Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Curso de Direito
Santa Catarina
2018.2
PATRICK EDEMILDES DE SOUZA
Santa Catarina
Campus São José
2018.2
RESUMO
Este trabalho discute sobre a atual estrutura policial adotada no Brasil e a necessidade de
reformulação desse sistema, apresentando como proposta a implementação do “ciclo completo
de polícia”. As taxas de criminalidade no país têm aumentado cada vez mais e ao mesmo tempo
os níveis de resolutividade dos crimes têm sido cada vez menores. A estrutura policial no Brasil
foi dividida na Constituição Federal de modo que as atividades de ostensão e investigação ficam
divididas entre duas instituições impossibilitando o acompanhamento da resolutividade de um
crime do início ao fim. Frente à essa problemática, a expressão “ciclo completo de polícia” tem
sido uma discussão recorrente nos debates sobre segurança pública no país. Alguns países pelo
mundo, como Estados Unidos, Canadá, Chile, França, já tem implementado em seu sistema
policial o ciclo completo e isso tem se mostrado uma estratégia eficiente no combate à
criminalidade. Há várias maneiras de implementar o ciclo completo de polícia no Brasil, no
entanto não há uma estrutura ideal a ser seguida, tendo em vista que um novo modelo teria que
se adequar à realidade e as demandas do país. A implementação do ciclo completo de polícia
no Brasil em âmbito estadual exigiria a alteração no artigo 144 da Constituição Federal através
de uma emenda constitucional. Algumas propostas de emenda constitucional estão sendo
debatidas no Congresso Nacional.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é uma proposta de estudo sobre o ciclo completo de polícia no Brasil,
como forma de atribuir melhorias à estrutura organizacional das instituições polícias e como
consequência promover mudanças na atual situação de segurança pública do país.
Em um período de crise política e institucional no Brasil, pode parecer complexo pensar
em alguma iniciativa exitosa para a redução da violência e controle da criminalidade, ainda
mais frente ao aumento das taxas de homicídio apresentados pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública em 2018, cujas taxas apresentaram um aumento de 2,9% (30,3/100 mil
habitantes em 2016 para 30,8/100 mil habitantes em 2017).
Concomitantemente a esse aumento das taxas de criminalidade, o Brasil tem
apresentado um baixo nível de resolutividade de crimes, e o atual modelo de estrutura policial
do país parece ser um aspecto que influencia esse problema. Longe de atribuir às forças
policiais a responsabilidade acerca dos processos que causam a violência e a criminalidade,
frutos de diversos fatores de cunho social. Contudo, a eficiência do Estado no trato da
criminalidade está intimamente condicionada ao modelo de gestão.
Não há uma total consonância, porém, são poucos os que ignoram o fato de que a divisão
da polícia em ostensiva/investigativa tornou-se foco crônico de ineficiência na atuação do
Estado na garantia da segurança pública. A conexão entre polícias civis e militares é muito mais
uma exceção do que uma regra. Habituais conflitos na definição de competências, na provisão
de recursos orçamentários e a desarticulação das ações operacionais são fenômenos cotidianos
que impactam negativamente a capacidade do poder público em controlar a criminalidade no
país.
Frente à essa problemática, a expressão “ciclo completo de polícia” tem sido uma
discussão recorrente nos debates sobre segurança pública no Brasil. De uma maneira breve, o
ciclo completo traduz objetivamente a ideia de fusão, ou melhor, de complementariedade entre
os dois eixos de operacionalização dos serviços policiais: a ação ostensiva e a ação
investigativa. No âmbito estadual, essas funções são atribuídas, respectivamente, pelas Polícias
Militar e Civil. Há várias maneiras de implementar o ciclo completo de polícia no Brasil, no
entanto não há uma estrutura ideal a ser seguida, tendo em vista que um novo modelo teria que
se adequar à realidade e as demandas do país. Diante disso, o presente trabalho busca através
de uma revisão bibliográfica discutir sobre o atual modelo de segurança pública adotado no
Brasil e a necessidade de mudança para o ciclo completo de polícia, com a apresentação de três
propostas de implementação deste modelo.
5
2 DESENVOLVIMENTO
As taxas de criminalidade no Brasil têm aumentado cada vez mais, superando problemas
como a inflação, o desemprego, as taxas de juros e entre outros. É importante salientar que esse
acontecimento sempre foi um dos principais reveses do país, porém ultimamente essa
preocupação tem sido maior, pois a criminalidade vem, quase sempre, acompanhada de muita
violência, fazendo com que o sentimento de insegurança se apodere por toda a sociedade
brasileira.1
Segundo os últimos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2017
houveram 63.880 mortes violentas intencionais (que incluem homicídio doloso, latrocínio,
vitimização policial, letalidade policial e lesão corporal seguida de morte), atingindo uma taxa
de 30,9 mortes para cada 100 mil habitantes no país, sendo o estado do Rio Grande no Norte
apresentando a maior taxa (68/100 mil) e São Paulo (10,7/100 mil) a menor dentre todas as
unidades federativas do país.2
O Gráfico 1 apresenta a evolução das taxas de homicídio por 100 mil habitantes no
Brasil, em que se verifica um crescimento cada vez maior na taxa de homicídio no país, sendo
a proporção de crescimento entre 2016 e 2017 de 2,9%. Os prejuízos decorrentes dos crimes
são diversos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o avanço da
mortalidade por homicídios no pais gera uma redução na expectativa de vida na população,
tendo em vista que grande parte das vítimas se caracteriza por serem adultos jovens do sexo
masculino.3
1 FERNANDES, Ledimar, DE FARIAS, Joedson Jales, DA COSTA, Rodolfo Ferreira Ribeiro, DE LIMA,
Francisco Soares. La criminalidade no Brasil: avaliação do impacto dos investimentos públicos e dos fatores
socioeconômicos. Espacio Abierto, v. 26, n. 2, p.219-243, abr-jun, 2017. Disponível em:
<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=12252818013>. Acesso em: 19 ago. 2018.
2
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Segurança pública em números: Anuário Brasileiro
de Segurança Pública 2018. São Paulo. 2018. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2018/08/Apresenta%C3%A7%C3%A3o_Anu%C3%A1rio.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2018.
3
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Tábua completa de mortalidade para o
Brasil – 2013: Breve análise da mortalidade nos períodos 2012-2013 e 1980-2013. Rio de Janeiro. 2014. 26 p.
Disponível em:<ftp://ftp.ibge.gov.br/Tabuas_Completas_de_Mortalidade/Tabuas_Completas_de_Mortalidade_
2013/notastecnicas.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2018.
6
Gráfico 1: Evolução das taxas de homicídio por 100 mil habitantes no Brasil. 2006-2017.
%
Taxa de homicídio por 100 mil habitantes no Brasil
32
30,8
Taxa por 100 mil habitantes
31 30,3
29,8
30 29,4
28,6 28,9
29
27,8
28 27,2 27,4
26,6 26,7
27
26 25,5
25
24
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Anos
Além disso, a alta criminalidade demanda gastos públicos devido ao atendimento das
vítimas, manutenção do sistema penitenciário e do sistema judicial. No ano de 2017, as despesas
públicas em decorrência da segurança pública corresponderam a 84.7 bilhões, sendo 9.7 bilhões
provenientes da União, 69.8 bilhões provenientes dos Estados e 5.1 bilhões do Municípios
(FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2018).4 Com uma maior parcela dos
governos dos estados, esses valores e a situação crítica na segurança pública refletem a crise
das finanças estaduais.5
As discussões acerca dos motivos da criminalidade no Brasil são diversas. Nesta
perspectiva, incluem-se pouco investimento em educação e saúde6, políticas públicas de
4
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Atlas da violência. São Paulo: Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, 2018. 91 p. Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_
institucional/180604_atlas_da_violencia_2018.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2018
5
AFONSO, José Roberto. (2017). Gastos públicos com segurança pública. Disponível em: <https://www.
researchgate.net/publication/322504474/download>. Acesso em: 19 ago. 2018.
6
BECKER, Kalinca Léia; KASSOUF, Ana Lúcia. Uma análise do efeito dos gastos públicos em educação sobre
a criminalidade no Brasil. Economia e Sociedade, [S.l.], v. 26, n. 1, p. 215-242, jun. 2017. ISSN 1982-3533.
Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8649653/16148>. Acesso
em: 19 ago. 2018.
7
7
LIMA, Renato Sérgio. Efetividade nas Políticas de Segurança Pública: o que funciona segundo as boas práticas
nacionais e internacionais. Boletim de Análise Político-Institucional. n.11. 2017. Acesso em: 19 ago. 2018.
8
SALLES, Luiz Carlos de Paula; BRITO, Ronaldo Figueiredo. Impunidade: consequência da criminalidade no
Brasil? Saber digital, [S.l.], v. 9, n. 01, p. 55-78, 2017. Disponível em: <http://revistas.faa.edu.br/index.php
/SaberDigital/article/view/380>. Acesso em: 19 ago. 2018.
9
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, op. cit.
10
FAGUNDES, Camila Miotto.; TEIXEIRA, Maria Rita Torres; CARNEIRO, Rômulo Almeida. A ineficácia
do sistema carcerário brasileiro como órgão ressocializador. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça, v.
5, n. 1, 2017. Disponível em: <http://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/2005>. Acesso
em: 22 ago. 2018.
11
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Estratégia Nacional de Segurança Pública, Meta
2: A impunidade como alvo - Diagnóstico da investigação de homicídios do Brasil. Brasília, 2012. p. 47.
Disponível em: https://goo.gl/47oMv1. 10. Acesso em: 19 ago. 2018.
12
CENTRO DE ESTUDOS DE CRIMINALIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA (CRISP).
Mensurando o Tempo do Processo de Homicídio Doloso em Cinco Capitais. Brasília, 2014. p. 27
13
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, op. cit., p. 49.
14
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Gestão e disseminação de dados na Política Nacional
de Segurança Pública. A investigação de homicídios no Brasil. São Paulo. 52 p. 2013. Disponível em: <
http://www.forumseguranca.org.br/storage/publicacoes/FBSP_Investigacao_homicidios_Brasil_2013.pdf>.
Acesso em: 19 ago. 2018.
8
um efetivo total de 117.642 membros, comparado à Polícia Militar, que possuía um quantitativo
de 425.248, representando esta última 66,2% do efetivo de segurança pública do país.15
O crescimento desordenado da criminalidade no país aliada à baixa resolutividade
desses crimes tem gerado um colapso na segurança pública no Brasil. A organização estrutural
atual do sistema policial compromete o desempenho das funções, tendo em vista que as polícias
acabam não trabalhando de forma conjunta, pois atuam em etapas diferentes de um mesmo
crime. Essa segmentação das atividades tem gerado discussões acerca das atribuições de cada
uma, por não haver uma intervenção de maneira completa nos delitos, resultando na ineficiência
da prevenção e resolutividade.16
15
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2015.
São Paulo. 156 p. 2015. Disponível em: < http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/9o-anuario-
brasileiro-de-seguranca-publica/ >. Acesso em: 19 ago. 2018.
16
FILHO, Cláudio Filho; RIBEIRO, Ludmila. Discutindo a reforma das polícias no Brasil. Civitas - Revista de
Ciências Sociais. vol. 16, no. 4, 2016, pp. 174-204. Disponível em: < http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=
74249592009>. Acesso em: 22 ago. 2018.
17
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1808. Alvará de 10 de maio de 1808 - Crêa o lagar de
Intendente Geral da Policia da Côrte e do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 26.
18
MARCINEIRO, Nazareno; PACHECO, Giovanni C. Polícia Comunitária: Evoluindo para a polícia do século
XXI. Florianópolis: Insular, 2005.
19
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1809. Decreto de 13 de maio de 1809 - Crêa a divisão
militar da Guarda Real da Policia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 54.
9
20
BRASIL. Coleção das Leia do Império do Brasil de 1831. Lei de 18 de agosto de 1831 – Crêa as Guardas
Nacionaes e extingue os corpos de milícias, guardas municipaes e ordenanças. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1891, p. 47.
21
HOLLOWAY, Thomas. Polícia no Rio de Janeiro: repressão e resistência numa cidade do século XIX. Rio de
Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997, p. 92-93
22
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1832. Lei de 29 de novembro de 1832 – Promulga o
Codigo do Processo Criminal de primeira instancia com disposição provisória acerca da administração da
Justiça Civil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 186.
23
HOLLOWAY, op. cit., p. 227.
24
Ibid., p. 228.
25
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1889. Decreto nº 1 de 15 de novembro de 1889 –
Proclama provisoriamente e decreta como a forma de governo da Nação Brazileira a Republica Federativa, e
estabelece as normas pelas quaes se devem reger os Estados Federaes. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1891, p. 1.
26
BRITO FILHO, Nerino Mariano de. As vantagens do ciclo completo de polícia através do distrito modelo
e do juizado de instrução e garanti. 2016. 72 p. TCC (Graduação) - Curso de Direito, Centro de Ciências
Jurídicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
27
SOUSA; MORAIS, op. cit. n.p.
10
No ano de 1964, início do golpe militar, criou-se um regime ditatorial que foi conduzido
por militares e civis e se estendeu até ano de 1985. Com o mesmo objetivo da Era Vargas, a
polícia era utilizada para combater a oposição política, sendo tais atos também praticados pelas
Forças Armadas.28
Na Constituição de 1967, as Polícias Militares eram forças auxiliares do exército, assim
como são nos dias atuais. No entanto, as Guardas Civis foram extintas e incorporadas ao efetivo
das Polícias Militares, criando uma única força para fazer o patrulhamento ostensivo das
cidades. Neste mesmo ano, foi criado a Inspetoria Geral das Polícias Militares do Ministério do
Exército com objetivo de controlar essa instituição.29
Ainda no ano de 1967, foi criada a Lei de Segurança Nacional, em que foram detalhados
vários crimes contra segurança nacional. Criou-se nessa lei verdadeiramente um sistema
opressor, em que várias garantias individuais foram suprimidas com objetivo de dar legalidade
a esse sistema.30
Após o fim da Ditadura Militar, em 1987, é instaurada a Assembleia Nacional
Constituinte que originou a atual Constituição Federal de 1988, trazendo grandes inovações na
área da Segurança Pública do país.
28
Ibid., n.p.
29
Ibid., n.p.
30
Ibid., n.p.
31
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 08 set de 2018.
11
No caput do artigo 144, atribui-se que a responsabilidade pela segurança pública não é
somente do Estado, mas sim de todos os cidadãos, os quais devem contribuir de forma a
resguardar a ordem pública e cuidar de sua própria segurança e das demais pessoas.32
O Estado Brasileiro criou diferentes órgãos para realizar os serviços de Segurança
Pública, de modo que estes desempenham suas funções de diferentes formas. Primeiramente,
destaca-se a diferença entre polícia administrativa e a polícia de segurança, sendo a primeira
constituindo-se de limitações oriundas dos bens jurídicos individuais em detrimento ao
interesse público, enquanto a segunda possui relação com a preservação dos bens jurídicos.33
Pode-se elencar ainda, a divisão entre polícia ostensiva e polícia judiciária, sendo a
primeira composta pelas Polícias Militares estaduais e Polícias Rodoviárias Federais,
responsáveis por prevenir os crimes e por atuar com a utilização de fardamento e viaturas
caracterizadas. Já a polícia judiciária é responsável pelas investigações, apurando as infrações
penais que porventura não tenham sido evitadas, neste contexto entra a atuação das Polícias
Civis estaduais e a Polícia Federal.34
32
Ibid., n.p.
33
SILVA, Gabriela Galiza e; GURGEL, Yara Maria Pereira. A polícia na Constituição Federal de 1988:
apontamentos sobre a manutenção de um órgão militarizado de policiamento e a sua incompatibilidade com a
ordem democrática vigente no Brasil. Revista Brasileira Segurança Pública, São Paulo, v. 1, n. 10, p.142-
158, mar. 2016.
34
Ibid., p. 145.
35
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
12
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi criada em 1928 através do decreto n° 18.323.
Possui previsão no § 2° do artigo 144 da Constituição Federal que diz: “A polícia rodoviária
federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais”.37
A PRF tem a função de patrulhar as rodovias federais do Brasil, intituladas de “BRs”
exercendo seu poder de polícia, por meio de penalidades como multas ou na prevenção de
acidentes como orientação aos condutores e passageiros sobre utilização do trânsito, baseando-
se no Código de Trânsito Brasileiro. Além disso, a PRF busca prevenir e reprimir o tráfico de
drogas, armas, contrabando, descaminho, tráfico de pessoas, crimes ambientais e entre outros.38
Sua organização está presente em todas as unidades da federação, cujas Unidades
Administrativas são divididas por estado, chamadas de Superintendência. Cabe ressaltar que
apesar do seu trabalho ser realizado com uniformes padronizados, a PRF não é uma instituição
militarizada. Seu quadro é composto hierarquicamente de forma que qualquer policial pode
chegar as funções de chefia, através da estruturação de carreira única.39
36
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS FEDERAIS. Entenda o Ciclo Completo de Polícia. 2015.
Disponível em: <http://fenapef.org.br/entenda-o-ciclo-completo-de-policia/>. Acesso em: 19 ago. 2018.
37
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
38
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA PÚBLICA. História da PRF. 2017. Disponível em:
<https://www.prf.gov.br/portal/acesso-a-informacao/institucional/historia>. Acesso em: 19 ago. 2018.
39
Ibid., n.p.
13
Criada por meio do decreto n° 641, 26 de junho de 1852 tinha sua nomenclatura inicial
como sendo: "Polícia dos Caminhos de Ferro". Sua principal função era cuidar das riquezas do
Brasil que eram transportadas através dos trilhos.40
Possui previsão expressa no texto constitucional em seu § 3° do artigo 144 que diz: “A
polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais”.41
O Decreto n° 2.802/98 em seu artigo 19 possibilitou a criação do Departamento de
Polícia Ferroviária Federal perante o Ministério da Justiça, segundo o qual lhe “compete propor
a política de segurança ferroviária e supervisionar o policiamento e a fiscalização das ferrovias
federais, de acordo com a legislação específica”.42 No entanto, logo em seguida, através do
decreto n°3.382/2000, esse dispositivo foi revogado e deixou de estar previsto na estrutura do
Ministério da Justiça, não sendo criado até o presente momento. O que ocorre na prática é uma
segurança das ferrovias exercida pelas próprias empresas concessionárias do serviço
ferroviário.43 Embora tenha previsão constitucional, o órgão nunca foi objeto de criação efetiva,
talvez pela decadência do sistema ferroviário nacional.44
As Polícias Civis dos Estados incubem a função de polícia judiciária e apurações das
infrações penais. Prevista no § 4º do artigo 144 da Constituição Federal que diz: “Às polícias
40
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1855. Decreto nº 641, de 26 de junho e 1852 – Autorisa o
Governo para conceder a huma ou mais companhias a construcção total ou parcial de hum cminho de ferro
que, partindo do Municipio da Côrte, vá terminar nos pontos das Provincias de Minas Geraes e S. Paulo, que
mais convenientes forem. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 5.
41
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
42
BRASIL. Decreto nº 2.802, de 13 de outubro de 1998. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções Gratificadas do Ministério da Justiça, e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, DF, 14 out. 1998. p. 2.
43
BRASIL. Decreto nº 3.382, de 14 de março de 2000. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Justiça, e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, DF, 15 mar. 2000. p. 1.
44
ANAPFF (Brasília). Manifestação da PGR à ANAPFF. 2017. Disponível em:
<http://anapff.simplesite.com.br/334455409>. Acesso em: 05 ago. 2018.
14
Com quase dois séculos desde sua criação, as Policiais Militares nem sempre
funcionaram exercendo seu papel de polícia urbana e ostensiva, na maioria das vezes, eram
utilizadas muito mais para a segurança interna e defesa nacional do que para as funções de
segurança pública.48
Com previsão nos parágrafos § 5º e § 6º do artigo 144 da Constituição Federal que dizem
respectivamente:
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública;
aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva
do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.49
45
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
46
COSTA, Cláudio Pinheiro da. Carreira única na Polícia Civil: O princípio da eficiência da administração
pública como alicerce de uma polícia moderna. 2017. 117 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito,
Universidade Federal do Pará, Belém, 2017.
47
Ibid., p. 72
48
LOUREIRO, Ythalo Frota. As Polícias Militares na Constituição Federal de 1988: polícia de segurança
pública ou forças auxiliares e reserva do Exército? Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano
9, n. 486, 5 nov. 2004. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/5866>. Acesso em: 7 set. 2018.
49
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
15
As Polícias Militares têm exercido dupla função ao longo das constituições federais do
Brasil, ao mesmo tempo em que são órgãos de segurança pública dos estados federados,
também são forças auxiliares do Exército Brasileiro.50 Assim como as outras instituições as
Polícias Militares foram criadas para a preservação da ordem pública. No entanto,
diferentemente da Polícia Civil, sua função é realizar o patrulhamento ostensivo através do
policiamento fardado e viaturas caracterizadas, tentando dessa forma, evitar que o crime
ocorra.51
Por outro lado, as Polícias Militares assim como os Corpos de Bombeiros Militares são
consideradas como forças auxiliares do Exército, organizadas inclusive de forma semelhante
deste, divididas em pelotões, companhias e batalhões ou em esquadrões e regimentos quando
se tratar de unidades montadas. Sua organização é dividida em dois grupos distintos Oficiais e
Praças.52
Apesar das Polícias Militares atuarem de forma preventiva, alguns estados brasileiros
têm procedido à criação de Setores de Inteligência, cujos seus integrantes, ainda militares,
atuam de maneira descaracterizada. Embora seu principal objetivo seja a apuração de infrações
penais de cunho militar, é possível verificar atualmente a atuação de policiais militares em
investigações criminais pertinentes à Polícia Civil, isto é, agindo em momento posterior ao
crime, o que teoricamente seria considerado inconstitucional.53
Tanto as Policias Militares quanto as Policias Civis possuem limitações, devido a
divisão de tarefas atribuídas a cada uma, o que tem redundado em grande fracasso no sistema
atual de segurança pública, tendo em vista que as atividades não apresentam uma interligação
causando, na maioria das vezes, um choque de atribuição.54
50
LOUREIRO, Ythalo Frota. As Polícias Militares na Constituição Federal de 1988: As funções das polícias
militares nas constituições brasileiras e sua insuficiência conceitual. 2004. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/5866/as-policias-militares-na-constituicao-federal-de-1988>. Acesso em: 08 set.
2018.
51
MARCHI, Luiz Fernando Oliveira de; SÁ, Vinícius Valdir de. A investigação realizada pela Polícia Militar
no combate do crime de tráfico de drogas: uma medida de urgência na preservação da ordem
pública. 2016. Disponível em: <http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1495/a-investigaccedilatildeo-
realizada-pela-poliacutecia-militar-no-combate-do-crime-de-traacutefico-de-drogas-uma-medida-de-
urgecircncia-na-preservaccedilatildeo-da-ordem-puacuteblica>. Acesso em: 08 set. 2018.
52
Ibid., n.p.
53
Ibid., n.p.
54
Ibid., n.p.
16
Entender como funciona e são divididas as diversas intuições policiais pelo mundo se
torna importante para obter subsídios e soluções inteligentes na construção de uma nova
estrutura policial para nosso país.
55
MOREIRA, Edson; CARVALHO, Vinicius. Comissão especial de estudo de unificação das polícias civis e
militares - Relatório final. 2018. 140 p.
56
MENDONÇA, Olavo Freitas; DANTAS, George Felipe Lima. Um estudo de polícia comparada: Brasil e
Estados Unidos da América. 2016. Disponível em: <http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1446/um-
estudo-de-poliacutecia-comparada-brasil-e-estados-unidos-da-ameacuterica>. Acesso em: 08 set. 2018.
57
DANTAS, George Felipe de Lima. As polícias norte-americanas. Disponível em: <http://www.dpi.policia
civil.pr.gov.br/arquivos/File/aspoliciasnorteamericanas.pdf>. Acesso em: 08 set. 2018.
17
58
Ibid., n.p.
59
Ibid., n.p.
60
MOREIRA; CARVALHO, op. cit., p. 65.
61
SARTOR, SandiMuris de Medeiros. Os efeitos da realização do ciclo completo pela PMSC: Hipóteses e
desafios. 2016. 52 f. Monografia (Especialização) - Curso de Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, Centro de
Ciências da Administração e Socioeconômicas, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
18
A polícia francesa possui um modelo institucional que pode ser considerado misto, pois
possui uma polícia de caráter civil, como a Polícia Nacional, cuja atuação se concentra nas áreas
urbanas e tem a função tanto de polícia preventiva como judiciária e outra instituição policial
de caráter militar, conhecida como Gendarmaria Nacional, subordinada ao Ministério da Defesa
e Interior com atuações nas áreas rurais e interior do pais.62
Na França, apesar haver uma divisão institucional entre duas policias, uma civil e outra
militar, ambas possuem áreas definidas de atuação, mas ainda assim podem provocar a
sobreposições de ações. As instituições policiais francesas não dependem uma da outra para dar
início ou continuidade em seus processos policiais, ou seja, atuam de forma completa,
diminuindo com isso o tempo e os custos operacionais.63
62
MOREIRA; CARVALHO, op. cit., p. 38.
63
AGUIAR, Luiz Fernando. Modelo francês de polícia: Polícia francesa x Polícia brasileira. 2015. Disponível
em:<http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1330/modelo-frances-de-poliacutecia---poliacutecia-francesa
-x-poliacutecia-brasileira>. Acesso em: 02 set. 2018.
64
MOREIRA; CARVALHO, op. cit., p. 76.
65
Ibid., p. 80.
66
Ibid., p. 78.
19
locais onde não há PDI, as investigações costumam ficar com os próprios Carabineiros, que
auxiliam as vítimas, tomam depoimentos e desenvolvem um relatório circunstanciado ao
Ministério Público, o qual decidirá a continuidade das investigações do caso.67
Embora haja diferenças organizacionais nas instituições supracitadas, é possível
verificar algumas particularidades que a tornam semelhantes, como a continuidade do serviço,
possibilitando uma atuação de maneira completa, isto é, do início ao fim de um mesmo fato.
67
Ibid., p. 79.
68
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
69
Ibid., n.p.
70
BEATO FILHO, Claudio; RIBEIRO, Ludmila. Discutindo a reforma das polícias no Brasil. Civistas, Porto
Alegre, v. 16, n. 4, p.174-204, out. 2016. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.
php/civitas/article/view/23255>. Acesso em: 08 set. 2018.
71
Ibid., p. 175.
20
72
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
73
Ibid., n.p.
74
SAPORI, Luis Flávio. Como implantar o ciclo completo de polícia no Brasil? Revista Brasileira de
Segurança Pública, São Paulo, v. 10, p.50-58, fev. 2016. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/como-implantar-o-ciclo-completo-de-policia-no-brasil/>.
Acesso em: 02 ago. 2018.
75
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
76
BRASIL, Glaucíria Mota; ALMEIDA, Rosemary de Oliveira; ABREU, Domingos. Da unificação do comando
da segurança pública à integração das polícias no Ceará: Depoimento de policiais militares intrapares. In:
BARREIRA, Cesar (Org.). Questão de Segurança: Políticas governamentais e práticas policiais. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2004. Cap. 1, p. 43-44.
77
MAXIMIANO, A. C. A.2002 Teoria Geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. São
Paulo: Atlas.
21
No entanto, não é possível a realização de ações preventivas de forma isolada, pois para
isso, são necessários levantamentos de informações e até mesmo investigações, tanto para
atribuir a efetividade das operações quanto para garantir a segurança dos profissionais que
estarão expostos nas ruas. Do mesmo modo, durante os trabalhos investigativos ou execuções
de mandatos, é preciso que haja também a presença ostensiva das forças policias.78
A implementação do ciclo completo de polícia no Brasil em âmbito estadual exigiria a
alteração no artigo 144 da Constituição Federal através de uma emenda constitucional,
especificamente nos parágrafos § 4º e § 5º que dizem respeito às funções da Polícia Militar e
Polícia Civil.79
Uma proposta de implantação de ciclo completo seria a junção das Policias Civis e
Militares em cada unidade da Federação, criando assim uma única polícia estadual. Cada polícia
estadual estaria incumbida de realizar as funções de policiamento ostensivo, preservação da
ordem pública e de polícia judiciária, exercendo dessa forma o ciclo completo. Para que isto
78
SILVA, Jeferson Melo da; SCHIRMER, Candisse. Ciclo Completo de Polícia: Uma análise crítica do sistema
de segurança nacional. Disponível em: <http://www.domalberto.edu.br/wp-content/uploads/2015/10/CICLO-
COMPLETO-DE-POL%C3%8DCIA-UMA-AN%C3%81LISE-CR%C3%8DTICA.pdf>. Acesso em: 07 set.
2018.
79
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, op. cit. n.p.
80
SAPORI, op. cit., p. 53.
22
ocorra, seria necessário a determinação de um tempo específico para que cada unidade da
federação pudesse se adequar ao novo modelo constitucional.81
Silva Filho (2001, p. 3 e 4) elenca várias justificativas para a unificação, dentre elas:82
1) As atividades desenvolvidas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil não são tão
diferentes e distanciadas que precisem de estruturas organizacionais distintas.
2) As funções ostensivas e investigativas, para obtenção de êxito, devem se
interpenetrar desde a fase de planejamento das ações até sua execução.
3) A divisão de uma área de atuação policial entre dois chefes de diferentes padrões
de comportamento profissional, diferentes graus hierárquicos e diferentes salários e
submetidos a diferentes normas.
4) Estruturas distintas atuando no mesmo espaço em busca de solução para o mesmo
problema.
5) A moderna metodologia de diagnóstico dos problemas de uma área, mediante
banco de dados de análise criminal, demanda o planejamento de ações diferenciadas
para um mesmo padrão de crime, ora através do policiamento ostensivo (uma série de
roubos em farmácias da região praticados por assaltantes diferentes), ora através da
investigação (quando nessa série de roubos há identificação dos suspeitos);
6) Os custos operacionais e administrativos duplicados em razão das duplas estruturas
policiais
O caminho mais fácil para essa criação, seria a junção de recursos humanos, materiais
e logística das duas instituições, onde todo esse aparato passaria a compor uma nova polícia,
que necessariamente receberia um nome alternativo.83
Dessa forma cada estado da federação ficaria incumbido de estabelecer essa nova
polícia, criando novos planos de carreira, novos regimentos internos e uma nova hierarquia. Os
policiais que já estão na ativa seriam inseridos nesse novo sistema, passando a ocupar cargos e
hierarquia mediante critérios estabelecidos de transição instituídos pela legislação estadual. 84
Com efeito, não é um processo simples, tal unificação afeta diretamente interesses de
autoridades da área e vaidades institucionais. A cultura interna de cada corporação, representa
uma grande dificuldade a ser alcançada para conseguir essa unificação.85
81
Ibid., p. 53.
82
SILVA FILHO apud ANTONELLO, Taisa. Ciclo Completo de Polícia. 2015. 25 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Pós-Graduação em Altos Estudos de Segurança Pública, Universidade Estadual de
Goiás, Goiás, 2015. Disponível em: <https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/bitstream/123456789/430/8/
Ciclo%20Completo%20da%20Pol%C3%ADcia%20-%20Taisa%20Antonello.pdf>. Acesso em: 07 set. 2018.
83
SAPORI, op. cit., p. 54.
84
Ibid., p. 54.
85
Ibid., p. 54.
23
Outra opção para implementação do ciclo completo seria a divisão policial por tipo
penal, de modo que cada instituição ficaria responsável por parte dos crimes e contravenções
estabelecidas no código penal, concedendo atribuições ostensivas e investigativas, tanto as
policias militares, quanto as polícias civis, atuando ambas na mesma cidade.86
A literatura defende a ideia de que a Polícia Militar ficaria com os crimes de menor
potencial ofensivo, cujo a pena máxima não ultrapasse dois anos e a Polícia Civil com os crimes
mais violentos como os homicídios e latrocínios. No entanto, o grande problema dessa
organização seria o prestigiamento de uma instituição em relação a outra, tendo em vista que
determinados crimes se tornam mais relevantes do que outros, gerando, portanto, fortes
oposições das autoridades polícias hierarquicamente superiores.87
Embora haja críticas a esse modelo organizacional, atualmente é possível verificar uma
aproximação às práticas dessa estrutura através dos termos circunstanciados lavrados pelas
Polícias Militares em alguns estados da federação. O Termo Circunstanciado de Ocorrência
(TCOs) é um procedimento de natureza administrativa, de forma simplificada, previsto no
artigo 69 da Lei 9.099/95, Lei do Juizado Especial, que registra o resumo da ocorrência
de infração penal de menor potencial ofensivo.88
Quanto à lavratura do TCOs pela PM, podemos destacar algumas vantagens, dentre elas:
a) a resolução do conflito de forma mais célere, agilizando o atendimento no local da
ocorrência, evitando a condução das partes até a Delegacia de Polícia que muitas das vezes é
localizada distante do local da infração; b) a redução do tempo em que o policial militar fica
empenhado na ocorrência, podendo voltar mais rápido ao seu trabalho ostensivo e c) a liberação
do efetivo da polícia civil para as investigações de crimes mais graves.89
Atualmente, o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a lavratura dos
TCOs lavrado pela PM é que poderá ser instaurado por qualquer autoridade policial, como
sendo não somente a polícia judiciária, mas outros integrantes da segurança pública. Ainda com
86
Ibid., p. 56.
87
Ibid., p. 56.
88
Ibid., p. 56.
89
BRITO, Rafael Machado de. A eficiência do termo circunstanciado lavrado pela polícia militar do estado
de Santa Catarina. 2012. 58 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito, Centro de Ciências Jurídicas,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. Cap. 3. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/178869/TCC%20Rafael%20Machado%20de%20Brito
.pdf?sequence=1>. Acesso em: 07 set. 2018.
24
90
SILVA, Silas José da. A polícia militar pode lavrar termo circunstanciado de ocorrência? 2018.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/64419/a-policia-militar-pode-lavrar-termo-circunstanciado-de-
ocorrencia>. Acesso em: 07 set. 2018.
91
SAPORI, op. cit., p. 54.
92
Ibid., p. 55.
93
Ibid., p. 58.
25
No tocante ao ciclo completo, várias propostas de emenda à constituição (PEC) têm sido
sugeridas no Congresso Nacional, com intuito de fazer uma reforma estrutural no sistema de
Segurança Pública Brasileira.94
Nessa perspectiva, foi proposta a Emenda Constitucional de n° 430, tendo como
primeiro signatário o Deputado Celso Russomano, onde se propõe a alteração do texto
constitucional relacionadas a criação de uma nova polícia nos Estados e no Distrito Federal,
organizadas de forma única e desmilitarizada. O objetivo dessa proposta é desconstituir as
atuais Polícias Militares e Civis e criar uma polícia única, mais forte e mais motivada. Os
autores dessa PEC, acreditam que com sua aprovação as principais dificuldades hoje
encontradas em nossas instituições policiais acabariam.95
O quadro 1 apresenta algumas PECs compreendidas entre os anos 2009 a 2017 que estão
apensadas à PEC nº 430/2009.
94
FEDERAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES DE OFICIAIS MILITARES ESTADUAIS
(Florianópolis). Relatório apresentado das propostas de emenda constitucional sobre ciclo completo de
polícia é pela aprovação. 2017. Disponível em: <http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1609/
relatoacuterio-apresentado-das-propostas-de-emenda-constitucional-sobre-ciclo-completo-de-policia-eacute-
pela-aprovaccedilatildeo>. Acesso em: 08 set. 2018.
95
FEDERAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES DE OFICIAIS MILITARES ESTADUAIS, op cit., n.p.
26
96
BRASIL. Câmara dos Deputados. PEC 430/2009: Proposta de Emenda à Constituição. 2009. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=458500>. Acesso em: 08 set.
2018.
97
Ibid., n.p.
28
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AFONSO, José Roberto. (2017). Gastos públicos com segurança pública. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/322504474/download>. Acesso em: 19 ago. 2018.
AGUIAR, Luiz Fernando. Modelo francês de polícia: Polícia francesa x Polícia brasileira.
2015. Disponível em:<http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1330/modelo-frances-de-
poliacutecia---poliacutecia-francesa-x-poliacutecia-brasileira>. Acesso em: 02 set. 2018.
BECKER, Kalinca Léia; KASSOUF, Ana Lúcia. Uma análise do efeito dos gastos públicos
em educação sobre a criminalidade no Brasil. Economia e Sociedade, [S.l.], v. 26, n. 1, p.
215-242, jun. 2017. ISSN 1982-3533. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/
index.php/ecos/article/view/8649653/16148>. Acesso em: 19 ago. 2018.
BRASIL. Câmara dos Deputados. PEC 430/2009: Proposta de Emenda à Constituição. 2009.
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?id
Proposicao=458500>. Acesso em: 08 set. 2018.
BRASIL. Coleção das Leia do Império do Brasil de 1831. Lei de 18 de agosto de 1831 – Crêa
as Guardas Nacionaes e extingue os corpos de milícias, guardas municipaes e ordenanças.
Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 47.
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1808. Alvará de 10 de maio de 1808 -
Crêa o lagar de Intendente Geral da Policia da Côrte e do Brazil. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1891, p. 26.
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1809. Decreto de 13 de maio de 1809 -
Crêa a divisão militar da Guarda Real da Policia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1891, p. 54.
30
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1832. Lei de 29 de novembro de 1832 –
Promulga o Codigo do Processo Criminal de primeira instancia com disposição provisória
acerca da administração da Justiça Civil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 186.
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1855. Decreto nº 641, de 26 de junho e
1852 – Autorisa o Governo para conceder a huma ou mais companhias a construcção total
ou parcial de hum cminho de ferro que, partindo do Municipio da Côrte, vá terminar nos
pontos das Provincias de Minas Geraes e S. Paulo, que mais convenientes forem. Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1891, p. 5.
BRITO FILHO, Nerino Mariano de. As vantagens do ciclo completo de polícia através do
distrito modelo e do juizado de instrução e garanti. 2016. 72 p. TCC (Graduação) - Curso
de Direito, Centro de Ciências Jurídicas, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2016.
BRITO, Rafael Machado de. A eficiência do termo circunstanciado lavrado pela polícia
militar do estado de Santa Catarina. 2012. 58 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito,
Centro de Ciências Jurídicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.
Cap. 3. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/178869/
TCC%20Rafael%20Machado%20de%20Brito.pdf?sequence=1>. Acesso em: 07 set. 2018.
COSTA, Cláudio Pinheiro da. Carreira única na Polícia Civil: O princípio da eficiência da
administração pública como alicerce de uma polícia moderna. 2017. 117 f. TCC (Graduação)
- Curso de Direito, Universidade Federal do Pará, Belém, 2017.
31
FILHO, Cláudio Filho; RIBEIRO, Ludmila. Discutindo a reforma das polícias no Brasil.
Civitas - Revista de Ciências Sociais. vol. 16, no. 4, 2016, pp. 174-204. Disponível em: <
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=74249592009>. Acesso em: 22 ago. 2018.
LIMA, Renato Sérgio. Efetividade nas Políticas de Segurança Pública: o que funciona
segundo as boas práticas nacionais e internacionais. Boletim de Análise Político-
Institucional. n.11. 2017. Acesso em: 19 ago. 2018.
MARCHI, Luiz Fernando Oliveira de; SÁ, Vinícius Valdir de. A investigação realizada pela
Polícia Militar no combate do crime de tráfico de drogas: uma medida de urgência na
preservação da ordem pública. 2016. Disponível em:
<http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1495/a-investigaccedilatildeo-realizada-pela-
poliacutecia-militar-no-combate-do-crime-de-traacutefico-de-drogas-uma-medida-de-
urgecircncia-na-preservaccedilatildeo-da-ordem-puacuteblica>. Acesso em: 08 set. 2018.
SAPORI, Luis Flávio. Como implantar o ciclo completo de polícia no Brasil? Revista
Brasileira de Segurança Pública, São Paulo, v. 10, p.50-58, fev. 2016. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/como-implantar-o-ciclo-completo-de-
policia-no-brasil/>. Acesso em: 02 ago. 2018.
SILVA, Gabriela Galiza e; GURGEL, Yara Maria Pereira. A polícia na Constituição Federal
de 1988: apontamentos sobre a manutenção de um órgão militarizado de policiamento e a sua
incompatibilidade com a ordem democrática vigente no Brasil. Revista Brasileira Segurança
Pública, São Paulo, v. 1, n. 10, p.142-158, mar. 2016.
SILVA, Jeferson Melo da; SCHIRMER, Candisse. Ciclo Completo de Polícia: Uma análise
crítica do sistema de segurança nacional. Disponível em: <http://www.domalberto.edu.br/wp-
content/uploads/2015/10/CICLO-COMPLETO-DE-POL%C3%8DCIA-UMA-
AN%C3%81LISE-CR%C3%8DTICA.pdf>. Acesso em: 07 set. 2018.
SILVA, Silas José da. A polícia militar pode lavrar termo circunstanciado de
ocorrência? 2018. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/64419/a-policia-militar-pode-
lavrar-termo-circunstanciado-de-ocorrencia>. Acesso em: 07 set. 2018.