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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
62 | 2024
Número 62
Résumés
Português Français English
O presente artigo investiga a relação entre características socioeconômicas da população de Belo
Horizonte, retiradas dos indicadores demográficos do CENSO 2010, e os crimes de homicídio
registrados no mesmo ano, além de contar com os bairros do município como recorte espacial
para a análise. Foi utilizada a Teoria da Desorganização Social para embasamento, onde
consideramos a hipótese de que redes urbanas e as comunidades locais contribuem para o
processo de socialização do indivíduo e que quando as comunidades sofrem com vulnerabilidade
socioeconômica, o controle social é dificultado, podendo condicionar o comportamento
criminoso. Por meio das análises de correlação e regressão linear, constatou-se uma relação
direta entre a ocorrência de homicídios e a maioria dos indicadores socioeconômicos,
confirmando a hipótese da pesquisa.
This article investigates the relationship between socioeconomic characteristics of the population
of Belo Horizonte, taken from the demographic indicators of the 2010 census, and homicide
crimes recorded in the same year, in addition to counting on the districts of the municipality as a
spatial clipping for the analysis. The Theory of Social Disorganization was used as a basis, where
we consider the hypothesis that urban networks and local communities contribute to the process
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of socialization of the individual and that when communities suffer from socioeconomic
vulnerability, social control is difficult, which may condition criminal behavior. Through
correlation and linear regression analyses, a direct relationship was found between the
occurrence of homicides and most socioeconomic indicators, confirming the hypothesis of the
research.
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Index de mots-clés : géographie du crime, homicides, désorganisation sociale, analyse spatiale,
Belo Horizonte.
Index by keywords: crime geography, homicide, social disorganization, spatial analysis, Belo
Horizonte.
Index géographique : Belo Horizonte
Índice de palavras-chaves: geografia do crime, homicídios, desorganização social, análise
espacial, Belo Horizonte.
Texte intégral
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1 Em 2019, o Brasil registrou o segundo maior número de homicídios da América do
Sul ao apresentar uma taxa de 30.5 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Naquele
ano, o país ficou atrás apenas da Venezuela, com 56.8, de acordo com o Escritório das
Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (United Nations Office on Drugs and Crime –
UNODC). Os dados do relatório intitulado “Estudo Global sobre Homicídio” (Global
Study on Homicide) ainda apontam que o continente americano é a região com a maior
concentração de assassinatos do planeta, estando à frente, até mesmo, da África e da
Ásia.
2 Nesse contexto, entre 1991 e 2017, cerca de 1,2 milhões de brasileiros perderam suas
vidas em função dessa fatalidade, onde o crime organizado é responsável por 1 a cada 5
mortes. É possível afirmar que o número de homicídios em todo o planeta é maior do
que a quantidade de mortes ocorridas em função de confrontos armados, o que chama a
atenção para a intensidade deste problema social (UNODC, 2019).
3 De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde
(SIM/MS), durante 2019, o país apresentou 45.503 registros de mortes por assassinato,
o menor valor mensurado desde o ano de 1995. Apesar da redução, o número deve ser
visto com cautela em função do fenômeno iniciado em 2018 de crescimento de Mortes
Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), decorrente da deterioração da qualidade
dos registros oficiais do SIM/MS (Cerqueira et alii, 2021). Assim, ao observar o “Atlas
da Violência 2019” (Cerqueira et alii, 2020) e o “Atlas da Violência 2020” (Cerqueira et.
alii, 2020), pode-se notar uma diminuição na taxa de homicídios registrados,
principalmente em função de três fatores:
4 “[...] 1.) a mudança do regime demográfico rumo ao envelhecimento da população e a
diminuição do número de jovens; 2.) a implementação de ações e programas
qualificados de segurança pública em alguns estados e municípios brasileiros; e 3.) o
Estatuto do Desarmamento (Cerqueira et alii, 2021).”
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5 Este artigo tem o objetivo de investigar os fatores socioeconômicos dos bairros de
Belo Horizonte para tentar descobrir possíveis fatores condicionantes da distribuição
espacial irregular do comportamento criminoso homicida. De acordo com a Teoria da
Desorganização Social (Shaw; Mckay, 1942), pressupomos que locais caracterizados por
uma forte vulnerabilidade e pobreza, além de concentrações étnicas segregadas do
restante da população em razão das desigualdades socioeconômicas, são aqueles onde
os crimes de homicídio acontecem com mais frequência, exatamente em função da
dificuldade que o poder público encontra para estabelecer o controle dessa população,
não apenas por meio de fatores de segurança pública, mas também devido à privações
de serviços básicos, como educação de qualidade, que dificultam a absorção de cultura e
das normas que a sociedade como um todo estabelece.
6 A relevância desta pesquisa consiste no tipo de análise espacial fornecida, ainda rara
de se encontrar em publicações no campo da Segurança Pública, mas que oferece um
valioso subsídio para os poderes do Estado.
7 Este estudo emprega dados de ocorrências de homicídios em Belo Horizonte e
informações socioeconômicas do Censo Demográfico de 2010, produzindo uma análise
espacial e uma análise de regressão linear múltipla na busca dos fatores condicionantes
dessa modalidade de crime. A distribuição espacial dos homicídios mostra um padrão
centro-periférico, com taxas mais altas nas periferias da cidade. O modelo de regressão
incluiu variáveis como renda per capita, densidade demográfica e porcentagem de
pessoas negras e os resultados demostraram que baixa escolaridade, pobreza e
desigualdade social estão relacionadas aos homicídios, enquanto maior escolaridade e
presença feminina na chefia de família estão associadas a menores taxas de homicídio.
No entanto, outras variáveis como densidade demográfica e porcentagem de pessoas
jovens não foram significantes no modelo devido à multicolinearidade.
8 Além da introdução, o artigo está dividido em cinco seções. Primeiro, discute-se o
estudo científico dos homicídios, com um foco posterior nos fatores sociais que
influenciam a mortalidade por homicídio. As últimas seções abordam a metodologia, os
resultados e sua discussão, seguidos das conclusões finais
Os condicionantes sociais da
mortalidade por homicídio
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30 Ao desenvolver análises baseadas em indicadores, o primeiro passo a ser tomado é
estabelecer conceitos ou fenômenos que podem ser observados. No que tange às
políticas públicas, criar indicadores capazes de auxiliar os gestores no acompanhamento
dos vários tipos de resultados relativos às ações empreendidas é, deveras, importante
(Mata; Diniz, 2021). Nesse trabalho, foram utilizadas algumas variáveis para
correlacionar com a taxa de homicídio em Belo Horizonte, propondo que elas estariam
diretamente conectadas às condicionantes sociais deste tipo de mortalidade. O
“Diagnóstico dos homicídios no Brasil”, produzido pelo Ministério da Justiça (2015) e
adotado como referência para fundamentar o presente estudo, prevê quatro
macrocausas principais do fenômeno, a saber: gangues e drogas, violência patrimonial,
violência interpessoal e violência doméstica. Contudo, nota-se também a presença de
alguns fatores que se apresentam como transversais a todos os homicídios, como a
disponibilidade de armas de fogo e o acúmulo de vulnerabilidade sociais (Ministério da
Justiça, 2015).
31 É possível citar que, em relação à realidade brasileira, o acúmulo de vulnerabilidades
e desigualdades, sejam econômicas ou sociais, são apontadas como grandes causadoras
gerais de conflitos e violência, dentre os quais podemos destacar os homicídios. Durante
a década de 1980, a eclosão da violência esteve associada às grandes mazelas
socioeconômicas arraigadas no seio da sociedade brasileira, o que refletiu na estagnação
de renda e aumento gradativo da desigualdade social, tendo sido esses fatores
suplantados por um combalido sistema de segurança pública (Cerqueira, 2014). De
acordo com o Ministério da Justiça (2015), os perfis de vulnerabilidade e vitimização no
Brasil apresentam-se bem característicos, com a população negra correspondendo a
72,0% das mortes, contra 26,0% para brancos e amarelos, em um total de 50.715
homicídios no ano de 2014; jovens com idade entre 15 e 29 anos também se destacam
no topo da pirâmide de homicídios no país, apresentando um percentual de mortes de
52,9% no cômputo geral. Acoplada à questão transversal da vulnerabilidade social está
a proliferação das armas de fogo, sendo este o fator mais importante para elucidar o
aumento dos homicídios na década 1990 (Cerqueira, 2014). Uma questão atual que
pode gerar riscos conjunturais futuros é a política permissiva para esse tipo de
armamento patrocinada pelo Governo Federal, desde 2019. Facilitar o acesso a essas
armas, em suma, favorece a ocorrência de crimes interpessoais e passionais, podendo
também as mesmas caírem nas mãos de criminosos, graças à comprovada conexão
entre os mercados legal e ilegal de armas (Cerqueira; Bueno, 2021).
32 A macrocausa da violência atrelada às gangues e drogas, bem como o seu respectivo
consumo e tráfico, tem sido destacada por diversos pesquisadores como ponto de
partida dos homicídios. Na literatura, a relação encontrada entre esta variável e a
violência é especialmente relacionada com o mercado de crack (Nappo; Sanchez, 2002;
Nappo; Oliveira, 2008). Cerqueira (2014) reforça que a partir dos anos 2000 foi
observado um grande aumento do consumo de drogas proibidas, particularmente o
crack, ensejando o crescimento de mercados ilícitos principalmente nos estados do
Nordeste. O tráfico de drogas é uma questão complexa, especificamente no tocante ao
aumento dos homicídios. Presente no discurso midiático e mesmo em algumas
publicações científicas, o consumo de drogas é tido como fator de risco para os
homicídios. Essa perspectiva ganha fôlego com a existência de um mercado clandestino
e paralelo, provedor de guerras entre facções e até mesmo contra o Estado. É certo que
o mercado clandestino de entorpecentes é responsável por um número enorme de
mortes no Brasil e no mundo (CGPD, 2011).
33 Além disso, o elevado percentual de jovens, proporcional à população, tem uma
relação direta e invariante entre o aumento da taxa de crimes, no geral, sendo que as
vítimas, na maioria das vezes, são os jovens do sexo masculino, negros ou pardos
(Hirschi; Gottfredson, 1983). A grande presença de jovens e a sua respectiva
vulnerabilidade são fatores determinantes para a existência de gangues, pois a
juventude é mais facilmente aliciada pelo tráfico de drogas. Isso deixa evidente que essa
parcela da população é, consequentemente, a mais vitimada. Destarte, percebe-se uma
fragilidade específica em relação aos jovens negros. Um exemplo disto é o IVJ (Índice
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de Vulnerabilidade Juvenil), que agrega indicadores dimensionadores desta
perspectiva, entre eles: violência entre jovens, frequência escolar, situação
empregatícia, pobreza e escolaridades de risco relativos à possibilidade de jovens negros
e brancos serem vítimas de assassinatos (Tavares et alii, 2016).
34 Quanto a violência patrimonial no Brasil, nota-se poucos homicídios por ela
motivados (Cerqueira, 2014). Em pesquisas sobre os fatores de risco que estariam
associados a esse tipo de homicídios, encontram-se as motivações transversais
supracitadas, como a alta circulação de armas de fogo, as desigualdades e as
vulnerabilidades sociais.
35 Já em relação à violência interpessoal, os homicídios ocorrem por conflitos, que, por
infelicidade das partes, consumam-se de forma violenta. Assim, a violência interpessoal
decorre de atritos ocorridos na rua e que não envolvem uma filiação parental. Isso
porque a violência doméstica é envolvida por uma lógica de poder diferente, a qual
ainda abordarei aqui. São decorrentes da violência interpessoal as brigas de bar,
vizinhos, vingança, brigas e conflitos em espaços públicos, cujos sujeitos não
apresentam uma relação conjugal ou de parentesco.
36 Concatenado à violência interpessoal está a desordem urbana, onde elementos
situacionais relacionados à vida comunitária, com destaque à desorganização, ausência
ou precariedade de políticas públicas, associada ao espaço urbano e a qualidade de vida
nas formas de habitação, saneamento, iluminação, transporte e acesso aos serviços
públicos básicos, deixam o ambiente desordenado e propiciam a existência de maior
incivilidade e ações criminosas. Depreende-se disso que o abuso de álcool e drogas pode
potencializar reações violentas de situações adversas de conflito e aumentar o perigo de
homicídio, pois, raramente, um crime desse tipo acontece por um trabalhador no seu
local de trabalho, estando os locais associados ao ócio àqueles em que as pessoas lutam
e se matam. Ainda, é possível destacar um tipo de violência interpessoal caracterizado
pelo fenômeno crescente e motivado por preconceitos e discriminação em relação à
públicos específicos, como os grupos LGBTs, indígenas, negros, população em situação
de rua, ou ainda aqueles relacionados a uma ideologia ou religião. Essa categoria de
violência é chamada de crime de ódio (Ministério da Justiça, 2015).
37 Ao entrar na violência doméstica, destacamos as vítimas mulheres representadas por
todas as idades. Machado (2000) ressalta que os homicídios de mulheres, crianças e
idosos estão conectados às relações violentas de poder consumadas no ambiente
doméstico e baseadas em relações de filiação parental. Os homicídios de mulheres
representam cerca de 10% do total da mortalidade por agressão, fato que constitui um
problema social sem igual quanto a enraizada cultura patriarcal, estando a maior parte
dos homicídios femininos ligados à condição de gênero. Neste caso, a utilização de
álcool e drogas também pode ser observado como um fator potencializador das
consequências extremas da violência doméstica, mas não podendo ser esta sua causa
primária (Zilberman; Blume, 2005).
38 Outro fator relacionado à violência doméstica é o abuso sexual, este sim uma
condicionante de risco para a criação de sociabilidades violentas e vulnerabilidades
perpetradas em jovens, podendo influenciar na aceitação dos mesmos em grupos como
gangues e facções de tráfico, o que gera também comportamentos agressivos. Dowdney
(2003) acrescenta que uma grande parcela dessas crianças e jovens costumam vir de
famílias com presença constante de apenas um dos pais, comumente a mãe, e de lares
superlotados, mantendo péssimas relações com os outros membros da família, o que
inclui os próprios pais, ocasionando, muitas vezes, a violência doméstica.
39 Cabe ainda destacar que os conflitos geradores de letalidade da população
perpetrados por policiais e vice-versa constituem uma parcela importante dos
homicídios e apresentam-se como um fenômeno específico (Bueno et alii, 2013), o qual
exorta a criação de políticas e ações públicas específicas visando o seu abrandamento.
Metodologia
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40 As informações criminais utilizadas foram obtidas junto ao sistema REDS – Registro
de Eventos de Defesa Social, implantado nas Polícias Civil e Militar no município de
Belo Horizonte, ao passo que as informações de natureza socioeconômica foram
buscadas no Censo Demográfico de 2010. Esses dados foram agregados na escala dos
bairros, que totalizam 495 na cidade e Belo Horizonte (figura 1).
41 A variável dependente, taxa de homicídio, foi produzida com base na média trienal
(Gal, 1995), utilizando a soma do número de crimes registrado em 2009, 2010 e 2011,
dividido pela população de cada bairro em 2010, buscando-se eliminar as oscilações
aleatórias na distribuição do fenômeno. Por sua vez, as variáveis independentes
correspondentes às informações socioeconômicas, foram retiradas do Censo
Demográfico de 2010.
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predeterminadas. Essas variáveis são inseridas e removidas do modelo, segundo o seu
nível de significância estatística e colinearidade com as demais variáveis presentes no
modelo. No final, o algoritmo identifica o modelo com o melhor ajuste estatístico
possível, dentre o conjunto de variáveis independentes apresentado. Os únicos
requisitos são que os dados sejam normalmente distribuídos (ou melhor, que os
resíduos sejam), e que não haja correlação entre as variáveis independentes (conhecida
como colinearidade). Ver Draper e Smith (1981) e Anderson (1984) para uma discussão
detalhada sobre o método.
Resultados e discussão
43 Buscando testar os pressupostos da Teoria da Desorganização Social para um melhor
entendimento dos fatores que controlam a distribuição espacial das taxas de homicídio
em Belo Horizonte, desenvolveu-se um modelo de regressão linear que conta com um
conjunto de variáveis independentes que capturam as condições socioeconômicas
prevalentes nos bairros da cidade, em especial a vulnerabilidade social, que mitigaria a
integração entre os indivíduos de certos arranjos urbanos e a sociedade vigente.
44 Shaw e Mckay (1942) sugerem, por exemplo, que cidades com alta densidade
demográfica são locais de fácil propagação do crime. Some-se a isso o fato de que
lugares marcados pela desigualdade socioeconômica, vulnerabilidade das condições de
vida e desagregação familiar tendem a potencializar a desorganização social, ampliando,
assim o seu potencial criminogênico
45 Entorf e Spengler (2002) também sinalizaram que a criminalidade pode ser uma
consequência inapropriada da rede de relações sociais em nível comunitário, onde os
homicídios, entre outros crimes, acontecem. Além disso, Sampson e Groves (1989) ao
testarem a teoria da Desigualdade Social, verificaram que fatores socioeconômicos
como a desagregação familiar, heterogeneidade étnica e concentração de jovens
carentes de supervisão, são variáveis que, quando concentradas em determinados locais
da cidade, podem vir a ser motivadoras do comportamento criminoso.
46 Com base na literatura discutida previamente neste trabalho, empregou-se,
inicialmente as seguintes variáveis independentes na modelagem das taxas de
homicídio em Belo Horizonte entre os bairros da cidade: renda per capita, densidade
demográfica, percentual de pessoas negras, percentual de pessoas alfabetizadas com
idade entre 5 e 20 anos, percentual de pessoas com idades entre 15 e 29 anos,
percentual de responsáveis por domicílios alfabetizados, percentual de responsáveis por
domicílio do sexo feminino.
47 Segundo os pressupostos da Teoria da Desorganização Social e as características da
sociedade brasileira, espera-se que as variáveis renda per capita, percentual de pessoas
alfabetizadas com idade entre 5 e 20 anos e percentual de responsáveis por domicílios
alfabetizados apresentem um impacto negativo nas taxas de homicídio. Por outro lado,
os preditores densidade demográfica, percentual de pessoas negras, percentual de
pessoas com idades entre 15 e 29 anos e percentual de responsáveis por domicílio do
sexo feminino deverão estar positivamente relacionados à incidência de homicídios nos
bairros de Belo Horizonte.
48 Antes de passarmos à análise dos resultados estatísticos, destaque-se que a variável
dependente sofreu uma transformação logarítmica, uma vez que ela não apresentava
uma distribuição normal, violando os princípios da regressão linear. O primeiro passo
da análise foi a geração de um conjunto de correlações de Pearson com a finalidade de
explorar a intensidade e a direção das relações lineares entre os homicídios e cada uma
das variáveis independentes.
49 Na tabela 1 pode-se notar que quase todas as variáveis independentes apresentam
coeficientes de correlação de moderado a forte com a taxa de homicídio. A renda per
capita obteve um valor de - 0,464, sugerindo que locais com uma população vitimada
pela pobreza apresentam taxas de homicídios maiores. A porcentagem de negros por
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bairro também apresentou um valor moderado de + 0,409, sugerindo que a população
negra está mais exposta à violência homicida.
% de
% de % de
pessoas
pessoas chefes
Renda Densidade % de com % de chefes
alfabetizadas de
per demográfica residentes idade de domicílio
com idades domicílio
capita no bairro Negros entre 15 alfabetizados
entre 5 e 20 do sexo
e 29
anos feminino
anos
Taxa de
Homicídio
por
-0,464** 0.080 0,409** 0,335** 0.037 -0,539** -0,135**
100.000
hab.
(log10)
** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
* A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).
Tabela 3 ANOVA
Soma dos Quadrados df Quadrado Médio Z Sig.
Regressão 22.098 3 7.366 68.475 ,000
Resíduo 42.276 393 0.108
Total 64.373 396
Fonte: os autores (2022)
Tabela 4 Coeficientes
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56 Há que se notar que diante da presença desses três indicadores de vulnerabilidade, no
caso dos bairros de Belo Horizonte outras importantes medidas ficaram de fora do
modelo, quais sejam: densidade demográfica, percentual de pessoas negras, percentual
de pessoas alfabetizadas com idade entre 5 e 20 anos, percentual de pessoas com idades
entre 15 e 29 anos. Existe uma razão estatística para a não inclusão dessas medidas, que
guardam entre si uma forte correlação linear. Como um dos pressupostos da técnica de
regressão linear múltipla é que as variáveis independentes não guardem níveis
importantes de multicolinearidade, essas variáveis violam esse importante princípio e,
portanto, foram expelidas do modelo pelo algoritmo step-wise no ambiente SPSS.
Considerações finais
57 A Teoria da Desorganização Social foi confirmada pelos resultados apresentados.
Afirma-se que em locais com grandes concentrações de desigualdades e
vulnerabilidades sociais, verifica-se que as comunidades locais e redes urbanas
colaboram para o descontrole social, agindo como um fator criminogênico. Assim, a
criminalidade seria um efeito inapropriado desse tipo de relação em nível comunitário
(Entorf; Spengler, 2002). Tais locais, onde os crimes acontecem, são caracterizados por
precariedades urbanas em nível social e estrutural, trazendo à tona o comportamento
individual influenciado pela vizinhança onde a pessoa está inserida. O mosaico urbano
em questão é permeado de questões sociais mal resolvidas que conectam a
vulnerabilidade social ao crime, sendo esse um fato negativo da desorganização social
em que as redes comunitárias se envolvem.
58 Sendo assim, o processo de anomia é destacado como uma das condicionantes da
criminalidade, onde uma geração, ou mais delas, são influenciadas por uma cultura, ou
contracultura, que se caracteriza por ressaltar a presença do crime na cidade,
exatamente porque a esperança de ter uma vida com civilidade são jogadas aos traços,
junto ao tráfico de drogas, prostituição e todas aquelas determinantes que fazem um
jovem escolher pela vida criminal, ao invés de ter as condições de vida comum que uma
pessoa de classe média teria.
59 O REDS, como fonte dos dados, mostrou-se uma ferramenta estratégica na
construção deste artigo, possibilitando o monitoramento de indicadores de
criminalidade que, junto às variáveis socioeconômicas, demonstrou ser um ótimo
subsídio para as análises de correlação e regressão.
60 Este artigo traz resultados significativos, onde as variáveis socioeconômicas se
tornam determinantes no processo de construção do espaço e influenciam no jeito de
ser de cada indivíduo que habita a cidade. Ele trouxe à tona especulações suficientes
para que políticas públicas sejam realizadas a favor das comunidades carentes, como
projetos sociais e educacionais, por exemplo, além de políticas de segurança pública.
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Auteurs
Rafael Augusto Reis da Mata
PUC Minas, Orcid: 0009-0005-7291-421X, rafael.r.mata@gmail.com,
Alexandre M. A. Diniz
PUC Minas, Orcid: 0000-0002-5649-7736, alexandrediniz@pucminas.br
Droits d’auteur
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