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reportagem

Caso Amarildo, quatro anos depois


14.07.2017 - 06h00

Leandro Resende
Rio de Janeiro - RJ

Em 14 de julho de 2013, o pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, foi levado por policiais
da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha para uma “averiguação” e nunca mais foi
visto. O caso ocorreu após as manifestações de junho de 2013 e mobilizou a opinião pública.
Exatos quatro anos depois do desaparecimento, a Lupa voltou às manifestações feitas pelas
autoridades durante e após as investigações.

“Estamos comprometidos em descobrir onde está o Amarildo”


Ex-governador Sérgio Cabral, em 24/07/ 2013, no Youtube.

Falso
A promessa do então governador do Rio Sérgio Cabral não foi cumprida. Não há nenhuma
investigação em andamento e o corpo de Amarildo jamais foi encontrado. Em fevereiro de 2016,
a juíza Daniella Alvarez, da 35ª Vara Criminal do Rio, condenou 12 policiais militares pelos crimes
de tortura e ocultação de cadáver.

A sentença apontou o major Edson Raimundo dos Santos, então comandante da UPP da Rocinha,
como o responsável pelos choques elétricos, afogamentos e sessões de asfixia de Amarildo. Após
a morte de Amarildo, ocorrida dentro da unidade da UPP, o major deu instruções para ocultação
do corpo, que, segundo a Justiça, foi “envolvido em uma capa de motocicleta da Polícia Militar” e
levado “para local não apurado”.
Em junho do ano passado, o Estado do Rio foi condenado a pagar indenização à família de
Amarildo. Pela decisão, a viúva do pedreiro, Elizabete Gomes da Silva, e seis filhos dele
receberiam do estado R$ 500 mil cada. Além disso, receberiam também uma pensão de 2/3 do
salário mínimo – até os filhos completarem 25 anos, e até a viúva completar 68. O governo
recorreu e, desde o mês passado, o caso está pronto para ser julgado em segunda instância.

“Esses policiais, sem dúvida nenhuma, vão pagar pelo que fizeram”

Ex-secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista à CBN, em 02/02/2016

Verdadeiro, mas...
A sentença da juíza Daniella Alvarez realmente condenou 12 policiais pelo envolvimento no caso
Amarildo. Juntos somam 126 anos e 6 meses de prisão. A mesma decisão também determinou
que todos fossem expulsos da Polícia Militar. Até o momento, no entanto, nem todos perderam a
farda. O major Edson Santos, por exemplo, foi condenado a 13 anos e sete meses de prisão.
Segundo sua advogada, Tatiana Fadul, ele ainda faz parte dos quadros da PM e responde a um
processo no Conselho de Justificação da instituição.

O major cumpre pena em regime semiaberto desde maio. De acordo com o Tribunal de Justiça,
ele pediu para trabalhar fora da cadeia, mas aguarda autorização judicial. Em nota, a PM
informou que sete policiais foram expulsos. Sobre o caso do major Edson, a corporação indicou
que já terminou o procedimento disciplinar, e que a decisão sobre a expulsão cabe a Justiça.

“O Amarildo também fazia parte do tráfico de drogas”

Ruchester Marreiros, ex-delegado adjunto da 15ªDP (Gávea), em entrevista à CBN, em 08/08/2013

Falso
A juíza Daniella Alvarez considerou “fantasiosa” a tese de que o pedreiro era traficante. A
sentença descreveu que o delegado Ruchester Marreiros forjou a transcrição de uma escuta
telefônica para incriminar Amarildo e ocultar a responsabilidade dos policiais no crime.

Em outro processo aberto devido a tentativa de corrupção de testemunhas, a promotora do


Ministério Público Carmen Eliza Bastos também apontou o problema. “Modificou-se [o conteúdo
de escuta telefônica] para imputar a autoria da morte de Amarildo a integrantes do tráfico”.
Ruchester foi alvo de investigação na Corregedoria Geral Unificada das Polícias (CGU), mas o
procedimento foi arquivado em 2015. Hoje, ele trabalha em uma delegacia cartorária do Rio. A
CGU informou que Ruchester não foi condenado por falta de provas.

“A gente sabe o quanto é importante a UPP (da Rocinha), acabando com o poder paralelo,
com bandido de fuzil”
_Sérgio Cabral, em 24/07/2013, no Youtube _

De olho
O Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que o número de homicídios dolosos
registrados na área da UPP da Rocinha aumentou após a instalação da unidade, em
setembro de 2012. Nos cinco anos anteriores à unidade, foram 18 mortes. Nos quatro anos
seguintes, 20.
Dados criminais da Rocinha

18 homicídios dolosos
Antes da UPP (2007 a set/2012)

28 desaparecimentos

10 mortos pela PM

141 armas apreendidas

150 apreensões de drogas


Após a UPP (outubro/2012 a junho/2016)

20 homicídios dolosos

49 desaparecimentos

8 mortos pela PM

45 armas apreendidas

305 apreensões de drogas

0 50 100 150 200 250

Homicídios dolosos Pessoas desaparecidas Homicídios cometidos pela PM Armas apreendidas

Fonte: Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro

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O número de desaparecimentos também saltou. Foi de 28 antes da UPP para 49 após a


instalação da unidade. Além disso, o número de armas apreendidas caiu: 141 armas
recuperadas antes da UPP e 45 depois dela. Em nota, a polícia disse que operações na Rocinha
são realizadas a partir da Inteligência da PM, e que 700 policiais atuam na comunidade.

Esta reportagem foi publicada na versão impressa do jornal Folha de S. Paulo em 14 de julho
de 2017.
Atualização feita às 11h do dia 14 de julho de 2017. Na versão original, a reportagem falava
em 16 mortes.

Atualização feita às 11h do dia 14 de julho de 2017. Na versão original, a reportagem


falava em 61 desaparecimentos.

CBN Noite Total - Entrevista


Agência Lupa analisa o caso

00:00 08:02

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Tipo de Conteúdo: Reportagem


Conteúdo investigativo que aborda temas diversos relacionados a desinformação com o objetivo de
manter os leitores informados.

Tags:
major, upp, Rocinha, sergio cabral, Amarildo, reportagem, policiais militares, edson santos,
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