Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Introdução
Entretanto, nem toda a violência leva à morte, mas esta revela o grau mais extremo
que ela chegou, e de acordo com a sua quantidade pode revelar-se um problema
epidêmico. Especificamente, a violência urbana que envolve as condições de
existência de determinada população e que não deve ser considerada de modo
separado, a não ser como recurso para ampliá-la no processo de levantamento de
dados, sua análise e espacialização. Nesse sentido, os dados e as pesquisas
desenvolvidas por profissionais da Saúde Pública (MINAYO, 2007) permitem uma
espacialização da informação – os óbitos por causas externas - numa escala
intraurbana das Unidades Básicas de Saúde. Eles são um ponto de partida para a
identificação do total desse tipo de morte, sua distribuição por faixas etárias e
demandam informações em outras fontes. Os microdados do IBGE, numa outra
divisão espacial, possibilitam também informações por setores nas cidades. Outros
dados referentes aos detalhes em Boletins de Ocorrência registrados em delegacias
ou atestados de óbitos1 após autópsias em IMLs são também fontes importantes. A
análise desses dados permite uma aproximação à questão, pois até que ponto
determinado aspecto da violência urbana pode ser associado a este ou aquele fator
e de qual escala espacial estamos tratando?
A estrutura explicativa nos leva à questão: as mortes violentas de jovens podem ser
consideradas como o resultado da pobreza e de fluxos migratório? Em pesquisa2
realizada envolvendo dados entre 1981 a 1989 para os estados brasileiros a relação
direta entre pobreza e violência não se confirmou (ZALUAR; NORONHA;
ALBUQUERQUE, 2007). No estado mais violento – o Rio de Janeiro – os crimes
contra a pessoa tiveram um aumento (duplicaram) antes de 1988, ano em que a
proporção de pobres iniciou um aumento. Roraima e Rondônia, estados tão
violentos quanto o Rio de Janeiro, se caracterizaram pela existência de frentes de
expansão, garimpo e tráfico de drogas. As duas primeiras são atividades que
ocorrem quando a estrutura fundiária ainda não se estabilizou e a grilagem é a forma
mais freqüente de apropriação privada da terra, resultando em conflitos e mortes. E
delas não podemos desconsiderar o espaço rural onde as disputas acontecem e que
4
se refletem sob a forma de mortes nas cidades. A violência na cidade carioca foi
analisada sob outros fatores. O processo de invasões de terrenos públicos que
beneficiaram grileiros e cabos eleitorais tornou tensas as relações sociais nesses
novos bairros. A ocupação das calçadas por camelôs “misturou uma saída para o
desemprego com o crime organizado, este ainda mais patente nos ferros-velhos e
ourivesarias, que viraram centros de receptação e de organização do crime”
(ZALUAR; NORONHA; ALBUQUERQUE, 2007, p. 215).
Quanto à migração há duas questões que devem ser analisadas. Entre 1980 a 1986
estima-se que 1,5 milhões de agricultores deixaram o estado do Paraná, com
destino principalmente para Rondônia. Curitiba pode ter recebido um milhão de
migrantes, mas não apresentou taxas elevadas de homicídios, o contrário de
Rondônia. Pode ser que o crescimento populacional nas sedes municipais de
municípios do entorno de Curitiba expliquem esse quadro. Mas devemos buscar
outras configurações de circunstâncias que tornam uma cidade mais violenta, como
as relações entre o tipo de emprego informal e o contrabando, o tráfico e o consumo
de drogas, criação de territórios ilegais, a corrupção policial, a facilidade na
aquisição de armas e roubo de carros.
Desenvolvimento
A localização dessas mortes entre 2000 e 2002 revelou uma estreita relação entre
ocupações irregulares – favelas e assentamento - a partir do local de residência e o
local do óbito. Em 2001, a zona Oeste da cidade que abarca o Assentamento João
Turquino, Maracanã e seu entorno (extremo oeste), e Jardim Nossa Senhora da Paz
(também conhecido com Grilo da Caixa Econômica ou Favela da Bratac) apresentou
uma taxa de 43,99 homicídios em cada grupo de 100.000 habitantes. Em 2002,
Londrina registrou um alarmante aumento nos assassinatos de 125 para 164
ocorrências registradas no município, correspondendo ao incremento da taxa de
homicídios de 29,14 para 37,34 por 100.000 habitantes. Isso se deveu às mortes
registradas na região Leste (Favela São Rafael, Assentamentos Santa Fé e Monte
Cristo e ocupações no fundo de vale do Córrego Água das Pedras) e na região
Oeste, respectivamente com 54,22 e 53,19 mortes por 100.000 habitantes (ZEQUIM,
2004).
Nos dados analisados entre 2000 e 2002, o perfil das vítimas apontou para jovens,
na maioria desempregados, em que pese a escassa informação a este respeito nos
dados consultados. Pouco mais da metade mortos não distante 500 metros de sua
residência (ZEQUIM, 2004).
mesmo tempo, insinuava que o acesso à moradia seria mais fácil de ser adquirida
na cidade, criando uma “indústria” de ocupações irregulares através de cabos
eleitorais, atividade incrementada às vésperas das eleições municipais. A conjuntura
favorável de construção de moradias populares para a população favelada na
metade da década de 1970 foi não só motivo para as reeleições desse prefeito como
para a criação de “currais eleitorais”. A despeito da visível melhoria de condições de
renda dos primeiros beneficiados nos vários conjuntos habitacionais na região Norte
da cidade, distantes em média 10 quilômetros do centro. Essa política clientelista
ainda conta no imaginário político da cidade. Senão, como explicar que apesar da
cassação de seu mandato em junho de 2000 por improbidade, ele recebeu uma
votação expressiva no primeiro quanto no segundo turno (100.000 votos) da eleição
em 2004 para a Prefeitura de Londrina elegeu-se deputado estadual4 e mantém uma
declarada candidatura? (GOUVEIA, 2006). Esses laços políticos deve ser
pesquisados na análise da violência urbana não apenas em relação ao acesso à
moradia, mas de que maneira são mediadas as necessidades dos eleitores e o
poder político representado pelo prefeito e vereadores quanto ao acesso e às
modificações da área urbana, propiciando (ou não) a especulação urbana e a
ocupação irregular.
Boa parte das armas chega às mãos de adolescentes por intermédio de traficantes.
Eles as repassam normalmente para os chamados ''aviões'' meninos e meninas
que comercializam drogas no varejo. Outras vias de acesso são furto e roubo.
(QUEM, 2006)
Conclusão
DE HABITAÇÃO, 2006). Mas não garantem que o bairro ou parte dele fique fora da
esfera da violência.
A ausência de elementos como as relações políticas (e por isso de poder) formais e
informais (e por vezes ilícitas) vem prejudicando essa análise, assim como não
serem consideradas as medidas que abranjam a segurança pública e polícia
comunitária (SCHEREMETA, 2005). Principalmente porque se verifica que a
violência urbana quando vista a partir de um só aspecto – mortes violentas de jovens
do sexo masculino – se revela concentrada em determinados bairros nas cidades. E
ao utilizarmos essa variável devemos buscar na rede de atividades ilícitas a
instituição que vem empregando esses jovens como mão-de-obra barata e
preferencial para ocupar a base hierárquica mais perigosa. A crescente violência
revelada no trabalho O Mapa da Violência no Brasil demonstra que há pelo menos
quatro variáveis para caracterizá-la: taxas de homicídio na população total, taxas de
homicídios juvenis, óbitos por acidentes de transportes (taxa de número absoluto) e
mortes por arma de fogo. Quando comparamos cidades com o mesmo número
populacional e cujas atividades econômicas transformaram-nas em espaços
importantes na hierarquia regional encontramos dados distintos a respeito desses
quatro elemento caracterizadores, mas principalmente em relação à segunda
variável. O que explica essa diferença? Um caminho pode ser vislumbrado numa
entrevista dada José Pereira de Oliveira Jr., líder do grupo cultural carioca
AfroReggae. Nela há um trecho em que ele registra um aumento na procura pela
ONG de rapazes que querem sair do tráfico causado pela queda na remuneração:
[Um gerente de boca-de-fumo] no caso de Vigário Geral, os caras estão
ganhando R$ 80 por semana. Para quem já ganhou R$ 3 mil, R$ 5 mil, não
é nada. [O que estaria acontecendo na maioria das favelas carioca] As
favelas da Leopoldina estão todas sem grana, menos o Complexo do
Alemão e a Penha. [...] O tráfico no Alemão dá lucro. (RODRIGUES e
VIEIRA, 2007).
LONDRINA 2005/2006). Esse dado é importante para uma comparação onde houve
a mortalidade violenta de jovens, o que se confirmou nos dados entre 2000 e 2002
para algumas dessas áreas – e pelo fato de serem áreas sob a ação do narcotráfico.
Isso porque essas mortes não apresentaram uma distribuição dispersa no espaço
urbano da cidade e nem por todas as favelas e ocupações irregulares.
Referências
ALUNOS seqüestram diretora de escola no Paraná. Portal G1. São Paulo. 4 Abr
2007. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL18036-5598,00.html. Acesso
em 19 Jun 2007.
MINAYO, Maria Cecília de S.. Violência social sob a perspectiva da saúde pública.
Cad. Saúde Pública., Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X1994000500002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 Jun 2007.
'QUEM compra a arma tem que assumir tudo'. Jornal de Londrina. Londrina. 29
Out. 2004. Disponível em
< http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=5892LINKCHMdt=20041029> .
Acesso em 19 jun 2007.
SILVEIRA, Fábio. ‘Onde Moras’ transforma vida no Jardim São Jorge. Jornal de
Londrina. Londrina. 14 Mai 2007. Disponível em
http://canais.rpc.com.br/jl/manchete/conteudo.phtml?id=661060 Acesso em 19 Jun.
2007.
1
O atestado de óbito normalmente fornece dados relativos à idade, sexo, estado
civil, profissão, naturalidade e local de residência.
2
O trabalho pautou-se na análise de estatísticas de mortalidade do Ministério da
Saúde por causas externas (1981-1989) nas escalas espaciais de unidades da
federação, áreas metropolitanas e capitais, com ênfase nos homicídios.
3
Segundo o delegado responsável pelo setor de homicídios da 10ª SDP na época,
as mortes relacionadas ao narcotráfico e crime organizado em Londrina, são
caracterizadas pela execução sumária com armas de maior capacidade de tiros que
as utilizadas pela própria polícia.
15
4
Houve uma ampliação de votos para outros municípios, como Ibiporã, Tamarana e
Jataizinho, pois do total de 81 mil votos recebidos para deputado estadual na última
eleição, 68 mil foram dados por eleitores do município de Londrina.
5
Em maio de 2007, atitudes violentas promovidas por estudantes dentro das escolas
– seqüestro de uma diretora, assaltos a professores, apreensão de armas em sala
de aula, depredação de material e agressões –,levou à manifestação dos docentes e
do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, a APP - Sindicato. (FADEL, 2007;
ALUNOS, 2007)
6
“As discussões colegiadas envolvendo os casos de violência buscam identificar
formas de intervenção, por meio das quais a violência possa ser combatida e a
prevenção se institua como prática do cotidiano. Nesse sentido, as ações
contemplam visitas domiciliares regulares para o monitoramento das situações de
violência; constituição de grupos de intervenção psicossocial, congregando crianças,
adolescentes e familiares adultos; reuniões periódicas entre a equipe da
Universidade e representantes dos poderes públicos locais como Conselhos
Tutelares e Promotoria da Infância e Juventude para dar os encaminhamentos
jurídicos necessários; intercâmbio permanente com as instituições da rede pública e
privada do município para articular ações e estratégias de proteção às crianças e
adolescentes, evitando a fragmentação e sobreposição das intervenções.” (BARROS
e SUGUIHIRO, 2003)