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RELATÓRIO

18ª Delegacia de Polícia da Comarca de Porto Alegre/RS

Inquérito Policial nº XXX

Natureza da Infração Penal: Homicídio

Vítima: Juiz Fulano de Tal


Indiciado: Paulina de Castro

MM. Juízo

Consta nestes autos de Inquérito Policial que, no dia XX de XXXX de XXXX, os


policiais civis Y e Z, tomaram conhecimento da ocorrência de suposto suicídio, com emprego de
arma de fogo.

Narjana Amorim, namorada da vítima, o Juiz Fulano de Tal, alega ter recebido uma
mensagem do mesmo em seu celular, enquanto estava na faculdade, dizendo que precisava vê-
la. Diz ter ido até o local do fato e encontrando-o falecido e, então, chamou a polícia.

Após o fato ocorrido, Paulina de Castro, filha da vítima, proferiu acusações nas
redes sociais contra Narjana Amorim, alegando que a mesma teria instigada seu pai ao suicídio
com fim de interesse econômico, uma vez que os dois possuíam um relacionamento amoroso de
conhecimento geral e possuíam a intenção de se casar e constituir família em breve.

No local do fato encontrou-se um revólver calibre 38, que estava com a vítima; um
celular; cigarros apagados no cinzeiro sobre a mesinha do escritório e um copo quebrado.

Após o recolhimento das provas, foi realizada Perícia que apurou os seguintes
fatos:
O revólver encontrado com o Juiz era pertencente ao mesmo, que o guardava na
última gaveta de sua mesa de trabalho, local onde apenas sua filha e o caseiro sabiam que
ficava escondido.

O celular de Narjana também passou por perícia, que comprovou que a mensagem
foi enviada do celular do Juiz as 21h13, horário em que a mesma estaria na faculdade.

Com a ajuda de cotonetes, foi recolhida a saliva da vítima Fulano de Tal, de


Narjana Amorim, do caseira e, posteriormente, de Paulina de Castro, de onde foi retirado o DNA
para comparação com as amostras recolhidas na cena do crime.

Fora realizado exame de DNA nos dois cigarros encontrados sobre a mesinha,
sendo que, em um deles, haviam marcas de batom. A respeito disso, cabe ressaltar que Narjana
informou que a vítima havia sido fumante por uma vida inteira, mas que havia parado de fumar.

No chão, haviam cacos de vidro de um copo de uísque quebrado, sendo suspeitado


pelo perito de que isso poderia indicar uma discussão. O perito também levou para análise uma
garrafa de uísque e migalhas de pão encontradas perto do corpo.

O pijama do Juiz, além de uma pequena mancha de sangue, tinha outra mais
claras, que o perito não conseguiu reconhecer.

Ainda, a autópsia apontou que: a perfuração de bala no tórax tem pelos ao redor e
pouca quantidade de pólvora, o que mostra que o tiro não foi disparado à queima roupa e, sim,
disparado entre 0,8 e 2 metros da vítima. O projétil entrou no corpo de cima para baixo, no corpo
sentado, resvalou numa costela e desceu para o intestino, onde se alojou. Sinais de hemorragia
no pulmão mostram que o Juiz morreu de insuficiência respiratória, típica de envenenamentos.
Esta hemorragia no pulmão e o pouco sangue no buraco da bala indicam que o tiro foi disparado
quando a vítima já estava morta – por isso o sangramento reduzido. Não foram encontrados
sinais de arranhões ou lesões na cabeça, típicas de luta corporal. De mesmo modo, não foi
encontrado nas mãos da vítima qualquer sinal de pólvora – apenas manchas de tinta preta na
mão direita. Colaboração do cadáver, comida no estômago e concentração de potássio no globo
ocular indicam com precisão: a morte ocorreu entre 19h e 20h.

O resultado de exames laboratoriais e análises de DNA mostraram que um dos


cigarros encontrados ao lado do corpo tinha DNA do Juiz morto e, o outro, da filha dele, Paulina
de Castro. Ainda, a vítima levou um tiro quando já estava morta. O exame toxicológico acusou
uma concentração sanguínea de nicotina suficiente para matar o Juiz por envenenamento. Não
foram encontrados sinais de pólvora nas mãos da vítima, do caseiro ou da namorada da vítima,
Narjana Amorim, mas na mão direita de Paulina de Castro, filha da vítima, havia sinais de
pólvora. O copo quebrado continha apenas saliva da vítima. Por fim, as câmeras da faculdade
de Narjana Amorim confirmaram que ela estava lá até as 21h41m.

Desse modo, identificou-se Paulina de Castro, filha da vítima, como principal


suspeita do crime.

Formalmente indiciada, com fundamento no art. 121, §2º, incisos I, III, IV do Código
Penal. Em seu interrogatório, manifestou o direito de permanecer em silêncio.

Diante disso, apurada a materialidade e a autoria da infração penal, concluídas as


investigações, represento a Vossa Excelência pela prisão preventiva de Paulina de Castro,
qualificada a fls. X, com base no art. 312 do Código de Processo Penal, buscando-se evitar a
fuga do distrito da culpa, preservando, pois, a futura aplicação da lei penal.

Encaminho o presente Inquérito à elevada apreciação de Vossa Excelência e do


Ilustre representante do Ministério Público, colocando-me à disposição para outros
esclarecimentos e diligências que se fizerem necessários.

Porto Alegre, 13 de junho de 2019.

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Delegada de Polícia

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