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MILITARIZAÇÃO NA QUARENTENA: O

GENOCÍDIO COMO ATIVIDADE


ESSENCIAL DO ESTADO
Notas sobre a segurança pública do Rio de Janeiro e o lugar social do negro no capitalismo
dependente.

Tálison Vasques, militante do PCB e do Coletivo Negro Minervino de Oliveira.

“A cidade do colonizado, ou pelo menos a cidade


indígena, a cidade negra, a médina, a reserva, é um
lugar mal afamado, povoado de homens mal
afamados. Aí se nasce não importa onde, não importa
como. Morre-se não importa onde, não importa de
quê. É um mundo sem intervalos, onde os homens
estão uns sobre os outros, as casas umas sobre as
outras. A cidade do colonizado é uma cidade faminta,
faminta de pão, de carne, de sapatos, de carvão, de
luz. A cidade do colonizado é uma cidade acocorada,
uma cidade ajoelhada, uma cidade acuada. É uma
cidade de negro, é uma cidade de árabes [...]” - Frantz
Fanon [1]

Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, durante os meses de abril e maio de 2020, o estado
do Rio de Janeiro aumentou em 27,9% o volume das operações policiais de repressão ao tráfico de
drogas e produziu 53% a mais em mortes do que no mesmo período do ano anterior [2].

Essas são informações que podem parecer corriqueiras para quem conhece o estado de normalidade
da política de guerra às drogas no estado do Rio de Janeiro - que essencialmente produz confrontos e
mortes - porém são dados que saltam aos olhos quando sabemos que vivemos uma das piores
pandemias da história da humanidade, frente a qual o Estado do Rio, em resposta imediata, foi um
dos primeiros do país a decretar a quarentena e estimular o isolamento social, alegando a intenção
de preservar, assim, a vida de milhares de cidadãos fluminenses. A pandemia, que no mundo todo
reduziu o ritmo da produção capitalista às “atividades essenciais”, não foi capaz de quebrar a
normalidade fúnebre da política de segurança de Wilson Witzel, que mesmo quando diz defender a
vida promove a morte.

O curioso e terrível “paradoxo de Witzel” nos impõe debruçar-nos mais uma vez sobre as raízes da
violência do Estado brasileiro, a buscar o que se encontra sob a pele da ideologia de política de guerra
às drogas, e a reexaminar o racismo e genocídio da população negra e pobre no Brasil, já que, afinal,
esses mortos têm cor e classe social muito específicas. Mas, acima de tudo, a contraditória política de
Witzel nos obriga a lançar a luz da economia política marxista sobre o histórico recente das políticas
de segurança do Estado, a fim de contribuir na identificação do lugar do assassinato em massa de
pessoas negras na dinâmica geral do capitalismo brasileiro atual e entender por que o genocídio é
uma atividade essencial do Estado, mesmo em um período em que os olhos do mundo estão todos
voltados para uma crise sanitária sem precedentes no nosso tempo.

CICLO DOS GRANDES EVENTOS, GUERRA ÀS DROGAS E O PÂNICO MORAL DA SEGURANÇA PÚBLICA

O genocídio e encarceramento da juventude negra são dois dos temas mais recorrentes do debate
público da esquerda mundial nos últimos anos. Travestida de Guerra às Drogas e imbuída no que o
sociólogo e pesquisador da questão racial jamaicano Stuart Hall chamou de pânico moral na segurança
pública, governos ocidentais, tanto de países de centro quanto de países da periferia do capitalismo,
tem lidado com as massas negras nativas ou migrantes com políticas cada vez mais radicais e
abrangentes de encarceramento e assassinato, produzindo um efeito cíclico onde quanto mais a
violência empurra essas populações para a marginalidade, mais intensa se torna a repressão do
Estado.

O Brasil se tornou nos últimos anos o centro desse debate, por alguns motivos ,dentre os quais
podemos citar: A) temos a maior população afrodescendente fora do continente africano, [3] oriunda
do emprego do tráfico transatlântico de escravizados no período acumulação primitiva do capitalismo
mundial e em parte da sua fase industrializada, culminando aqui em mais de 300 anos de escravidão
seguidos de uma abolição mal-concluída, onde os abolidos do trabalho escravo foram também
abolidos dos meios de produção da sua própria sobrevivência, não incluídos no mundo do trabalho
tipicamente capitalista - este ocupado por imigrantes brancos - e alijados de qualquer possibilidade
de fuga da marginalidade e ascensão social; B) vivemos uma das mais intensas e prolongadas
experiências de guerra às drogas do mundo, que persiste desde a passagem do modelo sanitário na
política de drogas do Estado para o modelo bélico em 1964, quando a Lei de Segurança Nacional do
Regime Militar passou a tratar os traficantes como inimigos do Estado [4]; C) temos a terceira maior
população carcerária do planeta, com 773.151 presos - dos quais 33% sem condenação [5] - além de
uma das maiores taxas de homicídios do planeta (31,59 assassinatos por 100 mil habitantes). A grande
maioria dessas mortes (5.804 em 2019) é produzida pela atuação policial. Detalhe: 75% do total de
todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2017 eram negras [6].

No Rio de Janeiro essa lógica se reproduz de forma exemplar. Laboratório das políticas de segurança
pública a nível nacional, o estado apresentou um aumento exponencial no número de presos e mortos
durante período dos megaeventos (2007 – 2016), ciclo do capital impulsionado pela realização dos
Jogos Pan-americanos, da Copa do Mundo FIFA e dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que traria grandes
transformações a cidade do Rio, a partir, principalmente, do largo estímulo ao comércio, turismo e
especulação imobiliária. Neste período, a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)
nas comunidades das Zonas Sul e Norte, além de no Centro e em Jacarepaguá, serviram para apoiar
não só a criação de espaços “seguros” para os turistas e consumidores desses eventos, mas também
para dar novo impulso à atividade imobiliária da cidade, que mudava de cara com as grandes obras de
infra-estrutura urbana e revitalização, de inspiração claramente higienista, baseadas sobretudo na
militarização do espaço urbano e em uma larga política de remoções.

Para apoiar essa política de militarização e higienismo, a mídia burguesa cumpriu um papel
fundamental na criação de um pânico moral, categoria usada por Stuart Hall para descrever o papel
dos aparelhos de hegemonia burguesa na manipulação da opinião pública no sentido da criação de
uma impressão moral negativa acerca de grupos sociais marginalizados ou de seus elementos culturais
e estéticos, a partir da sua associação com problemas de ordem política e econômica do país, como o
desemprego e a segurança pública [7].
Em qualquer dia da primeira metade da década de 2010 era possível ver, tanto na televisão quanto
nos principais jornais brasileiros, imagens de traficantes ostentando armas de guerra, das
cracolândias, dos arrastões nas vias expressas e dos “menozinhos do coreto” praticando furtos nas
calçadas e nas praias cariocas, tudo seguido das atualizações sobre os preparativos para os grandes
eventos esportivos, o que sempre deixava a sutil impressão de que algo precisava ser feito. Em 2015,
um conjunto de empresários descontentes com a perda de lucros por problemas com roubos a
pedestres na Lagoa Rodrigo de Freitas, contratou, junto ao sindicato patronal da Federação do
Comércio do Estado do Rio de Janeiro (FECOMERCIO-RJ), os serviços de policiais militares em dias de
folga – com o aval da secretaria de segurança do Estado - para a retirada de moradores de rua e o
patrulhamento da região [8]. Estava consolidada aí a ideia central do projeto Segurança Presente, que
se espalhou pela cidade buscando limpá-la das “classes perigosas” do século XXI e responder ao pânico
moral dos empresários do comércio.

Mas este pânico moral da segurança pública do Rio não surgia solto na atmosfera racial da cidade e
nem era apropriado somente de forma espontânea como no caso dos comerciantes da Zona Sul. Era,
na verdade, especialmente direcionado às comunidades que abrigavam a população mais negra e mais
pobre, criando assim um inimigo que tem rosto bem definido no imaginário popular. Especialmente,
um inimigo do qual não se poderia se livrar facilmente, uma vez que sempre havia outro para ocupar
seu lugar no universo do crime, e que, mesmo sem uma política oficial do Estado de segregação e
genocídio, deveria ser preso ou “abatido” pelas forças policiais. Como resposta a essa necessidade de
uma política centralizada de eliminação e repressão dos indesejáveis, a política das UPPs e a
“revitalização” da região central da capital caíram como luvas para a opinião pública moldada pelo
alarmismo de programas como o RJTV 1ª Edição e pelo Balanço Geral.

Além de expulsar para as áreas mais remotas da Zona Oeste e da Baixada Fluminense os grupos
criminosos que mais perigo ofereciam ao andamento dos grandes eventos, as UPPs ainda ocupavam
grandes áreas que até então eram conhecidas por produzir bandidos às centenas. As imagens do
plantão jornalístico da Rede Globo no dia 28 de novembro de 2010 - quando o Exército de Lula
emprestado a Sérgio Cabral se juntou ao BOPE, invadiu o Complexo do Alemão e expulsou centenas
de traficantes do Comando Vermelho, que fugiram pela mata - foram um grande salário moral pago
ao conservadorismo que crescia, não só entre os empresários do comércio, mas também nos setores
médios e de trabalhadores da cidade.

O aparato de controle social dos pobres estava finalmente atualizado, não só com uma nova política
oficial e com novos instrumentos, mas também sob novo consenso público que o justificava. A guerra
as drogas adquiria nova roupagem, cujo resultado logo se verificaria na contagem de corpos: somente
entre 2010 e 2015, período de implantação de 39 das 42 UPPs no Rio até então, a PM do Rio de Janeiro
registrou 3.250 autos de resistência (resistência à prisão seguida de morte) [9].

No período imediatamente posterior, eventos políticos e econômicos a nível nacional trariam algumas
mudanças nas políticas de segurança do Rio que além de não alterar seu caráter violento,
influenciaram seu método e principalmente a intensidade de suas ações, motivo pelo qual foram
fundamentais no caminho que percorremos até aqui. O início da recessão, em 2015, o golpe
parlamentar sobre a presidente Dilma Rousseff em 2016 e o aprofundamento das políticas de ajuste
fiscal, das privatizações e do desmonte da CLT - resposta à necessidade de retomada das taxas de
lucro globais a patamares pré-crise de 2008 - intensificaram ainda mais as já profundas contradições
do capitalismo brasileiro. Só em 2016 eclodiram 2.093 greves em território nacional, sendo 81% dessas
de caráter defensivo, ou seja, contra a perda de direitos e condições de trabalho previamente
adquiridos [10]. O acirramento da crise, porém, não foi sentido da mesma forma por todos.
Já em 2018 64,6% dos desempregados eram pretos ou pardos. Enquanto a taxa de desemprego entre
os brancos atingia 9,2% - abaixo da média geral que era de 11,6% - a desocupação entre os pretos e
pardos era de 14,5% e 13,3% respectivamente [11]. Aqui, antes de prosseguirmos na análise das
políticas de segurança pública, precede uma reflexão mais profunda sobre a tendência a maior
desocupação das populações negras e pardas e sua relação com a natureza do capitalismo brasileiro.

O EXCEDENTE DE MÃO DE OBRA

O Brasil enquanto um país que nunca alcançou o patamar de estado de bem-estar social por conta da
sua condição capitalista dependente, nunca reparou historicamente a questão negra, ao contrário, os
descendentes dos escravizados brasileiros foram inseridos sempre de forma marginalizada nos
diversos ciclos do capital desenvolvidos por aqui. Isso fez com que a população negra, além de
marginalizada no espaço urbano - segregada nas favelas e periferias – também participasse de forma
precária dos ciclos de escolarização promovidos pelo Estado, o que resultou em uma baixa taxa de
especialização para o trabalho em comparação com a população branca. Essa condição, junto a outros
fatores historicamente determinados de ordem econômica, política e da subjetividade, constituem o
que o filósofo marxista Silvio de Almeida chama de Racismo Estrutural [12]. Ou seja, a condição
estrutural em que o Estado brasileiro, funcionando na sua normalidade – sob governos conservadores
ou progressistas, em momentos de crescimento econômico ou de crise, com ou sem liberdades e
garantias democráticas instituídas – tende a reproduzir, na própria natureza do seu universalismo
jurídico, a desigualdade racial.

Porém outra abordagem da estruturalidade do racismo no Brasil nos chama atenção. De acordo com
a Teoria Marxista da Dependência, apropriada aqui a partir do escrito clássico “Dialética da
Dependência” de Ruy Mauro Marini, por conta da sua posição periférica no cosmos da divisão
internacional do trabalho, da transferência de valor para as economias centrais no mercado mundial
e da conseqüente superexploração da força de trabalho para a recomposição interna desse valor
perdido, o capitalismo brasileiro se constitui como um capitalismo tipicamente subdesenvolvido, isto
é, que mesmo a partir dos mais diversos esforços de industrialização e desenvolvimento, se insere
sempre de forma subalterna na divisão internacional do trabalho e nunca tem o valor que produz
realizado na sua própria economia. Mas, sobretudo, o capitalismo brasileiro produz e reproduz, a
partir principalmente da superexploração da força de trabalho, desigualdades sociais não identificadas
em nenhuma experiência central do capitalismo [13]. Entre essas desigualdades, o economista e
professor adjunto da Universidade Federal de Goiás Pedro Henrique Evangelista Duarte destaca em
seu recente trabalho “Superpopulação relativa, dependência e marginalidade: ensaio sobre o
excedente de mão de obra no Brasil” a produção de um vasto excedente de mão de obra como
característica fundamental da nossa formação histórica e social [14].

Este excedente de mão de obra pode ser entendido, dentro da própria dimensão dependente do
nosso capitalismo, a partir da categoria marxiana de superpopulação relativa [15], que é, grosso modo,
o conjunto populacional produzido constantemente pelo desenvolvimento do capital - especialmente
pela sua tendência ao incremento do capital constante (máquinas e matérias primas) em detrimento
do capital variável (força de trabalho humana) - e que por diversos motivos não está empregado em
atividades tipicamente capitalistas, se tornando assim um excedente da mercadoria força de trabalho.
No Brasil essa tendência se torna mais intensa e estrutural a partir da não realização, nos limites do
nosso mercado, do valor produzido internamente, que interrompe a formação de cadeias
suplementares de produção, tornando a industrialização desigual, orientada pelas necessidades das
economias centrais e com pouca capacidade de assimilação da força de trabalho excedente em novos
ciclos de desenvolvimento.

A IDENTIDADE, O DOMICÍLIO, A REPRESSÃO E O DESCARTE DA MÃO DE OBRA MARGINAL


No contexto da formação social do Brasil e da abolição - considerado o ato final de passagem de um
modo de produção escravista tardio para o capitalismo dependente – o intelectual marxista Clóvis
Moura percebe que a mão de obra escravizada negra foi finalmente substituída pelo trabalho
assalariado tipicamente capitalista dos imigrantes brancos. Essa substituição sem gradações numa
economia essencialmente agro-exportadora, já dependente e modelada pelo imperialismo,
transformou as massas trabalhadoras negras numa franja marginal [16], categoria cunhada por Moura
para definir uma larga camada social sem função definida no capital e que transita entre as
superpopulações relativas estagnadas e o completo pauperismo. Essa superpopulação superava
amplamente o contingente necessário para um exército industrial de reserva em um capitalismo
atrofiado pela dependência. Sobretudo, uma gigantesca massa de desvalidos que tinha em si uma
capacidade sem precedentes de baixar os salários dos trabalhadores assalariados brancos, processo
fundamental para restituição à burguesia interna do valor perdido no mercado mundial.

Considerando essa composição na formação social clássica do mundo do trabalho no capitalismo


dependente brasileiro, não é difícil deduzir quem, 132 anos após a abolição, permanece enquanto
franja marginal na dinâmica das cidades contemporâneas.

As camadas negras, mais pobres, com baixa escolaridade - que descendem mais diretamente dos
abolidos do trabalho escravo sem indenização e que no Rio de Janeiro ocuparam historicamente as
encostas, favelas, cortiços e alagados, além de regiões periféricas das Zonas Oeste e Norte da capital,
da Baixada Fluminense - formam essa superpopulação relativa estagnada e / ou o pauperismo.

A despeito da sua subutilização no chamado mercado de trabalho formal, essas pessoas se inserem
de forma irregular em atividades marginais do capitalismo, especialmente nos ciclos de circulação
mais elementar da moeda entre os próprios trabalhadores. São os camelôs, as babás, manicures,
domésticas, traficantes do varejo de drogas, catadores, pedreiros e serventes autônomos, prostitutas,
biscateiros, etc., ou seja, uma grande massa indistinta de gente que vive destituída da categoria
econômica de salário e que a ideologia neoliberal vigente insiste em chamar de
“microempreendedores individuais”, mas que, contraditoriamente, formam a base da classe
trabalhadora brasileira. Essas pessoas, enquanto escrevo este texto, somam 41,3% de toda a força de
trabalho no Brasil [17].

Em um contexto de crise sistêmica do capital, a urgência da retomada do crescimento das taxas de


lucro tensionaram os operadores do estado burguês, com um dilema que se estabelecia entre
radicalizar o neoliberalismo e manter a relação entre consenso e coerção equilibrados. Esse dilema
não resolvido pelo presidencialismo de coalizão petista não só aprofundou a crise na reprodução do
capital, como tornou irreversível a crise terminal do estado democrático de direito (para as classes
que algum dia tiveram acesso a ele).
O golpe parlamentar de 2016 resolveu este dilema com a radicalização do modelo neoliberal,
suportada num poderoso controle das massas baseado em pânicos morais (a corrupção, o anti-
petismo, a ideologia de gênero, as drogas, a violência urbana, etc.) e na escalada da repressão violenta
preventiva das classes sociais mais pobres, de mão de obra sobressalente, a fim de discipliná-las.

No nível das identidades, essas populações são absolutamente distinguíveis dentro da massa massa
populacional brasileira. Além de serem, em maioria, formadas por pretos e pardos, dentre essas
populações vive a maioria das travestis e transsexuais (o grupo mais excluído do mundo brasileiro do
trabalho), das mães solos e mulheres negras (que têm os piores níveis de salário e emprego). E
também nesse grupo que incide mais fortemente o problema das drogas e onde estão estabelecidos
os principais grupos de varejo delas.
Todas essas pessoas, como já dito, vivem segregadas nas comunidades carentes de cidades cindidas
[18], ou seja, num espaço urbano facilmente identificável e que concentra os principais alvos do pânico
moral disseminado pelos aparelhos de hegemonia da classe dominante. Não é a toa que, apesar dos
principais atacadistas das drogas viverem em condomínios nas áreas nobres da cidade, as grandes
operações de repressão ao tráfico ocorrem nas comunidades onde elas são vendidas a varejo. A
questão da guerra as drogas se mostra assim um elemento absolutamente ideológico. Um
falseamento da realidade que oculta e/ou justifica o assassinato de dezenas de milhares de pessoas
por ano, num processo histórico voltado para o controle das massas mais violentadas e, por isso, mais
perigosas a hegemonia liberal burguesa, e que serve colateralmente ao descarte de um excedente da
mão de obra indesejável ao mercado.

WITZEL, A MORTE DAS UPPS E A ENCARNAÇÃO DA POLÍTICA DE CONFRONTO

Compreender a ascensão de Wilson Witzel e seu exercício do poder é tarefa para um trabalho
específico, dada a complexidade que envolve a ascensão de políticos da extrema-direita e seu modo
de operação do estado, de forma que vou me limitar a apenas apresentá-lo e debater brevemente,
no escopo das políticas de segurança, como ele encarnou o atual cenário do estado policial do Rio.

Juiz federal desde 2001, pouca gente levou a sério quando Witzel lançou sua candidatura a governador
do Rio pelo PSC em 2018, especialmente porque concorria com nomes mais conhecidos da política do
estado como o ex-prefeito da capital, Eduardo Paes, e o ex-senador Romário. Mas tudo mudaria
quando, ao notar o maior fenômeno eleitoral dos últimos anos, Witzel se atrela ao então candidato à
presidência da república Jair Bolsonaro e é arrastado a uma vitória arrasadora. A dobradinha Witzel –
Bolsonaro arrancou impressionantes 70% dos votos em várias regiões do estado. O discurso de ambos
dava respostas ao que havia se transformado no pânico moral construído pelos aparelhos de mídia
burgueses durante toda a década: um monstruoso complexo ideológico de extrema-direita que agora
se voltava contra esses mesmos monopólios de mídia, inclusive assombrando setores liberais da classe
média e de uma certa burguesia “esclarecida”, que muito havia se beneficiado da ideologia de guerra
às drogas e do sufocamento das camadas mais pobres da população.

Em entrevista concedida ao Estado de São Paulo em novembro de 2018, o recém eleito governador
deu a declaração que, a meu ver, sintetiza e ilustra o paradigma da segurança pública do Rio em
tempos de avalanche neoliberal. Ao ser questionado pelo jornal se a execução sumária de suspeitos
armados era a conduta correta de um agente de segurança pública do estado Witzel disparou: “O
correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e...
fogo! Para não ter erro...” [19].

Por mais absurda que seja, a frase de Witzel não foi um blefe. Durante o seu primeiro ano de mandato
a polícia do Rio de Janeiro bateu recordes de produtividade, com 1.810 pessoas executadas, o número
mais alto desde o início dos registros em 1998 [20]. Embora o confronto e o assassinato de suspeitos
tenha tido sua expressão máxima sob o comando de Witzel, não se pode dizer que esse novo protocolo
de ação das forças policiais tenha sido criado por ele.

Em 2018, o Rio de Janeiro ainda sob o governo de Luiz Fernando Pezão (MDB) sofre uma Intervenção
Federal, de caráter militar, na segurança pública que sepulta de vez o modelo moribundo das UPPs e
estabelece uma política de incursões diárias da PM e do Exército nas principais comunidades do
estado. O resultado dessa política, como não poderia deixar de ser, é um aumento vertiginoso no
número de confrontos, apoiado em um financiamento megalomaníaco do governo federal. Foram ao
todo 711 operações totalizando 1.444 mortos pelas forças de segurança, entre fevereiro e novembro
daquele ano [21]. Mas o que fica indelével desse período não são necessariamente os números
produzidos, mas sim o sentido que a política de segurança tomava.
Os serviços de inteligência do estado foram sistematicamente desmontados nos anos imediatamente
anteriores à intervenção, com seu financiamento chegando a R$ 21.641,15 em 2015. Em comparação,
no mesmo ano, o estado do Tocantins, que tem 9% da população do estado do Rio de Janeiro, investiu
R$ 54,5 mil nos órgãos de inteligência [22]. Nos anos posteriores o investimento foi ainda mais baixo.
Em 2016 não foi encontrada discriminação de verbas para a área, mas em 2017, ano anterior a
intervenção, ela não passou de 2,5 mil reais.

Os efeitos deste sub-financiamento das políticas de inteligência são, necessariamente, um decréscimo


nas operações não violentas de repressão ao tráfico, como aquelas operadas junto às polícias
rodoviárias, com o objetivo de apreender grandes quantidades de droga antes que elas cheguem ao
varejo nas comunidades. A política de segurança do Rio sofre então uma importante transição de um
modelo já muito letal, mas que conjugava os confrontos clássicos com ações pontuais - e midiáticas -
de investigação e inteligência, para um modelo igualmente midiático totalmente voltado para o
confronto, onde o objetivo é puramente abater o inimigo, independente do impacto social e das vidas
que serão postas em risco nos locais de confronto.

Essa transição também veio acompanhada da atualização do pânico moral e do reforço da imagem do
inimigo interno. O discurso do “bandido bom é bandido morto” dava a linha da opinião pública geral.
Uma extensa matéria intitulada “Crise, falência de UPPs, banalização de fuzis, violência na folia: veja
os motivos que levaram à intervenção federal no RJ”, publicada no Portal G1 no dia 17 de fevereiro
de 2018 [23], sintetizava a verdadeira campanha operada pela Rede Globo durante o carnaval daquele
ano para justificar a já planejada Intervenção Federal no Rio. As reportagens diárias com flagrantes de
roubo e furto, traficantes fortemente armados e uso de drogas ao céu aberto construíram na opinião
pública a impressão de que o Rio de Janeiro era um estado fora de controle e que era sim necessária
uma intervenção federal de caráter militar para o restabelecimento da lei e da ordem. As GLOs
(Operações de Garantia da Lei e da Ordem) são aplicadas às centenas em todo o estado, executando
o modelo desenvolvido na ocupação neocolonial do Haiti.

A participação das forças armadas na segurança pública do Rio de Janeiro não foi apenas um
fenômeno passageiro da política de segurança no estado, mas mudou qualitativamente seu modelo e
sua forma de gestão, as adequando às necessidades atuais em relação às massas. Não cabia mais
apenas escondê-las como fizeram as UPPs na esteira dos Grandes Eventos, agora era preciso, antes
de tudo, discipliná-las.

A intervenção, que começou já destinada a terminar no dia 31 de dezembro daquele ano, deixou uma
importante questão que seria respondida pelas urnas burguesas: quem seria capaz de aprofundar o
programa neoliberal no estado, encarnando ao mesmo tempo a política de repressão preventiva às
massas populares? O discurso de Witzel - que cruzava o fanatismo neoliberal com autoritarismo e
boas doses de eugenia - pareceu competente a esses objetivos.

A PANDEMIA E AS DIFERENTES QUARENTENAS EM CIDADES CINDIDAS

No clássico do pensamento terceiro-mundista “Os condenados da Terra”, o psiquiatra, filósofo e


revolucionário francês da Martinica Frantz Fanon se debruçou sobre a condição colonial sob a visão
dos colonizados, pensando suas formas de consciência e subjetividade, e, a partir delas, suas
possibilidades de emancipação. A despeito de a violência ter um papel central na obra fanoniana - um
capítulo inteiro é dedicado ao tema, onde ele é entendido como potencial instrumento de
manutenção ou de superação do jugo colonial – o que mais nos interessa aqui é a ideia de mundo
cindido, compartimentado, que Fanon traz à luz ao perceber que o próprio espaço urbano do mundo
colonial é dividido em dois: o mundo do colono e o mundo do colonizado. Uma cidade aqui se torna
duas, e a “linha divisória” entre elas, a “fronteira”, é indicada pelos quartéis e delegacias de polícia.

A cidade do colono, segundo ele, “é uma cidade sólida”, com ruas bem iluminadas e limpas, onde não
se vê o lixo, o esgoto ou sequer os pés dos senhores, “sempre cobertos por calçados fortes”. Uma
cidade, sobretudo, de brancos e estrangeiros. Enquanto que a cidade do colonizado é tudo o que a
cidade do colono não é. “Um lugar mal afamado, povoado por homens mal afamados”, onde “se
morre não importa onde, não importa do quê”. Uma cidade “sem intervalos”, onde os homens vivem
“uns sobre os outros” e "as casas estão umas sobre as outras”. Como Fanon conclui, “uma cidade de
negros e árabes”[24].

Sem intenção aqui de cair em anacronismos e reduzir as contradições do nosso capitalismo


dependente ao sistema neocolonial que subjugou povos africanos nos séculos XIX e XX, a ideia de
cidade cindida é afeita a análise aqui desenvolvida uma vez que, como demonstramos antes, também
existem aqui os setores da cidade voltados para o depósito do excedente de mão de obra. Locais com
características e limites bem próximos aos citados por Fanon. A caracterização do ambiente dos
marginalizados é importante para nós porque, como todo processo fundamental da nossa história, a
pandemia de COVID-19 não é vivida por todas as pessoas da mesma forma. E neste caso, a divisão
classista e racializada do espaço urbano é determinante.

É sabido que a COVID-19 entrou no país atingindo essencialmente as classes mais abastadas. Apesar
da primeira morte do estado do Rio ter sido a de uma empregada doméstica de Miguel Pereira (nome
não divulgado nas fontes jornalísticas a pedido da família) que foi contaminada no Leblon pela patroa
que tinha acabado de voltar da Itália, a doença por várias semanas circulou majoritariamente entre as
classes ricas de Niterói, da Zona Sul e da Barra da Tijuca. Tal realidade levou o governo do Estado do
Rio de Janeiro a decretar quarentena obrigatória nas cidades da Região Metropolitana, realizando
bloqueios nas entradas e saídas da capital e interrupção de todos os serviços não essenciais ao
combate da pandemia no Estado.

É claro, numa realidade em que quase metade da população economicamente ativa vive na
informalidade, sem poupança ou qualquer tipo de acesso a estrutura previdenciária, muitas vezes
ganhando num dia apenas o suficiente para comer no outro, essas medidas de distanciamento social
e quarentena vinham carregadas de uma sinistra contradição. Em âmbito federal o presidente Jair
Bolsonaro (agora adversário de Witzel) operava sua política de desmobilização sistemática das
medidas de isolamento social, não só no discurso ou nas atitudes anti-higiênicas, mas também na
operação das políticas do Estado com o sub-financiamento do combate à pandemia e, principalmente,
o abandono à própria sorte das famílias mais pobres, com o atraso na liberação do auxílio emergencial.
Esse conjunto de políticas, somadas à ausência total de ações comunitárias voltadas a conscientização
e combate a pandemia nos bairros e cidades mais pobres fizeram a maior parte da população ignorar
completamente o estado de emergência sanitária estadual em um dos maiores atos de desobediência
civil da nossa história desde a revolta da vacina no início do século XX.

Ficava claro o caráter de classe da pandemia e sua concretização no plano territorial. Nos meses de
abril e maio o epicentro da epidemia na região metropolitana transita das áreas abastadas da Zona
Sul e da Barra da Tijuca para dentro das grandes comunidades como a Rocinha, e para regiões super-
populosas da Zona Oeste e da Baixada Fluminense. Hoje Nova Iguaçu e Duque de Caxias despontam
como os próximos grandes epicentros da doença. Na contramão do discurso sobre salvar vidas com o
isolamento social, a implementação da política de saúde demonstra que na quarentena de Witzel se
reproduz a lógica das cidades compartimentadas.
Enquanto no Leblon (bairro da Zona Sul da capital com boa oferta de hospitais) o primeiro hospital de
campanha do estado foi inaugurado no dia 25 de abril – 5 dias antes da data prevista para de
inauguração dos hospitais de campanha prometidos pelo governo – cidades como Nova Iguaçu e São
Gonçalo, locais de grande concentração de mão de obra sobressalente, amargavam o quinto
adiamento da abertura das suas unidades de emergência para a pandemia, somando um mês de
atraso e muitas vidas perdidas [25].

Hoje, na primeira semana de junho, enquanto o número de contaminados decresce radicalmente nas
áreas abastadas e cresce vertiginosamente nas comunidades pobres, uma contradição comum é ver
a qualquer hora do dia na televisão, gente bem alimentada, que passou a quarentena de forma
confortável e não corre mais riscos de infecção, discutindo quando os pobres vão voltar a trabalhar.

MILITARIZAÇÃO DA QUARENTENA E O PAPEL DAS ESQUERDAS CONTRA O GENOCÍDIO

Em fevereiro de 2020, quando a crise sanitária causada pelo coronavírus ainda não tinha a América
Latina como seu epicentro, o jornalista e militante uruguaio Raul Zibechi publicou no jornal mexicano
La Jornada um artigo intitulado “Coronavírus: a militarização das crises”, onde, sem uso de muitas
fontes, diz que “É necessário voltar aos períodos do nazismo e do estalinismo, há quase um século,
para encontrar exemplos de controle de população tão extenso e intenso como os que acontecem
na China, nesses dias, com a desculpa do coronavírus” [26].

Citando diversos mecanismos tecnológicos de controle usados para monitorar a circulação do vírus e
o nível de isolamento da população, Zibechi conclui que Wuhan viveu durante os últimos meses sob
um campo de concentração a céu aberto, no maior panóptico de vigilância da história. A despeito da
terrível – e infelizmente corriqueira – equiparação entre o nazismo e o período de Stalin na antiga
URSS, e nos esquivando de qualquer debate mais profundo sobre a experiência chinesa de contenção
à COVID-19 (considerada exemplar pela OMS), uma questão me intrigou: porque numa realidade onde
as polícias brasileiras usam drones e avançados sistemas de câmeras de monitoramento para
acompanhar o cotidiano das populações mais pobres na crise do capital, um intelectual de esquerda
latino-americano precisa ir ao outro lado do mundo encontrar exemplos de gestão autoritária das
crises?

O desenrolar da crise sanitária no Rio de Janeiro tornou ainda mais clara a importância de identificar
corretamente em que locais do planeta as contradições do capitalismo se dão de forma mais radical e
onde o controle social promovido a partir da vigilância e da violência do estado previne a eclosão dos
conflitos de classe.

A morte em massa das populações negras pela negligência no combate ao vírus se somou à tradicional
política de assassinato em massa do estado, que perdura durante a quarentena fluminense. Em abril,
segundo mês da quarentena no Rio, o número de operações policiais de combate ao tráfico de drogas
nas comunidades aumentaram 27,9% em comparação com o mesmo mês do ano anterior, quando
ainda não havia nem pandemia, nem quarentena. A letalidade policial cresceu 57,9% em abril e 16,7%
nos 19 primeiros dias de maio em comparação aos respectivos períodos do ano passado [27]. Entre as
pessoas mortas está João Pedro, 14 anos, que depois de ter a casa fuzilada pela polícia e ser baleado,
foi seqüestrado pelas forças de segurança e só teve seu corpo 17 horas depois em um IML a 40 km
de distância de São Gonçalo, onde morava. E também João Victor, 18 anos, morto pela polícia
enquanto entregava cestas básicas em uma ação comunitária de combate à fome, na Cidade de Deus.

Estes números e rostos, que me motivaram a escrever este texto - tamanho o absurdo que se revelou
a verdadeira face da quarentena aqui - precisam servir de estímulo aos partidos, movimentos sociais
e à esquerda como um todo no sentido de reconhecer a centralidade que o genocídio da população
negra tem para a manutenção da ordem social burguesa no Brasil. É preciso não mais tratar nossas
pautas como meras bandeiras movimentistas ou eleitorais, mas como parte fundamental da luta pela
construção da revolução brasileira.

Usar nossos aparelhos de contra hegemonia nesse momento - quando inclusive pessoas brancas e
classes médias se tornam alvo do fascismo - para destruir os pânicos morais, denunciar a cisão das
cidades e a farsa da política de guerra às drogas é fundamental para colocar abaixo os limites impostos
pela dependência e pelo subdesenvolvimento. Somente organizando o povo historicamente marginal
nos processos principais do capitalismo construiremos o bloco histórico fundamental de luta contra o
fascismo. Esse fascismo que hoje nos assola a todos enquanto sociedade foi tecido fio a fio em cada
operação policial, prisão arbitrária ou assassinato promovido pelo estado em seu período de
normalidade. Isso não pode ser esquecido e deve ser superado.

Para isso é necessário encerrar as décadas de divórcio entre a esquerda, sua intelectualidade e os
interesses concretos do povo. Essa tarefa, num contexto de circulação global de idéias e
conhecimentos, envolve não só uma renovação do marxismo brasileiro, mas de toda teoria crítica
ocidental que se encontra ainda desconectada da sua razão de existir e absorvida pela farsa do fim da
história iniciada a partir da vitória da democracia liberal burguesa sobre as experiências socialistas no
final do século XX. Só com uma teoria da história onde a democracia liberal não seja a forma final da
experiência humana podemos enxergar suas contradições, explorar suas fragilidades e construir a
nossa vitória.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1968. p. 29.

[2] REDE OBSERVATÓRIOS DA SEGURANÇA. Operações policiais no RJ durante a pandemia:


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http://observatorioseguranca.com.br/wp-content/uploads/2020/05/Operac%CC%A7o%CC%83es-
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[3] AZEVEDO, Janaina. Negros no mundo. Juiz de Fora, 24 jan. 2010. Disponível em:
https://www.ufjf.br/ladem/2010/01/24/negros-do-mundo/. Acesso em: 03 jun. 2020.

[4] HISTÓRIA do combate às drogas no Brasil. Em discussão! [Online], Brasília, DF, v. 2, n. 8, ago.
2011. Disponível em: https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-
quimica/iniciativas-do-governo-no-combate-as-drogas/historia-do-combate-as-drogas-no-
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[5] BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Dados sobre população carcerária do Brasil
atualizados: nova ferramenta de visualização dos dados penitenciários vai possibilitar comprar
informações de diferentes anos e categorias. 17 fev. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/pt-
br/noticias/justica-e-seguranca/2020/02/dados-sobre-populacao-carceraria-do-brasil-sao-
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[6] INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da violência, [Brasília, DF], 2019.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/filtros-series/1/homicidios. Acesso em: 03
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Palgrave Macmillian, 2013.

[8] VIGNA, Anne. Operação policial financiada por empresários cariocas mira moradores de rua.
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https://apublica.org/2016/02/operacao-policial-financiada-por-empresarios-cariocas-mira-
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[9] COELHO, Henrique. Rio teve mais de 3.250 autos de resistência entre 2010 e 2015, diz ISP. Portal
G1, Rio de Janeiro, 17 out. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-
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[10] DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Balanço das


greves de 2016, São Paulo, n. 84, ago. 2017. Disponível em:
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[11] COM CRISE, desemprego subiu mais entre pretos e pardos, diz IBGE. Exame, São Paulo, 22 fev.
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[12] ALMEIDA, Silvio de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte: Letramento, 2018. p. 36-44.

[13] TÉDILE, Pedro; TRASPADINI, Roberta (Orgs.). Ruy Mauro Marini: vida e obra. 2. ed. São Paulo:
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[14] DUARTE, Pedro Henrique Evangelista. Superpopulação relativa, dependência e marginalidade:
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[15] MARX, Karl. Lei geral da acumulação capitalista. In: ______. O capital. São Paulo: Boitempo,
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[16] MOURA, Clóvis. Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo. Afro-Ásia, Salvador, n. 14, p.
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[17] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de


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[18] (FANON, 1968, p. 29).

[19] PENNAFORT, Roberta. “A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo" diz novo governador do Rio,
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[20] ROLIM, Louise (Org.). Segurança pública em números 2019: evolução dos principais indicadores
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[21] BARBON, Júlia; NOGUEIRA, Italo. Sob Intervenção Rio tem o maior número de políciais mortos
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[22] BIANCHI, Paula. Rio: menos de 1% do dinheiro da segurança vai para investimentos na área.
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[23] GRANDIM, Felipe; MARTINS, Marco Antônio; SATRIANO, Nicolás. Crise, falência de UPPs,
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G1, Rio de Janeiro, 17 fev. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/crise-
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[24] (FANON, 1968, p. 28-29).

[25] SANTOS, Ana Paula; CORREIA, Ben-Hur. Iabas não sabe quando hospitais de campanha de São
Gonçalo e Nova Iguaçu vão abrir: inauguração das unidades, previstas para o fim de abril, já foi
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https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/29/iabas-nao-sabe-quando-hospitais-de-
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[26] ZIBECHI, Raúl. Coronavirus: la militarización de las crisis. La Jornada, Santa Cruz Atoyac, 2020.
Disponível em: https://www.jornada.com.mx/2020/02/28/opinion/020a1pol. Acesso em: 06 jun.
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[27] (REDE OBSERVATÓRIOS DA SEGURANÇA, 2020).

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