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Estado de Goiás

Secretaria da Segurança Pública


Delegacia-Geral da Polícia Civil
Escola Superior da Polícia Civil

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM


GESTÃO ESTRATÉGICA DA POLÍCIA JUDICIÁRIA

CRIMES DE HOMICÍDIOS NA AISP-08 DO MUNICÍPIO DE APARECIDA DE


GOIÂNIA ENTRE 2015 E 2019

NIU CARVALHO CARDOSO

Orientador(a): Clodoaldo Nascimento Bastos


Linha de pesquisa: Gestão e políticas públicas

Goiânia
2021
CRIMES DE HOMICÍDIOS NA AISP-08 DO MUNICÍPIO DE APARECIDA DE
GOIÂNIA ENTRE 2015 E 2019

Niu Carvalho Cardoso1


Clodoaldo Nascimento Bastos2

Resumo
Os crimes de homicídios na AISP – 08 do município de Aparecida de Goiânia entre 2015-2019 é o
objeto de estudo desencadeado por este trabalho. A dinâmica de como ocorrem os eventos aqui
analisados formam o itinerário estabelecido. A leitura de bibliografia existente possibilitou o
aprofundamento em alguns conceitos necessários como território, facções, homicídios e
vulnerabilidade social. As pesquisas em livros cartorários do Grupo de Investigação de Homicídios de
Aparecida, para obtenção de registros de homicídios constituiu a base de coleta de dados. Apresenta
uma diferenciação nas ocorrências de homicídios de 2015-2017 e de 2018-2019. Demonstra como as
facções delimitam territórios por meio do medo e da força. Apresenta as principais características das
vítimas de homicídios no recorte espacial escolhido. Expõe como se comporta a população diante da
realidade apresentada. Traz a luz que continuam a morrer negros e pobres das periferias.

Palavras-chave: Homicídio; aisp; facções; território.

Introdução

No município de Aparecida de Goiânia, região metropolitana da cidade de


Goiânia, região centro-oeste do Brasil, com população residente de 590.146
habitantes, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
para o ano de 2020, os crimes de homicídios são investigados pelo Grupo de
Investigação de Homicídios (GIH), sendo este uma serventia da Polícia Civil de
Goiás que possui como circunscrição todo o território do município em que está
inserido. Esse grupo foi criado no ano de 2003 por meio de Portaria do Delegado
Geral desta instituição. E como a denominação nominal indica, o objeto de trabalho
dessa unidade policial trata-se do crime contra a vida tipificado como homicídio,
excetuando-se o enumerado no § 3º, qual seja, se o homicídio é culposo, sendo

1
Cardoso. Agente de Polícia Civil, graduado em Geografia (UFG), niucc@policiacivil.go.gov.br

2
Bastos. Agente de Polícia Civil, orientador na ESPC, graduado em História (UFG) e Mestre em Sociologia (UFG),
clodoaldobastos@hotmail.com
válido ressaltar que quando, no decorrer da investigação, apura-se que o autor é
menor o respectivo Inquérito Policial é transladado a unidade competente (DEPAAI).
O presente relato apresenta dois aspectos relevantes nas ocorrências de
crimes de homicídios, sendo o primeiro a adoção, por esta serventia policial, de
Áreas Integradas de Segurança Pública, conhecidas como AISP. O GIH/Aparecida,
por determinação da Delegacia Geral da Polícia Civil de Goiás e orientação das
políticas de segurança pública, adotou a aplicação de AISP a partir de outubro de
2017.
Consoante a esse evento, o outro aspecto relevante trata-se da instalação
das facções criminosas nas ruas do município de Aparecida de Goiânia-GO,
realidade que se torna vislumbrável, também no ano de 2017. Diante disso a
pesquisa procura desenvolver uma relação entre o antes e depois, desses aspectos,
no comportamento dos eventos estudados, que são os homicídios.
Como a instalação de facções criminosas na AISP – 08 do município de
Aparecida de Goiânia-GO interferiu no cometimento dos crimes de homicídios? Ao
responder a esse questionamento abordaremos questões sociais e étnicas, bem
como a inserção de jovens e adolescentes na criminalidade relacionada ao objeto de
trabalho do Grupo de Investigação de Homicídios.
O presente relato objetiva falar sobre a dinâmica na ocorrência de crimes de
homicídios na AISP – 08 do município de Aparecida de Goiânia-GO, antes e a partir
da instalação de facções criminosas nesta urbe, compreendendo então o período
entre os anos de 2015 e 2019.
Para realização desse trabalho realizar-se-á uma leitura bibliográfica para
auxílio conceitual e dissertativo, buscando melhor entendimento do que é proposto
pelas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP´s) e o conceito de disputa
territorial que permeia a criminalidade atualmente, demonstrando as diferenças
sociais e econômicas na ocorrência do crime investigado. Auxiliará a elaboração do
trabalho, uma pesquisa minuciosa em livros cartorários a fim de demonstrar a
evolução no número de homicídios no recorte espacial selecionado entre 2015 e
2019.
A instalação das facções criminosas no recorte espacial escolhido provoca
um processo acelerado e violento de delimitação de territórios. A partir da ciência
geográfica busca-se conhecimento necessário para compreensão desse objeto de
estudo e seu uso pela criminalidade, apresentando como ocorre a disputa de
territórios entre grupos criminosos e como essa dinâmica afeta o comportamento da
população na contribuição com o trabalho da polícia judiciária. Outrossim,
demonstrar a utilidade e inserção de jovens e adolescentes no cometimento de
crimes de homicídio, bem como relatar quão aumenta o número de vítimas entre os
mais novos.
Para auxiliar na melhor compreensão das informações trazidas no bojo
desse trabalho houve a aplicação de gráficos com vetores classificados como
necessários para a análise e desenvolvimento do respectivo estudo.
O presente trabalho encontra-se em consonância com as políticas de
segurança pública, implementadas pelo Estado de Goiás, sendo que o município de
Aparecida de Goiânia-GO sedia a 2ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP),
estando dividida em quatro Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP). O
mesmo desenvolve-se a partir da análise, referente aos crimes de homicídios
ocorridos na AISP-08 do mencionado município, sendo importante salientar que
obedece ao interregno entre 2015 e 2019. Esta área compreende um espaço
constituído por 92 (noventa e dois) bairros.
O objeto de estudo que foi desenvolvido, os crimes de homicídios ocorridos
no recorte espacial e temporal determinado, propôs uma pesquisa por meio do
método científico fenomenológico, pois se apresenta como o fenômeno diante de
nossa consciência, “busca-se mostrar e esclarecer o fenômeno”. (PRODANOV e
FREITAS, 2013, p.35)
Estando atenta as palavras dos autores que salientam:
Ou seja, o método fenomenológico limita-se aos aspectos essenciais
e intrínsecos do fenômeno, sem lançar mão de deduções ou
empirismos, buscando compreendê-lo por meio da intuição, visando
apenas o dado, o fenômeno, não importando sua natureza real ou
fictícia. (PRODANOV e FREITAS, 2013, p.36)

Com base nos procedimentos utilizados o referido trabalho encontra


fundamentação a partir de pesquisa bibliográfica tendo por base livros e artigos
científicos que abordam e dão vazão a temática para construção de um arcabouço
conceitual.

Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o


que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive
conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por
alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. (MARCONI e
LAKATOS, 2003, p. 183)

Embora preceitua, Marconi e Lakatos que a pesquisa bibliográfica traz ao


pesquisador contato com a totalidade do que foi construído sobre determinada
temática, visa nesta especulação não esgotar o debate da dinâmica dos crimes de
homicídios na AISP-08 do município de Aparecida de Goiânia, entre os anos 2015-
2019.
Nesse tocante, por meio de estudos de trabalhos que abordem aspectos
sobre a ação das facções criminosas nas periferias das cidades, pontuando a
disputa de territórios e a inserção de jovens e adolescentes no mundo do crime,
demonstrando como essas variáveis se relacionam com o cometimento de crimes de
homicídios. E, ainda, análise de trabalhos que abordam os homicídios, levando por
base os estratos de matizes étnicas (negros, brancos, pardos e para objeto do
referido estudo os Não-Identificados e de faixa etária, aplicando as observações
relevantes à região selecionada para estudo.
Debruçou-se, também em pesquisas documentais, sendo que estas se
caracterizam pelo fato “da fonte de coleta de dados estar restrita a documentos,
escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias” (MARCONI e
LAKATOS, 2003, p. 183). Essa coleta de dados ocorreu a partir dos livros de
registros de crimes de homicídios, em cartório responsável pela AISP-08, para
levantamento de perfil vitimológico para apresentação de dados como etnia e faixa
etária.
Logo, os dados coletados são informações posteriores a ocorrência dos
fatos e se limitam a apresentar informações a partir da ótica do investigador sobre as
vítimas elencadas nos registros cartorários, excetuando as mortes por intervenção
por agentes públicos, devido a dinâmica de gestão interna do Grupo de Investigação
de Homicídios de Aparecida de Goiânia.
Com base nos objetivos propostos o presente trabalho evoluiu como uma
pesquisa exploratória e descritiva. Sendo que possui como finalidade proporcionar
“maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito”, buscando
um “aprimoramento das ideias”(GIL, 2002, p.41) em relação a dinâmica e
motivações para os cometimentos dos crimes de homicídios na área delimitada,
assim descrevendo características da população, inserida na realidade apresentada
e, do fenômeno propriamente dito (GIL, 2002, p.42).
Procurou-se fidelidade aos meios técnicos para o desenvolvimento do
trabalho, buscando autenticidade das atividades desenvolvidas e resultados
alcançados, pois como discorre Prodanov E Freitas (2013), estes orientam o
pesquisador e sistematiza e proporciona veracidade a pesquisa desenvolvida.

Mais especificamente, visam a fornecer a orientação necessária à


realização da pesquisa social, em especial no que diz respeito à
obtenção, ao processamento e à validação dos dados pertinentes à
problemática, objeto da investigação realizada. (PRODANOV e
FREITAS, 2013, p.36)

Diante do exposto, o método observacional foi um dos colocados em prática


para o desenvolvimento do respectivo trabalho, sendo que possui relevante
aceitação nas ciências sociais, sendo utilizado em abordagens que relatam um
fenômeno que acontece ou que aconteceu, demonstrando intimidade com a
pesquisa proposta pois caminha ao encontro do enunciado.
Fez-se necessário a aplicação do método comparativo pois a pesquisa
apresenta realidades diversas na dinâmica dos crimes de homicídios no recorte
temporal proposto, tendo como referência o ano de 2017, quando ocorre a
instalação das facções criminosas no município de Aparecida de Goiânia,
apresentando alterações significativas na prática delituosa referencial.

Centrado em estudar semelhanças e diferenças, esse método realiza


comparações com o objetivo de verificar semelhanças e explicar
divergências. O método comparativo, ao ocupar-se das explicações
de fenômenos, permite analisar o dado concreto, deduzindo
elementos constantes, abstratos ou gerais nele presentes.
(PRODANOV e FREITAS, 2013, p.36)

Foram realizadas leituras de artigos e trabalhos acadêmicos, referenciados,


que tratam sobre o conceito de Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP), para
compreensão do que se busca com essa política de segurança pública,
apresentando aspectos intrínsecos dessa modalidade de divisão territorial do
trabalho de polícia.
Estudos de trabalhos que abordem aspectos sobre a ação das facções
criminosas nas periferias das cidades, no tocante a disputa de territórios e a
inserção de jovens e adolescentes no mundo do crime. E, ainda, análise de
trabalhos que abordam a diferença do cometimento de crimes de homicídios em
relação a questões sociais, culturais e econômicas, aplicando na população em
estudo.
Desenvolveu pesquisas documentais a partir dos livros de registros de
crimes de homicídios, em cartório responsável pela AISP-08, para levantamento de
perfil vitimológico para confecção de tabela referente a dados enumerados como
escolaridade e faixa etária.

Da fundamentação para pesquisa

A saber, o principal objeto de manipulação do presente artigo trata-se do


crime de homicídio que ocorreram em área específica do município de Aparecida de
Goiânia. Aqui utilizamos para homicídio o conceito de Kleinschmitt, Lima e Wandi
onde ressalta que “o homicídio é entendido como a ação intencional dirigida a outro
que resulte em óbito” (KLEINSCHMITT; LIMA; WANDI, 2011, P. 65). Para melhor
compreensão dos eventos abordaremos variáveis necessárias para o presente
relato.
Bem como, analisamos a divisão territorial das Áreas Integradas de
Segurança Pública do Município de Aparecida de Goiânia-GO, a luz dos
questionamentos realizados por Faria, Costa e Correia (2012), quando são
analisadas as adequações das estruturas das Polícias Civil e Militar do Estado do
Rio de Janeiro para integração proposta pelas atividades a serem desenvolvidas
enquanto AISP.
Portanto, nessa mesma direção demonstramos a divisão do município de
Aparecida de Goiânia-GO em Áreas Integradas de Segurança Pública, por meio de
expediente do Secretário de Segurança Pública no ano de 2017, adequando a
atividade policial aos moldes das novas políticas para a área de segurança. Essas
etapas do trabalho se fazem necessárias para uma diferenciação na dinâmica dos
homicídios em dois momentos peculiares; de 2015 a 2017 e de 2018 a 2019.
O recorte espacial proposto, crimes de homicídios na AISP – 08 do
município de Aparecida de Goiânia, é corroborado por Barcellos e Zaluar (2014 p.
95) quando afirmam que “as violências são diferenciadas e têm múltiplas
determinações, que devem ser analisadas em diversas escalas de análise...” Ainda
assim, será possível vislumbrar um comportamento diferenciado no cometimento de
crimes de homicídios no nível proposto. Os mesmos autores dissertam sobre
aspectos prenunciadores de violência, assim propomos uma peregrinação sobre os
macrossociais e coletivos (que abrangem grande parte da sociedade), procurando
demonstrar as áreas e situações de maior risco em relação ao crime de homicídio.
Continuando a luz de Barcellos e Zaluar (2014, p. 95) aprofundamos nas
variáveis ecológicas correlacionadas as características das vizinhanças de onde
ocorrem os crimes de homicídios, como densidade demográfica, etnia e faixa etária,
demonstrando que as vítimas são oriundas de bairros superpovoados, baixo
aparelhamento público, pessoas de renda e escolaridade baixas e
predominantemente do sexo masculino.
Nessa mesma contextualização dirigem o olhar Ribeiro e Cano (2016),
quando enaltece que as vítimas de homicídio no Brasil possuem perfil muito bem
definido, isto em relação à escolaridade e renda, o que reflete a local de moradia,
poder aquisitivo, status social. Nessa interpretação, demonstraremos que no recorte
espacial proposto há bolsões em que os números de homicídios são menores
devido às diferenças sociais e econômicas.
Fora incorporado nessa discussão a instalação das facções criminosas no
município de Aparecida de Goiânia e como esse novo elemento tem se utilizado das
variáveis individuais (perfil socioeconômico) e das variáveis ecológicas
(características da vizinhança) para se consolidarem na ocupação do território, além
de geradores de violência, vez que promovem sangrentas guerras nesse processo.
Esse fenômeno marca o início do segundo momento do trabalho, 2018-2019, tendo
por base a dinâmica no cometimento dos crimes de homicídios na área delimitada.
Com o enraizamento das facções criminais no município de Aparecida de Goiânia,
caracteres que marcam o primeiro período, 2015-2017, se mantêm, contudo com
nova roupagem.
Com o advento das facções criminosas tem-se notado o crescente
envolvimento de jovens e adolescentes com o crime de homicídio, vez que as
condições socioeconômicas de muitos jovens da periferia, são fatores determinantes
para que os mesmos se envolvam nas redes sociais do tráfico e da criminalidade.
Ressalta ainda, que muitos desses jovens não possuem vínculos e relações sociais
consistentes, tornando-se alvos fáceis para o cometimento de crime em “troca” de
uma elevação social, como afirma o autor “na periferia, o jovem que anda armado
ganha respeito perante os outros jovens, ou então passa a ser temido pela
população”(COUTO, 2013, p.3).
No tocante as facções criminosas quando da instalação vê-se a abordagem
do conceito geográfico de território. Saquet e Silva (2008), analisando Mílton Santos
discorrem que território é uma área delimitada e constituída pelas relações de poder
e Queiroz continua o raciocínio: “Há também o uso e apropriação do território por
outros agentes. O território engloba as relações de poder, assim como, as relações
econômicas e simbólicas” (QUEIROZ, 2014, P. 157) e, nesse contexto constitui o
fundamento da guerra entre facções e assemelhados locais.
Ainda, de acordo, com Gorski et al (2018) ao longo dos anos o exercício da
criminalidade vem sofrendo mudanças estruturais e em Aparecida de Goiânia-GO
não é diferente, demonstrando uma diminuição na faixa etária dos perpetradores da
sociedade, nesse caso de vidas, principalmente com o advento das facções
criminosas que inserem na marginalidade, jovens e adolescentes, tendo como pano
de fundo os motivos já salientados e outros mais.
Por fim, é necessário salientar o estado de medo que assola a sociedade
que conforme Couto (2018, p.7), nas áreas controladas pelas facções criminosas os
moradores não contribuem com a polícia judiciária “porque já se acostumaram com
a presença dos bandidos, ou porque temem represálias, sendo uma escolha
racional”, sendo esse também o comportamento dos citadinos que compõem o
contingente populacional no recorte espacial escolhido, AISP-08 de Aparecida de
Goiânia.
É necessário destacar a diminuição no número de homicídios a partir de
2018, levando em consideração ao que trata o Atlas da Violência (2020), quando
aborda que as causas de redução do número de mortes por homicídio deve-se,
dentre outros fatores, pela suspensão de hostilidade, mesmo que temporária e
velada, entre as facções e assemelhados locais, vez que segundo o mesmo anuário
a guerra entre facções é custosa e inviável economicamente e provoca perdas
humanas de ambos os lados.
O anuário Atlas da Violência 2020 traz como redutor de crimes de
homicídios as políticas efetivas de segurança pública que foram implantadas ao
longo dos últimos anos e, nesse contexto pode-se incluir a implantação das Áreas
Integradas de Segurança Pública.
No tocante a fatores étnicos a referência segue a classificação segundo o
IBGE em que compõem os negros a soma de pretos e pardos e os outros são os
não negros, sendo composto pelos brancos, amarelos e indígenas. Dito isso o
presente relato demonstra a proporção de homicídios entre as classes étnicas em
todo o período analisado, isto é, de 2015 a 2019, bem como a faixa etária.
Dessa forma, é importante ressaltar que o debate proposto não pretende
tornar a temática por encerrada. Apenas iniciar uma análise que perpassa pelo
Grupo de Investigação de Homicídios de Aparecida de Goiânia, facções criminosas,
envolvimento de jovens e adolescentes e o comportamento da sociedade na
elucidação dos crimes objeto de trabalho da serventia policial, em um recorte
espacial proposto (AISP-08), levando-se em consideração aspectos
socioeconômicos relevantes.

Dos resultados e discussões

Os dados aqui apresentados são frutos de pesquisas em livros cartorários


de registro de inquéritos policiais sob a guarda e responsabilidade do cartório central
do Grupo de Investigações de Homicídios de Aparecida de Goiânia, referentes aos
eventos em análise cometidos na AISP – 08. A citada pesquisa se balizou no
número de mortes por homicídio, na faixa etária e em dados de cor e raça, no
interregno proposto, isto é, de 2015-2019.
No gráfico de número 01 é apresentada a quantidade de mortes por
homicídio, ano a ano, no período pesquisado.

Gráfico 01 – Número total de homicídios na AISP-08 _ Aparecida de Goiânia


O gráfico nº 01, nos apresenta a quantidade total de mortes por homicídio na
AISP-08, em Aparecida de Goiânia-GO, de acordo com a tabela seguinte:

Vislumbramos um declínio acentuado no número de homicídios,


principalmente, nos dois últimos anos pesquisados o que nos leva a inferir uma
mudança de comportamento e de perfil dos agentes envolvidos, vítimas e autores.
Por isso, para melhor compreensão da dinâmica dos crimes de homicídios,
didaticamente, propomos uma divisão em dois períodos, sendo o primeiro de 2015 a
2017 e o segundo de 2018 a 2019.
Temos que ressaltar que o pano de fundo para o cometimento dos crimes de
homicídio em todo o interregno proposto, 2015-2019, tem o tráfico de drogas como o
principal norteador motivacional para os eventos enumerados. Contudo o
comportamento dos agentes envolvidos demonstra diferenciação. Neste primeiro
período, por meio do trabalho desenvolvido no interior do Grupo de Investigação de
Homicídios, nota-se que existem pequenos grupos de traficantes que se envolvem
em “guerras” pontuais. Entretanto, os homicídios são marcados por dívidas
relacionadas ao comércio ilegal de entorpecentes, não envolvendo um confronto,
propriamente dito, entre esses grupos, ficando evidenciado que “criminosos e
vítimas residem nas mesmas áreas e compartilham o mesmo perfil” (Ribeiro e Cano,
2016, p. 290).
A análise desses homicídios passa pela reflexão sobre desigualdade social
como causa primordial da violência e da criminalidade. Como aborda Couto (2013)
ao afirmar que essas condições veem determinar o envolvimento das pessoas mais
humildes nas redes sociais do tráfico de drogas e na criminalidade e isso é notável
no recorte espacial selecionado e no primeiro período preconiza os crimes de
homicídios, marcados pela morte de usuários em dívida e contendas locais.
A região selecionada para a realização deste trabalho, AISP-08 em
Aparecida de Goiânia, é marcada por cicatrizes latentes que desenvolvem para um
preconceito estrutural onde há carência de inúmeras variáveis. Embora, presente
nessa partição a região central do município de Aparecida de Goiânia, possuidora de
aparelhos públicos e privados que lhe promovem valorização, muito próximo se
encontram localidades que apresentam realidade bem diversa e sobre aquela
promovem interferência de forma negativa, em especial as ocorrências de
homicídios.
Aqui é imperativo expor a teoria apresentada por Kleinschimitt et al (2011)
desenvolvida por Beato (1998, pag. 87):

Já as taxas de homicídios, as tentativas de homicídios e os estupros


correlacionaram-se negativamente com o percentual de casas com
esgoto. A suposição era a de que “[…] que em localidades aonde a
companhia de água e esgoto ainda não chegou, a polícia e o sistema
judiciário estejam igualmente distante” (Kleinschimitt et al, 2011, pag.
75)

Essa afirmativa demonstra a realidade vivida pelos moradores da maioria


dos 92 bairros que compõem a AISP-08 em Aparecida de Goiânia. A redundância
em falar em falta de água e esgoto expõe outras fragilidades como ausência de
pavimentação asfáltica, escolas dignas, espaços públicos para jovens, adolescentes
e suas famílias. Uma população carente de muitas coisas. Não mencionando a
proximidade com o complexo prisional existente no município e a fraca política de
urbanização que existia até poucos anos. A área, por suas características, torna-se
favorável para o alto índice de crimes de homicídios conforme preceitua Schabbach
(SCHABBACH, 2014).
Nesse contexto ocorrem o surgimento dos grupos rivais que entram em
guerras pelo comércio de drogas ilícitas, que praticam homicídios de forma
irracional, se é que existe racionalidade no cometimento de um crime “reprovado
pela sociedade desde tempos imemoriais”, como salienta Schabbach (2014, pag. 3).
A maioria dos bairros da região estudada, formados por população de baixa
renda tornam-se campo fecundo para o crescimento da criminalidade resultando em
mortes violentas, pois se encontra certificado que nas áreas urbanas pobres
ocorrem o maior número de homicídios em uma cidade, sendo aspecto de
vulnerabilidade, situação assinalada por Kleinschimitt et al, (2011, pag. 73).
Na virada do período analisado as variáveis apresentadas permanecem
como atributos da região estudada, quais sejam: o tráfico de drogas, a baixa renda,
desigualdade social, ausência de escolas dignas, concentração populacional e, a
falta de água e esgoto.
O ano de 2017 torna-se um divisor no cometimento dos crimes de
homicídios no município de Aparecida de Goiânia. Fica evidenciado a instalação de
facções criminosas na referida cidade e, esse fato muda a dinâmica dos crimes de
homicídio. Se até esta data os criminosos viviam na mesma região, compartilhavam
o mesmo perfil, de agora em diante a realidade transforma-se em verdadeiro campo
de batalha. Mas como os números de homicídios apresentam redução? No ano de
2017 ainda é elevado, o declínio se apresenta nos anos posteriores.
Aqui trazemos ao bojo do estudo o conceito geográfico de território, pois
este, norteará a compreensão da criminalidade geradora dos homicídios em análise.
Em Milton Santos o território é o espaço utilizado pelo povo. Quando a sociedade
toma posse, transforma, trabalha o espaço transforma-se me território, sendo um
dado fixo, delimitado, uma área, conforme Saquet e Silva (2008).

Assim, o território pode ser considerado como delimitado, construído


e desconstruído por relações de poder que envolvem uma gama
muito grande de atores que territorializam suas ações com o passar
do tempo. No entanto, a delimitação pode não ocorrer de maneira
precisa, pode ser irregular e mudar, historicamente, bem como
acontecer uma diversificação das relações sociais num jogo de poder
cada vez mais complexo (SAQUET; SILVA, 2008, p. 32-33).

Por via de regra, o território é uma área delimitada e constituída pelas


relações de poder do Estado, entretanto não podemos desconsiderar diferentes
formas de enfocar o seu uso, levando em conta a multiplicidade de atores e
inúmeras relações sociais, isto é, o mesmo pode ser apropriado por outros agentes.

O território, em Milton Santos, não é apenas organizado pelo Estado,


como também, não está restrito, para Milton Santos, à dimensão
política do espaço, ou seja, não é apenas um espaço delimitado
pelas relações de poder (Souza, 2013). Há também o uso e
apropriação do território por outros agentes. O território engloba as
relações de poder, assim como, as relações econômicas e
simbólicas (QUEIROZ, 2014, p. 157).

Nesse contexto de poder, domínio sobre determinada área, surgimento de


outras relações que não as estatais é que surge a relação entre facções criminosas
e crimes de homicídios. Aqui colabora com essa exposição a aplicação apresenta
por Vieira et al (2016), quando busca a etimologia do termo e diz referir-se a térreo-
territor, que se remete a medo-terror, apropriação. Diante dessa acepção se coloca
o advento dos grupos criminosos que se instalam na AISP – 08 em Aparecida de
Goiânia a partir de 2017.
Os crimes de homicídios, daqui por diante, se encontram inseridos nesse
amaranhado da criminalidade. Se antes ocorriam quase que de forma espontânea,
sem planejamento, agora apresentam-se com requintes de estruturação e
direcionamento, com feições de crime organizado. O pano de fundo permanece o
tráfico de drogas, mas agora não são mais aceitos a convivência e relações
compartilhadas. Instala-se uma divisão territorial e pessoal.
Se antes conviviam em uma mesma área, criminosos de diversas estirpes,
agora passa a vigorar a imposição de escolher de um lado ou outro. E nessa
imposição ocorrem os homicídios em número elevado e com requintes de
brutalidade e crueldade. Não há como conviver X e Y no mesmo território. Pessoas
que na infância eram amigas, ao se envolverem no mundo do crime, escolhendo
lados diferentes, se tornam inimigos de morte.
Vão se formando territórios na AISP – 08 em Aparecida de Goiânia a custa
de muitas mortes entre facções rivais.

A presença do tráfico, principalmente o tráfico armado, aumenta as


taxas de homicídios no entorno de favelas. Grande parte deles
decorre de conflitos armados entre traficantes de diferentes
comando… pela conquista ou defesa de territórios…(Barcellos e
Zaluar,2014, p. 101)
O poder bélico desses grupos cresce rapidamente e de forma
surpreendente. Embora outros crimes continuam a acontecer o homicídio prevalece
como a forma mais evidente de violência. As mortes por homicídio, são marcadas,
desde então, pela disputa territorial implantada. E usuários, continuam sendo vítimas
de homicídios? O que se vê na prática, irracional, de homicídios contra desafetos de
grupos contrários, na tomada, ocupação e consolidação de territórios.
Nessa conjuntura, a partir de políticas, de âmbito nacional, em segurança
pública já conhecidas, no sentido de readequação, são estabelecidas, por força da
portaria nº 0366/2017 da Secretaria de Segurança Pública e Administração
Penitenciária, as circunscrições das Áreas Integradas de Segurança Pública em todo
Estado de Goiás.
Essa readequação na estrutura funcional da força policial objetiva resultado
mais positivos na prevenção, repressão e elucidação de crimes. Conforme Faria et
al (2012), as Áreas Integradas de Segurança Pública visam melhor articulação e
troca de informações entre as forças de segurança que estão inseridas na área
delimitada. Dentre as ideias defendidas por essa política de segurança pública
consta o mapeamento constante dos locais onde ocorrem os crimes em geral,
atualização de dados por meio de confecção de relatórios, incremento em efetivo. É
a resposta em segurança pública em face da instalação das facções criminosas.
No interior do Grupo de Investigação de Homicídios de Aparecida de Goiânia
com a adoção de AISP´s, cada cartório operacional passou a responder por uma
Área Integrada de Segurança Pública, como que desenvolvesse uma especialização
territorial na realização dos trabalhos dessa serventia policial. Nesse contexto
desencadeou este trabalho.
Nos anos seguintes em análise aos dados é notório o declínio no número de
homicídios no recorte espacial escolhido. Vemos que no último ano de estudo o
número de homicídios é menos da metade do primeiro ano da análise. Isso
resultado de um olhar clínico colocado sobre a investigação de homicídios, bem
como do trabalho preventivo realizado pela força militar. Entretanto, deve-se analisar
o comportamento desse fenômeno sobre outros pontos de vista.
O Atlas da Violência (2020) realiza apontamentos sobre o aumento de
homicídios quando da “guerra” estabelecida entre facções, como já citamos aqui e,
em relação ao declínio no número desses mesmos homicídios, cita o referido
trabalho, a inviabilidade econômica do conflito estabelecido:

Ocorre que uma guerra custosa, imprevisível e duradoura, sem um


contendor com vantagens ou supremacia clara, é inviável
economicamente […] Depois de cerca de um ano e meio das
escaramuças em alta intensidade, em que membros das duas
maiores facções penais se matavam mutuamente, a intensidade dos
conflitos diminuiu (Cerqueira et al, 2020, p. 9).

A inviabilidade não é somente econômica como também de material


humano, tanto pelo fato do alto número de mortes por homicídio quanto pela queda
da natalidade que ao longo do tempo diminuiu o número de jovens, provocando um
envelhecimento na população e, isso sofre também os grupos criminosos.
Dentre os fatores citados ……….Outro fator citado pelo Atlas da Violência
(2020) para a diminuição no número de homicídios de 2018 em diante é um suposto
procuramos destacar o armistício entre as facções, os outros não se destacam como
relevantes em relação ao recorte espacial escolhido isto sendo apontado para uma
situação referente as regiões norte e nordeste do país:

O movimento das guerras de facções em 2016 e 2017 e o


subsequente armistício, velado ou não, a partir de 2018, explicariam
por que os supramencionados estados do Norte e Nordeste foram
aqueles com maiores aumentos nas taxas de homicídios em 2017, e
maiores quedas em 2018 (Cerqueira et al, 2020, p. 9).

Essa afirmação realizada pelo Atlas da Violência (2020) foi corroborada pela
fala de um conduzido que confirmou essa situação. Em relação ao que ocorre na
AISP – 08 em Aparecida de Goiânia, não possuímos informações que comprovem a
mesma situação, contudo podemos inferir possuir o mesmo fator motivador de
redução e, ainda a consolidação dos territórios coordenados por essas facções, não
sendo necessário o conflito armado para se sustentar, possuindo cada qual o seu
domínio.
Nos gráficos seguintes, de número 02 a 06, são apresentadas informações
acerca de raça/cor das vítimas de mortes por homicídio no período pesquisado.

Gráfico 02 – Número de vítimas na AISP-08 por raça/cor em 2015 _ Aparecida


de Goiânia
60

40

Nº DE VÍTIMAS 20
POR COR/RAÇA
0
EM 2015
A A
RD NC RO AD
O
A A G C
P BR NE IF
I
T
EN
ID
N.

Gráfico 03 – Número de vítimas na AISP-08 por raça/cor em 2016 _


Aparecida de Goiânia

50
40
30
20
Nº DE VÍTIMAS 10
POR COR/RAÇA EM 0
2016
RDA NCA RO DO
A G A
PA BR NE IF
IC
T
EN
ID
N.

Gráfico 04 – Número de vítimas na AISP-08 por raça/cor em 2017 _


Aparecida de Goiânia

60
40
20
Nº DE VÍTIMAS
POR COR/RAÇA EM 0
2017 A A
RD NC RO AD
O
A A EG C
P I
BR N
TIF
EN
ID
N.
Gráfico 05 – Número de vítimas na AISP-08 por raça/cor em 2018 _
Aparecida de Goiânia

40 sub-title
35
30
25
Nº DE VÍTIMAS POR
20
COR/RAÇA EM 2018
15
10
5
0

Gráfico 06 – Número de vítimas na AISP-08 por raça/cor em 2019 _ Aparecida


de Goiânia

sub-title

25
20
15
10
Nº DE VÍTIMAS POR
COR/RAÇA EM 2019
5 As
0
A A
RD NC RO A DO
A A G
P NE IC
BR TIF
EN
ID
N.
informações aqui sobre raça/cor correspondem aos anos da pesquisa, ressaltando
que se referem as vítimas de homicídios ocorridos no período investigado. O
apontamento sobre a raça/cor do indivíduo é realizado pelo agente de segurança
que comparece ao local de morte violenta, sendo este o responsável pelo
preenchimento dos documentos, sendo então, pelas circunstâncias, diverso do
procedimento de pesquisa realizado pelos órgãos competentes que realiza de forma
diferente.
A sua cor ou raça é: branca, preta, amarela, parda ou indígena?
Nessa ordem, o agente de pesquisa do IBGE oferece as opções, e o
entrevistado escolhe como se classifica. O que ele considera para
responder depende de cada um, pois o quesito de cor ou raça é
baseado na autodeclaração. (Gomes e Marli, 2018, pag. 13)

Na classificação de raça/cor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), o mesmo nos apresenta uma bi-diferenciação que nos traz negros e não-
negros, onde os primeiros compreendem aos pretos e pardos, enquanto os
segundos se referem aos brancos, amarelos e indígenas (Atlas da Violência, 2020,
pag. 47-53).
Nos gráficos apresentados vemos a figura do tipo “NÃO IDENTIFICADO”,
sendo este assim classificado pelo fato do agente de segurança pública não
conseguir com precisão e perícia estabelecer a cor/raça da vítima por inúmeras
circunstâncias (estado do cadáver, falta de segurança para determinação da
raça/cor, etc…)
Observando os gráficos podemos constatar uma grande desigualdade racial
na arguição entre as vítimas de homicídios na AISP-08 em Aparecida de Goiânia,
onde o número de negros mortos entre 2015 e 2019 é muito superior em relação aos
não negros vítimas de homicídios no mesmo período.
Em uma tabela distinguimos o seguinte:

COR/RAÇA 2015 2016 2017 2018 2019


PARDO 61 48 51 36 25
BRANCO 15 11 9 5 3
NEGRO (PRETOS) 6 8 8 9 0
N. IDENTIFICADO 13 11 12 15 15

Fica evidenciado que entre as vítimas compostas por não-negros (brancos)


o número de homicídios apresentou uma redução de 80%, enquanto entre os negros
(pretos e pardos) a redução no mesmo período foi de 62%. Aqui não elencamos os
“Não Identificados”, que podemos constatar que se manteve constante o número de
homicídios com pessoas que não tiveram determinada sua raça/cor.
Permanece notório que “quando se trata de vulnerabilidade à violência,
principalmente, ao crime de homicídio os negros e não negros vivem realidades
completamente distintas e opostas dentro de um mesmo território” (Atlas da
Violência, 2020, pag. 48).
Fazemos aqui uma a parte, realizando uma comparação entre as vítimas do
sexo masculino e do sexo feminino, tendo por somatório, no período entre 2015-
2019, 342 mortes de pessoas do sexo masculino e 19 mortes de pessoas do sexo
feminino, avistamos uma diferença na ordem de 94,4% entre um e outro.
Ressaltando aqui o risco de homicídios na população da AISP-08 em Aparecida de
Goiânia.

O risco de violência letal se distribui de forma muito desigual na


sociedade, de forma que as vítimas dos homicídios no Brasil tendem
a apresentar um perfil bem definido. Todos os estudos realizados têm
mostrado que as vítimas são preferencialmente do sexo masculino,
jovens e negras.[…] Essa composição por sexo é bastante estável.
(RIBEIRO; CANO, 2016, pag. 286)

Essas características sobre o risco de morte por homicídio apresentada por


Ribeiro e Cano se repetem com perfeição na área recortada para este estudo. Os
homens negros e pobres, permanecem como maioria entre as vítimas de homicídio,
há muito tempo e em todos os territórios.
Por fim, apresentamos os gráficos elaborados a partir da coleta de dados
referentes a faixa etária das vítimas de homicídios no recorte espacial e temporal
estabelecido neste trabalho. Os gráficos anuais se seguem.

Gráfico 07 – Vítimas de homicídios por faixa etária na AISP-08 em


2015 – Aparecida de Goiânia-GO

sub-title
40
35
30
25
Nº DE VÍTIMAS POR 20
FAIXA ETÁRIA EM 15
2015 10
5
0
14 -2
4
-3
4
-5
0
AI
S
DO
0- 15 25 35 M A
U R
O NO
51 IG
Gráfico 08 – Vítimas de homicídios por faixa etária na AISP-08 em 2016 –
Aparecida de Goiânia-GO

sub-title
30
25
20
Nº DE VÍTIMAS POR 15
FAIXA ETÁRIA EM 10
2016 5
0
14 -2
4
-3
4
-5
0
AI
S
DO
0- 15 25 35 M A
U R
O NO
51 IG

Gráfico 09 – Vítimas de homicídios por faixa etária na AISP-08 em


2017 – Aparecida de Goiânia-GO

sub-title
30
25
20
Nº DE VÍTIMAS POR 15
FAIXA ETÁRIA EM 10
2017 5
0
Gráfico 10 –
14 -2
4
-3
4
-5
0
AI
S
DO Vítimas de
0- 15 25 35 M A
R homicídios por
sub-title O
U
NO
51 IG faixa etária na
25
AISP-08 em
20 2018 –
15 Aparecida de
Nº DE VÍTIMAS POR Goiânia-GO
FAIXA ETÁRIA EM 10
2018 5
0
14 -2
4
-3
4
-5
0
AI
S
DO
0- 15 25 35 M A
U R
O NO
51 IG
Gráfico 11 – Vítimas de homicídios por faixa etária na AISP-08 em 2019 –
Aparecida de Goiânia-GO

sub-title
16

12

Nº DE VÍTIMAS POR 8
FAIXA ETÁRIA EM
2019 4

0
14 -2
4
-3
4
-5
0
AI
S
DO
0- 15 25 35 M A
U R
O NO
51 IG

Nos gráficos resta constatado que o pico de homicídio, com exceção do


último ano de estudo, ocorre entre 15 e 24 anos, reduzindo de forma lenta e
gradativa nas idades seguintes. Os números de vítimas de homicídios entre os
jovens têm relação com inúmeras variáveis e aqui destacamos os laços familiares
frágeis e pouco sólidos que colocam essas pessoas em situação de vulnerabilidade
frente a violência, que muitas vezes é vista como possibilidade de saída (COUTO,
2013, pag. 3).
Outra situação a ser enumerada referem-se as relações sociais dos jovens e
adolescentes que veem na inserção na criminalidade ascensão social.
Nestes termos, os jovens da periferia que tem sua rede social
reduzida e enfrentam problemas de isolamento social ou algum tipo
de preconceito ou exclusão, tornam-se facilmente membros das
redes do narcotráfico ou outro tipo de criminalidade (Couto, 2013,
pag. 3).

Não podemos nos esquecer da questão do empoderamento juvenil que leva


muitos jovens ao mundo do crime. Na periferia, o jovem que anda armado ganha
respeito perante os outros jovens, ou então passa a ser temido pela população
(COUTO, 2013, pag. 3).
Por derradeiro, após a exposição de todas as informações, considerando a
instalação de facções criminosas, a partir de 2017, houve uma transformação
considerável no comportamento da população local, no tocante a contribuição ao
serviço desenvolvido pela polícia judiciária na AISP – 08 em Aparecida de Goiânia,
prevalecendo a lei do silêncio, onde “os moradores não entregam os bandidos ou
porque já se acostumaram com eles, ou então porque temem alguma represália”
(COUTO, 2013, pag. 3).
Esse fenômeno conhecido por “Fobópole” tem realizado interferências no
comportamento da população que dificilmente contribuem com o trabalho
investigativo, mesmo que anonimamente. Isto devido as características de
perversidade e violência no cometimento do crime de homicídio e o poder bélico
desses grupos criminosos, o que demonstra o nível de vulnerabilidade social em que
se encontra a população da AISP – 08 em Aparecida de Goiânia que de certo modo
torna-se cúmplice dos que controlam o território da criminalidade (VIEIRA et al,
2016).

Considerações Finais

Nos dados apresentados ressalvamos ser possível destacar uma mudança


de comportamento nas práticas de homicídios, principalmente de 2018 em diante.
Pode-se deduzir, a partir de observações in locu, que as desigualdades sociais
surgem como força motriz da criminalidade violenta que existe na Área Integrada de
Segurança Pública de nº 08, no município de Aparecida de Goiânia. Implica dizer
que não podemos reduzir uma análise dos eventos propostos somente a partir
desses subconjuntos. Ainda, o presente trabalho é desenvolvido a partir de
pesquisas sobre as vítimas de homicídios, permanecendo disparidades sobre as
causas de alguns desses homicídios, mesmo sabendo que em sua maioria a
motivação tem como pano de fundo o tráfico de entorpecentes em diferentes
situações dentro do espaço temporal estabelecido.
O período proposto para o referido trabalho se pautou na preocupação em
possibilitar uma visão mais completa e substancializada da dinâmica dos eventos,
ocorridos e objeto do estudo, enquanto a área de análise demonstra a preocupação
com a capacidade de controle dos dados aferidos.
Pode-se constatar a ligeira diferença entre os crimes de homicídios ocorridos
ao longo do tempo, pois vê-se um comportamento diferenciado nesses eventos
estudados, quando se observa em um primeiro momento o cometimento de forma
anárquica, por outro lado no período subsequente existe uma verdadeira
planificação nos crimes de homicídio, sendo coincidente com a instalação de
facções criminosas no município de Aparecida de Goiânia e não sendo diferente na
área estuda. A partir da instalação de grupos criminosos organizados, desenvolveu-
se uma territorialização do crime, a partir da violência, do terror e do medo,
interferindo, inclusive, no comportamento do cidadão de bem.
Os crimes nesse período marcam um declínio, mas com níveis de crueldade
não visto em períodos anteriores, ceifando a vida de homens jovens, pretos e
pardos, pobre e em situações de vulnerabilidade, principalmente.
Enfim, o respectivo trabalho não finaliza a discussão sobre os fenômenos, as
variáveis que circundam os crimes de homicídios na AISP – 08 em Aparecida de
Goiânia, mas conta como gatilho para novos estudos, em continuação e,
principalmente, aprofundamento na verificação a diante desses fenômenos. Após o
tempo descriminado neste trabalho mudanças nos eventos objetos de estudo são
verificadas que podem confirmar o que ora é dito e demonstrar ressignificação.

Referências

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