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…- …ª Turma do STJ
(nome) autor, por seu advogado in fine assinado, nos autos da medida cautelar
inominada em epígrafe, que promove contra a MASSA FALIDA DE …, vem,
respeitosamente, com fulcro no art. 437, § 1º do CPC, manifestar acerca dos
documentos novos carreados aos autos pelo demandado que acompanharam o seu
“agravo interno” aviado às fls. … (razões recursais) e fls. …(documentos), pelo que
passa a aduzir:
3. Pela leitura do agravo interno de fls. …depreende-se sem qualquer esforço que a
presunção de que a autora houvera desviado recursos dos grupos de consórcios teriam
sido constatada num documento intitulado RELATÓRIO FINAL desenvolvido pelo
Banco Central do Brasil nos autos da liquidação extrajudicial da empresa … (fls. …).
a) julgamento justo: princípios do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII e LIII); da
motivação dos atos judiciais (CF, art. 93, IX) e da coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI);
b) pleno exercício de ação e defesa: inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV),
o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), e a garantia da assistência judiciária (art.
5º, LXXIV);
c) procedimento regular: igualdade (art. 5º, caput), publicidade (art. 5º, LX), e vedação
da prova ilícita (art. 5º, LVI).
12. Acrescente-se, com TARZIA, que, garantindo aos sujeitos parciais uma
equivalência nas respectivas posições, por eles assumidas, o contraditório sedimenta-se
na possibilidade de atuação, não em momento episódicos, mas traduzindo-se numa série
sucessiva de opções, estratégias e reações, que tornam efetiva a mútua e ampla defesa.
13. É por essa razão que FAZZALARI adverte: quando se consegue a participação no
iter de formação de um provimento decisório daqueles que serão os seus destinatários,
obtêm-se uma evidente vantagem em termos de liberdade e de tutela dos interesses.
15. O traço distintivo que realmente conota o processo judicial é o contraditório, cujo
pressuposto básico é que ele se desenvolva num plano de absoluta paridade entre as
partes. Paridade tem o significado de que todas as partes que atuam no processo devem
dispor de oportunidades processuais preordenadas e simétricas. Segundo escreveu
VINCENZO CAIANIELLO, presidente emérito da Corte Constitucional italiana, “na
teoria do processo judicial, a paridade das partes constitui precondição do
contraditório, que, por sua vez, é a essência do processo”.
18. A prova emprestada embora não esteja expressamente elencada no art. 212 da
legislação instrumental civil, configura uma modalidade de prova oriunda de construção
doutrinária e jurisprudencial. Porém, sua admissibilidade é legítima com preenchimento
dos seguintes requisitos: a) identidade de partes; b) identidade de objeto da lide; c)
observância do contraditório na colheita da prova; e d) licitude da prova produzida.
21. Pois bem. Feitas as digressões retro, debruça-se doravante sobre o “laudo contábil“,
intitulado RELATÓRIO FINAL, da lavra do BACEN que tanto se “esforça” a massa
falida/requerida para dar-lhe uma veste no processo como prova.
22. Ora, somente uma leitura enviesada e parcial poderia sugerir para fins de validade
probatória num pedido incidental de extensão de efeitos da falência da validade como
prova de um relatório contábil produzido pelo Banco Central do Brasil num diverso
procedimento administrativo de liquidação extrajudicial de que a autora não foi parte,
não foi intimada para dele participar e nem ao menos não teve sua contabilidade
examinada.
24. Como sacramentado, o laudo do BACEN elaborado nos idos de …para fins
específicos de liquidações extrajudiciais, diversos do pleito de extensão dos efeitos da
falência, não tem qualquer validade como prova imprestável, pois sua prestabilidade
estava condicionado à participação de todas as partes envolvidas na atual ação, sob o
crivo do contraditório. E a autora/… não foi convocada ou ingressou no procedimento
administrativo da liquidação extrajudicial dirigida pelo Banco Central do Brasil. Daí o
laudo pericial do BACEN não tem serventia alguma como meio de prova pericial ou
documental, sob pena de ofender-se a garantia inserta no artigo 5º, inciso LV, da
Constituição Federal.
25. Vem a lume as luzes deixadas pelo Min. FRANCIULLI NETO na relatoria do
Recurso Especial n. 526.316/SC, DJ 03.11.2003, in expressis: “Não podia ao julgador
singular, em nome do livre convencimento motivado, e a teor do disposto no artigo 332
do CPC, recorrer a prova produzida em outro processo sem obedecer ao contraditório,
dando às partes a oportunidade de se manifestarem acerca do laudo invocado pelo
magistrado. Ao comentar o referido dispositivo do CPC, pontificam Nelson Nery Junior
e Rosa Maria de Andrade Nery que “a condição mais importante para que se dê
validade e eficácia à prova emprestada é sua sujeição às pessoas dos litigantes, cuja
consequência primordial é a obediência ao contraditório. Vê-se, portanto, que a prova
emprestada do processo realizado entre terceiros é res interalios e não produz nenhum
efeito senão para aquelas partes” (in “CPC comentado e legislação extravagante”,
Revista dos Tribunais,”São Paulo, 2003, nota 6 ao artigo 332, p. 720). Dessa forma,
como bem concluiu a egrégia Corte de origem, “a sentença representa afronta ao
princípio da persuasão racional, do contraditório e da ampla defesa, na medida em que
documentos e provas não acostadas nestes autos serviram de base para o
convencimento do julgador singular“.
II- PEDIDOS
b) após a sempre atenciosa leitura de V.Exa., seja recobrada a realidade dos fatos para a
aplicação do bom direito aos autos, AFASTANDO A CONSIDERAÇÃO DO LAUDO
DO BACEN COMO PROVA EMPRESTADA, pois distantes das regras maiores que
asseguram no transcurso da produção de provas o amplo contraditório, ombreadas pelas
posições únicas da doutrina e jurisprudência.
P. Deferimento.
(Local e data)