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NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA SEGUNDA


VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL

Processo n. 2015.01.1.023406-3

ADEMIR SILVA DOS SANTOS, devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, por intermédio dos advogados e estagiários no Núcleo de Práticas
Jurídicas do IESB, vem, respeitosamente, à presença Vossa Excelência, em
inconformismo com a r. sentença proferida de fls. 212/217, apresentar em
tempo hábil

RAZÕES DE APELAÇÃO

com fundamento no art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal. Assim,


requer o recebimento desta, juntando-se as razões anexas, devendo ser os
autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios onde serão processados.

Brasília, 04 de março de 2016.

RAFAEL MESQUITA DA ROSA


Professor Orientador
OAB/DF 47046

Ana Caroline Araújo Maximiano


Matrícula: 1311010183

Manuelita de Almeida Vilela Mourão


Matrícula: 1111010191
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E


TERRITÓRIOS

RAZÕES DE APELAÇÃO

RECORRENTE: ADEMIR SILVA DOS SANTOS


RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITORIOS

Colenda Turma,
Ínclitos Desembargadores,
Douta Procuradoria de Justiça,

Trata-se de recurso de apelação em face da r. sentença proferida pelo


M.M. juiz a quo, a qual condenou o apelante como incurso nas penas previstas
do art. 33, caput, c/c inc. VI, do art. 40, ambos da Lei n.º 11.343/06 a 5
(cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e 583 (quinhentos e oitenta e três)
dias-multa.
Todavia, em que pesem os argumentos expendidos, a sentença merece
ser reformada em face das razões fáticas e jurídicas abaixo apresentadas:
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1. DOS FATOS

O representante do Ministério Público do Distrito Federal e dos


Territórios ofereceu denúncia em desfavor de ADEMIR SILVA DOS SANTOS e
ADILAMBERTO BARBOSA DA SILVA, devidamente qualificados nos autos,
atribuindo-lhes a autoria do crime previsto no art. 33, caput, combinado com o
inc. VI, do art. 40, ambos da Lei n.º 11.343/06. A conduta delitiva foi narrada
nos seguintes termos:
Defesa prévia dos acusados ADEMIR SILVA DOS SANTOS e
ADILAMBERTO BARBOSA DA SILVA apresentada às fls. 159/160,
oportunidade em que foram arroladas as mesmas testemunhas do Ministério
Público.
A denúncia foi recebida em 26/5/2015 (fl. 163).
Após audiência de instrução probatória, o Ministério Público, em seus
memoriais, pugnou pela condenação dos acusados nas penas do art. 33,
caput, c/c inc. VI, do art. 40, ambos da Lei n.º 11.343/06 (fls. 185/191).
A Defesa dos acusados, também por memoriais, requereu, em relação ao
acusado ADEMIR, a aplicação da compensação da circunstância agravante da
reincidência com a atenuante da confissão espontânea.
Quanto a ADILAMBERTO, postulou inicialmente pela absolvição nos
termos dos incs. IV, V e VII, do art. 386 do Código de Processo Penal e,
subsidiariamente, pela desclassificação da conduta prevista no art. 33, caput,
da Lei n.º 11.343/06 para o art. 28 da mesma lei (fls. 202/208).
Restou julgada procedente a pretensão punitiva estatal deduzida na
denúncia para condenar ADEMIR SILVA DOS SANTOS e ADILAMBERTO
BARBOSA DA SILVA, como incursos nas penas do art. 33, caput, c/c inc. VI,
do art. 40, ambos da Lei n.º 11.343/06.
Em inconformismo com a r. sentença acima referida, seguem as
razões do apelo de ADEMIR SILVA DOS SANTOS.
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2. DO DIREITO

2.1. DO AFASTAMENTO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA


NO ART. 40, INCISO VI, DA LEI N. 11.343/2006

Ante o conjunto probatório dos autos, observa-se que as provas


produzidas no curso da instrução não induzem à incidência do apelante na
causa de aumento de pena em discussão, motivo pelo qual se faz imperioso o
seu afastamento.

Compulsando os autos, verifica-se que o denunciado aduziu em seu


interrogatório juntado às fls. 178/180 que, em síntese:

na época mencionada na denúncia estava passando por dificuldades


financeiras em razão da falta de pagamentos dos funcionários do GDF;
que o interrogando trabalhava como porteiro em uma creche e não
tinha recebido o seu salário havia 4 meses; que além dos problemas
acima mencionados o interrogando estava viciado em "crack"; que o
interrogando tem um filho de 15 anos, um de 13 anos, uma filho de 8 e
uma filha de 1 ano e 8 meses; que em razão de toda essa situação o
interrogando aceitou a proposta de um indivíduo que estava vendendo
"crack"; que o interrogando aproximou-se desse indivíduo para pedir
uma pedra para uso próprio; que, no entanto, o mencionado indivíduo
propôs que o interrogando vendesse 15 pedras de "crack" e em troca
daria R$ 50,00 para o interrogando; que diante da situação o
interrogando aceitou a proposta; que o interrogando chegou a vender
duas pedras de "crack", sendo uma para o usuário NAELTON; que o
acusado ADILAMBERTO é conhecido do interrogando há muito tempo;
que ADILAMBERTO estava no local, mas não estava ajudando o
interrogando a vender a droga; que ADILAMBERTO tinha chegado no
local 30 minutos antes da abordagem; que o adolescente GABRIEL
estava no local, mas não em companhia do interrogando; que
antes do momento da abordagem o interrogando conversou
com GABRIEL, mas apenas sobre fatos do "mundo"; que não
falaram nada sobre droga; que as pedras de "crack" estavam em um
contêiner; que no momento da abordagem ainda havia treze pedras,
pois o interrogando já tinha vendido duas pedras; que em relação as 7
porções de "maconha" e mais uma de "crack" mencionadas na denúncia
o interrogando esclarece que não sabe nada a respeito delas; que o
interrogando vendeu as 2 pedras de "crack" por R$ 20,00 para a mesma
pessoa; que inicialmente NAELTON comprou uma pedra e em seguida
retornou e comprou mais uma; que na ocasião mencionada na
denúncia ADILAMBERTO estava no local usando "maconha"; que foi o
adolescente GABRIEL que chegou com o cigarro de "maconha" e fumou
a droga junto com ADILAMBERTO; que o interrogando não fumou
"maconha" junto com GABRIEL e ADILAMBERTO; que o interrogando
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esclarece que no momento da abordagem estava portando apenas R$


20,00 que eram da venda das duas porções de "crack"; que no momento
da abordagem apenas ADILAMBERTO estava próximo do interrogando;
que não sabe onde GABRIEL estava no momento da abordagem; que
gostaria de acrescentar que está arrependido do que fez; que sua família
atualmente está passando necessidade, inclusive com o aluguel
atrasado; que conhece as testemunhas arroladas pelo Ministério
Público; que nunca foi preso ou processado anteriormente.

Não consta nos autos nenhuma prova no sentido comprovar que o delito
em análise, confessado pelo apelante, tenha tido como fito envolver ou visar a
atingir criança ou adolescente. Conforme aduz o apelante em depoimento
judicial acima transcrito, o adolescente Gabriel Canuto de Souza encontrava-
se no local de cometimento do delito, mas não em sua companhia. Cumpre
ressaltar que o local referido se trata de uma rua, no qual muitas pessoas se
deslocavam. A conversa de ambos, registrada nas imagens de fl. 117, não são
suficientemente claras ou conclusivas para demonstrar vinculo associativo
entre os mesmos. A parte isso, se reforça, novamente, não haver nenhuma
prova nos autos que faça incidir a causa de aumento de pena supracitada em
desfavor do acusado, razão pela qual se pleiteia o seu afastamento.
Vejamos precedente do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, no
mesmo sentido da explanação:

Tráfico de entorpecente. Réus detidos por guardarem 256 gramas de


maconha e 249 gramas de cocaína. Corréu marido da sobrinha da ré.
Notícia anônima detalhada. Depoimentos firmes e coerentes dos
policiais militares. Autoria e materialidade quanto ao tráfico
evidenciadas. Causa de aumento referente ao artigo 40, inciso VI, da
Lei 11.343/06, não comprovada. Participação da adolescente que
não ficou clara, sendo insuficientes as provas. Absolvição quanto ao
delito de associação mantida. Estabilidade e permanência não
demonstradas. Ausência de elementos neste sentido. Penas-base
dosadas nos mínimos legais. Redutor reconhecido e aplicado à fração
de metade. Quantidade de droga a não autorizar redução maior.
Reforma para o regime semiaberto. Substituição que não se revela
indicada. Parcial provimento ao apelo defensivo. Negado provimento ao
recurso ministerial.

(TJ-SP - APL: 30089551220138260099 SP 3008955-


12.2013.8.26.0099, Relator: Guilherme de Souza Nucci, Data de
Julgamento: 11/08/2015, 16ª Câmara de Direito Criminal, Data de
Publicação: 12/08/2015)
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2.2. DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

Em que pese o notável saber jurídico do MM. juiz a quo, a defesa se


reserva a discordar do regime inicial de cumprimento de pena fixado na r.
sentença proferida, a qual se transcreve:

Diante da análise das circunstâncias judiciais do sentenciado e da


reincidência, bem como das diretrizes expostas no art. 33, § 2º, "b" e "a"
e § 3o do CPB, fixo como regime de cumprimento da pena,
inicialmente o fechado.

Tendo em vista que o apelante possui emprego e residência fixos,


conforme se verifica pelo seu depoimento acostado à fl. 278 v., pleiteia ser
fixado o regime inicial de cumprimento de pena como semi-aberto. Invoca-se
em favor do apelante o ideário contido no princípio constitucional de
individualização da pena.
Acrescenta-se, neste sentido, entendimento do Superior Tribunal de
Justiça (STJ):

CRIMINAL. HC. REGIME PRISIONAL FECHADO IMPROPRIAMENTE


FUNDAMENTADO NA REINCIDÊNCIA DO RÉU. CONDENAÇÃO
INFERIOR A 04 ANOS. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS.
DIREITO AO REGIME SEMI-ABERTO. ORDEM CONCEDIDA. Se o
condenado preenche os requisitos para o cumprimento da pena em
regime semi-aberto, tendo em vista a quantidade de pena imposta –
02 anos – e em virtude do próprio reconhecimento de condições
pessoais favoráveis na dosimetria da reprimenda, eis que fixada a
pena-base no mínimo legal, não cabe a imposição de regime mais
gravoso com fundamento restrito à reincidência do paciente. Na
ausência de óbice legal, o réu reincidente, condenado a pena igual ou
inferior a 04 anos e com condições favoráveis, poderá iniciar o
cumprimento da reprimenda em regime semi-aberto. Tratando-se de
nulidade prontamente verificada, deve ser permitido o devido
saneamento via habeas corpus. Ordem concedida para fixar o regime
semi-aberto para o cumprimento da pena imposta ao paciente.

(STJ - HC: 34601 SP 2004/0043614-1, Relator: Ministro GILSON DIPP,


Data de Julgamento: 03/02/2005, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJ 07.03.2005 p. 291)
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3. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer seja acolhido, recebido e provido o presente


recurso, para que seja reformada a sentença proferida pelo juízo a quo,
objetivando:
a) Ser afastada a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso
VI, da lei n. 11.343/2006;
b) Ser fixado o regime inicial de cumprimento de pena como semi-aberto.

Termos em que, pede e aguarda deferimento.

Brasília, 04 de março de 2016.

RAFAEL MESQUITA DA ROSA


Professor Orientador
OAB/DF 47046

Ana Caroline Araújo Maximiano


Matrícula: 1311010183

Manuelita de Almeida Vilela Mourão


Matrícula: 1111010191

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