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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

RECURSO ESPECIAL NA APELAÇÃO CRIMINAL N.º 0080571-28.2019.8.09.0175


RECORRENTE: CRISTIANE GONÇALVES PEREIRA
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
RELATOR: DES. EUDECIO MACHADO FAGUNDES
CÂMARA: PRIMEIRA CRIMINAL

CRISTIANE GONÇALVES PEREIRA, nos autos da apelação


criminal acima mencionados, inconformado com os acórdãos contidos nos movimentos
ns. 60 e 61, por entender que contrariaram os artigos art. 5º, IV da CF, entendimento
jurisprudencial exposto junto artigo 157 do CPP, artigo 5º inciso LV da CF, quanto a não
disponibilização integral da escuta telefônica contrariando também os artigos 155 do
CPP, 386 incisos VI e VII do CPP, haja vista o in dúbio pro reo, tanto para a
comprovação da autoria, desclassificação para o artigo 28 da lei 11.343/06, e aplicação
da minorante do §4º do artigo 33 da lei 11.343/06, usurpação de função, tortura, prisão
por suposta atitude suspeita, sumula 14 do STJ, assim venho por meio desta interpor
o presente RECURSO ESPECIAL, fazendo-o nos termos das razões anexas.
Recebido e processado na forma da lei, requer seja o recurso admitido e encaminhado
ao colendo STJ.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Goiânia – GO, 05 de dezembro de 2022.

Danilo Franquilino Silva Alves


OAB-GO 30.185
*assinado eletronicamente*
COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
EMÉRITOS JULGADORES

Autos de origem: 0080571-28.2019.8.09.0175


Natureza: RECURSO ESPECIAL NO RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL
Recorrente: CRISTIANE GONÇALVES PEREIRA
Egrégia Turma,
Eméritos Ministros.

Em que pese o indiscutível saber jurídico da Colenda primeira Câmara


Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de Goiás, impõe-se a reforma do venerando acórdão,
pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

1 – Dos Fatos

Em síntese, os autos tiveram seu tramite regular, houve o oferecimento


da denúncia, seu recebimento, audiência de instrução e julgamento, foi realizado as alegações
finais por memoriais, foi prolatada a sentença julgando procedente, a qual condenou o senhora
Cristiane Gonçalves Pereira a uma pena de 05 (cinco) anos de reclusão e 500 (quinhentos)
dias-multa em regime semiaberto.

A recorrente foi presa em suposto flagrante delito na data de 26 de junho


de 2019, tendo sido denunciada por supostamente ter cometido os crimes descritos nos artigos
33 da Lei 11.343/06.

A denúncia diz que a acusada tinha trazido com ela 3 (TRÊS) tijolos de
Cannabis Sativa Lineu, conhecida como maconha, acondicionadas individualmente em fita
adesiva bege e plástico incolor com massa bruta de 1,015kg (um quilograma e quinze gramas).
Segundo a denúncia no mesmo dia após a primeira abordagem e mediante indagações dos
policiais, foi encontrado no apartamento da acusada uma quantia de 142,003g (cento e
quarenta e dois gramas e três miligramas) de substancia entorpecente, maconha.

A senhora Cristiane foi notificada, apresentou defesa, sendo recebida a


denúncia, após a acusada foi citada.
Foi realizada a audiência de instrução e julgamento, sendo ouvidos as
testemunhas Divino Francisco de Lima, Carlos Alberto Xavier Rocha, Arilson Carrijo Cordeiro,
Gustavo Sousa de Oliveira e Marilicia Marques da Silva, conforme folhas 265, após
apresentação de memoriais por parte do ministério Público, foi apresentado alegações finais
por parte da defesa, sendo condenada nos termos acima expostos, e consequentemente
apresentada apelação e as razões recursais aqui apresentadas, confiando na reforma da
respeitável sentença.

DA REALIDADE DOS FATOS

Primeiro Excelência, a recorrente não foi presa com toda a quantidade de


drogas demonstrada pelos policiais. A recorrente confessa que foi presa com uma pequena
quantidade de drogas, que é a de 140 gramas de seu uso pessoal, pois ela é usuária de
entorpecente a cerca de 20 anos, conforme suas declarações.

O depoimento da senhora Cristiane tem total consonância com o


depoimento do senhor Arilson, o qual declara que a única droga apreendida com a senhora
Cristiane era um pequeno pedaço, declara ainda, que quando estava na porta do prédio onde
reside a senhora Cristiane ele não viu em nenhum momento qualquer dos policiais com droga
nas mãos, ou seja, levando a compreender que a informação da senhora Cristiane é verdade,
que não foi localizada nenhuma droga no apartamento da senhora Cristiane.

A recorrente é bem clara quando diz na página três, que “os policiais
estavam em patrulhamento quando avistaram UM CASAL EM ATITUDE SUSPEITA” (grifo
nosso), sendo que após a abordagem realizaram vistoria veicular nada sendo encontrado, ou
seja, uma situação em que a senhora Cristiane nunca imaginaria que os policiais fizessem
tamanha atrocidade em seu desfavor.

Após a abordagem a senhora Cristiane juntamente com o senhor Arilson


foram conduzidos a um local ermo, que é um lote baldio próximo ao parque macambira
anicuns, onde ambos foram torturados, pois como não havia quantidade de drogas para a
prisão da senhora Cristiane, estavam a torturando para que ela delatasse algum traficante, ou
que informasse que havia mais drogas em outro local, como não conseguiram êxito, foram em
sua residência para averiguar se ali havia mais drogas.

Podemos ver que os policiais extrapolaram a função de polícia ostensiva,


inclusive confessado por eles, pois quando eles iniciaram diligencias e depoimentos contra a
senhora Cristiane e contra o senhor Arilson eles usurparam a função, no intuito de saberem
onde havia mais drogas, inclusive na casa da senhora Cristiane.

A senhora Cristiane não admite que a quantidade de droga apreendida


seja de sua propriedade, nem mesmo admite que estaria realizando comercialização, conforme
declaração do ministério público, o qual diz: “portanto, as provas revelam incontestavelmente, a
ocorrência do crime de tráfico de drogas praticado pela acusada, sendo certo e incontroverso
que as drogas apreendidas seriam COMERCIALIZADAS ILICITAMENTE” (grifo nosso).

Podemos ver Excelências, que existem 18 tipos penais no artigo 33 da lei


11.343/06, sendo um deles o “vender”, não havendo a palavra comercializar, assim pode se ver
claramente que o promotor está tão perdido quanto a qual verbo foi o crime da senhora
Cristiane que nem mesmo consegue enquadrar qual foi o verbo que ela praticou no artigo 33.
Também a senhora Cristiane em seu depoimento expõe que ela foi torturada, relata que “foi
levada por policiais à paisana a um lote baldio em frente ao parque Macambira, viela sem
saída, onde foi torturada, amarrada os pés com o cinto e colocaram um saco plástico, um pano
em seu rosto, tendo jogado água em seu rosto, tendo levado tapa no rosto, e ameaçaram matá-
la caso falasse à alguém”, vemos ainda, que quando foi realizado o relatório médico na
presença de policiais, tal relatório não constou lesão, mas ao denunciar as torturas a
delegada, essa a encaminhou novamente ao IML (instituto médio legal), sendo que no
mesmo dia, já ficou caracterizado escoriação puntiforme na mucosa julga a direita,
equimose puntiforme na base ungueal do terceiro dedo da mão direita. Sendo essa
informação corroborada pela testemunha Arilson.

Portanto, a verdade é que a senhora Cristiane não foi presa com toda
essa quantidade de drogas, também foi torturada até porque conforme laudo de folhas 13/13vs
demonstra as lesões sofridas por ela, inclusive na boca, quando ela diz que levou um tapa no
rosto.

Vemos ainda, que os policiais estão tão desesperados para incriminar a


senhora Cristiane que chegaram a mentir que foi apreendido um papel de anotações, mas
colocando a culpa na delegada que não quis apreender, ora Excelência, agora os delegados
estão sumindo com provas?

Vemos também que nem mesmo os policiais sabem dizer qual é a


quantidade de drogas apreendida. Primeiro podemos citar o depoimento do sargento divino
quando diz que “estava em patrulhamento e optamos por fazer a abordagem e na bolsa da
senhora foi encontrado duas peças uma maior e uma menor de maconha”. A história
apresentada pelo sargento Divino é tão mirabolante que ao ser indagado pela defesa quem fez
a averiguação na bolsa da senhora Cristiane?, o sargento Divino responder que foi ele.

Também informou que não foi ele quem encontrou o entorpecente na


casa da senhora Cristiane, sim o senhor Caxrlos Alberto xavier Rocha, o qual em seu
depoimento, ao responder a pergunta do Juiz, diz que não tem certeza que foi ele quem
encontrou a droga, ou seja, nem mesmo quem encontrou a droga sabe se realmente
encontrou, sendo uma história tão fantasiada, que nem mesmo os próprios policiais
demonstram consonância em suas declarações.

Já o senhor Gustavo relata em seu depoimento que não se recorda


qual a quantidade de drogas apreendidas na bolsa, ou seja, os policiais tentam legalizar
o ilegal, eles lembram de vários detalhem, menos a quantidade de drogas apreendida na
bolsa e no apartamento da senhora Cristiane, e o único que vistoriou a bolsa é
divergente em suas palavras, dizendo que encontrou duas porções, e não se retratando
em momento algum de seu depoimento.

Os outros não se recordam a quantidade, e nem mesmo se lembram


se encontraram drogas que é o caso do senhor Carlos Xavier, ou seja, toda a
argumentação exposta pela senhora Cristiane e pelo senhor Arilson são a maior absoluta
verdade, pois se os próprios policiais não se lembram da quantidade apreendida e ainda
entram em contradição significa que no mínimo há uma grande dúvida quanto a verdade
desses fatos apresentados pelos policiais.

ESTES SÃO OS VERDADEIROS FATOS EXCELÊNCIAS, POIS A


CONDENAÇÃO EM DESFAVOR DA SENHORA CRISTIANE NÃO PODE PREVALECER,
HAJA VISTA, TODAS ILEGALIDADES, INCONSTITUCIONALIDADES ACIMA EXPOSTAS,
ASSIM SENDO, PASSAMOS A EXPOR QUAIS OS MOTIVOS PARA A REFORMA DA
RESPEITÁVEL SENTENÇA.

Após a interposição do recurso de apelação a respeitável sentença foi


mantida pelo egrégio Tribunal de Justiça em seu inteiro teor, o que deve ser modificado, haja
vista que as circunstancias preliminares, como invasão de domicilio e tortura estão cristalinas
nos autos, como passamos a demonstrar abaixo.

Assim Excelências a reforma o respeitável acórdão é imprescindível haja


vista que está claro a tortura, a usurpação de função, consequentemente as provas elencadas
nos autos são todas ilegais, devendo ser desentranhadas, consequentemente a senhora
Cristiane deve ser absolvida por ausência de provas.
2 – DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO

2.1. HIPÓTESE DE CABIMENTO

É cabível o presente recurso com base na alínea "a" do inciso III do art.
105 da Constituição Federal, uma vez que houve contrariedade aos os artigos art. 5º, IV da CF,
entendimento jurisprudencial exposto junto artigo 157 do CPP, artigo 5º inciso LV da CF,
quanto a não disponibilização integral da escuta telefônica contrariando também os artigos 155
do CPP, 386 incisos VI e VII do CPP, haja vista o in dúbio pro reo, tanto para a comprovação
da autoria, desclassificação para o artigo 28 da lei 11.343/06, e aplicação da minorante do §4º
do artigo 33 da lei 11.343/06, usurpação de função, tortura, prisão por suposta atitude suspeita
e Súmula vinculante nº 14 do STJ.

Em nosso caso, o venerando acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça de


Goiás infringiu o disposto nos legal e jurisprudenciais acima descritos, temas os quais foram
debatidos e ventilados questões estritamente jurídicas devidamente prequestionadas.

2.2. TEMPESTIVIDADE

Em relação à tempestividade, conforme o movimento n. 62, a defesa foi


intimada no dia 21/11/2022, de sorte que o prazo se iniciou no dia 06/12/2022 e findará no dia
12/05/2022, sendo o recurso, portanto, tempestivo.

3 - DAS PRELIMINARES

Da atitude suspeita

Excelência, em primeiro momento vemos que a denúncia demonstra que


os policiais abordaram a denunciada Cristiane e o senhor Arilson com o argumento que
estavam em atitude suspeita (folhas 03, segundo parágrafo), dentro do veículo.
Quando foi realizada a audiência de instrução e julgamento a defesa indagou a todos os
policiais, qual era a atitude suspeita do casal, nenhum soube informar qual era essa atitude
suspeita.

Chegamos ao absurdo do sargento Divino dizer que por uma


situação divina, ou por Deus, tem essa intuição, tentando a todo custo esquivar da
pergunta, a qual lhe era feita, que era simples.
A pergunta era:
 quando vocês visualizaram o casal, qual foi o motivo da suspeita?

Resposta: A gente, eu já trabalho 31 anos na PM agora em novembro,


agente vai adquirindo, acho que por Deus né, vai eliminando, parece que
da uma coisa assim, ou um ou outro fala vamos abordar aquele veículo.
Falo que pela experiência com o tempo que vamos trabalhando a eliminar
aquele que não são com aqueles que são. Que não teve nenhum motivo,
Que aparentemente não teve motivo nenhum, a gente olha e o opta
por abordar.
A defesa indignada porque o Sargento não respondia a pergunta,
questionou novamente:
 Com Relação a Cristiane e ao senhor Arilson, não teve alguma
suspeita?

Resposta: não teve suspeita


Quanto ao policial Gustavo, sobre o assunto, respondeu a seguinte
pergunta:
 Quem de vocês qiue teve a suspeita do casal?

Resposta: Geralmente é o comandante (ou seja o Sargento Divino),


palavras nossas e grifo nosso.

Assim Excelência, vemos claramente que a atitude suspeita a qual é


descrita na denúncia foi supostamente realizada pelo sargento Divino, o qual foi bem enfático
em sua resposta que NÃO TEVE SUSPEITA contra a senhora Cristiane, nem mesmo contra o
casal.

Assim o discurso de que abordaram o casal porque tiveram uma atitude


suspeita é mais uma falácia da polícia, a qual o próprio sargento se desmente em juízo.

Excelência, o que significa essa falaciosa atitude suspeita no caso


concreto? Como se define uma “atitude suspeita”?., nesse caso não houve atitude suspeita, e
nem mesmo qualquer dos policiais que testemunharam conseguiram esclarecer do que se
tratava essa atitude suspeita.

O fato é que não se pode iniciar uma investigação do nada, a partir de


uma suposição, ainda que ao final redunde numa realidade que será mera coincidência, não
porque as suspeitas se confirmaram. Em regra, trata-se de um determinismo estabelecido
sobre indivíduos de populações mais carentes, vitimados pela ausência dos serviços públicos,
conquanto, sempre constante a ação policial para repressão.

Não se pretende aqui estabelecer a igualdade pela repressão, mas deixar


evidenciado de que o uso do termo “atitude suspeita” quer se referir, na verdade, em “indivíduo
suspeito” que rima precisamente com “puro preconceito”.

A suspeita pode perfeitamente existir, e a partir dela ensejar uma


persecução penal. Porém, só poderá dar azo a uma investigação quando aderir a outros
elementos que possam dar substância as, até aqui, meras ilações propositivas de um fato
criminoso.

Como lançada neste processo, a expressão “atitude suspeita” não passa


de mero subjetivismo, achismo, evasiva para justificar a ação policial. Embora nada signifique,
porque não esclarecido os motivos da suspeita, acabou por assumir posição de destaque, para,
a partir dela, ser desencadeado o arcabouço de atos de investigação, conduzidos pela própria
Polícia Militar, constitucionalmente sem essa atribuição investigativa, assim podemos ver que
em nenhum momento houve qualquer suspeita quanto ao casal, sendo apenas um achismo, ou
uma mentira, para abordarem indevidamente o casal, e consequentemente, atribuirem um
crime a senhora Cristiane, levando a interpretação mais forte de que suas palavras e suas
alegações em sua defesa são realmente verdadeiras.

Excelência, o que se inicia eivado de vícios, não pode ser considerado


como legal, pois é como uma maçã podre num cesto de outras frutas sadias, contamina todo
restante.

Assim Excelência, essa abordagem que o policial descreve iniciou como


ele diz de uma atitude suspeita, mas a suspeita de que?, qual crime ele suspeitou?, de
nenhum, como ele mesmo diz em seu depoimento.

Assim não há que se validar a investigação realizada pelos policiais


militares, pois é questão de órdem pública, não havia nesse momento qualquer atitude suspeita
po parte do casal, muito menos por parte da senhora Cristiane, assim á que se ter claro que
somente interessa à persecução penal fatos que atentam em face daquilo que é proscrito no
ordenamento jurídico-penal. Fora isso, não há – e não pode haver– criminalização por
suspeição.

Citamos aqui o doutrinador Guilherme de Souza NUCCI, onde é bem


claro sobre o assunto, e que demonstra que a denunciada foi abordada de forma totalmente
ilegal e consequentemente tudo a partir dessa abordagem deve ser considerado ilícito e assim
a denúncia rejeitada, vemos a seguir:

“Fundada Suspeita: é requisito essencial e indispensável para a


realização da busca pessoal, consistente na revista do indivíduo.
Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por
natureza, razão pela qual a norma exige fundada suspeita, que é mais
concreto e seguro. Assim, quando um policial desconfiar de alguém,
não poderá valer-se, unicamente, de sua experiência ou pressentimento,
necessitando, ainda, de algo mais palpável, como a denúncia feita por
terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o
cometimento do delito, bem como pode ele mesmo visualizar uma
saliência sob a blusa do sujeito, dando nítida impressão de se tratar
de um revólver. Enfim, torna-se impossível e impróprio enumerar todas
as possibilidades autorizadoras de uma busca, mas continua sendo curial
destacar que a autoridade encarregada da investigação ou seus agentes
podem – e devem – revistar pessoas em busca de armas, instrumentos
do crime, objetos necessários à prova do fato delituoso, elementos de
convicção, entre outros, agindo escrupulosa e fundamentadamente)
(Fonte: Código de Processo Penal Comentado. 4ª ed. São Paulo: RT,
2005, p. 493).

Portanto, tendo em vista uma atitude totalmente ilegal, pois conforme


declarações dos policiais a atitude suspeita que eles mencionam em suas declarações policiais
e pela denuncia não ocorreu, sendo uma mentira, a qual foi desmentida por eles mesmo, assim
aconteceu um abuso de poder, descrito na lei 4.898/1965, conforme estipula os artigos 3º e 4º,
a seguir expostos.
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade
de locomoção (...).
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar
medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou
com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a
vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; h) o ato lesivo
da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal

Um simples raciocínio, autoriza a entender que, uma abordagem


policial, sem fundada suspeita, representaria um constrangimento não autorizado em lei,
o que configura o crime de abuso de autoridade. O artigo 6º da mencionada lei (Lei
4.898/1965) rege que, o abuso de autoridade implica em sanção administrativa civil e penal.
Portanto, tendo em vista que a denunciada é vítima do abuso de
autoridade cometido pelos policiais, haja vista que de forma arbitraria realizaram uma
abordagem sem fundada suspeita, requer a rejeição da denúncia e consequentemente, a
liberdade da senhora Cristiane Gonçalves Pereira, haja vista a TEORIA DO FRUTO DA
ÁRVORE ENVENENADA, pois se tudo começou podre todo o restante é podre,
consequentemente a respeitável sentença deve ser reformada e a senhora Cristiane ser
absolvida pois esta é a melhor e mais acertada medida quanto ao presente caso.
Da ilicitude da prisão e das provas dela decorrentes

A respeitável sentença indefere o pedido quanto a usurpação de função


baseada no argumento de que “não houve investigação por parte da polícia militar, tão somente
a abordagem de rotina, colheita de provas materiais e verificação de situações levantadas
quando do atendimento da ocorrência”, acontece Excelências que como vemos acima, não foi
apenas isso, os policiais realizaram interrogatório, mesmo que seja informal, ficaram levando a
senhora Cristiane de um lado para o outro, a torturando, ao invés de registrar o flagrante e
encaminhar para delegacia competente.

Conforme descrito na peça inicial, a apreensão das porções de droga e a


posterior prisão da acusada, e consequente investigação, decorreu da ação da polícia militar
por uma atitude de suspeita, totalmente ilegal, se dá sob o falso argumento de que, por estas
medidas sabidamente ilícitas, confirma-se o que se obteve precariamente pela abordagem de
rotina diante de uma “atitude suspeita”, o que serviria para restaurar qualquer ilegalidade na
conduta.

É como se houvesse um silogismo lógico a validar a praticar os atos


subsequentes, sem necessidade de atentar para os limites fixados na Constituição, em face
dos princípios da reserva legal, da presunção de inocência, do devido processo.

Não há conserto. O que se inicia por uma ação ilícita (os atos
investigativos posteriores à apreensão da droga com o acusado, no momento da
abordagem), vaticina à perdição tudo que daí decorre, e mais, coloca a perder o que
haveria de ser uma importante investigação, então prejudicada pela iniciativa e
sequência desastrosa.

O fato de haver um suposto flagrante, sem contudo haver evidências que


exija a extensão dos atos prefaciais, tem sido utilizado inadequadamente, repito, por quem não
está autorizado a investigar, a avançar em outros atos persecutórios, causando vícios
insanáveis, além do que em momento algum os policiais suspeitaram da senhora Cristiane,
usando essa falácia unicamente parta tentar legalizar algo ilegal.

Podemos ver que em momento algum a senhora Cristiane estava em


situação de flagrância, muito menos foi apreendida em seu poder, qualquer produto como
dinheiro, balança, ou qualquer situação que caracterizasse mercancia, também não foi pega em
flagrante passando qualquer produto mesmo que gratuitamente a qualquer pessoa, pelo
contrário até mesmo os policiais declararam que ela relatou que no momento da abordagem ela
disse que era usuária, e que em nenhum momento foi dita que ela estaria portando tal
entorpecente para o comercio ou qualquer outra situação.

O que se quer afirmar é que não basta parecerem sensatas as ações de


investigação. Todo ato investigativo tem que seguir à risca os limites previstos para o devido
processo, preservando as garantias fundamentais do indivíduo.
Nessa senda, observando a situação em particular, nota-se que isso foi desmerecido e
desconsiderado na ação que prosseguiu na investigação.

Os atos de persecução penal, aí compreendidos a investigação (ato


administrativo), o processamento e o julgamento (atos judiciais), devem, assim como
todos os atos praticados pelo Estado no exercício de suas atribuições, respeitar as normas e
princípios constitucionais visando uma atuação válida e eficiente.

Vemos Excelência, que no momento que os policiais iniciaram uma


diligencia para verificar se encontrariam novos entorpecentes eles começaram a
investigar, portanto, saindo de sua esfera constitucional que é a realização de polícia
ostensiva e passando a realizar a atitude de polícia investigativa que é de exclusividade
da polícia judiciária, portanto cometendo a usurpação de função.

Excelência, usando as palavras do nobre juiz de direito da primeira vara


criminal da comarca de Goiânia o Dr. Denivaldo Francisco da Silva, o qual no processo número
201900769489, diz que “O infrator, ao contrário, e o é assim definido, justo por desobedecer a
Ordem Jurídica posta. Neste cotejo não se pode, mesmo ao pior dos infratores atropelar aos
limites que é dado a cada um dos agentes do sistema penal, sob pena de não se igualar mas
de se tornar pior, porque suas ações serão sempre justificadas no falso argumento de
cumprimento de deveres que não lhe são dados. Nisso, não basta parecer correto qualquer
ato do agente do sistema penal, se de sua prática remanesce dúvidas quanto aos limites
de suas atribuições e o correto exercício de suas tarefas” (grifo nosso).
Diz ainda, que “Não se dúvida, até porque está expresso no art. 114 da
Constituição Federal, quando descreve e enumera as policias existentes no País, ali estabelece
as atribuições de cada uma, não reservando a polícia militar a tarefa investigativa, senão
quando o faz em investigação interna para apurar condutas de seus próprios integrantes. Por
mais que haja boa intenção corporativa, não é de intenções que lida os processos criminais. A
segurança do Devido processo se dá justamente na certeza de que cada um dos agentes do
sistema Penal tem uma tarefa a ser cumprida não podendo invadir a seara alheia, sobre o risco
de perecer de vez os paradigmas democráticos conquistados a duras penas.”

Assim o judiciário não pode aceitar uma ilegalidade como essas, pois
como bem disse o nobre Dr, Denivaldo, que “por mais que haja boa intenção corporativa, não é
de intenções que lida os processos criminais. A segurança do Devido processo se dá
justamente na certeza de que cada um dos agentes do sistema Penal tem uma tarefa a ser
cumprida não podendo invadir a seara alheia”.

A Constituição Federal ao definir a competência de cada uma das


polícias, estabeleceu em seu art. 144, e §§ 4 e 5 , : caput o o in verbis
Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - Polícia federal;
II - Polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - Polícias civis;
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.
[...]
§ 4º, dirigidas por delegados de polícia de carreira, Às polícias civis
competência da União, incumbem, as funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da;
aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições ordem pública
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
(negritei)

A Lei nº 12.830/2013 renova o que já era claro que a tarefa investigativa


é da polícia judiciária (civil ou federal), e que em nosso caso podemos ver que a polícia militar
que realizou toda a investigação a qual iniciou após os questionamentos contra a senhora
Cristiane.
Podemos ver nos artigos abaixo a legislação:
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
essenciais e exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica
exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a
condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro,
que tem como objetivo a apuração das procedimento previsto em lei
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
[...]
§ 6 O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato o
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá
indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

A portaria nº 0720/2017, dispondo sobre a atividade de inteligência, na


qual veda aos integrantes da polícia militar a realização de operações ostensivas em atividades
de segurança pública sem vínculo com as de inteligência e de exercerem atividades exclusivas
de polícia judiciária civil, inclusive, a Veda efetuação de que prisão e detenção de suspeitos ou
criminosos, salvo em situações extraordinárias, deverão ser comunicadas e justificadas à
Agência Central.

Vemos que a sumula 14 do STF é bem clara ao coibir a investigação que


não seja aquele por lei atribuído, que no presente caso é somente a polícia judiciária.

Portanto, está claro que os policiais descumpriram essa regra,


gerando a nulidade do flagrante, a nulidade de todas as provas e consequentemente a
absolvição da senhora Cristiane Gonçalves Pereira, e portanto, deve ser reformada a
respeitável sentença, do magistrado onde fundamenta que não há demonstração de
usurpação de função e sim apenas uma abordagem de rotina, o que vemos que o
presente caso não é apenas uma abordagem de rotina, e sim existiu toda uma logística
investigativa, como interrogatório, buscas no apartamento da senhora Cristiane, onde ela
NÃO FOI abordada, levar ela para lugar ermo e lá a torturar, consequentemente não foi
apenas uma abordagem de rotina com apreensão de provas materiais.
Da Tortura

Podemos ver Excelência, que o flagrante aqui realizado é totalmente


nulo, haja vista que existiu tortura na realização da ocorrência.

O primeiro relatório médico realizado constante nas folhas 23 não


identifica nenhuma lesão, pois em todas ocorrências no momento da realização do exame de
corpo de delito os policiais militares ficam do lado da acusada acompanhando todas as falas,
inibindo e oprimindo a senhora Cristiane, assim ficando com medo de ser novamente torturada
ou morta, em represaria.

Após a oitiva na delegacia a senhora Cristiane descreveu que foi


torturada, descreveu até mesmo o local onde ocorreram essas agressões, sendo
encaminhada para nova perícia médica, constatando lesões na boca com escoriação
puntiforme na mucosa jugal a direita, na região do ombro, e da costela, com discreta
equimose na base ungueal do terceiro dedo da mão direita, tênue equimose no dorso da
mão esquerda.

Assim Excelência, tendo em vista o depoimento da denunciada e os


exames médicos realizados, está claro a agressão sofrida por ela, consequentemente,
tudo o que foi produzido nessa ocorrência é nulo, pois foi adquirido por meio de tortura.
Podemos ver claramente que a senhora Cristiane foi agredida com o fim de confessar o
entorpecente e também relatar onde poderia ter mais drogas, mas como ela em nenhum
momento não confessou algo que não era dela, ela foi gravemente agredida, e
consequentemente todas as provas contidas nos autos são nulas.

Assim, tendo em vista que está devidamente demonstrado a tortura, tudo


o que consta nos autos deve ser anulado, e consequentemente a senhora Cristiane ser
absolvida com consequente nulidade da sentença, declarando rejeitada a denúncia por
ausência de provas e assim declarada a absolvição de Cristiane Gonçalves Pereira.

Por tudo demonstrado está evidente que o respeitável acordão deve ser
reformado.

4 - Do Mérito

Da não caracterização e certeza de tráfico e do In Dubio Pro réu.

Em primeiro momento vemos que a senhora Cristiane não foi pega em


fragrante com qualquer situação que caracterize comercialização de drogas, pois é somente
essa situação que o nobre promoter quer imputar a senhora Cristiane, quando vemos nas
folhas

Vemos ainda que as declarações dos policiais são todas contradizentes,


ou seja, não possuem qualquer relação, principalmente quanto a quantidade de drogas
apreendida, entrando em confronto totalmente com o que está exposto na denúncia, levando a
interpretação de que a senhora Cristiane e o senhor Arilson são os únicos que estão
demonstrando a verdade nos autos.

Vemos que o sargento Divino quando indagado pelo promotor já no início


de suas declarações diz que “na bolsa da senhora foi encontrado duas peças uma maior e
uma menor de maconha”, sendo que no momento em que o sargento Divino diz isso, foi o
primeiro momento, onde não estava sendo pressionado, não lhe tinha mostrado nenhum
documento, ou seja, um momento de total tranquilidade, sendo que o fato foi até mesmo
recente, conforme diz o promotor em audiência, além do fato de que o policial em questão.
Vemos Excelência, que ele ainda tenta descrever com detalhe sobre a quantidade, querendo
demonstrar que foi encontrado uma maior e uma menor.

Sendo seu depoimento de plano totalmente diferente do que apresentado


na delegacia, portanto, desde já podemos ver que o depoimento do sargento Divino não é um
depoimento confiável, pois é divergente do que apresentado no dia da prisão.

Quando lhe é mostrado a foto de folhas 55, o policial não deixa claro qual
droga foi apreendida em qual lugar, apenas mostrando para o promotor e não sendo filmado
qual droga, sendo que a única certeza que se tem é que suas declarações foram divergentes
com o que se apresentou na polícia civil e também é divergente com o que está na denúncia,
principalmente quanto a quantidade de drogas apreendida na bolsa.

Assim se vê claramente que há uma divergência no depoimento do


policial Sargento Divino.

O policial ainda é divergente quanto ao depoimento, pois ele disse na


delegacia que houve uma atitude suspeita do casal, não demonstrando até agora qual atitude
suspeita eles cometeram, nem mesmo demonstrando qual crime que eles poderiam estar
praticando para terem uma suspeita deles, em juízo o sargento divino disse que “NÃO TEVE
SUSPEITA” da senhora Cristiane, ou seja, mais uma vez foi constatado que ele mentiu na
fase da delegacia, devendo até mesmo responder por falso testemunho.

Temos uma dúvida muito grande Excelência, se ele encontrou duas


peças na bolsa da senhora Cristiane, COMO E ONDE APARECEU ESSA TERCEIRA PEÇA?,
essa declaração do sargento Divino só nos leva a interpretar que as suas declarações são
falaciosas do início ao fim, se ele está sendo capaz de mentir ou omitir uma informação tão
importante, ele é capaz de inventar e mentir todo o resto.
Ponderamos ainda, que o sargento Divino é bem claro quando diz que foi
ele quem fez a busca na bolsa da senhora Cristiane, quando responde a pergunta de quem fez
a averiguação na bolsa da senhora Cristiane?, resposta “- Quem fez foi eu”, ou seja, se foi ele
que fez a busca, se foi ele que supostamente encontrou duas peças, de onde apareceu essa
terceira?. Isso é simples Excelência, tudo o que está exposto por esses policiais não basta de
mentiras para incriminar uma pessoa inocente, por preconceito, e por ser pobre, com o único
intuito de prender uma pessoa apenas porque já possuiu passagem policial em sua vida.

Mais um ponto a ser abordado é que o sargento Divino diz que, quem
encontrou o entorpecente na casa da senhora Cristiane foi o soldado Rocha, mas esse policial
nega, e nem mesmo se lembra de quem foi que encontrou essa droga naquele apartamento,
quando perguntado por Vossa Excelência, se foi ele que encontrou a droga no apartamento ele
disse: “Senhor eu não me recordo 100%, eu não me recordo, eu acho que foi eu, não
tenho certeza, tenho que verificar novamente o RAI o histórico”. Ou seja, nem mesmo
quem supostamente encontrou esse entorpecente tem certeza de nada, não há qualquer
certeza que realmente essa droga foi apreendida, o sargento Divino aponta o Soldado Rocha
como o localizador da droga, e esse nem mesmo se lembra, ou seja, um processo penal não se
pode ser feito por dúvidas e incertezas, ainda mais que os policiais dizem uma versão na
delegacia e em juízo dizem outra.

O Soldado Carlos Alberto, não se recorda de qual a quantidade de


drogas apreendidas na bolsa da senhora Cristiane, como ele pode reconhecer qualquer coisa,
se não se lembra, ele não se lembra nem mesmo se foi ele que apreendeu a droga na casa.
Portanto, vemos claramente que os depoimentos dos policiais são incoerentes, não sabendo
nem mesmo qual a quantidade de drogas apreendida na bolsa, pelo contrário relatam que a
quantidade de drogas é até mesmo inferior a apresentada na delegacia.

É importante ressaltar que os depoimentos unicamente de policiais


militares devem ser apreciados e considerados com redobrada cautela face ao concreto risco
sempre existente no sentido de que estejam a tentar encobrir eventuais irregularidades com o
objetivo de legitimar suas atuações.

Excelência, os depoimentos colhidos em juízo autos são divergentes com


os realizados na delegacia, ou seja, são diferentes e não são suficientes para ensejar a
condenação. Portanto, as provas coletadas na fase de inquérito policial; estas, muito embora
possam ser tomadas como indícios, devem ser corroboradas pela prova produzida em Juízo, o
que não aconteceu, esta sim realizada sob o crivo do contraditório, do devido processo legal e
da ampla defesa, isto sob pena de não restarem demonstradas a contento as imputações
iniciais, implicando na absolvição. É o que ensina André Nicolitt: “Como registramos, o devido
processo legal é um conjunto de princípios, como o contraditório, a ampla defesa, a presunção
de inocência, a motivação etc. Aqui isto fica muito evidente, pois temos que trabalhar também
com o princípio da presunção de inocência, o que impõe à acusação o ônus da prova e ainda
como regra de julgamento o in dubio pro reo. Destarte, se a prova produzida sob o crivo do
contraditório, por si só, é incapaz de possibilitar a formação de um juízo condenatório, está
evidenciada insuficiência de prova, impondo-se a absolvição do réu”.

Ademais, como já lembrado, o ônus da prova no que tange às


imputações contidas na denúncia compete à acusação, não cabendo aos réus, a princípio,
fazer prova negativa. Neste sentido o posicionamento adotado por Aury Lopes Júnior:

“A partir do momento em que o imputado é presumidamente inocente,


não lhe incumbe provar absolutamente nada. Existe uma presunção que
deve ser destruída pelo acusador, sem que o réu (e muito menos o juiz)
tenha qualquer dever de contribuir nessa desconstrução (direito de
silêncio - nemo tenetur se detegere).
FERRAJOLI esclarece que a acusação tem a carga de descobrir
hipóteses e provas, e a defesa tem o direito (não dever) de contradizer
com contra-hipóteses e contraprovas. O juiz, que deve o profissional a
imparcialidade e a dúvida, tem a tarefa de analisar todas as hipóteses,
aceitando a acusatória somente se estiver provada e, não a aceitando, se
desmentida ou, ainda que não desmentida, não restar suficientemente
provada.
É importante recordar que, no processo penal, não há distribuição de
cargas probatórias: a carga da prova está inteiramente nas mãos do
acusador, não só porque a primeira afirmação é feita por ele na peça
acusatória (denúncia ou queixa), mas também porque o réu está
protegido pela presunção de inocência”. (Lopes Jr., Aury; Direito
Processual Penal, Ed. Saraiva, 11ª edição, 2014, pág. 562)

O renomado mestre Guilherme de Souza Nucci, na obra Código de


Processo Penal Comentado, 7ª edição, pág. 672, recomenda:

“Prova insuficiente para a condenação: é outra consagração do princípio


da prevalência do interesse do réu – in dubio pro reo. Se o juiz não
possui provas sólidas para a formação do seu convencimento, sem poder
indicá-las na fundamentação da sua sentença, o melhor caminho é a
absolvição.”

Ora, no feito em exame, as contradições encontradas nos depoimentos


dos policiais militares ouvidos em Juízo, são tão divergentes entre as mesmas, e entre eles
que, na delegacia ele diz que foi encontrado um quilo, sendo três tabletes na bolsa, já em juízo
ele diz que são duas, um diz que não se lembra de quantas drogas foram encontrados na
bolsa, e também diz que nem se lembra de que se foi ele mesmo que encontrou na casa, o
outro diz que foi o Rocha enquanto o Rocha nem mesmo se lembra.

Excelência, no processo penal não pode se ter dúvidas e incertezas,


muito menos o policial dizer uma coisa na delegacia e chegar em juízo e dizer outra, devendo
no processo penal deve ter a certeza a qual deverá ser comprovada durante a instrução
probatória, o que não ocorreu nessa instrução. Nada obstante as inúmeras contradições
verificadas nas declarações prestadas em juízo pelos policiais, o conjunto probatório não se
mostra capaz de sustentar a tese acusatória com a certeza exigida à prolação do pretendido
édito condenatório.

Assim tendo em vista que a referida tese acusatória juntamente com os


testemunhos dos policiais não possuem certeza sequer da quantidade de drogas apreendidas
na bolsa da senhora Cristiane não se pode ter uma condenação (lembrando que quem é
apontado como a pessoa que encontrou a droga na bolsa é a pessoa que diz que tinha dois
tabletes e não três como demonstra no inquérito e na denúncia), razão pela qual se mostra
imperiosa a absolvição da acusada, até porque ela mesma diz que não tinha essa quantidade
de drogas que são apresentadas na delegacia, nos termos do art. 386, VII, do Código de
Processo Penal, CONSEQUENTEMENTE O RESPEITÁVEL ACÓRDÃO DEVE SER
REFORMADO E ASSIM DECLARANDO A SENHORA CRISTIANE INOCENTE DA
ACUSAÇÃO EXPOSTA NA PEÇA INICIAL.

Desclassificação do crime do art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 para o do art. 28, da
mesma Lei.

Primeiro vemos claramente que a senhora Cristiane é usuária de


Maconha, sendo por ela confessado em juízo, vemos ainda que ela confessa que havia em sua
bolsa uma pequena quantidade de drogas exclusivamente para o uso, e que não havia essa
quantidade apresentada na delegacia.

Vemos também que toda a declaração realizada pela Senhora Cristiane é


confirmada pelo senhor Arilson, tanto em juízo quanto na delegacia, sendo que em juízo ele
declara que na bolsa de Cristiane foi encontrado uma pequena quantidade de entorpecente,
demonstrando em video o tamanho dessa quantidade de maconha.
Vemos ainda, que a senhora Cristiane em todo momento relata que é
usuária.

Como já relatado, não havia nenhum indício de traficância em desfavor


da acusada. Junto à droga não haviam outros objetos em sua bolsa, nem mesmo no carro
vistoriado, também não havia dinheiro junto a senhora Cristiane, levando a entender que
realmente a única quantidade de drogas em seu poder era a pequena quantidade a qual ela
relata, também não há qualquer denúncia específica em seu nome ou qualquer indicativo de
que a denunciada realizava a mercancia, ou até difusão gratuita de entorpecentes.

Vemos ainda, que o nobre promotor somente denunciou a senhora


Cristiane pelo fato de ela supostamente estaria comercializando essa droga, conforme
folhas 273, O QUE NÃO HÁ QUALQUER PROVA OU ELEMENTO QUE INDIQUE ISSO, não
há provas de comercialização, os policiais em nenhum momento demonstraram isso,
pelo contrário, eles mesmo relatam que desde o inicio a senhora Cristiane sempre diz
que a quantidade com ela apreendida era para o consumo proprio, não havendo qualquer
indicio de comercialização, conforme o promoter quer demonstrar e como é a única
acusação que ele demonstra na sua acusação.

O PROMOTOR supõe que essa droga seria comercializada, não


comprovando e nem mesmo demonstrando qualquer indicio de prova quanto a isso,
folhas 273, Assim, embora certo de que, com o acusado havia droga, o conjunto
probatório não foi suficiente para comprovar que a finalidade era a diversa do uso
próprio.

Vemos ainda que o tipo penal vender seria de transferir para outro ou em
troca de dinheiro, praticar o comercio de, comerciar com, negociar. Assim Excelência em
nenhum momento há qualquer elemento que comprove que havia pela
senhora Cristiane a intensão de comercializar, pelo contrário ela sempre diz que a pequena
quantidade que com ela foi encontrada era para o uso proprio.

Neste caso, não se está diante do crime previsto no art. 33, caput, da Lei
11.343/2006, mas da hipótese tipificada e descrita no art. 28 da mesma lei, REFORMANDO A
RESPEITÁVEL SENTENÇA.

Do tráfico privilegiado

Caso não seja o entendimento de Vossa Excelência por todas as teses


interiormente expostas, venho requerer a concessão do privilégio, pois podemos ver que a
senhora Cristiane não faz parte de nenhuma organização criminosa, muito menos de qualquer
associação criminosa, sendo tecnicamente primária, pois a condenação que contra ela tem
ainda está em grau de recurso no STJ, mesmo já tendo cumprido pena em execução
PROVISÓRIA, assim faz direito ao privilégio, portanto, caso entenda pela condenação requer a
concessão da diminuição da pena tendo em vista o artigo 33 § 4º da lei 11.343/06.

5 – Dos pedidos

Diante do exposto, requer Cristiane Gonçalves Pereira, ao Eminente


Ministro e à colenda Turma, a quem couber o recebimento e conhecimento do presente
Recurso Especial, que admita, dele conheça pela alínea “a” do permissivo constitucional, e lhe
dê provimento para anular o acórdão/reformar o acórdão recorrido em sede apelatória, POR
CONTRARIAR os artigos art. 5º, IV da CF, entendimento jurisprudencial exposto junto artigo
157 do CPP, artigo 5º inciso LV da CF, quanto a não disponibilização integral da escuta
telefônica contrariando também os artigos 155 do CPP, 386 incisos VI e VII do CPP, haja vista
o in dúbio pro reo, tanto para a comprovação da autoria, desclassificação para o artigo 28 da lei
11.343/06, e aplicação da minorante do §4º do artigo 33 da lei 11.343/06, usurpação de função,
tortura, prisão por suposta atitude suspeita, sumula 14 do STJ.

Subsidiariamente, caso essa Corte Superior entenda que as teses


anteriores não comportam o imediato julgamento, requer o conhecimento e provimento do
recurso especial, a fim de que seja declarada a nulidade parcial do acórdão recorrido para que
outro seja proferido com a fundamentação pertinente.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Goiânia – GO, 05 de dezembro de 2022.

Danilo Franquilino Silva Alves


OAB-GO 30185

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