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Polícia não pode decidir quem deve morrer, diz à CNN

presidente do Condepe sobre operação em Guarujá


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Presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo, Dimitri
Sales, disse que ação policial no litoral do estado "está sendo permeada por atos de ilegalidade"

Léo LopesLetícia Britoda CNN


em São Paulo

A operação policial Escudo chega a seu décimo dia neste domingo (6) com um saldo de 16
pessoas mortas. A operação foi lançada após a morte de um policial militar da Rota durante
patrulhamento.

Em entrevista à CNN neste domingo (6), o advogado e presidente do Condepe (Conselho Estadual
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de SP), Dimitri Sales, argumentou que a polícia não
pode decidir quem deve morrer.

“O pacto civilizatório que o Estado brasileiro criou com a sociedade brasileira não autorizou a pena
de morte. E esse pacto, que está firmado na Constituição de 88, é um pacto que vem do século 15,
16″, disse Sales.

“Ele tira do Estado a autoridade de decidir, por sua livre e espontânea vontade, quem deve viver e
quem deve morrer. O que acontece em atos de chacina é que a polícia decide, no momento que
ela julga pertinente, quem deve morrer”, acrescentou.

Ele disse que o Condepe tem recebido denúncias da população e foi ao Guarujá duas vezes para
colher testemunhas da comunidade sobre a ação policial.

“Podemos assegurar que, embora a operação tenha sido motivada por uma causa adequada, a
atuação dos policiais na Baixada Santista, especialmente no Guarujá, tem se dado de forma
extrapolando a legalidade, permeada por abuso de autoridade”, afirmou.

“As denúncias que recebemos e o que colhemos de testemunhos aponta que está havendo tortura,
ameaça e também execução sumária”, completou.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que irá investigar eventuais
excessos cometidos pela Polícia Militar durante a operação realizada no litoral do
estado. Anteriormente, ele havia afirmado que não houve excessos na ação policial.

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, registrou boletim de ocorrência
por ameaças de morte e injúrias raciais recebidas via WhatsApp nesta sexta-feira (4).

Claudinho, como é conhecido, tem feito críticas à atuação de policiais no âmbito da Operação
Escudo, e tem sido o porta-voz de denúncias feitas por moradores de que estariam ocorrendo
violações de direitos humanos nas abordagens.

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O presidente do Condepe ainda chamou a atenção ao fato de que “boa parte dos policiais que
estão na operação Escudo não estão portando câmeras corporais” e “nos locais onde aconteceram
as mortes, não há câmeras de segurança que pudessem ter captado as imagens das abordagens”.

Na terça-feira (1º), quando o número de mortes na operação ainda estava em oito, a CNN reportou
que apenas quatro dos 20 policiais envolvidos nas mortes relataram uso de câmeras.

Sales também destaca que a média de mortes decorrentes de intervenção policial na região
anualmente é de 30. “Em menos de uma semana você soma 16 mortes. Há um elemento que não
está coincidindo com a realidade. Há um elemento que demonstra que de fato a polícia está agindo
de modo a promover uma chacina”, declarou.

“Independente se a pessoa tem passagem policial, se cometeu ou não crime, a legislação


brasileira não autoriza execução sumária, execução extrajudicial. Não há pena de morte no Brasil”,
acrescentou.

O especialista destacou que essa “sensação de insegurança precisa acabar, sobretudo porque
gera danos para a sociedade e para os policiais”.

“Nenhum de nós queremos ver agora uma onda de assassinatos de policiais. Isso não é desejado
e não se pode admitir que essa política de segurança gere a morte de policiais. É preciso que o
Estado assuma o compromisso de pautar a sua atuação pela legalidade”, concluiu.

A CNN entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo.

Em nota, a Secretaria afirmou que “as forças de segurança atuam em absoluta observância à
legislação vigente. Em nove dias de Operação Escudo, a polícia prendeu 160 suspeitos e
apreendeu 479,8 kg de drogas”.

“Por determinação da SSP, todos os casos são investigados pela DEIC de Santos e pela PM por
meio de IPM. Além disso, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa mobilizou policiais
civis e técnico-científicos para dar apoio às investigações. As imagens das câmeras corporais
serão anexadas aos inquéritos em curso e estão disponíveis para consulta irrestrita pelo Ministério
Público, Poder Judiciário e a Corregedoria da PM”, acrescentou.

“Até o momento, nenhuma denúncia foi formalizada quanto à ação policial na região. Qualquer
queixa pode ser formalmente realizada na Corregedoria da Instituição, que apura com rigor todas
as notificações recebidas”, concluiu o comunicado.

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