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Pós-graduando em Ciências Criminais pela Faculdade Baiana de Direito. Bacharel em Direito pela
Universidade Católica do Salvador. E-mail: reisadiel@gmail.com
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1. Introdução.
A curiosidade pelo processo penal e seus desdobramentos é um traço histórico
marcante entre as sociedades ao redor do globo. Os indivíduos impetuosamente
buscam está inteirados do crime, seja por anseios de justiça, ou por encantamento
provocado pelo aparelhamento midiático, que por sua vez, reporta dos simples ao
mais bárbaros dos delitos, gerando forte apelo pela solução destes, ainda que em
alguns casos atrapalhe o devido processo legal. E assim, através de tal
espetacularização, surge o populismo penal midiático.
A mídia e o processo penal sempre desenvolveram uma relação simbiótica.
Seja do desenvolvimento da radiodifusão a ascensão da televisão nos ambientes
domésticos e espaços de poder brasileiros, a relação com a violência sempre se
mostrou como fenômeno contemporâneo. O populismo penal midiático surge como
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2022, P.44). Assim, com o objetivo de trazer mais visibilidade para esta problemática,
o presente artigo visa apontar o aumento da letalidade contra da população negra no
Brasil, em paralelo ao populismo penal midiático.
Almeida (2018), baseado na Teoria Social, em que o racismo é a lógica perfeita para
as formas de desigualdade e violência no âmbito social.
Quanto os corpos vulnerabilizados, baseando nos estudos de Maria do Céu
Patrão Neves (2006), ponderou-se quanto as vulnerabilidades dos corpos
historicamente marginalizados, e suas subjetividades, combatida por um compilado
de redes protetivas, que somente será alcançada mediante capacidade de autonomia
do (a) indivíduo (a).
Ante a constante difusão da intensa sensação de medo, causada pela
rotineira espetacularização da insegurança pública, buscou-se analisar os efeitos da
justiça social contemporânea através dos experimentos de José de Sousa Martins
(2015), e os constantes aumentos de linchamentos no Brasil, e a necessidade de
vingança pública, em face da descrença nas instituições.
Diante exposições dos materiais supracitados, tais hipóteses foram
submetidas, perante o método hipotético dedutivo, ao processo de falseamento a
partir de hipóteses formuladas, deduzindo soluções para os problemas apresentados,
confrontando dados e pesquisas, a fim de testá-las para obter sua confirmação ou
não, consubstanciado a análise de autores supracitados, bem como de Borges e Elias
(2019), Michels e Cordazzo, (2022), Frazão e Ramos (2022), Jakobs e Melía (2010),
Neves (2006), Junior (2012), Ferreira & Vieira (2018) Filho & Costa (2019).
Assinala Guy Debord (2003, p.13), que nas sociedades modernas ocorre
“uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai
na fumaça da representação.”. A espetacularização dos crimes causa um
esvaziamento da realidade, formando um falso mundo à parte; como um objeto de
contemplação, resultando numa inversão concreta da vida.
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Fake news é um termo em inglês usado para referir-se a falsas informações divulgadas,
principalmente, em redes sociais.
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Desta feita, ao não se ater aos limites do devido processo penal, divulgando
fatos sem a devida averiguação, priorizando a difusão da barbárie, resulta em
violações aos princípios constitucionais. Pois, ao expor as violências, além de vincular
a sociedade no enredo da espetacularização, ocorre um esvaziando nos direitos dos
indivíduos envolvidos diretamente, que são julgados antecipadamente pela opinião
pública, trazendo à tona os anseios por vingança pública.
Outrossim, ao divulgar e romantizar casos criminais, os telejornais
policialescos pouco se importam com o regular procedimento, e em diversos casos,
se o indivíduo em questão é de fato responsável pela prática do delito. De tal modo,
viola-se o princípio da presunção de inocência, ou da não culpabilidade, que segundo
art. 5º, LVII, da CF/88, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória;", ainda que a mídia se utilize do direito de liberdade
de imprensa, princípio considerado fundamental a todos os cidadãos, presente no art.
5º, inciso IX3 da CF/88. Defende Aury Lopes, (2016, p.84):
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É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença
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a mídia não mais “precisa defender a sua posição contra o Estado, mas, inversamente,
é o Estado que tem de acautelar-se para não ser cercado ou mesmo manipulado pela
abrangente força da mídia.”. (LIMA, 2023, p.95)
A justiça social toma contornos violentos agravantes com a constante
sensação de insegurança causado pela espetacularização. Segundo José de Sousa
Martins (2015, p. 13), os linchamentos no Brasil estão cada dia mais frequentes, uma
vez que “crescem numericamente quando aumenta a insegurança em relação à
proteção que a sociedade deve receber do Estado, quando as instituições não se
mostram eficazes no cumprimento de suas funções.”
domesticar o direito de matar, aquele que sob o velho direito internacional é chamado
de direito de guerra” (ALMEIDA, 2018, p.74).
5. CONCLUSÃO
Na sociedade do espetáculo, os meios de comunicação desempenham muita
influência nas bases de uma população. O populismo penal midiático é consequência
deste poder, que através da espetacularização do crime trouxe novos contornos para
o sistema criminal, seja por alimentar a insegurança e o pânico, seja por suscitar
soluções rápidas através de políticas criminais falhas.
Como consequência, as informações divulgadas pela mídia são feitas sem a
devida regulação ético-profissional, propiciando o avanço dos telejornais policialescos
que objetivam aumentar sua audiência a custo do esvaziamento do processo penal,
propagando discursos punitivistas, incentivando a Justiça social através da vingança
pública, solidado ao moralismo e a barbárie justificável.
O racismo é um sistema estrutural que perpassa todos os campos do âmbito
social. Assim, não teria como realizar qualquer análise do estrato social sem o recorte
étnico/racial. Ao passo, que o populismo penal midiático desponta como um dos
principais fatores para o aumento da necropolítica criminal da população brasileira,
em que o Estado mediante o biopoder, escolhe quem deverá viver ou morrer.
A constante exibição de crimes e mortes pela mídia brasileira, tendo como
foco minorias e grupos socioeconomicamente vulneráveis, demonstram uma
naturalidade quanto essas mortes, uma vez que tais reportagens ocorrem sem
qualquer observância aos direitos e princípios constitucionais, comprovando que o
Brasil pouco se preocupa com forma da veiculação destes casos criminais, contando
que demonstrem atuação firme dos agentes de segurança pública.
Os dados da alta letalidade da população negra demonstram que as
violências estão dispostas por estruturas sobrepostas por poderes
ideológicos/políticos com o objetivo de perpetuar e garantir os status quo, estando
diretamente ligados a marginalização historicamente dos corpos pretos, e o aumento
dos discursos de ódio e agitações contrárias às pautas identitárias nos espaços de
poder, vinculado pela mídia.
No combate à necropolítica contra pessoas negras, a atuação da mídia deverá
ser paralelamente junta a atuação do Estado, uma vez que os meios de comunicação
devem ser utilizados e moldados para serem um canal de proliferação dos direitos e
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REFERÊNCIAS
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.