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26/04/2024, 13:34 Homicídios e desorganização social: o caso de Belo Horizonte

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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia

62 | 2024
Número 62

Homicídios e desorganização social: o


caso de Belo Horizonte
Homicides et désorganisation sociale : le cas de Belo Horizonte
Homicides and social disorganization: the case of Belo Horizonte

Rafael Augusto Reis da Mata, Alexandre M. A. Diniz et


Antônio Hot Pereira de Faria
https://doi.org/10.4000/confins.56864

Résumés
Português Français English
O presente artigo investiga a relação entre características socioeconômicas da população de Belo
Horizonte, retiradas dos indicadores demográficos do CENSO 2010, e os crimes de homicídio
registrados no mesmo ano, além de contar com os bairros do município como recorte espacial
para a análise. Foi utilizada a Teoria da Desorganização Social para embasamento, onde
consideramos a hipótese de que redes urbanas e as comunidades locais contribuem para o
processo de socialização do indivíduo e que quando as comunidades sofrem com vulnerabilidade
socioeconômica, o controle social é dificultado, podendo condicionar o comportamento
criminoso. Por meio das análises de correlação e regressão linear, constatou-se uma relação
direta entre a ocorrência de homicídios e a maioria dos indicadores socioeconômicos,
confirmando a hipótese da pesquisa.

Cet article examine la relation entre les caractéristiques socio-économiques de la population de


Belo Horizonte, extraites des indicateurs démographiques du recensement de 2010, et les crimes
d'homicide enregistrés la même année, en utilisant les quartiers de la municipalité comme
découpage spatial pour l'analyse. La théorie de la désorganisation sociale a été utilisée comme
fondement, où nous considérons l'hypothèse selon laquelle les réseaux urbains et les
communautés locales contribuent au processus de socialisation de l'individu et que lorsque les
communautés sont confrontées à une vulnérabilité socio-économique, le contrôle social est
entravé, ce qui peut conditionner le comportement criminel. A travers les analyses de corrélation
et de régression linéaire, une relation directe entre l´occurrence d'homicides et la plupart des
indicateurs socio-économiques a été constatée, confirmant l´hypothèse de la recherche.

This article investigates the relationship between socioeconomic characteristics of the population
of Belo Horizonte, taken from the demographic indicators of the 2010 census, and homicide
crimes recorded in the same year, in addition to counting on the districts of the municipality as a
spatial clipping for the analysis. The Theory of Social Disorganization was used as a basis, where
we consider the hypothesis that urban networks and local communities contribute to the process

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of socialization of the individual and that when communities suffer from socioeconomic
vulnerability, social control is difficult, which may condition criminal behavior. Through
correlation and linear regression analyses, a direct relationship was found between the
occurrence of homicides and most socioeconomic indicators, confirming the hypothesis of the
research.

Entrées d’index
Index de mots-clés : géographie du crime, homicides, désorganisation sociale, analyse spatiale,
Belo Horizonte.
Index by keywords: crime geography, homicide, social disorganization, spatial analysis, Belo
Horizonte.
Index géographique : Belo Horizonte
Índice de palavras-chaves: geografia do crime, homicídios, desorganização social, análise
espacial, Belo Horizonte.

Texte intégral

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1 Em 2019, o Brasil registrou o segundo maior número de homicídios da América do
Sul ao apresentar uma taxa de 30.5 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Naquele
ano, o país ficou atrás apenas da Venezuela, com 56.8, de acordo com o Escritório das
Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (United Nations Office on Drugs and Crime –
UNODC). Os dados do relatório intitulado “Estudo Global sobre Homicídio” (Global
Study on Homicide) ainda apontam que o continente americano é a região com a maior
concentração de assassinatos do planeta, estando à frente, até mesmo, da África e da
Ásia.
2 Nesse contexto, entre 1991 e 2017, cerca de 1,2 milhões de brasileiros perderam suas
vidas em função dessa fatalidade, onde o crime organizado é responsável por 1 a cada 5
mortes. É possível afirmar que o número de homicídios em todo o planeta é maior do
que a quantidade de mortes ocorridas em função de confrontos armados, o que chama a
atenção para a intensidade deste problema social (UNODC, 2019).
3 De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde
(SIM/MS), durante 2019, o país apresentou 45.503 registros de mortes por assassinato,
o menor valor mensurado desde o ano de 1995. Apesar da redução, o número deve ser
visto com cautela em função do fenômeno iniciado em 2018 de crescimento de Mortes
Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), decorrente da deterioração da qualidade
dos registros oficiais do SIM/MS (Cerqueira et alii, 2021). Assim, ao observar o “Atlas
da Violência 2019” (Cerqueira et alii, 2020) e o “Atlas da Violência 2020” (Cerqueira et.
alii, 2020), pode-se notar uma diminuição na taxa de homicídios registrados,
principalmente em função de três fatores:
4 “[...] 1.) a mudança do regime demográfico rumo ao envelhecimento da população e a
diminuição do número de jovens; 2.) a implementação de ações e programas
qualificados de segurança pública em alguns estados e municípios brasileiros; e 3.) o
Estatuto do Desarmamento (Cerqueira et alii, 2021).”

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5 Este artigo tem o objetivo de investigar os fatores socioeconômicos dos bairros de
Belo Horizonte para tentar descobrir possíveis fatores condicionantes da distribuição
espacial irregular do comportamento criminoso homicida. De acordo com a Teoria da
Desorganização Social (Shaw; Mckay, 1942), pressupomos que locais caracterizados por
uma forte vulnerabilidade e pobreza, além de concentrações étnicas segregadas do
restante da população em razão das desigualdades socioeconômicas, são aqueles onde
os crimes de homicídio acontecem com mais frequência, exatamente em função da
dificuldade que o poder público encontra para estabelecer o controle dessa população,
não apenas por meio de fatores de segurança pública, mas também devido à privações
de serviços básicos, como educação de qualidade, que dificultam a absorção de cultura e
das normas que a sociedade como um todo estabelece.
6 A relevância desta pesquisa consiste no tipo de análise espacial fornecida, ainda rara
de se encontrar em publicações no campo da Segurança Pública, mas que oferece um
valioso subsídio para os poderes do Estado.
7 Este estudo emprega dados de ocorrências de homicídios em Belo Horizonte e
informações socioeconômicas do Censo Demográfico de 2010, produzindo uma análise
espacial e uma análise de regressão linear múltipla na busca dos fatores condicionantes
dessa modalidade de crime. A distribuição espacial dos homicídios mostra um padrão
centro-periférico, com taxas mais altas nas periferias da cidade. O modelo de regressão
incluiu variáveis como renda per capita, densidade demográfica e porcentagem de
pessoas negras e os resultados demostraram que baixa escolaridade, pobreza e
desigualdade social estão relacionadas aos homicídios, enquanto maior escolaridade e
presença feminina na chefia de família estão associadas a menores taxas de homicídio.
No entanto, outras variáveis como densidade demográfica e porcentagem de pessoas
jovens não foram significantes no modelo devido à multicolinearidade.
8 Além da introdução, o artigo está dividido em cinco seções. Primeiro, discute-se o
estudo científico dos homicídios, com um foco posterior nos fatores sociais que
influenciam a mortalidade por homicídio. As últimas seções abordam a metodologia, os
resultados e sua discussão, seguidos das conclusões finais

O estudo científico dos homicídios


9 O estudo científico dos homicídios tem uma longa trajetória e diversos autores
tentaram explicar por que as pessoas cometem crimes. Lombroso (1911), considerado o
pai da criminologia positivista, introduziu a noção do atavismo. Trata-se da primeira
tentativa de teorização científica no pensamento criminológico, inspirada na teoria da
seleção natural de Darwin. De acordo com essa abordagem, o homicida é uma categoria
distinta de indivíduo com uma predisposição biológica ou psicológica para matar.
Lombroso afirmava que a criminalidade era herdada, e que alguém "nascido criminoso"
poderia ser identificado por defeitos físicos, afirmando que os criminosos são
distinguíveis dos não-criminosos por múltiplas anomalias físicas. Na esteira da escola
positivista, Hooten (1939) postulava que o comportamento criminoso está enraizado na
genética. Logo, a eliminação do crime só poderia ser efetuada pela extirpação dos
indivíduos fisicamente, mentalmente e moralmente inadequados; ou por sua completa
segregação.
10 Teoria da Anomia formulada por Merton (1938) representa uma das mais
tradicionais explicações de viés sociológico acerca da criminalidade. De acordo com o
autor, o motivo por trás da delinquência seria devido à impossibilidade de o indivíduo
alcançar as metas desejadas por ele, como, por exemplo, o sucesso econômico. Salienta-
se que a operacionalização de tal teoria originou três possibilidades distintas de
aferição, sendo elas: 1.) disparidade entre as aspirações pessoais e os meios disponíveis,
ou expectativa de se realizar; 2.) falta de oportunidades (Agnew et alii, 1987); e 3.)
privação relativa (Burton et alii, 1994).
11 Inaugurada por Sutherland (1942), a Teoria da Associação Diferencial apresenta um
foco de análise no processo pelo qual os indivíduos, principalmente a população jovem,
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desenvolvem seus comportamentos a partir de suas experiências de vida em função de
situações de conflito. Assim, essas experiências seriam favoráveis ou desfavoráveis ao
crime, sendo apreendidas por meio de interações com outros indivíduos, baseadas na
comunicação interpessoal e diretamente relacionadas à família, os grupos de amizades e
as comunidades locais.
12 Também com foco na socialização dos indivíduos, Nye (1958) propôs a Teoria do
Controle Social, calcada na ideia de que as pessoas desenvolvem o autocontrole por
meio dos processos de socialização e aprendizado social, elementos considerados
essenciais para a redução da propensão para se envolver em comportamentos
desviantes e cometer crimes. Diferentemente das demais teorias que buscam elucidar o
motivo pelo qual as pessoas cometem crimes, a abordagem do controle social percorre a
motivação daqueles indivíduos que se abstêm de cometê-los. Sendo assim, a questão
seria explicar os elementos que dissuadem o cidadão do caminho criminoso, afirmando
que tais fatores estão consubstanciados pela chance do criminoso ser descoberto e o
custo representado pela respectiva punição (Briar; Piliavin, 1965).
13 Gerry Becker (1968) estabeleceu um marco no discurso acerca das determinantes da
criminalidade ao desenvolver um modelo formal onde o ato criminoso seria visto como
uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos envolvidos comparados à
alocação do seu tempo inseridos no mercado de trabalho local. Dessa maneira, a decisão
de cometer ou não um crime resultaria de um processo de maximização da utilidade
esperada, onde o indivíduo ponderaria os potenciais benefícios resultantes do ato
criminoso, subtraídos pelo salário alternativo e relativo ao mercado de trabalho.
14 A Teoria das Atividades Rotineiras sugere que a ocorrência de um crime é
condicionada pela associação de três elementos que formam uma equação criminal,
sendo eles: uma vítima em potencial, um agressor em potencial, além da ausência de
“guardiães capazes”, entendidos como qualquer objeto ou pessoa, que desencoraja a
ocorrência do crime. Esses guardiães capazes incluem alarmes, sistemas de
monitoramento por câmera, seguranças privados, ou pessoas circulando na rua, por
exemplo. De acordo com esta teoria, quanto mais investimentos em recursos de
proteção, maior seria a dificuldade para se consolidar o crime e menores as
oportunidades visíveis do agressor (Cohen, L.; Felson, 1979).
15 Gottfredson e Hirschi (1990) trouxeram à tona a Teoria do Autocontrole,
diferenciando as pessoas que apresentam comportamentos desviantes e vícios em
desvirtudes, como jogos de azar, promiscuidade sexual, fumo, drogas e alcoolismo, de
outros cidadãos que desenvolveram mecanismos de autocontrole durante a fase entre
dois ou três anos de idade até a fase pré-adolescente. Tal comportamento decorreria de
más formações no processo de socialização da criança, desenvolvidos pela ineficácia na
conduta educacional professada pelos pais, que teriam falhado em não impor limites
aos filhos, seja em função da falta de supervisão mais próxima ou mesmo por
negligenciar eventuais falhas do comportamento juvenil. Tenderia essa criança, depois
de velha, a agir motivada exclusivamente em seus próprios interesses, visando
voluptuosamente prazeres passageiros, sem levar em consideração as consequências a
longo prazo e possíveis impactos de suas ações sobre terceiros, desencadeando, assim,
os comportamentos criminosos.
16 Thornberry (1996) foi o primeiro a propor a Teoria Interacional, representada por um
modelo que analisa o comportamento desviante ocorrido durante um processo
interacional dinâmico. Assim, foi possível mais do que entender a delinquência como
uma consequência advinda de um conjunto de fatores e processos sociais, mas em uma
perspectiva interacional, procurando compreendê-la diretamente como causa e
consequência de uma variedade de relações recíprocas desenvolvidas no decorrer do
tempo. Para tanto, é preciso observar os fatores evolucionários da pessoa e aqueles
efeitos chamados de recíprocos. Quanto à perspectiva evolucionária, presume-se que o
crime não é um fenômeno constante na vida do indivíduo, mas trata-se de um processo
em que a pessoa inicia sua atividade criminosa entre os 12 ou 13 anos, aumentando seu
envolvimento por volta dos 16 ou 17 anos e finaliza o processo até os 30 anos. Já os
efeitos recíprocos são derivados da interação de variáveis socioeconômicas entre si e
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entre elas e o fenômeno criminal que se busca compreender. Essas variáveis são
sugeridas pelas teorias da Associação Diferencial e do Controle Social.
17 Outros autores buscaram elaborar um modelo integrado para elucidar a violência,
cuja síntese seriam os níveis construtores da personalidade humana, ou, estrutural,
institucional, interpessoal e individual. Para este modelo ecológico, melhor do que
analisar determinadas características isoladas, considerar a combinação de tais
atributos pertencentes aos diferentes níveis da personalidade humana seria o ideal para
explicar a violência (Shrader, 2000).
18 Como vimos, existem muitas teorias que abordam o fenômeno criminal. No entanto,
cabe destacar que segundo Cressey (1968), uma teoria que anseia elucidar o
comportamento social, e particularmente o comportamento criminoso, deve levar em
consideração ao menos dois aspectos: 1.) o entendimento das motivações e do
comportamento individual; e 2.) a epidemiologia associada, ou como esses
comportamentos estão distribuídos, deslocando-se espacial e temporalmente. Essas
ideias são corroboradas por Cerqueira e Lobão (2003), que afirmam que os estudos
acerca da causalidade criminal apresentam duas ramificações. A primeira considera as
motivações pessoais e os processos que levariam as pessoas a enveredar pela
criminalidade; a segunda concentra seus esforços em verificar relações entre as taxas de
crime diante de variações culturais e organização social.
19 Este trabalho está conectado à segunda vertente, buscando entender os
determinantes socioespaciais dos homicídios em Belo Horizonte, a partir de dados
agregados na escala dos bairros. Utiliza-se como aporte teórico a Teoria da
Desorganização Social, exatamente por tratar-se de um enfoque que busca relacionar a
criminalidade com o entorno geográfico onde ela está concentrada.
20 A Teoria da Desorganização Social explica as diferenças ecológicas na incidência
criminal com base em fatores estruturais e culturais. Influenciado por Parks e Burgess
(1925), a Teoria da Desorganização Social foi desenvolvida originalmente por Shaw e
McKay (1942) na Escola de Chicago nos anos 1940. Os estudiosos que trabalham nesta
frente buscam compreender o fenômeno por meio de uma visão integradora, ou seja,
como as comunidades locais, redes comunitárias formais e informais, incluindo relações
de amizades e parentesco, entre outras, de alguma forma contribuem para o processo de
socialização e aculturação do indivíduo.
21 De acordo com a Teoria da Desorganização Social, o crime é desencadeado pelo
enfraquecimento dos níveis de integração social dos bairros devido à ausência de
mecanismos de autorregulação, que, por sua vez, são decorrentes do impacto de fatores
estruturais nas interações sociais ou da presença de subculturas delinquentes. O
primeiro processo define a desorganização como o reflexo de baixos níveis de controle
social gerados pela desvantagem socioeconômica, rotatividade residencial e
heterogeneidade populacional; o último destaca a convergência de padrões culturais
conflitantes em bairros pobres e o surgimento de comportamentos de grupo ligados à
criminalidade (Rengifo, 2010).
22 É correto afirmar que essa teoria se baseia na ideia de que os indivíduos possuem
ligações diretas com a sociedade em que vivem, havendo certo grau de concordância
entre o indivíduo e a sociedade que pode ser chamado de trato social. Dessa maneira,
quanto mais assertiva for a integração entre o indivíduo e o sistema social, e, na mesma
proporção, sua aceitação dos valores e normas vigentes, menores são as chances dessa
pessoa se tornar um criminoso (Durkheim, 1897).
23 Assim, podemos compreender a desordem social como um problema
comportamental: é possível percebê-lo acontecer por meio da prostituição, senti-lo de
perto com o assédio sexual, ou notar suas evidências indiretas nos muros e paredes
onde existe a presença de pichação. Em corolário, depreende-se que a desordem física
envolve sinais aparentes de negligência e deterioração, como construções abandonadas,
iluminação urbana deficiente, lotes vagos e calçadas com a presença intensa de lixo
(Skogan, 1991 p.4).
24 Sampson e Groves (1989) testaram a teoria por meio de uma pesquisa que utilizou
dados de mais de 238 localidades da Grã-Bretanha, tomando como referência milhares
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de residências em 1982. Durante o estudo, foram levados em consideração os crimes
contra o patrimônio e contra a pessoa como variáveis dependentes. Já as variáveis
independentes, regionalizadas pelas localidades supracitadas, foram selecionadas por
características socioeconômicas como: estabilidade residencial; desagregação familiar;
urbanização; além de heterogeneidade étnica; redes de vizinhança; e localização de
grupos de adolescentes carentes de supervisão ou orientação dos pais e da família. O
resultado final foi significativo quanto às variáveis de desagregação familiar,
urbanização e grupos de jovens sem supervisão, ajudando a explorar os inescrutáveis
fatores que envolviam a variação criminal presente nas comunidades in situ.
25 Neste contexto, a Teoria da Desorganização Social seria motivada por uma
abordagem sistêmica, onde as comunidades urbanas e redes de vizinhança são descritas
como um enredado mosaico de ligações formais e informais, relações de amizade e
parentesco, que, não obstante, tenderiam a proporcionar todo um processo de
socialização e aculturação deficientes nos indivíduos, enquanto estes estiverem
conectados a vulnerabilidade social. Dessa forma, a criminalidade seria observada por
meio desse viés do mosaico urbano, sendo compreendida como uma das consequências
negativas da desorganização socioespacial das redes de comunidades (Shaw; Mckay,
1942).
26 Sampson (1997) disserta que essas redes sistêmicas acabam por colaborar ou
atrapalhar o controle social. Partindo deste entendimento, a criminalidade seria uma
consequência inapropriada dessa rede de relações sociais em nível comunitário (Entorf;
Spengler, 2002). É importante destacar que as teorias que enfatizam fatores contextuais
de determinadas comunidades consideram os locais onde os crimes acontecem. Essa
categoria de análise está baseada na ideia de que o comportamento individual é um tipo
de reação gerada por influência da vizinhança em que a pessoa está inserida. Assim, os
indivíduos tornam-se criminosos ou vítimas, exatamente por morarem ou frequentarem
locais onde as características do entorno favorecem o ato criminal.
27 Destaque-se que o crescimento e o adensamento populacional urbano possibilitam
maiores retornos pecuniários e menores probabilidades de detenção e aprisionamento,
aumentando os incentivos para a prática criminal (Glaeser e Sacerdote, 1999). No
entanto, a distribuição populacional por sexo e idade tem sido adotada como referência
não apenas nas abordagens teóricas, mas, também, em diversos estudos empíricos.
Cerqueira e Moura (2014) asseveram que o crime, em linhas gerais, está fortemente
relacionado ao sexo masculino, sendo condicionado pelo ciclo de vida do indivíduo,
tendendo a ser mais prevalente no período que se inicia na pré-adolescência, atingindo
o seu apogeu n os 18, sofrendo uma inflexão à medida que a idade se aproxima dos 30
anos.
28 Mas a teoria não é isenta de críticas. Umas das manifestações mais antigas foi
vocalizada por Cohen (1955), que indicou que a teoria explica o crime como resultado da
ausência de controle, negligenciando o papel da agência humana e da impulsividade
individual como condicionantes criminais. Merton (1957) assevera que mecanismos de
controle social podem exercer maior ou menor pressão em determinados indivíduos já
naturalmente predispostos ao envolvimento em comportamento desviante ou
atividades criminais.
29 Apesar dessas críticas, a Teoria apresenta uma explicação ecológica para as variações
do crime que continua atual e relevante (Porter et alii. 2015), tendo sido empregada em
diversos contextos e passado por substantivos testes empíricos (e.g. Warner e Pierce,
1993; Veysey e Messner, 1999; Kawachi et alii. 1999; Osgood e Chambers, 2000;
Markowitz, 2001; Diniz, 2005; Borges e Diniz, 2011; Tavares, 2016; Da Silva 2019;
Soares et alii. 2022).

Os condicionantes sociais da
mortalidade por homicídio
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30 Ao desenvolver análises baseadas em indicadores, o primeiro passo a ser tomado é
estabelecer conceitos ou fenômenos que podem ser observados. No que tange às
políticas públicas, criar indicadores capazes de auxiliar os gestores no acompanhamento
dos vários tipos de resultados relativos às ações empreendidas é, deveras, importante
(Mata; Diniz, 2021). Nesse trabalho, foram utilizadas algumas variáveis para
correlacionar com a taxa de homicídio em Belo Horizonte, propondo que elas estariam
diretamente conectadas às condicionantes sociais deste tipo de mortalidade. O
“Diagnóstico dos homicídios no Brasil”, produzido pelo Ministério da Justiça (2015) e
adotado como referência para fundamentar o presente estudo, prevê quatro
macrocausas principais do fenômeno, a saber: gangues e drogas, violência patrimonial,
violência interpessoal e violência doméstica. Contudo, nota-se também a presença de
alguns fatores que se apresentam como transversais a todos os homicídios, como a
disponibilidade de armas de fogo e o acúmulo de vulnerabilidade sociais (Ministério da
Justiça, 2015).
31 É possível citar que, em relação à realidade brasileira, o acúmulo de vulnerabilidades
e desigualdades, sejam econômicas ou sociais, são apontadas como grandes causadoras
gerais de conflitos e violência, dentre os quais podemos destacar os homicídios. Durante
a década de 1980, a eclosão da violência esteve associada às grandes mazelas
socioeconômicas arraigadas no seio da sociedade brasileira, o que refletiu na estagnação
de renda e aumento gradativo da desigualdade social, tendo sido esses fatores
suplantados por um combalido sistema de segurança pública (Cerqueira, 2014). De
acordo com o Ministério da Justiça (2015), os perfis de vulnerabilidade e vitimização no
Brasil apresentam-se bem característicos, com a população negra correspondendo a
72,0% das mortes, contra 26,0% para brancos e amarelos, em um total de 50.715
homicídios no ano de 2014; jovens com idade entre 15 e 29 anos também se destacam
no topo da pirâmide de homicídios no país, apresentando um percentual de mortes de
52,9% no cômputo geral. Acoplada à questão transversal da vulnerabilidade social está
a proliferação das armas de fogo, sendo este o fator mais importante para elucidar o
aumento dos homicídios na década 1990 (Cerqueira, 2014). Uma questão atual que
pode gerar riscos conjunturais futuros é a política permissiva para esse tipo de
armamento patrocinada pelo Governo Federal, desde 2019. Facilitar o acesso a essas
armas, em suma, favorece a ocorrência de crimes interpessoais e passionais, podendo
também as mesmas caírem nas mãos de criminosos, graças à comprovada conexão
entre os mercados legal e ilegal de armas (Cerqueira; Bueno, 2021).
32 A macrocausa da violência atrelada às gangues e drogas, bem como o seu respectivo
consumo e tráfico, tem sido destacada por diversos pesquisadores como ponto de
partida dos homicídios. Na literatura, a relação encontrada entre esta variável e a
violência é especialmente relacionada com o mercado de crack (Nappo; Sanchez, 2002;
Nappo; Oliveira, 2008). Cerqueira (2014) reforça que a partir dos anos 2000 foi
observado um grande aumento do consumo de drogas proibidas, particularmente o
crack, ensejando o crescimento de mercados ilícitos principalmente nos estados do
Nordeste. O tráfico de drogas é uma questão complexa, especificamente no tocante ao
aumento dos homicídios. Presente no discurso midiático e mesmo em algumas
publicações científicas, o consumo de drogas é tido como fator de risco para os
homicídios. Essa perspectiva ganha fôlego com a existência de um mercado clandestino
e paralelo, provedor de guerras entre facções e até mesmo contra o Estado. É certo que
o mercado clandestino de entorpecentes é responsável por um número enorme de
mortes no Brasil e no mundo (CGPD, 2011).
33 Além disso, o elevado percentual de jovens, proporcional à população, tem uma
relação direta e invariante entre o aumento da taxa de crimes, no geral, sendo que as
vítimas, na maioria das vezes, são os jovens do sexo masculino, negros ou pardos
(Hirschi; Gottfredson, 1983). A grande presença de jovens e a sua respectiva
vulnerabilidade são fatores determinantes para a existência de gangues, pois a
juventude é mais facilmente aliciada pelo tráfico de drogas. Isso deixa evidente que essa
parcela da população é, consequentemente, a mais vitimada. Destarte, percebe-se uma
fragilidade específica em relação aos jovens negros. Um exemplo disto é o IVJ (Índice
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de Vulnerabilidade Juvenil), que agrega indicadores dimensionadores desta
perspectiva, entre eles: violência entre jovens, frequência escolar, situação
empregatícia, pobreza e escolaridades de risco relativos à possibilidade de jovens negros
e brancos serem vítimas de assassinatos (Tavares et alii, 2016).
34 Quanto a violência patrimonial no Brasil, nota-se poucos homicídios por ela
motivados (Cerqueira, 2014). Em pesquisas sobre os fatores de risco que estariam
associados a esse tipo de homicídios, encontram-se as motivações transversais
supracitadas, como a alta circulação de armas de fogo, as desigualdades e as
vulnerabilidades sociais.
35 Já em relação à violência interpessoal, os homicídios ocorrem por conflitos, que, por
infelicidade das partes, consumam-se de forma violenta. Assim, a violência interpessoal
decorre de atritos ocorridos na rua e que não envolvem uma filiação parental. Isso
porque a violência doméstica é envolvida por uma lógica de poder diferente, a qual
ainda abordarei aqui. São decorrentes da violência interpessoal as brigas de bar,
vizinhos, vingança, brigas e conflitos em espaços públicos, cujos sujeitos não
apresentam uma relação conjugal ou de parentesco.
36 Concatenado à violência interpessoal está a desordem urbana, onde elementos
situacionais relacionados à vida comunitária, com destaque à desorganização, ausência
ou precariedade de políticas públicas, associada ao espaço urbano e a qualidade de vida
nas formas de habitação, saneamento, iluminação, transporte e acesso aos serviços
públicos básicos, deixam o ambiente desordenado e propiciam a existência de maior
incivilidade e ações criminosas. Depreende-se disso que o abuso de álcool e drogas pode
potencializar reações violentas de situações adversas de conflito e aumentar o perigo de
homicídio, pois, raramente, um crime desse tipo acontece por um trabalhador no seu
local de trabalho, estando os locais associados ao ócio àqueles em que as pessoas lutam
e se matam. Ainda, é possível destacar um tipo de violência interpessoal caracterizado
pelo fenômeno crescente e motivado por preconceitos e discriminação em relação à
públicos específicos, como os grupos LGBTs, indígenas, negros, população em situação
de rua, ou ainda aqueles relacionados a uma ideologia ou religião. Essa categoria de
violência é chamada de crime de ódio (Ministério da Justiça, 2015).
37 Ao entrar na violência doméstica, destacamos as vítimas mulheres representadas por
todas as idades. Machado (2000) ressalta que os homicídios de mulheres, crianças e
idosos estão conectados às relações violentas de poder consumadas no ambiente
doméstico e baseadas em relações de filiação parental. Os homicídios de mulheres
representam cerca de 10% do total da mortalidade por agressão, fato que constitui um
problema social sem igual quanto a enraizada cultura patriarcal, estando a maior parte
dos homicídios femininos ligados à condição de gênero. Neste caso, a utilização de
álcool e drogas também pode ser observado como um fator potencializador das
consequências extremas da violência doméstica, mas não podendo ser esta sua causa
primária (Zilberman; Blume, 2005).
38 Outro fator relacionado à violência doméstica é o abuso sexual, este sim uma
condicionante de risco para a criação de sociabilidades violentas e vulnerabilidades
perpetradas em jovens, podendo influenciar na aceitação dos mesmos em grupos como
gangues e facções de tráfico, o que gera também comportamentos agressivos. Dowdney
(2003) acrescenta que uma grande parcela dessas crianças e jovens costumam vir de
famílias com presença constante de apenas um dos pais, comumente a mãe, e de lares
superlotados, mantendo péssimas relações com os outros membros da família, o que
inclui os próprios pais, ocasionando, muitas vezes, a violência doméstica.
39 Cabe ainda destacar que os conflitos geradores de letalidade da população
perpetrados por policiais e vice-versa constituem uma parcela importante dos
homicídios e apresentam-se como um fenômeno específico (Bueno et alii, 2013), o qual
exorta a criação de políticas e ações públicas específicas visando o seu abrandamento.

Metodologia
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40 As informações criminais utilizadas foram obtidas junto ao sistema REDS – Registro
de Eventos de Defesa Social, implantado nas Polícias Civil e Militar no município de
Belo Horizonte, ao passo que as informações de natureza socioeconômica foram
buscadas no Censo Demográfico de 2010. Esses dados foram agregados na escala dos
bairros, que totalizam 495 na cidade e Belo Horizonte (figura 1).
41 A variável dependente, taxa de homicídio, foi produzida com base na média trienal
(Gal, 1995), utilizando a soma do número de crimes registrado em 2009, 2010 e 2011,
dividido pela população de cada bairro em 2010, buscando-se eliminar as oscilações
aleatórias na distribuição do fenômeno. Por sua vez, as variáveis independentes
correspondentes às informações socioeconômicas, foram retiradas do Censo
Demográfico de 2010.

Figura 1 Bairros e Regionais de Belo Horizonte

(Fonte: PRODABEL, 2022)

42 Para explorar os condicionantes dos homicídios em Belo Horizonte, utilizou-se o


método de regressão linear Step-wise, no pacote SPSS. Trata-se de método que permite
regredir múltiplas variáveis ​enquanto se remove simultaneamente aquelas que não são
estatisticamente relevantes. O método Step-wise essencialmente faz a regressão
múltipla várias vezes, com base em um conjunto de variáveis independentes

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26/04/2024, 13:34 Homicídios e desorganização social: o caso de Belo Horizonte
predeterminadas. Essas variáveis são inseridas e removidas do modelo, segundo o seu
nível de significância estatística e colinearidade com as demais variáveis presentes no
modelo. No final, o algoritmo identifica o modelo com o melhor ajuste estatístico
possível, dentre o conjunto de variáveis independentes apresentado. Os únicos
requisitos são que os dados sejam normalmente distribuídos (ou melhor, que os
resíduos sejam), e que não haja correlação entre as variáveis ​independentes (conhecida
como colinearidade). Ver Draper e Smith (1981) e Anderson (1984) para uma discussão
detalhada sobre o método.

Resultados e discussão
43 Buscando testar os pressupostos da Teoria da Desorganização Social para um melhor
entendimento dos fatores que controlam a distribuição espacial das taxas de homicídio
em Belo Horizonte, desenvolveu-se um modelo de regressão linear que conta com um
conjunto de variáveis independentes que capturam as condições socioeconômicas
prevalentes nos bairros da cidade, em especial a vulnerabilidade social, que mitigaria a
integração entre os indivíduos de certos arranjos urbanos e a sociedade vigente.
44 Shaw e Mckay (1942) sugerem, por exemplo, que cidades com alta densidade
demográfica são locais de fácil propagação do crime. Some-se a isso o fato de que
lugares marcados pela desigualdade socioeconômica, vulnerabilidade das condições de
vida e desagregação familiar tendem a potencializar a desorganização social, ampliando,
assim o seu potencial criminogênico
45 Entorf e Spengler (2002) também sinalizaram que a criminalidade pode ser uma
consequência inapropriada da rede de relações sociais em nível comunitário, onde os
homicídios, entre outros crimes, acontecem. Além disso, Sampson e Groves (1989) ao
testarem a teoria da Desigualdade Social, verificaram que fatores socioeconômicos
como a desagregação familiar, heterogeneidade étnica e concentração de jovens
carentes de supervisão, são variáveis que, quando concentradas em determinados locais
da cidade, podem vir a ser motivadoras do comportamento criminoso.
46 Com base na literatura discutida previamente neste trabalho, empregou-se,
inicialmente as seguintes variáveis independentes na modelagem das taxas de
homicídio em Belo Horizonte entre os bairros da cidade: renda per capita, densidade
demográfica, percentual de pessoas negras, percentual de pessoas alfabetizadas com
idade entre 5 e 20 anos, percentual de pessoas com idades entre 15 e 29 anos,
percentual de responsáveis por domicílios alfabetizados, percentual de responsáveis por
domicílio do sexo feminino.
47 Segundo os pressupostos da Teoria da Desorganização Social e as características da
sociedade brasileira, espera-se que as variáveis renda per capita, percentual de pessoas
alfabetizadas com idade entre 5 e 20 anos e percentual de responsáveis por domicílios
alfabetizados apresentem um impacto negativo nas taxas de homicídio. Por outro lado,
os preditores densidade demográfica, percentual de pessoas negras, percentual de
pessoas com idades entre 15 e 29 anos e percentual de responsáveis por domicílio do
sexo feminino deverão estar positivamente relacionados à incidência de homicídios nos
bairros de Belo Horizonte.
48 Antes de passarmos à análise dos resultados estatísticos, destaque-se que a variável
dependente sofreu uma transformação logarítmica, uma vez que ela não apresentava
uma distribuição normal, violando os princípios da regressão linear. O primeiro passo
da análise foi a geração de um conjunto de correlações de Pearson com a finalidade de
explorar a intensidade e a direção das relações lineares entre os homicídios e cada uma
das variáveis independentes.
49 Na tabela 1 pode-se notar que quase todas as variáveis independentes apresentam
coeficientes de correlação de moderado a forte com a taxa de homicídio. A renda per
capita obteve um valor de - 0,464, sugerindo que locais com uma população vitimada
pela pobreza apresentam taxas de homicídios maiores. A porcentagem de negros por

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bairro também apresentou um valor moderado de + 0,409, sugerindo que a população
negra está mais exposta à violência homicida.

Tabela 1 Coeficientes de correlação de Pearson

% de
% de % de
pessoas
pessoas chefes
Renda Densidade % de com % de chefes
alfabetizadas de
per demográfica residentes idade de domicílio
com idades domicílio
capita no bairro Negros entre 15 alfabetizados
entre 5 e 20 do sexo
e 29
anos feminino
anos
Taxa de
Homicídio
por
-0,464** 0.080 0,409** 0,335** 0.037 -0,539** -0,135**
100.000
hab.
(log10)
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).

50 Fonte: os autores (2022)


51 O coeficiente correspondente ao percentual de alfabetizados com idade entre 5 e 20
anos ficou na casa dos +0,335, valor moderado e positivo, indicando que a população
jovem, mesmo alfabetizada, está exposta de modo desproporcional aos homicídios. Por
sua vez, é interessante observar que a variável percentual de população jovem (entre 15
e 29 anos) não obteve significância estatística contrariando a literatura especializada
que associa os jovens aos homicídios. O percentual de responsáveis por domicílio
alfabetizados obteve o maior valor dentre os fatores socioeconômicos, atingindo um
coeficiente de - 0,539, atestando a relação inversa entre escolaridade e homicídios. A
variável de densidade demográfica, não obteve significância estatística, contrariando a
previsão da literatura. Por último, a variável de porcentagem de mulheres responsáveis
por domicílios, utilizada para indicar desagregação familiar, não obteve alta
significância, aparecendo com o valor negativo, contrariando os pressupostos da Teoria
da Desorganização Social, segundo a qual a falta de supervisão de jovens em função da
inserção da mulher no mercado de trabalho seria um fator crimogênico.

Tabela 2 Resumo do Modelo


R R quadrado R quadrado ajustado Erro padrão da estimativa
0.586 0.343 0.338 0.32798
Fonte: os autores (2022)

Tabela 3 ANOVA
Soma dos Quadrados df Quadrado Médio Z Sig.
Regressão 22.098 3 7.366 68.475 ,000
Resíduo 42.276 393 0.108
Total 64.373 396
Fonte: os autores (2022)

52 Como informado na seção dedicada à metodologia, empregou-se a regressão linear de


tipo step-wise partindo do conjunto de variáveis independentes previamente
informado. Os resultados da regressão linear revelam que apenas três dos preditores
alcançaram significância estatística e entraram no modelo final (Tabelas 2 e 3). Este
modelo apresentou um coeficiente de correlação de 0,586 entre a variável dependente e
o conjunto de variáveis independentes, sendo elas o percentual de chefes de domicílio
alfabetizados, renda per capita e percentual de chefes de domicílio do sexo feminino. O
coeficiente de determinação do modelo aponta que 33,8% da variância estatística na
ocorrência de homicídios nos bairros de Belo Horizonte foram devidamente explicados
pelas variáveis independentes inseridas no modelo.

Tabela 4 Coeficientes
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Coeficientes não Coeficientes


t Sig.
padronizados padronizados
B Erro Erro Beta
(Constante) 3.289 0.116 28.342 0.000
% de chefes de domicílio
-0.043 0.005 -0.514 -8.702 0.000
alfabetizados
Renda per capita -7.296E-05 0.000 -0.194 -3.758 0.000
% de chefes de domicílio do
0.024 0.007 0.173 3.571 0.000
sexo feminino
Fonte: os autores (2022)

53 Retomando a Teoria da Desorganização social, os indicadores de baixa escolaridade,


pobreza e desagregação familiar são apontados como agentes crimogênicos quando
conectados a vulnerabilidade social. A divisão espacial utilizada para retornar os valores
das variáveis socioeconômicas foram os bairros de Belo Horizonte, que, conforme Sales
e Cardoso (2012), são uma divisão territorial que respeita as características urbanas,
sentimento de pertencimento ao lugar das comunidades e estruturas presentes no
espaço. De acordo com os teóricos da Desorganização Social, o fenômeno da
criminalidade está diretamente conectado as comunidades locais, redes de vizinhança,
incluindo as relações de amizade e parentesco, que formam o processo de socialização e
aculturação do indivíduo (Shaw; Mckay, 1942). Nesse contexto, a própria divisão
territorial de Belo Horizonte beneficia a análise realizada neste artigo, onde as
condicionantes da criminalidade encontram-se distribuídas como um mosaico pelos
próprios limites dos bairros, subsidiando as especulações sobre as comunidades locais e
redes urbanas.
54 Assim, sobre as condicionantes da criminalidade citadas anteriormente, o acúmulo de
vulnerabilidades e desigualdades, tanto econômicas como socias, apresentam-se como
fortes fatores crimogênicos de conflitos e violência, dentre os quais estão os homicídios.
Nesse contexto, o resultado da regressão linear aponta que a variável com maior valor
dentre as demais é a porcentagem de domicílio com chefes de família alfabetizados. Na
casa dos -0.514 no coeficiente padronizado, essa variável diz que onde as pessoas têm
uma escolaridade maior existem menos homicídios, além do que a baixa escolaridade
está diretamente relacionada a incidência de assassinatos. Nesse caso, podemos
destacar a violência interpessoal diretamente conectada com desordem urbana, onde
elementos sociais de vulnerabilidade propiciam maior incivilidade e ações criminosas
(Ministério Da Justiça, 2015). Em relação a renda per capita, com o valor de -0.194 no
coeficiente padronizado, podemos apontar as mesmas macrocausas da violência, pois a
regressão demonstra que a precariedade de vida está diretamente relacionada aos
crimes de homicídio, sendo que, neste caso, ainda cabe uma contribuição sobre anomia,
relacionada a falta de possibilidades de a pessoa alcançar um patamar estável em
relação ao sistema social vigente, entregando-se então à infiltração no tráfico de drogas
como uma alternativa de fuga da pobreza (Durkheim, 1897). O indicador da
porcentagem de mulheres chefes de família obteve um valor de 0.173, demonstrando
um resultado importante a sobre a desagregação familiar. A variável atestou um valor
alto e positivo para explicar como a inserção da mulher no mercado de trabalho
demonstra que a supervisão dos jovens e adolescente fica defasada.
55 Esses resultados vão na direção dos estudos de Sampson e Groves (1989), que
também alcançaram resultado positivo para as variáveis de desagregação familiar,
urbanização e grupos de jovens sem supervisão. Ainda sobre a variável de mulheres
chefes de família, vale ressaltar o que Dowdney (2003) diz sobre a violência doméstica,
onde uma grande parcela de crianças e jovens, costumam vir de lares superlotados com
a presença constante de apenas um dos pais, comumente a mãe e mantém relações
defasadas com o outros membros da família, o que inclui os próprios pais. Esses jovens
e crianças também são mais vulneráveis a serem aliciados por gangues e pelo tráfico de
drogas, além de apresentarem comportamento agressivo.

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56 Há que se notar que diante da presença desses três indicadores de vulnerabilidade, no
caso dos bairros de Belo Horizonte outras importantes medidas ficaram de fora do
modelo, quais sejam: densidade demográfica, percentual de pessoas negras, percentual
de pessoas alfabetizadas com idade entre 5 e 20 anos, percentual de pessoas com idades
entre 15 e 29 anos. Existe uma razão estatística para a não inclusão dessas medidas, que
guardam entre si uma forte correlação linear. Como um dos pressupostos da técnica de
regressão linear múltipla é que as variáveis independentes não guardem níveis
importantes de multicolinearidade, essas variáveis violam esse importante princípio e,
portanto, foram expelidas do modelo pelo algoritmo step-wise no ambiente SPSS.

Considerações finais
57 A Teoria da Desorganização Social foi confirmada pelos resultados apresentados.
Afirma-se que em locais com grandes concentrações de desigualdades e
vulnerabilidades sociais, verifica-se que as comunidades locais e redes urbanas
colaboram para o descontrole social, agindo como um fator criminogênico. Assim, a
criminalidade seria um efeito inapropriado desse tipo de relação em nível comunitário
(Entorf; Spengler, 2002). Tais locais, onde os crimes acontecem, são caracterizados por
precariedades urbanas em nível social e estrutural, trazendo à tona o comportamento
individual influenciado pela vizinhança onde a pessoa está inserida. O mosaico urbano
em questão é permeado de questões sociais mal resolvidas que conectam a
vulnerabilidade social ao crime, sendo esse um fato negativo da desorganização social
em que as redes comunitárias se envolvem.
58 Sendo assim, o processo de anomia é destacado como uma das condicionantes da
criminalidade, onde uma geração, ou mais delas, são influenciadas por uma cultura, ou
contracultura, que se caracteriza por ressaltar a presença do crime na cidade,
exatamente porque a esperança de ter uma vida com civilidade são jogadas aos traços,
junto ao tráfico de drogas, prostituição e todas aquelas determinantes que fazem um
jovem escolher pela vida criminal, ao invés de ter as condições de vida comum que uma
pessoa de classe média teria.
59 O REDS, como fonte dos dados, mostrou-se uma ferramenta estratégica na
construção deste artigo, possibilitando o monitoramento de indicadores de
criminalidade que, junto às variáveis socioeconômicas, demonstrou ser um ótimo
subsídio para as análises de correlação e regressão.
60 Este artigo traz resultados significativos, onde as variáveis socioeconômicas se
tornam determinantes no processo de construção do espaço e influenciam no jeito de
ser de cada indivíduo que habita a cidade. Ele trouxe à tona especulações suficientes
para que políticas públicas sejam realizadas a favor das comunidades carentes, como
projetos sociais e educacionais, por exemplo, além de políticas de segurança pública.

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26/04/2024, 13:34 Homicídios e desorganização social: o caso de Belo Horizonte

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Titre Figura 1 Bairros e Regionais de Belo Horizonte
Crédits (Fonte: PRODABEL, 2022)
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Pour citer cet article


Référence électronique
Rafael Augusto Reis da Mata, Alexandre M. A. Diniz et Antônio Hot Pereira de Faria, « Homicídios
e desorganização social: o caso de Belo Horizonte », Confins [En ligne], 62 | 2024, mis en ligne le 21
mars 2024, consulté le 26 avril 2024. URL : http://journals.openedition.org/confins/56864 ; DOI :
https://doi.org/10.4000/confins.56864

Auteurs
Rafael Augusto Reis da Mata
PUC Minas, Orcid: 0009-0005-7291-421X, rafael.r.mata@gmail.com,

Alexandre M. A. Diniz
PUC Minas, Orcid: 0000-0002-5649-7736, alexandrediniz@pucminas.br

Antônio Hot Pereira de Faria


Polícia Militar de Minas Gerais, Orcid: 0000-0003-0543-7503hot.pmmg@gmail.com

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Paru dans Confins, 55 | 2022

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