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TERRITÓRIOS
Autos n. 0746722-13.2022.8.07.0001
Apelante: DANCLES MAYCON SILVA ALVES
Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
Origem: 3ª VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL-DF
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e do art. 307 do Código Penal, em razão da prática das
condutas delituosas transcritas na inicial acusatória (ID n.
146775870).
Terminada a instrução probatória, onde foram ouvidas
as testemunhas, e tendo o réu usado o direito constitucional
de ficar em silêncio, o Ministério Público pugnou pela
condenação do réu nos termos da denúncia.
O réu foi condenado a pena de uma pena de 05 (cinco)
anos e 10 (dez) meses de reclusão e 03 (três) meses de
detenção, além de 583 (quinhentos e oitenta e três) dias-
multa.
É o relatório.
III – DO DIREITO
III. I – Da absolvição
Máxima vênia, não assiste razão a r. sentença ao
condenar o acusado pelo crime de tráfico de drogas, senão
vejamos.
Como cediço quem acusa tem que provar, e em matéria
penal, o onus probandi da existência do fato criminoso
imcumbe ao Ministério Público, pois é o deflagrador da ação
penal, cabendo-lhe provar em juízo a veracidade e procedência
das afirmações constantes da denúncia.
No que toca ao polo passivo da relação penal, ao
acusado que alega inocência, não bastasse à impossibilidade
lógica da prova de fato negativa, salvo por meio indireto,
sobre ele não pode recair o ônus da prova, vez que a Carta
Maior lhe assegura no art. 5º, inciso LVII, a presunção de
inocência.
Também, no campo probatório, é pressuposto
inafastável que a prova válida à comprovação de
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culpabilidade, de demonstração de autoria, é somente a prova
judicial, aquela produzida com todas as garantias do devido
processo legal, único substrato do qual o julgador pode
extrair sua convicção (art. 155 do CPP).
Atualmente o direito de punir do Estado pressupõe
certo controle para sua materialização, visto que o período
do processo inquisitório já se encerrou na história do
direito brasileiro e o mundo moderno se reflete no Estado
Democrático de Direito, com amplas garantias
constitucionais, sendo a persecução penal um instrumento
ético de busca da verdade real de um determinado fato.
Nesse contexto, nos presentes autos, a prova colhida
não permite desate condenatório, isto porque é frágil, na
medida em que há, nos autos, apenas suposições de que o
acusado participou do crime.
Nobre Relator(a), não cabe ao Judiciário, guardião
das liberdades fundamentais, suprir as deficiências
instrutórias cujo órgão acusador não se desincumbiu,
abrandando o rigor na apreciação da prova, sendo
condescendente com uma acusação que não foi devidamente
esclarecida.
Os policiais ouvidos em juízo fizeram apenas relatos
genéricos de que o acusado estava traficando e o suposto
usuário sequer foi ouvido em juízo.
A defesa requer especial atenção para o fato de que
a Cabo da PMDF, Fernanda Caroline de Novaes Barros, em seu
interrogatório diante da Autoridade Judicial às perguntas da
Promotora de Justiça respondeu que se recordava do dia dos
fatos; que estava no local em patrulhamento e passou um
popular e informou que tinha duas pessoas comercializando
droga; que ela e seu parceiro se deslocaram na viatura um
pouco mais a frente e avistaram duas pessoas paradas na
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entrada da estação do metrô; que assim que percebeu a
viatura, Dancles correu para o interior da estação pelas
escadas; que ela ficou com o Brayan e Vitor foi atrás de
Dancles; que tanto com Dancles como com Brayan foram
encontrados comprimidos de Clonazepam; que com Dancles foi
encontrado ainda um frasco da mesma substância na forma
líquida; que o Brayan no primeiro momento em que foi abordado
disse que estava vendendo a droga para Dancles; que Dancles
disse que se chamava Caio e era menor de idade; que
posteriormente foi descoberto que na verdade a pessoa
envolvida se chamava Dancles, era maior de idade e tinha um
mandado de prisão contra si;
Já o soldado da PMDF Vitor Souza Barboza em seus
esclarecimentos para o juízo disse estava juntamente com a
companheira de trabalho a Cabo Fernanda fazendo Ponto de
Demonstração nas imediações do Metrô do Guará; que um popular
informou que estava ocorrendo negociação de venda de droga
logo mais adiante; que seguiram em frente e avistaram as
pessoas supostamente envolvidas; que Caio, posteriormente
identificado como Dancles demonstrou intenso nervosismo e
correu para dentro da estação do metrô; que conseguiu detê-
lo perto das catracas; que foi encontrada droga tanto com
Dancles quanto com Brayan; que não se recorda a quantidade
de droga apreendida, mas que o Dancles estava com a maior e
quantidade de comprimidos; que Dancles negou que estava
comercializando a droga e que Brayan alegou que tinha
problemas psicológicos; que não chegou a ver um entregando
a droga para o outro; que na DCA os policiais civis
descobriram que Caio na verdade se chamava Dancles e que é
maior de idade.
Nobre relator, o juízo baseou o seu decreto
condenatório apenas com base no depoimento das duas
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testemunhas policiais militares. Veja que os policiais não
avistaram quem estava vendendo ou quem estava comprando.
Note ainda que a Cabo Fernanda ainda menciona que a Brayan
num primeiro momento chegou a assumir que era ele quem estava
vendendo a droga para Dancles, e, não foi esclarecido o
motivo pelo qual Brayan foi liberado. Dancles foi mantido
preso provavelmente porque correu na hora da abordagem.
Contudo, o fato de ter corrido e ter se identificado como
outra pessoa foi esclarecido nas alegações finais: o Apelante
correu porque sabia que existia contra si um mandado de
prisão, porém, esse fato por si só não é suficiente para que
o Estado o considere novamente culpado por crime de tráfico,
o que não restou demonstrado.
Os policiais não trouxeram aos autos nenhuma prova
cabal da traficância. A r. sentença se baseia na condenação
apenas pelos relatos dos policiais.
Ora, nossa legislação exige rigor na investigação,
como quando, por exemplo, exige que sejam realizados autos
de apreensão, de busca, de avaliação, exames periciais, enfim
a documentação necessária para um conjunto probatório
robusto, pois, de regra, a escoteira palavra das testemunhas
não é suficiente para uma condenação.
Sendo assim, oportuno lembrar o dizer de MALATESTA
“para legitimar a absolvição, não ocorre a certeza da
inocência, bastando julgá-la possível, dentro da incerteza
da culpabilidade.”
No mesmo sentido:
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acusador, sem que o réu (e muito menos o
juiz) tenha qualquer dever de contribuir
nessa desconstrução (direito de silêncio –
nemotenetur se detegere).
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(...)
Contudo, se não suspeitos, têm eles todo o
interesse em demonstrar a legitimidade do
trabalho realizado. Ao depor, o policial
também está dando conta de seu trabalho, do
acerto da investigação realizada, da
legitimidade dos atos praticados.
Logo, se não tem um interesse direto na
condenação do acusado, o tem em relação aos
atos praticados, dando conta da legitimidade
do trabalho investigatório realizado (...)”
(in Da Prova no Processo Penal. Ed. Saraiva
- 2ª Edição - p.127/128).
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AO RECURSO. 1. Não logrando a acusação em
produzir provas judicializadas da
participação do apelante no suposto crime de
roubo, necessária a absolvição por falta de
provas, aplicando-se o princípio in dubio
pro reo. 2. Dado provimento ao recurso para
absolver o réu da imputação. Alvará de
Soltura. (Acórdão n.1150019,
20170510093658APR, Relator: JOÃO TIMÓTEO DE
OLIVEIRA, Revisor: JAIR SOARES, 2ª TURMA
CRIMINAL, Data de Julgamento: 07/02/2019,
publicado no DJE:
11/02/2019. Pág.: 112-126).
III.II – DA DESCLASSIFICAÇÃO
Nobre Julgador (a), a desclassificação da conduta do
acusado para o art. 28, da Lei Antidrogas, ante a não
comprovação de que ele era traficante deve ser a medida
adotada.
O artigo 33, caput, da lei 11.343/06, traz em seu
texto o crime de tráfico:
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guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500
(mil e quinhentos) dias-multa. Acontece,
Excelência, que em nenhum momento foi
provada a intenção de traficar ou o tráfico
em si pelo denunciado. Assim, não há de se
falar em condenação pelo do crime previsto
no artigo 33, caput, da lei Antidrogas.
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INCISO III , DA LEI Nº 11.343 /2006. PEDIDOS
DE ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O ARTIGO 28 DA LEI Nº
11.343 /2006, AFASTAMENTO DA MAJORANTE E
REDUÇÃO DAS PENAS IMPOSTAS.
Carência de prova quanto à destinação da
droga apreendida, sendo alegado que era para
uso próprio, sem contestação. Dúvida que se
resolve em favor do réu, desclassificando a
infração e remetendo o processo para o
juizado especial criminal. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Crime Nº
70052928728, Terceira Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: João
Batista Marques Tovo, Julgado em
04/04/2013)Processo – ACR 70052928728 RS
Orgão Julgador - Terceira Câmara Criminal
Publicação - Diário da Justiça do dia
04/06/2013Julgamento - 4 de Abril de 2013
Relator - João Batista Marques Tovo.
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comprado e estarem na posse de entorpecente.
Em suma, se a pessoa é encontrada com drogas,
cabe ao Ministério Público comprovar que o
entorpecente era destinado ao tráfico. Não
fazendo esta prova, prevalece a versão do
réu de que a droga era para consumo próprio”.
IV - DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer seja o presente recurso
conhecido, porque adequado e tempestivo e, no mérito requer
provimento para REFORMA da r. sentença recorrida, para:
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
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Brasília, 30 de outubro de 2023
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