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Violência Urbana

02/04/2013 por Damásio Evangelista de Jesus


http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/violencia -urbana/10820

A violência urbana, que nos faz vítimas todos os dias, consistente em assaltos,
agressões físicas, estupros, sequestros, homicídios e tantos outros delitos, não
é nova, existindo desde épocas remotas. Atualmente, sua natureza e formas de
manifestação expressam-se conforme as condições das cidades, consideradas
estas as regiões urbanas que possuem mais de 25 mil habitantes, dependendo
das condições sociais e econômicas das comunidades. Assim, nos
aglomerados desenvolvidos são cometidos mais crimes contra a propriedade;
nos em desenvolvimento, delitos contra a pessoa, como lesões corporais e
homicídios. Ela é parte do cotidiano das cidades brasileiras, fazendo com que o
Brasil, em 2010, em pesquisa de 2013, tenha sido o país com o maior número
de assassinatos em todo o mundo (Folha de S.Paulo, 14 mar., C4).

Na década de 1970, na França, experiências com ratos demonstraram que,


agrupados em gaiolas, enquanto em pequeno número não se lesavam.
Quando, entretanto, maior o número de animais nas gaiolas, aumentavam os
ataques entre eles, chegando até a formação de quadrilhas para subtrair
alimentos das vítimas. No plano da humanidade, quanto maior o número de
habitantes em uma cidade, maior é o de violência urbana. Nos idos de 1970, as
cidades a partir de 200 mil habitantes começavam a sofrer questões de
delinquência e vitimização. Hoje, em face do progresso da tecnologia e dos
meios de comunicação e transporte, essas ocorrências têm aumentado
significativamente e se espalhado por todas as regiões do Brasil. Não há mais
regiões seguras.

Em certos casos, devido à perseguição da polícia, há migração de criminosos


para zonas em que a repressão é menos intensa, abarcando sua atividade
zonas inteiras, compostas de várias comunidades. É o que ocorre em
determinadas regiões do Estado de São Paulo, nas quais, até meados de
1960, passavam-se anos e anos sem a prática de homicídios. Em Marília,
interior de São Paulo, onde passei minha infância, durante anos a prática de
homicídio era muito rara. Nos dias atuais, a taxa anual de ataques físicos tem
aumentado cerca de 30%. É o que acontece, por exemplo, na cidade de Bauru
(SP), em que a taxa de homicídios cresceu 30% nos últimos anos. Nas grandes
aglomerações de habitantes, Maceió, a cidade mais violenta do Brasil, de 2000
a 2010, teve o número de homicídios aumentado extraordinariamente,
chegando a apresentar “áreas vetadas para circulação”, como o Vergel do
Lago, tendo em vista a criminalidade urbana (Folha de S.Paulo, idem, C5).
Circunstância especial a ser apontada, anote-se, é a construção de presídios
fora dos grandes centros. Ao lado deles, em pouco tempo, mudam-se os
familiares de detentos, formando comunidades sem proteção social.

A violência urbana, na faixa de furtos e roubos a mão armada, ocorre


geralmente nas grandes cidades, onde o número de vítimas presumivelmente
abastadas é maior. Nas cidades menores, a vitimização apontada alcança o
tráfico nacional e internacional de seres humanos, onde se acredita viverem
vítimas menos experientes do que as de grandes centros. Mas nem sempre
isso acontece, uma vez que os autores de pequenos assaltos contentam-se
com quantias pequenas de dinheiro, geralmente na casa dos R$ 10 a R$
50,00, capazes de permitir a compra de doses suficientes de maconha e outras
drogas de pequeno valor. Recentemente, as companhias de turismo da França
recomendaram que os visitantes, quando na cidade do Rio de Janeiro,
estivessem com R$ 50,00 para entregar ao ladrão, fato que também já foi
recomendado pelos Estados Unidos.

A população urbana de hoje é maior do que o total mundial de 2000. Acredita-


se que, em um futuro bem próximo, 70% das pessoas passem a viver nas
grandes cidades. Entre nós, esse fenômeno social está ocorrendo há muitos
anos, espantando o número de pessoas que, deixando os campos, transferem-
se para as cidades. No interior de São Paulo, não é difícil ver abandonadas
colônias inteiras de casas de fazendas, onde moravam milhares de famílias de
trabalhadores rurais. Nos dias atuais ainda é possível ver, nas regiões de
Duartina, Marília e Arealva (SP), fileiras de casas de colonos abandonadas por
famílias que fugiram para cidades à procura de vida melhor.

Vindo para os grandes centros, engrossam o número de desabrigados, sem


emprego e sem rumo. Em alguns casos, as filhas servem de vítimas de tráfico
sexual internacional; os filhos, às vezes, desabam para as drogas e o crime
contra a propriedade. No interior de São Paulo, temos conhecimento de alguns
filhos de antigos sitiantes e trabalhadores rurais que, vindo para as cidades
grandes, dada a sua possível ingenuidade e falta de conhecimento dos perigos
dos relacionamentos sociais, engrossam a delinquência juvenil e não raro são
confundidos pela polícia como componentes de quadrilhas especializadas em
comércio de drogas, armas de fogo e pequenos assaltos.

No plano constitucional brasileiro, compete ao Estado, e não ao Município ou à


União, a repressão à atividade criminosa. Em face do aumento da população,
os Estados, diante da pequenez da quantia por eles recebida dos valores dos
tributos arrecadados pela União, não têm condições de proteger os cidadãos
nas suas comunidades. Os Municípios, por razões legais e financeiras, são
quase inertes em termos de segurança pública. E as comunidades, pelas
mesmas razões, mostram-se prostradas diante dos furtos, roubos, sequestros
e tantos outros crimes. O resultado é desastroso, transformando-nos em
vítimas pacatas e sem esperança.

Estima-se que, em 2030, 30% dos pobres do mundo inteiro estejam vivendo
nas grandes cidades; em 2050, esse número passará a 50%. Desse total, entre
30% e 70% não terão condições sociais de vida (saúde, educação, emprego
etc.). Nessa época, no Brasil, pesquisa do fim do século passado sobre nosso
futuro indicava a existência de 60% de miseráveis. Temos esperança de que
isso não ocorra.

A prevenção à criminalidade urbana, inclusive a violenta, só pode ter sucesso


por intermédio de uma inclusão humana social, econômica e política. Não se
reduz a criminalidade a níveis razoáveis unicamente por meio da lei, definindo
novos fatos típicos, agravando a resposta penal e excluindo benefícios dos
autores de infrações penais graves. É uma verdade secular, já vivida pelo
nosso País há longos anos com enorme prejuízo à segurança pública.

A repressão à violência urbana não se faz à força, como se prendendo


criminosos tivéssemos cidades limpas de péssimos indivíduos. Isso se faz, em
primeiro lugar, pela educação, esperando-se resultados positivos no futuro.

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