Você está na página 1de 17

O genocídio como atividade essencial do Estado

Notas sobre a segurança pública do Rio de Janeiro e o


lugar social do negro no capitalismo dependente

Publicado em 15/06/2020 // 3 comentários


(https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2020/06/whatsapp-image-2020-06-11-at-21.13.07.jpeg)
BRT lotado na noite da reabertura do comércio no Rio de Janeiro. Foto: Yan Marcelo/@yanzitx

Por Tálison Vasques.

“A cidade do colonizado, ou pelo menos a cidade indígena, a cidade negra, a medina, a reserva, é um
lugar mal afamado, povoado de homens mal afamados. Aí se nasce não importa onde, não importa
como. Morre-se não importa onde, não importa de quê. É um mundo sem intervalos, onde os homens
estão uns sobre os outros, as casas umas sobre as outras. A cidade do colonizado é uma cidade
faminta, faminta de pão, de carne, de sapatos, de carvão, de luz. A cidade do colonizado é uma
cidade acocorada, uma cidade ajoelhada, uma cidade acuada. É uma cidade de negro, é uma cidade
de árabes…”
– Frantz Fanon1

Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, durante os meses de abril e maio de 2020, o Estado
do Rio de Janeiro aumentou em 27,9% o volume das operações policiais de repressão ao tráfico de
drogas e produziu 53% a mais em mortes do que no mesmo período do ano anterior2.

Essas são informações que podem parecer corriqueiras para quem conhece o estado de normalidade
da política de guerra às drogas no estado do Rio de Janeiro – que essencialmente produz confrontos e
mortes – porém, são dados que saltam aos olhos quando sabemos que vivemos uma das piores
pandemias da história da humanidade, frente a qual o Estado do Rio, em resposta imediata, foi um
dos primeiros do país a decretar a quarentena e estimular o isolamento social, alegando a intenção de
preservar, assim, a vida de milhares de cidadãos fluminenses. A pandemia, que no mundo todo
reduziu o ritmo da produção capitalista às “atividades essenciais”, não foi capaz de quebrar a
normalidade fúnebre da política de segurança de Wilson Witzel, que mesmo quando diz defender a
vida promove a morte.

O curioso e terrível “paradoxo de Witzel” nos impõe debruçar-nos mais uma vez sobre as raízes da
violência do Estado brasileiro, a buscar o que se encontra sob a pele da ideologia de política de guerra
às drogas, e a reexaminar o racismo e genocídio da população negra e pobre no Brasil, já que, afinal,
esses mortos têm cor e classe social muito específicas. Mas, acima de tudo, a contraditória política de
Witzel nos obriga a lançar a luz da economia política marxista sobre o histórico recente das políticas
de segurança do Estado a fim de contribuir na identificação do lugar do assassinato em massa de
pessoas negras na dinâmica geral do capitalismo brasileiro atual e entender por que o genocídio é
uma atividade essencial do Estado, mesmo em um período em que os olhos do mundo estão todos
voltados para uma crise sanitária sem precedentes no nosso tempo.

Ciclo dos grandes eventos, guerra às drogas e o pânico moral


da segurança pública

O genocídio e encarceramento da juventude negra são dois dos temas mais recorrentes do debate
público da esquerda mundial nos últimos anos. Travestida de “guerra às drogas” e imbuída do que o
sociólogo e pesquisador da questão racial jamaicano Stuart Hall chamou de pânico moral na
segurança pública, governos ocidentais, tanto de países de centro quanto de países da periferia do
capitalismo, têm lidado com as massas negras nativas ou migrantes com políticas cada vez mais
radicais e abrangentes de encarceramento e assassinato, produzindo um efeito cíclico onde quanto
mais a violência empurra essas populações para a marginalidade, mais intensa se torna a repressão
do Estado.

O Brasil se tornou nos últimos anos o centro desse debate, por alguns motivos, dentre os quais
podemos citar: A) temos a maior população afrodescendente fora do continente africano,3 oriunda do
emprego do tráfico transatlântico de escravizados no período acumulação primitiva do capitalismo
mundial e em parte da sua fase industrializada, culminando aqui em mais de 300 anos de escravidão
seguidos de uma abolição mal concluída, onde os abolidos do trabalho escravo foram também
abolidos dos meios de produção da sua própria sobrevivência, não incluídos no mundo do trabalho
tipicamente capitalista – este ocupado por imigrantes brancos – e alijados de qualquer possibilidade
de fuga da marginalidade e ascensão social; B) vivemos uma das mais intensas e prolongadas
experiências de guerra às drogas do mundo, que persiste desde a passagem do modelo sanitário na
política de drogas do Estado para o modelo bélico em 1964, quando a Lei de Segurança Nacional do
Regime Militar passou a tratar os traficantes como inimigos do Estado4; C) temos a terceira maior
população carcerária do planeta, com 773.151 presos – dos quais 33% sem condenação5 – além de
uma das maiores taxas de homicídios do planeta (31,59 assassinatos por 100 mil habitantes). A grande
maioria dessas mortes (5.804 em 2019) é produzida pela atuação policial. Detalhe: 75% do total de
todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2017 eram negras6.

No Rio de Janeiro essa lógica se reproduz de forma exemplar. Laboratório das políticas de segurança
pública a nível nacional, o Estado apresentou um aumento exponencial no número de presos e
mortos durante período dos megaeventos (2007 – 2016), ciclo do capital impulsionado pela realização
dos Jogos Pan-americanos, da Copa do Mundo FIFA e dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que traria
grandes transformações a cidade do Rio, a partir, principalmente, do largo estímulo ao comércio,
turismo e especulação imobiliária. Neste período, a implementação das Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs) nas comunidades das Zonas Sul e Norte, além de no Centro e em Jacarepaguá,
serviram para apoiar não só a criação de espaços “seguros” para os turistas e consumidores desses
eventos, mas também para dar novo impulso à atividade imobiliária da cidade, que mudava de cara
com as grandes obras de infraestrutura urbana e revitalização, de inspiração claramente higienista,
baseadas sobretudo na militarização do espaço urbano e em uma larga política de remoções.

Para apoiar essa política de militarização e higienismo, a mídia burguesa cumpriu um papel
fundamental na criação de um pânico moral, categoria usada por Stuart Hall para descrever o papel
dos aparelhos de hegemonia burguesa na manipulação da opinião pública no sentido da criação de
uma impressão moral negativa acerca de grupos sociais marginalizados ou de seus elementos
culturais e estéticos, a partir da sua associação com problemas de ordem política e econômica do país,
como o desemprego e a segurança pública7.

Em qualquer dia da primeira metade da década de 2010 era possível ver, tanto na televisão quanto
nos principais jornais brasileiros, imagens de traficantes ostentando armas de guerra, das
cracolândias, dos arrastões nas vias expressas e dos “menorzinhos do coreto” praticando furtos nas
calçadas e nas praias cariocas, tudo seguido das atualizações sobre os preparativos para os grandes
eventos esportivos, o que sempre deixava a sutil impressão de que algo precisava ser feito. Em 2015,
um conjunto de empresários descontentes com a perda de lucros por problemas com roubos a
pedestres na Lagoa Rodrigo de Freitas, contratou, junto ao sindicato patronal da Federação do
Comércio do Estado do Rio de Janeiro (FECOMERCIO-RJ), os serviços de policiais militares em dias
de folga – com o aval da secretaria de segurança do Estado – para a retirada de moradores de rua e o
patrulhamento da região8. Estava consolidada aí a ideia central do projeto Segurança Presente, que se
espalhou pela cidade buscando limpá-la das “classes perigosas” do século XXI e responder ao pânico
moral dos empresários do comércio.

Mas este pânico moral da segurança pública do Rio não surgia solto na atmosfera racial da cidade e
nem era apropriado somente de forma espontânea como no caso dos comerciantes da Zona Sul. Era,
na verdade, especialmente direcionado às comunidades que abrigavam a população mais negra e
mais pobre, criando assim um inimigo que tem rosto bem definido no imaginário popular.
Especialmente, um inimigo do qual não se poderia se livrar facilmente, uma vez que sempre havia
outro para ocupar seu lugar no universo do crime, e que, mesmo sem uma política oficial do Estado
de segregação e genocídio, deveria ser preso ou “abatido” pelas forças policiais. Como resposta a essa
necessidade de uma política centralizada de eliminação e repressão dos indesejáveis, a política das
UPPs e a “revitalização” da região central da capital caíram como luvas para a opinião pública
moldada pelo alarmismo de programas como o RJTV 1ª Edição e pelo Balanço Geral.

Além de expulsar para as áreas mais remotas da Zona Oeste e da Baixada Fluminense os grupos
criminosos que mais perigo ofereciam ao andamento dos grandes eventos, as UPPs ainda ocupavam
grandes áreas que até então eram conhecidas por produzir bandidos às centenas. As imagens do
plantão jornalístico da Rede Globo no dia 28 de novembro de 2010 – quando o Exército de Lula
emprestado a Sérgio Cabral se juntou ao BOPE, invadiu o Complexo do Alemão e expulsou centenas
de traficantes do Comando Vermelho, que fugiram pela mata – foram um grande salário moral pago
ao conservadorismo que crescia, não só entre os empresários do comércio, mas também nos setores
médios e de trabalhadores da cidade.

O aparato de controle social dos pobres estava finalmente atualizado, não só com uma nova política
oficial e com novos instrumentos, mas também sob novo consenso público que o justificava. A guerra
às drogas adquiria nova roupagem, cujo resultado logo se verificaria na contagem de corpos: somente
entre 2010 e 2015, período de implantação de 39 das 42 UPPs no Rio até então, a PM do Rio de Janeiro
registrou 3.250 autos de resistência (resistência à prisão seguida de morte)9.

No período imediatamente posterior, eventos políticos e econômicos em nível nacional trariam


algumas mudanças nas políticas de segurança do Rio que, além de não alterar seu caráter violento,
influenciaram seu método e principalmente a intensidade de suas ações, motivo pelo qual foram
fundamentais no caminho que percorremos até aqui. O início da recessão, em 2015, o golpe
parlamentar sobre a presidente Dilma Rousseff em 2016 e o aprofundamento das políticas de ajuste
fiscal, das privatizações e do desmonte da CLT – resposta à necessidade de retomada das taxas de
lucro globais a patamares pré-crise de 2008 – intensificaram ainda mais as já profundas contradições
do capitalismo brasileiro. Só em 2016 eclodiram 2.093 greves em território nacional, sendo 81% dessas
de caráter defensivo, ou seja, contra a perda de direitos e condições de trabalho previamente
adquiridos10. O acirramento da crise, porém, não foi sentido da mesma forma por todos.

Já em 2018, 64,6% dos desempregados eram pretos ou pardos. Enquanto a taxa de desemprego entre
os brancos atingia 9,2% – abaixo da média geral que era de 11,6% – a desocupação entre os pretos e
pardos era de 14,5% e 13,3% respectivamente11. Aqui, antes de prosseguirmos na análise das políticas
de segurança pública, precede uma reflexão mais profunda sobre a tendência a maior desocupação
das populações negras e pardas e sua relação com a natureza do capitalismo brasileiro.

O excedente de mão de obra

O Brasil, enquanto país que nunca alcançou o patamar de estado de bem-estar social por conta da sua
condição capitalista dependente, nunca reparou historicamente a questão negra, ao contrário, os
descendentes dos escravizados brasileiros foram inseridos sempre de forma marginalizada nos
diversos ciclos do capital desenvolvidos por aqui. Isso fez com que a população negra, além de
marginalizada no espaço urbano – segregada nas favelas e periferias – também participasse de forma
precária dos ciclos de escolarização promovidos pelo Estado, o que resultou em uma baixa taxa de
especialização para o trabalho em comparação com a população branca. Essa condição, junto a outros
fatores historicamente determinados de ordem econômica, política e da subjetividade, constituem o
que o filósofo marxista Silvio de Almeida chama de Racismo Estrutural
(https://www.youtube.com/watch?v=PD4Ew5DIGrU)12. Ou seja, a condição estrutural em que o
Estado brasileiro, funcionando na sua normalidade – sob governos conservadores ou progressistas,
em momentos de crescimento econômico ou de crise, com ou sem liberdades e garantias
democráticas instituídas – tende a reproduzir, na própria natureza do seu universalismo jurídico, a
desigualdade racial.

Porém, outra abordagem da estruturalidade do racismo no Brasil nos chama atenção. De acordo com
a Teoria Marxista da Dependência, apropriada aqui a partir do escrito clássico Dialética da dependência,
de Ruy Mauro Marini, por conta da sua posição periférica no cosmos da divisão internacional do
trabalho, da transferência de valor para as economias centrais no mercado mundial e da consequente
superexploração da força de trabalho para a recomposição interna desse valor perdido, o capitalismo
brasileiro se constitui como um capitalismo tipicamente subdesenvolvido, isto é, que mesmo a partir
dos mais diversos esforços de industrialização e desenvolvimento, se insere sempre de forma
subalterna na divisão internacional do trabalho e nunca tem o valor que produz realizado na sua
própria economia. Mas, sobretudo, o capitalismo brasileiro produz e reproduz, a partir
principalmente da superexploração da força de trabalho, desigualdades sociais não identificadas em
nenhuma experiência central do capitalismo13. Entre essas desigualdades, o economista e professor
adjunto da Universidade Federal de Goiás Pedro Henrique Evangelista Duarte destaca em seu
recente trabalho “Superpopulação relativa, dependência e marginalidade: ensaio sobre o excedente
de mão de obra no Brasil” a produção de um vasto excedente de mão de obra como característica
fundamental da nossa formação histórica e social14.

Este excedente de mão de obra pode ser entendido, dentro da própria dimensão dependente do nosso
capitalismo, a partir da categoria marxiana de superpopulação relativa15, que é, grosso modo, o
conjunto populacional produzido constantemente pelo desenvolvimento do capital – especialmente
pela sua tendência ao incremento do capital constante (máquinas e matérias primas) em detrimento
do capital variável (força de trabalho humana) – e que por diversos motivos não está empregado em
atividades tipicamente capitalistas, se tornando assim um excedente da mercadoria força de trabalho.
No Brasil essa tendência se torna mais intensa e estrutural a partir da não realização, nos limites do
nosso mercado, do valor produzido internamente, que interrompe a formação de cadeias
suplementares de produção, tornando a industrialização desigual, orientada pelas necessidades das
economias centrais e com pouca capacidade de assimilação da força de trabalho excedente em novos
ciclos de desenvolvimento.

(https://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2020/06/brt-lotado-coronavirus.jpg)
A identidade, o domicílio, a repressão e o descarte da mão de
obra marginal

No contexto da formação social do Brasil e da abolição – considerado o ato final de passagem de um


modo de produção escravista tardio para o capitalismo dependente – o intelectual marxista Clóvis
Moura percebe que a mão de obra escravizada negra foi finalmente substituída pelo trabalho
assalariado tipicamente capitalista dos imigrantes brancos. Essa substituição sem gradações numa
economia essencialmente agroexportadora, já dependente e modelada pelo imperialismo,
transformou as massas trabalhadoras negras numa franja marginal16, categoria cunhada por Moura
para definir uma larga camada social sem função definida no capital e que transita entre as
superpopulações relativas estagnadas e o completo pauperismo. Essa superpopulação superava
amplamente o contingente necessário para um exército industrial de reserva em um capitalismo
atrofiado pela dependência. Sobretudo, uma gigantesca massa de desvalidos que tinha em si uma
capacidade sem precedentes de baixar os salários dos trabalhadores assalariados brancos, processo
fundamental para restituição à burguesia interna do valor perdido no mercado mundial.

Considerando essa composição na formação social clássica do mundo do trabalho no capitalismo


dependente brasileiro, não é difícil deduzir quem, 132 anos após a abolição, permanece enquanto
franja marginal na dinâmica das cidades contemporâneas.

As camadas negras, mais pobres, com baixa escolaridade – que descendem mais diretamente dos
abolidos do trabalho escravo sem indenização e que no Rio de Janeiro ocuparam historicamente as
encostas, favelas, cortiços e alagados, além de regiões periféricas das Zonas Oeste e Norte da capital,
da Baixada Fluminense – formam essa superpopulação relativa estagnada e/ou o pauperismo.

A despeito da sua subutilização no chamado mercado de trabalho formal, essas pessoas se inserem de
forma irregular em atividades marginais do capitalismo, especialmente nos ciclos de circulação mais
elementar da moeda entre os próprios trabalhadores. São os camelôs, as babás, manicures,
domésticas, traficantes do varejo de drogas, catadores, pedreiros e serventes autônomos, prostitutas,
biscateiros, etc., ou seja, uma grande massa indistinta de gente que vive destituída da categoria
econômica de salário e que a ideologia neoliberal vigente insiste em chamar de
“microempreendedores individuais”, mas que, contraditoriamente, formam a base da classe
trabalhadora brasileira. Essas pessoas, enquanto escrevo este texto, somam 41,3% de toda a força de
trabalho no Brasil17.

Em um contexto de crise sistêmica do capital, a urgência da retomada do crescimento das taxas de


lucro tensionava os operadores do estado burguês, com um dilema que se estabelecia entre
radicalizar o neoliberalismo e manter a relação entre consenso e coerção equilibrados. Esse dilema
não resolvido pelo presidencialismo de coalizão petista não só aprofundou a crise na reprodução do
capital, como tornou irreversível a crise terminal do estado democrático de direito (para as classes
que algum dia tiveram acesso a ele).

O golpe parlamentar de 2016 resolveu este dilema com a radicalização do modelo neoliberal,
suportada num poderoso controle das massas baseado em pânicos morais (a corrupção, o
antipetismo, a ideologia de gênero, as drogas, a violência urbana, etc.) e na escalada da repressão
violenta preventiva das classes sociais mais pobres, de mão de obra sobressalente, a fim de discipliná-
las.
No nível das identidades, essas populações são absolutamente distinguíveis dentro da massa massa
populacional brasileira. Além de serem, em maioria, formadas por pretos e pardos, dentre essas
populações vive a maioria das travestis e transsexuais (o grupo mais excluído do mundo brasileiro do
trabalho), das mães solos e mulheres negras (que têm os piores níveis de salário e emprego). E
também nesse grupo que incide mais fortemente o problema das drogas e onde estão estabelecidos os
principais grupos de varejo delas.

Todas essas pessoas, como já dito, vivem segregadas nas comunidades carentes de cidades
cindidas18, ou seja, num espaço urbano facilmente identificável e que concentra os principais alvos
do pânico moral disseminado pelos aparelhos de hegemonia da classe dominante. Não é a toa que,
apesar dos principais atacadistas das drogas viverem em condomínios nas áreas nobres da cidade, as
grandes operações de repressão ao tráfico ocorrem nas comunidades onde elas são vendidas a varejo.
A questão da guerra às drogas se mostra assim um elemento absolutamente ideológico. Um
falseamento da realidade que oculta e/ou justifica o assassinato de dezenas de milhares de pessoas
por ano, num processo histórico voltado para o controle das massas mais violentadas e, por isso, mais
perigosas a hegemonia liberal burguesa, e que serve colateralmente ao descarte de um excedente da
mão de obra indesejável ao mercado.

Witzel, a morte das UPPs e a encarnação da política de


confronto

Compreender a ascensão de Wilson Witzel e seu exercício do poder é tarefa para um trabalho
específico, dada a complexidade que envolve a ascensão de políticos da extrema direita e seu modo
de operação do estado, de forma que vou me limitar a apenas apresentá-lo e debater brevemente, no
escopo das políticas de segurança, como ele encarnou o atual cenário do estado policial do Rio.

Juiz federal desde 2001, pouca gente levou a sério quando Witzel lançou sua candidatura a
governador do Rio pelo PSC em 2018, especialmente porque concorria com nomes mais conhecidos
da política do estado como o ex-prefeito da capital, Eduardo Paes, e o ex-senador Romário. Mas tudo
mudaria quando, ao notar o maior fenômeno eleitoral dos últimos anos, Witzel se atrela ao então
candidato à presidência da república Jair Bolsonaro e é arrastado a uma vitória arrasadora. A
dobradinha Witzel – Bolsonaro arrancou impressionantes 70% dos votos em várias regiões do estado.
O discurso de ambos dava respostas ao que havia se transformado no pânico moral construído pelos
aparelhos de mídia burgueses durante toda a década: um monstruoso complexo ideológico de
extrema direita que agora se voltava contra esses mesmos monopólios de mídia, inclusive
assombrando setores liberais da classe média e de uma certa burguesia “esclarecida”, que muito
havia se beneficiado da ideologia de guerra às drogas e do sufocamento das camadas mais pobres da
população.

Em entrevista concedida ao Estado de São Paulo em novembro de 2018, o recém eleito governador
deu a declaração que, a meu ver, sintetiza e ilustra o paradigma da segurança pública do Rio em
tempos de avalanche neoliberal. Ao ser questionado pelo jornal se a execução sumária de suspeitos
armados era a conduta correta de um agente de segurança pública do Estado, Witzel disparou: “O
correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e…
fogo! Para não ter erro…”19.

Por mais absurda que seja, a frase de Witzel não foi um blefe. Durante o seu primeiro ano de mandato
a polícia do Rio de Janeiro bateu recordes de produtividade, com 1.810 pessoas executadas, o número
mais alto desde o início dos registros em 199820. Embora o confronto e o assassinato de suspeitos
tenha tido sua expressão máxima sob o comando de Witzel, não se pode dizer que esse novo
protocolo de ação das forças policiais tenha sido criado por ele.

Em 2018, o Rio de Janeiro ainda sob o governo de Luiz Fernando Pezão (MDB) sofre uma Intervenção
Federal, de caráter militar, na segurança pública que sepulta de vez o modelo moribundo das UPPs e
estabelece uma política de incursões diárias da PM e do Exército nas principais comunidades do
estado. O resultado dessa política, como não poderia deixar de ser, é um aumento vertiginoso no
número de confrontos, apoiado em um financiamento megalomaníaco do governo federal. Foram ao
todo 711 operações totalizando 1.444 mortos pelas forças de segurança, entre fevereiro e novembro
daquele ano21. Mas o que fica indelével desse período não são necessariamente os números
produzidos, mas sim o sentido que a política de segurança tomava.

Os serviços de inteligência do Estado foram sistematicamente desmontados nos anos imediatamente


anteriores à intervenção, com seu financiamento chegando a R$ 21.641,15 em 2015. Em comparação,
no mesmo ano, o Estado do Tocantins, que tem 9% da população do estado do Rio de Janeiro,
investiu R$ 54,5 mil nos órgãos de inteligência22. Nos anos posteriores o investimento foi ainda mais
baixo. Em 2016 não foi encontrada discriminação de verbas para a área, mas em 2017, ano anterior a
intervenção, ela não passou de 2,5 mil reais.

Os efeitos deste subfinanciamento das políticas de inteligência são, necessariamente, um decréscimo


nas operações não violentas de repressão ao tráfico, como aquelas operadas junto às polícias
rodoviárias, com o objetivo de apreender grandes quantidades de droga antes que elas cheguem ao
varejo nas comunidades. A política de segurança do Rio sofre então uma importante transição de um
modelo já muito letal, mas que conjugava os confrontos clássicos com ações pontuais – e midiáticas –
de investigação e inteligência, para um modelo igualmente midiático totalmente voltado para o
confronto, em que o objetivo é puramente abater o inimigo, independente do impacto social e das
vidas que serão postas em risco nos locais de confronto.

Essa transição também veio acompanhada da atualização do pânico moral e do reforço da imagem do
inimigo interno. O discurso do “bandido bom é bandido morto” dava a linha da opinião pública
geral. Uma extensa matéria intitulada “Crise, falência de UPPs, banalização de fuzis, violência na
folia: veja os motivos que levaram à intervenção federal no RJ”, publicada no Portal G1 no dia 17 de
fevereiro de 201823, sintetizava a verdadeira campanha operada pela Rede Globo durante o carnaval
daquele ano para justificar a já planejada Intervenção Federal no Rio. As reportagens diárias com
flagrantes de roubo e furto, traficantes fortemente armados e uso de drogas ao céu aberto construíram
na opinião pública a impressão de que o Rio de Janeiro era um estado fora de controle e que era sim
necessária uma intervenção federal de caráter militar para o restabelecimento da lei e da ordem. As
GLOs (Operações de Garantia da Lei e da Ordem) são aplicadas às centenas em todo o Estado,
executando o modelo desenvolvido na ocupação neocolonial do Haiti.

A participação das forças armadas na segurança pública do Rio de Janeiro não foi apenas um
fenômeno passageiro da política de segurança no Estado, mas mudou qualitativamente seu modelo e
sua forma de gestão, as adequando às necessidades atuais em relação às massas. Não cabia mais
apenas escondê-las como fizeram as UPPs na esteira dos Grandes Eventos, agora era preciso, antes de
tudo, discipliná-las.

A intervenção, que começou já destinada a terminar no dia 31 de dezembro daquele ano, deixou uma
importante questão que seria respondida pelas urnas burguesas: quem seria capaz de aprofundar o
programa neoliberal no estado, encarnando ao mesmo tempo a política de repressão preventiva às
massas populares? O discurso de Witzel – que cruzava o fanatismo neoliberal com autoritarismo e
boas doses de eugenia – pareceu competente a esses objetivos.
A pandemia e as diferentes quarentenas em cidades cindidas

No clássico do pensamento terceiro-mundista Os condenados da Terra, o psiquiatra, filósofo e


revolucionário francês da Martinica Frantz Fanon se debruçou sobre a condição colonial sob a visão
dos colonizados, pensando suas formas de consciência e subjetividade, e, a partir delas, suas
possibilidades de emancipação. A despeito de a violência ter um papel central na obra fanoniana –
um capítulo inteiro é dedicado ao tema, onde ele é entendido como potencial instrumento de
manutenção ou de superação do jugo colonial – o que mais nos interessa aqui é a ideia de mundo
cindido, compartimentado, que Fanon traz à luz ao perceber que o próprio espaço urbano do mundo
colonial é dividido em dois: o mundo do colono e o mundo do colonizado. Uma cidade aqui se torna
duas, e a “linha divisória” entre elas, a “fronteira”, é indicada pelos quartéis e delegacias de polícia.

A cidade do colono, segundo ele, “é uma cidade sólida”, com ruas bem iluminadas e limpas, onde
não se vê o lixo, o esgoto ou sequer os pés dos senhores, “sempre cobertos por calçados fortes”. Uma
cidade, sobretudo, de brancos e estrangeiros. Enquanto que a cidade do colonizado é tudo o que a
cidade do colono não é. “Um lugar mal afamado, povoado por homens mal afamados”, onde “se
morre não importa onde, não importa do quê”. Uma cidade “sem intervalos”, onde os homens vivem
“uns sobre os outros” e “as casas estão umas sobre as outras”. Como Fanon conclui, “uma cidade de
negros e árabes”24.

Sem intenção aqui de cair em anacronismos e reduzir as contradições do nosso capitalismo


dependente ao sistema neocolonial que subjugou povos africanos nos séculos XIX e XX, a ideia de
cidade cindida é afeita à análise aqui desenvolvida, uma vez que, como demonstramos antes, também
existem aqui os setores da cidade voltados para o depósito do excedente de mão de obra. Locais com
características e limites bem próximos aos citados por Fanon. A caracterização do ambiente dos
marginalizados é importante para nós porque, como todo processo fundamental da nossa história, a
pandemia da covid-19 não é vivida por todas as pessoas da mesma forma. E neste caso, a divisão
classista e racializada do espaço urbano é determinante.

É sabido que a covid-19 entrou no país atingindo essencialmente as classes mais abastadas. Apesar de
a primeira morte do estado do Rio ter sido a de uma empregada doméstica de Miguel Pereira (nome
não divulgado nas fontes jornalísticas a pedido da família) que foi contaminada no Leblon pela
patroa que tinha acabado de voltar da Itália, a doença por várias semanas circulou majoritariamente
entre as classes ricas de Niterói, da Zona Sul e da Barra da Tijuca. Tal realidade levou o governo do
Estado do Rio de Janeiro a decretar quarentena obrigatória nas cidades da Região Metropolitana,
realizando bloqueios nas entradas e saídas da capital e interrupção de todos os serviços não
essenciais ao combate da pandemia no Estado.

É claro, numa realidade em que quase metade da população economicamente ativa vive na
informalidade, sem poupança ou qualquer tipo de acesso a estrutura previdenciária, muitas vezes
ganhando num dia apenas o suficiente para comer no outro, essas medidas de distanciamento social e
quarentena vinham carregadas de uma sinistra contradição. Em âmbito federal o presidente Jair
Bolsonaro (agora adversário de Witzel) operava sua política de desmobilização sistemática das
medidas de isolamento social, não só no discurso ou nas atitudes anti-higiênicas, mas também na
operação das políticas do Estado com o subfinanciamento do combate à pandemia e, principalmente,
o abandono à própria sorte das famílias mais pobres, com o atraso na liberação do auxílio
emergencial. Esse conjunto de políticas, somadas à ausência total de ações comunitárias voltadas a
conscientização e combate à pandemia nos bairros e cidades mais pobres, fizeram a maior parte da
população ignorar completamente o estado de emergência sanitária estadual em um dos maiores atos
de desobediência civil da nossa história desde a revolta da vacina no início do século XX.

Ficava claro o caráter de classe da pandemia e sua concretização no plano territorial. Nos meses de
abril e maio o epicentro da epidemia na região metropolitana transita das áreas abastadas da Zona
Sul e da Barra da Tijuca para dentro das grandes comunidades como a Rocinha, e para regiões super-
populosas da Zona Oeste e da Baixada Fluminense. Hoje Nova Iguaçu e Duque de Caxias despontam
como os próximos grandes epicentros da doença. Na contramão do discurso sobre salvar vidas com o
isolamento social, a implementação da política de saúde demonstra que na quarentena de Witzel se
reproduz a lógica das cidades compartimentadas.

Enquanto no Leblon (bairro da Zona Sul da capital com boa oferta de hospitais) o primeiro hospital
de campanha do Estado foi inaugurado no dia 25 de abril – 5 dias antes da data prevista para de
inauguração dos hospitais de campanha prometidos pelo governo – cidades como Nova Iguaçu e São
Gonçalo, locais de grande concentração de mão de obra sobressalente, amargavam o quinto
adiamento da abertura das suas unidades de emergência para a pandemia, somando um mês de
atraso e muitas vidas perdidas25.

Hoje, na primeira semana de junho, enquanto o número de contaminados decresce radicalmente nas
áreas abastadas e cresce vertiginosamente nas comunidades pobres, uma contradição comum é ver a
qualquer hora do dia na televisão, gente bem alimentada, que passou a quarentena de forma
confortável e não corre mais riscos de infecção, discutindo quando os pobres vão voltar a trabalhar.

Militarização da quarentena e o papel das esquerdas contra o


genocídio

Em fevereiro de 2020, quando a crise sanitária causada pelo coronavírus ainda não tinha a América
Latina como seu epicentro, o jornalista e militante uruguaio Raul Zibechi publicou no jornal
mexicano La Jornada um artigo intitulado “Coronavírus: a militarização das crises”, onde, sem uso de
muitas fontes, diz que “É necessário voltar aos períodos do nazismo e do stalinismo, há quase um
século, para encontrar exemplos de controle de população tão extenso e intenso como os que
acontecem na China, nesses dias, com a desculpa do coronavírus”26.

Citando diversos mecanismos tecnológicos de controle usados para monitorar a circulação do vírus e
o nível de isolamento da população, Zibechi conclui que Wuhan viveu durante os últimos meses sob
um campo de concentração a céu aberto, no maior panóptico de vigilância da história. A despeito da
terrível – e infelizmente corriqueira – equiparação entre o nazismo e o período de Stálin na antiga
URSS, e nos esquivando de qualquer debate mais profundo sobre a experiência chinesa de contenção
à covid-19 (considerada exemplar pela OMS), uma questão me intrigou: por que, numa realidade em
que as polícias brasileiras usam drones e avançados sistemas de câmeras de monitoramento para
acompanhar o cotidiano das populações mais pobres na crise do capital, um intelectual de esquerda
latino-americano precisa ir ao outro lado do mundo encontrar exemplos de gestão autoritária das
crises?

O desenrolar da crise sanitária no Rio de Janeiro tornou ainda mais clara a importância de identificar
corretamente em que locais do planeta as contradições do capitalismo se dão de forma mais radical e
onde o controle social promovido a partir da vigilância e da violência do Estado previne a eclosão dos
conflitos de classe.
A morte em massa das populações negras pela negligência no combate ao vírus se somou à
tradicional política de assassinato em massa do Estado, que perdura durante a quarentena
fluminense. Em abril, segundo mês da quarentena no Rio, o número de operações policiais de
combate ao tráfico de drogas nas comunidades aumentaram 27,9% em comparação com o mesmo
mês do ano anterior, quando ainda não havia nem pandemia, nem quarentena. A letalidade policial
cresceu 57,9% em abril e 16,7% nos 19 primeiros dias de maio em comparação aos respectivos
períodos do ano passado27. Entre as pessoas mortas está João Pedro, 14 anos, que depois de ter a casa
fuzilada pela polícia e ser baleado, foi sequestrado pelas forças de segurança e só teve seu corpo 17
horas depois em um IML a 40 km de distância de São Gonçalo, onde morava. E também João Victor,
18 anos, morto pela polícia enquanto entregava cestas básicas em uma ação comunitária de combate à
fome, na Cidade de Deus.

Estes números e rostos, que me motivaram a escrever este texto – tamanho o absurdo que se revelou a
verdadeira face da quarentena aqui – precisam servir de estímulo aos partidos, movimentos sociais e
à esquerda como um todo no sentido de reconhecer a centralidade que o genocídio da população
negra tem para a manutenção da ordem social burguesa no Brasil. É preciso deixar de tratar nossas
pautas como meras bandeiras movimentistas ou eleitorais, e passar a incorporá-las como parte
fundamental da luta pela construção da revolução brasileira.

Usar nossos aparelhos de contra-hegemonia nesse momento – quando inclusive pessoas brancas e
classes médias se tornam alvo do fascismo – para destruir os pânicos morais, denunciar a cisão das
cidades e a farsa da política de guerra às drogas é fundamental para colocar abaixo os limites
impostos pela dependência e pelo subdesenvolvimento. Somente organizando o povo historicamente
marginal nos processos principais do capitalismo construiremos o bloco histórico fundamental de
luta contra o fascismo. Esse fascismo que hoje nos assola a todos enquanto sociedade foi tecido fio a
fio em cada operação policial, prisão arbitrária ou assassinato promovido pelo estado em seu período
de normalidade. Isso não pode ser esquecido e deve ser superado.

Para isso é necessário encerrar as décadas de divórcio entre a esquerda, sua intelectualidade e os
interesses concretos do povo. Essa tarefa, num contexto de circulação global de ideias e
conhecimentos, envolve não só uma renovação do marxismo brasileiro, mas de toda teoria crítica
ocidental que se encontra ainda desconectada da sua razão de existir e absorvida pela farsa do fim da
história iniciada a partir da vitória da democracia liberal burguesa sobre as experiências socialistas no
final do século XX. Só com uma teoria da história na qual a democracia liberal não seja a forma final
da experiência humana podemos enxergar suas contradições, explorar suas fragilidades e construir a
nossa vitória.

Dicas de leitura da Boitempo

Marxismo e questão racial (https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/margem-esquerda-27-631),


edição especial da revista da Boitempo, com dossiê de capa coordenado por Silvio Luiz de Almeida
Crise e pandemia (https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/e-book-crise-e-pandemia-959), de
Alysson Leandro Mascaro
O marxismo ocidental (https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/o-marxismo-ocidental-809), de
Domenico Losurdo
Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais
(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/marx-nas-margens-899), de Kevin B. Anderson
(https://blogdaboitempo.com.br/dossies-tematicos/dossie-
coronavirus/)

O Blog da Boitempo apresenta um dossiê urgente com reflexões


feitas por alguns dos principais pensadores críticos
contemporâneos, nacionais e internacionais, sobre as dimensões
sociais, econômicas, filosóficas, culturais, ecológicas e políticas da
atual pandemia do coronavírus. Confira aqui
(https://blogdaboitempo.com.br/dossies-tematicos/dossie-
coronavirus/) a página com atualizações diárias com análises,
artigos, reflexões e vídeos sobre o tema.

NOTAS

1 Frantz Fanon, Os condenados da terra (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 1968). p. 29.

2 Rede Observatórios da Segurança, “Operações policiais no RJ durante a pandemia: frequentes e

ainda mais letais (http://observatorioseguranca.com.br/wp-


content/uploads/2020/05/Operac%CC%A7o%CC%83es-policiais-no-RJ-durante-a-pandemia.pdf)”, 20
maio 2020.
3 Janaina Azevedo, “Negros no mundo (https://www.ufjf.br/ladem/2010/01/24/negros-do-mundo/)”.

Juiz de Fora, 24 jan. 2010.


4 História do combate às drogas no Brasil. Em discussão!, Brasília, DF, v. 2, n. 8, ago. 2011. Disponível

aqui (https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-quimica/iniciativas-do-governo-no-
combate-as-drogas/historia-do-combate-as-drogas-no-brasil.aspx).
5 BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Dados sobre população carcerária do Brasil

atualizados: nova ferramenta de visualização dos dados penitenciários vai possibilitar comprar
informações de diferentes anos e categorias. 17 fev. 2020. Disponível aqui (https://www.gov.br/pt-
br/noticias/justica-e-seguranca/2020/02/dados-sobre-populacao-carceraria-do-brasil-sao-atualizados).
Acesso em: 03 jun. 2020.
6 IPEA, Atlas da violência, Brasília, DF, 2019. Disponível aqui

(https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/filtros-
series/1/homicidios.%20Acesso%20em:%2003%20jun.%202020).
7 Stuart Hall et al. Policing the crisis: mugging, the state and law and order (Basingstoke: Palgrave

Macmillian, 2013).
8 Anne Vigna, “Operação policial financiada por empresários cariocas mira moradores de rua

(https://apublica.org/2016/02/operacao-policial-financiada-por-empresarios-cariocas-mira-moradores-
de-rua/), Pública: Agência de Jornalismo Investigativo, 19 fev. 2016.
9 Henrique Coelho, “Rio teve mais de 3.250 autos de resistência entre 2010 e 2015, diz ISP”. Portal G1

(http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10/rio-teve-mais-de-3250-autos-de-resistencia-entre-2010-e-
2015-diz-isp.html), 17 out. 2015.
10 Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Balanço das greves de 2016

(https://www.dieese.org.br/balancodasgreves/2016/estPesq84balancogreves2016.html), São Paulo, n.


84, ago. 2017.
11 “Com crise, desemprego subiu mais entre pretos e pardos, diz IBGE

(https://exame.com/economia/com-crise-desemprego-subiu-mais-entre-pretos-e-pardos-diz-ibge/)”.
Exame, 22 fev. 2019.
12 Silvio Luiz de Almeida, O que é racismo estrutural? (Belo Horizonte: Letramento, 2018), p. 36-44.

13 Pedro Tédile, Roberta Traspadini (orgs.), Ruy Mauro Marini: vida e obra (São Paulo: Expressão

Popular, 2011).
14 Pedro Henrique Evangelista Duarte, Superpopulação relativa, dependência e marginalidade: ensaio sobre

o excedente de mão de obra no Brasil. 2015. Tese (Doutorado em Economia) — Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, SP, 2015.
15 Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Livro I: o processo de produção do capital

(https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/o-capital-livro-i-653), (São Paulo: Boitempo, 2013),


cap. 23 “Lei geral da acumulação capitalista”, p. 689-784.
16 Clóvis Moura, “Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo”, Afro-Ásia, n. 14, p. 124-137,

1983.
17 IBGE, “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua

(https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/25814-pnad-continua-taxa-de-desocupacao-e-de-11-8-e-taxa-de-subutilizacao-e-24-0-
no-trimestre-encerrado-em-setembro-de-2019), Brasília, DF, 31 out. 2019.
18 Fanon, cit. p. 29.

19 Roberta Pennafort, “‘A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo’ diz novo governador do Rio

(https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,a-policia-vai-mirar-na-cabecinha-e-fogo-diz-novo-
governador-do-rio,70002578109)”, O Estado de São Paulo, 1 nov. 2018.
20 Louise Rolim (org.), Segurança pública em números 2019: evolução dos principais indicadores de

criminalidade e atividade policial no estado do Rio de Janeiro de 2003 a 2019


(http://arquivos.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/SegurancaEmNumeros2019.pdf) (Rio de
Janeiro: ISP, 2020).
21 Júlia Barbon, Italo Nogueira, “Sob Intervenção Rio tem o maior número de políciais mortos em 16

anos: moradores relatam de estupro a roubo em estudo sobre abusos em operações


(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/12/sob-intervencao-rio-tem-maior-numero-de-mortos-
por-policiais-em-16-anos.shtml)”. Folha de São Paulo, 10 dez. 2018.
22 Paula Bianchi, “Rio: menos de 1% do dinheiro da segurança vai para investimentos na área

(https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/10/19/rio-destaca-menos-de-1-do-
orcamento-de-seguranca-publica-para-investimentos.htm?cmpid=copiaecola)”. Portal de Notíciais Uol,
26 set. 2017.
23 Felipe Grandim, Marco Antônio Martins, Nicolás Satirano, “Crise, falência de UPPs, banalização

de fuzis, violência na folia: veja motivos que levaram à intervenção federal no RJ


(https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/crise-falencia-de-upps-banalizacao-de-fuzis-violencia-
na-folia-veja-motivos-que-levaram-a-intervencao-federal-no-rj.ghtml)”. Portal G1, 17 fev. 2018.
24 Fanon, cit., p. 28-9.

25 Ana Paula Santos, Ben-Hur Correia, “Iabas não sabe quando hospitais de campanha de São

Gonçalo e Nova Iguaçu vão abrir: inauguração das unidades, previstas para o fim de abril, já foi
adiada ao menos 4 vezes (https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/29/iabas-nao-sabe-
quando-hospitais-de-campanha-de-sao-goncalo-e-nova-iguacu-vao-abrir.ghtml)”. Portal G1, 29 mai.
2020.
26 Raúl Zibechi, “Coronavirus: la militarización de las crisis

(https://www.jornada.com.mx/2020/02/28/opinion/020a1po)”. La Jornada, 28 fev. 2020.


27 Rede Observatórios da Segurança, 2020.

***
Tálison Vasques é militante do PCB e do Coletivo Negro Minervino de Oliveira. Colabora com o
Blog da Boitempo especialmente para o dossiê “Coronavírus e sociedade
(https://blogdaboitempo.com.br/dossies-tematicos/dossie-coronavirus/)“.
brasil
colonização
coronavírus
covid
COVID-19
fanon
humanidade
losurdo
pandemia
questão colonial
questão racial
racialização
racismo
revolução brasileira

1 comentário em O genocídio como atividade essencial do Estado

1. joodoliveira // 16/06/2020 às 10:10 am // Responder


Pode até parecer que eu esteja vendo a desgraça maior que a ferida gangrenada ao inferir que a
pandemia veio sob encomenda para o capitalismo manso ou selvagem pois, ela está a resolver um
problema atual considerado assaz sério, mormente nos países ditos “em desenvolvimento”: gente
demais e sobrando! Pense em quantos bilhões de litros d´água estão represados nos seres
humanos chineses e isto também faz parte do aquecimento global… Voltando ao assunto: seja
pela robotização da produção de bens e intelectual (desemprego) e longevidade (custo social). O
mais é aquela história da cobra mordendo o próprio rabo: aquela gama de profissões e ofícios que
depende da criminalidade persecutória para bem sobreviver: pois um não existiria sem o outro e
ficamos a discutir quem nasceu primeiro: o sol ou a lua só para darmos um tom mais
intelectualizado à nossa dúvida! E no enredo do “samba do ‘criolo’ doido” eu fico com a
sabedoria popular: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Na falta de perspectiva de uma vida
melhor – não só para aquela 1/2 duzia de atletas emergidos da desgraça – qual a diferença entre
“morrer de fome” ou morrer por um tiro e agora, pelo COVID-19

2 Trackbacks / Pingbacks

1. O genocídio como atividade essencial do Estado – Blog da Boitempo | EVS NOT


2. O genocídio como atividade essencial do Estado – Coletivo Negro Minervino de Oliveira

Siga o Blog da Boitempo


Junte-se a 72mil outros assinantes
Siga a Boitempo
www.boitempoeditorial.com.br


Boitempo Editorial
R. Pereira Leite, 373
Sumarezinho // 05442-000
São Paulo // SP // Brasil
(55 11) 3875-7285/50
Publicado originalmente no Blog da Boitempo

Você também pode gostar