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“Lei de drogas”: Lei 11.

343, de 2006:
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad
Art. 3º O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades
relacionadas com:
I - A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de
drogas;
II - A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

Como mostra a lei 11.343/06, o combate às drogas é visto como instrumento


necessário para erradicar o consumo dessas substâncias que geram dependências,
contudo, esse mecanismo traz um preço alto para a sociedade. A polícia muitas
vezes se utiliza dessa legitimidade do combate às drogas, para justificar as
violências e os abusos de poder. O que deveria ser um instrumento de proteção
para as pessoas, se torna um sistema que mata, oprime e violenta em escalas bem
maiores que a das vítimas das drogas. O termo que se tornou sinônimo a esse
combate e que é utilizado em diversos artigos é o de “guerra às drogas”, sendo uma
realidade no Brasil. A polícia brasileira possui recorde mundial de mortes em
intervenções policiais, por isso, o termo guerra se encaixa com o contexto vivido no
Brasil, a polícia em diversas situações se mostra como instituição focada em um
combate violento contra os cidadãos, tratando-os muitas vezes como inimigos.
Segundo Valois (2016, p. 404) “o estado de guerra em que a política de drogas
colocou a sociedade, transformando todos em inimigos ou vítimas em potencial, faz
da polícia o único símbolo de ordem.” Esse é o preço pago pela sociedade, que em
diversos casos acabam morrendo sem sequer estar envolvidos com o tráfico. Essa
lei trouxe insegurança, mas não para a sociedade no geral. Estatisticamente falando,
os mais atingidos com o aumento da letalidade policial nessa caça às drogas foram
pessoas pobres, jovens, homens e negros.

Mas afinal, será que o combate às drogas veio para beneficiar ou não a sociedade?
Muitos estudos apontam um aumento no índice de violência, essa violência se torna
maior do que a própria violência que o estado visa combater. Isso ocorre porque é
uma forma legitimada de controle e justificada pela sua finalidade, que é a
prevenção e repressão do uso e da produção não autorizada. Por consequência
desse combate violento, cada vez mais existe uma fortificação do tráfico, que lida
com a repressão, muitas vezes ilegítima da polícia, com mais violência.
O Brasil é um estado democrático de direito como está prescrito na constituição de
88, por isso existem diversas leis e princípios que defendem a dignidade humana e a
humanização. A partir do momento que as forças policiais fogem do que está contido
na carta magna, se torna uma força de coerção ilegítima. O que é mostrado em
diversas reportagens que abordam sobre o uso indevido da força policial, a morte de
pessoas muitas vezes inocentes, entre outras situações.
Um exemplo muito importante de ser citado foi a chacina que ocorreu na favela do
jacarezinho, no estado do RJ. Uma operação que teve como finalidade o combate
ao tráfico de drogas, ficou conhecida como a operação policial que teve o maior
números de mortes da história do município, foram 28 vítimas. Entre esses cidadãos
que perderam a vida, pode-se analisar a seletividade e os padrões dos policiais,
sendo todas as vítimas jovens, negros, homens e pobres. Contudo, mesmo com as
estatísticas e as comprovações de abusos de poder, quando se trata dos direitos
fundamentais, como exemplo o direito à vida, a maioria dos policiais envolvidos
saem impune dessas situações. O assunto de menor repercussão nessas situações
é a forma que a polícia agiu, se a forma da abordagem realmente foi lícita ou ilícita.
O que realmente é discutido é sobre o cidadão, se ele era ou não traficante, e que
em muitas das vezes morre sem ao menos estar fazendo algo ilícito, mas por
abordagens ilícitas e abusos de poder dos próprios defensores da ordem.
É possível observar a militarização da vida cotidiana, sendo o combate às drogas
uma forma ideológica de política para mascarar a opressão policial, que como em
uma guerra, trata em diversas situações a população como inimigos. Tendo como
principal foco, a população pobre e negra, que sofre com diversos desrespeitos
quando se trata das garantias previstas pela Constituição, sendo alvos de ações
violentas da polícia, justificadas pelo combate das drogas.

“Não há como esperar verdade ou justiça de quem tortura, e a


violência perpetrada na sombra de uma junção legal, enquanto
cega para qualquer alternativa de vida, cega para qualquer
alternativa política. As evidências da falência da guerra às
drogas parecem não existir para a polícia, pelo menos para a
polícia que já não se diferencia do traficante em termos de
práticas legais. Nem para a população que, não tendo em
quem acreditar, segue o discurso de ordem que paira sobre a
prática policial, mesmo desconfiando, mesmo com medo.”
(Valois,2016, p. 373)

O deputado estadual Carlos Minc, propôs a criação de programas destinados à


sensibilização e ao encaminhamento para o tratamento de tóxico dependentes e
acrescentou que a questão das drogas deveria ser tratada na esfera de saúde
pública. Tendo como motivação para essa proposta os genocídios que possuem a
marca do proibicionismo.
Referências:

VALOIS, Luís Carlos O direito penal da guerra às drogas

https://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2021/03/30/a-guerra-as-drogas-e-o-motor-
oculto-do-tragico-fracasso-brasileiro.htm

https://www.conjur.com.br/2021-mai-16/maronna-abreu-guerra-drogas-massacre-
jacarezinho

https://journals.openedition.org/polis/21039?lang=pt

https://ponte.org/letalidade-policial-no-brasil-tem-a-marca-da-proibicao-das-drogas-
afirma-delegado/

https://ponte.org/a-guerra-as-drogas-legitima-a-violencia-policial/

https://www.researchgate.net/profile/Maria-Paula-Santos-2/publication/
352974704_Uma_Linha_de_Pesquisas_sobre_Politicas_de_Drogas_no_Ipea/links/
61097bf21ca20f6f86fcaf9d/Uma-Linha-de-Pesquisas-sobre-Politicas-de-Drogas-no-
Ipea.pdf

http://repositorio.fdv.br:8080/bitstream/fdv/1029/1/6830-21680-3-PB.pdf

https://www.scielo.br/j/rap/a/xV4vjS9GbnS4SBGNQSssHwn/?lang=pt

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