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WILLIAM PAISANO JATO Nº USP: 8113550

Fichamento: Caso Favela Nova Brasília

Trata-se de um caso em que durante uma operação policial realizada em 1994, três
jovens, duas menores de idade à época, com 15 e 16 anos, teriam sido estupradas por
policiais. De acordo com a decisão da Corte, a violência sexual, jamais apurada nem punida,
terá de ser investigada. Uma primeira chacina, em outubro de 1994, resultou de uma operação
comandada pela Polícia Civil em busca de carros roubados, armas e drogas. A polícia informou
que as mortes resultaram de confronto e registrou-as como "auto de resistência". Diversas
vítimas foram mortas com tiros na cabeça. Uma comissão independente montada pelo
governo do Rio à época apontou sinais de execução sumária.

Em maio de 1995, a Polícia Civil comandou nova operação na Nova Brasília e, de


novo, a versão oficial foi de que as mortes ocorreram num tiroteio entre policiais e traficantes.
Os dois inquéritos foram enviados ao Ministério Público e arquivados. ONGs como o Cejil
(Centro pela Justiça e o Direito Internacional), Human Rights Watch e Iser (Instituto de Estudos
da Religião) levaram os casos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.

A decisão da Corte é significativa por ser a primeira responsabilização do Brasil num


caso de violência policial. Também é relevante o destaque dado ao estupro das três jovens
moradoras de Nova Brasília. A Corte não só reconhece que houve violência sexual por parte de
agentes do Estado - o que caracterizaria uma forma de tortura - como cobra a investigação,
jamais realizada.

Ao contextualizar a violência urbana no Brasil, a Corte aponta a situação de


vulnerabilidade de jovens, negros e pobres, mas também de mulheres: "As mulheres
residentes em comunidades onde há 'confrontos' geralmente deparam uma violência
particular, e são ameaçadas, atacadas, feridas, insultadas e, inclusive, objeto de violência
sexual em mãos da polícia". A Corte defende que haja o que chama de "perspectiva de gênero"
nas investigações de violência sexual, com a presença de funcionários públicos capacitados e
apoio psicológico às vítimas, além de garantias de segurança necessárias.

As medidas de reparação incluem a realização de um ato de reconhecimento, com a


instalação de uma placa com os nomes das vítimas na praça da favela Nova Brasília, e o
pagamento de indenização compensatória, no prazo de um ano, a parentes das vítimas de
assassinato e às vítimas de violência sexual.
No entendimento da Corte Interamericana, houve demora injustificada nas
investigações, e as famílias das vítimas ficaram sem proteção. Isso viola o direito às garantias
judiciais de diligências em prazos razoáveis, como prevê a Convenção Interamericana de
Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

A Corte aponta ainda que o Estado brasileiro aceitou uma "inversão de papéis": os
inquéritos, ao invés de apurar as mortes, se detêm no perfil dos mortos, apontados como
possíveis criminosos, e eles é que aparecem como investigados.

A Corte deu as seguintes recomendações ao Estado Brasileiro:

 Conduzir investigação exaustiva e imparcial;


 Adotar todas as medidas necessárias para a compensação dos danos
materiais e morais;
 Eliminar imediatamente a prática de registrar automaticamente as mortes
provocadas pela polícia como “resistência à prisão”;
 Erradicar a impunidade da violência policial;
 Estabelecer sistemas de controle e prestação de contas internos e externos
para tornar efetivo o dever de investigar;
 Implementar planos para modernizar e profissionalizar as forças policiais,
assegurando a responsabilização por abusos do passado;
 Capacitar adequadamente o pessoal policial sobre como tratar de maneira
efetiva e eficiente as pessoas oriundas dos setores mais vulneráveis da
sociedade;
 Regulamentar legalmente, tanto no aspecto formal como no material, os
procedimentos policiais que envolvam uso legítimo da força.

Participaram como amici curiae: Defensoria Pública da União; Núcleo de Direitos


Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Instituto HEGOA, Universidade
do País Basco; Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do
Estado de São Paulo.

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