu novo
dicionário define: "É a união sexual ilícita entre parentes
consangüíneos afins ou adotivos". Na concepção de Thomas
de Aquino, um dos luminares da Igreja, o incesto consiste no
abuso de uma mulher ligada ao incestuoso pelos laços de
consangüinidade ou afinidade. O Antigo Testamento descreve
relações incestuosas (Abraão casou-se com Sara, sua meio-
irmã) – Levítico 18:17, Samuel II,13:14, Mateus: 14-13 e
Corintios 5:1. Sigmundo Freud, em suas "Conferências
introdutórias sobre a psicanálise" descreve que o incesto que
se pensa ser tão rechaçado pelos seres humanos, é
inequivocadamente permitido aos deuses. Um dos crimes de
Edipo, o herói de uma das célebres lendas mitiológicas da
literatura grega, foi o incesto com a mãe Jocasta, outro foi o
patrício. Em 1991, o intrépido e competente jornalista
Fernando Ribeiro, na época, no jornal "O Povo", publicou em
sua coluna policial o caso do motorista Manoel Pinto de
Castro, que se aproveitou de sua filha de iniciais D.S.E., 17
anos, engravidando-a. O mais absurdo, a doméstica Maria de
Lourdes da Silva, num desabafo disse: "Fui traída por minha
própria filha". Que as cenas de novela não sejam assimiladas.
(Tribuna do Ceará, 14/05/1995). O CHORO DAS
CRIANCINHAS O cinema infantil está de luto, com o
desaparecimento de dois mitos sagrados da sétima arte, o
desenhista Walter Lantz, criador do imortal "Pica-au", que
com sua risada enlouquecia a todos, e Henry Mancini, autor
da trilha sonora "The Pink Panther" ("A Pantera Cor de
Rosa"), que serviu de roteiro a um filme infantil do mesmo
nome. Walter Lantz foi contratados pelos estúdios Universal
em 1928, onde Carl Leemmle confiou a ele a produção da
série "O coelho Oswaldo". Em seguida, criou o Woody
Woodpecher, nome original do "Pica-Pau", que fez sua
primeira aparição num episódio da série And Panda, outro
personagem criado por Lantz. Sobre o "Pica-Pau", conta a
lenda, que o desenhista inventou o personagem a conselho de
sua esposa, inspirando-se num pássaro que perturbou a lua
de mel do casal em 1941. O ator Mel Blanc foi o primeiro a
emprestar sua voz ao insolente pássaro cuja risada inimitável
caracterizava os desenhos animados de Lentz. O criado do
Pica-Pau foi contratado aos 19 anos por Winsor Mac Cay,
pioneiro da animação nos EUA. Com muita inteligência, o
cantor Erasmo Carlos, "O Tremendão", lançaria em 1967 a
música "O Pica-Pau", falando de um bichinho que apareceu na
tela na hora em que o rapaz ia beijar a namorada. Em 1978,
Walter Lantz obteve o prêmio Oscar do Cinema, por ter
proporcionado alegria e risos ao mundo inteiro. Lembro-me
com muita saudade das antológicas tardes de domingo, em
que o Cine Majetic, da Rua Barão do Rio Branco, ficava lotado
para ver o pássaro infernal. Já Henry Mancini, palmilhou o
campo da trilha sonora, onde surgiram grandes sucessos, tais
como: Mister Luck, The Pink Panther, seriados exibidos pela
TV Ceará Canal 2, dos Diários Associados. Hoje, já não temos
a criatividade dos desenhos animados, o que existe é uma
lavagem cerebral de violência, e a juventude néscia de tudo,
vem assimilando através do cinema o cerne da violência. O
mundo infantil chora a perda de seus ídolos. (Tribuna do
Ceará, 03/07/1994). O MP E A INTERNET Segundo matéria
publicada na revista "Time", com o título "Cyber porn", a
Polícia Inglesa, numa operação "sui generis", conseguiu
desmantelar uma quadrilha que distribuía material
pornográfico, através da Internet, com divulgação de fitas e
vídeos de sexo explícito com criança (pedofilia). Logo após a
edição da notícia, o Promotor Público (District Attornerney),
Doyle James, do Estado de Winconsin, fazendo valer a sua
força fiscal da lei, ordenou que os policiais vigiassem a
Internet para acabar com a difusão de pornografias entre
crianças, tráfico de drogas e consumo. A idéia de Doyle foi
ampliar o trabalho de auxiliares denominado "cibertiras", que
receberam atribuições de agentes supletivos do Ministério
Público americano, no combate aos efeitos nocivos da
informática hodierna. O Juiz Federal designado para revisar o
acordo antitruste da Microsoft com o Departamento de Justiça
dos EUA, pediu às partes que comparecessem para uma
reavaliação da matéria. No Brasil, tivemos um caso de pirata
cibernético, onde um adolescente de 17 anos, filho de um
professor da Universidade Federal de Pernambuco, conseguiu
entrar na Rede Nacional de Pesquisa (RNP), representante da
Internet, no Brasil e acessou os arquivos pessoais do
governador Miguel Arraes. No depoimento que prestou à
Polícia Federal, o pai do rapaz disse que o filho é um
aficcionado por computação, entrou na rede por falta de
informação, sem má intenção. Peritos e técnicos em
informática estão analisando o 486 do jovem pirata, para
saber até que ponto ele invadiu a rede. No Brasil ainda não
há legislação específica sobre crimes de informática, no
entanto, em casos similares, o Ministério Público oferece
denúncia, entendendo que o fato típico se molda à quebra do
sigilo de correspondência. Aquele velho ditado, "mares tem
olhos e parede tem ouvido", é coisa ultrapassada, nos dias de
informática, é preciso ter cuidado, porque na tela do 486
poderá aparecer um segredo. (Tribuna do Ceará, 01/10/95).
A VITIMOLOGIA NO FUTEBOL O jogador Edmundo, por mais
que tente provar na imprensa, que está mudado, ainda vai
demorar muito tempo. Com a antonomásia de "animal",
agnome criado pelo vibrante locutor esportivo Osmar Santos,
o famoso "garotinho", Edmundo assumiu uma trajetória
trepidante, às vezes, colocando em apuros a equipe a qual
pertencia. Recentemente, quando do intervalo da partida
Flamento 1 x Vasco 1, jogo realizado no dia 29/10/95, o
jogador Edmundo, num comportamento totalmente contrário
à moral desportiva, e, como forma de avilte à torcida
vascaína, meteu a mão por cima do calção e balançou os
órgãos genitais; que me perdoe a torcida do meu querido
mengão, uma molecagem desvairada. Em reportagem à
Agência Globo, o advogado e vice-presidente das Relações
Externas, Micel Assef, tentou atenuar a atitude do jogador,
afirmando que se tratava de um caso típico de vitimologia. A
verdade é que, Edmundo será julgado no dia 14/11/95, por
infrigência ao art. 337 do Código Brasileiro Disciplinar de
Futebol, podendo ser apenado com a dosimetria de duas a
quatro partidas. A vitimologia como ciência, remonta a
segunda metade do século XX, quando, em 1947, Benjamim
Menddelsonh proferiu conferência sobre o tema "Um novo
horizonte na Ciência Biopsicossocial", sendo considerado,
pois, o pai da vitimologia. O que seria então vitimologia? O
penalista Roque de Brito Alves enfatiza: "A nova ciência,
como antonomia perante os estudos de Direito Penal e da
Criminologia, insiste em que, em vez de o binômio ou a dupla
crime-criminoso ser o fundamento da ciência penal ou da
criminologia, deve-se atentar à dupla vítima-criminoso.
Ressalte-se, até por questão de justiça, o trabalho proficiente
do talentoso Dr. Luis Coelho, que vem com denodo se
infiltrando no campo da vitimologia em nosso Estado,
participando, inclusive, de conferências internacionais.
Futebol é coisa série e não pode ficar ao alvedrio de atitudes
inconvenientes à moral e aos bons costumes. (Tribuna do
Ceará, 09/11/1995). A HISTÓRIA E O CINEMA Quando
alguém falar que o relato de um filme pode mudar a vida de
um povo, não se assuste e nem considere tal assertiva como
uma hipérbole. Em janeiro de 1992, o flme "JFK, a verdade
que não quer calar", do cineasta Oliver Stone, tendo como
astro principal Kelvin Costner, provocou um vendaval nos
EUA, levantando dúvidas a respeito das duas balas que
atingiram JFK, chamada pelos peritos de "bala mágica", por
ter também atingido o Governador do Texas, John Connely,
em trajetória questionada pelos especialistas. No início de
dezembro de 1995, mais uma vez Oliver Stone passa a ser
discutido na terra do Tio Sam, quando da elaboração de seu
novo filme "Nixon", fazendo um esboço do perfil do Presidente
mais controvertido da História dos EUA. As filhas do ex-
presidente Richard Nixon, Julie Nixon Eisenhower e Tricia Nixo
condenam Oliver Stone por ter difamado e degredado "a
memória de seus pais e por ter esperado para isso que
estivessem mortos, com a finalidade de evitar processos
judiciais. Richar Milhous Nixon, morreu em abril de 1984, dez
anos depois de sua renúncia devido ao escândalo do
"Watergate", um caso de escutas telefônicas clandestinas da
sede democrata. Presidente dos Estados Unidos de 1968 a
1974, conduziu uma política externa muito ativa, com sua
sombra inseparável, o secretário de Estado Henry Kissinger,
praticando uma diplomacia de abertura para a China, de
desarmamento com a ex-União Soviética e, nos últimos anos,
de aproximação ao Vietnã. Richard Nixon, interpretado pelo
ator britânico Antony Hopkins, aparece no filme de Oliver
Stone como um ser infinitamente complexo e torturado. É
bom não olvidar que o escândalo Nixon, apareceu em 1983,
no filme "Todos os Homens do Presidente", com o
desempenho notável de Dustin Kolfmam. Logo, não é exagero
ouvir de alguém: "Este filme marcou a minha vida". (Tribuna
do Ceará, 18/01/1996). SEITAS E SUICÍDIO A Revista Veja,
edição do dia 10/01/96, traz uma reportagem de Onky de
Sousa, diretamente da Boca do Acre, Região Sul do
Amazonas, sobre a existência da Seita do Santo Daime,
aquela em que os adeptos tomam um chá alucinógeno
chamado Ayaushaca, em seus cultos religiosos. A matéria é
por demais interessante e traz o depoimento do jornalista
Jorge Mourão, que relata o suicídio do filho adotivo Jambo,
que, durante uma reunião de culto, tomou o já prefalado chá
alucinógeno, armou uma fogueira, acendeu-a e atirou-se
sobre ela. Quando estivemos no CIGS (Centro Intensivo de
Guerra na Selva), em Manaus, juntamente com o Relações
Públicas da Petrobrás e Radialista Wanderley Barbosa e vários
integrantes da Magistratura alencarina, ouvimos do Coronel
Porech, por sinal cearense, a informação de que a histórica
Região Amazônica é rica na produção de chás, através de
plantas nativas, citou o Ayaushaca e outros com reações
afrodisíacas, o que despertou a atenção da galera visitante,
dentre eles, o Repórter Cláudio Pinheiro da Rádio Cidade, que
fez questão de provar do chá, dizendo, naquela oportunidade,
que no futuro, revelaria o efeito da matéria. No final de
dezembro de 1995, a Agência Reuters divulgou uma matéria
sob o assassinato coletivo de mais de 16 adeptos da Ordem
do Templo Solar. Na reportagem de Gilles Lapouge, em Paris,
e publicada no Estado de São Paulo, 29/12/1995: "Fala-se em
seita, mas esta é uma palavra vaga. Cada seita tem o seu
aspecto, sua face. A do Templo Solar era estilista" (de
extrema direita), dizem alguns, sem entretanto, dar provas.
Questionou-se sobre as atividades da Igreja Universal na
França. O pastor Ricardo Gonçalves, responsável por essa
Igreja em Paris, como é óbvio, negou qualquer envolvimento.
A palavra de Deus é sábia: "Se alguém vos disser, eis que o
Cristo está aqui ou ali, não lhes dê crédito". (Tribuna do
Ceará, 01/02/1996). O EPISÓDIO DA CALCINHA Há quem
diga, no adágio popular, que é quase impossível resistir-se a
rabo de saia. No entanto, é preciso renar os impulsos
lascivos, sob pena de cairmos nas raias do ridículo. O
carnaval carioca de 1994, com certeza ficará marcado
indelevelmente em todos nós, quando em pleno festejo
momino, fora fotografado ao lado da modelo cearense Lilian
Ramos, que estava em total ultraje público ao pudor, junto ao
Chefe da Nação, completamente despida, isto é, sem
calcinha. A Revista Isto É, n 1273, edição do dia 23/02/94, de
forma maldosa e com o escopo deliberado de
sensacionalismo, publicou a matéria sob o título: "Itamar e o
sexo explícito", com a foto da modelo Lilian Ramos,
mostrando, inclusive, a região clitórica. Um escândalo.
Lamentavelmente. O Presidente Itamar Franco não conseguiu
resistir às mulheres do carnaval carioca. Tímido e contido, ao
chegar ao sambódramo às 22h35min, o mineiro Itamar, duas
horas depois, trocava beijos e afagos com a modelo e atriz
Lilian Ramos, uma cearense de 27 anos, que ficou conhecida
como a sósia de fafá de Belém visto possuir um manancial
lácteo bastante volumoso e que encantava o mineiro no
Camarote da Liga Especial das Escolas de Samba, vestindo
uma camiseta ecológica, uma sandália dourada de plataforma
e sem calcinha. Toma cuidado menina – recomendou Itamar
ao constatar que sua acompanhante, ao levantar os braços
para sambar, mostrava aos fotógrafos que estava sem
calcinha. Lilian custou a aceitar o conselho do Presidente e
continuou exibindo-se diante das lentes dos fotógrafos
durante cerca de 10 minutos. Para convencê-la, Itamar teve
que ser sutil, convencendo-a a sentar-se no parapeito do
camarote. Antes da promiscuosa cena a atriz e modelo Lilian
Ramos, o presidente Itamar Franco, participava do carnaval
carioca como um autêntico folião, e como se não bastasse,
um verdadeiro adolescente: Jogava beijinhos e acenava para
os integrantes das escolas e se entregava ao charme das
passistas. Foi nesse clima de alegria, que seus olhos foram
bombardeados; quando de repente, passa em frente ao
camarote da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba
do Rio de Janeiro), a modelo Lilian Ramos, fantasiada de
princesa persa e com os seis de fora. Lilian Ramos contou à
reportagem da Agência Globo, que jogou um beijo em forma
de flerte ao presidente Itamar Franco, que do camarote
retribuiu o gesto, fazendo sinal para que ela se apresentasse
mais de perto. Assim que terminou o desfile a modelo
cearense foi ao camarote do Presidente, tendo que enfrentar
outras candidatas musas do carnaval do presidente Itamar.
Uma delas, a jornalista Marília Gabriela, já trocava beijos e
abraços com o Presidente, outra, a Miss Brasil 1993, a
alagoana Lylia Virna, de 18 anos , estivera com Itamar, um
pouco mais cedo. Na suíte do Hotel Glória e reapareceria
desfilando na Mocidade, e, ainda, a cantora Gal Costa que,
quando Lilian Ramos chegou ao camarote, já conversava com
Itamar, recebendo a cantora baiana os galanteios do
escolhido do clube dos machões mineiros. O escândalo com a
modelo Lilian Ramos foi motivo de fofocas em todos os
quadrantes do universo. Só para se ter uma pequena idéia da
coisa, em S. Paulo, para protestar contra a aparição do
Presidente da República ao lado da modelo sem calcinha, no
sambódramo, um grupo de feirantes de S. Paulo marcou e
realizou na manhã de segunda-feira (21/2/94) a distribuição
de 500 calcinhas. Os brindes foram doados às freguesas do
salão dos feirantes, que funciona embaixo do elevado Costa e
Silva o famoso minhocão. Segundo o organizador do feirão
dos brindes, somente as mulheres com calcinhas faziam jus
ao prêmio. A família brasileira que já está acostumada a
conviver com tanta violência através dos meios de
comunicação, ficou boquiaberta, ao ver, ao lado de toda esta
sodomia, aquele que na verdade é o timoneiro dos nossos
destinos. Isto é Brasil. (Tribuna do Ceará, 03/03/1994). O
IMPÉRIO DA IMPUNIDADE No último dia 10 de setembro
próximo passado, a impunidade conquistou mais uma vitória,
no País que já é conhecido pela perífrase de "Império da
Impunidade". O Estado deixou de punir, face à prescrição
vintenária (prescrição da pretensa punitiva), os autores de
um crime que abalou a Nação, tanto pela crueldade, quanto
pelo suposto envolvimento de sobrenomes ilustres do Regime
Militar, investigados, inclusive pelo Draconiano SNI do
General Figueiredo. Com a prescrição, a Justiça não poderá
mais punir os autores do assassinato de Ana Lídia Braga, de
sete anos de idade, encontrada nua, violentada e
estrangulada no dia 12 de setembro de 1973. O mistério Ana
Lídia sobreviveu a duas tentativas de reabertura do processo,
em 1986 e 1991. Os principais suspeitos, Álvaro Henrique
Braga, irmão de Ana Lídia, e o traficante Raimundo Lacerda
Duque, amigo da família, foram absolvidos por falta de
provas. Alfredo Buzaid Júnior e Eduardo Ribeiro de Rezende,
filhos, respectivamente, do então Ministro da Justiça Alfredo
Buzaid e do senador Eurico Rezende, "condenados" pela
opinião pública da época, nunca foram denunciados pela
Justiça Pública, porque eram filhinhos de papai. Buzaidinho e
Eduardo aparecem em algumas das 2.000 páginas do
processo, como integrantes da gangue de drogados do
traficante Duque. Eduardo suicidou-se no final de 1991 e o
filho do ex-ministro Buzaid morreu em um acidente de carro,
no ano de 1985, no Estado do Paraná. Mors ominis solvit (A
morte destrói tudo). Quem não se lembra do fatídico episódio
Bateau Mouche? Cinco (5) anos após o naufrágio do Bateau
Mouche IV, durante a passagem de ano de 1988 para 1989, a
tragédia é um exemplo da impunidade no País e mostra a
dificuldade que o cidadão comum tem de vencer a burocracia
da Justiça em defesa de seus direitos. Nenhum dos 9
sobreviventes ou familiares dos 55 mortos conseguiram
qualquer indenização na Justiça. Dos 13 acusados pelo
excesso de lotação do barco, apenas dois foram condenados e
mesmo assim, a prisão aberta. Preso mesmo só está o Bateau
Mouche, que apodrece no I Distrito Naval, no Centro do Rio
de Janeiro. As famílias das vítimas e os sobreviventes quase
não se falam e alguns desistiram de lutar pela indenização ou
de acompanhar o processo na Justiça. O Restaurante Solimar,
de onde saia o Bateau Mouche para os seus passeios
marítimos, voltou a funcionar com todo o seu prestígio. Os
empresários espanhóis envolvidos com o empreendimento
abriram outros negócios no Rio e os processos contra eles
tramitam em quatro Tribunais diferentes: a Justiça Criminal, a
Justiça Cível, a Justiça Federal e a Justiça Militar. Os
advogados prevêem que na Justiça Cível, onde os
empresários devem ser condenados a indenizar as famílias
dos mortos e os sobreviventes, o processo ainda deva durar
dez anos. Dos 13 empresários acusados de colocar no mar
um barco com excesso de passageiros e fazê-lo navegar em
mar aberto, fora de suas especificações, dois foram
condenados, mesmo assim, em segunda instância: Álvaro
Pereira da Costa e Faustino Puerto Vidal, que tinham só 6%
de participação no Bateau Mouche. "É muito difícil brigar com
essa gente", desabafa o tributarista Boris Lerner, que perdeu
a mulher e um filho. Ele é um dos poucos que acompanha de
perto tudo o que aconteceu na área da Justiça. Ronald Biggs,
que depois de comandar o célebre assalto ao trem pagador,
em 1963, refugiou-se na Cidade Maravilhosa e hoje, vive
numa boa, como se diz na gíria, longe de qualquer punição.
Em 22 de novembro de 1973, foi promulgada a Lei Nº 5.941,
tradicionalmente Lei Fleury, elaborada exclusivamente para
proteger o delegando-bandido Sérgio Paranhos Fleury,
torturador de presos políticos e denunciado pelo Promotor
Hélio Bicudo, como integrante do famigerado "Esquadrão da
Morte". É triste concluir, que enquanto o ladrão de galinha
apanha, o bichão de paletó e gravata anda livremente pela
cidade. (Tribuna do Ceará, 17/12/1994). O IMORAL ACORDO
BRASIL-CANADÁ (I) O Programa do Boris Casoy, em edição
do dia 01/setembro/93, pela Rede SBT, criticou com
veemência o Decreto Legislativo de nº 18, assinado pelo
Presidente do Senado Federal Humberto Lucena (PMDB-PB), o
famigerado acordo Brasil/Canadá, visando a troca de presos,
o que ele considerou no seu estilo jornalístico, uma vergonha.
O delegado Nelson Silveira Guimarães – Diretor da Divisão de
Homicídios de São Paulo, em entrevista ao jornal
"Bandeirante" do dia 30/08/93 – AE, criticou o acordo e
desabafou: "Estão vendendo a dignidade do País, que não
tem preço, o decreto assinado pelo senador Lucena abre um
precedente, os governos do Chile e da Argentina também
poderão pedir a entrega dos criminosos chilenos e argentinos
envolvidos no seqüestro do empresário Abílio Diniz" (Jornal
Nacional, Rede Globo, 08/09/93). A excelente revista Veja, do
dia 01/09/93, no segmento internacional, estampou a
reportagem sob o título "Lei de Encomenda" e aduz: "O Brasil
tem fama de ser generoso com bandidos da estirpe nacional
ou estrangeiros. Aqui, eles parecem estar sempre fora do
alcance da lei. Tome-se por exemplo o delinqüente inglês
Ronald Biggs, que, depois de comandar o célebre assalto ao
trem pagador, em 1963, refugiou-se no Rio e lá continua
muito bem e até hoje, feliz da vida com o filho brasileiro que
lhe garantiu impunidade" (Revista Veja, nº 1.303, 01/09/93).
O Decreto Legislativo nº 18 transformou-se em críticas por
parte do Judiciário e da Polícia, visto que tramitou no Senado
por um período meteórico de apenas dois meses, o que
justificou o senador Alfredo Campos, com uma velocidade de
um raio, pois segundo o parlamentar a pauta da Câmara
estava desimpedida. Os canadenses David Spencer e Cristine
Lamont, tiveram melhor tratamento dos 25 que ainda teriam
de cumprir pena em São Paulo. O gracioso acordo Brasil x
Canadá começou quando o presidente Fernando Collor de
Mello enviou ao Congresso Nacional a mensagem de nº 537,
em 26 de agosto de 1992, apenas dois dias antes da
conclusão da CPI que investigou o caso PC Farias. A
Mensagem pedia a ratificação de um tratado sobre
transferência de presos entre Brasil e Canadá. Os três
desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo
responsáveisi pela condenação dos canadenses protestaram,
segundo matéria da Agência O Globo (Ago72. 01/09/93),
contra a possibilidade de extradição dos dois criminosos para
seu país de origem. De acordo com os desembargadores
Jarbas Coimbra Mazzoni, Marcelo Fortes Barbosa e Carlos
Osório Andrade Cavalcanti, "o Congresso Brasileiro deu uma
demonstração de insegurança ao se curvar às pressões
internacionais". (Tribuna do Ceará, 30/09/1993). O IMORAL
ACORDO BRASIL-CANADÁ (II) Em primeira Instância,
Spencer foi condenado a 10 anos de prisão e Cristine Lamont
a oito. Os desembargadores do Tribunal de Justiça paulista
entenderam que a pena não era suficiente e decidiram que os
dois seriam condenados a 20 anos pelo crime de seqüestro,
seis anos por formação de quadrilha e outros dois por
resistência a prisão. O mais vergonhoso, o Decreto Legislativo
nº 18, sugestão do ex-presidente Collor de Mello, o Canastrão
de Alagoas, é resultado de um poderoso lobby do governo
canadense para atender à família, dona de um dos maiores
grupos empresariais do Canadá. Além de Cristine, a
transferência deverá beneficiar também seu companheiro e
compatriota David Spencer. O Decreto Legislativo nº 18, a Lei
Fleury, aprovadas às pressas pelo Congresso durante a
Ditadura Militar, permitindo que os réus primários pudessem
responder processo em liberdade. A medida visou também
beneficiar o delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury,
acusado de praticar torturas a presos políticos e de ser
integrante do Esquadrão da Morte. A iniciativa do Tratado,
que se poderia chamar de imoral conchavo internacional,
partiu do governo canadense. O poderio econômico dos
Lamont conseguiu mobilizar o Ministro das Relações
Exteriores e até o Primeiro Ministro do Canadá Kim Campell.
Foi uma pressão muito grande, comentou o diplomata
brasileiro: "Estávamos às vésperas do Rio 92 e o Brasil se
esforçava para manter uma imagem positiva no Exterior"
(Estado de São Paulo, 01/09/93). O Ministro das Relações
Exteriores Celso Amorim, disse no dia 06/09/93, em
entrevista coletiva (Brasília – Agência Globo), que o
Itamaraty ainda está examinando a matéria, sob todos os
aspectos. A matéria ventilada no malsinado Acordo Brasil x
Canadá tem como égide interpretativa a extradição de presos.
Aníbal Bruno em seu livro "Direito Penal", conceitua
extradição como: "O ato pelo qual o Estado entrega um
acusado ou condenado, que se encontra em seu território, a
outro Estado que o reclama para julgá-lo ou puni-lo, segundo
as suas leis" (Aníbal Bruno, Direito Penal, Tomo I, Editora
Nacional, 1956, p.245). O Instituto da Extradição está
regulado na atual Constituição Federal de 05/10/1988 (Art.
5º, Incisos II e III), sendo competência privativa da União
legislar a respeito (Art. 22, I, G), cabendo ao Supremo
Tribunal Federal julgar o pedido (Art. 102, I, G). A Lei nº
6.815/60, dispõe sobre a matéria sub ocoulo, nos artigos 76 e
seguintes. Como se vê o nosso País está se tornando um
celeiro de conveniências, pois, enquanto o ator Grande Otelo
espera há anos por um projeto que lhe conceda
aposentadoria, seqüestradores são beneficiados por uma lei
de encomenda. Urge necessariamente que sejamos xenófobos
e não permitamos que o nosso País seja esportejado por
nações internacionais. (Tribuna do Ceará, 06/10/1993). A
CHACINA DA FAVELA (I) Ninguém jamais poderia imaginar
que a última semana do mês de agosto do ano de 1993, no
Rio de Janeiro, fosse marcada por episódios tão violentos que
abalariam a imprensa nacional e internacional. Na noite de
sábado 28/08/93, quatro policiais militares se aproximaram
da Praça Catolé do Rocha, junto à favela do Vigário Geral,
Zona Norte do Rio de Janeiro, para atender a uma tradicional
blitz, resultante de um contato telefônico. Ocorre, porém, que
os aguazis da ordem pública jamais poderiam imaginar que
cairiam numa emboscada, onde os criminosos agiriam de
modo célere, sem oferecer nenhuma chance de defesa aos
policiais, por mais ínfima que fosse. Morreram no desfecho: o
sargento Ailton Benedito dos Santos, o cabo Irapuan Calixto e
os soldados Luiz Carlos Santana e Luís Santoso. O enterro dos
militares foi registrado num clima de muita revolta e dor. Um
dia depois do assassinato de quatro PMs, numa emboscada
realizada por traficantes da favela de Vigário Geral, 21 (vinte
e uma) pessoas foram mortas, no início da madrugada de
segunda-feira (30/08/93), por cerca de 30 homens
encapuzados. Para o Secretário de Polícia Civil, professor Nilo
Batista, o crime foi cometido como desforra (vingança) pelo
assassinato da véspera (Jornal "O Globo", 30/08/93).
Nenhuma das vítimas da maior chacina já cometida no Rio de
Janeiro tinha antecedentes criminais. Armados com fuzis AR-
15, escopetas, pistolas, granadas e revólveres, os
encapuzados exterminaram oito pessoas da mesma família.
Entre elas, uma adolescente de 15 anos, Luciene Silva dos
Santos, que estava dormindo, um aposentado que se
recuperava de uma cirurgia no abdomem e uma dona-de-
casa evangélica, que morreu abraça à sua bíblia. A
mefistofélica matança, que num eivo metafórico, poder-se-ia
chamar-se da "Noite de São Bartolomeu", começou às 23
horas do domingo, na praça Córsega, a cerca de três
quilômetros da favela de Vigário Geral, quando muita gente
ainda comemorava a goleada do Brasil aplicada sobre a
Bolívia, em terras mauriceias. O enterro das vítimas da
chacina ocorreu na tarde do dia 31/08/93, no Cemitério de
Irajá, onde choros e gritos de parentes e amigos de muitos,
era uma constante. O garçon Laércio Alves, não confundir
com o excelente profissional da TV Cidade, irmão do operário
Clodoaldo Pereira, de 21 anos, e o cunhado de Amarildo
Bahiense, de 31 anos, ambos assassinados no massacre, dizia
como os moradores das comunidades carentes podem reagir
às agressões da polícia: "A única maneira de um pobre lidar
com a polícia é correr quando ela chega" (Agência O Globo,
As, 31/08/93). No Jornal Nacional, da Rede Globo, edição do
dia 31/08/93, terça-feira, o repórter-apresentador Cid
Moreira, ao concluir o telejornal, com lágrimas nos olhos,
relatou a emoção da desditosa menina Alessandra, de 7 anos,
que comoveu a todos, quando leu um bilhete que escreveu
para o pai, o auxiliar de enfermagem Guaracy de Oliveira
Rodrigues, de 33 anos: "Pai, gosto muito de você. Um abraço
eu te amo. Ave Maria". Tenho a certeza de que mesmo
aqueles que têm sangue de barata, não conseguiram frenar o
líquido lacrimal de seu rosto, quando ouviram Cid Moreira,
num bom beneditino, dizer: "Boa noite!". O Globo Repórter,
de sexta-feira, dia 03/09/93, mostrou o delírio da jovem
Juçara, em dizer que ficou cara a cara com um dos matadores
da chacina: "Eu e meu pai saímos para acudir meu irmão. Ele
ainda atirou em cima de mim, queria me matar porque ele
sabe que eu vi a cara dele. Não posso me calar, não tenho
medo de morrer. A gente não pode deixar que estes covardes
continuem por aí" (Globo Repórter, Rede Globo, 03/09/93). A
favela de Vigário Geral foi escolhida para servir de painel ao
comando vermelho por dois motivos: É quase impossível a
polícia entrar sem ser percebida, seu acesso de carros só é
pos´sivel através da favela de parada Lucas. Além disso, os
traficantes ligados a Flávio Negão. (Tribuna do Ceará,
20/09/1993). A CHACINA DA FAVELA (II) Seu principal líder,
criaram um eficiente sistema de segurança: todas as entradas
têm "olheiros", com rádios transmissores e há morteiros
espalhados em pontos estratégicos da favela, que são
acionados por botões de alerta aos bandidos. A chacina de
Vigário Geral está intimamente ligada ao comércio das
drogas. Começou no dia 13 de fevereiro/93, quando o irmão
de Flávio Negão, Jarbas Pires da Silva, e sua namorada
Simone Silva Medeiros, ambos com 22 anos, foram
seqüestrados em Crioba, em Nova Iguaçu e nunca mais
encontrados. Por esta linha de investigação, que começou a
ser estudada no dia 31/08/93, pelos policiais, conforme ofício
enviado pelo Chefe de Policiamento da PM, tenente coronel
Valmir Alves Brum, a 52º Delegacia de Nova Iguaçu, pedindo
informações sobre o caso, a morte dos policiais seria uma
resposta do traficante ao seqüestro e desaparecimento do
irmão. Na referida delegacia, no entanto, não há nenhum
registro do seqüestro de Jarbas, que também usava o nome
falso de Márcio Eugênio de Souza, e de sua namorada
Simone. O advogado Paulo Roberto Cruzol, que acompanhou
o caso a pedido da família, publicou em matéria do Estado de
São Paulo, a seguinte nota: "Os dois foram seqüestrados por
policiais, que chegaram a manter contato com a família da
moça pedindo o resgate de US$ 100 (cem mil dólares). Os
pais de Simone, Flávio Pereira de Medeiros e Ivone, chegaram
a procurar pelo casal, sempre evitando a polícia, em função
de suas suspeitas, mas desistiram no início de abril" (Estado
de São Paulo, 01/09/93). O jornal "The New York Times", o
mais importante dos EUA, abriu uma edição do dia 31/08/93,
sua página internacional com notícia sobre a chacina de 21
pessoas ocorrida no Rio, com o titulo "21 assassinados na
favela do Rio -. Policiais são suspeitos". O jornal compara a
carnificina urbana a uma guerra de guerrilha e pergunta: "O
que está acontecendo com este país?". O correspondente
James Brooke lembra os dois maiores massacres urbanos
ocorridos no Brasil. A dos oito meninos de rua, na Candelária,
também no Rio e o dos 111 presos da Casa de Detenção, em
São Paulo, em outubro/92. E assinala que no Rio de Janeiro
16% dos habitantes aprovaram a matança, como também
41% aprovaram em São Paulo, no mesmo ano. A própria
Polícia Militar está cada vez mais desrespeitando a lei,
observa o NYT. Até 1989, as expulsões de membros desta
força de 30 mil homens, eram causadas por conduta
inadequada. A partir de 1989, a maior parte delas passou a
ser devido a crimes. Por outro lado, assinala o jornal, em
termos de poder de fogo, a Polícia Militar parece ter
encontrado um concorrente com o aparecimento do Comando
Vermelho, um grupo de tráfico de drogas cujos membros
aprenderam suas táticas que estiveram presos nos anos 70,
junto com guerrilheiros urbanos (New York Times, transcrito
em "O Estado de São Paulo", 31/08/93). Conforme informou
o conceituado advogado e radialista Oliveira Filho, em sua
conceituada participação, "Ponto de Vista", Rádio Dragão do
Mar, Programa SOS – Comando Geral, sob a orientação de
Hugo Pereira, o governado Leonel Brizola encaminhou à
Assembléia Legislativa o projeto de rejuvenescimento de
quadros da PM. A idéia, segundo Brizola, é exclusivamente
sua. Ele afirmou que o tenente-coronel José Heleno de
Almeida Barbosa, subchefe do gabinete militar, ficou bastante
abalado com as notícias publicadas nos jornais de que ele
seria o mentor da renovação em benefício próprio. Indagar-
se-ia: "Por que razão os executores da Favela do Vigário
Geral foram tão abruptos e frios?" Para o Secretário de
Justiça e Polícia Civil, Nilo Batista, não há dúvida: "A matança
das 21 pessoas em Vigário Geral foi comandada por policiais
militares. O Secretário acredita que o crime da favela tenha
ligações com o assassinato de quatro policiais fuzilados na
noite de sábado na Praça Catolé do Rocha, que fica próxima à
Favela de Vigário Geral, e desabafou: "Nunca vi nada igual!".
(Tribuna do Ceará, 22/09/1993). LESBICIANISMO Segundo
informações do Jornal Nacional, edição do dia 05/12/94, em
Pequim, um casal de lésbicas chinesas tentou realizar um
pacto de morte, injetando uma na outra uma dose do
desinfetante Lisol. Uma delas morreu e outra ficou internada,
segundo relatou a edição do jornal "The Xin Min". O
homossexualismo é um assunto de tabu na China, onde é
considerado no mínimo como doença e na sua pior
interpretação como crime. As duas jovens, com 22 e 26 anos,
trabalhavam juntas e eram namoradas há vários anos. Elas
teriam se decidido pelo pacto da morte porque não chegaram
a um acordo sobre se deveriam se casar ou não, diz o jornal.
A estimulação manual dos órgãos genitais é a forma mais
difundida e freqüente do lesbicianismo. Aliás, o termo
lesbicianismo remonta a ilha grega de Lesbos, onde atletas
iniciaram a prática do amor com o mesmo sexo. Informa-nos
Master & Johnson, que na pesquisa recente, que incluiu 772
pares de lésbicas e 3.547 casais heterossexuais mostrou que
as lésbicas praticam muito mais o ato sexual genital do que
os casais heterossexuais. En

Publicado em: 16/07/2015

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