Você está na página 1de 5

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA

FÉLIX CUSIN DOLGENER

POPULISMO PENAL MIDIÁTICO E AS PRODUÇÕES DE SUBJETIVIDADE

PORTO ALEGRE
2023
1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, o populismo penal mídiaco migrou das plataformas de mídia mais tradicionais,
como televisão e jornais, para as redes sociais. É crescente o número de policiais “influencers”, onde
o foco não está na venda de produtos e sim a de narrativas. Além disso, há também uma grande adesão
da população a eleger candidatos políticos que utilizam de discursos punitivistas, de medo e
insegurança. A partir da conjectura apresentada, o objetivo nesse trabalho é indicar como esses
fenômenos sociais atuais estão relacionados com as produções de subjetividade promovidas pelo
populismo penal midiático. Será apresentado as características que compõem esse gênero
“jornalístico”, as narrativas padronizadas que circulam, violações dos direitos humanos presentes nas
reportagens.

2 DESENVOLVIMENTO

O populismo penal midiático é muito bem representado por programas de televisão que se
enquadram no gênero “Datenista”. Onde o compromisso não está na apuração de fatos, e sim no
sensacionalismo. É comum nos programas dessa variedade a exibição de diversas violências, por
exemplo cenas de execução transmitidas “ao vivo”. Além da banalização da violência, é construído
um imaginário de medo e insegurança. O populismo penal midiático é conhecido também por violar
os direitos humanos, ao expor menores em rede aberta, onde os apresentadores tratam os suspeitos
aprendidos pela polícia como culpados, sem que ocorresse uma apuração jurídica em cima do
processo. Além dos diversos xingamentos direcionados aos suspeitos do tipo “vagabundo, meliante,
menor infrator”, essas falas são seguidas de incitamentos ao lixamento dos indivíduos.
Outro caracter que compõem a essência desse tipo de mídia é o punitivismo, em que narrativas
do tipo; “O problema do Brasil é impunidade, a ausência de penas de mortes etc..”. Essas narrativas
transmitidas de caráter punitivistas implicam na individualização das problemáticas, anulando o
contexto histórico social. É presente dentro dos conteúdos apresentados no populismo midiático
manifestações culturais, como bailes funk serem associados à criminalidade, a serem demonizados,
como lugares perigosos repleto de “bandidos e marginais”. Majoritariamente a mídia utiliza de
diferentes denominações para se referir aos indivíduos, a linguagem para caracterizar o indivíduo
varia, dependendo da sua cor, etnia, classe social... Por exemplo, um jovem negro de periferia quando
aprendido por tráfico de drogas, é comum a mídia utilizar representações do tipo “meliante que possui
uma boca de fumo” para caracterizar o sujeito, já uma pessoa branca de uma classe social mais alta
seria representado por “jovem ou estudante que produzia drogas num laboratório”.
Tais narrativas são produções de subjetividades operadas pelo populismo penal. Vejamos,
podemos reconher a mídia como um dispositivo de poder, ela orienta modos de pensar e de relacionar
com o mundo, ou seja, ela produz subjetividades... Então fica a pergunta quais são os modos de
subjetivação operadas pelo populismo penal midiático? Para responder essa questão é necessário
entendermos que a subjetividade se constitui pela relação com O Outro, esse Outro pode ser entendido
como o mundo social. Os modos de subjetivação promovidos pelo gênero Datenista implicam em
(re)produções racistas de subjetividades. O reflexo dessas produções de subjetividade fica evidentes
com os seguintes dados: pessoas negras acabam tendo penas mais duras por tráfico mesmo portando
quantidades menores ou mesmo o fator de morar numa favela é agravante em uma condenação por
tráfico por drogas. (DE CASTRO, LEMOS, PORTINARI, 2018)
Outros efeito das produções de subjetividades geradas por essa categoria de mídia é a
crescente onda de policiais influencers, candidatos a cargos políticos que aderem à essas narrativas
punitivas. Um exemplo disso é o ex-vereador do Rio de Janeiro, Gabriel Monteiro, Gabriel foi o
terceiro vereador mais votado da história da cidade do Rio. Ele começou sua vida pública como
policial, ao qual fazia vídeos para internet mostrando o seu dia-dia. O conteúdo dos vídeos contia
cenas de perseguição, apreensão de suspeitos e troca de tiros, conteúdos que chamam atenção do
público devido a “adrenalina” transmitida. Gabriel, entre também outros policiais, utilizou da mídia
para a autopromoção.

3 CONCLUSÃO

A mídia tem um papel fundamental sobre a produção de subjetividade, há a necessidade de


questionar quais são modos de ser e de existir promovidos por ela. A mídia, devido a sua grande
influência, deveria ter o compromisso ético de produzir “opiniões públicas” que compactuam com os
direitos humanos, sem que haja o aniquilamento de subjetividades. A lógica da falta de impunidade não
corresponde com o contexto brasileiro, o Brasil já é um Estado punitivo, tendo a terceira maior população
carceraria do mundo, o país também possui uma polícia violadora dos direitos humanos. Categorias da mídia
inserida nos discursos do populismo penal midiático promovem desejos de punições mais severas para aqueles
que cometeram alguma infração, o que contradiz com o objetivo de ressocializar o sujeito após ser
institucionalizado. A mídia brasileira é considerada por muitos especialistas da área penal como o Quarto
Poder, tamanha influência que chega a exercer na opinião pública (FALEIROS, 2022). Tais opiniões publicas
vão além de produzir segregações sociais, para também o âmbito intrapsíquico, onde se estabelece “Nós” -
cidadãos de bem- e ‘ELES” os marginais.
É importante entendermos o populismo penal midiático como uma ideologia, uma ideologia a ser
contextualizada, já dizia Cazuza “Suas ideias não correspondem aos fatos”.

REFERÊNCIAS

AIDAR, Adriana. SILVA, Amanda. A violação dos Direitos Humanos pelo discurso populista
mídiatico contemporâneo. 2020. Disponível em:
https://repositorio.uniube.br/bitstream/123456789/1624/1/A%20Viola%C3%A7%C3%A3o%20dos
%20Direitos%20Humanos%20Pelo%20Discurso%20Populista%20Midi%C3%A1tico%20Contemp
or%C3%A2neo%20-%20Amanda%20Silva.pdf. Acesso em 10 nov. 2023.

DE CASTRO, Daniel. LEMOS, Amanda. PORTINARI, Natália. Morar em favela do Rio é


agravante em condenação por tráfico de drogas. 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/04/morar-em-favela-do-rio-e-agravante-em-
condenacao-por-trafico-de-drogas.shtml. Acesso em 10 nov. 2023.

FIGUERÓ, Rafael. FIGUERÓ, Martha. MINCHONI, Tatiana. Mídia e produção de


subjetividade: A produção do “menor infrator "na mídia brasileira. 2015.

TORRE, Thiago. Jornalismo policial, porque você deveria parar de asisstir. 2020. Disponível
em: https://youtu.be/WjQfEDIXwTc?si=bIlDv-k1zxWHxhil. Acesso em 10 nov. 2023.

TORRE, Thiago. Policiais blogueiros, policiais eleitos. 2021. Disponível em:


https://youtu.be/PNTEc4BttSE?si=ItDwvA3EAOspEPFA. Acesso em 10 nov.2023

FERNANDES, Isadora. Populismo penal midiático como mecanismo ideológico: uma análise
de dimensão subjetiva pela psicologia sócio-histórica. 2022.
https://repositorio.pucsp.br/handle/handle/27665
FALEIROS. Luis Felipe. A mídia e o populismo penal midiático: influência na sociedade. 2022.
https://dspace.mackenzie.br/items/15a28f99-fdb2-4b10-a3cc-83e6f1d91736.
GARCIA, João Vitor. NICOLLIT André. Populismo penal midiático, formas de violência e
garantias do acusado. 2023 https://www.ibccrim.org.br/publicacoes/edicoes/784/9023

Você também pode gostar