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17/05/13 Criminólogo esclarece sobre maioridade penal - Jornal de Uberaba

Uberaba, 17 de maio de 2013

Criminólogo esclarece sobre maioridade penal


05/05/2013

Especialista em criminologia Rubens Correia Júnior / Sandro Neves

Sandro Neves

Muito tem se falado sobre maioridade penal no Brasil, no entanto, no desejo de se criminalizar sempre mais e
mais, foge-se das discussões realmente importantes e alguns dados são divulgados de maneira equivocada,
errônea ou mesmo de má-fé. A afirmação é do criminólogo e advogado Rubens Correia Júnior, que ressalta:
“aos defensores da diminuição da idade penal de adultos, é importante que reconstruam um de seus
argumentos principais, pois a maioridade penal no resto do mundo não é diferente da penalização de adultos
que temos no Brasil. Pelo contrário! A maioria dos países adota penalização mais branda que o Brasil! Pelo
último estudo da Unicef (o único estudo abrangente e sério nesse sentido), fica claro que mais de 70% dos
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17/05/13 Criminólogo esclarece sobre maioridade penal - Jornal de Uberaba

países no mundo adotam a penalização de adultos apenas aos 18 anos ou mais”.

Rubens enfatiza que países como Suécia, Alemanha (penalização plena somente aos 21 anos), França e
Japão (penalização de adultos somente aos 21 anos), sempre citados pelos defensores, na verdade, adotam a
idade entre 18 e 21 anos. “Infelizmente, existe um desconhecimento sobre a diferença conceitual entre
penalização de adultos e penalização de jovens. A Alemanha utiliza 14 anos para penalização juvenil, a
Inglaterra, 10 anos, a Argentina, 16, e a França, 13 (dados Unicef). No entanto, no Brasil, já existe a
penalização juvenil e a idade aqui é de 12 anos. Ou seja, o Brasil é mais rigoroso que a maioria dos países.
Portanto, aqueles que usam como argumento as idades em outros países não têm conhecimento sobre a
penalização juvenil já adotada no Brasil”, esclareceu.

O criminólogo recomenda que outro argumento do qual devemos nos lembrar é o número de crimes
cometidos por menores. Estudos apontam que, hoje, no Brasil, 10% dos crimes cometidos têm a
participação de menores, sendo que destes, menos de 1% é de homicídio. Estudos apontam que, a cada 200
homicídios cometidos, apenas 1 tem participação de menores (dados do Instituto Latino Americano das
Nações Unidas - Ilanud). “Cerca de 44% dos crimes noticiados na TV apontam a participação de menores
(dados Andi), ou seja, noticiar crimes com menores dá lucro. Assim, pergunto: será que a diminuição da
maioridade terá efeito direto na diminuição da violência? Nenhum estudo já feito aponta para a possibilidade
de se diminuir a violência diminuindo a idade de penalização. Alguns países chegaram a retroceder a idade
mínima. Geralmente, estes menores são aliciados também pelo tráfico. Com a diminuição da maioridade,
teremos esse aliciamento direcionado aos menores de 16, 14, 12 e assim por diante”, salientou.

Presídio – Rubens destaca que outro problema é a superlotação dos presídios. Ele questiona o que será feito
com esses menores que ingressarão em locais superlotados. “Onde colocaremos estes menores? Seria
interessante os defensores da diminuição da maioridade penal apontarem como solucionar o problema de
vagas nas penitenciárias. Em Porto Alegre, por exemplo, temos uma prisão com 1.984 vagas, e hoje temos
mais de 4 mil presos lá. Estudo feito nas casas para menores infratores no Estado de São Paulo aponta que
apenas 20% dos menores presos têm um lar minimamente estruturado. Menos de 20% concluíram pelo
menos o ensino fundamental (dados Uniemp). A grande massa de menores infratores presos hoje no Brasil se
identifica com a massa de presos adultos: são pobres, pardos, sem educação mínima e sem lar estruturado”,
acrescentou.

Educação – O criminólogo pontua que, quando se fala em redução da maioridade penal, o Brasil acaba de
“conquistar” o penúltimo lugar no ranking global de educação. “Soa como uma total falta de capacidade de
responsabilização discutir maioridade penal em nosso país. Parece que a população não está percebendo que
os anos noventa foram os campeões em medidas legislativas duras na área penal, nunca tivemos tanta
tipificação de crimes, nunca tivemos tantas leis especiais e, no entanto, a sensação de violência aumentou.
Estamos abrindo mão de responsabilizar o Estado pela educação e direcionamento de nossas crianças e
jovens. Estamos caminhando para um Estado de Perigo, onde a lei de drogas tende a ser revista para voltar a
penalização dura do usuário. Nas cidades, leis de abrigamento compulsório são aprovadas todos os dias. O
internamento compulsório de dependentes químicos é aprovado pela maioria da população. O STF está
perdendo a sua autonomia mediante emendas constitucionais e nós não nos atentamos para isso. Estamos
concordando e aprovando a formação de um Estado de exceção, estigmatizante, um estado de perigo onde
os direitos e garantias fundamentais serão suspensos. Isso é preocupante”, concluiu.

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