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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
Departamento: Fundamentos Teórico-Praticos do Serviço Social
Disciplina: Serviço Social e Sistema Sociojurídico
Profa. Me. Thatyana Siqueira Nunes Frez 2023.2

Nome:

Questão: Leia atentamente as reportagens a seguir e, com base nos textos e vídeos
trabalhados na disciplina, escreva sobre o surgimento do Sistema Sociojurídico e suas
práticas.

Texto 1:
Músico negro preso injustamente há dois anos volta a ser detido no RJ sem ter
cometido crime algum
Um músico que já tinha sido preso injustamente há dois anos, em Niterói, na
Região Metropolitana do Rio, foi detido novamente sem ter cometido crime algum.
Quando os policiais pararam o Luiz Carlos Justino, ele quase não acreditou: "Eu sou o
músico Luiz Justino. Já aconteceu isso comigo, vai acontecer isso comigo de novo?”.
Aconteceu...
Luiz Carlos Justino chegou a ser preso em 2020 por cinco dias, apontado como
suspeito de um crime cometido por outra pessoa. O Jornal Nacional contou, em maio, a
história dele e de outros dois brasileiros negros que passaram pela mesma situação
absurda. Nos três casos, a única prova apresentada pela Polícia Civil foi uma foto.
"Eles devem ter entrado na internet e procurado uma foto de qualquer um que é
negro e me achou", falou o músico na época. Justino é músico; toca violoncelo na
Orquestra da Favela da Grota, em Niterói, desde os seis anos. Ele conseguiu provar a
inocência, mas, na época, já temia reviver o pesadelo.
Apesar de ter se livrado das acusações infundadas e ser inocentado, o mandado
de prisão permaneceu no sistema do Banco Nacional de Monitoramento, do Conselho
Nacional de Justiça. Ao verificar os dados de Justino, os policiais da blitz, montada na
última segunda-feira (22), encontraram o documento ainda válido. Justino foi levado
para delegacia na hora.
Luiz Carlos Justino foi liberado depois que os agentes descobriram que houve
uma falha. O sistema da própria Polícia Civil indicava que não havia mais o mandado.
Para impedir que o erro volte a se repetir, o advogado de Justino pediu e a Justiça
determinou que o mandado de prisão fosse retirado também do sistema do CNJ. Depois
de passar por tudo de novo, o músico só quer viver com a certeza de que o futuro dele
também está livre, definitivamente, dessa injustiça.
O Conselho Nacional de Justiça declarou que a responsabilidade de inserir e
retirar mandados no sistema é dos magistrados. O Tribunal de Justiça do Rio informou
que o nome de Luiz Justino não consta mais no Banco Nacional de Monitoramento do
CNJ, mas não respondeu por que o mandado continuava lá depois do arquivamento do
processo.
(Jornal Nacional, 24/08/2022)1

Texto 2:
Estudo analisa 5 mil processos por tráfico de drogas e mostra que negros são alvo
de prisões com baixo número de provas
João* foi preso durante uma ronda policial, numa manhã de maio de 2020, na
periferia de Bauru (SP). Os PMs encontraram com ele cocaína e R$ 80 em espécie.
Acabou condenado pela vara criminal da cidade a uma pena de sete anos, 11 meses e
oito dias de prisão por tráfico de drogas.
Os depoimentos dos autores do flagrante, no entanto, trazem como única
descrição física do rapaz sua cor de pele: "indivíduo negro". A quantidade de droga
apreendida: 1,53 grama.
Para o defensor público Pedro Henrique Pedretti Lima, que pede habeas corpus
para João*, a condenação configura um exemplo de racismo: "a cor da pele foi o fator
que primeiramente despertou a atenção do agente de segurança pública, o que não pode
ser admitido", escreve na peça.
O caso, agora, pauta um julgamento sobre perfilamento racial no Supremo
Tribunal Federal (STF) e pode mudar os rumos de como prisões em flagrante baseadas
na cor da pele ocorrem no Brasil.
Os exemplos se contam aos milhares pelo país. Em janeiro de 2021, Pedro* foi
preso na periferia de Manaus. Portava 3 gramas de cocaína, 2 gramas de maconha e R$

1
Disponível em: < https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/08/24/musico-negro-preso-
injustamente-ha-dois-anos-volta-a-ser-detido-no-rj-sem-ter-cometido-crime-algum.ghtml>
144 no bolso. A Justiça o condenou a 5 anos e dez meses de prisão em regime fechado
por tráfico de drogas. "Quase um ano de pena para cada grama", critica o defensor
público do Amazonas, Fernando Mestrinho, que impetrou um habeas corpus contra a
condenação do réu em junho do ano passado.
— Esse é mais um caso emblemático da realidade do sistema de justiça criminal.
Esse é o padrão: polícia ostensiva, sem nenhum trabalho de investigação, abordando
jovens negros em bairros periféricos — diz ele.
No auto de flagrante lavrado pelos policiais, consta que Pedro transportava 15
pinos de cocaína e dez "trouxinhas" de maconha, além de uma porção maior de droga
não identificada — a descrição é colocada em dúvida por Mestrinho, em razão da
pequena quantidade que ele compara a "farelo".
Os casos de João e Pedro refletem o que pesquisadores vêm tentando provar com
dados. Jovens negros do sexo masculino são encarcerados por tráfico de drogas no
Brasil com baixa quantidade de provas, após ações criminais céleres e prisões
fundamentadas em "atitudes suspeitas".
É o que aponta uma pesquisa inédita do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), conduzida pelo pesquisador Alexandre dos Santos Cunha, que analisou
casos de 5,1 mil réus por tráfico de drogas em tribunais de justiça estaduais no primeiro
semestre de 2019. Trata-se de uma amostra representativa de um universo de 41,1 mil
réus desse tipo de crime. O estudo foi financiado pela Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Considerado o mais amplo estudo sobre o perfil do réu desse tipo de crime, os
dados preliminares mostram que a população negra, jovem e pobre é alvo particular do
sistema prisional. As informações foram apresentadas no 17ª Encontro Anual do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, realizado em Belém (PA) em junho. O relatório final
ainda passa por revisão.
O pesquisador analisou os verbos usados nas sentenças e nas denúncias para
descrever o suposto ato criminoso em julgamento e identificaram que a maior parte dos
réus é julgada por "guardar", "possuir", "transportar" ou "trazer consigo" as drogas. Em
menor grau aparecem os verbos "vender", "fornecer", "entregar", "distribuir",
"adquirir", "comprar" e "receber".
A análise semântica dos documentos aponta que o comportamento dos detidos
está longe de configurar tráfico. Apenas 4% dos processos criminais decorrem de
investigações criminais prévias, e a "atitude suspeita" fundamenta 33% das abordagens
que resultam em flagrante. Em 17% dos casos, não há sequer apreensão de substância
ilícita com os réus. O conjunto de provas é baseado em depoimento dos agentes de
segurança responsáveis pelo flagrante em 93% dos casos.
A pesquisadora Milena Soares, mestre em políticas públicas pela Universidade
Nacional da Austrália e responsável pela coordenação de campo do estudo, diz que o
perfil do réu processado por tráfico de drogas não difere de outras pessoas encarceradas
no país. Milena atribui a estatística a um "viés racial na criminalização de pessoas" que
reflete, segundo ela, uma questão estrutural presente na sociedade e na atuação das
polícias.
— O que nos surpreendeu foi o número de casos de entradas em domicílio sem
mandado judicial. Juridicamente não são consideradas invasões porque são entradas
validadas a posteriori pelo sistema de Justiça — diz ela.
Dos casos em que houve entrada em domicílio, que representam 49% do total —
enquanto o restante ocorreu em vias públicas —, em aproximadamente 15% havia
mandado judicial para a atitude policial, segundo Milena.
População carcerária no Brasil
A combinação de desemprego e fome, que se agravaram com a pandemia, pode
ser um dos principais motivos de um crescimento expressivo da população carcerária
brasileira. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontaram que, em junho de
2022, o total de presos no país havia aumentado o equivalente a um município de 61 mil
habitantes: passou de 858.195 pessoas privadas de liberdade contra 919.651 em 13 de
maio do ano passado, um salto de 7,6%.
O cenário nos presídios poderia ser ainda pior porque atualmente há 352 mil
mandados de prisão em aberto, sendo 24 mil deles de foragidos. Com a marca de 919
mil presos, o Brasil se mantém no terceiro lugar no ranking dos países que mais
prendem no mundo, atrás da China e dos Estados Unidos.
A comunidade negra está sobrerrepresentada nos presídios, em proporção muito
superior à média populacional. Um relatório elaborado pelo Tribunal de Contas do
Estado de São Paulo revelou, em março deste ano, por exemplo, que negros são 61%
dos presos no estado, apesar de serem 40% da população paulista.
(O Globo, por Guilherme Caetano, 18/07/2023)2

2
Disponível em: < https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/07/18/estudo-analisa-5-mil-processos-
por-trafico-de-drogas-e-mostra-que-negros-sao-alvo-de-prisoes-com-baixo-numero-de-provas.ghtml>
ORIENTAÇÕES

1- As provas devem ser enviadas em formato PDF para o email


thatyanafrez@gmail.com, com o assunto “AV 1 Sociojurídico - (seu nome)”;
2- O documento deverá ser salvo com o seu nome para facilitar a identificação;
3- A prova deve ser digitada, em fonte times new roman, tamanho 12, com
espaçamento entrelinhas 1,5;
4- A prova deve ser respondida entre 2 e 4 laudas;
5- Por se tratar de uma prova consultada, as citações devem ser feitas de forma
correta, seguindo as normas da ABNT
a. Citação curta: se a citação direta (cópia literal do autor) tiver até 3 linhas,
deve ser feita no corpo do texto, entre aspas, com a identificação de
nome do autor, ano da publicação em página entre parênteses ao final da
frase.
b. Citação longa: se a citação direta (cópia literal do autor) tiver mais de 3
linhas, deve ser feita em recuo, com tamanho da letra 11 e espaçamento
entrelinhas simples.
6- O prazo para envio da prova é 23h59min do dia 01/10/23.

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