Você está na página 1de 206

■ A EDITORA ATLAS se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição

(impressão e apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). Nem a


editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou
bens, decorrentes do uso da presente obra.
Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, é proibida a
reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive
através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do
editor.

Impresso no Brasil – Printed in Brazil

■ Direitos exclusivos para o Brasil na língua portuguesa


Copyright © 2018 by
EDITORA ATLAS LTDA.
Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional
Rua Conselheiro Nébias, 1384 – Campos Elíseos – 01203-904 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 5080-0770 / (21) 3543-0770
faleconosco@grupogen.com.br / www.grupogen.com.br

■ O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá
requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da
indenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998).
Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou
fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito,
lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator,
nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor
em caso de reprodução no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).

■ Capa: Danilo Oliveira

■ Produção digital: Ozone

■ Data de fechamento: 07.05.2018

■ A partir da 2ª edição, a obra passou a ser intitulada Recursos Eleitorais.

■ CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE.


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
G614r
Gomes, José Jairo

Recursos eleitorais / José Jairo Gomes – 4. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2018.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-970-1743-4

1. Direito eleitoral - Brasil. 2. Recursos (Direito) - Brasil. 3. Justiça eleitoral - Brasil. I. Título.

18-48362 CDU: 342.8(81)


PREFÁCIO

A presente obra expõe um dos temas mais desafiadores do Direito Eleitoral, qual seja, os recursos eleitorais. A
inspiração para elaborá-la decorreu da observação feita por Robert Alexy (2008, p. 470) de que, no “recente debate
sobre direitos fundamentais, poucas foram as ideias que despertaram tanta atenção quanto a existência de uma
conexão entre direitos fundamentais, organização e procedimento”.
O objeto primordial do Direito Eleitoral é a liberdade de participação política, notadamente o exercício das
cidadanias ativa (ius suffragii) e passiva (ius honorum), bem como a ocupação legal dos cargos político-eletivos e
o consequente exercício legítimo do poder estatal. Muitas das questões e dos problemas suscitados no âmbito dessa
disciplina jurídica dizem respeito à concretização de direitos políticos fundamentais.
Compreendidos como um conjunto de regras e princípios vinculantes, de textura aberta e fluida, os direitos
fundamentais também apresentam uma face processual. Esta é sintetizada no due process of law, visto como
processo justo, no qual comparecem garantias, como acesso à Justiça, contraditório, ampla defesa, igualdade de
partes, publicidade, necessidade de motivação das decisões judiciais, juiz natural e imparcial. Nesse sentido, o
processo tem em mira a entrega de uma tutela jurisdicional justa.
Saliente-se que o conceito de processo não é exatamente igual ao de procedimento. A doutrina processual
(vide Dinamarco, 2004, p. 25-26) entende o processo como um ente complexo, integrado por dois elementos:
procedimento e relação jurídica-processual. Enquanto o procedimento é um conjunto de atos lógica e
sequencialmente interligados, a relação processual constitui um liame que se estabelece entre os sujeitos processuais
– partes e órgão judicial.
Em sentido amplo, procedimentos constituem sistemas lógico-normativos, formados por regras e/ou princípios
para a obtenção de um resultado, que deve estar em harmonia com os direitos fundamentais e com a ideia vigorante
de justiça. Segundo Alexy (2008, p. 488), “Direitos a procedimentos judiciais e administrativos são direitos essenciais
a uma ‘proteção jurídica efetiva’.” É condição de uma proteção jurídica efetiva que o resultado do procedimento
proteja os direitos materiais dos titulares de direitos fundamentais envolvidos.
A inexistência de procedimentos administrativos e judiciais pode significar violação de direitos fundamentais
cuja concretização deles dependam. É que a ausência de normas regulamentadoras obstaculiza a concretização
desses direitos ou, pelo menos, afeta desvantajosamente a efetivação de seus conteúdos.
Nesse contexto, os recursos apresentam singular importância em qualquer sistema jurídico, notadamente
naqueles que prestigiam os direitos fundamentais.
Se, em sentido comum, o termo “recurso” exprime todo e qualquer meio empregado na defesa de um direito, na
técnica processual significa expansão ou desenvolvimento do direito de ação, que ingressa em uma nova etapa
processual, sendo esta essencial para a afirmação e a concretização do direito que se afirma violado ou da atuação
do direito à situação submetida a juízo. Afinal, é do julgamento do recurso que surgirá um juízo concreto,
racionalmente fundamentado, de dever-ser.
O texto inicia-se com o delineamento da teoria geral dos recursos e com a exposição de questões gerais
especificamente ligadas aos recursos eleitorais. Em seguida, trata minudentemente de cada recurso.
O penúltimo capítulo é dedicado a outros meios impugnativos comumente empregados no Direito Eleitoral, mas
que estritamente não se inserem no esquema recursal descrito. Aqui serão expostas garantias constitucionais, como
o mandado de segurança, e ações, como a rescisória.
A elaboração do texto baseou-se em acurada pesquisa interdisciplinar, tendo sempre como norte o pensamento
contemporâneo e a noção de que os institutos jurídicos não são realidades estanques, mas intercomunicantes; mesmo
porque o sistema jurídico é aberto e não hermético, como pretendeu o positivismo clássico-liberal.
Analisaram-se variadas fontes doutrinárias e numerosa jurisprudência dos tribunais, muitas das quais foram
citadas nos textos. Consciente de que, na prática, o sentido das normas postas na Constituição e nos diplomas legais
é fixado pela interpretação emanada dos tribunais, especial atenção foi dedicada aos precedentes judiciais.

O Autor
ABREVIATURAS

ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade


ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade
AIJE – Ação de Investigação Judicial Eleitoral
AIME – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo
AIRC – Ação de Impugnação de Registro de Candidatura
CE – Código Eleitoral
CF – Constituição Federal
CP – Código Penal
CPC – Código de Processo Civil
CPP – Código de Processo Penal
D-L – Decreto-Lei
DJ – Diário da Justiça
DJe – Diário da Justiça eletrônico
HC – Habeas corpus
Inq. – Inquérito policial
Inst – Instrução
Jurisp. – Jurisprudência
LC – Lei Complementar
LE – Lei das Eleições (Lei no 9.504/1997)
MP – Ministério Público
MPE – Ministério Público Eleitoral
MPF – Ministério Público Federal
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil
PA – Processo Administrativo
Pet. – Petição
PGE – Procuradoria-Geral Eleitoral
PGR – Procurador-Geral da República
PRE – Procuradoria Regional Eleitoral
PSS – Publicado em sessão
RCED – Recurso Contra Expedição de Diploma
Rcl – Reclamação
RE – Recurso Extraordinário
Res. – Resolução
REsp – Recurso Especial
REspe – Recurso Especial Eleitoral
RISTF – Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
RITSE – Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral
RO – Recurso Ordinário
Rp – Representação Eleitoral
RSE – Recurso em Sentido Estrito
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TRE – Tribunal Regional Eleitoral
TRF – Tribunal Regional Federal
TSE – Tribunal Superior Eleitoral
SUMÁRIO

1 Teoria geral dos recursos


1.1 Definição
1.2 Classificação
1.3 Princípios
1.4 Admissibilidade e mérito recursal
1.5 Pressupostos recursais
1.5.1 Pressupostos recursais intrínsecos
1.5.2 Pressupostos recursais extrínsecos
1.6 Efeitos do recurso

2 Introdução aos recursos eleitorais


2.1 Recursos eleitorais
2.2 Formalidades para interposição
2.2.1 Regularidade formal: representação processual e petição recursal
2.2.2 Prática eletrônica de atos processuais
2.2.2.1 Interposição eletrônica de recurso
2.2.2.2 Processo Judicial Eletrônico – PJe
2.3 Legitimidade
2.4 Efeitos dos recursos
2.4.1 Efeito suspensivo
2.4.2 Imediata eficácia de acórdãos
2.4.3 Sustação da eficácia imediata de decisão judicial
2.5 Prazos
2.5.1 Prazos recursais
2.5.2 Contagem de prazos recursais
2.5.3 Termos inicial e final dos prazos recursais
2.5.4 Intempestividade reflexa
2.5.5 Suspensão de prazos processuais
2.6 Desistência do recurso
2.7 Prevenção
2.8 Recursos parciais
2.9 Anualidade Eleitoral – obrigatória observância de precedentes – inaplicabilidade imediata de decisões
modificadoras de jurisprudência
2.10 Competência originária do tribunal para julgar atos de seu presidente
2.11 Irrecorribilidade das decisões administrativas dos tribunais eleitorais
2.12 Publicação prévia de pauta e colocação de recursos e causas em mesa para julgamento
2.13 Autocomposição, conciliação e mediação
2.14 Negócio jurídico processual
2.15 Sustentação oral
2.16 Declaração de inconstitucionalidade

3 Recurso eleitoral
3.1 Caracterização do recurso eleitoral
3.2 Interposição
3.3 Juízo de admissibilidade
3.4 Prazo
3.5 Efeitos
3.6 Juízo de retratação
3.7 Tramitação no Tribunal Regional Eleitoral

4 Recurso do art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997

5 Embargos de declaração
5.1 Conceito e pressupostos
5.2 Cabimento contra qualquer decisão judicial
5.3 Procedimento
5.3.1 Prazo de interposição
5.3.2 Contraditório nos embargos de declaração
5.4 Efeitos
5.5 Embargos manifestamente protelatórios
5.6 Interposição anterior ou simultânea de recurso

6 Agravos
6.1 Generalidades
6.2 Agravo de instrumento
6.3 Agravo interno
6.4 Agravo regimental
6.5 Agravo em recurso especial ou extraordinário – agravo nos próprios autos

7 Recurso ordinário eleitoral


7.1 Recurso ordinário para o Tribunal Superior Eleitoral
7.2 Recurso ordinário eleitoral para o Supremo Tribunal Federal

8 Recurso especial
8.1 Fundamento e pressupostos
8.1.1 Decisões de Tribunal Regional Eleitoral
8.1.2 Esgotamento das vias ordinárias
8.1.3 Prequestionamento
8.1.3.1 A exigência de decisão expressa sobre a questão jurídica
8.1.3.2 Decisão implícita sobre a questão jurídica
8.1.3.3 Decisão ficta da questão jurídica: erro, omissão, contradição ou obscuridade no acórdão
8.1.3.4 Questão de ordem pública
8.1.4 Contrariedade à disposição expressa da Constituição
8.1.5 Contrariedade à disposição expressa de lei
8.1.6 Dissídio jurisprudencial: divergência na interpretação entre dois ou mais tribunais eleitorais
8.2 Prazo
8.3 Efeitos
8.4 Trâmite do REspe no Tribunal Regional Eleitoral
8.5 Trâmite do REspe no Tribunal Superior Eleitoral
8.6 Recurso especial repetitivo

9 Recurso extraordinário
9.1 Noções de controle de constitucionalidade
9.2 Controle de constitucionalidade e direito pré-constitucional
9.3 Caracterização do recurso extraordinário
9.4 Não cabimento de RE diante de acórdão de TRE
9.5 Admissibilidade: requisitos específicos
9.5.1 Prequestionamento
9.5.2 Repercussão geral
9.5.2.1 Caracterização da repercussão geral
9.5.2.2 Questões constitucionais reiteradas
9.5.2.3 Repercussão geral em matéria eleitoral
9.6 Interposição
9.7 Prazo de interposição
9.8 Efeitos
9.9 Trâmite no Tribunal Superior Eleitoral
9.10 Trâmite no Supremo Tribunal Federal
9.11 Eficácia da decisão do Supremo Tribunal Federal
9.12 Recursos extraordinários repetitivos
9.13 Súmulas do STF sobre recurso extraordinário

10 Embargos de divergência

11 Embargos infringentes e a técnica de julgamento do art. 942 do CPC/2015

12 Outros meios impugnativos no processo jurisdicional eleitoral


12.1 Introdução
12.2 Garantias ou remédios constitucionais
12.2.1 Mandado de segurança
12.2.2 Mandado de injunção
12.2.3 Habeas data
12.2.4 Ação popular
12.3 Tutela provisória de urgência de natureza cautelar
12.4 Recurso Contra Expedição do Diploma (RCED)
12.5 Reclamação
12.6 Ação rescisória
12.6.1 Ação rescisória eleitoral
12.6.2 Ação de anulação de ato processual
12.6.3 Ação de querela nullitatis insanabilis

Apêndice

Referências
1
TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1.1 DEFINIÇÃO
É natural que decisões em processos jurisdicionais gerem na parte desfavorecida o sentimento de
inconformismo e a vontade de ter o julgamento revisto. Por isso, e também em atenção às ideias de justiça e
harmonia social, o sistema jurídico prevê formas de impugnação de atos jurisdicionais.
Além do recurso, há outros instrumentos legais preordenados à impugnação de atos judiciais, tais como o
mandado de segurança (CF, art. 5º, LXIX; Lei nº 12.016/2009), a ação rescisória (CE, art. 22, I,j; novo CP C, arts.
966-975), a reclamação (CF, art. 102, I, l, art. 105, I, f; novo CPC, arts. 988-993).
Se em sentido amplo o termo “recurso” denota todo meio usado pela parte litigante em defesa de seu direito,
tecnicamente apresenta sentido bem definido na ciência processual. Significa a expansão ou o desenvolvimento da
ação, que ingressa em uma nova fase. É por isso que se diz que o recurso se desenvolve na mesma relação jurídica
processual, não sendo, portanto, uma nova ação, tampouco dá origem a um novo processo.
À luz do Direito processual civil brasileiro, o eminente jurista Barbosa Moreira (2012, nº 135, p. 233) conceitua
recurso como “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o
esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.
Na lição de Baptista da Silva (1996, p. 345), recurso “é o procedimento através do qual a parte, ou quem esteja
legitimado a intervir na causa, provoca o reexame das decisões judiciais, a fim de que elas sejam invalidadas ou
reformadas pelo próprio magistrado que as proferiu ou por algum órgão de jurisdição superior”.
Já Marinoni e Arenhart (2007, p. 499) definem, de forma ampla, recurso como “os meios de impugnação de
decisões judiciais, voluntários, internos à relação jurídica processual em que se forma o ato judicial atacado, aptos a
obter deste a anulação, a reforma ou o aprimoramento”. Assinalam ser irrelevante que a reapreciação do ato
atacado se dê por órgão distinto daquele que o proferiu, já que inexiste “a necessidade de deslocamento da
competência para apreciação do recurso para órgão judiciário distinto daquele que proferiu a decisão impugnada”.
Esclarece Freitas Câmara (2012, p. 60-62) que pelo recurso se podem alcançar quatro resultados, a saber:
reforma, invalidação, esclarecimento e integração da decisão impugnada. Reforma haverá sempre que se detectar
error in judicando (erro de julgamento, de conteúdo) na decisão recorrida, ou seja, sempre que houver ferimento
ao Direito; nesse caso, a decisão do tribunal substituirá a impugnada. A invalidação pressupõe a ocorrência de
error in procedendo (erro de forma, de procedimento), caso em que a decisão recorrida será anulada e, pois,
desconstituída; por conseguinte, outra decisão deverá ser prolatada pelo juízo a quo. Na hipótese de
esclarecimento, a decisão recorrida é contraditória ou obscura; nessa situação, pretende-se que o juízo prolator da
decisão reexprima o que nela já havia afirmado, desta feita de forma clara e induvidosa. Por fim, na integração há
omissão na decisão, devendo a lacuna ser suprida; nessa situação, quer-se que o órgão judicial prolator da decisão a
reexprima, desta feita apreciando a questão sobre a qual se omitiu, o que implica reabertura da atividade decisória.

1.2 CLASSIFICAÇÃO
Pode o recurso ser classificado em total e parcial, principal e adesivo, ordinário e excepcional.
Qualifica-se como total o recurso que tem por objeto toda a matéria impugnável da decisão atacada, enquanto
parcial é aquele que versa parte dessa matéria; neste caso, a parcela não recorrida do decisum torna-se estável:
sobre ela ocorre preclusão ou coisa julgada. A presente classificação é respaldada pelo art. 1.002 do novo CP C,
segundo o qual “a decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”.
No tocante ao recurso parcial, adverte Amaral Santos (1989, p. 104) que “deverá o recorrente especificar no
ato da interposição qual a parte do ato decisório é impugnada, pois, assim não o fazendo, o recurso abrangerá todas
as suas conclusões”.
Chama-se recurso principal ou independente o interposto pela parte, independentemente da outra, com vistas à
salvaguarda de seus interesses, em consonância com as exigências legais. No entanto, havendo sucumbência
recíproca, ou seja, se forem vencidos autor e réu, o art. 997, § 1º, do novo CP C permite que ao recurso interposto
por uma das partes possa aderir a outra parte. Nesse caso, o recurso é denominado adesivo ou subordinado,
ficando sua tramitação dependente do recurso principal. Não se trata – assinalam Wambier et al. (2015, p. 997) –
de espécie de recurso, mas de uma “forma diferenciada de interposição”.
O recurso adesivo somente é admissível na apelação e nos recursos extraordinário e especial, devendo ser
“dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para
responder”. Dada sua subordinação, “não será conhecido se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível” (CP C/2015, art. 997, § 2º, I, II e III). Nos dois recursos devem-se observar as mesmas
regras de admissibilidade e julgamento no tribunal.
Já quanto aos recursos ordinário e excepcional, tem-se que o primeiro tem por objetivo tutelar a situação
jurídica da parte no processo, enquanto o segundo visa preservar a integridade do ordenamento jurídico ou a unidade
do Direito. Nesse sentido, esclarece Freitas Câmara (2012, p. 65) que são chamados ordinários “os recursos cujo
objeto imediato é a tutela do direito subjetivo, e excepcionais aqueles cujo fim imediato é a tutela do direito objetivo”.
Na primeira categoria encontram-se recursos como apelação, recurso eleitoral e recurso ordinário. Na segunda
estão os recursos especial e extraordinário.1
Partindo dessa distinção, assinalam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2016, p. 555) que o julgamento de um
recurso excepcional (extraordinário ou excepcional) constitui oportunidade para que o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça (e, portanto, também o TSE) “outorguem adequada interpretação ao direito,
adscrevendo significado ao discurso do legislador (aos textos constitucionais e legais), reduzindo com isso o grau de
indeterminação inerente ao direito”.
Uma antiga concepção classificava os recursos segundo a fonte, separando-os em ordinário e extraordinário.
Ordinários – explica Amaral Santos (1989, p. 103) – são todos os recursos instituídos pelo Código de Processo Civil;
“extraordinário será apenas o assim denominado e instituído pela Constituição”. Entretanto, esse critério
classificatório não tem valor no atual sistema processual. Isso porque a Constituição Federal prevê recursos a que
expressamente denomina ordinários, consoante se vê em seus arts. 102, II, 105, II. Por outro lado, os recursos
extraordinário e ordinário constitucionais contam com previsão também nos arts. 1.029 a 1.041 do novo Código de
Processo Civil.
1.3 PRINCÍPIOS
Os princípios recursais orientam a interpretação nesse setor do conhecimento jurídico. Entre outros,2 vale aludir
aos seguintes: duplo grau de jurisdição, taxatividade, unirrecorribilidade, fungibilidade, proibição de reformatio in
pejus, dialeticidade, colegialidade.
Duplo grau de jurisdição – reza esse princípio que o ato judicial desfavorável à parte, que lhe causar prejuízo
jurídico, deve ser revisto por outro órgão integrante do Poder Judiciário. Encontra-se ligado à ideia de justiça e ao
humano sentimento de inconformismo em relação a decisões desfavoráveis, além do risco (ou real possibilidade) de
o órgão julgador cometer erro.
Ademais, em termos práticos, a possibilidade de crítica e reexame da decisão faz que o órgão prolator seja
mais cauteloso ao examinar as questões levantadas nos autos, e também mais cuidadoso na fundamentação. Como
assevera Greco Filho (2012, p. 325), os vários graus de jurisdição existem não apenas porque os superiores podem
ter mais conhecimento ou sabedoria, mas sobretudo porque, em cada qual deles, o órgão jurisdicional vê o caso
concreto de maneira própria e, portanto, distinta. Por encontrar-se mais próximo do fato, o primeiro grau de
jurisdição tem a oportunidade de apreciar todos os pormenores concretos da causa, inclusive fatores de difícil
captação na frieza de um texto escrito, como expressões, reações e sentimentos manifestados por uma testemunha
quando de sua oitiva. Já o segundo grau, porque está mais distante dos fatos, pode ter uma visão mais adequada do
contexto dos acontecimentos e de outros casos análogos, além de aperfeiçoar a interpretação do direito.
Na doutrina tem-se sustentado inexistir direito fundamental ao duplo grau de jurisdição, porque ele não foi
expresso na Lei Maior. A esse respeito, assinala Tavares (2012, p. 750, 753, 759) ser correto dizer que a Lei Maior
prevê a existência de diversos juízos, distribuídos em diferentes instâncias e graus de jurisdição, dentro de uma
estrutura hierárquica própria. De igual modo, a Constituição prevê determinados recursos, como o ordinário, o
especial e o extraordinário. Entretanto, disso não surge “o chamado duplo grau de jurisdição como princípio
constitucional”. Em tese ou abstratamente, “não há o mandamento do duplo grau de jurisdição no sistema
constitucional pátrio atual [...]”. Até porque ele seria afastado pela existência de competência originária do Supremo
Tribunal Federal. Na verdade, o princípio em tela é incompatível com a previsão de competência originária para as
instâncias superiores jurisdicionais, cujas decisões são irrecorríveis para outros juízos.
No mesmo diapasão, depois de afirmar que a “norma constitucional não garante o direito de recorrer”,
assegura Marinoni (2007, v. 1, p. 319) que o legislador não está impedido “de estabelecer um procedimento que não
dê às partes o direito de recorrer contra o julgamento”. Para esse autor, o duplo grau constitui um mito, “não
podendo ser considerado um princípio fundamental de justiça, já que ele não garante a qualidade e a efetividade da
prestação jurisdicional”. Esclarece, ainda, que “nenhum ordenamento, nem na Itália nem em qualquer outro país –
nem mesmo na França, onde a ideia do double degré de jurisdiction parece estar particularmente arraigada –,
considera o duplo grau de jurisdição como uma garantia constitucional. Ao contrário, em quase todos os países
existem mitigações do duplo grau, justamente para atender ao princípio fundamental de acesso à justiça. [...]”.
Assim, em determinadas situações, nada impediria que o recurso seja suprimido em prol da efetividade do processo.
Pondere-se, todavia, que, embora não esteja inscrito de maneira expressa no rol dos direitos e garantias
fundamentais, o princípio em apreço é decorrência da previsão constitucional de tribunais de 2º grau dotados de
competência recursal. Ademais, ele é próprio do Estado Democrático de Direito, sendo emanação do devido
processo legal e das ideias de processo justo, contraditório e ampla defesa (CF, art. 5º, LIV e LV). Por assegurar à
parte um segundo juízo acerca da solução dada à causa, sua incidência reduz o risco de erro judicial e eleva os
índices de confiança e segurança do sistema jurídico. Por outro lado, a recorribilidade de decisões judiciais constitui
tradição incorporada no ordenamento jurídico brasileiro.
Como todo princípio jurídico, a realização do princípio do duplo grau de jurisdição pode ocorrer em diferentes
graus ou medidas, a depender da ponderação de circunstâncias fáticas e jurídicas.
Assim, o duplo grau de jurisdição pode ser excepcionado pela legislação infraconstitucional. Entre essas
exceções contam-se os embargos de declaração (que são julgados pelo mesmo órgão judicial prolator da decisão
recorrida) e as ações de competência originária do Supremo Tribunal Federal, cujas decisões são impugnáveis
perante o próprio Tribunal Supremo.
Taxatividade – por esse princípio, as espécies recursais devem ser expressamente estabelecidas em lei. Em
razão da competência privativa prevista no art. 22, I, da Lei Maior, somente à União é dado legislar sobre as
matérias processual e eleitoral, e, portanto, estabelecer recursos na seara eleitoral.
No Direito eleitoral, fora da esfera criminal, podem-se arrolar as seguintes espécies recursais:

primeira instância (juiz eleitoral) – recurso eleitoral, embargos de declaração, agravo de instrumento;
segunda instância (TRE) – recurso ordinário, recurso especial, embargos de declaração, agravo, recurso do art. 96, §
4º, da Lei nº 9.504/1997;
terceira instância (TSE) – recurso ordinário, recurso extraordinário, embargos de declaração, agravo, recurso do art.
96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997;
última instância (STF) – agravo regimental ou interno, embargos de declaração, embargos de divergência, embargos
infringentes.

Unirrecorribilidade – também chamado de unicidade ou singularidade, esse princípio estabelece o cabimento


de um único recurso para impugnar determinado ato processual. Ou melhor: determinado aspecto do ato judicial só
pode ser impugnado por um recurso. Note-se que o acórdão prolatado por Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional
Federal pode ser impugnado por recurso especial e por recurso extraordinário.3 Embora os dois recursos sejam
interponíveis contra o mesmo ato jurisdicional, possuem objetos distintos; e esses objetos só são impugnáveis por tais
recursos.
Fungibilidade – se a impugnação a um ato judicial só pode ser realizada por determinado recurso, a escolha
errada torna inviável o recurso efetivamente aviado. Nesse caso, porque incabível, o recurso equivocamente
interposto não deverá ser admitido.
Em alguns casos, entretanto, pode haver dúvida fundada acerca do recurso cabível. À luz da regra da primazia
do mérito inscrita no art. 4º do CP C/20154 e do princípio da instrumentalidade das formas, admite-se o
aproveitamento de um recurso erroneamente interposto. Em essência, é esse o significado do princípio da
fungibilidade. Consoante salientam Marinoni e Arenhart (2007, p. 504), esse princípio presta-se para que a parte não
seja prejudicada quando, “diante de dúvida objetiva, interpõe recurso que pode não ser considerado cabível. Nesses
casos, autoriza-se que o recurso incorretamente interposto seja tomado como o adequado, sob determinadas
circunstâncias [...]”.
Conquanto previsto em regime processual civil anterior (vide CP C/1939, art. 810), desde o CP C de 1973 não
há regra legal expressa o acolhendo. No entanto, ele pode ser extraído do sistema processual, notadamente: i) da
regra inscrita no art. 4º do CP C/2015, que determina a primazia da análise do mérito da causa; ii) do disposto no art.
10 do CP C/2015, que assegura o contraditório como influência e não surpresa5; iii) do art. 283, caput, do novo
CP C, segundo o qual “o erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser
aproveitados”, devendo-se aproveitar os “atos praticados, desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer das
partes” (parágrafo único).
Ademais, o princípio da fungibilidade foi expressamente inscrito no art. 579 do Código de Processo Penal,
segundo o qual: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro”.
Assim, se o juiz “reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com
o rito do recurso cabível” (parágrafo único).
Vê-se, pois, que a fungibilidade recursal decorre do regime do sistema processual, sendo pacificamente
admitida tanto na doutrina quanto na jurisprudência.
Sua configuração requer que o recorrente não esteja imbuído de má-fé. Para tanto, propugna-se o atendimento
dos seguintes requisitos: (i) existência de dúvida objetiva sobre o recurso cabível, a qual deve decorrer de
divergência na doutrina ou na jurisprudência acerca da questão – assim, a dúvida subjetiva do recorrente não o
favorece; (ii) inocorrência de erro grosseiro na interposição do recurso – isso ocorrerá, e. g., se houver expressa
previsão legal do recurso cabível.
Para uma corrente doutrinária, é preciso que o recurso concretamente aviado atenda “a todos os requisitos de
admissibilidade do que for adequado”. Entre outros autores, assim pensa Paixão Júnior (2002, p. 337). Na
jurisprudência, tem-se exigido que a interposição seja feita dentro do prazo previsto para o recurso correto – nesse
sentido: STJ, Ag no Ag nº 1097241/ SP, 4ª Turma, DJe 28.09.2010.
Esses entendimentos, todavia, não se afiguram razoáveis. Se o recorrente age sob o domínio do erro e existe
dúvida objetiva e fundada acerca do recurso verdadeiramente cabível, o correto seria exigir o atendimento dos
pressupostos do recurso efetivamente interposto. Caso contrário, o princípio da fungibilidade seria reduzido a mera
questão de nomenclatura, amesquinhando-se o máximo aproveitamento da atividade processual.
Nesse diapasão, salienta Freitas Câmara (2012, p. 76) que aplicar o princípio da fungibilidade implica admitir o
recurso interposto no lugar do que deveria ter sido ajuizado. Isso significa que o recurso a ser analisado é aquele
efetivamente apresentado, e não o entendido como correto. De maneira que o juízo de admissibilidade deve
considerar os pressupostos do recurso concretamente interposto, inclusive no que diz respeito ao prazo. Aduz o autor
que a aplicação do princípio em apreço “leva a que se admita a via utilizada, desde que presentes os seus próprios
requisitos de admissibilidade (e não os requisitos da outra via, que não foi empregada)”.
Proibição de reformatio in pejus – interposto recurso por somente uma das partes, proíbe-se que o julgamento
lhe piore ou agrave a situação. Isso porque o recurso é instrumento processual disponibilizado à parte para que esta
busque a melhoria de sua situação pela revisão da decisão impugnada. Há trânsito em julgado da parte não
impugnada da decisão, o que também impede sua revisão.
No âmbito das instâncias ordinárias, contudo, esse princípio não se aplica às matérias ditas de “ordem pública”
ou que a qualquer tempo possam ser conhecidas ex officio pelo órgão judicial. De sorte que, ainda que em prejuízo
da parte recorrente, pode o tribunal de 2º grau reconhecê-las e afirmá-las. Nesse sentido, é firme a jurisprudência:

[...] 1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não se cogita a ocorrência de reformatio in
pejus quando a alteração da sentença, em sede de remessa necessária ou recurso voluntário, se dá em razão de
matéria de ordem pública. 2. Agravo regimental não provido” (STJ, AgRg no REsp nº 1261397/MA, 1ª T., Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, DJe 03.10.2012).

[...] 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões de ordem pública, sem que isso implique julgamento
extra petita ou reformatio in pejus. Precedentes do STJ. 5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra
guarida, consoante prescreve o art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém, que a instância recursal seja aberta, o que
ocorre quando o apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. 6. Agravo regimental não provido” (STJ,
AgRg no AgRg no REsp nº 1218791/PE, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 12.09.2011).

Devido à obrigatoriedade de observância do contraditório (ou proibição da surpresa), antes de decidir, deve o
órgão judicial conferir à parte oportunidade de se manifestar sobre o ponto ou a questão. A esse respeito, estabelece
o art. 10 do novo CP C: “O juiz não pode decidir,em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício.”
Já no âmbito das instâncias excepcionais – ou seja, nos recursos especial e extraordinário –, há muito se firmou
o entendimento de não ser isso possível. É que, em razão da necessidade de prequestionamento da questão de direito
debatida, afigura-se inviável o conhecimento ex officio de matéria de ordem pública sobre a qual o tribunal recorrido
não tenha se pronunciado. Nesse sentido: TSE, AgRg-REspe nº 14458/MT,DJe 20.05.2013, p. 39-40; STJ, AgRg
no REsp nº 1276193/RS, 3ª T., Rel. Sidnei Beneti, DJe 17.04.2012.
No entanto, sob o CP C de 2015, essa última posição tende a não prevalecer. Isso em razão do disposto nos
arts. 485, § 3º, e 1.034 do novo Código Processual. Pelo primeiro, as matérias que especifica podem ser conhecidas
“em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”.6 Por seu turno, o art.
1.034, caput, determina às Cortes excepcionais que julguem o processo “aplicando o direito”. Disposição
semelhante consta da Súmula 456 do STF, segundo a qual “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso
extraordinário, julgará a causa, aplicando o Direito à espécie”. Ora, a aplicação do direito à espécie enquanto não
ocorrer trânsito em julgado do decisum implica a consideração da matéria de ordem pública não arguida pelas partes
nem conhecida nas instâncias ordinárias. Sobre isso, há interessante passagem na Exposição de Motivos do novo
CPC:

Significativas foram as alterações, no que tange aos recursos para o STJ e para o STF. O Novo Código contém
regra expressa, que leva ao aproveitamento do processo, de forma plena, devendo ser decididas todas as razões que
podem levar ao provimento ou ao improvimento do recurso.

Dialeticidade – todo recurso tem o objetivo de convencer o órgão jurisdicional a que é endereçado acerca da
correção da tese que veicula e da solução que apresenta à questão arguida. Sua natureza é eminentemente dialética,
argumentativa e, pois, racional. Pressupõe o diálogo entre as partes, que devem sempre apresentar fundamentos
para suas razões, demonstrar as teses que desenvolvem. Pelo recurso, o diálogo é estendido à instância ad quem,
que, após se inteirar dos fundamentos apresentados pelas partes, decidirá a questão. O diálogo, portanto, não deve
ser surdo, mas sim frutuoso.
Nesse diapasão, acentua Cheim Jorge (2011, p. 221) não bastar a mera insurgência contra a decisão
impugnada. Não é suficiente que o recorrente manifeste vontade de recorrer, devendo também “demonstrar o
porquê de estar recorrendo, alinhando as razões de fato e de direito pelas quais entende que a decisão está errada,
bem como o pedido de nova decisão”. Só assim poderá o “órgão julgador alcançar e identificar quais os limites da
impugnação fixados no recurso”. Mas não apenas o órgão julgador: também a defesa deve conhecer os limites e os
fundamentos da impugnação, de maneira a que possa proficuamente contrariá-los, contrapô-los com as suas próprias
razões. Nisso, aliás, reside a essência do princípio do contraditório.
A desatenção ao princípio em exame implica a inadmissão do recurso por falta de regularidade formal. A
propósito, dispõe a Súmula TSE nº 27: “É inadmissível recurso cuja deficiência de fundamentação impossibilite a
compreensão da controvérsia”.
Colegialidade – os tribunais são compostos por órgãos colegiados. Em princípio, devem os recursos ser
julgados por tais órgãos. Com isso, amplia-se o debate, aumenta-se a probabilidade de a decisão ser mais ponderada
e objetiva, reduzindo-se o risco de casuísmos e subjetivismos no julgamento. Apenas excepcionalmente, em casos
previstos expressamente em lei (vide CPC, art. 932, III a V), o julgamento pode ocorrer monocraticamente.

1.4 ADMISSIBILIDADE E MÉRITO RECURSAL


A apreciação de um recurso envolve a realização de dois juízos sucessivos: um acerca de sua admissão e outro
a respeito de seu mérito. Tais juízos realizam-se em etapas distintas do iter recursal. O juízo de admissibilidade é
sempre preliminar e condicionante da apreciação do mérito ou pedido formulado no recurso, de sorte que este só é
julgado se o recurso for admitido.
De modo geral, o juízo de admissibilidade é feito em dois momentos. O primeiro ocorre por ocasião da
interposição do recurso, sendo ultimado pelo órgão judicial cuja decisão se impugna, o chamado juízo a quo ou
recorrido. O segundo se dá perante o órgão competente para julgá-lo, i.e., o órgão ad quem. Consoante salienta
Freitas Câmara (2012, p. 67), já com a interposição do recurso

[...] inicia-se a sua apreciação, o que se faz com a realização do juízo de admissibilidade. Esse pode ser definido
como a fase do julgamento do recurso em que se verifica a presença ou não dos requisitos de admissibilidade do
mesmo, revelando-se como preliminar do juízo de mérito.

Uma vez apresentado, o órgão recorrido analisará os pressupostos de cabimento do recurso, podendo ou não
admiti-lo (recebê-lo, conhecê-lo). Admitindo-o, deverá determinar a intimação da contraparte para apresentação de
contrarrazões. Sob à luz destas, a admissibilidade do recurso poderá ser reapreciada.
Sendo o recurso admitido ou recebido, é enviado ao órgão competente para julgá-lo, em que sua admissibilidade
submete-se a novo crivo.
Nessa esfera, o recurso é distribuído a um relator. A este foram atribuídos vários poderes, podendo exercê-los
singularmente, ou seja, independentemente do órgão colegiado a que pertence.
O relator sorteado poderá não conhecer e, pois, negar seguimento a “recurso inadmissível, prejudicado ou que
não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida” (CP C/2015, art. 932, III). Mas, antes
de considerar o recurso inadmissível, o relator tem de conceder “o prazo de cinco dias ao recorrente para que seja
sanado vício ou complementada a documentação exigível” (CPC/2015, art. 932, parágrafo único).
Vale registrar que o juízo negativo de admissibilidade impede que o mérito recursal seja apreciado pelo órgão
colegiado.
Por outro lado, admitido o recurso pelo relator, este poderá, em decisão singular, desde logo apreciar o seu
mérito. Deverá, então:

“negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência” (CPC/2015, art. 932, IV).
“depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;b) acórdão proferido
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;c)
entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”
(CPC/2015, art. 932, V).

Nesses dois casos, portanto, é o próprio relator quem decide o mérito do recurso.
Fora dessas hipóteses, o relator deverá admitir e dar seguimento ao recurso para que seja julgado pelo órgão
colegiado a que pertence.
Frise-se que o órgão ad quem somente aprecia o mérito recursal (i. e., o pedido formulado no recurso) após
vencida a fase anterior, atinente à admissão. A admissibilidade constitui matéria preliminar.
Dispõe o caput do art. 938 do novo CPC: “A questão preliminar suscitada no julgamento será decidida antes do
mérito, deste não se conhecendo caso seja incompatível com a decisão [...].” E também o art. 939: “Se a preliminar
for rejeitada ou se a apreciação do mérito for com ela compatível, seguir-se-ão a discussão e o julgamento da
matéria principal, sobre a qual deverão se pronunciar os juízes vencidos na preliminar.”
Não se deve, pois, confundir o mérito do recurso com o mérito da causa. Esse último é determinado na petição
inicial pelo autor da demanda e envolve sempre questão de direito material. Já no recurso o mérito consiste no que
se impugna na decisão recorrida. Aqui o que se postula é um novo julgamento para reformar, anular, integrar ou
aperfeiçoar a decisão de que se recorre; esse pedido constitui o mérito recursal e pode ou não se referir a uma
questão de direito material. Assim, o mérito do recurso pode ser mais restrito que o mérito da causa, podendo até
mesmo ser diverso, como ocorre na hipótese em que o objeto recursal é constituído por questão processual. Para
exemplificar, pense-se na hipótese em que o pedido formulado no recurso consiste na invalidação da sentença, ou no
reconhecimento de ausência de pressuposto processual ou condição da ação. Nesses exemplos, é óbvio que a
pretensão recursal é diferente do objeto da ação, ou seja, do pedido formulado na petição inicial. Conforme ensina
Theodoro Júnior (2012, p. 595):

Às vezes a pretensão de invalidação da sentença, formulada pelo recorrente, envolverá questão puramente
processual. Seu julgamento, porém, não será de preliminar, mas de mérito, mérito não da causa e sim do recurso.
Preliminares do recurso são apenas as questões que antecedem a apreciação do pedido contido no próprio recurso,
são as que se localizam no juízo de admissibilidade.

Deveras, as questões preliminares do recurso ligam-se ao juízo de admissibilidade, identificando-se com os


pressupostos recursais. Como afirmam Wambier et al. (2015, p. 1.335): “As preliminares do recurso são,
fundamentalmente, as matérias atinentes à sua admissibilidade, tempestividade, legitimidade para recorrer,
adequação do recurso, interesse (existência de sucumbência, salvo no caso de embargos de declaração) etc.”
Havendo mais de uma questão preliminar a ser apreciada, impõe-se ordená-las logicamente, de tal sorte que se
conheçam e julguem antes as que sejam prejudiciais às outras.
O mérito recursal pode conter argumentos de caráter formal-processual e/ou de direito material. Se houver
vários argumentos, também aqui há mister colocá-los em ordem lógica. Nesse diapasão, o mérito do recurso pode
conter questões: (a) exclusivamente de caráter formal-processual, (b) exclusivamente de direito material e (c)
desses dois tipos, isto é, formal-processual e material. A análise e enfrentamento dos argumentos de natureza
formal-processual deve sempre preceder a dos materiais. Havendo mais de um argumento, devem-se conhecer e
solucionar primeiro aqueles cuja afirmação prejudique o conhecimento e julgamento dos demais; portanto, os
argumentos “prejudiciais” devem ser analisados logo no início.
A esse respeito, figure-se recurso em que se apresentem os seguintes argumentos: 1) intempestividade em sua
interposição; 2) falta de capacidade postulatória do recorrente; 3) carência de ação por ilegitimidade ativa; 4)
decadência do direito de ação; 5) afirmação do direito “x”; 6) negação do direito “x”. Em que ordem devem eles ser
enfrentados? Os argumentos 1 e 2 configuram preliminares do recurso , porque referem-se à sua admissão; logo,
devem ser analisados em primeiro lugar; entre eles, o de número 2 deve ser apreciado antes, porque se a parte não
detém capacidade postulatória seu recurso é inexistente e, nesse caso, sequer se pode cogitar de sua
tempestividade. Deveras, se o ato sequer existe juridicamente, não se coloca a questão atinente à sua regularidade.
Já os argumentos 3, 4, 5 e 6 compõem o mérito recursal, de maneira que só serão analisados se as preliminares 1 e
2 forem rejeitadas. Se isso ocorrer, cumpre examinar ab initio os argumentos de números 3 e 4, para só depois –
caso sejam rejeitados – ingressar na análise do direito material.

1.5 PRESSUPOSTOS RECURSAIS


Para que um recurso seja admitido há mister que se apresentem alguns pressupostos, condições ou requisitos.
Se esses estiverem presentes, será o recurso conhecido, o que enseja a análise de seu mérito. Em outros termos, se
for positivo o juízo de admissibilidade do recurso, este se torna apto para ter seu conteúdo (pedido recursal ou
mérito) examinado e julgado pelo órgão ad quem. Os termos “receber”, “admitir” e “conhecer” são comumente
empregados como sinônimos para expressar esse fenômeno.
Não há consenso doutrinário acerca da classificação dos pressupostos recursais. Marinoni e Arenhart (2007, p.
507 e ss.), baseando-se em critério muito difundido na doutrina, os divide em intrínsecos (cabimento, interesse
recursal, legitimidade recursal, inexistência de fato extintivo do direito de recorrer) e extrínsecos (regularidade
formal, tempestividade, preparo, inexistência de fato impeditivo do direito de recorrer ou do seguimento do recurso).
A seu turno, Amaral Santos (1989, p. 85 e ss.) analisa-os como pressupostos subjetivos (respeitantes à pessoa do
recorrente, a saber: interesse e legitimidade recursais) e pressupostos objetivos (relativos ao recurso em si mesmo,
a saber: recorribilidade do ato decisório, tempestividade, singularidade, adequação, preparo). Seguindo essa última
formulação, Theodoro Júnior (2012, p. 599) acrescenta-lhe os pressupostos objetivos atinentes a motivação e a
forma. Já Freitas Câmara (2012, p. 71 e ss), à consideração de que a interposição de recurso constitui exercício de
poder de ação e implica o desenvolvimento do processo em uma nova fase, apresenta uma classificação adaptada
aos conceitos de condições da ação e pressupostos processuais, falando assim em condições dos recursos
(legitimidade para recorrer, interesse em recorrer, possibilidade jurídica do recurso) e pressupostos recursais
(órgão ad quem investido de jurisdição, recorrente com capacidade processual e regularidade formal do recurso).
Todas essas classificações enfocam o tema em apreço com propriedade e clareza. Apenas por opção
metodológica, na sequência deste texto preponderará a que foi apresentada em primeiro lugar.

1.5.1 Pressupostos recursais intrínsecos


Os pressupostos intrínsecos dizem respeito à existência do direito ou poder de recorrer. São os seguintes:
cabimento, interesse, legitimidade, inexistência de fato extintivo do direito de recorrer.
Cabimento – é a relação entre um ato judicial e um meio legal específico de impugnação. Um recurso somente
é cabível, dizem Marinoni e Arenhart (2007, p. 507) “quando a lei processual indicar-lhe – diante de determinada
finalidade específica e certo ato judicial – como o adequado para extravasar a insurgência”.
Interesse – liga-se à sucumbência, ou seja, à situação de derrota numa demanda judicial. Refere-se, pois, à
necessidade e utilidade do recurso para que a parte sucumbente possa ter rediscutido seu direito e reparada a perda
ou o gravame que entende ter sofrido em seu patrimônio jurídico. É preciso que o objeto do recurso repercuta na
esfera jurídica da parte recorrente, propiciando-lhe alguma vantagem ou utilidade. E para que essa vantagem seja
alcançada se faz necessário o uso da via recursal.
Legitimidade – diz respeito à pertinência subjetiva da relação jurídica. Como ensina Theodoro Júnior (2012, p.
597), a “legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição que o inconformado já ocupava como sujeito
da relação processual em que se proferiu o julgamento a impugnar”. Assim, em geral, têm legitimidade para interpor
recurso eleitoral a parte vencida, o litisconsorte e o assistente. Na qualidade de custos legis, o Ministério Público
Eleitoral também é sujeito da relação processual, e nessa qualidade ostenta legitimidade recursal (CF, art. 127,
caput; CPC/2015, arts. 118, 121 e 996).
Inexistência de fato extintivo do direito de recorrer – refere-se à inocorrência de situações que extinguem
o direito de recorrer, tais como a renúncia ao recurso e a aceitação da decisão.
Renúncia é ato unilateral, expresso, que independe do consentimento da outra parte (CP C/2015, art. 999). Ela
só pode ocorrer após a publicação da decisão e antes da interposição do recurso, pois depois desse ato a hipótese
seria de desistência.
Já a aceitação da decisão pode ser expressa ou tácita. Nos termos do parágrafo único do art. 1.000, caput, do
CP C/2015: “Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de
recorrer.” Como exemplo de aceitação tácita cite-se o cumprimento imediato – sem reserva – da decisão. Havendo
reserva ou ressalva, mantém-se hígido o direito de recorrer; nesse caso, a parte cumpre a decisão, não podendo o
cumprimento ser interpretado como aceitação.

1.5.2 Pressupostos recursais extrínsecos


Os pressupostos extrínsecos referem-se ao próprio recurso ou ao modo de exercer o direito ou poder de
recorrer. São os seguintes: regularidade formal, tempestividade, preparo, inexistência de fato impeditivo do direito de
recorrer ou do seguimento do recurso, órgão ad quem investido de jurisdição e capacidade processual do recorrente.
Regularidade formal – são exigências legalmente postas para a formalização do exercício do direito de
recorrer. Assim, por exemplo: a apresentação de petição escrita e assinada pelo representante judicial da parte, a
exposição dos fundamentos fáticos e jurídicos, a demonstração de cabimento no recurso especial.
Cuidando-se de processo eletrônico, a peça processual deve ser assinada eletronicamente. Para tanto, o
advogado ou procurador da parte tem de possuir certificação digital por meio da ICP-Brasil (Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira), de maneira a viabilizar sua necessária e indubitável identificação.
Desde que o advogado titular do certificado digital utilizado possua procuração nos autos, ainda que juntada
posteriormente, nos termos do art. 76 do CP C/2015, é “irrelevante que na petição esteja ou não grafado o seu
nome” (STJ – AgRg no AREsp nº 845799/SP – 3ª T. – Rel. Min. Moura Ribeiro –DJe 11-4-2017). Apesar do
nome do titular do certificado digital não constar da petição, é ele que se vincula à petição que assinou
eletronicamente.
Tempestividade – significa o atendimento do prazo especificado em lei para a interposição do recurso. Não é
admissível recurso protocolado fora do prazo, o qual, por isso, não terá seu mérito apreciado.
Vale registrar o pacífico entendimento jurisprudencial segundo o qual a tempestividade do recurso deve ser
aferida perante o tribunal com jurisdição e competência para conhecer e julgar a matéria, sendo irrelevante que ele
tenha sido protocolado tempestivamente, porém em tribunal diverso.

I. Não se exime da intempestividade a circunstância de o recurso ter sido, no prazo, protocolado erroneamente em
tribunal incompetente. II. É direito da parte vencedora, para sua segurança, ter certeza de que, no prazo legal,
perante o órgão judiciário competente, foi ou não impugnada a decisão. III. Não logrando a parte agravante trazer
argumentos hábeis a ensejar a modificação da decisão impugnada, fica ela mantida por seus fundamentos (STJ,
AgRg no Ag nº 327262/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 24.09.2001, p. 316).
Em igual sentido: STJ, AgRg no Ag nº 933179/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 30.11.2007, p. 429.

Preparo – refere-se ao depósito prévio, pelo recorrente, dos gastos com a tramitação do recurso. Ocorre que
as ações eleitorais não têm valor, são gratuitas, porque referem-se a “atos necessários ao exercício da cidadania”
(CF, art. 5º, LXXVII; Lei nº 9.265/1996, art. 1º). Assim, não há preparo nos recursos eleitorais.
Inexistência de fato impeditivo do direito de recorrer ou do seguimento do recurso – a ocorrência de
certos fatos impede o direito de recorrer. Nesse caso, embora existente, tal direito fica obstado. Segundo Marinoni e
Arenhart (2007, p. 512), no Direito brasileiro podem-se apontar duas situações que geram essa consequência, a
saber: a desistência do recurso e “o não pagamento de algumas multas previstas pelo Código de Processo Civil”.
Quanto à desistência, dispõe o art. 998, caput, do CP C/2015 que “O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem
a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”. O dispositivo é expresso ao permitir a desistência
“a qualquer tempo”. Mas isso só poderá ocorrer até antes do início do julgamento do recurso, caso em que “há
extinção do processo com julgamento do mérito, prevalecendo a decisão imediatamente anterior” (STJ, REsp nº
555139/CE, 2ª T., DJ 13.06.2005, p. 240).
Embora seja desdobramento da ação, cumpre não confundir a desistência do recurso com a desistência da
ação. Esta última provoca a extinção do processo sem julgamento do mérito. Por isso, em atenção ao direito de
defesa e ao devido processo legal, oferecida contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir
da ação (CP C/2015, art. 485, VIII e § 4º). Mas, uma vez prolatada a sentença, não mais é possível haver
desistência da ação.

Ação. Desistência. A desistência da ação pressupõe não haver sido proferida, ainda, sentença de mérito, sendo que,
contestada, requer o consentimento do réu. À manifestação de vontade da parte não podem ser conferidos
contornos equiparáveis a verdadeira rescisória sem ocorrência do segundo juízo, ou seja, voltado a decisão que, no
julgamento da lide, substitua a anterior (STF, RE nº 163976 ED/MG, 2ª T., Rel. Min. Marco Aurélio,DJ
26.04.1996).
[...] 3. Não se admite o pedido de desistência da ação quando formulado pelo recorrido após ter sido proferida
sentença de mérito. Precedentes do STF e do STJ (TSE, AgR-REspe nº 20483/SP, PSS 25.09.2012).

No tocante à multa, cite-se como exemplo a hipótese dos §§ 4º e 5º do art. 1.021 do CP C/2015. Por esses
parágrafos, quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação
unânime, poderá o agravante ser condenado a pagar multa, ficando a interposição de qualquer outro recurso
“condicionada ao depósito prévio do valor da multa”.
Outrossim, os recursos excepcionais sujeitam-se a pressupostos específicos de cabimento, além, é claro, dos já
assinalados. Nos recursos extraordinário e especial, cumpre ao recorrente prequestionar as questões constitucional
e federal, respectivamente. No recurso extraordinário, há mister demonstrar a repercussão geral da questão
debatida. Por fim, no recurso especial fundado em divergência jurisprudencial é preciso que a parte demonstre a
ocorrência de dissídio jurisprudencial.
Órgão ad quem investido de jurisdição – há mister que o órgão judicial seja dotado de poder jurisdicional
para conhecer e julgar o pedido que lhe é encaminhado. O poder jurisdicional, no caso, liga-se à distribuição feita
imediatamente pela Constituição Federal. Assim, e. g., se o recurso eleitoral for dirigido ao Tribunal de Justiça ou se
o recurso especial eleitoral for endereçado ao Superior Tribunal de Justiça, não têm tais tribunais jurisdição eleitoral,
razão pela qual deverão os respectivos recursos ser extintos. Não se trata de falta de competência ou de
incompetência absoluta, já que os aludidos tribunais não detêm jurisdição eleitoral.
Capacidade processual do recorrente – a capacidade processual reparte-se em três, a saber: capacidade de
ser parte, capacidade de estar em juízo e capacidade postulatória. A primeira é reflexo da capacidade de direito do
Direito privado, e toda pessoa, física ou jurídica, “é capaz de direitos e deveres na ordem civil” (CC, art. 1º). A
segunda, denominada legitimatio ad processum, é reflexo da capacidade de fato ou de exercício, conforme os arts.
3º e 4º do Código Civil e arts. 70 e 71 do novo CP C. A terceira, capacidade postulatória, consiste na faculdade de
atuar em juízo, sendo privativa de advogados privados e públicos, defensores públicos e membros do Ministério
Público.
Note-se que esses pressupostos são referentes à própria relação jurídica processual. A falta de algum deles na
fase recursal pode significar a ausência de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo.
Eventualmente, isso pode prejudicar o trâmite do recurso, quer seja com a suspensão do processo até que a situação
seja regularizada, quer seja com a própria extinção do processo (CP C/2015, art. 76, § 2º, 313, §§ 1º e 3º, e art.
1.004).
No tocante à capacidade postulatória, o CP C/2015 prevê em seu art. 76, § 2º, que, caso seja detectada sua
ausência na fase recursal, “o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício”.
O saneamento do vício poderá consistir na simples juntada de procuração nos autos. O descumprimento dessa
determinação em fase recursal implica o não conhecimento do recurso ou o desentranhamento das contrarrazões,
conforme a providência caiba, respectivamente, ao recorrente ou ao recorrido.
O teor imperativo do referido art. 76 (“o juiz suspenderá”) mostra que não se está diante de faculdade do
relator do processo no tribunal, sendo, antes, seu dever conceder prazo para que o vício seja sanado. Diante disso, o
enunciado da Súmula 115 do STJ (“Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos”) terá de passar por uma releitura. Essa norma só poderia ser aplicada na hipótese de a parte
não regularizar sua representação processual no prazo assinalado pelo órgão judicial.7

1.6 EFEITOS DO RECURSO


Efeitos de um ato jurídico são as consequências ou os resultados que ele produz. Essa noção é adequada ao
recurso, que, na verdade, é um ato jurídico praticado no processo, um ato jurídico processual.
Diversas são as consequências decorrentes do ato de interposição de recurso. Os efeitos se dão tanto na
esfera jurídica das partes como no plano processual. Entre outros, destacam-se os seguintes: obstar a coisa julgada,
devolutivo, suspensivo, translativo, substitutivo e expansivo.
Obstar a coisa julgada – a interposição de recurso evidencia que a parte não está inerte na relação
processual, tampouco satisfeita com a decisão. O ato de recorrer tem por resultado afastar a preclusão e impedir a
formação de coisa julgada material. Com isso, a decisão impugnada não se reveste da aura que a torna imutável ou
indiscutível (CPC/2015, art. 502), o que só ocorrerá ulteriormente.
Todo recurso apresenta esse efeito. Mas para que ele surja há mister de que o recurso seja admitido. Caso
contrário, diz Freitas Câmara (2012, p. 82), sendo “negativo o juízo de admissibilidade, tal decisão terá conteúdo
meramente declaratório, e o trânsito em julgado já terá ocorrido anteriormente à decisão que deixou de admitir o
recurso”.
Devolutivo – por esse efeito, a matéria impugnada pelo recorrente é transmitida, transferida ou entregue à
apreciação de órgão diverso (juízo ad quem) daquele que prolatou a decisão impugnada (juízo a quo); isso com
vistas à realização de novo exame e obtenção de novo pronunciamento jurisdicional.
Excepcionalmente, porém, a matéria impugnada será transferida para o mesmo órgão prolator da decisão
impugnada – é o que ocorre nos embargos declaratórios.
O efeito devolutivo apresenta dupla faceta ou duas dimensões, a saber: horizontal e vertical. Enquanto a
primeira diz respeito à sua extensão, a segunda refere-se à sua profundidade.
Sob o aspecto horizontal ou de extensão, o efeito devolutivo liga-se aos princípios dispositivo e tantum
devolutum quantum appellatum, de maneira que a apreciação do tribunal circunscreve-se à matéria ou aos temas
impugnados na decisão recorrida (CPC/2015, art. 1.013, caput); ou seja, limita-se ao pedido de nova decisão tal qual
especificado pelo recorrente no pedido recursal. Portanto, é o autor do recurso que demarca o espaço de cognição
do juízo ad quem. O pedido recursal é vinculante para o tribunal, que deve ater-se a ele, sob pena de julgar ultra ou
extra petita.
No entanto, dessa regra excetuam-se as matérias de ordem pública, pois podem ser conhecidas de ofício em
qualquer tempo e grau de jurisdição (vide CP C/2015, arts. 337, § 5º, e 485, § 3º). Essas matérias encontram-se no
âmbito do efeito translativo dos recursos.
Por outro lado, sob o aspecto vertical ou de profundidade, é amplo o espaço de cognição do juízo ad quem, pois
lhe são transferidos todos os fundamentos do pedido recursal. Assim, o tribunal poderá apreciar todos os fatos e
razões que foram ou poderiam ter sido considerados pelo juízo a quo; inclusive – assinalam Marinoni e Arenhart
(2007, p. 514) –, poderia o tribunal avaliar fundamentos “que não hajam sido expressamente referidos nas razões do
recurso interposto”. Nesse sentido: (i) poderá o tribunal conhecer e julgar “todas as questões suscitadas e discutidas
no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro”; (ii) se o pedido ou a defesa tiver “mais de um
fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais”
(CPC/2015, art. 1.013, §§ 1º e 2º).
E mais: pelo § 3º do art. 1.013 do CP C/2015, poderá o tribunal conhecer e julgar direta e imediatamente o
mérito de matéria que sequer passou pelo crivo do juízo a quo. Reza aquele dispositivo:

Art. 1.013 A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. [...]


§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:
I – reformar sentença fundada no art. 485;
II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir;
III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

No transcrito inciso I, tem-se a hipótese de extinção da fase cognitiva do processo sem resolução do mérito
(CP C/2015, arts. 354 e 485), em que a sentença é terminativa. Cuida-se aqui da chamadacausa madura para
julgamento, assim considerada a que independe de produção de prova ou aquela cuja prova já se encontra
integralmente acostada aos autos. Note-se, porém, que tal julgamento só é viável se realmente for desnecessária a
produção de prova; caso contrário, violar-se-ia o devido processo legal.
Por sua vez, o § 4º do art. 1.013 do novo CP C estabelece: “Quando reformar sentença que reconheça a
decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar
o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.”
Além disso, o § 1º do art. 938 do CP C/20158 permite que no âmbito do próprio tribunal seja emendada nulidade
sanável, sem que os autos do processo retornem ao juízo recorrido. Para tanto, poderá determinar a realização ou
renovação do ato processual tido por inválido. Cumprida a diligência, prosseguir-se-á na tramitação do recurso.
Suspensivo – por esse efeito, a decisão impugnada é impedida ou privada de produzir as consequências nela
estabelecidas até o transcurso do prazo recursal e, interposto recurso, até que este seja apreciado e o acórdão
respectivo devidamente publicado. Assim, impede-se a execução da providência veiculada na decisão recorrida,
ainda que em caráter provisório.
Note-se que o efeito inibitório da plena eficácia do decisum decorre de sua recorribilidade, ou seja, exsurge da
possibilidade legal de se recorrer dele. Quanto a isso, lembra Freitas Câmara (2012, p. 84) que, em verdade, o efeito
suspensivo não se produz com a interposição do recurso, pois

[...] as decisões sujeitas a “recurso suspensivo” já não produzem efeitos desde o momento em que proferidas. A
interposição do recurso não impede sua eficácia, mas tão somente prolonga o estado de ineficácia em que aquelas
decisões se encontram. Em outros termos, a interposição de “recurso suspensivo” apenas faz subsistir o óbice à
produção dos efeitos da decisão que existia desde o momento em que a mesma foi proferida. É nesse sentido que se
afirma, em boa doutrina, que o efeito suspensivo não é efeito da interposição do recurso, mas sim efeito da
recorribilidade. O que se quer dizer é que o mero fato de a decisão ser recorrível através de “recurso suspensivo”,
isto é, estar sujeita a recurso dotado desse efeito, já é capaz de impedir a produção de seus efeitos. Uma vez
interposto o recurso, esse estado de ineficácia permanece até o julgamento da impugnação. Decorrido o prazo
previsto em lei sem que o recurso seja interposto, a decisão poderá, aí sim, passar a produzir efeitos.

No sistema processual comum, vige a regra geral inscrita na primeira parte do caput do art. 995 do CP C/2015,
consoante a qual “os recursos não impedem a eficácia da decisão”. Assim, a regra geral é no sentido de que a
decisão produzirá efeitos concretos ou empíricos tão logo seja oficialmente publicada. No entanto, conforme a
ressalva constante da segunda parte daquele dispositivo, a eficácia da decisão ficará suspensa em virtude de
“disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso”.9
A esse respeito, ressaltam Wambier et al. (2015, p. 1.426):

Sabe-se que este efeito, dito suspensivo, impede a eficácia da decisão quando esta é positiva, ou seja, determina
uma providência, constitui uma relação jurídica, condena alguém a pagar. No entanto, se a decisão for de
improcedência, e se a ocorrência do dano decorrente da ausência do provimento pleiteado, pode o recorrente pedir
antecipação da tutela recursal com os mesmos fundamentos: risco de dano e probabilidade de provimento do
recurso.
Não há como afastar essa possibilidade, como decorrência de inafastável aplicação do princípio da isonomia, ainda
que não prevista expressamente na lei.

O Direito eleitoral contém idêntica regra geral, de modo que, em princípio, os recursos eleitorais não têm efeito
suspensivo. A tal respeito, reza o caput do art. 257 do Código Eleitoral: “os recursos eleitorais não terão efeito
suspensivo”.
Entretanto, há ressalvas a essa regra geral previstas no § 2º do mesmo art. 257 do CE (introduzido pela Lei nº
13.165/2015). Por esse dispositivo, será recebido pelo tribunal competente com efeito suspensivo o recurso ordinário
(não excepcional) interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte
em: i) cassação de registro; ii) afastamento do titular; iii) perda de mandato eletivo.
O art. 216 do CE também veicula uma hipótese de efeito suspensivo de recurso, constituindo, portanto, exceção
ao citado § 2º, art. 257, CE.10
Translativo – certas matérias podem ser conhecidas e julgadas pelo órgão judicial sem que haja arguição pela
parte. Podem ser apreciadas propter officium em qualquer tempo e grau de jurisdição. Entre outras (vide
CP C/2015, arts. 337, § 5º, e 485, § 3º), é o que ocorre com nulidade de citação, incompetência absoluta, coisa
julgada, falta de capacidade postulatória, intempestividade de recurso.
Pelo denominado efeito translativo, tais matérias são transladadas ou transferidas à apreciação do tribunal,
independentemente de alegação da parte interessada nas razões ou nas contrarrazões recursais. A transladação é
autorizada pelos arts. 337, § 5º, e 485, § 3º, do novo CPC.
No entanto, respeitável doutrina considera que a possibilidade de apreciação na instância ad quem de questões
de ordem pública não debatidas no juízo a quo liga-se à dimensão de profundidade do efeito devolutivo. Sobre isso,
assinalam Wambier et al. (2015, p. 1.447):

A possibilidade de se levantarem questões de ordem pública que não tenham sido objeto de discussão no juízo a
quo sempre foi ligada, tradicionalmente, à dimensão da profundidade do efeito devolutivo. E este aspecto
continua sendo relevante à luz do NCP C, pois se ninguém alegou e não houve decisão, não haveria mesmo como
existir recurso. No entanto, o tribunal desta matéria pode conhecer.

Por outro lado, para alguns autores, o indigitado efeito translativo constituiria na verdade um princípio,
denominado princípio inquisitório. Nesse sentido é a lição de Cheim Jorge (2011, p. 266): “O princípio inquisitório,
como o próprio nome sugere, é aquele através do qual se permite, especialmente na esfera recursal, que o juiz
conheça de questões que não foram pelas partes impugnadas em seu recurso.”
De todo modo, vale salientar que o pronunciamento ex officio do tribunal pressupõe que o recurso tenha sido
admitido.
E mais: em razão da obrigatória observância do contraditório (ou proibição da surpresa), inexistindo debate
acerca da questão, antes de decidir, deve o órgão judicial conferir à parte oportunidade de se manifestar. É nesse
sentido o art. 10 do CPC.
Substitutivo – a decisão do tribunal ad quem substitui a do juízo recorrido. Isso ocorre ainda que o recurso seja
parcial, ou seja, abranja uma parcela da decisão; nesse caso, a substituição ocorre apenas quanto à parte que foi
objeto do recurso.
Denominado substitutivo, esse efeito é previsto no art. 1.008 do novo CP C, que reza: “O julgamento proferido
pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso.”
Observe-se que a substituição ocorrerá: (i) se o recurso for provido para reformar a decisão impugnada –
hipótese de error in judicando; (ii) se for negado provimento ao recurso, mantendo-se ou confirmando-se a
decisão recorrida.
Não haverá substituição, entretanto, se houver anulação, rescisão ou cassação da decisão recorrida, com a
determinação ao órgão a quo de que outra seja prolatada. Muitas vezes, isso ocorre na hipótese em que é acolhida
arguição de error in procedendo ou de falha formal. A esse respeito, tome-se o exemplo apresentado por
Wambier et al. (2015, p. 1.438) de tribunal de 2º grau “que cassa sentença que extingue o processo por falta de
legitimidade do autor. Se o tribunal considerar o autor parte legítima deverá, normalmente, haver outra decisão do
juízo a quo, agora sobre o mérito”.
De qualquer sorte, para todos os fins, a decisão do tribunal torna insubsistente a decisão recorrida.
Conforme ressalta Theodoro Júnior (2012, p. 608), a mesma matéria pode ser objeto de sucessivas
impugnações recursais no mesmo processo, caso em que cada julgamento substitui o precedente e apenas o último
prevalece para operar a coisa julgada.
Expansivo – também chamado de extensivo, esse efeito ocorre quando a decisão no julgamento do recurso é
mais abrangente do que o pedido ou o mérito recursal.
Classifica-se o efeito extensivo em objetivo e subjetivo. Será objetivo quando se referir a atos processuais, ex.:
quando do julgamento de apelação, o tribunal acolhe preliminar para anular ato processual, o que torna sem efeito
outros atos que dele dependam (CP C/2015, art. 281) ou a ele ligados causalmente. Será subjetivo quando forem
atingidos sujeitos (e não atos do processo), ex.: o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo
se distintos ou opostos os seus interesses (CPC/2015, art. 1.005).
1 A esse respeito, Greco Filho (2012, p. 331) faz alusão a recursos ordinários e extraordinários. Para esse autor,
ordinários são aqueles “previstos no processo comum para a correção de algum prejuízo; os recursos
extraordinários, apesar de aplicarem-se também ao processo comum, estão consagrados em nível constitucional e
têm por função não apenas a correção do caso concreto, mas também a uniformidade de interpretação da
legislação federal e a eficácia e integridade das normas da própria Constituição. Têm estes últimos, portanto, uma
função política. Além disso, nos recursos extraordinários não mais se questiona matéria de fato, mas apenas
matéria de direito. São recursos extraordinários o recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105, III,
da CF), o recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (art. 102, III, da CF) e os embargos de divergência
no STF e no STJ”.
2 Discorrendo sobre esse tema, Cheim Jorge (2011, p. 220) aponta os seguintes princípios regentes do sistema
recursal: voluntariedade, dialeticidade, singularidade, duplo grau de jurisdição, taxatividade, dispositivo, inquisitório,
ineficácia das decisões recorríveis, fungibilidade. Recusa o autor a qualidade de verdadeiro princípio à proibição
de reformatio in pejus, entre outros; para tanto, argumenta que a proibição de piorar a situação do recorrente
decorre do princípio dispositivo ou princípio da demanda, pelos quais ao juiz só é dado se manifestar “quando
provocado, e na medida dessa provocação”, de sorte que, se não houve provocação, não poderia ex officio
prejudicar o recorrente.
3 Isso não é possível no sistema recursal eleitoral. Como se verá adiante, o recurso extraordinário só tem cabimento
contra acórdão do Tribunal Superior Eleitoral.
4 Conforme ressaltam Theodoro Júnior et alii (2016, p. 81, nota 61), a primazia do mérito inscrita no referido art. 4º
tem natureza de regra, e não de princípio.
5 Nesse sentido: Theodoro Júnior et alii (2016, p. 32).
6 Em sentido diverso, o § 3º do art. 267 do CP C/1973 estabelecia que tal matéria só poderia ser conhecida de ofício
“enquanto não proferida a sentença de mérito”. Eis o teor daquele dispositivo: “O juiz conhecerá de ofício, em
qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos
ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos,
responderá pelas custas de retardamento.”
7 No âmbito do processo eletrônico, e no mesmo sentido da citada Súmula 115, o STJ tem entendido que se o
advogado titular do certificado digital utilizado para assinar eletronicamente a petição recursal não possuir
procuração nem substabelecimento nos autos, inexistente será o ato processual praticado. Nesse sentido: STJ –
AgInt no AREsp nº 837098/SP – 3ª T. – Rel. Min. Nancy Andrighi –DJe 16-3-2017; STJ – Edcl no AgRg no
AREsp nº 990805/DF – 6ª T. – Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJe 24-2-2017.
8 Eis o teor do texto legal: “Art. 938. [...] § 1º Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa
ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio tribunal
ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes.”
9 Note-se que pelo art. 1.012 do CP C “a apelaçãoterá efeito suspensivo”. Aí, portanto, o efeito suspensivo é ex
lege.
10 Ao contrário do afirmado em edição anterior, o art. 216 do CE não foi revogado pelo citado § 2º, art. 257, do CE.
Isso porque o art. 216 refere-se ao RCED, e neste os recursos cabíveis para atacar o mérito da decisão são ou
especial (em TRE) ou extraordinário (no TSE), os quais não têm natureza ordinária, mas sim excepcional. Ocorre
que o § 2º do art. 257 do CE somente se aplica a recurso de natureza ordinária. Logo, o art. 216 do CE
permanece no sistema jurídico-processual eleitoral.
2
INTRODUÇÃO AOS RECURSOS ELEITORAIS

2.1 RECURSOS ELEITORAIS


O Direito eleitoral alberga um sistema recursal próprio, delineado principalmente nos arts. 257 a 282 do Código
Eleitoral e em alguns dispositivos da legislação extravagante. A ele se aplicam as normas constitucionais pertinentes
ao processo jurisdicional. Ademais, apesar de dotado de regras específicas, é complementado pelo Código de
Processo Civil, exceto quanto aos processos por crime eleitoral, cuja referência é o Código de Processo Penal.
A aplicação supletiva e subsidiária do novo CP C ao processo jurisdicional eleitoral é expressamente
determinada no art. 15 daquele Código, que estabelece: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais
[...], as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente”.1
Em termos conceituais, aplicação “supletiva” não possui o mesmo sentido de aplicação “subsidiária”. A
primeira tem em vista suprir lacuna ou omissão em uma norma jurídica. Já a segunda se destina a auxiliar ou ajudar
a interpretação de uma norma; aqui, portanto, não há lacuna nem omissão no texto legal a ser colmatada ou
preenchida. A propósito, salientam Wambier et al. (2015, p. 75) que a aplicação subsidiária ocorre também em
situações nas quais não há omissão, tratando-se “de uma possibilidade de enriquecimento, de leitura de um
dispositivo sob outro viés, de extrair-se da norma processual eleitoral [...] um sentido diferente, iluminado pelos
princípios fundamentais do processo civil”. Assim, a aplicação subsidiária enseja a assimilação no processo
jurisdicional eleitoral de técnicas e meios processuais mais avançados, mais consentâneos à adequada satisfação da
tutela jurisdicional.
Grosso modo, considerando a natureza da eleição, observa-se a seguinte lógica no funcionamento dos
recursos:
N o pleito municipal, é cabível recurso eleitoral para o TRE (CE, arts. 265 e ss.), o qual deve ser interposto
perante o juiz eleitoral. Após autuado, o recorrido será intimado, abrindo-se-lhe vista dos autos a fim de, em prazo
igual ao estabelecido para a interposição, oferecer suas razões. Em seguida, os autos são remetidos à instância
superior para conhecimento e julgamento. Contra o acórdão regional, pode-se ingressar com recurso especial
eleitoral – Respe –, de competência do TSE (CF, art. 121, § 4º, I e II; CE, art. 276, I); a interposição, nesse caso, se
faz perante o presidente do TRE. Contra o acórdão da Corte Superior, cabível é o recurso extraordinário, desde que
seus pressupostos se apresentem.
Já nas eleições gerais (= federais e estaduais), é cabível: i) recurso ordinário para o TSE se estiverem em
jogo inelegibilidade, anulação e perda de diploma ou mandato eletivo federal ou estadual (CF, art. 121, § 4º, III e IV;
CE, art. 276, II). A interposição se dá perante o presidente da Corte Regional, que mandará abrir vista ao recorrido
para que ofereça suas razões. Juntadas estas, são os autos remetidos ao Tribunal Superior. Contra o acórdão do
TSE pode a parte interpor recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal se odecisum contrariar preceito
da Constituição Federal; ii) caso aquelas matérias não se apresentem, pode-se cogitar o cabimento de recurso
especial para o TSE; iii) pode-se ainda cogitar o cabimento do recurso previsto no art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997,
o qual é manejável contra decisão monocrática de juiz auxiliar de Tribunal Regional Eleitoral e endereçado ao órgão
pleno desse mesmo tribunal.
Por fim, as eleições presidenciais são originariamente processadas no TSE, sendo o Supremo Tribunal
Federal a instância recursal legítima. Os recursos cabíveis são o extraordinário (CF, art. 121, § 3º, primeira parte, c/c
o art. 102, III,a) e o ordinário (CF, art. 121, § 3º, segunda parte). Também no TSE se pode cogitar o cabimento do
recurso previsto no art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997, o qual é manejável contra decisão singular de ministro auxiliar
e endereçado ao colegiado daquele tribunal.
Em todas essas instâncias são admissíveis embargos de declaração, pois, conforme deixa claro o art. 275 do
CE (com a redação do art. 1.067 da Lei nº 13.105/2015), tal recurso é cabível contra qualquer decisão judicial.
O quadro seguinte resume os principais recursos na esfera eleitoral não penal.

Fonte: elaborado pelo autor.


2.2 FORMALIDADES PARA INTERPOSIÇÃO

2.2.1 Regularidade formal: representação processual e petição recursal


Para que o direito de recorrer seja exercido adequadamente, impõe-se o cumprimento de determinadas
formalidades. Entre outras coisas, há mister que a representação processual do recorrente esteja regular e a petição
recursal se encontre em devida forma.
Estando a parte representada por procurador constituído, é preciso que junte aos autos procuração com
poderes ad judicia, pois, “sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo”
(CP C/2015, art. 104). A esse respeito, vale lembrar o teor da Súmula 115 do STJ, segundo a qual: “Na instância
especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos”.
Cumpre, no entanto, registrar que no período eleitoral – para as ações a ele relativas e não se tratando de
processo eletrônico – admite-se que o advogado arquive procuração no cartório ou na secretaria do tribunal, sendo
esse fato certificado nos autos de cada processo em que ele venha a atuar. A certificação dispensa a juntada de
procuração, sendo bastante para demonstrar a capacidade postulatória da parte e, pois, a regularidade da
representação processual. Tal solução é peculiar ao processo jurisdicional eleitoral físico, e tem em vista facilitar a
atuação de causídicos que representem em juízo partidos, coligações, emissoras de rádio e televisão, provedores de
Internet, empresas de comunicação etc.2
A petição recursal deve ser escrita e assinada, conter os nomes das partes, expor os fundamentos fáticos e
jurídicos, demonstrar o cabimento do recurso e indicar com clareza o pedido.
A observância de tais formalidades é imprescindível para o conhecimento e posterior análise do recurso. É o
pedido, por exemplo, que delimita o objeto de cognição do tribunal ad quem, o que é denominado efeito devolutivo
horizontal. Sem a demonstração de dissídio jurisprudencial ou ferimento a lei federal, incabível é o recurso especial.
Por outro lado, ausente a demonstração de repercussão geral, o recurso extraordinário não terá seguimento.
No tocante à assinatura, há mister de que a petição recursal seja assinada adequadamente por advogado
inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), defensor público, advogado público ou membro do Ministério
Público, este último devidamente designado para o exercício de funções eleitorais.3
A assinatura eletrônica ou digital não deve ser confundida com a assinatura aposta na petição mediante
carimbo, chancela eletrônica, imagem escaneada, digitalizada ou fotografada. É pacífico o entendimento de que
essas últimas, por não serem regulamentadas, não comprovam a autenticidade da peça recursal e, pois, a veraz
representação judicial da parte. Confira-se:

Ato processual: recurso: chancela eletrônica: exigência de regulamentação do seu uso para resguardo da segurança
jurídica. 1. Assente o entendimento do Supremo Tribunal de que apenas a petição em que o advogado tenha firmado
originalmente sua assinatura tem validade reconhecida. Precedentes. 2. No caso dos autos, não se trata de
certificado digital ou versão impressa de documento digital protegido por certificado digital; trata-se de mera
chancela eletrônica sem qualquer regulamentação e cuja originalidade não é possível afirmar sem o auxílio de perícia
técnica. 3. A necessidade de regulamentação para a utilização da assinatura digitalizada não é mero formalismo
processual, mas exigência razoável que visa impedir a prática de atos cuja responsabilização não seria possível (STF,
AI 564.765/RJ, 1a Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 17.03.2006, p. 15).
Em igual sentido, entende o Tribunal Superior Eleitoral:

Agravo. Interposição. Formalidade. A imagem digitalizada de assinatura não é suficiente para concluir-se estar o
recurso devidamente firmado, por não se enquadrar nos casos de assinatura eletrônica admitidos na legislação.
Decisão: o tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI
nº 62.102/MT, DJe, t. 181, 20.09.2012, p. 14).
E mais: TSE, AgR-AI nº 99.612/MT, DJe 12.03.2015; AgR-AI nº 62.102/ MT, DJe 29.08.2013.

Em geral, a petição escrita e assinada é protocolada e em seguida juntada aos autos.

2.2.2 Prática eletrônica de atos processuais


O art. 193 do CP C de 2015 veicula regra geral permitindo a prática eletrônica de atos processuais. Nos termos
do caput daquele dispositivo: “Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a permitir que
sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico, na forma da lei”.
A seu turno, a Lei nº 11.419/2006 dispõe sobre a informatização do processo judicial, regulando o uso de meio
eletrônico e sua tramitação, a comunicação de atos e transmissão de peças processuais.
O § 2º do art. 1º dessa norma considera: “I – meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de
documentos e arquivos digitais; II – transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância com a utilização
de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores; III – assinatura eletrônica as
seguintes formas de identificação inequívoca do signatário: a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido
por autoridade certificadora credenciada, na forma de lei específica; b) mediante cadastro de usuário no Poder
Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos”.
Estabelece o art. 2º, caput, da citada lei: “O envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais em
geral por meio eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura eletrônica, na forma do art. 1o desta Lei, sendo
obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos respectivos”.
Os atos processuais realizados pela web consideram-se praticados no dia e na hora do seu envio ao sistema do
Poder Judiciário, do que deverá ser fornecido protocolo eletrônico. Considerar-se-á tempestiva a petição eletrônica
transmitida até as 24 horas do último dia do prazo (Lei nº 11.419/2006, art. 3º).

2.2.2.1 Interposição eletrônica de recurso


A Res. TSE nº 21.711/2004 regulamentou a utilização de sistema de transmissão eletrônica de dados pela
internet, para a prática de atos judiciais no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral.
Desenvolveu-se, então, o denominado Sistema de Petição on-line. Em junho de 2008, este foi substituído pelo
Sistema de Petição Eletrônica. A substituição se deu em razão da necessidade de adequação do instrumento
virtual aos ditames da Lei nº 11.419/2006, sendo uma de suas novidades o uso de certificado digital.
O Sistema de Petição Eletrônica permite o envio de petições e recursos ao TSE pela rede mundial de
computadores (web). Para utilizá-lo, é preciso: (i) possuir Certificado Digital – que equivale a um documento de
identidade digital, com base no qual se faz a assinatura eletrônica; (ii) ter instalados no computador os programas
necessários (software e hardware); (iii) estar devidamente cadastrado no Tribunal para utilizar os serviços
respectivos.

2.2.2.2 Processo Judicial Eletrônico – PJe


Na Justiça Eleitoral, ainda não foi totalmente implantada a informatização dos processos. Entretanto,
importantes passos já foram dados nessa direção.
O Processo Judicial Eletrônico (P Je) foi regulamentado pela Res. TSE nº 23.417/2014 (que substituiu a Res.
TSE nº 23.393/2013), que o define como o sistema informatizado de constituição e tramitação de processos judiciais
e administrativos na esfera da Justiça Eleitoral, “por meio do qual serão realizados o processamento das informações
judiciais e o gerenciamento dos atos processuais”.
A implantação desse sistema de informática ocorrerá em etapas. À presidência do TSE, após ouvir o Comitê
Gestor Nacional do P Je, incumbe “definir o cronograma e as respectivas classes contempladas em cada fase de
implantação do PJe” (Res. TSE nº 23.417/2014, arts. 1º, parágrafo único, e 36).
Ressalte-se que o “P Je estará disponível vinte e quatro horas por dia, ininterruptamente, ressalvados os
períodos de manutenção do sistema” (Res. TSE nº 23.417/2014, art. 8º, caput).
Nos processos que tramitam nesse sistema, todos os atos processuais (inclusive os recursos interpostos pelas
partes) “terão registro, visualização, tramitação e controle realizados exclusivamente por meio eletrônico e serão
assinados digitalmente” (Res. TSE nº 23.417/2014, art. 5º, caput).
Excepcionalmente, admitir-se-á o protocolo de petições em meio físico apenas nos casos arrolados no art. 13, §
2º, da Resolução em exame, se: “I – o P Je estiver indisponível, e o prazo para a prática do ato não for prorrogável
na forma do art. 11 ou essa prorrogação puder causar perecimento do direito; II – prática de ato urgente ou
destinado a impedir perecimento do direito, quando o usuário externo não possua, em razão de caso fortuito ou força
maior, assinatura digital.”
Há casos em que a legislação permite que o próprio cidadão, pessoalmente e sem procurador judicial, peticione
à Justiça; como exemplo, cite-se a impetração de habeas corpus. Se o interessado não estiver cadastrado no
sistema, poderá “apresentar peças processuais e documentos em papel, segundo as regras ordinárias, nos locais
competentes para o recebimento, que serão digitalizados e inseridos no processo” pela respectiva unidade judiciária
(Res. TSE nº 23.417/2014, art. 6º, § 1º, c/c o art. 13, § 1º).
A Res. TSE nº 23.417/2014 traz minuciosa regulamentação acerca do funcionamento do P Je e da prática de
atos processuais. As questões que surgirem no caso concreto relativamente a seu funcionamento deverão ser
resolvidas pelo juiz da causa, conforme determina o art. 45 daquela norma.
A Portaria TSE nº 396/2015 tornou obrigatória a utilização do P Je “para a propositura e a tramitação das ações
incluídas nas seguintes classes originárias: ação cautelar, habeas corpus, habeas data, mandado de injunção e
mandado de segurança”. Ademais, o art. 1º da Portaria TSE nº 1.143/2016 incluiu nesse sistema as seguintes
classes processuais:

I – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME); II – Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE); III –
Ação Rescisória (AR); IV – Conflito de Competência (CC); V – Consulta (Cta) classe exclusiva do TSE; VI –
Criação de Zona Eleitoral ou Remanejamento (CZER); VII – Exceção (Exc); VIII – Instrução (Inst); IX – Lista
Tríplice (LT) classe exclusiva do TSE; X – Petição (Pet); XI – Prestação de Contas (P C); XII – Propaganda
Partidária (P P); XIII – Reclamação (Rcl); XIV – Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED); XV – Registro
de Partido Político (RP P); XVI – Representação (Rp); XVII – Suspensão de Segurança (SS); e XVIII – Processo
Administrativo (PA). Parágrafo único. Para a classe processual Petição (Pet), serão consideradas todas as
demandas cuja natureza não seja contemplada por classe processual própria, para fins de autuação (Resolução-TSE
nº 22.676/2007, art. 3º, § 4º).

E mais: nos termos da Portaria TSE nº 164/2017, também a “prestação de contas anual dos diretórios nacionais
dos partidos políticos” deve ser apresentada por meio do PJe.
Nas eleições presidenciais e gerais de 2018 houve expressa previsão normativa para que todos os processos
fossem eletrônicos. Veja-se nesse sentido: i) o art. 2º, § 1º, da Res. TSE nº 23.547/2017, que dispõe sobre
representações, reclamações e pedidos de resposta; ii) o art. 32 da Res. TSE nº23.548/2017, que trata de registro
de candidatos; iii) os arts. 51 e 103 da Res. TSE nº 23.553/2017, que cuida de prestação de contas nas eleições.
Como é feito o envio de processos de Tribunal Regional para o TSE? De acordo com os arts. 2º e 3º da
Portaria TSE nº 1.143/2016, se o Regional já tiver implantado o P Je, a remessa ao TSE “ocorrerá no próprio P Je, se
o processo tiver sido iniciado eletronicamente”. Todavia, caso o Tribunal Regional não tenha implantado o P Je, o
encaminhamento do processo ao TSE deverá obedecer “à regra do peticionamento”. E mais: “Devem ser
peticionados no sistema P Je, na plataforma do TSE, os processos relacionados às classes cuja competência seja do
TSE e a tramitação tenha sido iniciada no Regional” (Portaria TSE nº 1.143/2016, art. 2º, parágrafo único).
Nos termos do art. 4º da Portaria TSE nº 1.143/2016: “O peticionamento dos processos é realizado mediante: I
– o preenchimento de todos os dados do processo no sistema P Je (abas Dados iniciais, Assuntos, Partes,
Características, Eleitoral); II – a anexação de todos os documentos em PDF (aba Incluir petições e documentos); III
– a assinatura, por meio de certificado digital, da petição de encaminhamento (aba Incluir petições e documentos); e
IV – a efetivação do protocolo do processo (aba Processo). Parágrafo único. Os arquivos deverão ser digitalizados
com Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCR), de maneira a permitir a leitura por pessoas com deficiência
visual.”

2.3 LEGITIMIDADE
Em geral, os recursos eleitorais podem ser interpostos pela parte vencida, pelo litisconsorte, pelo assistente e
pelo Ministério Público (CPC/2015, arts. 118, 121 e 996).
A legitimidade para recorrer do Ministério Público pode ser extraída diretamente da Constituição Federal. Isso
porque o art. 127 da Lei Maior o incumbe da defesa da ordem jurídica e do regime democrático. E o sufrágio é
certamente um dos principais ícones do regime democrático. A legitimidade recursal do Parquet abrange tanto os
processos em que é parte como aqueles em que oficiou como fiscal da lei (CPC/2015, art. 996, caput).
No que concerne à coligação partidária, embora seja dotada de legitimidade recursal, seu caráter unitário
impede que os partidos que a integram, isoladamente, pratiquem atos no processo jurisdicional eleitoral. Portanto,
também não lhes é dado recorrer. Isso porque os interesses em jogo já não são parciais ou particulares, mas
coletivos, pertencendo a todos os membros do grupo. De sorte que o interesse de um dos grêmios consorciados
poderá não coincidir com o dos demais.
Quanto ao assistente, conquanto se lhe reconheça o direito de recorrer, não goza de plena autonomia em
relação ao assistido. Isso porque há conexão entre as relações jurídicas titularizadas por ambos, não podendo o
assistente praticar ato processual colidente com o realizado pelo assistido. Assim, se o assistido aceita, expressa ou
tacitamente, o decisum, renuncia ao recurso ou dele desiste, esses atos prejudicam o recurso do assistente.
Tranquila é essa interpretação no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a ver:

1. A assistência simples pressupõe vínculo jurídico conexo entre o assistido e o assistente, mercê de o art. 50 do
CP C [de 1973; vide art. 119 do CP C de 2015] assentar que,verbis: “Pendendo uma causa entre duas ou mais
pessoas, o terceiro que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no
processo para assisti-la.” Por isso que o provimento jurisdicional final repercutirá tanto na órbita jurídica de um
quanto na do outro. Consectariamente, é defeso ao assistente praticar atos judiciais em contraposição ao assistido,
cessando a assistência em face da desistência ou da extinção do feito. (Precedentes: REsp 266.219/ RJ, Rel. Min.
Luiz Fux, 1ª Turma, DJ 03.04.2006; REsp 1.056.127/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma,DJ
16.09.2008; REsp 535.937/ SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma,DJ 10.10.2006). 2. No caso em foco, o
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Pernambuco (CRMV-P E), réu na ação civil pública, não
recorreu do acórdão prolatado pelo TRF da 5ª Região, sendo defeso ao pretenso assistente fazê-lo porquanto lhe
careça interesse recursal. 3. Recurso especial não conhecido (STJ, REsp nº 1.093.191/P E, 1ª Turma, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, DJe 19.11.2008).

De igual modo entende o Tribunal Superior Eleitoral:(i) “[...] 5. O pedido de desistência do recurso interposto
pelo assistido acarreta o prejuízo dos recursos manejados pelos assistentes, que não podem recorrer de forma
autônoma [...]” (TSE, RO nº 437.764/DF,DJe, t. 232, 09.12.2011, p. 34-35); (ii) “1. [...] O assistente simples do
Ministério Público Eleitoral não pode interpor, isoladamente, recurso especial eleitoral. Precedentes. Recurso não
conhecido [...]” (TSE, REsp nº 68.254/MG, DJe, t. 35, 23.02.2015, p. 56-57).
Cuidando-se de processo de registro de candidato, a Súmula 11 do TSE dispõe não possuir legitimidade para
recorrer da decisão que defere requerimento de registro de candidatura quem não o tiver impugnado via AIRC (LC
nº 64/90, art. 3º), exceto se a discussão travada no recurso envolver matéria constitucional. Eis o teor dessa Súmula:
“No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem legitimidade para recorrer da
sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional.” A ilegitimidade em tela persiste ainda que o
recorrente tenha sido o autor de “notícia de inelegibilidade” (TSE, AREspe nº 23.613/ PA, PSS 1º.10.2004).
Essa interpretação não pode, no entanto, se aplicar ao Ministério Público, que tem sempre legitimidade recursal
em qualquer instância que atue. Para tanto, é irrelevante que não tenha apresentado impugnação anterior, porquanto
age na qualidade de custos legis, sendo seu objetivo a salvaguarda dos interesses maiores da sociedade. É nessa
linha a interpretação do Supremo Tribunal Federal, para quem aludida “Súmula nº 11 do Tribunal Superior Eleitoral
não se aplica ao Ministério Público Eleitoral” (STF, ARE nº 728.188/ RJ, Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j.
18.12.2013); o qual, como fiscal da lei, não poderia ter diminuída sua legitimidade recursal ativa.

2.4 EFEITOS DOS RECURSOS


Nos recursos eleitorais comparecem os mesmos efeitos já expostos, a saber: obstar a coisa julgada, devolutivo,
suspensivo, translativo, substitutivo e expansivo.

2.4.1 Efeito suspensivo


Em seu art. 257, caput, o Código Eleitoral estabelece uma regra geral segundo a qual “os recursos eleitorais
não terão efeito suspensivo”.
Mas essa regra geral comporta relevantes exceções, nas quais o recurso deverá ser recebido no efeito
suspensivo. A esse respeito, dispõe o § 2º do citado art. 257 (acrescido pela Lei nº 13.165/2015):

Art. 257. [...] § 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional
Eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo
tribunal competente com efeito suspensivo.

Extrai-se desse dispositivo que o recurso interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou Tribunal
Regional Eleitoral terá efeito suspensivo sempre que dela resultar: i) cassação de registro – hipótese que não deve
ser confundida com indeferimento de pedido de registro, pois a cassação é consequência da prática de ato ilícito; ii)
afastamento do titular; iii) perda de mandato eletivo.
As decisões de TRE abrangidas por essa regra são apenas as atinentes à sua competência originária,
proferidas em eleições federais e estaduais (governador, senador, deputado federal, deputado distrital e deputado
estadual). Isso porque os acórdãos proferidos por TRE no âmbito de sua competência recursal são recorríveis
mediante recurso especial, que, por natureza, não tem efeito suspensivo.
Ademais, o citado § 2º usa o termo “recurso ordinário” no sentido de “recurso não excepcional”, ou seja,
recurso próprio do primeiro e segundo graus de jurisdição. Trata-se, portanto, do recurso eleitoral para TRE (CE,
art. 265) e do recurso ordinário eleitoral para o TSE (CF, art. 121, § 4º, III e IV, e CE, art. 276, II, a).
Por outro lado, estabelece o art. 216 do Código Eleitoral:

Art. 216. Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá o
diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude.

Assim, cuidando-se de recurso contra expedição de diploma (rectius: ação contra expedição de diploma), o
recurso especial interposto contra o acórdão do TRE que julgar procedente o pedido e cassar o diploma do réu
deverá ser recebido no efeito suspensivo.4
Fora dessas hipóteses excepcionais, os recursos não têm efeito suspensivo e assim devem ser recebidos, salvo,
é claro, se houver disposição legal ou decisão judicial deferindo a suspensão.5
Cumpre salientar que o § 2º do art. 257 do Código Eleitoral é compatível com o disposto no art. 15 da LC nº
64/1990. Reza esse último dispositivo:

Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade do
candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.

É importante reparar que esse dispositivo cuida de denegação de pedido de registro de candidatura, e não de
sua cassação; essa última é decorrência da prática de ato ilícito. Sua ratio é no sentido de que a sentença judicial de
primeiro grau – que declarar a inelegibilidade do candidato e indeferir seu pedido de registro – só gere efeitos
práticos após ser confirmada por órgão colegiado ou transitar em julgado. Esses efeitos práticos decorrerão do ato
do órgão colegiado do TRE que confirme a sentença.
Por outro lado, nas hipóteses de competência originária do TRE (eleições federais e estaduais), a decisão do
órgão colegiado que declarar inelegibilidade e negar o pedido de registro produz efeitos práticos imediatos.
Mas nessas duas situações não se pode falar em efeito suspensivo do recurso interposto contra a sentença ou
contra o acórdão denegatórios do pedido de registro de candidatura. Isso porque simplesmente não há o que
suspender, já que o pedido de registro foi negado . A recorribilidade do ato ou a simples interposição de recurso
jamais teriam o condão de ensejar o deferimento do pedido de registro de candidatura – situação que somente pode
ser alcançada se houver antecipação de tutela recursal.

2.4.2 Imediata eficácia de acórdãos


Estabelece o § 1º do art. 257 do CE que “a execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através de
comunicação por ofício, telegrama ou, em casos especiais, a critério do presidente do tribunal, através de cópia do
acórdão”.
Isso ocorre nas situações em que as decisões prolatadas pelos órgãos colegiados dos tribunais eleitorais têm
eficácia imediata. Ou seja, quando o recurso previsto para impugná-las não for dotado de efeito suspensivo.
Mas a imediatidade na execução do acórdão deve ser bem compreendida, pois em geral é preciso aguardar a
publicação oficial desse ato. E mesmo após a publicação, por prudência, é comum aguardar-se o escoamento do
prazo para interposição de embargos declaratórios. Acaso sejam esses manejados, a execução só ocorrerá depois
da publicação oficial do acórdão neles proferidos. Isso porque os declaratórios visam aclarar o decisum ou integrá-
lo, podendo ensejar alteração no conteúdo da decisão.

2.4.3 Sustação da eficácia imediata de decisão judicial


Sempre que uma decisão judicial (decisão interlocutória, sentença ou acórdão) produzir efeitos imediatos é dado
ao interessado pleitear a sustação desses efeitos junto ao tribunal ad quem.
Nesse sentido, o parágrafo único do art. 995 do novo CP C veicula regra geral estabelecendo que o relator do
recurso no tribunal poderá determinar a suspensão da eficácia da decisão recorrida “se da imediata produção de
seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso”. Naquele código processual, essa regra é reiterada na regulamentação dos recursos, a ver:

apelação – nas hipóteses em que a sentença “começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação”, sua
eficácia “poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se,
sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação” (CP C/2015, art. 1.012, §§ 1º
e 4º);
agravo de instrumento – o art. 1.019, I, do CP C/2015 prevê a possibilidade de o relator “atribuir efeito suspensivo ao
recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão”;
recursos ordinário,6 especial e extraordinário – “Art. 1.029. [...] § 5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a
recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido: I – ao tribunal superior
respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição,
ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo; II – ao relator, se já distribuído o recurso; III –
ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso e a
publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do
art. 1.037.”

Para lograr a sustação da eficácia imediata da decisão que lhe é desfavorável, deve o interessado manejar o
instrumento processual adequado. Normalmente, isso é feito em sede de tutela provisória de urgência de natureza
cautelar, requerida em caráter antecedente, em consonância com os arts. 300 e 305 do CP C/2015. Cumpre-lhe,
então, demonstrar a existência de fumus boni juris (consubstanciado na viabilidade do recurso ou na plausibilidade
dos fundamentos que argui) e periculum in mora (expresso pelo risco concreto de ocorrência de dano grave, como,
e.g., ser o mandatário afastado do exercício do cargo).
Sobre isso, a jurisprudência já se pronunciou em diversas oportunidades:

Agravo regimental. Ação cautelar. Decisão liminar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial.
Excepcionalidade demonstrada. A atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial – apelo que, nos termos do
art. 257 do Código Eleitoral, é desprovido de tal efeito – é medida excepcional, apenas admissível quando
demonstrados o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação e a plausibilidade jurídica das razões recursais [...]
(TSE, AgR-AC nº 194.443/SP, DJe t. 68, 10.04.2015, p. 32).
[...] 3. A ausência de demonstração da viabilidade do recurso inviabiliza a concessão de efeito suspensivo em sede
cautelar [...] (TSE, AgR-AC nº 428.581/MG, DJe 14.03.2011, p. 13-14).
1. O deferimento de pedido liminar em ação cautelar para atribuir efeito suspensivo a recurso não dotado desse
efeito exige a presença conjugada do fumus boni juris, consubstanciado na plausibilidade do direito invocado, e do
periculum in mora, o qual se traduz na ineficácia da decisão se concedida somente no julgamento definitivo da ação
[...] (TSE, AgR-AC nº 91.072/MG, DJe 05.08.2010, p. 81).
O fumus boni iuris que enseja a concessão de liminar em medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso
especial, diz com a viabilidade deste [...] (TSE, AMC nº 1.688/RJ, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 170).

2.5 PRAZOS
Prazos são lapsos temporais ou períodos determinados para a prática de atos jurídicos.
Os atos processuais devem ser realizados nos prazos prescritos em lei (CP C/2015, art. 218,caput), sob pena
de ocorrer preclusão temporal e, pois, a perda da oportunidade de praticá-lo.
Em todo prazo divisam-se três marcos referenciais: i) o início ou termo inicial (dies a quo); ii) o fim ou termo
final (dies ad quem); iii) o curso ou fluxo do prazo (o tempo em que o prazo corre).
No Direito Eleitoral, há diversidade de regramento dos prazos processuais conforme se esteja no período
eleitoral (compreendido entre o registro de candidatura e a diplomação dos eleitos) ou fora dele, isto é, no
período não eleitoral.

2.5.1 Prazos recursais


Em princípio, o prazo de interposição de recursos eleitorais é de três dias. Nesse sentido, reza o art. 258 do CE:
“Sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso deverá ser interposto em três dias da publicação do ato,
resolução ou despacho.”
Há exceções, porém. A mais relevante encontra-se no art. 96 da Lei nº 9.504/1997. Para as hipóteses previstas
nessa norma, o prazo recursal será de 24 horas, conforme dispõe o § 8º desse artigo:

Quando cabível recurso contra a decisão, este deverá ser apresentado no prazo de 24 horas da publicação da
decisão em cartório ou sessão [ou edital eletrônico – LE, art. 94, § 5º], assegurado ao recorrido o oferecimento de
contrarrazões, em igual prazo, a contar da sua notificação.

Esse prazo de 24 horas é convertido para um dia. Na jurisprudência, pacífico tornou-se tal entendimento: “[...]
fixado o prazo em horas passíveis de, sob o ângulo exato, transformar-se em dia ou dias, impõe-se o fenômeno,
como ocorre se previsto o de 24 horas a representar um dia. A regra somente é afastável quando expressamente a
lei prevê termo inicial incompatível com a prática” (TSE, AgRp nº 789/DF, PSS 18.10.2005). E mais:

1. Segundo o entendimento deste Tribunal, o prazo de 24 horas a que alude o art. 96, § 8º, da Lei nº 9.504/97 pode
ser convertido em um dia. Precedentes. [...] (TSE, Rp. nº 180.154/DF, DJe, t. 57, 24.03.2015, p. 164-165).
Agravo regimental. Recurso especial. Propaganda eleitoral antecipada. Intempestividade do recurso eleitoral.
Conversão de 24 horas em um dia. Não provimento. 1. O prazo de 24 horas para interposição de recurso eleitoral
contra sentença pode ser convertido em um dia. Precedentes. 2. Publicada a sentença no DJe de 14.3.2012, o prazo
para interposição do recurso encerra-se em 15.3.2012, sendo admissível sua interposição até o final do expediente
ou, no caso de interposição eletrônica, até o último minuto deste dia. 3. Agravo regimental desprovido. Decisão: O
Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator (TSE, Ag-REspe nº
664/BA, DJe, t. 157, 19.08.2013).

Na Res. TSE nº 23.547/2017, que trata de procedimentos para as eleições de 2018, os prazosprocessuais em
horas foram convertidos para dia, in verbis:

Art. 20. A decisão final proferida por juiz auxiliar estará sujeita a recurso para o plenário do tribunal eleitoral, no
prazo de 1 (um) dia da publicação da decisão em mural eletrônico ou em sessão, assegurado ao recorrido o
oferecimento de contrarrazões, em igual prazo, a contar da sua intimação (Lei nº 9.504/1997, art. 96, §§ 4º e 8º).

A consequência inexorável da conversão é a alteração da forma de contagem do prazo. Como se sabe,


enquanto os prazos em horas contam-se minuto a minuto (CC, art. 132, § 4º), os fixados em dia “serão contados
excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento” (CPC, art. 224, caput).
Mas o prazo recursal de 24 horas (= um dia) não é aplicável se, apesar de o fato ser previsto na Lei nº
9.504/1997, esta contiver regra específica estabelecendo lapso diverso. Assim, o prazo recursal será de três dias (e
não de 24 horas) nos seguintes casos: processo de prestação de contas de campanha (LE, art. 30, §§ 5º e 6º), ação
por arrecadação ou gasto ilícito de recurso em campanha eleitoral (LE, art. 30-A, § 3º), ação por captação ilícita de
sufrágio (LE, art. 41-A, § 4º), ação por conduta vedada (LE, art. 73, § 13).
Conquanto o texto do citado § 8º do art. 96 da LE empregue termos genéricos como “decisão” (que abarca
sentença, decisão monocrática de relator e acórdão do órgão colegiado do tribunal) e “sessão” (que é realizada tanto
no TRE quanto no TSE), existe uma tendência na jurisprudência de aplicar esse prazo de 24 horas apenas aos
recursos que tramitam da primeira para a segunda instância, ou seja: nas instâncias ordinárias. Isso significa que ele
não incidiria nos recursos excepcionais que tramitam do TRE para o TSE, e deste para o STF. Aqui, o prazo
recursal é sempre de três dias. Assim: (i) o “prazo para interposição de recurso especial eleitoral nas representações
regidas pela Lei 9.504/1997 é de três dias [...]” (TSE, AgR-REspe nº 32.743/ RN,DJe, t. 120, 27.06.2011, p. 23).
Em igual sentido vide: art. 35 da Res. TSE nº 23.367/2011, art. 34 da Res. TSE nº 23.193/2009; art. 21 da Res. TSE
nº 22.624/2007; (ii) STF Súmula 728: “É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra
decisão do Tribunal Superior Eleitoral, contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria
sessão de julgamento, nos termos do art. 12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei 8.950/1994.”
Se os recursos excepcionais devem ser interpostos no prazo de três dias, é razoável entender que outros
recursos a eles diretamente ligados – como o agravo em recurso especial e extraordinário e o agravo interno contra
decisão monocrática do relator7 – devam observar aquele mesmo lapso.
Há, no entanto, casos em que, a despeito da clara previsão do § 8º do aludido art. 96, a própria Lei nº
9.504/1997 estabelece específica e expressamente o prazo recursal de 24 horas. É isso que ocorre com o art. 58, §
5º, que tem por objeto o direito de resposta. Nessas hipóteses, o recurso deve sempre ser interposto em 24 horas (=
um dia), independentemente de sua natureza comum ou excepcional.
As contrarrazões devem ser apresentadas no mesmo prazo previsto para a interposição do recurso a que elas
se referem. Essa regra é emanação do devido processo legal, sendo expressão do princípio da paridade de armas;
de sorte que ao réu devem ser proporcionadas as mesmas chances ou oportunidades disponibilizadas ao autor.
Diferentemente do que ocorre no processo civil comum, no processo jurisdicional eleitoral:

o Ministério Público, a Fazenda Pública (i.e., União, estados, Distrito Federal, municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público) e a Defensoria Pública não gozam de prazo em dobro para recorrer (CP C/2015, arts.
180, 183 e 186);
havendo litisconsórcio e tendo os litisconsortes diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, não se
conta em dobro o prazo recursal (CPC/2015, art. 229);
é inaplicável o prazo de 30 (trinta) dias conferido pelo art. 178 do CPC/2015 ao Ministério Público quando este atuar no
processo como fiscal da ordem jurídica;8
no período eleitoral, não se aplica o prazo de três dias previsto no art. 234, § 2º, do CPC/20159, “podendo a autoridade
judiciária determinar a imediata busca e apreensão dos autos se, intimado, o advogado não os devolver” (Res. TSE
nº 23.478/2016, art. 9º).

Tais derrogações do processo comum se fundam na especialidade que rege o processo jurisdicional eleitoral,
bem como na necessidade de que a prestação jurisdicional seja entregue sem demora.
Extrai-se da primeira parte do art. 16 da LC nº 64/1990 que os prazos recursais eleitorais são comuns às
partes, e correm em cartório ou secretaria.

2.5.2 Contagem de prazos recursais


Na contagem dos prazos, impõe-se distinguir o período eleitoral (compreendido entre o registro de candidatura
e a diplomação dos eleitos), e o não eleitoral.
Não incidência do art. 219 do CPC/2016 durante o período eleitoral – o art. 219 do novo CP C dispõe
sobre o fluxo ou curso dos prazos processuais. Eis o seu teor:

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.

Diferente era a determinação contida no CP C/1973, segundo o qual o curso do prazo eracontínuo. Nos
termos do art. 178 desse código: “O prazo, estabelecido pela lei ou pelo juiz, é contínuo, não se interrompendo nos
feriados.” Entretanto, o novo CP C não reproduziu essa regra; apenas estabeleceu que os prazos só fluem nos dias
úteis – e não, portanto, de forma contínua.
À luz do citado art. 219, o curso do prazo poderá ser contínuo ou descontínuo a depender de seu montante e de
quando tem início (dies a quo). Tome-se como exemplo um prazo de 3 dias, seu curso poderá ser: i) contínuo, se
fluir inteiramente no meio da semana (ex.: terça, quarta e quinta-feira); ou, ii) descontínuo, se começar a fluir na
sexta-feira – (ex.: sexta, segunda e terça-feira).
No entanto, a legislação eleitoral contém especial previsão de prazo contínuo no art. 16 da LC nº 64/90, o qual,
porém, só se aplica a processos de registro de candidatura e – por extensão – aos que tramitam durante o período
eleitoral.

Art. 16. Os prazos a que se referem o art. 3º e seguintes desta lei complementar são peremptórios e contínuos e
correm em secretaria ou Cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para registro de candidatos, não se
suspendem aos sábados, domingos e feriados.

Logo, por força desse art. 16, não se aplica a regra do art. 219 do CP C/2015 aos processos que se
desenvolvem no período compreendido entre o registro de candidatura e a diplomação dos candidatos eleitos. Em
tais processos, poderão os prazos fluir em dias não úteis e de forma contínua. Isso ocorre com processos como
registro de candidatura, ações eleitorais, representações por propaganda irregular e direito de resposta.
Em igual sentido, estabelece o § 1º do art. 7º da Res. TSE nº 23.478/2016: “Os prazos processuais,
durante o período definido no calendário eleitoral, serão computados na forma do art. 16 da Lei Complementar nº 64,
de 1990, não se suspendendo nos fins de semana ou feriados.”
Consequentemente, no período eleitoral também não poderá incidir o disposto nos parágrafos do art. 224 do
CPC/2015. Reza esse dispositivo:

Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do
vencimento.
§ 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem
com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver
indisponibilidade da comunicação eletrônica.
§ 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no
Diário da Justiça eletrônico.
§ 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação.
É que tais parágrafos impõem que o início e o vencimento dos prazos se deem apenas em dias úteis, o que é
incompatível com o art. 16 da LC nº 64/1990.
Entretanto, relativamente ao caput do transcrito art. 224, não se vislumbra qualquer óbice à sua aplicação nos
processos que tramitam durante o período eleitoral. O texto desse caput corresponde ao do art. 184, caput, do
revogado CPC/197310 –, sendo certo que esse último sempre foi observado nos processos eleitorais.
Incidência do art. 219 do CPC/2016 no período não eleitoral? – coloca-se, então, o problema da
aplicação do art. 219 do CP C/2015 aos processos que não tramitam no período eleitoral (tais como a AIME, o
RCED, a ação por captação ou gasto ilícito de recursos em campanha – LE, art. 30-A, a representação por doação
ilegal de recursos a candidatos – LE, art. 24-C, § 3º), bem como aos processos que tiveram início naquele período
(como pode ocorrer com os fundados no art. 22, XIV, da LC nº 64/90, e nos arts. 41-A e 73 ss. da LE). Poderia o
citado art. 219 do CP C/2015 ser aplicado a tais processos, de maneira a somente se computar na contagem dos
prazos os dias úteis?
Negativa é a resposta dada a essa pergunta pelo caput do art. 7º da Res. TSE nº 23.478/2016, segundo o qual:
“O disposto no art. 219 do Novo Código de Processo Civil não se aplica aos feitos eleitorais.” Como fundamento,
invoca-se a suposta “incompatibilidade entre a previsão contida no art. 219 do CP C/2015 e o princípio da celeridade,
inerente aos feitos que tramitam na Justiça Eleitoral” (TSE – REspe nº 8427/AM –DJe 5-5-2017, p. 66). Em igual
sentido, veja-se: TSE – REspe nº 4461/SP – DJe 26-10-2016, p. 29. Note-se que a regra expressa no referido art. 7º
tem caráter absoluto, pois nenhuma distinção é feita.
Afigura-se, porém, equivocada essa vedação. Os prazos processuais eleitorais são curtos, de sorte que a
aplicação do citado art. 219 não traria real prejuízo para a celeridade da tramitação dos processos. Dada a
inexistência de razão jurídica suficiente para justificar a vedação assinalada, poder-se-ia mesmo falar em afronta à
garantia fundamental do devido processo legal ou do processo justo (CF, art. 5º, LIV), já que há restrição à atuação
processual das partes em afronta a expressa disposição legal.
Por outro lado, a peremptória determinação de não incidência do art. 219 do CP C/2015 aos processos eleitorais
que não correm no período eleitoral gera um vácuo normativo acerca da regência do curso ou fluxo do prazo.
Afinal, como será o curso dos prazos nos processos eleitorais? Contínuo (como previa o art. 184, caput, do
CP C/1973 e como consta do art. 798 do CP P)? Só corre nos dias úteis (como prevê o art. 219 do CP C/2015)?
Olvidou-se que o art. 15 do novo código processual expressamente determina sua aplicação supletiva e subsidiária
“aos processos eleitorais”, exceto se houver norma específica.
Ante a inexistência na legislação eleitoral de regra própria que disponha sobre o curso ou fluxo dos prazos aos
processos que tramitam no período não eleitoral, deve-se aplicar o art. 219, por força do art. 15 do CPC/2015.11
Incidência do art. 224 do CPC/2015 nos processos que não tramitam no período eleitoral – dispõe o §
2º do art. 7º da Res. TSE nº 23.478/2016 que, fora do período eleitoral, os prazos processuais “serão computados na
forma do art. 224 do Novo Código de Processo Civil.” Vale reiterar o teor desse último dispositivo:

Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do
vencimento.
§ 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem
com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver
indisponibilidade da comunicação eletrônica.
§ 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no
Diário da Justiça eletrônico.
§ 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação.

2.5.3 Termos inicial e final dos prazos recursais


Termo inicial do prazo recursal – o cômputo do prazo recursal é feito a partir da intimação da decisão, sendo
esse evento considerado o dies a quo ou termo inicial do prazo (CP C/2015, art. 1.003,caput). Cumpre, porém,
observar que, conforme o § 4º do art. 218 do novo CP C, considera-se “tempestivo o ato praticado antes do termo
inicial do prazo”.
Sempre que a decisão for publicada em audiência ou sessão do tribunal, nesse mesmo ato dá-se a intimação
das partes.
Segundo o art. 270 do CP C, as intimações devem se realizar por meio eletrônico. Não sendo isso possível,
poderá ser feita por publicação do ato no órgão oficial (CPC, art. 272). Esse órgão é o “Diário de Justiça Eletrônico”
(DJe), sendo por ele que as intimações de atos judiciais são normalmente realizadas.
E se for inviável a intimação por meio eletrônico e pelo Diário de Justiça Eletrônico? Nessa hipótese, reza o
art. 273 do CPC que a intimação poderá ser realizada: i) pessoalmente, se a parte tiver domicílio na sede do juízo; ii)
por carta registrada, com aviso de recebimento, quando a parte for domiciliada fora da sede do juízo.
Vale registrar que, durante o período eleitoral (situado entre o registro de candidatura e a diplomação), o art.
96-A da LE permite a realização de intimação a candidato por meio de aparelho de fac-símile. Nesse caso, a
intimação deverá ser encaminhada exclusivamente “na linha telefônica por ele previamente cadastrada, por ocasião
do preenchimento do requerimento de registro de candidatura”.
Ademais, faculta a lei a realização de intimação por edital eletrônico ou mural eletrônico, o qual deve ser
publicado na página da Justiça Eleitoral na Internet. A esse respeito, dispõe o art. 94, § 5º, da LE (incluído pela Lei
nº 13.165/2015):

Nos Tribunais Eleitorais, os advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações serão intimados para os feitos
que não versem sobre a cassação do registro ou do diploma de que trata esta Lei por meio da publicação de edital
eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na internet, iniciando-se a contagem do prazo no dia seguinte
ao da divulgação.

Extrai-se desse dispositivo que, nos feitos que não versarem “sobre a cassação do registro ou do diploma” de
que trata a Lei nº 9.504/1997 (ex.: representação por propaganda eleitoral irregular), as intimações dos advogados
poderão ocorrer “por meio da publicação de edital eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na internet”.
Sendo a intimação feita por mural eletrônico, inicia-se “a contagem do prazo no dia seguinte ao da divulgação”.
Desconsidera-se, portanto, o dia da veiculação do mural.
Embora haja exceções, o Ministério Público goza da prerrogativa processual de “receber intimação
pessoalmente nos autos em qualquer processo e grau de jurisdição nos feitos em que tiver que oficiar” (LC nº
75/1993, art. 18, II, h). Não há nisso privilégio, senão prerrogativa funcional, que, ao fim e ao cabo, reverte em
benefício da sociedade em nome da qual atua, e, enfim, do Estado Democrático de Direito. Demais disso, a lógica
que preside a atuação do Ministério Público é completamente diferente da observada pelos particulares.
No entanto, no processo eletrônico não existem autos físicos e toda a tramitação processual se dá
eletronicamente. Nesse caso, é natural que a intimação do órgão do Parquet se dê eletronicamente.
Termo final do prazo recursal – no tocante ao dies ad quem ou termo final do prazo, a aferição é feita com
base no instante em que a peça recursal é protocolada na Justiça Eleitoral.
Em processos materializados em autos físicos, sendo a peça recursal remetida pelo correio, a interposição deve
considerar-se feita no momento da postagem. A esse respeito, dispõe o art. 1.003, § 4º, do novo CP C: “Para
aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de
postagem”. Claro está, portanto, que à parte não se pode atribuir responsabilidade por eventual atraso ocorrente no
âmbito da empresa de correio, já que não tem qualquer influência nas atividades dessa entidade.12
Ressalte-se que os prazos recursais são preclusivos, salvo quando for discutida matéria constitucional (CE, art.
259). Nessa hipótese, porém, a questão constitucional deve ser apresentada em outra oportunidade, não se podendo
promover a reabertura de prazo já encerrado.
No período compreendido entre o registro de candidatura até a proclamação dos candidatos eleitos, os prazos
dos processos respectivos (ex.: registro de candidatura, Airc, representação por propaganda irregular etc.) correm
nos finais de semana e feriados, não se suspendendo nem se interrompendo. Nesse sentido dispõe o art. 16 da Lei
de Inelegibilidades – LC nº 64/1990:

Art. 16. Os prazos a que se referem o art. 3º e seguintes desta lei complementar são peremptórios e contínuos e
correm em secretaria ou cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para registro de candidatos, não se
suspendem aos sábados, domingos e feriados.13

Fora desse período, em que os prazos correm contínua e ininterruptamente, é preciso estar atento à contagem.
Qualquer evento que afete o termo inicial ou final do lapso recursal (tal como feriado local, fechamento do cartório
ou da secretaria eleitorais por quaisquer motivos) deve ser demonstrado nos autos pelo recorrente, no ato de
interposição do recurso,14 sob pena de se configurar a intempestividade do recurso interposto.

[...] 1. A alegação de que Tribunal Regional da Bahia encerrou seu expediente antecipadamente no dia 04.06.2010
(sexta-feira) não foi demonstrada, uma vez que não constam nos autos documentos que a comprovem. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é uníssona ao afirmar a impossibilidade de inovação das teses recursais
em sede de agravo. 3. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo
regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI nº 185.207/BA, DJe 08.02.2011, p. 60).

Não se pode olvidar que a tempestividade dos recursos é matéria de ordem pública, por isso “pode ser
analisada a qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de manifestação das partes [...]” (TSE, AgR-
RO nº 2.360/SP, DJe 04.05.2010, p. 28-29). Insere-se, portanto, no âmbito do efeito translativo dos recursos.

2.5.4 Intempestividade reflexa


Qualifica-se como reflexa ou indireta a intempestividade de um recurso quando outro recurso, anterior àquele,
tiver sido protocolado fora do lapso legal. Como o recurso anterior padece de intempestividade, esse vício afeta o
posterior, que, portanto, torna-se igualmente intempestivo. À guisa de exemplo, citem-se os seguintes julgados:
[...] 2. Os embargos de declaração extemporâneos não interrompem o prazo para interposição do recurso especial
eleitoral. Portanto, padece de intempestividade reflexa o apelo especial interposto pelo agravante. 3. Cabe ao
Tribunal Superior Eleitoral a análise final sobre a tempestividade do apelo nobre, bem como examinar eventual
intempestividade reflexa. 4. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o
agravo regimental, nos termos do voto do Relator (TSE, AgR-REspe nº 170.621/CE, DJe t. 122, 01.07.2013, p. 42).
2. No caso vertente, o acórdão embargado foi publicado em sessão plenária do dia 23.08.2010 e transitou em julgado
em 26.08.2010. Os embargos protocolizados em 27.08.2010, após o tríduo legal, não foram conhecidos, o que
acarreta a intempestividade reflexa do recurso especial. 3. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por
unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator (TSE, AgR-REspe nº 428.728/SP, P SS
14.10.2010).

2.5.5 Suspensão de prazos processuais


Durante o período eleitoral, não há suspensão de prazos processuais. Isso porque os prazos “são peremptórios
e contínuos [...] não se suspendem aos sábados, domingos e feriados” (LC nº 64/1990, art. 16).

Fora desse período, porém, pode haver suspensão de prazos processuais. O art. 220 do CP C/2015 traz uma regra
geral de suspensão:
Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro,
inclusive.
§ 1º Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os juízes, os membros do Ministério Público, da
Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante o período
previsto no caput.
§ 2º Durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências nem sessões de julgamento.

Segundo o art. 10 da Res. TSE nº 23.478/2016, esse dispositivo “aplica-se no âmbito dos cartórios eleitorais e
dos tribunais regionais eleitorais”.15
Note-se que não se trata de “férias” para os agentes públicos envolvidos nos processos eleitorais, mas apenas
de suspensão dos prazos processuais.

2.6 DESISTÊNCIA DO RECURSO


Vindo a parte a desistir do recurso por ela interposto em momento em que o prazo recursal já se tenha escoado
até mesmo para o aviamento de recurso adesivo, dependendo das circunstâncias, poderá o Ministério Público (que
atua no feito como custos legis) assumir sua titularidade, de maneira a ensejar que a decisão seja reapreciada pelo
tribunal ad quem.
Na verdade, esse poder se afigura, antes, como um dever ou “poder-dever” do Ministério Público, diante da
relevância do interesse público que possa se apresentar na espécie.
Conquanto não haja específica previsão legal nos domínios da legislação eleitoral, pode-se invocar por analogia
o disposto no art. 9º da Lei nº 4.717/1965 (Lei de Ação Popular), pelo qual, se o autor popular desistir da ação ou
provocar a extinção do processo, ficará assegurado ao representante do Ministério Público dar-lhe seguimento. Se é
assim naquela seara, em que se defende a higidez do patrimônio público, tanto mais o será aqui, no Direito eleitoral,
em que se encontram em jogo valores e princípios altamente significativos para o Estado Democrático de Direito,
como são a lisura, a normalidade e a legitimidade do processo eleitoral. Por outro lado, não se pode olvidar que o
recurso não é senão prolongamento do exercício do direito de ação.

2.7 PREVENÇÃO
A distribuição de um recurso no tribunal ad quem torna o relator prevento para os que forem interpostos
subsequentemente, na mesma relação processual.16 A mudança de distribuição deve ser justificada pela ocorrência
de causa relevante, como, e.g., renúncia, morte, encerramento da investidura do juiz ou ministro no Tribunal
Eleitoral. Em tais casos, deve o processo ser redistribuído preferencialmente a membro que haja participado de
julgamento anterior.
Outrossim, o art. 260 do CE estabelece específica regra geral de prevenção. Por ela, “a distribuição do
primeiro recurso que chegar ao Tribunal Regional ou Tribunal Superior prevenirá a competência do relator para
todos os demais casos do mesmo município ou Estado”. Note-se, porém, que a prevenção aí prevista diz respeito
exclusivamente aos recursos parciais interpostos por ocasião da votação e apuração dos votos. Nesse sentido:
TSE, AgMC nº 13.854/MG, DJ 13.05.1994, p. 11.381; REspe nº 21.380/MG, DJ, v. 1, 06.08.2004, p. 164.

2.8 RECURSOS PARCIAIS


Ao contrário do que essa expressão sugere, inexiste no Eleitoral um recurso especificamente denominado
“recurso parcial”. Na verdade, trata-se de denominação genérica, referindo-se a recursos interpostos contra
decisões de junta eleitoral em impugnações (ou refutações) formuladas por candidato, fiscal, delegado de partido ou
órgão do Ministério Público, impugnações essas que têm por objeto situações verificadas nas fases de votação,
apuração e totalização de votos.
Por apuração compreende-se o procedimento realizado em seção eleitoral, no qual são computados os dados
da eleição, como o número de eleitores que compareceram e votaram, o resultado da votação por candidato e por
partido. Esses dados são lançados em um documento denominado boletim de urna, no qual também constam a
identificação da seção e da urna a que se refere. Por sua vez, totalização é o procedimento subsequente à
apuração, sendo realizado na circunscrição eleitoral e, pois, abrangendo todas as seções ou todos os boletins de urna;
aí são computados todos os dados constantes dos boletins de urna. Na eleição municipal, a totalização é realizada no
município; nas eleições gerais ela também é feita no município, mas os dados são encaminhados ao Tribunal
Regional Eleitoral para que os resultados de todas as seções e zonas eleitorais do estado respectivo possam ser
compilados; já nas eleições presidenciais, essa compilação é feita no Tribunal Superior Eleitoral.
Deveras, vários impasses podem suceder durante essas etapas, levantando dúvida sobre o verdadeiro resultado
do pleito. Figure-se, e.g., a ocorrência de impugnação à identidade de eleitor (CE, art. 132) e à própria correção da
apuração.
No sistema de votação por cédula, à medida que cada voto é apurado, sujeita-se à impugnação (CE, art. 169,
caput) da parte interessada. A impugnação tem de ser decidida de plano pela junta eleitoral. Contra a decisão desta
cabe recurso, que pode ser interposto oralmente ou por escrito, devendo as razões ser apresentadas em até 48 horas
(CE, art. 169, § 2º), sob pena de preclusão.
É nessa fase – diz Soares da Costa (2006, p. 670) – “que têm cabimento os recursos parciais, exercitáveis
contra decisões da junta eleitoral apuradora, em provimento judicial prolatado em decorrência do manejo de alguma
impugnação”.
Os recursos parciais são tratados no art. 261 do Código Eleitoral. Em seucaput, esse dispositivo estabelece
que entre eles não “se incluem os que versarem matéria referente ao registro de candidatos”. Portanto, recursos
eleitorais aviados em ação de impugnação de registro de candidatura (Airc) e em ação de investigação judicial
eleitoral (Aije) não se encartam na disciplina dos recursos parciais.
Ademais, reza o § 5º do aludido art. 261: “Ao se realizar a diplomação, se ainda houver recurso pendente de
decisão em outra instância, será consignado que os resultados poderão sofrer alterações decorrentes desse
julgamento.” Nesse diapasão, pacificou-se na jurisprudência o entendimento de que o ato de diplomação não transita
em julgado (ou seja, coisa julgada administrativa, pois a diplomação é ato administrativo) enquanto recursos parciais
penderem de julgamento. Para tanto, não importa que os erros alegados nos recursos sejam de fato ou de direito.

Diplomação. Recurso alegando erro de fato na apuração final quanto à contagem de votos e classificação.
Pendência de recursos parciais ainda não definitivamente julgados. Na vigência do atual Código Eleitoral (art. 262),
a diplomação dos eleitos não transita em julgado enquanto não resolvidas, definitivamente, as questões sobre a
votação e apuração (precedentes: Acs. nos 6.649, 7.291, 7.310, 7.684 e 8.715). Recurso ordinário improvido (TSE,
RCED nº 406/BA, DJ 03.06.1987, p. 10.859).
Recurso de diplomação. Alegação de erro de direito e de fato na contagem de votos. Invocação ao art. 276, II, a, do
Código Eleitoral, sem fundação do apelo em qualquer das hipóteses do art. 262 do mesmo Código. Havendo recurso
parcial, não tem cabimento o recurso contra a diplomação, conforme reiterada jurisprudência do TSE. A diplomação
não tramita em julgado enquanto não forem decididos, em última instância, todos os recursos parciais (precedentes:
acórdãos nos 0006649, 0007291, 0007684 e 0008715). Recurso ordinário não conhecido (TSE, RCED nº 369AM,DJ
17.06.1987, p. 12.125).

Saliente-se, porém, que, com a mudança de métodos, a introdução dos procedimentos de identificação
biométrica do eleitor no ato de votar, bem como a consolidação do uso de urna e outros dispositivos eletrônicos para
votação, apuração e totalização de votos, a matéria atinente aos recursos parciais praticamente perdeu relevância e
interesse prático.

2.9 ANUALIDADE ELEITORAL – OBRIGATÓRIA OBSERVÂNCIA DE PRECEDENTES –


INAPLICABILIDADE IMEDIATA DE DECISÕES MODIFICADORAS DE
JURISPRUDÊNCIA
Reza o art. 263 do CE: “No julgamento de um mesmo pleito eleitoral, as decisões anteriores sobre questões de
direito constituem prejulgados para os demais casos, salvo se contra a tese votarem dois terços dos membros do
Tribunal.” Esse dispositivo é inspirado nos princípios de confiança e segurança jurídica. Com vistas a harmonizar as
soluções jurídicas relativamente a um pleito eleitoral, ele veda a ocorrência de mudanças bruscas na orientação
jurisprudencial firmadas nesse mesmo pleito relativamente a determinada questão jurídica.
Há muito asseverou o TSE (vide REspe nº 9.936/RJ,DJ 11.03.1993, p. 3.478) ser esse dispositivo
“incompatível com as Constituições posteriores” à sua entrada em vigor. Não teria ele, pois, sido recepcionado pela
Constituição de 1967, tampouco pela de 1988. Por isso, não vinha sendo aplicado.
Ocorre, porém, que a Constituição Federal estabelece em seu art. 16 que: “A lei que alterar o processo eleitoral
entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência”.
Trata-se da regra da anualidade, cuja finalidade é tutelar o processo eleitoral, impedindo que mudanças
casuísticas na legislação surpreendam os participantes do certame em curso ou que se avizinha, de maneira a
beneficiar ou prejudicar partidos e candidatos. Almeja-se a estabilidade, previsibilidade, confiança e segurança
jurídica quanto às normas a serem aplicadas nas eleições. Com isso, garante-se a liberdade e igualdade de
oportunidades ou de chances entre todos os concorrentes, e, consequentemente, a legitimidade do pleito.
Apesar de o texto do citado art. 16 da Lei Maior aludir apenas à “lei”, esse termo deve ser interpretado
amplamente, de modo a abranger não só as diversas espécies normativas emanadas do Poder Legislativo, como,
ainda, as normas decorrentes de atos do Poder Judiciário. Isso porque as alterações nas “regras do jogo” emanadas
também dos tribunais superiores podem produzir relevantes mudanças no arcabouço normativo que regula o
processo eleitoral.
No julgamento do RE nº 637.485/RJ, ocorrido na sessão plenária realizada no dia 1º.08.2012, assentou o
Supremo Tribunal Federal que “as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito eleitoral ou logo
após o seu encerramento, impliquem mudança de jurisprudência, não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e
somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior”. Para o Supremo, afigura-se “razoável
concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que implícita, que traduz o postulado da segurança
jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do TSE”.
Deveras, a norma jurídica firmada no julgamento do citado RE nº 637.485/RJimpede – no curso do pleito
eleitoral ou logo após o seu encerramento – a imediata aplicação de decisões do TSE que modifiquem o sentido de
seus precedentes, independentemente do momento em que estes tiverem sido estabelecidos. Estribada no art. 16 da
CF, tal norma visa resguardar o processo eleitoral de mudanças abruptas que esgarcem a segurança jurídica, a
confiança e as justas expectativas geradas por soluções judiciais já consolidadas. O entendimento do Pretório
Excelso apega-se à autoridade do precedente; pretende ensejar que os cidadãos possam ajustar suas condutas à lei,
de maneira a planejar seus assuntos e negócios com relativa “certeza” (ou, pelo menos, com alto grau de
previsibilidade) de como agirá a jurisdição eleitoral.
Por sua vez, o Tribunal Superior Eleitoral editou a Resolução nº 23.472/2016, cujo art. 5º,caput, determina que
a modificação de sua jurisprudência e de suas instruções regulamentadoras de eleições “entrarão em vigor na data
de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. Há, portanto,
expresso alinhamento com a regra do citado art. 16.
Note-se que não é proibida alteração na jurisprudência. Esta pode ser modificada a qualquer tempo.
Entretanto, havendo modificação, a nova norma jurídica só terá eficácia “para as eleições que se realizarem após um
ano, contado da data da deliberação final do Plenário” (art. 5º, § 1º).
Nos termos do § 2º do referido art. 5º, caracteriza-se como modificação da jurisprudência: “I – o entendimento
que seja contrário a reiterados julgamentos do Plenário do Tribunal Superior Eleitoral ou do Supremo Tribunal
Federal sobre a matéria; ou II – o entendimento que seja manifestamente contrário ao disposto nas instruções do
Tribunal Superior Eleitoral. [...].”
Diferentemente, o § 3º desse dispositivo arrola situações que não caracterizam modificação da jurisprudência,
a ver:

I – a análise das circunstâncias de casos concretos que demonstrem a inaplicabilidade do entendimento consolidado,
as quais deverão ser objetivamente identificadas e justificadas;
II – o entendimento que decorra da alteração da legislação que não tenha sido anteriormente apreciada em sede
jurisdicional pelo Plenário do Tribunal Superior Eleitoral ou pelo Supremo Tribunal Federal; ou
III – o entendimento expresso em decisão monocrática que não tenha sido debatido pelo Plenário do Tribunal.

Pelo § 4º do mesmo art. 5º: “Na hipótese do inciso II do § 3º, a tese definida nas decisões tomadas pelo
Tribunal Superior Eleitoral em relação aos feitos eleitorais de determinado pleito deverão ser observadas nos demais
casos que envolvam a mesma eleição”.
Vale salientar que esse § 4º possui sentido igual ao da primeira parte do citado art. 263 do CE. É lícito, então,
concluir que houve mudança do entendimento da Corte Superior que, como visto, não aplicava esse dispositivo por
considerá-lo “incompatível com as Constituições posteriores” à sua entrada em vigor.
Já pelo § 5º: “As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade, produzem eficácia erga omnes e deverão ser
observadas pelo Tribunal Superior Eleitoral no julgamento dos feitos judiciais (CF, art. 102, § 3º)”.
Ressalte-se que o que se restringe são novas interpretações de situações já anteriormente apreciadas e
decididas, em relação às quais há precedentes consolidados, pacificamente observados. Se a questão é decidida pela
vez primeira, se a Justiça ainda não se pronunciou sobre ela, não há, obviamente, que se falar em “mudança de
entendimento”. Para haver mudança, é preciso que o entendimento já esteja firmado e venha sendo observado.
Nesse contexto, faz-se oportuna a advertência de Wambier et al. (2015, p. 1315), para quem se deve insistir
“na necessidade de estabilidade da jurisprudência dos órgãos superiores, sob pena de inaceitável desrespeito ao
princípio da isonomia e de o próprio ordenamento jurídico, juntamente com o Estado Democrático de Direito, ruírem
definitivamente”.

2.10 COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL PARA JULGAR ATOS DE SEU PRESIDENTE


O art. 264 do CE prevê regra segundo a qual compete originariamente ao próprio tribunal conhecer e julgar –
em grau de recurso – atos de seu presidente. Reza esse dispositivo: “Para os Tribunais Regionais e para o Tribunal
Superior caberá, dentro de três dias, recurso dos atos, resoluções ou despachos dos respectivos presidentes.”
É expressamente fixada, assim, a competência do órgão colegiado do próprio tribunal para conhecer e julgar
recurso contra atos administrativos exarados por seu presidente.17
Na esfera administrativa, o decisum colegiado é irrecorrível, pois o órgão colegiado constitui a última instância
no âmbito administrativo.
Diante, todavia, do princípio da inafastabilidade da jurisdição inscrito no art. 5º, XXXV, da Lei maior (segundo o
qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”), é dado ao interessado
submeter a questão à apreciação jurisdicional. Assim, poderá demandar judicialmente tanto em face da decisão
monocrática do presidente do tribunal quanto do decisum colegiado. Nas duas hipóteses, a competência é deferida
ao próprio tribunal.18
Tal interpretação sintoniza-se com o disposto no art. 102, I, d, da Constituição Federal, que afirma competir
originariamente ao STF processar e julgar “o mandado de segurança e o habeas data contra atos [...] do próprio
Supremo Tribunal Federal”. O mesmo se passa com o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I,b, in verbis: “os
mandados de segurança e os habeas data contra ato [...] do próprio tribunal”), e também com os Tribunais
Regionais Federais (CF, art. 108, I,c, in verbis: “os mandados de segurança e os habeas-data contra ato do
próprio tribunal ou de juiz federal”). Idêntica normativa consta do art. 21, VI, da Lei Orgânica da Magistratura
Nacional (Loman) (LC nº 35/1979).
Em tais dispositivos, o sentido da expressão “ato do próprio tribunal” também compreende o ato praticado
isoladamente por um membro seu, o que atrai a competência do respectivo sodalício.
Considerando que os tribunais eleitorais têm natureza federal, a regra em comento ainda se harmoniza com a
exceção preconizada no inciso VIII do art. 109 da Lei Maior, segundo o qual aos juízes federais compete processar
e julgar “os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais”. Assim, na definição da competência dos juízes federais, é expressamente
ressalvada a “competência dos tribunais federais”.
No sentido exposto, é pacífica a jurisprudência, a ver:

O Supremo Tribunal Federal não dispõe de competência constitucional originária para processar e julgar mandado de
segurança impetrado contra qualquer Tribunal judiciário, inclusive o Tribunal Superior Eleitoral. O art. 21, VI, da
LOMAN – que foi inteiramente recebido pela nova ordemconstitucional – autoriza o entendimento de que cabe ao
próprio Tribunal Superior Eleitoral apreciar o writ mandamental deduzido contra seus atos ou omissões. [...] (STF,
MS nº 22.041 AgR/BA, Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 23.09.1994, p. 25331).
Processual Civil. Conflito Negativo de Competência. Ato Administrativo do Presidente do TRE – Autoridade
Coatora. 1. No Mandado de Segurança a competência para processar e julgar a ação define-se pela categoria,
qualificação e hierarquia funcional da autoridade coatora e pela natureza do ato impugnado. 2. O ato ferretado, no
caso, decorrente da autoridade do Presidente da Corte, refere-se à administração TRE-MG, com efeitos na relação
funcional interna. 3. Precedentes jurisprudenciais. 4. Conflito conhecido e declarada a competência do Tribunal
Regional Eleitoral-MG, suscitante (STJ, CC nº 23.977/MG, 1ª Seção, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ 05.06.2000,
p. 102).
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que compete ao TRE o julgamento de mandado de segurança
contra atos de seus membros (Precedentes: AgR-MS nº 4.139/P R, Rel. Min. Marcelo Ribeiro,DJE 17.03.2009;
AgR-MS nº 3.370/BA, Rel. Min. Eros Grau,DJ 24.06.2008). [...] (TSE, AgRMS nº 4.279/RJ,DJe 14.04.2010, p.
40).

A propósito, foi editada a Súmula TSE nº 34, que reza: “Não compete ao Tribunal Superior Eleitoral processar e
julgar mandado de segurança contra ato de membro de Tribunal Regional Eleitoral.”
Nesse contexto, a questão somente poderá ser levada à apreciação do Tribunal Superior Eleitoral via recurso
interposto contra o acórdão prolatado na aludida demanda, independentemente de esta ter por objeto decisão
administrativa do presidente ou do próprio colegiado do tribunal.

2.11 IRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS DOS TRIBUNAIS ELEITORAIS


No Direito eleitoral, podem-se divisar dois tipos de decisões administrativas, a saber: propriamente
administrativa e administrativo-eleitoral. Essas duas espécies se distinguem pelo conteúdo, pois enquanto a primeira
contém matéria estritamente administrativa, a segunda consubstancia matéria eleitoral.
Decisões estritamente administrativas dos tribunais regionais eleitorais não são passíveis de recurso para o
TSE. Argumenta-se que as decisões administrativas dos tribunais se fundam na autonomia administrativo-financeira
que lhes são deferidas, não podendo o Tribunal Superior imiscuir-se nessa seara, ainda que se constate infringência a
normas jurídicas. Se assim o fizesse, violaria a autonomia constitucionalmente deferida aos tribunais.

Recurso especial. Decisão de natureza administrativa do TRE/RS. Não cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar
recurso especial contra decisão de natureza estritamente administrativa dos Tribunais Regionais. Recurso não
conhecido. Decisão: Não conhecido o especial. Decisão unânime (TSE, REspe nº 11.405/RS,DJ 16.08.1996, p.
28.133).
Recurso especial. Matéria decidida administrativamente pela Corte Regional. Não cabimento do apelo em análise.
Não conhecimento. 1. Tendo a Corte Regional decidido a matéria administrativamente, é incabível a utilização de
recurso especial eleitoral como forma de jurisdicionalizar o debate. 2. Não cabe ao TSE rever, em sede de recurso
especial, os atos cometidos pelos TREs no exercício de sua autonomia administrativa. 3. Recurso não conhecido.
Encaminhamento de peças ao Tribunal de Contas da União. Decisão: O tribunal, por unanimidade, não conheceu do
recurso, com o encaminhamento de peças ao Tribunal de Contas da União, na forma do voto do relator (TSE,
REspe nº 25.390/PI, DJ 19.03.2007, p. 176).

Como exemplo de decisões desse gênero, citem-se as relativas a: (i) concessão de auxílio-alimentação, auxílio-
creche, auxílio-transporte a servidor municipal ou estadual requisitado pela Justiça Eleitoral (TSE, REspe nº 25.390/
P I, DJ 19.03.2007, p. 176); (ii) alteração de função de confiança (TSE, REspe nº 25.836/P B,DJ 19.03.2007, p.
178); (iii) contrato e licitação para aquisição de produtos ou serviços; (iv) conflitos decorrentes da realização de
concurso público; (v) aplicação de sanção disciplinar a servidores.
Note-se, porém, que o princípio da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV) garante ao interessado o
direito fundamental de submeter ao poder jurisdicional a decisão (estritamente) administrativa do tribunal. A
competência, no caso, é do próprio tribunal, consoante há pouco salientado.19
Por outro lado, as decisões de natureza administrativo-eleitoral emanadas dos TREs somente são recorríveis ao
Tribunal Superior Eleitoral se houver expressa previsão legal de recurso. À guisa de exemplo, citem-se as seguintes
situações: (i) pedido de veiculação de propaganda partidária (TSE, ARO nº 1.541/DF,DJ 25.08.2008, p. 8); (ii)
representação contra juiz eleitoral (TSE, AAg nº 7.065/CE,DJe 1º.09.2009, p. 32); (iii) prestação de contas de
campanha eleitoral; (iv) pedido de registro de candidatura; (v) decisão em procedimento de tomada de contas
especial realizada pela Justiça Eleitoral quanto a contas partidárias (TSE, AgR-AI nº 13030/RJ,DJe, t. 180,
25.09.2014, p. 35). Tais decisões só são recorríveis ao Tribunal Superior Eleitoral se houver previsão legal de
recurso, do contrário são irrecorríveis. Nesse caso, somente poderiam ser questionadas judicialmente, mediante ação
própria (como o mandado de segurança), que é de competência do próprio tribunal autor da decisão. De maneira
que a questão somente seria submetida ao Tribunal Superior em recurso aviado contra o acórdão prolatado na
aludida ação.20
Veja-se a situação da prestação de contas de campanha. Como se trata de processo administrativo, houve um
momento em que se entendeu incabível recurso contra a decisão de Tribunal Regional que as apreciasse. Assim:
“[...] 1. O plenário do TSE, apreciando o recurso especial, decidiu dele não conhecer, considerando tratar-se de
matéria de natureza administrativa [...]” (TSE, EREspe nº 26.115/SP,DJ 08.11.2006, p. 114). No mesmo sentido:
Recursos Ordinários nos 1.407 e 1.427, Recursos Especiais nos 28.060, 1.428 e 28.057, todos decididos na sessão
plenária de 17 de abril de 2007. Entretanto, os §§ 5º e 6º do art. 30 da Lei Eleitoral (§ 5º com a redação dada pela
Lei nº 13.165/2015 e § 6º com a redação da Lei nº 12.034/2009) previram o cabimento de recurso à superior
instância, sendo expressamente previsto recurso especial para o TSE.
Para as situações em que não há expressa previsão de recurso, pode o interessado submeter a decisão
administrativo-eleitoral ao poder jurisdicional. Para tanto, há mister que se ingresse com demanda judicial,
observando-se a lógica há pouco exposta para as decisões estritamente administrativas.

2.12 PUBLICAÇÃO PRÉVIA DE PAUTA E COLOCAÇÃO DE RECURSOS E CAUSAS EM MESA


PARA JULGAMENTO
Estando o recurso ou a causa prontos para ir a julgamento no órgão Colegiado, serão os autos apresentados ao
presidente do tribunal eleitoral, que para tanto deverá designar dia e ordenar “a publicação da pauta no órgão oficial”
(CP C/2015, art. 934). Consoante o art. 935 do novo código processual: “Entre a data de publicação da pauta e a da
sessão de julgamento decorrerá, pelo menos, o prazo de 5 (cinco) dias [...].”21
Para o padrão de celeridade característico dos procedimentos eleitorais, o interregno de 5 dias “entre a data de
publicação da pauta e a da sessão de julgamento” afigura-se demasiado longo. Observe-se que esse lapso é superior
até mesmo ao padrão de prazo recursal, que, é de 3 dias (CE, art. 258).
Diferente desse é o lapso estabelecido pelo art. 18, caput, da Res. TSE nº 23.478/2016. Como regra geral, essa
norma prevê que os julgamentos nos tribunais eleitorais somente poderão ser realizados 24 horas após a publicação
da pauta. Confira-se:

Art. 18. Os julgamentos das ações originárias e dos recursos nos Tribunais Eleitorais, inclusive os agravos e
embargos de declaração na hipótese do art. 1.024, § 1º, do Novo Código de Processo Civil22, somente poderão ser
realizados 24 horas após a publicação da pauta.

Tem-se, assim: i) a necessidade de que seja publicada uma pauta, na qual sejam arrolados os recursos ou as
causas que serão apreciados pelo órgão Colegiado do tribunal eleitoral na respectiva sessão; ii) os julgamentos dos
recursos ou das causas arrolados na pauta somente poderão ocorrer 24 horas depois da publicação desta.
Com isso, sem se afastar da orientação do novo Código Processual Civil, evita-se que os sujeitos processuais
sejam surpreendidos com a colocação de seus recursos ou causas em mesa para julgamento, sem que constem da
pauta previamente publicada. Prestigiam-se, portanto, os princípios da ampla defesa e da não surpresa, pois sabendo
de antemão que o recurso ou a causa de seu interesse será julgado, poderão as partes melhor se organizar e se
preparar adequadamente para a produção de sustentação oral.
A não publicação de pauta de julgamento no órgão oficial gera a nulidade do respectivo julgamento. Nesse
sentido: “1. A ausência de publicação de pauta de julgamento na imprensa oficial acarreta a nulidade do acórdão por
cerceamento de defesa. Precedentes. [...]” (TSE, ED-REspe nº 6.404/PB, DJe 29.04.2013).
Note-se, porém, que a norma em exame é excepcionada pelas hipóteses arroladas no parágrafo único daquele
mesmo artigo, a ver:

Art. 18 [...] Parágrafo único: O disposto no caput não se aplica:


I – ao julgamento de habeas corpus; recurso em habeas corpus; tutela provisória; liminar em mandado de
segurança; e, arguição de impedimento ou suspeição;
II – durante o período eleitoral, aos processos atinentes ao respectivo pleito;
III – às questões de ordem;
IV – à continuidade de julgamento de processos decorrentes da devolução tempestiva de pedido de vista;
V – aos feitos não apreciados cujo julgamento tiver sido expressamente adiado para a primeira sessão seguinte;
VI – aos embargos de declaração, quando julgados na sessão subsequente à respectiva oposição ou, se for o caso, à
apresentação da manifestação do embargado;
VII – aos feitos administrativos, com exceção do pedido de registro de partido político;
VIII – às outras hipóteses previstas em lei ou nas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral.

Note-se que o inciso II desse dispositivo veicula hipótese de grande amplitude, pois, durante o período eleitoral,
incide em todos processos a ele relativos.
Ademais, a partir da cláusula aberta do inciso VIII, outras hipóteses ainda poderão ser incluídas nesse rol.
Em todos os casos assinalados, poderão o recurso ou a causa ser colocados em mesa para julgamento, sem
prévia inclusão na pauta, e também sem prévia intimação das partes.
Com isso, o campo de ação das partes fica bem restringido – sobretudo em situações como a do inciso II
(processos atinentes ao período eleitoral em curso), em que não só se admite a produção de sustentação oral, como
também é de todo conveniente que ela seja feita.
Em geral, muitos desses casos são levados a julgamento na primeira sessão subsequente. O que permite às
partes terem ao menos uma noção desse momento e se prepararem para ele e realizarem alguma ação em prol das
situações que defendem, como, e.g., a distribuição de memoriais.

2.13 AUTOCOMPOSIÇÃO, CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO


Um dos aspectos distintivos da sociedade humana é a existência de conflitos de interesses e de direitos
decorrentes da violação das normas que a regulam. Em consequência, assinala Echandía (2015, p. 3):

Precisamente, una de las características esenciales de toda sociedad organizada es la reglamentación de la facultad
de desatar los conflictos, entre las personas o de reparar lesiones y sancionar los ilícitos, con fundamento en dos
principios: la restricción de tal facultad al Estado y la determinación de normas para su ejercicio.

É pelo poder jurisdicional que o Estado procura solucionar em caráter definitivo os conflitos e as pretensões que
lhe são submetidos, de maneira a pacificar as pessoas e a vida social. Diz-se procura porque em numerosos casos
o Estado-juiz apenas resolve o processo, sem, porém, lograr a pacificação do conflito e dos litigantes.
No entanto, fora da jurisdição, há outros meios de resolução de conflitos e pacificação social, denominados
meios alternativos. Alternativos à jurisdição. Conforme salientam Theodoro Júnior et alii (2016, p. 485), no vigente
código processual civil apresenta-se um “sistema de multiportas no qual a jurisdição estatal ‘tradicional’ deve ser
uma entre outras possibilidades igualmente atraentes já que igualmente protegidas contra abusos e coerções”. Entre
os aludidos meios alternativos, destaca-se a autocomposição.
Em tal contexto, não se pode olvidar que a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) figura como um dos
fundamentos do Estado brasileiro, sendo seu objetivo a construção de “uma sociedade livre, justa e solidária” (CF,
art. 3º, I). Por óbvio, a pessoas dignas e livres não poderia o Estado negar a possibilidade de decidir sobre seus
próprios interesses e, pois, delinear os contornos de suas próprias vidas.
Conforme asseveram Araújo Cintra, Grinover e Dinamarco (1995, p. 29-30), aautocomposição não ultraja o
monopólio estatal da jurisdição, constituindo “legítimo meio alternativo de solução dos conflitos, estimulado pelo
direito mediante atividades consistentes na conciliação [...].”
A autocomposição pode ser extraprocessual (fora do âmbito de um processo) ou endoprocessual (dentro de um
processo); pode ocorrer antes de iniciado o processo ou durante o seu curso. Em geral, tem por objeto a situação ou
o direito material discutido no processo.
Cuidando desse tema, o Conselho Nacional de Justiça empenhou-se no desenvolvimento de uma política
judiciária de solução consensual de conflitos, com vistas à efetiva resolução e pacificação social. Nesse sentido,
expediu a Resolução nº 125, de 29.11.2010, cujo art. 7º (com a redação da Emenda nº 2, de 08.03.2016) determina
que os tribunais criem “Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Núcleos) [...]”.
Tais Núcleos são vinculados diretamente aos tribunais23, e funcionam junto a eles. No âmbito da Justiça
Federal, nos termos da Resolução nº CJF-Res-2016/00398 de 04.05.2016, compete-lhes “realizar as sessões e
audiências de conciliação e mediação pré-processuais, bem como atendimento e orientação ao cidadão” (art. 9º, I).
Diante disso, passou-se a prever a conciliação em processos de diversas naturezas em trâmite nos Tribunal
Regionais Federais. Como exemplo, citem-se as Resoluções Presi 600-04, de 06.03.2008, e N.100–14, de
25.05.2005, que autorizam a implantação de Projeto de Conciliação nos processos que tramitam em grau de recurso
no Tribunal Regional Federal da 1ª Região respectivamente quanto às ações previdenciárias e ao Sistema Financeiro
da Habitação.
De igual modo, há no CP C/2015 forte incentivo à autocomposição. Nem poderia ser diferente, pois entre as
finalidades desse código encontra-se a simplificação e a diminuição de formalidades – é sabido que os meios
alternativos de solução de conflitos caracterizam-se pela informalidade, havendo ruptura com o formalismo
processual próprio do exercício do poder jurisdicional. O art. 3º daquele código determina que o Estado promova,
“sempre que possível, a solução consensual dos conflitos” (§ 2º), devendo a “conciliação, a mediação e outros
métodos de solução consensual de conflitos” (§ 3º) ser estimulados “inclusive no curso do processo judicial.” Já o
art. 165 dispõe:

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de
sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar
e estimular a autocomposição [...].

A conciliação distingue-se da mediação, embora ambas sejam técnicas ou formas de autocomposição. Na


primeira, admite-se que o conciliador elabore e proponha “soluções para o litígio” (CP C/2015, art. 165, § 2º); assim,
além de aproximar e estimular o diálogo entre os interessados, poderá o conciliador desenvolver e propor soluções
para o conflito. Já na mediação, o mediador limita-se a auxiliar os “interessados a compreender as questões e os
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios,
soluções consensuais que gerem benefícios mútuos” (CP C/2015, art. 165, § 3º). Assim, o mediador deve apenas
promover a aproximação dos interessados e a discussão das questões, sem desenvolver ou apresentar solução para
o problema, cabendo aos próprios interessados chegar a um consenso e encontrar uma solução.
No entanto, segundo o art. 6º da Res. TSE nº 23.478/2016: “Não se aplicam aos feitos eleitorais as regras
relativas à conciliação ou mediação previstas nos arts. 165 e seguintes do Novo Código de Processo Civil.” Em igual
sentido, a primeira parte do art. 11 daquela norma afirma que, “na Justiça Eleitoral, não é admitida a autocomposição
[...].”
Entre os fundamentos para a vedação da autocomposição na esfera eleitoral, pode-se aludir à especial natureza
dos bens que se encontram em jogo nos conflitos ocorrentes nessa seara. Ademais, por não se tratar de bens
privados e disponíveis, em regra não poderiam as partes transigir ou se autocompor em relação a eles. De sorte que
a atuação da norma eleitoral e a imposição de sanções só pode se dar pelo poder jurisdicional. Nessa perspectiva, o
processo jurisdicional eleitoral avulta como instrumento necessário para a atuação da lei, imposição de sanções e
responsabilização de agentes ou beneficiários de ilícitos eleitorais.
Apesar disso, é inadequada a absoluta vedação da autocomposição na esfera eleitoral, como parece pretender
o citado art. 6º da Res. TSE nº 23.478/2016. Há situações que reclamarão o emprego de técnicas de
autocomposição, ainda que extrajudiciais. Pense-se, por exemplo, em acordo acerca da realização de um tipo de
propaganda eleitoral em circunscrição eleitoral onde os ânimos encontram-se bastante acirrados, ou, ainda, no
estabelecimento de regras para a realização de debate eleitoral.24

2.14 NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL


Conforme salientei em outra obra (vide Gomes: 2009, p. 253 ss.), o negócio jurídico se funda na autonomia
privada, e tem por finalidade a autorregulação de interesses. Trata-se de uma estrutura legal, geral e abstrata, por
meio da qual as partes delineiam, com relativa margem de liberdade, o conteúdo de uma situação ou relação jurídica
cuja observância torna-se obrigatória para elas. Assim, as partes se vinculam em atenção à realização das escolhas
erigidas pelas suas próprias vontades.
Entre outras classificações, pode o negócio jurídico ser típico e atípico; e quanto às partes nele envolvidas,
unilateral, bilateral e plurilateral. Típico é aquele cujo regime é regulado em lei, enquanto o atípico é delineado pelas
partes no âmbito de suas autonomias. Unilateral é aquele em que há manifestação de vontade de uma parte em
uma só direção, à vista de uma só finalidade (ex.: testamento); bilateral é aquele em que há declarações de
vontades emanadas de duas ou mais partes em direções opostas (ex.: contrato de compra e venda); plurilateral é
aquele em que há declarações de vontade de várias partes que convergem para um só interesse (ex.: contrato de
sociedade).
Apesar da natureza pública atribuída ao processo, admite-se a realização de negócio jurídico em seu bojo.
Como assinalam Theodoro Júnior et alii (2016, p. 297), tal admissão tem ensejado a revitalização da autonomia
privada no direito processual e “vem se tornando recorrente no direito estrangeiro”.
O objeto da convenção processual são as situações ou as relações pertinentes ao próprio processo – e não,
frise-se, as situações ou os direitos materiais objetos da causa, a respeito dos quais se pede a tutela jurisdicional.
Como exemplos, citem-se o acordo de eleição de foro (CP C/1973, art. 111; CP C/2015, art. 63), de suspensão do
processo (CP C/1973, arts. 265, II, e 792; CP C/2015, arts. 313, II, e 922), de desistência do recurso (CP C/1973, art.
500, III; CPC/2015, art. 997, § 2º, III), de renúncia ao recurso (CPC/1973, art. 502; CPC/2015, art. 999).
Ressalte-se que no âmbito do processo a autonomia privada das partes encontra-se limitada pelos direitos
fundamentais processuais, devendo-se, pois, sempre respeitar o contraditório e a ampla defesa.
O art. 190 do CP C/2015 veicula diretrizes gerais acerca da realização de negócios jurídicos processuais. Reza
esse dispositivo:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes
estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus,
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Também o art. 191 do CPC/2015 contém previsão de negócio jurídico de caráter processual:

Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando
for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos
excepcionais, devidamente justificados.
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas
tiverem sido designadas no calendário.

Observe-se que o citado art. 190 autoriza as partes: i) a estipular mudanças no procedimento; ii) a
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. Ademais, o entabulamento do negócio
não conta com a participação do órgão judicial, podendo se perfazer antes ou durante o processo – inclusive,
portanto, na fase recursal.
Há uma relativa flexibilização quanto à prática de atos processuais, estruturação e desenvolvimento do
procedimento legalmente fixado.
Nos termos do art. 11 da Res. TSE nº 23.478/2016: “Na Justiça Eleitoral não é admitida a autocomposição, não
sendo aplicáveis as regras dos arts. 190 e 191 do Novo Código de Processo Civil.”
Considerado o teor do art. 190 do CP C/2015, afigura-se razoável restringir a admissão na esfera eleitoral do
negócio jurídico processual. Isso porque o acordo de vontades firmado entre as partes poderá impor mudança no
procedimento legal ou mesmo alterar deveres processuais impostos às partes.
Ocorre que na seara eleitoral o processo é sempre necessário para a atuação concreta da lei, responsabilização
de pessoas e imposição de sanções como consequência de ilícitos. Essa imprescindibilidade do processo decorre da
natureza dos bens envolvidos, que em geral referem-se à legitimidade, normalidade e sinceridade das eleições, à
igualdade na disputa, à liberdade do eleitor. Nesse contexto, o provimento jurisdicional contribui para a configuração
da ideia de legitimidade do resultado do pleito eleitoral.
Devido à natureza dos bens envolvidos e sendo o processo necessário para a atuação concreta da lei, a
observância da forma procedimental constitui garantia fundamental não só para os sujeitos processuais, como
também para toda a sociedade. No caso, a observância da forma integra o núcleo do due process of law (CF, art.
5º, LIV), isto é, do processo justo. De sorte que a forma procedimental constitui garantia inafastável pela vontade
individual. Por isso, não é permitido “às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-
lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes
ou durante o processo” (CPC/2015, art. 190).
Por isso, há atos das partes situados no âmbito negocial que, se praticados, não geram efeitos no processo.
Assim, por exemplo, a desistência da ação eleitoral ou do recurso, conforme tem entendido a jurisprudência:

[...] a ação de impugnação de mandato eletivo destina-se à tutela do interesse público, uma vez que tem a missão
constitucional de impedir que atos de abuso do poder, corrupção ou fraude contaminem a eleição, tornando ilegítimos
os mandatos assim obtidos. [...] trata-se de matéria sobre a qual não se admite desistência ou composição das partes
(TSE, RO nº 104/RO, DJ, v. 1, 29.09.2000, p. 168 – extraído do voto do relator).

Em casos tais, asseverou o Ministro Paulo Brossard quando do julgamento do REsp nº 8.536/AL DJ (
24.03.1993, p. 4722), por ser a matéria eminentemente de caráter público, e como tal, devendo ser tratada: “Admitir
a desistência do recurso é estimular o ‘complot’ contra a legalidade.”
No entanto, embora haja razoabilidade em se vedar a admissão do instituto do negócio processual previsto no
art. 190 do CP C/2015, mal não haveria em, de comum acordo, o juiz e as partes fixarem “calendário para a prática
dos atos processuais, quando for o caso” (CP C/2015, art. 191,caput). Aqui se trata tão somente de estabelecer
uma agenda para a prática de atos processuais. Tal agenda é consensual, e não imposta pelo órgão judicial que
preside o feito.
O estabelecimento de calendário processual é uma forma de negócio jurídico processual que, apesar de
poder contar com alteração de prazos, requer a participação do órgão judicial que preside o processo. Mesmo no
âmbito Eleitoral, sua admissão pode trazer benefícios para a celeridade e economia processuais, otimizando-se o
trâmite do procedimento e a gestão do tempo do processo. Isso não só em razão da eliminação dos chamados
tempos mortos do processo (ou seja, períodos em que o processo fica parado, aguardando a prática de ato por um
sujeito processual), como também em virtude da dispensa da prática de certos atos procedimentais, tais como: i) a
“intimação das partes para a prática de ato processual ou a [intimação para a] realização de audiência cujas datas
tiverem sido designadas no calendário” (§ 2º); ii) a movimentação dos autos no cartório ou secretaria judicial, e
desta para o juiz. Ademais, todos saberão de antemão quando os atos serão praticados, podendo haver melhor
preparação para eles.

2.15 SUSTENTAÇÃO ORAL


O debate oral da causa liga-se ao princípio da oralidade no procedimento. Apresenta grande relevo para a
formação do convencimento do juiz, pois este, ao receber de forma direta e imediata os fundamentos da tese
desenvolvida pela parte, fica em melhores condições psicológicas para percebê-los. A exposição oral e imediata em
muito facilita a comunicação e a compreensão de detalhes ou circunstâncias que muitas vezes se perdem no meio de
extensas exposições escritas.
Assim, a sustentação oral constitui uma oportunidade de as partes exporem suas razões diretamente aos juízes
integrantes do órgão Colegiado do Tribunal que vai julgar a causa.
Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o presidente dará a palavra,
sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de sua intervenção, ao membro do Ministério Público, a fim
de sustentarem suas razões (CPC/2015, art. 937, caput).
O art. 16 da Res. TSE nº 23.478/2016 dispõe genericamente sobre prazos de sustentação oral na seara
eleitoral, a ver:

Art. 16. Nos Tribunais Eleitorais, o prazo para sustentação oral dos advogados das partes e do representante do
Ministério Público será de:
I – 15 (quinze) minutos nos feitos originários (art. 937 do Novo Código de Processo Civil);
II – 10 (dez) minutos, nos recursos eleitorais (art. 272 do Código Eleitoral); III – 20 (vinte) minutos no recurso
contra expedição de diploma, (art. 272, parágrafo único, do Código Eleitoral).

No entanto, esse dispositivo não esgota todas as situações. Por exemplo: nas ações penais de competência
originária, acusação e defesa terão, sucessivamente, o prazo de uma hora para produzirem sustentação oral quando
do julgamento do feito (Lei nº 8.038/1990, art. 12, I).
A sustentação oral pode ser produzida de forma presencial perante o órgão julgador ou remotamente, pelo
sistema de videoconferência, consistente em meios eletrônicos de transmissão em tempo real de voz e imagens.
A segunda forma é regulada no parágrafo 4º do art. 937 do CP C/2015, que permite “ao advogado com
domicílio profissional em cidade diversa daquela onde está sediado o tribunal realizar sustentação oral por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que o
requeira até o dia anterior ao da sessão.”
Tratando desse tema, o art. 16 da Res. TSE nº 23.478/2016 determina que a a sustentação oral por meio de
videoconferência prevista no aludido art. 937, § 4º, do CP C/2015 será implantada “de acordo com a disponibilidade
técnica de cada cartório ou Tribunal Eleitoral.”

2.16 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE


O controle de constitucionalidade encontra fundamento na ideia de supremacia da Constituição. Seu objetivo é
avaliar a adequação de uma norma jurídica ao sentido da Lei Maior.
Quanto à natureza, o controle pode ser político ou judicial. Diz-se político quando for exercido por órgão não
integrante do Poder Judiciário, enquanto judicial é o confiado a esse Poder. Por outro lado, quanto ao momento em
que é exercido, pode o controle ser preventivo ou repressivo. Preventivo ou a priori é o ultimado antes que a
norma se aperfeiçoe (ex.: veto presidencial), enquanto o repressivo ou a posteriori é aquele realizado depois do
aperfeiçoamento da norma.25
Na doutrina delineiam-se três sistemas judiciais de controle de constitucionalidade, a saber: concreto, abstrato e
misto. No primeiro, também chamado de difuso ou incidental, o controle é exercido pelos órgãos judiciais (juízes e
tribunais) no âmbito de determinado processo jurisdicional. Se o órgão judicial entender que a norma censurada é
constitucional, aplicá-la-á à lide; do contrário, a repelirá, reafirmando o comando e a supremacia da norma
constitucional. No segundo, abstrato ou concentrado, o controle é também realizado pelo Judiciário, mas por um
órgão de cúpula desse Poder, denominado Supremo Tribunal ou Corte Constitucional. Aqui o controle é feito de
maneira direta e em abstrato, e o objeto da ação é a própria questão constitucional – inexiste conflito intersubjetivo
de interesses (lide) a ser resolvido. Por último, o sistema misto congrega elementos dos dois anteriores.
O sistema misto foi acolhido na Constituição Federal de 1988.
No presente momento, importa enfocar apenas alguns aspectos do controle concreto, difuso ou incidental de
constitucionalidade. Conforme salientado, ele é realizado por qualquer juiz no âmbito de um processo judicial. A
questão constitucional deve ser arguida incidentalmente pelas partes ou pelo Ministério Público, ou, ainda, ser
levantada ex officio pelo órgão judicial. No incidente processual, o objeto da decisão judicial restringe-se à questão
constitucional, e esta não coincide com o objeto da ação, isto é, com a lide. A lide propriamente só será julgada após
a resolução do incidente. Esse tema é bem exposto por Ferreira Filho (2005, p. 38):

Durante muito tempo só se admitiu que a questão de constitucionalidade de uma lei viesse a ser examinada por um
juiz como exceção, isto é, como alegação de defesa. Exatamente isto ocorreu nos Estados Unidos, como se infere
do caso Marbury versus Madison.
Ou seja: exigida a satisfação de obrigação imposta por meio de lei suspeita de inconstitucionalidade, o devedor dessa
obrigação, ao se defender em juízo, alega a inexistência da obrigação, por não ser válida a lei que a fundamenta. Tal
exceção é apreciada como preliminar, ou incidente da ação, pelo juiz que, após resolvê-la, julga o pedido (aplicando a
lei se a entender constitucional ou aplicando a Constituição se considerar inconstitucional a lei). Essa modalidade de
controle é chamada de incidental, pois, embora o reconhecimento da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da
lei decorra da decisão judicial, esta não tem por objeto senão a existência ou não de uma obrigação. Tal sutileza
preserva a suscetibilidade do legislador e não fere, nem na aparência, a separação de poderes, como ocorreria se o
juiz julgasse a lei.

Observe-se que, no modelo difuso ou incidental, se qualquer juiz de 1º grau pode realizar controle de
constitucionalidade, os tribunais de 2º grau só poderão fazê-lo pela maioria absoluta de seus integrantes. Isso em
razão da cláusula de reserva de plenário prevista no art. 97 da Constituição Federal. Por esse dispositivo:
“Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os
tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.”
Destarte, os órgãos fracionários dos tribunais (turma, câmara e seção) não estão autorizados a realizar controle
incidental de constitucionalidade, pois essa competência foi afetada imediatamente ao órgão Pleno ou ao Especial.
A questão constitucional deve ser posta como preliminar do recurso dirigido ao tribunal. Admitido o recurso, o
relator, após ouvir “o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o
conhecimento do processo” (CP C/2015, art. 948). Sendo a arguição de inconstitucionalidade rejeitada pela turma ou
câmara, o julgamento do recurso prossegue; mas, se for acolhida, “a questão será submetida ao plenário do tribunal
ou ao seu órgão especial, onde houver” (CPC/2015, art. 949, I e II).
O órgão pleno ou especial do tribunal se limita a conhecer e julgar o incidente, não ingressando no mérito do
pedido principal; a decisão por ele proferida é vinculante para o órgão inferior, que a ela deverá se reportar na
apreciação da lide. Nessa esfera, a questão constitucional poderá ser rejeitada ou acolhida – em qualquer caso os
autos são devolvidos à turma para que o julgamento do recurso prossiga.
Prestigiando a eficiência e a celeridade da prestação jurisdicional, o parágrafo único do art. 949 do novo CP C
determina aos órgãos fracionários dos tribunais que não submetam “ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição de
inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a
questão”. Em tal hipótese, o próprio órgão fracionário poderá julgar a questão incidental, afirmando ou negando a
constitucionalidade da norma censurada. Esse julgamento do órgão fracionário equivale, na verdade, à aplicação do
entendimento já firmado anteriormente pelos órgãos que lhe são superiores. Se estes não revisaram seus
entendimentos, não seria mesmo necessário que novamente se pronunciassem sobre a mesma matéria já enfrentada
anteriormente.
No órgão Pleno ou Especial do tribunal, o § 1º do art. 950 do CP C/2015 faculta a manifestação das pessoas
jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato questionado.
Diferentemente do art. 482, § 1º, do CP C/1973, aquele dispositivo (§ 1º do art. 950 do CP C de 2015) não traz
expressamente a possibilidade de manifestação do Ministério Público na fase de julgamento do incidente pelo
plenário ou órgão especial do tribunal. Tal supressão talvez possa ser explicada pelo fato de o órgão do Parquet já
ter se manifestado nos autos sobre a questão, perante a turma ou câmara, conforme prevê o art. 948. De qualquer
sorte, é legítima a compreensão de que o órgão ministerial possa (e até deva) manifestar-se também nessa fase do
incidente, porque: i) o § 2º daquele mesmo art. 950 do CP C/2015 prevê que a “parte legitimada à propositura das
ações previstas no art. 103 da Constituição Federal poderá manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional
objeto de apreciação, no prazo previsto pelo regimento interno, sendo-lhe assegurado o direito de apresentar
memoriais ou de requerer a juntada de documentos”. E o art. 103, VI, da CF prevê a legitimidade ativa de o
Ministério Público, pela Procuradoria-Geral da República, propor as ações especificadas naquele dispositivo
constitucional, a saber: ADI e ADC;ii) o art. 176 do CP C/2015 determina que o MP atue “na defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis”; iii) segundo o art. 127
da CF, o Ministério Público é instituição “essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
Consoante referido, nos termos do § 2º do art. 950 do CP C/2015, também poderão se manifestar por escrito
sobre a questão constitucional a “parte legitimada à propositura das ações previstas no art. 103 da Constituição
Federal”, podendo apresentar memoriais ou pedir a juntada de documentos.
Por fim, estabelece o § 3º do art. 950 do CP C/2015 que o relator, considerando a relevância da matéria e a
representatividade dos postulantes, “poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou
entidades”. Assim, é autorizada a participação do amicus curiae, amigo da Corte.26
As regras veiculadas nesses §§ 1º, 2º e 3º do art. 950 do CP C/2015 – assinalam Mendes e Gonet Branco
(2012, p. 1179) – rendem ensejo a uma “efetiva abertura do processo de controle de constitucionalidade incidental,
que passa, nesse ponto, a ter estrutura semelhante à dos processos de índole estritamente objetiva (ADI, ADC e
ADPF)”.27
O procedimento exposto para declaração incidental de inconstitucionalidade não tem aplicação nos Tribunais
Regionais, tampouco no Tribunal Superior Eleitoral. Isso porque esses tribunais não possuem órgãos fracionários,
funcionando continuamente em suas composições plenas. De sorte que as arguições de inconstitucionalidade que
lhes forem dirigidas são sempre julgadas pelo órgão pleno.
Os regimentos internos dos tribunais eleitorais dispõem sobre incidente de inconstitucionalidade, especificando o
procedimento a ser observado. Em geral, prevê-se o processamento da arguição nos próprios autos e a suspensão
do feito para que a questão constitucional seja decidida separadamente. Nesse sentido, vejam-se o art. 75 do
Regimento Interno do TRE/SP 28 e o art. 119 do TRE/PE.29
No que concerne ao quorum para o julgamento, o art. 97 da Constituição Federal é expresso ao impor que a
declaração de inconstitucionalidade seja levada a efeito “somente pelo voto da maioria absoluta” dos membros do
tribunal.
Por maioria absoluta compreende-se a metade mais um dos integrantes de um órgão colegiado. Todavia, se o
total de integrantes encerrar número ímpar, a metade será representada por uma fração. Nessa hipótese, deve-se
compreender por maioria absoluta o primeiro número inteiro superior à fração.30
No caso, o Tribunal Superior e os Tribunais Regionais Eleitorais são compostos por sete membros (CF, arts.
119, caput, e 120; CE, arts. 16 e 25). Metade de sete é 3,5. Logo, a maioria absoluta exigequorum mínimo de
quatro votos. De sorte que somente por quatro votos podem os tribunais eleitorais (regionais e superior) declarar
incidentemente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo.
As decisões do TSE que envolvam “interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição [...] só poderão
ser tomadas com a presença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento de algum juiz, será convocado o
substituto ou o respectivo suplente” (CE, parágrafo único do art. 19). Assim, o colegiado superior só pode declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo com a presença na respectiva sessão de julgamento de todos os seus
membros.
E se não houver quorum para o julgamento em razão de ausência, impedimento ou suspeição de algum
membro da Corte Superior? Nesse caso, o ministro ausente, impedido ou suspeito deverá ser substituído por outro da
mesma categoria, designado na forma legal. Não sendo possível convocar substituto ou inexistindo este (ex.: por
falta de designação do órgão competente), poderá o julgamento, excepcionalmente, ser levado a efeito com o
quorum incompleto. Nesse caso, alvitra a jurisprudência que “se deve realizar o julgamento com o quorum possível,
segundo a lei” (TSE, REspe nº 16.684/SP, PSS 26.09.2000 – excerto extraído da consulta na questão de ordem).
Saliente-se que, quanto ao quorum para julgamento de questão constitucional, regra semelhante à contida no
citado parágrafo único do art. 19 do CE não foi prevista para os tribunais regionais. Para estes, a parte final do art.
28, caput, do CE exige apenas que as deliberações contem “com a presença da maioria de seus membros”.31
Portanto, os tribunais regionais poderão declarar a inconstitucionalidade de uma norma sem a presença de todos os
seus membros na sessão de julgamento, desde que haja pelo menos quatro votos em prol da declaração.32
No modelo concreto, difuso ou incidental de controle, a questão constitucional só chegará ao Supremo Tribunal
pela via do recurso extraordinário.
Considerando que três ministros do TSE são oriundos do Supremo Tribunal, cumpre indagar se estariam
impedidos de participar do julgamento da mesma questão pelo Pretório Excelso, agora ao ensejo do recurso
extraordinário. Em princípio, há impedimento para o magistrado que anteriormente já tenha participado do julgamento
da mesma causa em outro grau de jurisdição. Esse impedimento é explicitado no art. 144, II, do CPC/2015.33
Nesse diapasão, o Excelso Pretório já assentou estarem “impedidos, no STF, ministros que já tenham
funcionado no mesmo processo ou no processo originário, quer como juízes de primeiro grau, quer como membros
de outros tribunais de menor hierarquia [...]” (STF, RE nº 102.076 EDv-ED/RJ, Pleno, Rel. Min. Aldir Passarinho,
DJ 23.06.1989, p. 11.001).
Excepcionalmente, no entanto, tal impedimento não alcança ministros que atuam no TSE. Conforme reza a
Súmula STF 72:
No julgamento de questão constitucional, vinculada a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, não estão impedidos os
ministros do Supremo Tribunal Federal que ali tenham funcionado no mesmo processo, ou no processo originário.

Em consonância com essa orientação encontra-se o parágrafo único do art. 277 do RISTF, que, todavia, indica
a exclusão do ministro com atuação no TSE da distribuição do recurso extraordinário no Supremo Tribunal. Confira-
se:

RISTF/Art. 277 Os ministros declarar-se-ão impedidos ou suspeitos nos casos previstos em lei. Parágrafo único.
Não estão impedidos os ministros que, no Tribunal Superior Eleitoral, tenham funcionado no mesmo processo ou no
processo originário, os quais devem ser excluídos, se possível, da distribuição.

1 Extrai-se da Exposição de Motivos do CP C de 2015 que, entre os objetivos que orientaram os trabalhos da
comissão que o elaborou, constam a diminuição de formalidades, a melhoria da transparência dos processos
judiciais, o incremento da celeridade, a simplificação e a redução da “complexidade de subsistemas, como, por
exemplo, o recursal”, e também a conferência de “maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim, mais
coesão”.
2 No sentido do texto, veja-se o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 5º da Res. TSE nº 23.367/2011, bem como os §§ 1º e
2º do art. 5º da Res. nº 23.462/2015. Para as eleições de 2018 não houve regra semelhante na Res. TSE nº
23.547/2017; isso em razão da previsão contida no art. 2º, § 1º, daquela norma no sentido de que os processos
tramitassem “exclusivamente no Sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe)”.
3 O Promotor Eleitoral é designado pelo Procurador Regional Eleitoral após indicação do Procurador-Geral de Justiça
(que é o Chefe do Ministério Público Estadual). Por sua vez, o Procurador Regional Eleitoral é designado pelo
Procurador-Geral Eleitoral
(que é o Procurador-Geral da República, Chefe do Ministério Público da União e do Ministério Público Federal).
Sobre isso, consultem-se: CF, arts. 127 e 128, Código Eleitoral, art. 27; LC nº 75/1993, arts. 72 a 80; Lei nº
8.625/1993, arts. 10, 32, 50, 70 e 73; Resolução CNMP nº 30/2008.
4 Em edição anterior, foi afirmado que o art. 216 do CE teria sido revogado pelo citado § 2º do art. 257 do CE. A
revogação se fundaria no art. 2º, § 1º, da LINDB (DL nº 4.657/1942), segundo o qual lei posterior revoga a
anterior “quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”. Entretanto, retomando esse ponto,
tem-se que o art. 216 refere-se ao RCED. Neste, os recursos cabíveis para atacar o mérito da decisão são ou
especial (em TRE) ou extraordinário (no TSE), os quais não têm natureza ordinária, mas sim excepcional. Ocorre
que o § 2º do art. 257 do CE somente se aplica a recurso de natureza ordinária. Assim, pode-se afirmar que o art.
216 permanece no sistema jurídico-processual eleitoral.
5 De modo semelhante, dispõe o art. 995, caput, do CPC: “Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão,
salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso [...].”
6 Essa regra se aplica ao recurso ordinário por força do art. 1.027, § 2º, do CP C, que reza: “Art. 1.027. [...] § 2º
Aplica-se ao recurso ordinário o disposto nos arts. 1.013, § 3º, e 1.029, § 5º.”
7 Esclareça-se que, ao menos no que concerne ao agravo interno, a interpretação exposta no texto não é pacífica. Há
julgados do TSE afirmando a incidência do prazo previsto no § 8º do art. 96 da LE: AgRp nº 1.350/DF –DJ
11.04.2007, p. 199; AgRp nº 884/DF, DJ 12.09.2006, p. 149.
8 No sentido do texto, dispõe o art. 8º da Res. TSE nº 23.478/2016: “O prazo de 30 (trinta) dias de que trata o art. 178
do Novo Código de Processo Civil não se aplica na Justiça Eleitoral.”
9 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 234. Os advogados públicos ou privados, o defensor público e o membro do
Ministério Público devem restituir os autos no prazo do ato a ser praticado. § 1º É lícito a qualquer interessado
exigir os autos do advogado que exceder prazo legal. § 2º Se, intimado, o advogado não devolver os autos no
prazo de 3 (três) dias, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em multa correspondente à metade do
salário mínimo [...].”
10 Eis o teor desse dispositivo: “CP C/1973 – Art. 184. Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos,
excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento. [...].”
11 Também se poderia pensar em aplicar por analogia o caput do art. 798 do CP P (“Todos os prazos correrão em
cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias domingos ou dia feriado.”). Mas isso
contraria o art. 15 do CP C. Ademais, nos termos do art. 364 do Código Eleitoral, o CP P só é aplicável “no
processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos”.
12 Sob a égide do CP C de 1973 consolidou-se o entendimento segundo o qual, para a aferição do cumprimento do
prazo, dever-se-ia considerar não o momento da postagem ou remessa, mas o da recepção da peça no cartório ou
secretaria da Justiça Eleitoral. Nesse sentido, confira-se: STJ, Súmula 216: “A tempestividade de recurso
interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da secretaria e não pela data da
entrega na agência do correio”; “[...] 3. Segundo a jurisprudência do TSE, a tempestividade da interposição do
recurso é aferida pela data do protocolo em cartório, e não do envio da petição pelo correio. Precedentes. 4.
Considerando que, no caso dos autos, o acórdão recorrido foi publicado em 03.02.2011, afigura-se intempestivo o
recurso especial interposto somente em 08.02.2011 [...]” (TSE, AgR-REspe nº 100004916/RS,DJe, t. 175,
12.09.2012, p. 56/57). Vide ainda: TSE, AgR-AI nº 11954/SC, DJe 14.10.2010, p. 21; TSE, EREspe nº 22818/MG,
PSS 23.09.2004.
13 Assim se tem pronunciado a jurisprudência: “[...] IV – Os prazos relativos a registro de candidatura são
peremptórios e contínuos e não se suspendem, no período eleitoral, aos sábados, domingos e feriados, nos termos
dos artigos 66 da Resolução TSE nº 23.221/2010 e 16 da Lei Complementar nº 64/90. V – Agravo regimental
desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator”
(TSE, AgR-REspe nº 396338/SP, PSS 23.11.2010).
14 No sentido do texto, estabelece o § 6º do art. 1.003 do novo CP C,in verbis: “O recorrente comprovará a
ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso”.
15 À luz do aludido dispositivo, poder-se-ia perguntar se, conforme a data da diplomação dos candidatos eleitos,
estariam ampliados os prazos para ajuizamento das seguintes ações eleitorais: 1) Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo – AIME (que deve ser ajuizada em até 15 dias após a diplomação – CF, art. 14, § 10);2)
Recurso Contra Expedição de Diploma – RCED (que deve ser protocolado em até 3 dias da diplomação – CE,
arts. 258 e 276, § 1º, in fine); 3) Ação Eleitoral do art. 30-A da Lei nº 9.504/97 (que deve ser ajuizada em até 15
dias da diplomação – LE, art. 30-A,caput). Cumpre, porém, observar que os prazos para ajuizamento de tais
ações não têm natureza processual, mas material – trata-se de prazos decadenciais. O art. 220 do CP C/2015
expressamente fala em prazos processuais.
16 A prevenção também se verifica quanto à distribuição de determinados pleitos. Por exemplo: no período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua efetiva distribuição, pode o interessado
pleitear a concessão de efeito suspensivo aos recursos ordinário, especial e extraordinário; nesse caso, fica “o
relator designado para seu exame prevento para julgá-lo” (CPC/2015, arts. 1.027, § 2º, e 1.029, § 5º, I).
17 Há regimentos internos que não atribuem expressamente ao órgão colegiado do tribunal a aludida competência
recursal. À guisa de exemplo, vide os arts. 16 e 17 do RI do TRE-MG (Res. TRE-MG nº 1.014/2016). Por outro
lado, o art. 15, I, d, dessa norma prevê a competência originária do tribunal mineiro para processar e julgar “os
pedidos de mandado de segurança contra atos, decisões e despachos do Presidente [...]”. Significaria isso que
atos administrativos do presidente como os previstos nesse regimento no art. 17, inciso XXVII (“autorizar a
realização de licitações para compras, obras e serviços, bem como aprová-las, revogá-las ou anulá-las, podendo
dispensá-las nos casos previstos em lei”) e inciso XL (“aplicar a pena disciplinar de demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade a servidores integrantes do quadro permanente do Tribunal [...]”) só poderiam
ser submetidos ao órgão colegiado do tribunal via writ of mandamus? Então, seriam eles irrecorríveis na esfera
administrativa? É verdade que a existência de recurso com vistas a impugnar uma decisão específica não constitui
direito fundamental escrito no texto da Constituição Federal. Todavia, não se pode desprezar a regra inscrita no
art. 264 do Código Eleitoral, negando à parte recurso expressamente previsto em lei, pois isso afronta o devido
processo legal.
18 Conquanto se possa estranhar a competência do tribunal que se afirma coator para conhecer e julgar mandado de
segurança impetrado contra o seu próprio ato, não se pode olvidar a frequência com que se altera a composição
do órgão colegiado; demais, amiúde há mudança de orientação na jurisprudência, emane ela do tribunal que afirma
coator ou de tribunais superiores. Outrossim, ainda que a decisão administrativa seja reiterada, abre-se a via do
recurso ordinário para o TSE (CF, art. 121, § 4º, V) ou para o STF (CF, art. 121, § 3º, in fine), conforme o caso.
19 Contra a decisão do tribunal – já agora na esfera jurisdicional – é dado à parte manejar os recursos dispostos na
legislação processual e assim levar a questão à apreciação dos tribunais superiores. Entretanto, conforme as
circunstâncias, se o acórdão do tribunal regional ferir direito líquido e certo, é razoável a admissão de mandado de
segurança a ser impetrado perante o Tribunal Superior Eleitoral, sobretudo por ser essa uma via mais expedita
para resguardo do direito que se afirma violado.
20 Observe-se, porém, o art. 22, I, e, do Código Eleitoral afirma competir ao TSE processar e julgar originariamente o
mandado de segurança, em matéria eleitoral, relativo a atos dos Tribunais Regionais. Assim, havendo ferimento a
direito líquido e certo, deve-se admitir mandado de segurança impetrado perante o Tribunal Superior Eleitoral.
21 Eis o inteiro teor desse dispositivo: “Art. 935. Entre a data de publicação da pauta e a da sessão de julgamento
decorrerá, pelo menos, o prazo de 5 (cinco) dias, incluindo-se em nova pauta os processos que não tenham sido
julgados, salvo aqueles cujo julgamento tiver sido expressamente adiado para a primeira sessão seguinte. § 1º Às
partes será permitida vista dos autos em cartório após a publicação da pauta de julgamento. § 2º Afixar-se-á a
pauta na entrada da sala em que se realizar a sessão de julgamento.”
22 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 1.024. [...]. § 1º Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na
sessão subsequente, proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em pauta
automaticamente. [...].”
23 Diferentemente, no primeiro grau de jurisdição, foram criados Centros Judiciários de Solução Consensual de
Conflitos.
24 Aliás, no caso de debate, o § 4º do art. 46 da LE estabelece que ele “será realizado segundo as regras
estabelecidas em acordo celebrado entre os partidos políticos e a pessoa jurídica interessada na realização do
evento, dando-se ciência à Justiça Eleitoral.”
25 Vale registrar que a norma legal se aperfeiçoa com a sanção presidencial, mas deve ainda ser promulgada e
publicada. A esse respeito, tive oportunidade de assinalar: “O processo legislativo é delineado nos arts. 61 a 67 da
Constituição Federal. Em regra, inicia-se com a apresentação de projeto de lei a uma das Casas do Congresso
Nacional – Câmara de Deputados ou Senado. Após as discussões pertinentes e aprovação em uma delas, é
encaminhado à outra para revisão, podendo ser aprovado, emendado ou rejeitado. Se rejeitado, o projeto será
arquivado. Se emendado, devolvido à Casa de origem para que sejam analisadas as alterações. Se aprovado,
segue para apreciação do Chefe do Poder Executivo. Este, após analisar o até então projeto de lei, pode apor sua
sanção, transformando-o em norma legal, e em seguida promulgá-lo e publicá-lo. A promulgação é ato de
natureza administrativa, pelo qual a lei é autenticada, atestando também sua existência e integração no
ordenamento jurídico. Após a promulgação, a lei deve ser enviada para publicação no órgão oficial, isto é, no
Diário Oficial da União. A publicação tem o fito de tornar pública a existência da norma. Sem ela, não há como
exigir seu cumprimento, porquanto não se pode cumprir o que se desconhece, o que se ignora, enfim, o que não se
tornou público” (Gomes, 2012b, p. 42).
26 Segundo o art. 5º da Res. TSE nº 23.478/2016: “Não se aplica aos feitos eleitorais o instituto do Amicus Curiae de
que trata o art. 138 da Lei nº 13.105, de 2015.” Entretanto, não houve qualquer referência ao citado art. 950, § 3º,
do CP C/2015, que é especial em relação à regra do art. 138. Pode-se, pois, concluir que, se a vedação posta
naquela Resolução incide nos processos eleitorais em geral, não abrange, porém, o enfocado incidente de arguição
de inconstitucionalidade.
27 A afirmação dos eminentes constitucionalistas foi feita em relação ao art. 482 do CP C/1973, cujos §§ 1º, 2º e 3º
foram incluídos pela Lei nº 9.868/1999. Ocorre que o teor do art. 950 do CP C/2015 équase igual ao daquele art.
482.
28 O art. 75 do RITRE/SP dispõe: “A arguição de inconstitucionalidade incidental de lei ou ato normativo do Poder
Público, concernente a matéria eleitoral, poderá ser formulada por qualquer das partes, pelo Procurador Regional
Eleitoral, pelo relator e pelos demais membros do tribunal. Parágrafo único. A arguição será processada nos
próprios autos e suspenderá o andamento do feito até seu julgamento.”
29 O art. 119 do RITRE/P E dispõe: “Quando, no julgamento de qualquer processo, for suscitada preliminar de
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo, concernentes à matéria eleitoral, o Tribunal, por proposta de
qualquer de seus membros ou a requerimento do procurador regional eleitoral ou das partes, depois de concluído o
relatório, suspenderá o julgamento para decidir a matéria na sessão seguinte, ouvido o representante do Ministério
Público Eleitoral.”
30 Cf. Gomes (2012, p. 110).
31 Eis o teor do art. 28, caput, do CE: “Os tribunais regionais deliberam por maioria de votos, em sessão pública, com
a presença da maioria de seus membros.”
32 Vale ressaltar que nos tribunais eleitorais não se aplica o quorum previsto no art. 941, § 2º, do CP C/2015 (TSE,
Res. nº 23.478/2016, art. 17), o qual dispõe: “No julgamento de apelação ou de agravo de instrumento, a decisão
será tomada, no órgão colegiado, pelo voto de 3 (três) juízes.”
33 Eis o teor do aludido dispositivo: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no
processo: [...] II – de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão.”
3
RECURSO ELEITORAL

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO RECURSO ELEITORAL


O recurso eleitoral encontra-se previsto no art. 265, caput, do CE nos seguintes termos: “Dos atos, resoluções
ou despachos dos juízes ou juntas eleitorais caberá recurso para o Tribunal Regional.” É amplo o alcance desse
dispositivo, pois autoriza a interposição de recurso contra “atos”, “resoluções” ou meros “despachos”. Dada sua
extensão, em princípio, até mesmo atos administrativos – praticados no âmbito das funções administrativa da Justiça
Eleitoral – poderiam ser por ele impugnados.
No tocante à denominação, encontra-se consagrado o uso do termo recurso eleitoral. Não raro também se
emprega o termo “apelação eleitoral” para nomear a vertente espécie recursal.
Por outro lado, há quem empregue a sigla RE para identificar o recurso eleitoral. Mas no presente texto essa
sigla é reservada ao recurso extraordinário. Para evitar confusões terminológicas, sugere-se a sigla REl.
O recurso em exame tem natureza ordinária, assemelhando-se em tudo à apelação no processo civil comum.
Isso porque visa a tutelar situações jurídicas materiais, concretas, e não propriamente o ordenamento legal. Assim,
ele enseja ao tribunal ad quem a realização de ampla revisão da decisão de 1º grau, no que concerne tanto aos
aspectos fáticos quanto jurídicos.
O objeto do recurso eleitoral é a decisão final proferida no processo. Por ele, portanto, se impugna a sentença
que extingue o processo (ou sua fase cognitiva) com ou sem resolução do mérito da causa (CP C/2015, arts. 354,
485, 487 e 1.009). Qualquer tipo de sentença, seja ela proferida em processo de jurisdição contenciosa ou voluntária.
Ressalte-se que não apenas as questões decididas na sentença podem ser impugnadas pelo recurso eleitoral,
como também todas as questões decididas durante o desenrolar do procedimento. Assim, decisões interlocutórias
também podem ser objeto do recurso em exame. Isso porque a decisão interlocutória é, em princípio, irrecorrível,
não sofrendo imediatamente os efeitos da preclusão. Por isso, sendo o caso, deve ser questionada em preliminar do
recurso eleitoral.
Afirma-se “em princípio” porque, conforme se verá adiante, no processo jurisdicional eleitoral é defensável a
interposição de agravo de instrumento nas hipóteses arroladas no art. 1.015 do novo CP C.1 Assim, se não se tratar
de tema arrolado nesse dispositivo, não é necessário que a parte impugne prontamente nem proteste contra a
decisão interlocutória que lhe for desfavorável, só devendo fazê-lo no final, quando encerrada a fase de
conhecimento do processo, já que não haverá preclusão imediata. A preclusão somente ocorrerá se, no final, a parte
não impugnar a decisão interlocutória no âmbito do recurso eleitoral aviado contra a sentença ou nas contrarrazões.
É correto, portanto, entender que, para as decisões interlocutórias não arroladas no art. 1.015 do CP C/2015, a
preclusão se dá em relação ao recurso eleitoral ou às contrarrazões.2
O art. 1.014 do CP C permite – excepcionalmente – que “questões de fato” não propostas no juízo inferior
sejam “suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior”. Nesse caso, o
recurso terá por objeto temas não apreciados pelo juízo a quo, os quais são apresentados direta e primeiramente ao
2º grau de jurisdição. Tal permissão pressupõe a ocorrência de força maior, a qual deve ser evidenciada pelo
interessado. Tem-se entendido que haverá força maior em situações como as seguintes: i) se o novo fato surgir
depois da publicação da sentença, ou seja, o fato é superveniente; ii) se o fato era ignorado pela parte, embora tenha
ocorrido antes da publicação da sentença3; iii) até antes da prolação da sentença, era impossível provar o fato.4
No tocante às contrarrazões, tem-se que, se a parte sucumbente na decisão interlocutória for, no final, vitoriosa,
por óbvio não terá interesse em impugnar a sentença que lhe foi favorável. Assim, sendo a sentença impugnada pelo
vencido, o vencedor (e sucumbente na decisão interlocutória) deverá impugnar nas contrarrazões a decisão
interlocutória que lhe fora desfavorável; se não o fizer nessa oportunidade, operar-se-á a preclusão temporal, de
sorte que não poderá fazê-lo posteriormente. Logo, em suas contrarrazões poderá o vencedor formular pedido ao
juízo ad quem. Por essa via, o vencedor suscita as questões de seu interesse, ensejando que o órgão ad quem se
pronuncie a respeito delas, preparando, com isso, o caminho para eventual discussão no âmbito das instâncias
excepcionais.

3.2 INTERPOSIÇÃO
O recurso eleitoral é interposto por escrito, em “petição devidamente fundamentada, dirigida ao juiz eleitoral”
(CE, art. 266, caput). Ademais, à luz do art. 1.010 do CP C/2015, aplicável subsidiariamente, a petição deve conter:
“I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido de reforma
ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.”
Como a norma apenas alude a “petição devidamente fundamentada”, em princípio o recurso deve ser
apresentado em peça única, na qual já venham estampadas as razões. Não há óbice, porém, a que sejam
apresentadas duas peças, uma delas dedicada à exposição das razões de fato e de direito, i. e., à fundamentação;
ainda porque essa prática é já consagrada na experiência forense brasileira, não acarretando qualquer prejuízo às
partes. Assim, enquanto a petição recursal deve ser endereçada ao juízo eleitoral de 1º grau, as razões com ela
apresentadas dirigem-se ao tribunal regional.
A necessidade de fundamentação decorre do princípio da dialeticidade, ensejando não só o adequado exercício
da defesa como também o exato conhecimento da questão pelo órgão ad quem.
Quanto à identificação das partes (CP C/2015, art. 1.010, I), basta que se indiquem seus nomes, porque a
qualificação delas já consta na petição inicial. A rigor, a qualificação só seria necessária no recurso interposto por
terceiro juridicamente interessado, nos termos do art. 996, parágrafo único, do novo CPC.
No tocante ao pedido de “nova decisão” (CP C/2015, art. 1.010, IV), este encerra a pretensão ou o mérito
recursal. Trata-se do provimento jurisdicional que a parte pleiteia ao juízo ad quem. Conforme salientado, esse
provimento pode ser de reforma ou invalidação da decisão impugnada. No caso de reforma, a decisão impugnada
será substituída pelo acórdão, enquanto no caso de invalidação a decisão impugnada será cassada para que outra
seja prolatada.
Reitere-se que, por não haver preclusão de decisão interlocutória (salvo as hipóteses arroladas no art. 1.015 do
CP C/2015, que são impugnáveis por agravo de instrumento), deve o recorrente, sendo o caso, impugná-la nas razões
do recurso eleitoral. Se não o fizer, aí sim haverá preclusão temporal, ficando impedido de impugná-la ulteriormente.
A petição recursal pode ser “acompanhada, se o entender o recorrente, de novos documentos” (CE, art. 266,
in fine).
A teor da Súmula 3 do TSE, contudo, em processo de registro de candidatura só é permitida a juntada de
documentos com o recurso eleitoral se o candidato não tiver sido intimado para essa providência na fase de
diligências a que se refere o art. 11, § 3º, da Lei nº 9.504/1997. Nesse sentido: TSE, AgR-REspe nº 249.709/ SP,
P SS 14.10.2010. A não abertura do prazo de 72 horas (= que é convertido em três dias) para suprimento da
omissão, conforme preconizado naquele dispositivo legal, possibilita a juntada de documentos até mesmo em sede de
embargos de declaração (TSE, AgR-REspe nº 31.213/RJ, PSS 04.12.2008).
Nos termos do art. 267, caput, do CE, recebida a petição de interposição juntamente com as respectivas
razões, deverá o juiz eleitoral mandar “intimar o recorrido para ciência do recurso, abrindo-se-lhe vista dos autos a
fim de, em prazo igual ao estabelecido para a sua interposição, oferecer razões, acompanhadas ou não de novos
documentos”. Se às contrarrazões forem juntados novos documentos, ao recorrente será renovada vista dos autos
para se manifestar sobre eles (art. 267, § 5º). Sob pena de preclusão, nas contrarrazões deverá o recorrido impugnar
eventual decisão interlocutória que lhe tenha sido desfavorável.
Na sequência, determina o § 6º do art. 267 do CE: “o juiz eleitoral fará, dentro de 48 horas, subir os autos ao
Tribunal Regional”.

3.3 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE


A petição recursal deve ser endereçada ao juízo a quo, no caso, o juiz eleitoral.
No recurso eleitoral, cumpre indagar se na primeira instância é cabível a formulação de juízo de
admissibilidade. Poderia o juiz eleitoral deixar de receber recurso em que constate, por exemplo, ausência de
pressuposto recursal?
A questão é relevante e se coloca em razão da linguagem imperativa do § 6º do citado art. 267, in verbis:

Findos os prazos a que se referem os parágrafos anteriores, o juiz eleitoral fará, dentro de 48 horas, subir os autos
ao Tribunal Regional com a sua resposta e os documentos em que se fundar, sujeito à multa de 10% do salário-
mínimo regional por dia de retardamento, salvo se entender de reformar a sua decisão.

Ou seja: encerrada a tramitação do recurso na instância a quo, fará o juiz subir os autos ao tribunal.
Note-se que a ressalva final desse § 6º (“salvo se entender de reformar a sua decisão”) pode ensejar alguma
dúvida. Em outros termos, se o juiz “entender de reformar sua decisão”, não fará subir os autos ao tribunal.
O problema, porém, consiste em saber a qual decisão se refere essa ressalva: a que recebeu a petição do
recurso (nos termos do caput do art. 267 do CE) ou a de mérito (que decidiu a lide)?
Ocorre que a interpretação desse § 6º deve ser feita em conjunto com o § 7º do mesmo art. 267.5 Esse último
faz expressa referência à decisão recorrida, isto é, à sentença de mérito objeto do recurso, e não ao ato judicial
que recebeu a petição recursal e determinou a intimação da parte recorrida para contra-arrazoar o recurso.
Logo, o transcrito § 6º do art. 267 do CE repele a realização de juízo de admissibilidade na instância a quo.
Essa conclusão se harmoniza com o sistema recursal do Código Eleitoral, pois em sede de juízo de admissibilidade
recursal o Código só previa recurso (no caso, o agravo de instrumento) contra decisão que denegasse recursos
especial (CE, art. 279) e extraordinário (CE, art. 282).
Por outro lado, em certos casos a norma eleitoral afasta expressamente a realização de juízo de admissibilidade
na instância a quo. É isso que ocorre com os processos de registro de candidatura. Conforme dispõe o § 2º do art.
8º da LC nº 64/1990: “Apresentadas as contrarrazões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Regional
Eleitoral [...].”
Tem-se, pois, que a interpretação sistemática da legislação eleitoral indica ser incabível, no recurso eleitoral, a
realização de juízo de admissibilidade na 1ª instância.
Nesse ponto, o procedimento do recurso eleitoral encontra-se em harmonia com o vigente processo civil
comum. Porquanto, cuidando da apelação, estabelece o § 3º do art. 1.010 do CP C/2015 que, após a apresentação de
contrarrazões, “os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade”.6
Mas e se, na prática, o juiz eleitoral efetivamente realizar juízo de admissibilidade e não admitir o recurso
eleitoral? Nesse caso, podem-se cogitar duas vias possíveis a serem percorridas: i) a primeira é o ajuizamento de
reclamação perante o TRE, com fulcro no art. 988, I, do novo CP C, com vistas a “preservar a competência do
tribunal”, já que o juízo de admissibilidade é atribuição desse tribunal; ii) a segunda considera que a não previsão de
recurso para impugnar a decisão de 1º grau que inadmite o recurso eleitoral autoriza o cabimento de mandado de
segurança (CF, art. 5º, LXIX,7 Lei nº 12.016/2009, art. 5º, II,8 Súmula 267 do STF9). Deveras, é pacífico o
entendimento segundo o qual o writ of mandamus pode ser usado para impugnar decisão judicial em relação à qual
não haja específica previsão de recurso.

3.4 PRAZO
Foi visto que o prazo de interposição de recurso eleitoral é, em princípio, de três dias (CE, art. 258). Mas será
de um dia nas hipóteses regidas pelo art. 96, § 8º, da Lei nº 9.504/1997, exceto se essa norma previr lapso diverso.
Quanto às contrarrazões, devem ser apresentadas no mesmo prazo previsto para interposição do recurso.
Em eleições municipais, os processos de registro de candidatura e de impugnação aos pedidos de registro
(Airc) apresentam peculiaridades quanto à contagem do prazo para interposição de recurso eleitoral. Em tais casos,
o prazo deve ser contado a partir do terceiro dia após a conclusão dos autos ao juiz eleitoral (LC nº 64/1990, art. 8º),
pois é esse o lapso fixado para que a sentença seja apresentada em cartório. Logo, o marco inicial para o cômputo
do prazo em foco não é o só fato da publicação da sentença, mas sim o terceiro dia após a conclusão dos autos ao
juiz. Daí dispor a Súmula 10 do TSE:

No processo de registro de candidatura, quando a sentença for entregue em cartório antes de três dias contados da
conclusão ao juiz, o prazo para o recurso ordinário, salvo intimação pessoal anterior, só se conta do termo final
daquele tríduo.

Ou seja: se o juiz antecipar a prolação da sentença, entregando-a ao cartório, por exemplo, no primeiro dia do
tríduo legal, não tem essa antecipação o condão de alterar o termo inicial do prazo recursal (que continuará sendo o
final do terceiro dia); exceto, é óbvio, se o interessado for intimado pessoalmente da antecipação. Nesse caso, a
intimação pessoal torna certo o conhecimento do decisum, de maneira que aguardar o encerramento do tríduo legal
significaria aumentar indevidamente o prazo recursal.
Sendo, no entanto, a sentença entregue ao cartório depois do terceiro dia após a conclusão dos autos, “o prazo
para recurso só começará a correr após a publicação da mesma” (LC nº 64/1990, art. 9º, caput).

3.5 EFEITOS
Conforme já salientado, a regra geral inscrita no art. 257, caput, do Código Eleitoral estabelece que “os
recursos eleitorais não terão efeito suspensivo”.
Há, porém, as exceções previstas no § 2º desse mesmo art. 257 do CE. Por esse dispositivo, será recebido pelo
tribunal competente com efeito suspensivo o recurso ordinário (não excepcional) interposto contra decisão proferida
por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em: i) cassação de registro; ii) afastamento do titular;
iii) perda de mandato eletivo.
No tocante ao efeito devolutivo, em sua dimensão horizontal ou de extensão, o recurso eleitoral transmite ao
tribunal o conhecimento de toda a matéria impugnada, de maneira que ele possa reexaminá-la e prolatar novo
julgamento. Diante dos princípios dispositivo e tantum devolutum quantum appellatum, a apreciação do tribunal
circunscreve-se à matéria impugnada (CP C/2015, art. 1.013,caput), conforme especificado pelo recorrente, salvo
as matérias de ordem pública, pois estas podem ser conhecidas de ofício em qualquer tempo e grau de jurisdição.
Já no que concerne ao efeito devolutivo em profundidade, ampla é a transferência que se opera ao juízo ad
quem. O âmbito da cognição deste assemelha-se ao do juízo recorrido, podendo, portanto, apreciar todos os
fundamentos do pedido recursal. Desde que se atenha ao mérito do recurso, lhe é facultado avaliar os fatos e as
razões que foram ou poderiam ter sido considerados pelo juízo a quo. Nesse diapasão, poderá o juízo ad quem:

conhecer e julgar “todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas,
desde que relativas ao capítulo impugnado” (CPC/2015, art. 1.013, § 1º);
se o pedido ou a defesa contiver “mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação [o recurso
eleitoral] devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais” (novo CPC, art. 1.013, § 2º);

se “o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I –
reformar sentença fundada no art. 485;10 II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os
limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação”. Em todas essas hipóteses, a
causa deve encontrar-se madura para julgamento, ou seja, independer de produção de prova ou a prova já se
encontrar integralmente acostada aos autos. Deveras, a presente solução só é viável se realmente for desnecessária
a produção de prova, caso contrário, violar-se-ia o devido processo legal. Não se vislumbra na previsão enfocada
inconstitucionalidade por violação ao princípio do duplo grau de jurisdição, pois este, consoante salientado
anteriormente, além de não ter sido previsto expressamente na Constituição Federal, pode ser excepcionado em
determinadas situações (CPC/2015, art. 1.013, § 3º);
se reformar sentença que reconheça decadência ou prescrição, poderá, sendo isso possível, julgar “o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau” (CP C/2015, art.
1.013, § 4º).

É vedado à parte inovar no recurso eleitoral. De sorte que, perante o tribunal, não pode haver arguição de fato
novo. Excepcionalmente, porém, admite-se que questões de fato, não propostas no juízo inferior, sejam “suscitadas
na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior” (CP C/2015, art. 1.014). Para que
isso ocorra, é preciso demonstrar que a ocorrência de força maior impediu a arguição no devido momento
processual.
Consoante acentua Freitas Câmara (2012, p. 94), a vedação de inovar nas questões de fato perante o juízo ad
quem “não significa, porém, impedimento a que se produza prova em grau de apelação. É que não existe preclusão
em matéria probatória nas instâncias ordinárias, devendo-se, então, admitir a produção de prova nesta fase do
processo”. A esse respeito, vale assinalar que o CP C de 2015 confere poderes ao relator para “dirigir e ordenar o
processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova [...]” (CPC/2015, art. 932, I).
Daí a parte final do art. 266 do CE permitir que a petição recursal seja “acompanhada, se o entender o
recorrente, de novos documentos”. Por “novos documentos” devem-se compreender aqueles: (i) indisponíveis ou
inexistentes na ocasião do ajuizamento da demanda ou da apresentação da defesa, e, portanto, não poderiam ter sido
apresentados naqueles momentos processuais; (ii) os que se tornaram conhecidos posteriormente à prática daqueles
atos processuais (CP C/2015, art. 435, parágrafo único); (iii) os pertinentes a fato novo, ou seja, fato ocorrido depois
daqueles atos processuais; (iv) os usados para contrapor documento cuja juntada aos autos foi deferida.
Coerente com essa medida e com o princípio constitucional do contraditório, a parte final do art. 267, caput, do
CE admite que as contrarrazões recursais sejam “acompanhadas ou não de novos documentos”. E se às
contrarrazões forem anexados novos documentos, à parte recorrente será renovada vista dos autos por 48 horas
para se manifestar sobre eles (CE, art. 267, § 5º).

3.6 JUÍZO DE RETRATAÇÃO


Apresentadas as contrarrazões, o § 7º do art. 267 do CE autoriza o órgão judicial a exercer juízo de retratação,
reformando a decisão objeto do recurso.11 Note-se que a retratação “prescinde de pedido expresso da parte” (TSE,
RMS nº 5698/BA, j. 10.03.2015), podendo atingir o próprio mérito da sentença. E poderá ocorrer ainda que tenha
havido mudança do juiz eleitoral, pois não há regra obrigando que o juiz que se retrate seja o mesmo que proferiu a
sentença; não tem cabimento, aqui, o princípio da identidade física do juiz.
Havendo retratação, a parte inicialmente recorrida poderá pugnar pela subida do recurso ao Tribunal Regional,
como se por ela mesma interposto. Tal faculdade funda-se na possibilidade de a parte recorrida ser prejudicada pela
nova sentença, tornando-se, portanto, sucumbente.
Mas a só subida do recurso interposto pela parte contrária pode não interessar a quem se tornou sucumbente
com o ato de retratação, mesmo porque os argumentos lançados nas razões daquele recurso podem não ser
satisfatórios ou adequados perante a nova situação. Assim, em obséquio ao princípio constitucional da ampla defesa,
poderá a parte, em vez de pugnar pela subida do recurso interposto pelo seu adversário, interpor outro que atenda ao
novo quadro fático-jurídico delineado com a decisão de retratação.

3.7 TRAMITAÇÃO NO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL


Chegando os autos ao tribunal, deve o recurso ser registrado, autuado e distribuído a um relator “na ordem
rigorosa da antiguidade dos respectivos membros”. O preterimento dessa formalidade causa a “nulidade de qualquer
ato ou decisão do relator ou do tribunal” (CE, art. 269, caput).
Na sequência, será aberta vista dos autos à Procuradoria Regional Eleitoral (P RE), que, em geral, dispõe do
prazo de cinco dias para se manifestar (CE, art. 269, § 1º). Entretanto, esse prazo será de:(a) dois dias, em
processo de registro de candidatura (LC nº 64/1990, art. 10); (b) 24 horas (que é convertido em um dia), em
processo regido pelo art. 96 da Lei nº 9.504/1997, salvo as hipóteses em que essa mesma norma determinar a
observância do rito do art. 22 da LC nº 64/1990 – vide TSE Res. nº 23.367/2011, art. 34; (c) não há prazo
especificamente prescrito para manifestação do Parquet em processo atinente a direito resposta; mas como toda a
tramitação desse processo não pode superar 72 horas (LE, art. 58, § 2º), é razoável que esse prazo seja fixado em
12 horas, o que equivale a um sexto do lapso total e metade do prazo recursal.
Retornando os autos com o parecer da PRE, serão conclusos ao relator.
Por analogia, observa-se nesse momento processual o disposto no art. 1.011, I, do novo CP C, que confere ao
relator poderes para decidir monocraticamente o recurso nas hipóteses arroladas no art. 932, III a V, daquele
mesmo Código Processual. Assim:

Art. 932. Incumbe ao relator: [...]


III – não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os
fundamentos da decisão recorrida;
IV – negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência;
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for
contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
[...]
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de cinco dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.

As hipóteses previstas no inciso III desse artigo (não conhecimento do recurso) são de natureza
eminentemente processual. O juízo negativo de admissibilidade impede que o mérito recursal seja apreciado pelo
órgão colegiado.
Por outro lado, as hipóteses descritas nos incisos IV e V dizem respeito ao mérito recursal, caso em que é o
próprio relator quem o decide monocraticamente.
No que concerne ao citado inciso IV, vale transcrever pertinente lição de Wambier et al. (2015, p. 1.443):

O relator pode, ainda, negar provimento a recurso em que se pleiteie algo contrário a Súmula do STF, do STJ ou do
próprio tribunal. Deve-se, aqui, observar que se deve ter cautela para aplicar este dispositivo. O STF tem 736
Súmulas (Existem ainda as ditas Súmulas Vinculantes, que são em número de 37); o STJ tem 519 Súmulas [nota].
Há súmulas do STF que se contradizem, há súmulas do STJ e do STF que não se harmonizam, há súmulas
superadas, enfim, o ideal é que as súmulas que sirvam de base às decisões dos relatores com fulcro no art. 930, III,
sejam mais recentemente editadas, que já o foram tendo como pano de fundo esta nova visão do peso e da função
da jurisprudência, e a imprescindibilidade de se minimizar o caos, gerando-se uniformidade e estabilidade do direito
[...]. Enfim, pode o relator decidir, sozinho, dando provimento à apelação, exatamente nas mesmas hipóteses do art.
932, IV, entendidas às avessas: quando a decisão de que se recorreu for contrária a súmula do STF ou do STJ ou do
próprio tribunal. Devem-se, é claro, fazer as mesmas ressalvas dos parágrafos anteriores.

No revogado CP C de 1973, a matéria em apreço era veiculada no art. 557.12 Por força desse dispositivo, os
regimentos internos dos tribunais eleitorais passaram a prever expressamente a possibilidade de o relator decidir
monocraticamente os recursos que lhe fossem distribuídos. Assim, por exemplo, os regimentos internos dos
seguintes tribunais: TRE/MG (Res. nº 1.014/2016), art. 73, XXII, XXIII e XXIV; TRE/SP, art. 54; TRE/RJ (Res. nº
895/2014), art. 64, XXV e XXVII.
Cumpre, ainda, salientar que “fato superveniente à decisão recorrida” e “questão apreciável de ofício ainda não
examinada”, que devam ser considerados no julgamento do recurso, podem também ser apreciados pelo relator.
Nesse caso, dispõe o caput do art. 933 do novo CP C que o relator deverá determinar a intimação das “partes para
que se manifestem no prazo de cinco dias”. Há mister, portanto, que o contraditório seja realizado, ouvindo-se
previamente as partes a fim de que não sejam surpreendidas e, ainda, possam influir na decisão. Nos termos do § 1º
daquele mesmo dispositivo: “Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, esse será imediatamente
suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente.” Por outro lado, dispõe o § 2º: “Se a constatação
se der em vista dos autos, deverá o juiz que a solicitou encaminhá-los ao relator, que tomará as providências
previstas no caput e, em seguida, solicitará a inclusão do feito em pauta para prosseguimento do julgamento, com
submissão integral da nova questão aos julgadores.”
Conforme se exporá adiante, o relator tem a faculdade de se retratar de sua decisão. Retratando-se ou não,
sua decisão poderá ser impugnada por agravo interno, que deve ser endereçado ao órgão colegiado do Tribunal
Regional. O agravo em tela deve ser interposto no prazo de três dias ou 24 horas, conforme o caso (CP C/2015, art.
1.021; CE, art. 258; LE, art. 58, § 5º, art. 96, § 8º).
Não sendo o caso de decisão monocrática, conhecido ou admitido o recurso, deverá o relator elaborar o seu
voto.
Em seguida, deve o relator encaminhar os autos para revisão – quando essa for prevista. Vale observar que, no
recurso eleitoral, não prevê o Código Eleitoral a figura do juiz revisor.13 Entretanto, diante da relevância de
determinadas matérias, diversos tribunais regionais estabelecem hipóteses de revisão em seus regimentos internos.
O fundamento dessa medida encontra-se na autonomia constitucional de que gozam (CF, art. 96, I, a), bem como no
disposto no art. 30, I, do Código Eleitoral (que lhes confere expressamente competência privativa para “elaborar o
seu regimento interno”). Foi isso o que fizeram, por exemplo, os TREs do Espírito Santo (RITRE/ES, Res. 205/2003,
art. 35, § 1º)14 e de São Paulo (RITRE/SP, art. 5515). Há tribunais, como o de Minas Gerais, que só preveem
revisão em matéria criminal.16 Por outro lado, existem tribunais, como o do Amazonas, que não contemplam
qualquer hipótese de revisão em seus regimentos internos.
Na sequência, devem os autos ser encaminhados à secretaria para inclusão na pauta de julgamento do órgão
colegiado do tribunal (CE, art. 271, caput).
Pelo art. 12 do CP C/2015, os tribunais devem obedecer, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão
dos autos para julgamento.17 Ademais, a “lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à
disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores” (art. 12, § 1º).
A propósito, do § 2º do art. 271 do CE pode-se extrair uma regra geral segundo a qual as pautas devem ser
“organizadas com um número de processos que possam ser realmente julgados, obedecendo-se rigorosamente a
ordem da devolução dos mesmos à secretaria pelo relator, ou revisor [...], ressalvadas as preferências determinadas
pelo regimento do tribunal”.
Na sessão de julgamento, o relator inicia com a exposição do relatório. Em seguida, “cada uma das partes
poderá, no prazo improrrogável de dez minutos, sustentar oralmente as suas conclusões” (CE, art. 272, caput).18
Atuando no feito como custos legis, o Procurador Regional Eleitoral terá o mesmo tempo de sustentação oral
deferido às partes (ou seja: 10 minutos), devendo manifestar-se depois delas. Observe-se que, mesmo nos recursos
interpostos por órgão do Ministério Público Eleitoral de 1º grau, funcionará o P RE como fiscal da ordem jurídica – o
que não o impede de recorrer do acórdão, nos termos dos arts. 179, II, e 996, caput, ambos do novo CPC.
Diferentemente, tendo a ação sido ajuizada pela própria P RE – o que ocorre nas hipóteses de competência
originária do Tribunal Regional –, sua posição no processo é a de parte-autora. Terá, portanto, os mesmos direitos,
prerrogativas, ônus e deveres conferidos a qualquer parte em processos judiciais. Em tal caso, na sessão de
julgamento no tribunal, em primeiro lugar, fará o P RE sustentação oral com prazo de 15 minutos (Res. TSE nº
23.478/2016, art. 16, I19).
Encerradas as sustentações orais, inicia-se o julgamento. Se houver alegação de questão preliminar, esta
deve ser enfrentada em primeiro lugar. Sendo ela rejeitada ou se a apreciação do mérito for com ela compatível,
segue-se, então, à discussão e ao julgamento da matéria principal; no julgamento do mérito, também participam os
juízes que ficaram vencidos na preliminar (CPC, art. 939).
No julgamento, se for constatada a ocorrência de vício sanável, o relator ou o órgão colegiado deve
determinar a realização ou a renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição. Por
outro lado, se houver a necessidade de produção de prova, o julgamento deverá ser convertido em diligência. Nas
duas situações, realizado o ato processual ou cumprida a diligência, prossegue-se no julgamento do mérito do recurso
(CPC, art. 938, §§ 1º a 4º).
Se não se considerar habilitado para proferir voto na sessão de julgamento, qualquer juiz (inclusive o próprio
relator) poderá solicitar vista dos autos, o que acarreta a suspensão do julgamento (CPC, art. 940).
O Tribunal Regional delibera por maioria de votos, em sessão pública (CE, art. 28,caput).20 Todavia, em
certas hipóteses, a deliberação deve ser feita pelo voto da maioria absoluta de seus membros, tal como ocorre na
declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato do Poder Público – nos termos do art. 97 da Constituição
Federal.
Quanto ao quorum presencial, o § 4º do art. 28 do CE (acrescido pela Lei nº 13.165/2015) estabelece que
somente poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros, as “decisões dos tribunais regionais sobre
quaisquer ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas”. Fora dessas
hipóteses, incide a parte final do art. 28, caput, do CE, que exige apenas que as deliberações contem “com a
presença da maioria” dos membros do tribunal.21
Havendo ausência, impedimento ou suspeição e não existindo quorum para votação, o juiz será substituído por
outro da mesma categoria, designado na forma legal (CE, art. 28, § 5º). Inexiste a figura de membro ad hoc de
Tribunal Eleitoral. Assim, não sendo possível convocar substituto ou inexistindo este (ex.: por falta de designação da
autoridade competente), poderá o julgamento, excepcionalmente, ser levado a efeito com o quorum incompleto.
Esse entendimento já foi sufragado na jurisprudência: TSE, REspe nº 16684/ SP, P SS 26.09.2000; TSE, Acórdão nº
612/2004.
Enquanto não for proclamado o resultado do julgamento pelo presidente do colegiado, poderá o voto ser
alterado, exceto o “já proferido por juiz afastado ou substituído” (CPC/2015, art. 941, § 1º).
Concluído o julgamento, o presidente anunciará o resultado; “o relator, se vitorioso, ou o relator designado para
redigir o acórdão, apresentará a redação deste, o mais tardar, dentro em cinco dias” (CE, art. 273, caput). Note-se
que não há dois relatores no recurso, mas apenas um. Se este ficar vencido, o membro do colegiado autor do
primeiro voto vencedor será designado para redigir o acórdão – trata-se, portanto, do redator do aresto.
Se houver voto vencido, deve ser declarado, sendo “considerado parte integrante do acórdão para todos os fins
legais, inclusive de pré-questiona-mento” (CPC, art. 941, § 3º).
Sob pena de nulidade, há mister que o acórdão aprecie todos os fundamentos arguidos pelas partes. Nesse
sentido, dispõe o art. 489, § 1º, IV, do CP C/2015 que não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
inclusive acórdão, que “não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador”.22
Finalmente, não sendo o caso de publicação na própria sessão de julgamento, segue o acórdão para publicação
no veículo oficial.
Inaplicabilidade da técnica de ampliação do julgamento – no recurso eleitoral, não é possível aplicar a
técnica de ampliação do julgamento prevista no art. 942 do CP C. Por ela, quando o resultado “for não unânime, o
julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão
convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial”.
Ocorre que a aplicação dessa técnica pressupõe que o julgamento do recurso se dê por órgão fracionário do
tribunal, notadamente uma turma, que na instância ordinária é formada por três magistrados. Diferentemente, nos
tribunais eleitorais o julgamento sempre ocorre pelo órgão pleno. Não há, portanto, novos julgadores perante os
quais o debate possa ser ampliado.

1 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: I – tutelas provisórias; II – mérito do processo; III – rejeição da alegação de convenção de
arbitragem; IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V – rejeição do pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI – exibição ou posse de documento ou coisa; VII –
exclusão de litisconsorte; VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou inadmissão de
intervenção de terceiros; X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução; XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; XII – (Vetado); XIII – outros casos
expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.”
2 Diante disso, há autores que entendem que a supressão do “agravo retido” no processo civil não trouxe mudança
significativa em termos de resposta jurisdicional. Sobre isso, assinalam Wambier et al (2015, p. 1.439) que para a
parte nada mudou substancialmente, pois “[...] a ‘resposta’ do Judiciário ao seu agravo retido já vem, à luz do
CP C/1973, depois, se há reiteração, quando e se fosse julgada a apelação. Isso não mudou: a ‘resposta’ do
Judiciário (decisão sobre a impugnação, que consta do bojo da apelação) só vem se e quando a apelação for
julgada. Menos esforço da parte e do Judiciário, para obtenção de resultado equivalente.”
3 Se o fato não era ignorado, deveria ter sido objeto da sentença, consoante requer o art. 493 do CP C. Portanto, se
não for de ordem pública, não poderá ser alegado no recurso nem conhecido ex officio pelo tribunal. E mais: será
coberto pela coisa julgada nos termos do art. 508 do CPC.
4 Existem outras situações em que o tribunal de 2º grau pode conhecer de fatos não arguidos no recurso. Isso ocorre,
e.g., no recurso de terceiro juridicamente interessado (CP C, art. 996) e relativamente a fatos ou questões que
interessem à ordem pública (CPC, arts. 485, § 3º, e 933).
5 Dispõe o § 7º do art. 267: “Se o juiz reformar a decisão recorrida, poderá o recorrido, dentro de três dias, requerer
suba o recurso como se por ele interposto.”
6 Eis o teor do aludido dispositivo: “Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau,
conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido
de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão. § 1º O apelado será intimado para
apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias. § 2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o
apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão
remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.”
7 Dispõe o art. 5º, LXIX, da CF: “Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.”
8 Reza o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009: “Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: [...] II
– de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo [...].”
9 Nos termos da Súmula 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.”
10 Nas hipóteses do art. 485 do CP C, há extinção do processo sem solução do mérito da causa. Reza aquele
dispositivo: “Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I – indeferir a petição inicial; II – o processo ficar
parado durante mais de um ano por negligência das partes; III – por não promover os atos e as diligências que lhe
incumbir, o autor abandonar a causa por mais de trinta dias; IV – verificar a ausência de pressupostos de
constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V – reconhecer a existência de perempção, de
litispendência ou de coisa julgada; VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII –
acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua
competência; VIII – homologar a desistência da ação; IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada
intransmissível por disposição legal; e X – nos demais casos prescritos neste Código.”
11 O vigente CP C prevê juízo de retratação quando for interposta apelação:i) contra a extinção do processo sem
julgamento do mérito (CP C, art. 485, § 7º); ii) fundada em indeferimento da petição inicial (CP C, art. 331); iii)
contra sentença de improcedência liminar do pedido (CPC, art. 332, § 3º).
12 Dispunha esse artigo: “Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal,
do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1º-A. Se a decisão recorrida estiver em manifesto
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o
relator poderá dar provimento ao recurso [...].”
13 De modo expresso, a revisão só é prevista na hipótese de recurso contra expedição de diploma (RCED), nos
termos do art. 271, § 1º, do CE. Mas, na verdade, o RCED não tem natureza de recurso, mas de ação originária
(vide Gomes, 2012, p. 597 e ss.). Diante disso, pode-se concluir que, em matéria estritamente recursal, o Código
Eleitoral não contempla o instituto da revisão.
14 RITRE/ES, art. 35, §1º: “O julgamento dos feitos independerá de revisão, salvo em se tratando de processos
criminais de competência originária do tribunal, recursos criminais e contra a expedição de diploma e processos de
perda de mandato, em que, após o estudo referido no caput, o relator fará os autos conclusos ao revisor.”
15 RITRE/SP, art. 55: “Sujeitam-se à revisão os seguintes feitos: I – recursos contra a expedição de diploma; II –
ação de impugnação de mandato eletivo e seus recursos; III – relativos a infrações apenadas com reclusão; IV –
revisão criminal.”
16 É o que se extrai do art. 77 do RITRE/MG (Res. nº 1.014/2016): “Haverá revisor exclusivamente nos seguintes
processos: I – ações penais originárias, relativas a infrações punidas com reclusão; II – recursos criminais,
relativos a infrações punidas com reclusão; III – revisão criminal.”
17 São excluídos dessa exigência: “[...] IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V – o julgamento
de embargos de declaração; VI – o julgamento de agravo interno; VII – as preferências legais e as metas
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que
tenham competência penal; IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada” (CPC, art. 12, § 2º).
18 Assentou-se o entendimento de que é incabível sustentação oral em julgamento de agravo interno e regimental. A
esse respeito, vejam-se os seguintes julgados do TSE: EAAg nº 2170/BA,DJ, v. 1, 23.09.2005, p. 126; AgR-
REspe nº 30649/TO, P SS 2-12-2008; AgR-REspe nº 35642/P R, DJe 24.08.2011, p. 20; AgR-REspe nº 36432/ RJ,
DJe 18.05.2010, p. 30. No Tribunal Superior Eleitoral, essa vedação decorre de aplicação analógica do art. 131, §
2º, do Regimento Interno do STF. No projeto do CP C de 2015 aprovado no Congresso Nacional, a possibilidade
de sustentação oral em agravo foi contemplada no inciso VII do art. 937, porém esse inciso foi vetado pela
Presidenta da República.
19 Reza esse dispositivo: “Art. 16. Nos Tribunais Eleitorais, o prazo para sustentação oral dos advogados das partes e
do representante do Ministério Público será de: I – 15 (quinze) minutos nos feitos originários (art. 937 do Novo
Código de Processo Civil); [...].”
20 Nos Tribunais Eleitorais, não se aplica o quorum previsto no art. 941, § 2º, do CP C/2015 (TSE, Res. nº
23.478/2016, art. 17), o qual dispõe: “No julgamento de apelação ou de agravo de instrumento, a decisão será
tomada, no órgão colegiado, pelo voto de 3 (três) juízes.”
21 Eis o teor dos dispositivos citados: “Art. 28 Os tribunais regionais deliberam por maioria de votos, em sessão
pública, com a presença da maioria de seus membros [...]. § 4º As decisões dos tribunais regionais sobre
quaisquer ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas somente
poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros.”
22 Em sentido diverso, havia se pacificado o entendimento de que: “[..] Na realidade, o órgão julgador não é obrigado
a se manifestar sobre todos os pontos alegados pelas partes, mas somente sobre aqueles que entender
necessários para o julgamento do feito, de acordo com seu livre convencimento fundamentado (CP C/1973, art.
131), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender
aplicável ao caso (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag nº 638.361/P B, Rel. Min. José Delgado, 1ª Turma, v.u., j.
03.03.2005, DJ 19.12.2005; STJ, AgRg no REsp nº 705.187/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, v.u., j. 15.09.2005,
DJ 26.09.2005) [...].” (STJ- REsp nº 1056849/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, dec. mon., publ. 18.08.2008). No
mesmo sentido: “‘o órgão judicial, para expressar sua convicção, não está obrigado a aduzir comentários a
respeito de todos os argumentos levantados pelas partes, quando decidir a causa com fundamentos capazes de
sustentar sua conclusão. Precedentes’ (AgRg no AREsp 101.686/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma,DJe
02.12.2013)” (STJ, AgRg no AREsp nº 610.953/SP, 6ª T., DJe 29.04.2015).
4
RECURSO DO ART. 96, § 4º, DA LEI Nº
9.504/1997

O art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997 prevê um recurso nos seguintes termos:

Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações ou representações relativas ao seu
descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se: I – aos
juízes eleitorais, nas eleições municipais;
II – aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais; III – ao Tribunal Superior
Eleitoral, na eleição presidencial.
§ 1º As reclamações e representações devem relatar fatos, indicando provas, indícios e circunstâncias.
§ 2º Nas eleições municipais, quando a circunscrição abranger mais de uma zona eleitoral, o Tribunal Regional
designará um juiz para apreciar as reclamações ou representações.
§ 3º Os tribunais eleitorais designarão três juízes auxiliares para a apreciação das reclamações ou representações
que lhes forem dirigidas.
§ 4º Os recursos contra as decisões dos juízes auxiliares serão julgados pelo Plenário do Tribunal [...].

Está claro no § 3º dessa norma que os tribunais eleitorais devem designar três juízes auxiliares para o
conhecimento e julgamento das reclamações ou representações que lhes forem dirigidas, cujo objeto seja o
descumprimento da própria Lei nº 9.504/1997.1
São recorríveis as decisões dos juízes auxiliares que extinguirem o processo (i.e., sua fase cognitiva), com ou
sem julgamento do mérito da causa. Nos termos do assinalado § 4º, o recurso deve ser dirigido ao órgão pleno do
tribunal.
Estabelece o caput do art. 121 da Constituição Federal que “a organização e competência dos tribunais, dos
juízes de direito e das juntas eleitorais” serão reguladas por Lei Complementar. Considerando que a Lei nº
9.504/1997 é ordinária, poderia ela dispor sobre competência e criar a figura dos “juízes auxiliares”? Não haveria
nisso inconstitucionalidade?
A esse respeito, cumpre ponderar que a norma complementar exigida pelo artigo 121 da Lei Maior ainda não
foi positivada. Não é razoável que os complexos mecanismos de atuação da jurisdição eleitoral – necessários para a
efetivação de direitos humanos (políticos) fundamentais – permaneçam inertes, à espera de norma que não chega.
Outrossim, entre os anseios da sociedade contemporânea estão justamente a celeridade e a efetividade da prestação
jurisdicional, sendo intolerável a demora do processo, o que é especialmente verdadeiro na seara eleitoral.
Para afirmar-se a constitucionalidade do citado artigo 96, é inteiramente cabível a invocação do “sentido” da
regra inscrita no artigo 24, §§ 3º e 4º, da mesma Constituição Federal, pelo que, mutatis mutandis, inexistindo lei
(geral) complementar, é dado à ordinária regular amplamente a matéria, até que aquela norma seja promulgada,
paralisando-se, a partir de então, a eficácia desta no que lhe contrariar. Destarte, diante da inexistência de lei
complementar, fica o legislador ordinário livre para exercer plenamente sua competência legiferante, de maneira a
atender as necessidades e as peculiaridades reclamadas pela vida social, mormente no que tange à efetividade da
prestação jurisdicional.
Impõe-se, pois, a interpretação da norma em apreço à luz da integridade do sistema e da totalidade da
Constituição e, pois, dos princípios lá inscritos. Mesmo porque o artigo 96 da Lei nº 9.504/1997 apenas cumpre a
relevante função de ordenar o sistema sob o aspecto processual, nenhum prejuízo concreto carreando às partes ou
aos atores do processo eleitoral, pois a competência permanece afeta ao tribunal eleitoral. Nesse rumo, bem
assinalou Ramayana (2006, p. 368) ao lembrar que, quando os §§ 3º e 4º do artigo 96 da LE trataram do julgamento
das reclamações pelos juízes auxiliares, com a previsão de recurso para o pleno dos tribunais eleitorais, que decidem
por maioria de votos de seus membros, “apenas ampliaram as garantias da ampla defesa e do contraditório, e
tornaram célere a prestação jurisdicional, sem afetar a competência específica destes tribunais”. Diante disso, na
perspectiva material, não se divisa inconstitucionalidade alguma.
Entende-se que os juízes auxiliares devem ser escolhidos entre os integrantes substitutos do próprio tribunal.
Nesse contexto, enquanto nas eleições federais e estaduais são designados três juízes auxiliares dos tribunais
regionais eleitorais, na presidencial são designados três ministros-auxiliares do Tribunal Superior Eleitoral.
Os juízes e ministros auxiliares exercem a jurisdição estatal. Embora limitada em razão da matéria, a
competência que detêm é de natureza absoluta, estendendo-se a todas as demandas fulcradas na Lei nº 9.504/1997.2
Observe-se, porém, que somente julgam monocraticamente as ações em que não há pedido de cassação de
registro ou de diploma, como ocorre no caso de representação por propaganda eleitoral ilícita ou irregular.
Se houver pedido de cassação de registro ou de diploma (como acontece nas ações atinentes a captação ou
gasto ilícito de recursos de campanha, captação ilícita de sufrágio e conduta vedada), a competência para julgar a
lide será do órgão pleno do tribunal. Aqui, porém, os juízes auxiliares conduzem e presidem toda a instrução
processual e, no final, apresentam relatório ao colegiado, tomam assento na sessão e votam como relatores da
matéria.
Na verdade, detêm os juízes auxiliares a mesma jurisdição e competência afetas aos tribunais a que se
encontram vinculados. Tanto que, se não forem designados, a demanda deve ser distribuída a um dos membros do
colegiado, e não à primeira instância da Justiça Eleitoral. Logo, conquanto monocráticas, as decisões desses juízes
são decisões do tribunal.
Na sequência, serão destacadas algumas peculiaridades do recurso do art. 96, § 4º, da LE.
Natureza – tal qual o recurso eleitoral, o recurso do art. 96, § 4º, da LE tem natureza de ordinário,
assemelhando-se, portanto, à apelação no processo civil comum. Isso porque visa a tutelar situações jurídicas
materiais e não propriamente o ordenamento legal. Assim, ele enseja ao órgão colegiado do tribunal a ampla revisão
da decisão do juiz auxiliar, no que concerne tanto aos aspectos fáticos quanto aos jurídicos.
Denominação – não foi consagrado um nomen juris próprio para o recurso em exame. Por isso, enquanto
alguns o denominam de recurso inominado, outros o chamam de agravo ou agravo interno.
Não parece apropriado designar um recurso de “inominado” (sem nome), pois, para além de ser demasiado
vaga, essa denominação nada esclarece sobre o recurso.
Por outro lado, nomear o recurso em apreço de “agravo interno” pode gerar confusões, já que esse é nome
reservado ao recurso previsto no art. 1.021 do CP C/2015. No entanto, essa denominação poderia ser justificada
pelas semelhanças existentes entre esses dois recursos. Afinal, nos dois casos, trata-se de impugnação de decisão
monocrática proferida pelo relator do processo.
Ante a falta de nome oficial próprio, parece adequado nominá-lo simplesmente “recurso do art. 96, § 4º, da Lei
nº 9.504/1997” – sem espaço, portanto, para confusões com outros instrumentos impugnativos.
Objeto – pelo presente recurso pode a parte impugnar as decisões dos juízes auxiliares extintivas do processo
(i.e., de sua fase cognitiva), com ou sem julgamento do mérito da causa, que tenha por objeto o descumprimento da
própria Lei nº 9.504/1997.
Não são recorríveis, de imediato, as decisões interlocutórias.
Fungibilidade – devido à incerteza terminológica, admite-se na jurisprudência a incidência do princípio da
fungibilidade quando o recurso em exame é aviado com outro nome, notadamente o de agravo – tanto o interno
quanto o regimental. Confira-se:

1. Por força do princípio da fungibilidade dos recursos, próprio da instrumentalidade do processo, conhece-se de
agravo regimental, interposto com fundamento no art. 36, § 8º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral
(RITSE), como se recurso inominado fosse – este o recurso correto a ser interposto em face das decisões
proferidas pelos juízes auxiliares da propaganda eleitoral, ex vi do disposto no art. 96, § 8º, da Lei nº 9.504/1997 –,
desde que observado o prazo de interposição de 24 horas. Precedente (TSE, R-Rp nº 23825/DF,DJe, t. 161,
29.08.2014, p. 117-118).
1. O recurso cabível contra as decisões proferidas pelos juízes auxiliares da propaganda é o inominado (art. 96, § 8º,
da Lei nº 9.504/1997). Presentes os requisitos de admissibilidade, é aplicável o princípio da fungibilidade para receber
o agravo regimental como recurso inominado. Precedentes [...] (TSE, AgR-Rp nº 14392/DF,DJe, t. 161,
29.08.2014, p. 116).

Interposição – o recurso do art. 96, § 4º, da LE deve ser interposto por escrito, em petição devidamente
fundamentada, dirigida ao juiz auxiliar prolator da respectiva decisão. À luz do art. 1.010 do CP C/2015, aplicável
subsidiariamente, a petição deve conter: “I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do
direito; III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.”
Pode o recurso ser apresentado em peça única, na qual já venham estampadas as razões, ou em duas peças,
sendo a primeira delas dedicada à exposição das razões de fato e de direito, i. e., à fundamentação. Essa última
prática é já consagrada na experiência forense brasileira, não acarretando qualquer prejuízo nem às partes nem à
prestação jurisdicional. Assim, enquanto a petição recursal deve ser endereçada ao juiz auxiliar, as razões que a
acompanham dirigem-se ao órgão colegiado do tribunal.
Juízo de admissibilidade – o juízo de admissibilidade deve ser feito pelo órgão colegiado, e não
monocraticamente pelo juiz auxiliar recorrido.
Todavia, caso o juiz auxiliar realize juízo de admissibilidade, não conhecendo o recurso interposto, contra a
decisão de inadmissão pode-se cogitar o cabimento do agravo interno previsto no art. 1.021 do CPC/2015.
Nesse caso, o agravo deve ser dirigido ao próprio juiz auxiliar, que poderá se retratar da decisão de inadmissão
do recurso. Não havendo retratação, deve determinar a intimação do agravado para se manifestar, e também a do
Ministério Público (se este funcionar como fiscal da ordem jurídica), encaminhando, em seguida, o agravo para
julgamento pelo órgão colegiado. Neste, o juiz auxiliar funcionará como relator do agravo.
Prazo – nos termos do § 8º do art. 96 da LE, o recurso deverá ser apresentado no prazo de 24 horas da
publicação da decisão. Entretanto, consoante salientado anteriormente, é pacífico o entendimento jurisprudencial de
que esse prazo de 24 horas deve ser convertido para um dia.
As contrarrazões devem ser oferecidas “em igual prazo”, a contar da notificação da parte recorrida.
Efeitos – segue-se aqui a regra geral do art. 257, caput, do Código Eleitoral, segundo a qual os recursos “não
terão efeito suspensivo”.
Além disso, o recurso em apreço é dotado de efeito devolutivo amplo. Nesse ponto, assemelha-se ao recurso
eleitoral e à apelação comum. O efeito devolutivo aqui comparece em suas duas dimensões, a saber: horizontal ou
de extensão, e vertical ou em profundidade.
Assim, mutatis mutandis, incide o princípio tantum devolutum quantum appellatum e, subsidiariamente, o
disposto no art. 1.013 do CPC/2015, de sorte que:

o recurso devolverá ao colegiado do tribunal o conhecimento da matéria impugnada (CPC/2015, art. 1.013, caput);
poderá o órgão colegiado conhecer e julgar “todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não
tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado” (CPC/2015, art. 1.013, § 1º);
se o pedido ou a defesa contiver mais de um fundamento e o juiz auxiliar acolher apenas um deles, o recurso
“devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais” (CPC/2015, art. 1.013, § 2º);
se “o processo estiver em condições de imediato julgamento, o órgão colegiado do tribunal deve decidir desde logo o
mérito quando: I – reformar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela
congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos,
hipótese em que poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação”. Em todas essas
hipóteses, a causa deve encontrar-se madura para julgamento, ou seja, independer de produção de prova ou a
prova já se encontrar integralmente acostada aos autos. Deveras, a presente solução só é viável se realmente for
desnecessária a produção de prova, caso contrário violar-se-ia o devido processo legal. Não se vislumbra na
previsão enfocada inconstitucionalidade por violação ao princípio do duplo grau de jurisdição, pois este, consoante
salientado anteriormente, além de não ter sido previsto expressamente na Constituição Federal, pode ser
excepcionado em determinadas situações (CPC/2015, art. 1.013, § 3º);
se reformar sentença que reconheça decadência ou prescrição, poderá, sendo isso possível, julgar “o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau” (CP C/2015, art.
1.013, § 4º).

Juízo de retratação – não há expressa previsão de juízo de retratação para o recurso em exame.
Afigura-se razoável o entendimento que admite a retratação judicial por aplicação supletiva do Código Eleitoral,
que prevê tal instituto em seu art. 267, § 7º, bem como do CP C, que igualmente o prevê na hipótese de interposição
de apelação: i) contra a extinção do processo sem julgamento do mérito (CP C, art. 485, § 7º); ii) fundada em
indeferimento da petição inicial (CP C, art. 331); iii) contra sentença de improcedência liminar do pedido (CP C, art.
332, § 3º).
Tramitação no tribunal – uma vez apresentadas as contrarrazões ou escoado in albis o prazo para que a
parte possa fazê-lo, os autos devem ser remetidos ao Ministério Público Eleitoral (Procuradoria Regional ou
Procuradoria Geral, conforme o processo tramite respectivamente em TRE ou no TSE) para que esse se manifeste
na qualidade de custos legis.
O próprio juiz auxiliar que julgou a matéria monocraticamente será o relator do recurso no órgão colegiado.
Assim, retornando os autos do Ministério Público Eleitoral, o juiz auxiliar apreciará o recurso, elaborará relatório
e voto, levando-o ao órgão colegiado para julgamento.
Não há falar, aqui, em revisão.
No julgamento, o juiz auxiliar substituirá no órgão colegiado membro efetivo de categoria idêntica à sua. Por
exemplo, em TRE: se o juiz auxiliar for desembargador estadual, substituirá membro efetivo do colegiado que seja
desembargador estadual; se o auxiliar for juiz ou desembargador federal, substituirá o membro do colegiado que
também seja juiz ou desembargador federal. Com isso, são atendidas as regras inscritas na Constituição Federal
relativamente à composição dos tribunais eleitorais, a saber, o art. 119, I e II, e o art. 120, § 1º, I, II e III.3
Na sessão de julgamento, o relator lerá o relatório (providência que pode ser dispensada) e, em seguida, as
partes e o Ministério Público Eleitoral poderão produzir sustentação oral.
É de 10 minutos o prazo para a sustentação oral (CE, art. 272). No entanto, dispõe o art. 16, I, da Res. TSE nº
23.478/2016: “Nos Tribunais Eleitorais, o prazo para sustentação oral dos advogados das partes e do representante
do Ministério Público será de: I - 15 (quinze) minutos nos feitos originários (art. 937 do Novo Código de Processo
Civil); [...].” Considerando serem de competência originária dos Tribunais Eleitorais os feitos em que o recurso do
art. 96, § 4º, da LE é manejável, poder-se-ia argumentar ser de 15 minutos o prazo para a sustentação oral. Todavia,
o prazo de 15 minutos previsto no citado art. 16, I, parece destinar-se à sustentação oral nas causas cujo mérito é
julgado diretamente pelo próprio órgão Colegiado (como ocorre na AIJE do art. 22 da LC nº 64/1990). No caso em
exame, o mérito da causa é julgado pelo juiz auxiliar, podendo essa decisão ser combatida mediante o recurso do art.
96, § 4º, da LE. Esse, então, assemelha-se ao recurso eleitoral, devendo o prazo de sustentação oral limitar-se a 10
minutos, conforme prevê o art. 272 do Código Eleitoral.
Proferidos os votos, concluído o julgamento e proclamado o resultado, o relator, se vitorioso, ou o relator
designado para redigir o acórdão, apresentará a redação deste, que em seguida deve ser publicado no veículo oficial.

1 Não se devem confundir os juízes auxiliares aqui tratados com juízes atuantes em Comissão de Fiscalização de
Propaganda Eleitoral (CFP E). Nas eleições federais e estaduais (e mesmo em eleições municipais, em grandes
cidades), tal comissão é instituída pelos tribunais regionais com vistas à fiscalização da propaganda eleitoral no
âmbito administrativo, limitando-se, portanto, ao exercício do poder de polícia da Justiça Eleitoral. Normalmente, a
comissão é composta por três juízes de direito (não necessariamente exercentes de função eleitoral, conforme
entendeu o TSE na Res. nº 21088/2002,DJ, v. 1, 31.05.2002, p. 105). Esses juízes não exercem poder
jurisdicional nem têm assento na corte regional. Diferentemente dos juízes auxiliares, os membros da CFP E não
detêm competência para conhecer e julgar ações envolvendo a violação da Lei Eleitoral e, consequentemente,
impor multa aos transgressores. Atuam exclusivamente no âmbito do poder de polícia, podendo, e. g., determinar
a retirada ou a regularização de determinada publicidade que estiver em descompasso com a legislação.
Conforme forem as circunstâncias fáticas, o descumprimento de suas decisões ou determinações pode
caracterizar delito de desobediência eleitoral (CE, art. 347). Por outro lado, por serem administrativas, suas
decisões podem ser questionadas via mandado de segurança perante o tribunal regional.
2 Isso não significa que os procedimentos a serem seguidos sejam idênticos. Na verdade, as representações (rectius
ações) relativas ao descumprimento da Lei nº 9.504/1997 devem observar o rito traçado em seu artigo 96. Esse
procedimento só não será seguido se a própria Lei Eleitoral cuidar de afastá-lo. Assim, por exemplo, não é ele
aplicado nas hipóteses de captação ou gasto ilícito de recurso de campanha (LE, art. 30-A, § 1º), captação ilícita
de sufrágio (LE, art. 41-A), conduta vedada (LE, art. 73, § 12), que seguem o rito estabelecido no artigo 22 da Lei
de Inelegibilidades (LC nº 64/1990).
3 Eis o teor desses dispositivos: “Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,
escolhidos: I – mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II – por nomeação do Presidente da República,
dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal
Federal. [...]”; “Art. 120. [...] § 1º Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I – mediante eleição, pelo
voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de
direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II – de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na capital do
estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal
Regional Federal respectivo; III – por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça [...].”
6
AGRAVOS

6.1 GENERALIDADES
Ensina Barbosa Moreira (2012, nº 265, p. 483) que o recurso de agravo surgiu no antigo Direito português. Por
não se conformarem com as restrições impostas à faculdade de apelar contra decisões interlocutórias que às vezes
causavam irreparáveis prejuízos, insistiam as partes em pleitear a imediata correção do agravo ao rei, requerendo
“cartas de justiça”, cuja eficácia era subordinada à cláusula de serem verdadeiras as alegações do requerente. A
fim de evitar inúteis perdas de tempo, “determinou D. Duarte que as petições lhe subissem já acompanhadas da
resposta do juiz que proferira a decisão impugnada: eis a origem do juízo de retratação. Assim se configuraram as
chamadas ‘cartas testemunháveis’ ou ‘instrumentos de agravo’.”
Em sua evolução histórica, sofreu o agravo vários percalços, ora sendo acolhido no ordenamento legal
português (ex.: Ordenações Manuelinas), ora sendo abolido.
Com a Proclamação da Independência do Brasil, em 1822, o governo fez editar uma lei, datada de 20 de
outubro de 1823, determinando que vigorassem no Império brasileiro as Ordenações Filipinas, as leis e os decretos
promulgados pelos reis de Portugal até 25 de abril de 1821.
Assim, a presença do agravo no Direito brasileiro se explica pela herança histórico-cultural do sistema jurídico
português. Surgiu, portanto, do ramo de planta aqui enxertado pelo colonizador lusitano.
O recurso em exame foi contemplado nos Códigos Processuais de 1939 e 1973, tendo sido mantido no de 2015.
O CP C de 2015 contempla diferentes espécies de agravo, a saber: agravo de instrumento, agravo interno,
agravo regimental e agravo em recurso especial ou extraordinário (agravo nos próprios autos).
O agravo retido (previsto no art. 522 do CPC de 1973) foi extinto.
Conquanto o agravo de instrumento tenha permanecido no novo sistema processual, foi completamente
alterado.

6.2 AGRAVO DE INSTRUMENTO


O agravo de instrumento é recurso de natureza ordinária vocacionado à impugnação de decisão interlocutória
proferida pelo órgão judicial na fase de conhecimento do processo.
Nos domínios eleitorais, há muito erigiu-se o entendimento segundo o qual não cabe agravo de instrumento,
porque as decisões interlocutórias devem ser impugnadas no final, juntamente com a decisão que extingue o
processo com ou sem julgamento do mérito. Não há, aqui, preclusão da decisão interlocutória se ela não for desde
logo impugnada.1 Essa exegese tornou-se pacífica na Corte Superior Eleitoral, a ver:
Art. 19. As decisões interlocutórias ou sem caráter definitivo proferidas nos feitos eleitorais são irrecorríveis de
imediato por não estarem sujeitas à preclusão, ficando os eventuais inconformismos para posterior manifestação em
recurso contra a decisão definitiva de mérito. § 1º O Juiz ou Tribunal conhecerá da matéria versada na decisão
interlocutória como preliminar à decisão de mérito se as partes assim requererem em suas manifestações. [...].
(Res. TSE nº 23.478/2016, art. 19).

Art. 29. As decisões interlocutórias proferidas no curso da representação não são recorríveis de imediato, não
precluem e deverão ser novamente analisadas pelo juiz eleitoral por ocasião do julgamento, caso assim o requeiram
as partes ou Ministério Público em suas alegações finais [...] (Res. TSE nº 23.462/2015).
[...] A jurisprudência atual desta Corte alinha-se ao entendimento de que as decisões interlocutórias ou sem caráter
definitivo são irrecorríveis, ficando os eventuais inconformismos surgidos para posterior manifestação em recurso
contra decisão final do processo [...] (TSE, AgR-AI nº 182927/ PI, DJe 05.06.2013).
[...] 3. As decisões interlocutórias tomadas em sede de investigação judicial eleitoral, sob o rito do art. 22 da LC nº
64/1990, são irrecorríveis isoladamente, devendo sua apreciação ser feita quando da interposição do recurso próprio,
haja vista que a matéria nela decidida não se sujeita à preclusão imediata. Celeridade processual visando à efetiva
prestação jurisdicional. 4. Recurso especial não provido (TSE, REspe nº 25999/SP, DJ 20.10.2006, p. 207).

Somente se admitia o agravo de instrumento quando a própria norma legal eleitoral o estabelecesse
expressamente. Era esse, e.g., o caso dos arts. 279 e 282 do Código Eleitoral, que previam2 o cabimento desse
agravo para impugnar o ato de denegação de recursos especial e extraordinário.
Com a entrada em vigor do CP C de 2015, o sistema processual comum aproximou-se do eleitoral no ponto
enfocado. É que nos termos do art. 1.009, § 1º, daquele Código,3 se não couber agravo de instrumento contra a
decisão interlocutória, esta poderá ser impugnada em preliminar de apelação.
E as hipóteses de cabimento de agravo de instrumento são expressamente arroladas no art. 1.015 do CP C,in
verbis:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;4
III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI – exibição ou posse de documento ou coisa;
VII – exclusão de litisconsorte;
VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII – (vetado);
XIII – outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

Se algum desses temas integrar capítulo da sentença, deverá ser impugnado diretamente na apelação, e não por
agravo de instrumento, conforme estabelece o art. 1.009, § 3º, do novo CP C.5 Isso devido à abrangência da
apelação.
Assim, se não se tratar de tema arrolado nesse dispositivo, não é necessário que a parte impugne nem proteste
contra a decisão interlocutória que lhe for desfavorável, só devendo fazê-lo no final, quando encerrada a fase de
conhecimento do processo, já que não há preclusão imediata. A preclusão somente ocorrerá se, no final, a parte não
impugnar a decisão na apelação aviada contra a sentença ou nas contrarrazões. É correto, portanto, entender que,
para as decisões interlocutórias não arroladas no art. 1.015 do CP C, a preclusão se dá em relação à apelação ou às
contrarrazões.6
Quanto às contrarrazões, tem-se que, se a parte sucumbente na decisão interlocutória for, no final, vitoriosa,
por óbvio não terá interesse em impugnar a sentença que lhe foi favorável. Assim, sendo a sentença impugnada pelo
vencido, o vencedor (e sucumbente na decisão interlocutória) deverá impugnar nas contrarrazões a decisão
interlocutória que lhe fora desfavorável; se não o fizer nessa oportunidade, operar-se-á a preclusão, de sorte que não
poderá fazê-lo posteriormente. Logo, em suas contrarrazões poderá o vencedor formular pedido ao juízo ad quem.
Por essa via, o vencedor suscita as questões de seu interesse, ensejando que o órgão ad quem se pronuncie a
respeito delas, preparando, com isso, o caminho para eventual discussão no âmbito das instâncias excepcionais, isto
é, dos tribunais superiores.
É de todo recomendável que a nova sistemática introduzida pelo CP C de 2015 seja assimilada e aplicada ao
processo jurisdicional eleitoral, notadamente no que concerne à admissão do agravo de instrumento quando esse
recurso for cabível. De maneira que, nas hipóteses especificadas no citado art. 1.015, possa a parte impugnar a
decisão interlocutória mediante o recurso em apreço. Em prol dessa tese pode-se afirmar que, além de inexistir
qualquer regra eleitoral que expressamente exclua a incidência do agravo de instrumento, o artigo 265, caput, do
Código Eleitoral prevê (sem ressalva) caber recurso “dos atos, resoluções ou despachos” proferidos por juiz
eleitoral. Portanto, no interior do microssistema eleitoral há expressa previsão legal de recurso contra “atos” e até
mesmo contra despacho do órgão judicial.
Nessa perspectiva, tem-se como viável a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlocutória
que, por exemplo, verse sobre tutela provisória de urgência de natureza cautelar (CP C/2015, arts. 1.015, I, 294 e ss.)
ou sobre a admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros (CPC/2015, art. 1.015, IX) na relação processual.
Por outro lado, vale registrar que o agravo de instrumento sempre foi admitido em certos casos de aplicação
subsidiária da legislação processual. É isso o que ocorre, e. g., na hipótese de processo de execução judicial de
sanção eleitoral pecuniária: multa. Com efeito, a legislação eleitoral (vide CE, art. 367, IV; Res. TSE nº 21.975/2004,
art. 3º, § 2º) é clara ao determinar que as regras processuais da Lei nº 6.830/1980 devem ser aplicadas à espécie. E
o primeiro artigo dessa norma dispõe que, havendo omissão em seu texto, aplica-se subsidiariamente o CPC. É então
imperiosa a admissão de agravo de instrumento, por exemplo, para atacar decisão interlocutória que rejeita o
recebimento de exceção de pré-executividade, a ver:
[...] A jurisprudência do e. TSE tem compreendido que a Lei de Execução Fiscal (Lei nº 6.830/1980) é aplicável na
cobrança de multa eleitoral, o que acarreta a utilização subsidiária do CP C por força do art. 1º da mencionada lei.
Nessa esteira, contra decisão interlocutória que rejeita exceção de pré-executividade, o recurso correto é o agravo
de instrumento, e não o recurso inominado como afirma o recorrente [...] (TSE, REspe nº 28749/RS,DJe
1º.12.2008, p. 9-11, excerto da decisão monocrática do relator).

Note-se que, em tais casos, reconhece-se que o manejo de recurso eleitoral (independentemente de sua
natureza) no lugar do agravo de instrumento constitui erro grosseiro, o que afasta a incidência do princípio da
fungibilidade recursal.
Procedimento – o procedimento do agravo de instrumento segue o disposto nos arts. 1.016 a 1.020 do CP C de
2015.
O efeito devolutivo do agravo de instrumento é restrito, envolvendo apenas a matéria levada ao tribunal
recorrido.
Não é ele, por si só, dotado de efeito suspensivo. Mas, havendo requerimento do agravante, poderá o relator
atribuir-lhe tal efeito (CP C/2015, art. 1.019, I), sustando-se com isso a eficácia concreta da decisão interlocutória
impugnada.
O prazo para a interposição é, em princípio, de três dias (CE, art. 258). Contudo, o prazo será de 24 horas (que
é convertido em um dia) – no âmbito das instâncias ordinárias – nas hipóteses regidas pelo art. 96, § 8º, da Lei nº
9.504/1997, exceto se essa norma indicar lapso diverso.
Deve o agravo ser encaminhado diretamente ao tribunal competente, que realiza juízo de admissibilidade.
A petição recursal deve conter: “I – os nomes das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões
do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; IV – o nome e o endereço completo dos
advogados constantes do processo” (CPC/2015, art. 1.016).
Deve o agravo ser instruído com peças dos autos, especificadas no art. 1.017 do CP C/2015. Esse dispositivo
prevê duas categorias de peças: as obrigatórias e as facultativas. Assim, deve a petição ser instruída
“obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da
própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado”. E poderá ela ser
instruída, “facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis”. Caso não existam alguma das
aludidas peças obrigatórias, deve a petição ser instruída com declaração de inexistência delas, declaração essa “feita
pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal”.
No caso de processo eletrônico, o agravante é dispensado de juntar as peças obrigatórias já constantes dos
autos, podendo, porém, anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia (CP C,
art. 1.017, § 5º).
Não sendo eletrônico o processo, três dias após a interposição, cumpre ao agravante requerer “a juntada aos
autos do processo de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação
dos documentos que instruíram o recurso” (CP C/2015, art. 1.018,caput).7 A comunicação ao juízo a quo tem a
dupla finalidade de: (a) ensejar o juízo de retratação do prolator do decisum (CP C/2015, art. 1.018, § 1º); havendo
retratação, esta prejudicará o agravo; e (b) propiciar a defesa da parte agravada.
O não cumprimento desse ônus processual, “desde que arguido e provado pelo agravado, importa
inadmissibilidade do agravo de instrumento” (CP C/2015, art. 1.018, § 3º). A arguição de descumprimento pode ser
feita até antes do julgamento perante o órgão colegiado.
A sanção de inadmissibilidade do agravo de instrumento não pode ser aplicada ex officio, só podendo ser
imposta se a falta de comunicação for arguida pelo próprio agravado. Nesse sentido, afirmam Wambier et al. (2015,
p. 1.462) ser “ônus do agravado arguir e comprovar a não juntada da cópia da petição de interposição do recurso de
agravo no juízo a quo [...]”, sendo que o usual é que essa prova “se faça por meio de certidão negativa, expedida
pelo cartório da vara em que tramita o processo em 1º grau de jurisdição”. Ademais, para a imposição da sanção é
também necessário que o agravado demonstre ter sofrido prejuízo com a ausência da comunicação da interposição
ao juízo a quo. Sob o regime do revogado CP C de 1973, era nesse sentido o ensinamento de Freitas Câmara (2012,
p. 113) – ensinamento esse que permanece válido –, para quem não se poderá deixar de conhecer do agravo de
instrumento quando, não obstante o agravado tenha arguido e provado que a comunicação ao juízo a quo não tenha
sido feita, para ele não houver resultado qualquer prejuízo. Se não houver prejuízo, razão não há para sancionar a
parte com a inadmissão do recurso por ela aviado; afinal, conforme proclamado no parágrafo único do art. 283 do
CP C de 2015: “Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer
parte.”
Nos termos do art. 1.019, caput, do CP C de 2015, assim que recebido no tribunal será o agravo distribuído,
podendo o relator aplicar o disposto no art. 932, incisos III e IV, daquele Código Processual.
Assim, poderá o relator, em decisão monocrática: i) não conhecer de agravo “inadmissível, prejudicado ou
que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”; ii) negar provimento a agravo
“que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça [do TSE] ou do próprio
tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência”.
Uma vez conhecido o agravo, se existir requerimento da parte, o inciso I do aludido art. 1.019 permite ao
relator: i) “atribuir efeito suspensivo ao recurso”;8 ii) “deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal”. Nos dois casos deve a decisão do relator ser comunicada ao juiz.
Outrossim, deverá o relator ordenar a intimação do agravado para defender-se, bem como a do Ministério
Público (se ele próprio não for o agravado),9 para que se manifeste, solicitando em seguida dia para julgamento
(CPC/2015, art. 1.019, II e III, e art. 1.020).
Na sessão de julgamento, só é prevista sustentação oral na hipótese de o agravo de instrumento ter sido
“interposto contra decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias de urgência ou da evidência”
(CP C/2015, art. 937, VIII). Portanto, só pode haver sustentação oral na hipótese prevista no há pouco citado inciso I
do art. 1.015 do CPC de 2015.

6.3 AGRAVO INTERNO


O agravo interno é previsto no art. 1.021 do CP C de 2015, cujocaput reza: “Contra decisão proferida pelo
relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.”
Desde logo, vale registrar a existência de regimentos internos de tribunais que ainda não foram atualizados, por
isso não preveem “agravo interno”, mas sim “agravo regimental”. Veja-se, nesse sentido, o disposto no § 8º, art. 36,
do Regimento Interno do TSE,verbis: “Art. 36 [...] § 8º Da decisão do relator caberá agravo regimental, no prazo
de três dias e processado nos próprios autos”.
De qualquer modo, a própria lei processual remete ao regimento interno dos tribunais a regulamentação do
“processamento” do agravo interno.
O agravo interno é interponível para impugnar: i) decisões monocráticas proferidas pelo relator na direção do
processo no tribunal (CP C, art. 932); ii) decisões monocráticas prolatadas por presidente ou vice-presidente de
tribunal a quo (recorrido) com fundamento (ii.a) no reconhecimento ou na negação de repercussão geral de recurso
extraordinário (CPC, arts. 1.030, § 2º, e 1.035, §§ 5º-7º) e (ii.b) na técnica de recursos repetitivos (CP C, arts. 1.030,
§ 2º, e 1.036, §§ 2º e 3º).
Portanto, a finalidade do presente recurso é assegurar a revisão ou a correção das referidas decisões
monocráticas pelo órgão colegiado (princípio da colegialidade) a que o prolator estiver vinculado.
Quanto ao relator, seus poderes encontram-se arrolados no art. 932 do CPC, in verbis:

Art. 932. Incumbe ao relator:


I – dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso,
homologar autocomposição das partes;
II – apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal;
III – não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os
fundamentos da decisão recorrida;
IV – negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for
contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
VI – decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente
perante o tribunal;
VII – determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso; VIII – exercer outras atribuições
estabelecidas no regimento interno do tribunal.
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de cinco dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.
Note-se que esse art. 932 situa-se no Capítulo II do Título I do Livro III do CP C, que trata da ordem do
processo no tribunal e dos processos de competência originária. Está claro nesse dispositivo que os poderes
atribuídos ao relator não se limitam ao procedimento recursal (incisos III, IV e V), estendendo-se também à prática
de atos processuais em processo de competência originária (incisos I, II, VI e VIII).
Diante disso, pode-se afirmar que o agravo interno é cabível: (i) no âmbito da competência recursal do tribunal,
para impugnar a decisão do relator de não conhecer, negar ou dar provimento ao recurso interposto contra a decisão
do órgão a quo; (ii) no âmbito da competência originária, para impugnar decisão interlocutória do relator em
processo de competência originária do tribunal – ex.: Aije por abuso de poder e ação eleitoral por captação ilícita de
sufrágio em eleição estadual e federal.10
Considerando a expressa previsão legal possibilitando decisão monocrática nas hipóteses especificadas no
referido art. 932, não viola o princípio da colegialidade a decisão que não se afastar dos parâmetros legais. Esse
princípio só poderia ser considerado violado se o relator decidisse monocraticamente fora das hipóteses legalmente
arroladas.
Já no que respeita ao presidente ou vice-presidente do tribunal a quo (recorrido), é cabível agravo interno para
impugnar decisão monocrática de sua lavra proferida no âmbito da repercussão geral do recurso extraordinário e da
técnica de recursos repetitivos. Assim, o agravo é cabível contra decisão que:

negar seguimento “a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não
tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral”
(CPC, art. 1.030, I, a; § 2º);
negar seguimento “a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente,
exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos” (CPC, art. 1.030, I, b; § 2º);
“sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional”
(CPC, art. 1.030, III, c.c. § 2º);
negar pedido de exclusão da decisão de sobrestamento e manter a admissão de recurso extraordinário ou recurso
especial que tenham sido interpostos intempestivamente (CPC, arts. 1.035, §§ 6º e 7º, 1.036, §§ 2º e 3º).

Reitere-se que nessas hipóteses a competência para conhecer e julgar o agravo interno é do órgão colegiado a
que o presidente ou vice-presidente do tribunal a quo (recorrido) estiver vinculado. Assim, e.g., na hipótese do
número 1 supra, se o presidente do TSE negar seguimento a recurso extraordinário, a decisão respectiva poderá ser
impugnada perante o plenário daquele mesmo tribunal. Nesse sentido, já assentou a Corte Superior que: “1. Nos
termos dos arts. 1.021 e 1.030, § 2º, do CP C, é cabível agravo regimental [= agravo interno] para o TSE da decisão
de admissibilidade de recurso extraordinário na qual se nega seguimento ao apelo com fundamento em precedente
do STF que reconheceu a ausência de repercussão geral do tema. [...].” (TSE – AI nº 375915/MG –DJe, t. 149, 2-
8-2017, p. 474).
E se o órgão colegiado a que o presidente ou vice-presidente estiver vinculado negar provimento ao agravo
interno? Nesse caso, afigura-se plausível admitir-se o agravo em recurso extraordinário e especial (CP C, art. 1.042)
para impugnar a decisão colegiada que manteve a inadmissão do recurso. Isso porque o legislador apenas deferiu ao
tribunal recorrido a realização do primeiro juízo de admissibilidade dos recursos excepcionais, não, porém, o juízo
definitivo de admissibilidade – tanto assim que previu o agravo em recurso extraordinário e especial como via
adequada para discutir-se a inadmissão. Ademais, consoante afirmam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2016, p. 562 e
570), interpretar-se de modo diverso implica “suprimir do STF e do STJ o poder de afirmar os seus próprios
precedentes mediante as devidas distinções e, ao fim e ao cabo, não permitir o próprio desenvolvimento do direito
mediante adições de paulatinas ampliações e restrições”.
Já se ressaltou alhures que os embargos de declaração podem ser manejados “contra qualquer decisão judicial”
(CE, art. 275, c/c o CP C/2015, art. 1.022,caput), inclusive, portanto, contra decisão monocrática do relator e do
presidente ou vice-presidente do tribunal a quo.11 De sorte que, interpostos os embargos, haverá interrupção do
prazo para aviamento do agravo interno.
Quanto à natureza, o recurso em exame acompanha a dos recursos em que for manejado, podendo, portanto,
ser ordinário ou extraordinário. Assim, e.g., será ordinário se interposto no âmbito de apelação e recurso eleitoral, e
será excepcional se interposto no bojo dos recursos extraordinário e especial.
Nas razões do agravo interno, há mister de que todos os fundamentos da decisão singular impugnada sejam
especificamente tratados, sob pena de este tornar-se insubsistente.
Antes da remessa dos autos para apreciação e julgamento do recurso pelo órgão colegiado competente, é dado
ao prolator retratar-se de sua decisão (CPC/2015, art. 1.021, § 2º).
Havendo retratação, poderá surgir para a parte sucumbente interesse recursal, embora tal interesse inexistisse
anteriormente. Isso autoriza a parte sucumbente a apresentar agravo interno ao órgão colegiado. Este outro agravo
tem por objeto a reforma ou anulação da decisão singular de retratação. Embora a interposição desse segundo
agravo não tenha sido explicitada na lei processual, é consequência inexorável do devido processo legal e do
princípio da colegialidade, encontrando específico fundamento legal no mesmo § 2º do art. 1.021 do CPC de 2015.
À vista desse segundo agravo, poderia o relator novamente se retratar? Em outros termos, para o órgão
judicial, pode haver retratação da retratação? Em verdade, essa possibilidade não é vedada. E seria até
compreensível na hipótese de haver mudança de relator ou alteração da jurisprudência do tribunal.
Não havendo retratação, o relator pedirá a inclusão do agravo interno na pauta da sessão, levando-o para
julgamento pelo colegiado, em que proferirá voto.
No que concerne à sustentação oral, não há previsão legal nem regimental (CP C/2015, art. 937) para sua
realização em sede de agravo interno. E se não é prevista, a parte não possui direito a ela. Isso é assim ainda que se
trate de agravo manejado contra decisão monocrática proferida em processo de competência originária. Nesse
sentido: TSE – AgR-AR 0600055-97.2017.6.00.0000/GO, j. 20-5-2017.
Entretanto, no âmbito da competência recursal, se for provido agravo que vise propiciar o julgamento de outro
recurso (recurso principal) pelo órgão colegiado, em razão deste último, deve-se admitir a produção de sustentação
oral. Por exemplo: agravo interno interposto contra decisão do relator que não conheceu recurso especial; nesse
caso, se o colegiado prover o agravo (que será julgado preliminarmente), o devido processo legal requer seja
deferida a realização de sustentação oral. Em tal caso, a sustentação oral só é viabilizada com o provimento do
agravo para que o recurso especial seja examinado pelo colegiado (TSE – AgR-REspe nº 23554/RS –DJe, t. 196,
15-10-2015, p. 90). Em igual sentido: TSE – AgR-REspeSP E nº 14746/P E –DJe 11-4-2017, p. 33; TSE – AgR-
REspe nº 13021/SP – PSS 19-12-2016.
Se declarar que o agravo é “manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão
colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre 1% e 5% do
valor atualizado da causa” (CP C/2015, art. 1.021, § 4º). Como as ações eleitorais são de valor inestimável, ou seja,
não têm valor pecuniário, sendo sempre gratuito o acesso à Justiça Eleitoral (CF, art. 5º, LXXVII,in fine; Lei nº
9.265/96, art. 1º), a multa prevista naquele dispositivo deve ser fixada por arbitramento do órgão colegiado
competente para julgar o agravo.12
Ressalte-se que essa multa tem natureza de pressuposto processual extrínseco, pois seu não pagamento impede
a interposição de outros recursos (CPC/2015, art. 1.021, § 5º).
No tocante ao destinatário da multa, o citado § 4º do art. 1.021 do CP C de 2015 é claro ao prescrever que o
órgão colegiado “condenará o agravante a pagar ao agravado”. De maneira que, no processo civil comum, o
montante da sanção pecuniária destina-se integralmente ao agravado. Idêntica solução encontra-se no § 6º do art.
275 do CE (com a redação dada pelo art. 1.067 do CP C/2015), que veicula situação semelhante no âmbito dos
embargos de declaração. Esse último dispositivo estabelece que “o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa [...]”. Diante disso, por analogia, pode-se afirmar que também
a multa prevista no vertente § 4º, art. 1.021 do CP C de 2015 destina-se ao agravado.13 E se a multa destina-se ao
agravado, sua execução deve por ele ser promovida.

6.4 AGRAVO REGIMENTAL


A denominação agravo regimental prende-se à origem desse recurso, pois não contava ele com previsão nas
leis processuais. Era apenas contemplado nos regimentos internos dos tribunais.
Sua finalidade é ensejar a revisão de decisões unipessoais proferidas por membros do tribunal, notadamente as
prolatadas pelo relator de recurso, submetendo-as ao respectivo órgão colegiado.
Ocorre que as leis processuais passaram a prever esse recurso. É o que se constata no art. 557, § 1º, do
CP C/1973 e no art. 1.021 do CP C de 2015. De modo que, sendo tal agravo previsto em lei, não há mais sentido
qualificá-lo de regimental. Mesmo porque o CP C de 2015 consagra a terminologia em voga, designando-oagravo
interno.
No entanto, conforme salientado, há regimentos internos de tribunais que ainda não foram atualizados, por isso
não preveem “agravo interno”, mas apenas “agravo regimental”. Nesse sentido, veja-se o disposto no § 8º, art. 36,
do Regimento Interno do TSE,verbis: “Art. 36 [...] § 8º Da decisão do relator caberá agravo regimental, no prazo
de três dias e processado nos próprios autos”.
De qualquer forma, o agravo regimental não foi totalmente eliminado do sistema processual pátrio. Nesse
sentido, veja-se o art. 1.070 do CPC/2015, que a ele se refere expressamente:

Art. 1.070. É de quinze dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em regimento
interno de tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal.

Esse dispositivo encontra-se localizado no capítulo das Disposições Finais e Transitórias do CP C/2015.
Pressupõe a existência de agravo previsto em regimento interno de tribunal. Por óbvio, tal agravo deve limitar-se a
suprir eventual lacuna das leis processuais, em nenhuma hipótese podendo contrariá-las.
A tal respeito, veja-se o art. 317 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, in verbis:14

Art. 317. Ressalvadas as exceções previstas neste regimento, caberá agravo regimental, no prazo de cinco dias de
decisão do presidente do tribunal, de presidente de turma ou do relator, que causar prejuízo ao direito da parte.
§ 1º A petição conterá, sob pena de rejeição liminar, as razões do pedido de reforma da decisão agravada.
§ 2º O agravo regimental será protocolado e, sem qualquer outra formalidade, submetido ao prolator do despacho,
que poderá reconsiderar o seu ato ou submeter o agravo ao julgamento do plenário ou da turma, a quem caiba a
competência, computando-se também o seu voto.
§ 3º Provido o agravo, o plenário ou a turma determinará o que for de direito.
§ 4º O agravo regimental não terá efeito suspensivo.

À luz do sistema processual implantado pelo CP C de 2015, é lícito afirmar ter sido esse dispositivo regimental
derrogado pelo art. 1.021, c/c o art. 932, no que se refere à decisão proferida pelo relator de recurso ou processo em
tribunal. Como visto, tal decisão é, agora, impugnável por agravo interno.
Permanece viável, entretanto, a interposição do agravo regimental em apreço quando tiver por objeto decisão
singular do presidente do Excelso Pretório ou de presidente de turma daquele sodalício “que causar prejuízo ao
direito da parte”, desde que não atuem no processo como relatores.
Note-se, porém, que o prazo para interposição desse agravo não é mais o de “cinco dias” (como consta do
caput do art. 317 do RISTF), mas sim o de “quinze dias” – como expressa o citado art. 1.070 do CP C/2015. Nesse
particular, o art. 317 do RISTF também foi derrogado pelo art. 1.070 do CPC/2015.

6.5 AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO – AGRAVO NOS PRÓPRIOS


AUTOS
O art. 1.042 do CP C/2015 prevê um agravo cujo principal objetivo é ensejar que a decisão de inadmissão de
recurso excepcional (recursos extraordinário e especial) seja revista pelo tribunal ad quem. Desse modo, esse
recurso viabiliza a reapreciação do ato e dos fundamentos que levaram à não admissão na instância recorrida do
recurso endereçado aos tribunais superiores.15
Por sua vez, o art. 544 do CP C/1973 (com a redação da Lei nº 12.322/2010) previa recurso semelhante,
nomeando-o, porém, agravo nos próprios autos. Essa denominação se deve ao fato de o recurso subir à instância
ad quem nos próprios autos em que interpostos, ou seja, nos autos principais do processo em que interposto.
Portanto, não havia a formação de instrumento nem de autos suplementares para o agravo.
Eis o confronto entre as referidas disposições legais:

CPC 2015 CPC 1973


Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice- Art. 544. Não admitido o
presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso extraordinário ou o
recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento recurso especial, caberá
firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de agravo nos próprios autos, no
recursos repetitivos [...]. prazo de dez dias [...].
Apesar da diferença de terminologia (“agravo” e “agravo nos próprios autos”), pode-se dizer que, na essência,
esses dispositivos tratam do mesmo recurso.
Posto que o art. 1.042 não faz expressa referência à subida do agravo nos autos principais (seu § 4º diz apenas
que “o agravo será remetido ao tribunal superior competente”), isso pode ser deduzido dele. Com efeito, não há
nesse artigo qualquer referência à formação de instrumento para o agravo. Ademais, seu § 5º prevê a possibilidade
de o agravo ser julgado “conjuntamente com o recurso especial ou extraordinário”. Ora, para que haja julgamento
conjunto do agravo e do recurso excepcional há mister que os autos principais tenham subido juntamente com o
agravo, pois só assim poderá o tribunal superior bem conhecer a questão jurídica suscitada e apreciar
adequadamente o mérito do recurso excepcional.
Bem é de ver que o agravo em recurso especial ou extraordinário harmoniza-se com os princípios da
celeridade, eficiência e economia processuais, e atende melhor à racionalidade do processo. É que, devendo ele
subir ao tribunal nos próprios autos do processo, torna-se desnecessária a formação de instrumento ou de autos
suplementares. Ademais, sendo ele provido, o tribunal ad quem poderá prosseguir no julgamento e apreciar
imediatamente o mérito da questão principal, o que evita desperdício de tempo, recursos humanos e materiais.
Antes da Lei nº 12.322/2010 introduzir o agravo nos próprios autos no art. 544 do CP C/1973 – nos domínios do
Direito processual eleitoral, os arts. 279 e 282 do Código Eleitoral16 previam o cabimento de agravo de instrumento
para a revisão de decisão denegatória de admissão de recursos especial e extraordinário, respectivamente.
Referidos artigos do Código Eleitoral foram, entretanto,derrogados pelo art. 544 do CP C/1973. A incidência
desse último no rito recursal eleitoral foi assentada pelo Tribunal Superior no julgamento do Processo Administrativo
nº 144683/DF, a ver:

Processo administrativo. Lei nº 12.322/2010. Alteração do art. 544 do CP C. Interposição de agravo nos próprios
autos do processo principal. [...] 1. Considerando os benefícios trazidos pela Lei nº 12.322/2010 ao agravo, bem
como a ausência de incompatibilidade entre o procedimento trazido pela recente modificação legislativa e a natureza
dos feitos eleitorais, cuja apreciação demanda rápida resposta do Poder Judiciário, é de se aplicar, no âmbito da
Justiça Eleitoral, a nova redação conferida ao art. 544 do CP C, apenas no que concerne à interposição do agravo de
decisão obstativa de recurso especial nos próprios autos do processo principal, mantendo-se, todavia, o prazo
recursal de três dias previsto no Código Eleitoral. 2. A regra para interposição do agravo de instrumento, na
sistemática prevista pelo Código Eleitoral, não configura norma especial criada pelo legislador em atenção às
peculiaridades do interesse tutelado pela Justiça Eleitoral, não incidindo, portanto, o princípio de que a regra geral
posterior não derroga a especial anterior [...] (TSE, PA nº 144683/DF, j. 20.10.2011, DJe, t. 93, 18.05.2012, p. 379-
380).

Essa orientação tornou-se pacífica na jurisprudência; confira-se:

Agravo regimental. Agravo de instrumento. Alteração. Lei nº 12.322/2010. Aplicabilidade. Justiça eleitoral.
Processamento nos próprios autos. Provimento. 1. É aplicável, na Justiça eleitoral, a alteração promovida pela Lei nº
12.322/2010 ao art. 544 do Código de Processo Civil, não sendo cabível a negativa de seguimento ao agravo por
falta de peças (PA nº 1446-83/DF). 2. Segundo a nova disciplina, as razões do agravo devem ser juntadas aos autos
do processo originário, o qual deverá ser remetido a este tribunal superior para julgamento. 3. Agravo regimental
provido (TSE, AgR-AI nº 166817/PA, DJe, t. 162, 26.08.2013, p. 13).
Art. 37 [...] § 4º Não admitido o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos para o Tribunal Superior
Eleitoral, no prazo de três dias, contados da publicação em secretaria ou em mural eletrônico (Res. TSE nº
23.462/2015).
E mais: TSE, AgR-AI nº 145511/BA,DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 40; TSE, AgR-AI nº 839248/SP,DJe, t. 235,
14.12.2011, p. 29.

Com a integral revogação do CP C/1973 (e, portanto, também de seu art. 544) não é possível afirmar o
revigoramento dos arts. 279, caput, e 282, caput, do CE na parte em que já se encontravam extintos. E não é
possível porque isso implicaria – ainda que parcialmente – a repristinação daqueles dispositivos, o que é vedado pelo
art. 2º, § 3º, da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro (LINDB).17
Logo, o agravo previsto no art. 1.042 do CPC/2015 também incide no processo jurisdicional eleitoral.
A natureza do agravo em exame acompanha a dos recursos que visa viabilizar. Portanto, trata-se de recurso
extraordinário.18
Nos domínios do processo comum, o prazo para interposição de agravo é de quinze dias (CP C/2015, art. 1.003,
§ 5º, e art. 1.070). Todavia, na seara eleitoral, o prazo é menor, correspondendo ao previsto para o recurso
inadmitido, ou seja, três dias (ou 24 horas, no caso de direito de resposta – LE, art. 58, § 5º).
No tocante às formalidades para interposição, o agravo é aviado mediante petição, que deve conter: “I – a
exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de reforma da decisão [...]” (CE, art. 279, § 1º). Ademais,
deve ser dirigida à presidência do tribunal eleitoral recorrido e independe do pagamento de custas e despesas
postais.
Nas razões, é preciso que todos os fundamentos da decisão singular impugnada sejam especificamente
tratados, sob pena de o agravo tornar-se insubsistente.
O agravado deverá ser intimado para oferecer resposta no mesmo prazo previsto para o aviamento do recurso.
Escoado o prazo para apresentação de contrarrazões, prevê o § 4º do art. 1.042 do CP C/2015juízo de
retratação da decisão de inadmissão do recurso excepcional.
Não havendo retratação por parte do presidente do tribunal recorrido, o agravo será remetido ao tribunal
superior ad quem, onde será processado na forma regimental.
O recurso em exame é de curso obrigatório. De maneira que, formalizada a interposição, o “presidente do
tribunal não poderá negar seguimento ao agravo, ainda que interposto fora do prazo legal” (CE, art. 279, § 5º).
Portanto, o agravo deve subir, ainda que sua interposição tenha sido intempestiva.
Nos termos do § 5º do aludido art. 1.042, poderá o agravo “ser julgado, conforme o caso, conjuntamente com o
recurso especial ou extraordinário”. Por julgamento conjunto, aqui, deve-se compreender que os dois recursos serão
julgados no mesmo ato ou na mesma sessão. Logicamente, o julgamento do agravo tem precedência, pois antes de
apreciar o mérito do recurso excepcional é preciso que o tribunal ad quem decida acerca de sua admissibilidade,
questão esta objeto do agravo.
Porque – no âmbito do agravo – o tribunal ad quem pode apreciar o mérito do recurso principal, deve ser
propiciada à parte a oportunidade de apresentar contrarrazões assim ao agravo como ao recurso excepcional
inadmitido na origem. É nesse diapasão a Súmula-TSE nº 71:

Na hipótese de negativa de seguimento ao recurso especial e da consequente interposição de agravo, a parte deverá
apresentar contrarrazões tanto ao agravo quanto ao recurso especial, dentro do mesmo tríduo legal.

Havendo julgamento “conjunto”, aquele mesmo § 5º do art. 1.042 assegura às partes a possibilidade de fazerem
“sustentação oral” perante o órgão colegiado.
Vale ressaltar que, no âmbito do tribunal superior ou do Supremo Tribunal, incide o há pouco transcrito art. 932
do CP C/2015, que define os poderes do relator.19 Atendidos os pressupostos estabelecidos nesse dispositivo legal,
poderá o relator, em decisão singular, não conhecer ou negar seguimento ao agravo nos próprios autos, negar-lhe ou
dar-lhe provimento.20
O § 6º do art. 279 do Código Eleitoral prevê a aplicação de multa ao agravante caso o agravo seja interposto
“fora do prazo legal”. Eis o teor desse dispositivo: “Art. 279 [...]. § 6º Se o agravo de instrumento não for conhecido,
porque interposto fora do prazo legal, o tribunal superior imporá ao recorrente multa correspondente a valor do maior
salário-mínimo vigente no país, multa essa que será inscrita e cobrada na forma prevista no art. 367.” Por óbvio,
nesses dispositivos, o termo “agravo de instrumento” deve ser compreendido como “agravo em recurso especial ou
extraordinário”.
Diferentemente, o art. 1.042 do CP C/2015 não prevê qualquer sanção em tal situação, ou seja, no caso de o
agravo ter sido “interposto fora do prazo legal”. Tampouco contém regra semelhante à do CP C de 1973, que previa
a aplicação de multa ao agravante caso o tribunal reconhecesse como “manifestamente inadmissível ou infundado o
agravo” (CPC/1973, art. 545, in fine, c/c o art. 557, § 2º).
Dadas a natureza e especificidade do processo jurisdicional eleitoral, no entanto, é razoável o entendimento que
afirma a eficácia da regra do citado § 6º do art. 279 do CE, e, pois, a possibilidade de aplicar a sanção pecuniária
nele prevista para a hipótese de intempestividade do agravo. Isso porque a parte tem de agir com boa-fé objetiva,
sendo seu dever “não praticar atos inúteis” no processo, podendo, ainda, ser considerada litigante de má-fé em razão
da interposição de “recurso com intuito manifestamente protelatório” (CPC, arts. 5º, 77, III, e 80, VII).
É, porém, inaplicável a cláusula daquele § 6º, art. 279, que estipula o montante da multa no “valor do maior
salário-mínimo vigente no país”. Porque o valor do salário mínimo é nacionalmente unificado, “sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim” (CF, art. 7º, IV). Assim, o montante da multa deverá ser fixado por arbitramento do
órgão judicial, atendendo ao princípio da proporcionalidade.
O dinheiro decorrente da multa em apreço destina-se ao fundo partidário, em razão de expressa determinação
contida no inciso I do art. 38 da Lei nº 9.096/1995.21 Se porventura não houver adimplemento espontâneo, a dívida
deve ser “inscrita e cobrada na forma prevista no art. 367 [do CE]” (CE, art. 279, § 6º,in fine). Destarte,
inadimplido o débito decorrente da multa, deve ele ser inscrito na dívida ativa e cobrado mediante o procedimento
executivo fiscal previsto na Lei nº 6.830/1980, atuações essas que ficam a cargo da Procuradoria da Fazenda
Nacional (PFN).
Processamento do agravo em autos suplementares e decisão interlocutória – o § 2º do art. 19 da Res.
TSE nº 23.478/2016 veicula uma hipótese em que o agravo em recurso especial ou extraordinário não será
processado nos próprios autos, mas sim em autos suplementares. Eis o seu teor:
Art. 19 [...] § 2º O agravo contra decisão que inadmitir o recurso especial interposto contra decisão interlocutória
será processado em autos suplementares, prosseguindo o curso da demanda nos autos principais.

Na origem dessa situação encontra-se uma decisão interlocutória emanada de tribunal regional; o acórdão do
órgão Colegiado foi impugnado mediante recurso especial, o qual não foi admitido. Contra a decisão de inadmissão
do recurso especial interpôs-se o agravo em exame, a fim de destrancar o seu processamento.
À guisa de ilustração, tome-se como exemplo decisão monocrática e interlocutória proferida pelo relator de
processo de competência originária de Tribunal Regional Eleitoral (ex.: AIJE por abuso de poder de competência do
Corregedor Eleitoral, ação eleitoral por captação ilícita de sufrágio). Contra tal decisão é aviado recurso (agravo
interno) para o órgão Colegiado do Tribunal, cujo acórdão terá igualmente caráter interlocutório. O acórdão, então, é
impugnado mediante recurso especial eleitoral com fundamento na violação de expressa disposição de lei ou da
Constituição (CF, art. 121, § 4º, I; CE, art. 276, I, a).
Em tal caso, o revogado CP C/1973 determinava que o recurso excepcional interposto contra a decisão
interlocutória emanada do órgão Colegiado do Tribunal permanecesse retido nos autos, ficando a análise de sua
admissão condicionada à ulterior reiteração por ocasião das razões ou contrarrazões do recurso excepcional de
mérito eventualmente interposto pela parte interessada.22 Se a decisão interlocutória ferisse direito líquido e certo da
parte, acarretando-lhe lesão grave ou de difícil reparação, admitia-se a impetração de mandado de segurança. Nesse
sentido: TSE – AREspe nº 25.281/SP – DJ 28-10-2005, p. 136; TSE – RMS nº 176/RJ – DJ 7-6-2002.
Agora, porém, não mais existe uma regra determinando a retenção do recurso excepcional na situação aludida.
Caso ele não seja admitido, poder-se-á interpor o agravo em recurso especial ou extraordinário. E o citado § 2º, do
art. 19, da Res. TSE nº 23.478/2016 determina que esse agravo deverá ser processado em autos suplementares, não
havendo, portanto, suspensão do curso do processo principal.

1 O oposto ocorria no regime do CP C de 1973, pois aí as decisões interlocutórias prejudiciais aos bens ou interesses
da parte tinham de ser impugnadas mediante agravo retido ou de instrumento, conforme o caso, sob pena de
operar-se a preclusão. A preclusão impedia que a parte pudesse rediscutir o ponto ou a questão em momento
posterior do processo.
2 Esclareça-se que os arts. 279 e 282 foram derrogados pelo art. 544 do CP C/1973 (com a redação da Lei nº
12.322/2010), que previa agravo nos próprios autos do processo principal. Na jurisprudência, pacífico era esse
entendimento: TSE, PA nº 144683/ DF, j. 20.10.2011, DJe, t. 93, 18.05.2012, p. 379-380; TSE, AgR-AI nº
145511/BA, DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 40; TSE, AgR-AI nº 839248/SP, DJe, t. 235, 14.12.2011, p. 29.
3 Eis o texto da regra legal: “Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. § 1º As questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão
e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas
contrarrazões [...].”
4 Decisão interlocutória que trate do “mérito do processo” é aquela que não extingue a fase de cognição do
procedimento comum; na linguagem tradicional: não extingue o processo.
5 “Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. [...]. § 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as
questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença.”
6 Diante disso, há autores que entendem que a supressão do “agravo retido” não trouxe mudança significativa em
termos de resposta jurisdicional. Sobre isso, assinalam Wambier et al. (2015, p. 1.439): “Aliás, para a parte, nada
muda substancialmente: a ‘resposta’ do Judiciário ao seu agravo retido já vem, à luz do CP C/1973, depois, se há
reiteração, quando e se fosse julgada a apelação. Isso não mudou: a ‘resposta’ do Judiciário (decisão sobre a
impugnação, que consta do bojo da apelação) só vem se e quando a apelação for julgada. Menos esforço da parte
e do Judiciário, para obtenção de resultado equivalente.”
7 O caput do art. 1.018 do CPC usa o termo “poderá”, dando a entender que a juntada desses documentos aos autos
do processo se trata de faculdade do agravante. Mas o § 3º daquele mesmo artigo deixa claro tratar-se de ônus,
pois estabelece que a não juntada “importa inadmissibilidade do agravo de instrumento”.
8 Observe-se que a decisão interlocutória já gera efeitos desde sua publicação, efeitos esses suspensos por força da
decisão do relator.
9 Devido à natureza pública dos bens e direitos discutidos no Direito eleitoral, o Ministério Público tem sempre de se
manifestar; sua intervenção é sempre obrigatória.
10 No tópico (ii), vale indagar se, contra o respectivo acórdão do tribunal regional, seria possível interpor recurso
especial ao TSE, com fundamento na violação de expressa disposição de lei ou da Constituição (CF, art. 121, § 4º,
I; CE, art. 276, I, a). Conquanto emanada do órgão pleno do tribunal regional, não perde essa decisão o caráter de
interlocutória; como, em princípio, não há preclusão imediata de decisão interlocutória, poderá ela ser revista se a
parte o requerer no recurso (ou nas contrarrazões) manejado contra a decisão final, extintiva do processo com ou
sem julgamento do mérito. Assim, por não se tratar de decisão definitiva, por não haver esgotamento das vias
ordinárias, afigura-se incabível o recurso especial. Em sede de decisão interlocutória, só se poderia cogitar o
cabimento de recurso especial nas hipóteses arroladas no art. 1.015 do CP C, pois aqui, contra a decisão
interlocutória, deve a parte interpor agravo de instrumento, sob pena de preclusão. É válido, então, dizer que a
possibilidade de preclusão da decisão abre a porta para o recurso excepcional. De qualquer sorte, cumpre
ponderar não ser impossível que decisão interlocutória fira direito da parte, podendo acarretar-lhe lesão grave ou
de difícil reparação. Em tal caso, o art. 5º, II, da Lei do Mandado de Segurança – interpretadocontrario sensu –
assegura o cabimento do writ contra decisão judicial (não importa de que natureza), sempre que não houver
recurso específico com efeito suspensivo previsto nas leis processuais. Destarte, apenas se houver grave
ferimento a direito líquido e certo – fato que deverá ser demonstrado de plano –, admite-se a interposição de
mandado de segurança.
11 Sob o CP C de 1973, os embargos de declaração não eram admitidos contra decisão monocrática de relator.
Entendia-se que o recurso adequado era o agravo interno para o órgão colegiado do tribunal, e neste todas as
questões deveriam ser suscitadas. Caso fossem interpostos embargos declaratórios, diante dos princípios da
fungibilidade recursal, economia processual e instrumentalidade das formas, poderiam os embargos ser recebidos
como agravo interno. Nesse diapasão: TSE, AMS nº 3754/ RS,DJ 16.06.2008, p. 27; STJ, EDcl no Ag nº
1332421/RS, 2º T., DJe 10.12.2010; STJ, AgRg no Ag nº 1353726/P E, 3ª T.,DJe 28.02.2011; STJ, AgRg no Ag
nº 1238543/SP, 5ª T., DJe 31.05.2012.
12 Ao regular os embargos de declaração, o § 6º do art. 275 do CE (com a redação dada pelo art. 1.067 do
CP C/2015), em situação semelhante, estabelece sanção para o embargante quando “manifestamente protelatórios
os embargos de declaração”; nesse caso, “o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o
embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois salários mínimos.” Não é o caso de se empregar
essa regra como parâmetro para a fixação da multa na hipótese do art. 1.021, § 4º, pois em princípio soa
inconstitucional utilizar o salário mínimo como base para o cálculo da multa. Isso porque o art. 7º, IV, da
Constituição Federal proíbe “sua vinculação para qualquer fim”.
13 Assim, a multa em exame não mais se destina ao fundo partidário, nos termos do art. 38, I, da Lei nº 9.096/1995
(Lei dos Partidos Políticos – Lopp), que reza: “Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos
Políticos (fundo partidário) é constituído por: I – multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código
Eleitoral e leis conexas [...].”
14 Com regulamentação semelhante, o agravo regimental é também previsto nos arts. 258 e 259 do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça.
15 Ressalte-se que nas hipóteses de negativa de seguimento de recurso extraordinário e especial previstas no art.
1.030, I, a e b, do CP C, a decisão monocrática denegatória (emanada do presidente ou vice-presidente do tribunal
recorrido) é impugnável mediante agravo interno nos termos do § 2º daquele dispositivo, e não por agravo em
recurso especial ou extraordinário. É que nesse caso a negativa de seguimento do recurso excepcional se funda
no reconhecimento de repercussão geral de recurso extraordinário ou na técnica de recursos repetitivos.
16 Eis o teor dos referidos dispositivos: “Art. 279. Denegado o recurso especial, o recorrente poderá interpor, dentro
em três dias, agravo de instrumento. § 1º O agravo de instrumento será interposto por petição que conterá: I – a
exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de reforma da decisão; III – a indicação das peças do
processo que devem ser trasladadas. § 2º Serão obrigatoriamente trasladadas a decisão recorrida e a certidão da
intimação. § 3º Deferida a formação do agravo, será intimado o recorrido para, no prazo de três dias, apresentar
as suas razões e indicar as peças dos autos que serão também trasladadas. § 4º Concluída a formação do
instrumento, o presidente do tribunal determinará a remessa dos autos ao tribunal superior, podendo, ainda,
ordenar a extração e a juntada de peças não indicadas pelas partes. § 5º O presidente do tribunal não poderá
negar seguimento ao agravo, ainda que interposto fora do prazo legal. § 6º Se o agravo de instrumento não for
conhecido, porque interposto fora do prazo legal, o tribunal superior imporá ao recorrente multa correspondente a
valor do maior salário-mínimo vigente no país, multa essa que será inscrita e cobrada na forma prevista no art.
367. § 7º Se o tribunal regional dispuser de aparelhamento próprio, o instrumento deverá ser formado com
fotocópias ou processos semelhantes, pagas as despesas, pelo preço do custo, pelas partes, em relação às peças
que indicarem.”
“Art. 282. Denegado recurso [previsto no art. 281], o recorrente poderá interpor, dentro de três dias, agravo de
instrumento, observado o disposto no art. 279 e seus parágrafos, aplicada a multa a que se refere o § 6º pelo
Supremo Tribunal Federal.”
17 Eis o teor dessa regra: “Art. 2º [...] § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.”
18 Corrige-se, aqui, afirmação feita em edição anterior no sentido de que a natureza do agravo em foco seria
ordinária, “porquanto sua finalidade é tutelar situações jurídicas materiais e não propriamente a harmonia e
correção do sistema jurídico”.
19 Sobre isso, havia disposição específica no CPC/1973, confira-se: “Art. 544 [...]. § 4º No Supremo Tribunal Federal
e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno,
podendo o relator: I – não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado
especificamente os fundamentos da decisão agravada; II – conhecer do agravo para: a) negar-lhe provimento, se
correta a decisão que não admitiu o recurso; b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível,
prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal; c) dar provimento ao recurso,
se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal.”
20 Em qualquer uma dessas três hipóteses, é recorrível a decisão do relator. O recurso cabível é o agravo interno
(CP C/2015, art. 1.021). Conforme visto, este deve ser dirigido ao órgão competente para julgar o recurso especial
ou o extraordinário, no caso, o colegiado a que o relator encontra-se integrado. Aqui também incide a possibilidade
de o relator se retratar de sua decisão. Não havendo juízo de retratação, ele deverá levar o agravo interno “a
julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta” (CP C/2015, art. 1.021, § 2º), quando, então, proferirá
voto.
21 Eis o teor do art. 38, I, da Lei nº 9.096/1995: “O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos
(fundo partidário) é constituído por: I – multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral
e leis conexas [...].”
22 Assim dispunha o art. 542, § 3º, do CPC/1973: “O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos
contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos
autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão
final, ou para as contrarrazões.” Esse dispositivo era aplicável ao processo eleitoral, conforme entendimento
pacífico do TSE: MC nº 1.311/SP – DJ 21-6-2004; Ag. nº 4.588/SP – DJ 15-10-2004.
7
RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL

No sistema processual eleitoral convivem dois tipos de recursos ordinários, específicos dessa seara. Um é
dirigido ao Tribunal Superior Eleitoral e tem por objetivo combater decisão emanada do órgão colegiado de tribunal
regional. O outro é de competência do Supremo Tribunal Federal e tem por finalidade atacar acórdão oriundo do
Tribunal Superior.
A lógica aí implantada assemelha-se à dos recursos ordinários constitucionais de competência respectivamente
do Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, II) e do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, II), os quais são
regulados nos arts. 1.027 e 1.028 do CPC/2015.
Trata-se de recurso de natureza ordinária (no sentido de não ser excepcional ou extraordinário), tal qual a
apelação e o recurso eleitoral, pois visa a tutela de situações jurídicas materiais e não propriamente o ordenamento
legal. Assim, ele enseja ao órgão colegiado do tribunal a ampla revisão da decisão recorrida, no que concerne aos
aspectos tanto fáticos quanto jurídicos.
Tendo em vista que cada um desses recursos apresenta matizes próprios, convém apresentá-los
separadamente.

7.1 RECURSO ORDINÁRIO PARA O TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL


O recurso ordinário eleitoral para o Tribunal Superior Eleitoral é previsto no art. 121, § 4º, III, IV e V, da
Constituição Federal. Por esse dispositivo, ele é cabível em face de decisões de tribunal regional eleitoral que: “[...]
III – versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV – anularem
diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V – denegarem habeas corpus,
mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.”
Esse artigo é regulamentado pelo art. 276, II, do Código Eleitoral, que prevê o recurso ordinário contra decisões
de tribunal regional: “a) quando versarem sobre expedição de diplomas nas eleições federais e estaduais; b) quando
denegarem habeas corpus ou mandado de segurança.”
A leitura dos citados dispositivos permite concluir que, embora recepcionado pela Constituição, o art. 276, II, do
CE é menos abrangente que o citado art. 121, § 4º, III, IV e V, da Lei Maior.
Nesse quadro, são hipóteses de cabimento do recurso ordinário para o TSE decisões de tribunal regional
versando sobre:1

inelegibilidade em eleições federais ou estaduais;


expedição de diplomas em eleições federais ou estaduais;
anulação de diplomas em eleições federais ou estaduais;
decretação de perda de mandato eletivo federal ou estadual;
denegação de habeas corpus;
denegação de mandado de segurança;
denegação de habeas data;
denegação de mandado de injunção.

Por ter sido expressamente especificado pela Constituição Federal, esse rol é numerus clausus. Não se
admite, pois, o acréscimo de novas hipóteses de cabimento por via de interpretação, ainda que se entenda implícita
no texto constitucional a hipótese que se pretenda considerar.
Observe-se que não consta como fundamento para o recurso ordinário decisão sobre condição de elegibilidade,
mas esse recurso será cabível se o acórdão impugnado também tratar desse tema. É nesse sentido a Súmula TSE nº
64: “Contra acórdão que discute, simultaneamente, condições de elegibilidade e de inelegibilidade, é cabível o recurso
ordinário.”
Conquanto as hipóteses de cabimento do enfocado recurso ordinário tenham sido expressamente explicitadas,
sua fundamentação é livre, cabendo à parte indicá-la em suas razões.
Decisão em única instância – as quatro primeiras hipóteses de cabimento arroladas (a saber: decisão sobre
inelegibilidade, expedição de diplomas, anulação de diplomas e decretação de perda de mandato) inserem-se na
competência originária dos tribunais regionais eleitorais. Isso porque todas elas se referem a eleições federais e
estaduais, eleições essas que estão sob a jurisdição imediata daqueles tribunais. Aqui, portanto, a decisão do tribunal
regional de que se recorre é tomada em única instância.
Decisão em única ou última instância? – já quanto às quatro últimas hipóteses de cabimento assinaladas (a
saber: decisão sobre denegação de habeas corpus, de mandado de segurança, de habeas data e de mandado de
injunção), pode haver dúvida quanto a decisão do tribunal regional inserir-se em sua competência recursal ou
originária. Isso porque o citado inciso V, § 4º, art. 121 da Constituição Federal não distingue essas duas situações.
E essa distinção é feita no art. 105, II,a e b, da Constituição, que dispõe sobre o recurso ordinário comum.2 À vista
disso, podem-se divisar duas possibilidades interpretativas.
A primeira interpretação argumenta que, como o inciso V, § 4º, art. 121 da CF não faz distinção, nas quatro
últimas hipóteses assinaladas a decisão do tribunal regional eleitoral pode ser tomada tanto em única instância
quanto em última instância. Consequentemente, o recurso ordinário eleitoral será cabível: i) no caso de competência
originária, sendo a ação ajuizada diretamente no tribunal, o pedido for por este denegado; ii) no caso de competência
recursal, sendo a ação é ajuizada na primeira instância, o tribunal julga o recurso interposto contra a sentença,
denegando o pedido. Nesse último caso, duas situações podem ocorrer: ii.a) o juiz eleitoral de 1º grau julga
procedente o pedido, e o tribunal reforma a sentença, denegando-o; ii.b) o juiz de 1º grau julga improcedente o
pedido, e o tribunal confirma a sentença, mantendo a denegação. Lembre-se que o julgamento proferido pelo tribunal
substitui a decisão recorrida (CP C/2015, art. 1.008). Por isso, quando o tribunal reforma ou confirma a sentençaa
quo, o que passa a existir é a decisão do tribunal.
A segunda interpretação argumenta que, no ponto, o inciso V, § 4º, art. 121 da CF é incompleto, devendo ser
colmatado pela aplicação analógica do art. 105, II, da CF, que trata do recurso ordinário comum. No último
dispositivo constitucional, a alínea a trata de habeas corpus “decididos em única ou última instância”, enquanto a
alínea b cuida de “mandados de segurança decididos em única instância”, decisões essas emanadas dos tribunais da
justiça comum, a saber: TJs e TRFs. Nesse contexto – relativamente ao recurso ordinário eleitoral –, tem-se que, à
exceção da denegação de habeas corpus, as demais matérias arroladas devem inserir-se na competência originária
dos tribunais regionais eleitorais. Seria, pois, preciso que tivessem sido por eles decididas “em única instância”, e
não, frise-se, em sede de julgamento de recurso interposto contra sentença de 1º grau.
Por essa segunda interpretação – no tocante a mandado de segurança –, não seria cabível recurso ordinário
para o TSE na hipótese de o tribunal regional negar provimento a recurso interposto contra sentença de juiz eleitoral
de 1º grau que igualmente negou a ordem pleiteada no mandamus. Nesse caso, cabível seria o recurso especial, se
atendidos seus pressupostos.
De outro lado – no tocante ao habeas corpus –, o recurso ordinário seria cabível contra decisão denegatória
proferida “em única ou última instância”. Assim, por exemplo, seria cabível recurso ordinário para o TSE na hipótese
de o Tribunal Regional negar provimento a recurso interposto contra sentença de juiz eleitoral de 1º grau que
igualmente negou a ordem postulada em habeas corpus.
No contexto do recurso ordinário eleitoral, a segunda interpretação é mais adequada. Uma visão sistemática do
ordenamento jurídico mostra que somente na hipótese de habeas corpus é justificado tratamento diferenciado, isso
sobretudo em razão da fundamentalidade que reveste a liberdade de ir e vir.
Decisão denegatória – o cabimento de recurso ordinário eleitoral pressupõe a existência de decisão
denegatória emanada de tribunal regional eleitoral, ou seja: denegação de habeas corpus, de mandado de
segurança, de habeas data e de mandado de injunção.
Cumpre, então, indagar: qual o recurso cabível se houver não denegação, mas sim a concessão da ordem ou
do pedido? Nesse caso, havendo concessão da ordem pleiteada ou do pedido formulado, a decisão respectiva não é
irrecorrível, pois contra ela pode-se interpor recurso especial eleitoral, desde que presentes os seus pressupostos.
Por outro lado, por decisão denegatória deve-se compreender a final prolatada pelo órgão colegiado. É que,
para impugnar a decisão singular do relator do processo, cabível é o agravo interno (CP C/2015, art. 1.021, c/c o art.
932, III, IV e V), que deve ser dirigido ao órgão colegiado.
Ademais, a decisão denegatória compreende não só a que resolve o mérito da causa (CP C/2015, art. 487),
como também a que extingue o processo sem resolver-lhe o mérito (CPC/2015, art. 485).
Fungibilidade – não há dúvida sobre o cabimento do recurso ordinário eleitoral nas seguintes situações:

nas aludidas quatro primeiras hipóteses de cabimento do RO, a saber: inelegibilidade, expedição de diplomas, anulação
de diplomas e decretação de perda de mandato;
na hipótese de denegação de habeas corpus, no âmbito tanto da competência originária quanto na recursal do TRE;
quando, em sede de competência originária do TRE, houver denegação de mandado de segurança, de habeas data e
de mandado de injunção.

Por isso, em todas essas situações não se afigura viável a aplicação do princípio da fungibilidade recursal caso
seja interposto recurso especial eleitoral, de maneira a admitir como recurso ordinário o especial indevidamente
protocolado. O erro da parte, em tal caso, afigura-se grosseiro.
O mesmo, porém, não se pode dizer se, no âmbito da competência recursal do TRE, houver denegação de
mandado de segurança, de habeas data e de mandado de injunção. Porque aqui, como visto há pouco, pode haver
dúvida acerca do recurso cabível, ou seja, se ordinário eleitoral ou especial eleitoral. Por isso, nessa situação,
afigura-se viável a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, de modo a admitir o recurso que se entender
cabível em lugar do que foi protocolado.
Prazo – a segunda figura do § 1º do art. 276 do Código Eleitoral contém regra específica de prazo para
interposição de recurso ordinário. O lapso aí fixado é de três dias, coincidindo, pois, com a norma geral inscrita no
art. 258 do mesmo diploma legal.
A par disso, estabelece o § 8º do art. 96 da Lei nº 9.504/1997 que o prazo recursal será de 24 horas (que é
convertido em um dia) quando o fato em exame for regido por essa norma e não houver regra específica prevendo
lapso diverso. Comparando as hipóteses de cabimento do recurso ordinário com as disposições da Lei nº 9.504/1997,
resulta que tal recurso só seria cabível nas seguintes situações: arrecadação ou gasto ilícito de recurso em campanha
eleitoral (LE, art. 30-A), captação ilícita de sufrágio (LE, art. 41-A), conduta vedada (LE, art. 73). Isso porque essas
são as únicas situações previstas naquele diploma legal abrangidas pelas quatro primeiras hipóteses de cabimento há
pouco arroladas (note-se que a primeira dessas hipóteses – inelegibilidade – deve ser considerada em conjunto com
a alínea j do inciso I do art. 1º da LC nº 64/1990). Ocorre que a própria LE já cuidou de estipular prazo recursal de
três dias para tais situações, consoante se vê nos §§ 3º, 4º e 13 dos arts. 30-A, 41-A e 73, respectivamente.
Diante disso, pode-se inferir que o prazo para aviamento do recurso ordinário é sempre de três dias.
A contagem deve observar o disposto no art. 224 do CPC/2015, sendo feita a partir da publicação do acórdão.
Interposição – cumpre à parte interpor o recurso por petição dirigida ao presidente do TRE, que deve ser
acompanhada das respectivas razões. As razões podem ser lançadas na própria petição recursal ou virem em peça
separada, como é tradição de nossa cultura forense. Por analogia, pode-se aplicar o disposto no art. 1.010 do novo
CP C, de modo que essa peça deve conter: “I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do
direito; III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.” Quanto
ao inciso I, basta que sejam indigitados os nomes das partes, porque suas qualificações já constarão na petição
inicial.
Efeitos – o recurso ordinário poderá ou não apresentar efeito suspensivo, conforme o conteúdo do acórdão por
ele impugnado.
Em princípio, não terá efeito suspensivo em razão da regra geral inscrita no caput do art. 257 do CE, segundo a
qual “os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo”.3
Excepcionalmente, porém, o RO possuirá efeito suspensivo nas hipóteses previstas no § 2º, art. 257 do CE
(acrescido pela Lei nº 13.165/2015), que estabelece:

Art. 257. [...]. § 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por tribunal regional
eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo
tribunal competente com efeito suspensivo.

Assim, o RO interposto contra acórdão proferido por tribunal regional eleitoral terá efeito suspensivo sempre
que dessa decisão resultar: i) cassação de registro;4 ii) afastamento do titular; iii) perda de mandato eletivo.
Outrossim, é dotado de efeito devolutivo amplo. Nesse ponto, assemelha-se ao recurso eleitoral e à apelação.
Sobre isso, acentua Greco Filho (2012, p. 399) que a denominação “recurso ordinário” possui um significado
processual bem claro, qual seja, o “de permitir o exame de matéria de direito e de fato”. Ademais, seu “efeito
devolutivo é amplo, nos mesmos moldes da apelação”.
A bem ver, o efeito devolutivo aqui comparece em suas duas dimensões, a saber: horizontal ou de extensão, e
vertical ou em profundidade. Mutatis mutandis, incide o disposto no art. 1.013 do CPC/2015, de maneira que:

o RO devolverá ao TSE o conhecimento da matéria impugnada (caput);


serão objeto de apreciação e julgamento pelo TSE todas as questões suscitadas e discutidas no processo, “ainda que
não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado” (§ 1º);
quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o tribunal a quo acolher apenas um deles, poderá o TSE
conhecer dos demais (§ 2º);
se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o TSE pode decidir desde logo o mérito da causa quando: I
– reformar a decisão fundada no art. 485 do CP C/2015 (i.e., que extingue a fase de conhecimento do processo sem
resolução do mérito); II – decretar a nulidade da decisão por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da
causa de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV –
decretar a nulidade de decisão por falta de fundamentação. Saliente-se que em todas essas hipóteses a causa deve
encontrar-se madura para julgamento, ou seja, independer de produção de prova ou a prova acostada aos autos ser
suficiente, sob pena de violar o devido processo legal (§ 3º);
se reformar decisão que reconheça decadência ou prescrição, poderá o TSE, sendo isso possível, julgar “o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo” ao tribunal recorrido (§ 4º).

Além disso: as questões de fato, não propostas no tribunal a quo, poderão ser suscitadas no RO se a parte
provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior (CPC/2015, art. 1.014).
E mais: questões de ordem pública também podem ser conhecidas de ofício pelo tribunal superior, o que se dá
no âmbito do denominado efeito translativo do recurso.
Trâmite no Tribunal Regional Eleitoral – segundo dispõe o art. 277 do CE, interposto recurso ordinário
contra decisão do tribunal regional, o presidente deverá determinar a abertura de “vista ao recorrido para que, no
mesmo prazo, ofereça as suas razões”. Juntadas as contrarrazões, “serão os autos remetidos ao tribunal superior”.
Vê-se, assim, que no tribunal recorrido não há juízo de admissibilidade do recurso ordinário. A admissibilidade
só é examinada pelo tribunal ad quem.
Trâmite no Tribunal Superior Eleitoral – o trâmite do recurso ordinário no TSE é regulado pelo art. 280 do
CE. Portanto, é idêntico ao do recurso especial eleitoral, cujo procedimento se exporá adiante.

7.2 RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


O recurso ordinário eleitoral para o Pretório Excelso é previsto na segunda parte do § 3º do art. 121 da Lei
Maior: Por esse dispositivo, “são irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo [...] as denegatórias
de habeas corpus ou mandado de segurança”.
No processo comum, o recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal é regido pelo art. 102, II, da Lei
Maior, segundo o qual, além da guarda da Constituição, compete àquele tribunal: “II – julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única
instância pelos tribunais superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político.”
As hipóteses de cabimento do recurso ordinário eleitoral para o Supremo Tribunal Federal, no entanto, são
restritas à denegação de habeas corpus ou mandado de segurança pelo TSE, não abrangendo as demais figuras
previstas no transcrito inciso II do art. 102 da CF. Isso porque a previsão para o Eleitoral é específica e consta
expressamente do texto da Constituição Federal. Como a restrição advém do próprio texto constitucional, é defeso a
inclusão de outras hipóteses.
O Código Eleitoral contempla a presente espécie recursal na segunda parte do caput de seu art. 281, in verbis:
“São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo [...] as denegatórias de habeas corpus ou mandado de
segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de três dias.”
Claro está que tal regra foi recepcionada pela Lei Maior.
Para que o recurso em exame seja cabível, há mister de que a decisão do Tribunal Superior seja denegatória.
Por “decisão denegatória” deve-se compreender não só a que resolve o mérito do pedido formulado na petição
inicial (CP C/2015, art. 487), como também a que extingue o processo sem resolução do mérito (CP C/2015, art.
485).
Isso significa que a concessão da tutela pleiteada no writ (procedência do pedido formulado no mandamus ou
no habeas corpus) afasta a interposição de recurso ordinário eleitoral. Mas o fato de se afastar o cabimento de
recurso ordinário não implica que a decisão que acolhe o pedido inicial não possa ser reexaminada. Conforme
observa Freitas Câmara (2012, p. 126), pode haver a “interposição de recurso extraordinário, toda vez que estiver
presente alguma das hipóteses previstas no art. 102, III, da Constituição da República”.
Tal qual ocorre no recurso ordinário interposto contra decisão de tribunal regional para o Tribunal Superior
Eleitoral, no § 3º do art. 121 da Constituição não se distingue se o RO para o Supremo Tribunal é cabível contra
decisão do TSE tomada em única ou última instância, ou melhor, em sede de sua competência originária ou recursal.
Conforme visto anteriormente, no entanto, no ponto, impõe-se a interpretação sistemática do presente instituto.
De modo que a decisão denegatória do writ deve ser dada “em única instância”, cuidando-se, portanto, de decisão
proferida no âmbito da competência originária do Tribunal Superior. Embora não conste do § 3º do art. 121, esse
requisito é expresso na alínea a do inciso II do art. 102 da CF, sendo aqui igualmente aplicável.
Assim, a Corte Superior deve ser a primeira a conhecer e julgar o remédio constitucional que perante ela deve
ser impetrado. Caso a questão lhe tenha sido submetida pela via recursal (e. g., REspe interposto contra acórdão de
TRE denegatório de mandado de segurança; RO aviado contra decisão de TRE denegatória dehabeas corpus), o
recurso cabível será o extraordinário com fulcro no art. 121, § 3º (primeira figura), da Lei Maior, porque aí a causa
terá sido decidida “em última instância” (e não em única instância, como impõe a lógica sistemática da presente
espécie de recurso ordinário). O manejo do recurso ordinário em tal hipótese foi considerado erro grosseiro pelo
Supremo Tribunal Federal, fato que afasta a incidência do princípio da fungibilidade recursal. Confira-se:

Recurso. Princípio da fungibilidade. O princípio da fungibilidade consta implicitamente do Código de Processo Civil –
artigo 250 [CP C/1973; vide art. 283 do CP C/2015] – e expressamente do Código de Processo Penal – artigo 579.
Descabe empolgá-lo quando o caso é de erro grosseiro, e isso ocorre em se tratando de decisão do Tribunal
Superior Eleitoral prolatada em agravo interposto contra pronunciamento do relator que implicou negativa de
sequência a recurso especial. Na hipótese, em vez de ser protocolado o extraordinário, foi apresentado o recurso
ordinário previsto no artigo 102, inciso II, da Constituição Federal e na parte final do artigo 281 do Código Eleitoral
em relação às decisões denegatórias de ordem em habeas corpus ou mandado de segurança. [...] Decisão: A
Turma negou provimento ao agravo regimental no agravo de instrumento, nos termos do voto do relator. Unânime
(STF, AI 504598 AgR/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 17.12.2004, p. 53).

Prazo – o prazo para interposição do presente recurso ordinário eleitoral é de três dias, conforme expressa o
texto do art. 281, caput, do CE. Deve ser contado da publicação do acórdão.
Interposição – cumpre à parte interpor o recurso por petição dirigida ao Presidente do TSE, a qual deve ser
acompanhada das razões respectivas. Ademais, por analogia com o art. 1.010 do CP C/2015, essa peça deve conter:
“I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido de reforma
ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.”
Nas razões, não é preciso que se faça demonstração de “repercussão geral das questões constitucionais
discutidas no caso”. Pois tal requisito é próprio do recurso extraordinário, nos termos do § 3º do art. 102 da Lei
Maior.
Efeito – o recurso ordinário para o STF é destituído de efeito suspensivo.
Tal qual o recurso eleitoral, a apelação e o recurso ordinário para o TSE, possui efeito devolutivo amplo,
possibilitando a arguição e o exame de matéria de fato e de direito, bem como o conhecimento ex officio de matéria
de ordem pública. Incide aqui o disposto nos há pouco citados arts. 1.013 e 1.014 do CPC/2015.
Trâmite no Tribunal Superior Eleitoral – ultimada a juntada da petição de interposição do recurso ordinário
eleitoral, deve-se, em seguida, abrir vista dos autos à parte recorrida para que, no mesmo prazo de três dias,
apresente contrarrazões.
Na atual sistemática processual, deixou de ter sentido a realização de juízo de admissibilidade pelo presidente
do TSE no presente recurso5. De sorte que, nos termos do art. 1.028, § 3º, do novo CP C, apresentadas as
contrarrazões, “os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior [no caso, o STF], independentemente de
juízo de admissibilidade.”
No Supremo Tribunal Federal a tramitação se dará em conformidade com o disposto no Regimento Interno.

1 Limitando-se aos incisos III e IV do § 4º do art. 121 da CF, dispõe a Súmula TSE nº 36: “Cabe recurso ordinário de
acórdão de Tribunal Regional Eleitoral que decida sobre inelegibilidade, expedição ou anulação de diploma ou
perda de mandato eletivo nas eleições federais ou estaduais (art. 121, § 4º, incisos III e IV, da Constituição
Federal).”
2 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] II – julgar, em recurso
ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos tribunais regionais federais ou
pelos tribunais dos estados, do Distrito Federal e territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de
segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos estados, do
Distrito Federal e territórios, quando denegatória a decisão [...].”
3 A negativa de efeito suspensivo também se dá no recurso ordinário comum. Tanto assim é que o § 2º do art. 1.027
do CP C/2015 determina que se lhe aplique o disposto em seu art. 1.029, § 5º. Esse último dispositivo dispõe sobre
a formulação de “pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial”. Sob o
regime do CP C/1973, entendia-se que a interposição de recurso ordinário constitucional para o STJ e STF
produzia efeito suspensivo. Nesse sentido, vide Freitas Câmara (2012, p. 128).
4 Não se deve confundir a decisão proferida por TRE de “cassação de registro” com a decisão de “denegação de
pedido de registro de candidatura”. Nos dois casos, o recurso cabível é o ordinário. Todavia, só na primeira
situação (cassação de registro) o RO terá efeito suspensivo. Na segunda (denegação de registro), não se pode
falar em efeito suspensivo do RO simplesmente porque não há o que suspender; aqui, a só interposição do recurso
jamais teria o condão de ensejar o deferimento do pedido de registro de candidatura.
5 O art. 281, § 1º, do CE, determinava que o Presidente do TSE proferisse “despacho fundamentado, admitindo ou
não o recurso”. Assim, ao contrário do que ocorria no recurso ordinário interposto contra acórdão do TRE e
dirigido ao TSE, havia, na hipótese em apreço, expressa previsão legal de realização de juízo de admissibilidade
recursal pelo presidente do TSE. Ocorre que a realização desse juízo de admissibilidade não mais faz sentido na
nova sistemática processual. De ver-se que no recurso ordinário comum, o juízo de admissibilidade também não é
exigido, consoante se vê do § 3º do art. 1.028 do CP C/2015,in verbis: “Findo o prazo referido no § 2º, os autos
serão remetidos ao respectivo tribunal superior, independentemente de juízo de admissibilidade.”
8
RECURSO ESPECIAL

8.1 FUNDAMENTO E PRESSUPOSTOS


Conforme assinalado alhures, são classificados como excepcionais os recursos cujo fim imediato é a tutela da
ordem jurídica, da unidade do direito objetivo. Tais recursos não são vocacionados para a discussão da existência ou
inexistência de fato ou do modo como ele ocorreu (quaestio facti). Assim, a narrativa fática deve necessariamente
encontrar-se resolvida nas instâncias ordinárias por ocasião da interposição.
Por esses recursos, pode-se discutir tão somente questão de direito (quaestio iuris), a esta devendo-se sempre
limitar a irresignação ou o inconformismo da parte. Note-se, porém, que a questão de direito abrange os fatos da
causa. Estes são, na verdade, fatos jurídicos, pois a aplicação do direito sempre ocorre em relação a fatos. Tanto é
assim que o art. 1.029 do CP C determina que a petição recursal contenha “I – a exposição dofato e do direito;
[...]”. Destarte, quando se diz que nos recursos excepcionais não se pode discutir fatos, ou só se pode discutir
questão jurídica, o que se quer dizer, na verdade, é que por eles não se pode alterar a configuração fática
estabelecida pelas instâncias ordinárias. Ou seja: nos recursos excepcionais, discute-se apenas os fatos da causa tal
qual estabelecidos pelo tribunal recorrido.
Modalidade de recurso excepcional, o recurso especial eleitoral (Respe) é contemplado em disposição
específica no art. 121, § 4º, I e II, da Constituição Federal. Segundo esse preceito, é ele cabível para impugnar
“decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais, quando: “I – forem proferidas contra disposição expressa desta
Constituição ou de lei; II – ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais.”
Esse dispositivo constitucional é regulamentado pelo art. 276, I, alíneas a e b, do Código Eleitoral, que reza: “As
decisões dos tribunais regionais são terminativas, salvo os casos seguintes em que cabe recurso para o Tribunal
Superior: I – especial: a) quando forem proferidas contra expressa disposição de lei; b) quando ocorrer divergência
na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais [...].” Apesar de não constar desse dispositivo a
hipótese de cabimento atinente à contrariedade à Constituição (prevista no inciso I, § 4º, art. 121, CF), foi ele
recepcionado pela Constituição de 1988 por não a contrariar.
A seu turno, o recurso especial comum (REsp) é previsto no art. 105, III, da Lei Maior, pelo qual compete ao
Superior Tribunal de Justiça “julgar as causas decididas, em única ou última instância”, pelos tribunais da Justiça
comum (TJs e TRFs) quando a decisão recorrida: “a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b)
julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da
que lhe haja atribuído outro tribunal.”
A análise desses dispositivos normativos revela que o recurso especial eleitoral tem por pressupostos
específicos: a existência de decisão de tribunal regional eleitoral, o esgotamento das possibilidades de recurso no
âmbito das instâncias ordinárias e o debate pelo tribunal recorrido da questão jurídica objeto de inconformismo (ou
seja, o prequestionamento da questão jurídica).
Ademais, são hipóteses de cabimento do presente recurso: (i) contrariedade a disposição expressa da
Constituição Federal; (ii) contrariedade a disposição expressa de lei federal; (iii) divergência na interpretação de lei
entre dois ou mais tribunais eleitorais. A questão jurídica objeto de inconformismo deve ser debatida pelo tribunal a
quo e constar no acórdão; caso não conste nesse documento, deverá a parte interpor embargos de declaração a fim
de prequestioná-la.
Saliente-se que a admissão de recurso especial requer a presença de alguma das assinaladas hipóteses de
cabimento, além de todos os seus pressupostos – gerais e específicos.
Tais temas serão brevemente expostos na sequência.

8.1.1 Decisões de Tribunal Regional Eleitoral


O recurso especial eleitoral tem por objeto decisões de Tribunal Regional Eleitoral. É esse o teor imperativo do
§ 4º do art. 121 da CF.
Se é expresso nesse dispositivo o órgão cuja decisão pode ser impugnada pelo presente recurso, nada se diz
sobre a natureza ou o conteúdo das decisões impugnáveis. Sabe-se que a Justiça eleitoral – e, pois, também os
tribunais eleitorais – desempenha várias funções, dentre elas destacando-se as seguintes: administrativa, jurisdicional,
normativa e consultiva.1 Havendo decisão em qualquer uma dessas esferas, poder-se-ia impugná-la por recurso
especial? O que se deve entender por “decisões dos tribunais regionais eleitorais” impugnáveis por esse
recurso?
Decisão é uma espécie de ato jurídico. Trata-se do ato que encerra uma declaração de vontade, podendo
conter uma determinação, ordem ou comando. No ato decisional concretiza-se uma declaração de vontade à vista
dos fatos em discussão e da norma jurídica considerados.
Por certo, nem todas as resoluções de TRE são impugnáveis por recurso especial. Não o são, por exemplo, as
deliberações tomadas no âmbito de suas funções consultiva (CE, art. 30, VIII) e normativa, tampouco as decisões
de caráter estritamente administrativo.2Aliás, contra deliberações tomadas pelo órgão colegiado do Tribunal, no
âmbito das funções consultiva e deliberativa da Justiça Eleitoral, nenhum recurso se afigura cabível, isso em razão
da própria natureza das deliberações.
Em verdade, só são impugnáveis por recurso especial decisões proferidas no âmbito do exercício das funções
jurisdicionais do tribunal regional, bem como as decisões de natureza administrativo-eleitoral se houver expressa
previsão normativa desse recurso.3
E quanto ao conteúdo da decisão impugnável por recurso especial?
No Direito processual,4 o pronunciamento de órgão colegiado de tribunal é denominado acórdão. Embora se
trate de uma qualidade formal, é essencial para a caracterização do ato como acórdão que o ato emane de órgão
colegiado. Não se definiram quais conteúdos deve o ato colegiado conter para ser qualificado como acórdão. De
modo que, independentemente do conteúdo, se emanar de órgão colegiado de tribunal, o ato é denominado acórdão.
Assim, chama-se acórdão tanto o ato colegiado emanado do exercício da competência recursal do tribunal
quanto o prolatado em sede de competência originária.
Ademais, pode o acórdão conter variados teores. Pode, por exemplo, encerrar conteúdos típicos de sentença
(extinção do processo com ou sem julgamento do mérito – CP C/2015, arts. 485 e 487) ou de decisão interlocutória.
Sobre isso, assinalam Wambier et al. (2015, p. 373) que: “O conteúdo dos acórdãos pode variar imensamente. Pode
consistir em sentenças, em decisões interlocutórias, em julgamento de incidentes, como, por exemplo, o de arguição
de inconstitucionalidade, declaração de repercussão geral etc.”
Nesse amplo quadro, o termo decisões empregado de forma genérica no art. 121, § 4º, CF liga-se a decisões
do órgão colegiado do tribunal, referindo-se, pois, a acórdão.
É, então, cabível recurso especial eleitoral para impugnar decisão de tribunal regional independentemente de
seu conteúdo exprimir uma decisão final (no sentido de extinguir um processo, com ou sem julgamento de mérito) ou
interlocutória.
Vale registrar que, no recurso especial comum, o art. 105, III, da Constituição emprega expressão diversa. Não
fala em decisões, mas sim em causas decididas.
Na linguagem jurídica, o vocábulo causa é geralmente usado como sinônimo de demanda.5 E a expressão
causa decidida comumente refere-se a julgamento final de uma demanda, com ou sem a resolução de seu mérito.6
No entanto, nesse ponto, relativamente ao recurso especial, a expressão causa decidida constante do art. 105, III,
da Constituição apresenta sentido mais amplo. Significa qualquer decisão de tribunal da Justiça comum (TJ e TRF)
em que questão de direito federal infraconstitucional seja examinada. Abrange, portanto, qualquer pronunciamento
do tribunal de conteúdo decisório, incluindo decisões interlocutórias e casos em que não há propriamente litígio, como
ocorre nos procedimentos de jurisdição voluntária.
Note-se, porém, que o vocábulo decisões empregado no art. 121, § 4º, CF possui maior amplitude que a
expressão causas decididas constante do art. 105, III, CF. Isso porque, enquanto os dois termos compreendem as
causas decididas pelos tribunais na esfera jurisdicional, o primeiro também abrange decisões dos TREs de natureza
administrativo-eleitoral.
Decisão interlocutória de tribunal regional eleitoral – em duas situações é possível haver decisão de
natureza interlocutória emanada de tribunal regional, a saber: i) relativamente a acórdão que tenha por objeto
decisão interlocutória proferida por juiz eleitoral de 1º grau, cuja decisão foi impugnada por agravo de instrumento
nas hipóteses do art. 1.015 do CP C/2015; ii) nas hipóteses de competência originária dos tribunais regionais, em que
o procedimento é presidido por juiz do próprio tribunal.
Nesses casos, havendo decisão interlocutória proferida pelo relator do feito no tribunal, contra ela é cabível
agravo interno (CP C/2015, art. 1.021) para o colegiado; e o respectivo acórdão emanado do tribunal não perde a
natureza interlocutória.
Conforme ressaltado há pouco, o só fato de o acórdão ser interlocutório não impede sua impugnação por
recurso excepcional.7 Tanto é assim que o § 2º, art. 19, da Res. TSE nº 23.478/2016 admite o cabimento de recurso
d e agravo (em recurso especial ou extraordinário) para impugnar “decisão que inadmitir o recurso especial
interposto contra decisão interlocutória”.
A impossibilidade de impugnação não reside na natureza do acórdão, mas em sua qualidade de ser ou não
definitivo. De maneira que, não sendo a decisão do tribunal definitiva (ou melhor: não havendo preclusão em relação
a ela), incabível será o recurso excepcional, conforme se exporá adiante. E isso por ausência de esgotamento das
vias ordinárias.8
Diferentemente, se a decisão interlocutória tiver caráter definitivo – porque em relação a ela ocorre preclusão
–, cabível se afigura o recurso especial.
De qualquer forma, não sendo recorrível, é possível que a decisão interlocutória emanada de tribunal fira direito
da parte, podendo mesmo acarretar-lhe lesão grave, de difícil reparação ou mesmo irreparável. Em tal caso,
excepcionalmente deve-se admitir que a questão seja submetida ao tribunal superior.
Considerando a iminência de dano ou risco ao resultado útil ou à eficácia do processo havido como principal, é
deveras defensável o pleito de tutela provisória de urgência de natureza cautelar (CP C/2015, arts. 294, 300 e ss.)
endereçado ao tribunal superior. Mas o cabimento dessa tutela é condicionado à existência de seus pressupostos
próprios, notadamente “a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”, que
podem ser traduzidos respectivamente como fumus boni juris e periculum in mora.
Também se poderia cogitar o cabimento de mandado de segurança. É que o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009 –
interpretado contrario sensu – assegura o cabimento do writ contra decisão judicial, sempre que não houver
recurso específico com efeito suspensivo previsto nas leis processuais. Destarte, apenas se houver grave ferimento
a direito líquido e certo da parte, fato que deverá ser demonstrado de plano, admite-se a interposição do mandamus.
Essa exegese há muito é prestigiada na jurisprudência do TSE:

[...] Não cabe recurso de decisão interlocutória proferida em processo de investigação judicial. Na falta de recurso
próprio, admite-se o uso do mandado de segurança. Agravo a que se nega provimento (TSE, AREspe nº 25.281/SP,
DJ 28.10.2005, p. 136).
[...] 1. Cabe mandado de segurança contra decisão interlocutória proferida em investigação judicial eleitoral, por não
existir recurso hábil para evitar eventual dano por ela causado. 2. Denega-se o mandado de segurança quando não
demonstrada a violação de direito líquido e certo. 3. Recurso improvido (TSE, RMS nº 176/RJ, DJ 07.06.2002).

8.1.2 Esgotamento das vias ordinárias


A interposição de recurso especial eleitoral (e também do comum) requer sempre o esgotamento de todos os
recursos possíveis nas vias ordinárias, isto é, no primeiro e no segundo graus de jurisdição. Isso porque o recurso
especial tem por finalidade a preservação da ordem jurídica, da unidade do direito objetivo, só indiretamente
beneficiando as partes no processo.
Nota-se uma diferença de redação nos arts. 121, § 4º, e 105, III, da Constituição Federal. Enquanto o primeiro
emprega a expressão “decisões dos tribunais regionais eleitorais”, o segundo enuncia “causas decididas, em única
ou última instância, pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos estados, do Distrito Federal e territórios”,
ou seja, pelos tribunais da Justiça comum.
A expressão única instância remete à competência originária do tribunal, ao passo que o termo última
instância remete à sua competência recursal. Na primeira, o tribunal – antes de qualquer outro órgão jurisdicional –
conhece e aprecia a questão submetida à jurisdição estatal, enquanto na decisão em última instância a questão é
inicialmente submetida ao juiz de 1º grau e só depois levada ao tribunal, que aprecia a correção ou justiça do
provimento jurisdicional concretizado na sentença.
Como o § 4º do art. 121 da CF fala genericamente emdecisões, sem qualquer especificação, é de se entender
que abrange as decisões tomadas tanto em única quanto em última instância.
A respeito, reza a Súmula TSE nº 25: “É indispensável o esgotamento das instâncias ordinárias para a
interposição de recurso especial eleitoral.” Esse preceito harmoniza-se com a Súmula 281 do Supremo Tribunal
Federal, que reza: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na Justiça de origem recurso ordinário da
decisão impugnada.” O manejo do recurso extraordinário – ou, no caso, do especial –, implicaria supressão de
instância.
Importa ressaltar o problema relativo à decisão monocrática de relator em tribunal regional proferida com
fulcro no art. 1.011, I, c/c o art. 932, III a V, ambos do CP C/2015. Tais dispositivos autorizam o relator a não
conhecer de recurso, negar-lhe ou dar-lhe provimento. Ainda antes da entrada em vigor do CP C/2015, firmou-se o
entendimento no sentido de ser incabível recurso especial para impugnar decisão monocrática de relator nesses
casos. Para viabilizar a interposição desse recurso, exige-se que a parte esgote as possibilidades recursais nas
instâncias ordinárias, ingressando, portanto, com agravo interno para o respectivo órgão colegiado. Confira-se:

1. É incabível a interposição de recurso especial eleitoral contra decisão monocrática proferida por juiz membro de
tribunal regional eleitoral, haja vista a ausência de esgotamento das vias recursais na instância de origem. Súmula
281/STF e precedentes desta Corte. 2. Agravo regimental não provido.Decisão: O tribunal, por unanimidade,
desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI nº 242346/PA,DJ, t. 84, 06.05.2015, p.
141-142).
1. Nos termos do art. 276 do Código Eleitoral, o recurso especial deve desafiar decisão terminativa dos tribunais
regionais eleitorais. 2. Não cabe recurso especial de decisão monocrática de relator em processo de registro de
candidatura no âmbito de TRE. Incidência da Súmula nº 281/STF. Precedentes. 3. É indispensável o esgotamento
das instâncias ordinárias a fim de que seja possível a interposição de recurso dirigido a tribunal superior. 4. Agravo
regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do
relator (TSE, AgR-REspe nº 7194/MA, PSS 08.11.2012).
[...] 2. Verifico, em exame perfunctório, que o recurso especial não ultrapassa o juízo prévio de admissibilidade, uma
vez que foi interposto contra decisão monocrática. 3. Não assiste razão ao agravante quando afirma que houve o
exaurimento das vias recursais ordinárias com a oposição de embargos de declaração no e. tribunal de origem, pois
a decisão que rejeitou tais embargos foi também singular. 4. Conforme estabelece a Constituição Federal, o recurso
especial é cabível apenas contra decisões de tribunais de “única ou última instância”. Está, portanto, condicionado ao
esgotamento das vias recursais na instância de origem. Dessa forma, é inadequada a interposição de recurso
especial contra decisão monocrática do relator, passível de impugnação mediante agravo regimental no próprio
tribunal regional. Precedentes. 5. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o
agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AC nº 2784/BA, DJe 07.10.2008, p. 12).

Não é diferente o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

1. Incabível recurso especial centrado exclusivamente em violação a norma constitucional. De igual modo,
inadmissível a utilização da via especial para combater decisão singular contra a qual era cabível recurso ordinário
no tribunal de origem. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento
(STJ, EDcl no Ag nº 1314441/SP, 4ª T., Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 22.06.2015).
Em igual sentido no STJ: AgRg no AREsp nº 569380/P E, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
19.06.2015; EDcl no Ag nº 1314441/SP, AgRg no AREsp nº 647073/SP, 1ª T., Rel. Min. Regina Helena Costa,DJe
01.07.2015.

No entanto, vale registrar a crítica formulada por alguns processualistas no sentido de haver contradição nesse
entendimento, porque, como assinalam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2016, p. 548):

[...] se uma das finalidades da outorga de poderes ao relator está em patrocinar a economia processual, o prestígio à
jurisprudência e aos precedentes e a duração razoável do processo, então constitui óbvio contrassenso exigir-se que
o órgão fracionário volte a decidir o que já decidiu anteriormente e que já foi anunciado pelo relator do recurso
apenas para efeito de esgotamento da instância. É preciso perceber que, sendo possível ao relator julgar em atenção
à jurisprudência de seu órgão fracionário ou aos precedentes das Cortes Supremas, o próprio relator constitui a
última instância recursal. Rigorosamente, o agravo interno só é cabível para demonstrar distinção entre os casos.
[...].

8.1.3 Prequestionamento
Para que se abra a via recursal excepcional e, portanto, do recurso especial é imprescindível que a questão
jurídica sobre a qual houve o inconformismo da parte tenha sido objeto de pronunciamento do tribunal a quo.
Tem-se discutido a forma como a questão jurídica objeto do inconformismo deve encontrar-se no acórdão
recorrido. Fala-se que ela pode aparecer de três modos, a saber: expresso, implícito ou ficto. Expresso, quando tiver
sido exprimida de forma precisa e literal. Implícito ou tácito, quando, sem ter sido pronunciada literalmente, foi
inequivocamente tratada, encontrando-se subentendida. Ficto, por fim, se o acórdão for omisso e, interpostos
embargos de declaração, estes forem rejeitados pelo órgão colegiado do tribunal, que afirma inexistir omissão. Nesse
último caso, “consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
prequestionamento” (CPC/2015, art. 1.025; STF, Súmula 356).

8.1.3.1 A exigência de decisão expressa sobre a questão jurídica


A necessidade de que a questão jurídica objeto da irresignação da parte tenha sido expressamente decidida
pelo tribunal a quo encontra-se posta de maneira cristalina no § 4º do art. 121 da Constituição. Esse dispositivo só
admite a interposição de recurso especial contra “decisões” dos TREs. Assim também o inciso III do art. 105 da
Constituição, segundo o qual o recurso especial comum só é interponível diante de “causas decididas”, em única ou
última instância, pelos tribunais ordinários.
Há mister, pois, que o tribunal recorrido delibere acerca da questão jurídica objeto do inconformismo. Não
sendo ela revelada precisa e expressamente no acórdão, impõe-se seu prequestionamento, com o qual se propiciam
o debate e a efetiva manifestação do tribunal recorrido.
Assim, não é suficiente a mera arguição do recorrente, devendo a questão jurídica ser deveras apreciada no
julgamento e expressamente tratada no acórdão. Como bem assentou a Corte Superior Eleitoral:

O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido arguida pela parte recorrente. A
configuração do instituto pressupõe debate e decisão prévios pelo colegiado, ou seja, emissão de entendimento sobre
o tema. O procedimento tem como escopo o cotejo indispensável a que se diga do enquadramento do recurso
especial no permissivo constitucional. Se o tribunal de origem não adotou entendimento explícito a respeito do fato
jurígeno veiculado nas razões recursais, inviabilizada fica a conclusão sobre a violência ao preceito evocado pelo
recorrente (TSE, AgR-REspe nº 30416/RJ, DJe, t. 58, 25.03.2011, p. 46).
Clara está nesse precedente a necessidade de o tribunal a quo não só debater como também efetivamente
decidir a questão veiculada no REspe. Por isso, não basta que a questão seja apenas mencionada en passant no
acórdão, tampouco nele encontrar-se subjacente.
A necessidade de haver expressa, efetiva, decisão do tribunal recorrido acerca da questão jurídica ressai
claramente da Súmula TSE nº 72, verbis:

É inadmissível o recurso especial eleitoral quando a questão suscitada não foi debatida na decisão recorrida e não foi
objeto de embargos de declaração.

Declaração de voto vencido e prequestionamento – consoante dispõe o art. 941, § 3º, do CP C/2015: “O
voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do acórdão para todos os fins legais,
inclusive de prequestionamento.”
Assim, se a questão jurídica que se quer debater constar do voto vencido, e não do vencedor, será considerada
prequestionada. Daí a necessidade de declará-lo.9

8.1.3.2 Decisão implícita sobre a questão jurídica


Apesar de o § 4º do art. 121 e o inciso III do art. 105, ambos da Constituição, exigirem que a questão jurídica
objeto da irresignação seja decidida pelo tribunal a quo, tem-se defendido que ela pode se encontrar implícita no
texto do acórdão. Aqui, embora não haja literal referência ao dispositivo normativo que se entende violado, pode
ocorrer que a questão tenha sido inequivocamente tratada no acórdão.
De certo modo, essa ideia encontra-se na Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual: “É
inadmissível recurso extraordinário, quando não ventilada na decisão recorrida, a questão federal suscitada.”
A interpretação contrario sensu dessa súmula revela ser suficiente que a questão suscitada seja ventilada na
decisão recorrida, isto é, basta que nela se apresente em alguma medida, mas de forma induvidosa.
Podendo haver dúvida acerca de a questão encontrar-se ou não implícita (ou ventilada) no texto do acórdão, o
melhor é interpor embargos de declaração para que isso fique bem claro.

8.1.3.3 Decisão ficta da questão jurídica: erro, omissão, contradição ou obscuridade no acórdão
Pode ocorrer de a questão não constar do acórdão nem expressa nem implicitamente, tendo o colegiado se
omitido em apreciá-la. Também pode ocorrer de o acórdão conter erro, ser contraditório ou obscuro, a ponto de não
se conseguir discernir com a necessária clareza a questão jurídica que interessa à parte discutir nas instâncias
excepcionais.
Em tais casos, deverá a parte interessada ingressar com embargos de declaração a fim de que os vícios da
decisão possam ser sanados, de maneira a aperfeiçoá-la. Nessa hipótese, quanto à omissão, pressupõe-se que o
ponto ou a questão tenha sido suscitado anteriormente ou tenha surgido no próprio julgamento do tribunal regional.
Caso tenha surgido nos debates do julgamento, a falta poderá ser evidenciada pelas notas taquigráficas ou pela
degravação dos debates havidos na sessão de julgamento. Afinal, só se pode falar em omissão de algo que já tenha
sido levado ao debate travado no processo, ou de algo sobre o qual o órgão jurisdicional devia se pronunciar, mas
não o fez.
Interpostos os embargos declaratórios, de duas uma: i) são eles acolhidos, deliberando o órgão colegiado acerca
da questão arguida; ii) são eles rejeitados (caso mais comum), ao argumento de que a decisão não contém qualquer
vício, nada havendo a ser sanado.
Na primeira hipótese, é cumprido o requisito do prequestionamento.
Já na segunda hipótese, sendo os embargos rejeitados sem que a questão tenha sido efetivamente apreciada ou
aclarada, reza o art. 1.025 do CPC/2015:

Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda
que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados caso o tribunal superior considere existentes erro,
omissão, contradição ou obscuridade.

Assim, caso o tribunal ad quem considere realmente existente o vício arguido nos embargos de declaração (ou
seja, o erro, a omissão, a contradição ou a obscuridade) – apesar de o tribunal a quo não os ter vislumbrado em sua
própria decisão –, para fins de prequestionamento, os elementos suscitados nos embargos consideram-se incluídos
no acórdão. Presume-se, portanto, que estejam presentes neste.
Entretanto, no que se refere à omissão, só se poderia considerar “incluídas no acórdão” as questões que o
embargante suscitara no recurso interposto perante o tribunal a quo. Deveras, não se pode afirmar tenha havido
prequestionamento se a parte não arguir a questão no recurso interposto perante o tribunal a quo e este, justo por
não ter havido arguição, sobre ela não se pronunciar. Ora, se não houver arguição no recurso sobre a questão, o
tribunal não teria mesmo que a decidir. Em outros termos: a questão cuja omissão é afirmada e que poderá ser
considerada incluída no acórdão, nos termos do citado art. 1.025 do CPC/2015, não pode surgir pela vez primeira nos
embargos declaratórios.
Segundo consta da Exposição de Motivos do CP C/2015, “se os embargos de declaração são interpostos com o
objetivo de prequestionar a matéria objeto do recurso principal, e não são admitidos, considera-se o
prequestionamento como havido, salvo, é claro, se se tratar de recurso que pretenda a inclusão, no acórdão, da
descrição dos fatos.”
Já era essa a compreensão do Supremo Tribunal Federal acerca dessa matéria. Para o Supremo, a só
interposição de embargos declaratórios é bastante para que a questão jurídica seja havida por prequestionada, ainda
que o vício arguido persista, i. e., ainda que o tribunal a quo rejeite os embargos. Essa conclusão pode ser extraída
contrario sensu da Súmula 356, que dispõe: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.”
Interpretando sua própria súmula, asseverou o Excelso Pretório:

I. RE: prequestionamento: Súmula 356. O que, a teor da Súmula 356, se reputa carente de prequestionamento é o
ponto que, indevidamente omitido pelo acórdão, não foi objeto de embargos de declaração; mas, opostos esses, se,
não obstante, se recusa o tribunal a suprir a omissão por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da parte,
permitindo-se-lhe, de logo, interpor recurso extraordinário sobre a matéria dos embargos de declaração e não sobre
a recusa, no julgamento deles, de manifestação sobre ela [...] (STF, RE 334279/PA, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 20.08.2004, p. 50).

Dúvida não há acerca do viés pragmático dessa solução, certamente mais afinada com a economia processual
e a celeridade da prestação jurisdicional. Na linguagem da Exposição de Motivos do CP C/2015, contribui para a
simplificação do processo e melhoria de seu rendimento.
Não se pode, entretanto, deixar de remarcar que ela implica supressão de instância. Porque a mera veiculação
da questão nos embargos de declaração não supre a ausência de manifestação do órgão jurisdicional, não supre a
exigência constitucional de haver decisão do órgão tribunal.10

8.1.3.4 Questão de ordem pública


Discute-se se questão de ordem pública (como competência absoluta, coisa julgada, condições da ação e
pressuposto processuais) pode ser conhecida ex officio pelo tribunal superior ou se, para ser apreciada no recurso
especial, deve sempre e necessariamente ser objeto de prequestionamento.
Sob o CP C/1973 havia se consolidado o entendimento de que o tribunal superior só pode apreciar tais questões
se a respeito delas tiver havido prequestionamento, a ver:

[..] 2. A atuação jurisdicional do TSE, na via do recurso especial, está restrita ao exame dos fatos que foram
considerados pelas cortes regionais eleitorais, portanto não é possível alterar o quadro fático a partir de fato
superveniente informado depois de interposto o recurso especial. 3. A alegação de que a matéria poderia ser
considerada de ordem pública não possibilita seu exame em recurso de natureza extraordinária, por lhe faltar o
necessário prequestionamento. Agravo regimental a que se nega provimento (TSE, AgRg-REspe nº 14458/MT,DJe
20.05.2013, p. 39-40).
[...] 3. Mesmo as matérias de ordem pública devem ser prequestionadas para que possam ser conhecidas na
instância especial [...] (TSE, ED-AgR-REspe nº 4198006/RJ, DJe, t. 231, 02.12.2010, p. 64-65).

No Superior Tribunal de Justiça é igualmente pacífica tal solução:

[...] 2. Segundo a firme jurisprudência do STJ, na instância extraordinária, as questões de ordem pública apenas
podem ser conhecidas caso atendido o requisito do prequestionamento. Aplica-se, no caso, o óbice da Súmula
168/STJ. 3. Agravo regimental não provido (STJ, AgRg nos EREsp nº 999342/SP, Corte Especial, Rel. Min. Castro
Meira, DJe 1º.02.2012.

[...] 3. O conhecimento de matéria de ordem pública, em sede de recurso especial, está vinculado ao preenchimento
dos pressupostos processuais necessários ao conhecimento do referido recurso, os quais não se encontram
presentes na hipótese dos autos. Precedentes. 4. Agravo regimental improvido (STJ, AgRg no Ag nº 964320/MG, 5ª
T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 12.05.2008).

Tal posição, no entanto, pode não prevalecer sob o CP C de 2015. Isso em razão do disposto nos arts. 485, § 3º,
e 1.034 do novo Código Processual. Eis o teor desses dispositivos:

Art. 485. [...]. § 3º O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e
grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.
Art. 1.034. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou o Superior
Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito.
Parágrafo único. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por um fundamento, devolve-se ao tribunal
superior o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado.

Assim, as matérias especificadas no transcrito § 3º do art. 485 podem ser conhecidas “em qualquer tempo e
grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”. É verdade que o § 3º do art. 267 do CP C/1973
continha regra semelhante, mas era apenas semelhante, porque nela também constava a cláusula “enquanto não
proferida a sentença de mérito”.11 Diferentemente, no transcrito § 3º do art. 485 do CP C de 2015 consta
expressamente que as matérias lá arroladas poderão ser conhecidas “de ofício, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado”. Dada sua amplitude, essa última cláusula parece
compreender as instâncias excepcionais, de sorte que aquelas matérias seriam devolvidas ao conhecimento delas – o
que ocorreria no âmbito do efeito translativo ou, consoante alguns processualistas, na dimensão da profundidade do
efeito devolutivo.
Por sua vez, o citado art. 1.034 determina às cortes excepcionais que julguem o processo “aplicando o direito”.
Disposição semelhante também consta da Súmula 456 do STF, segundo a qual: “O Supremo Tribunal Federal,
conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o Direito à espécie.” E, para ser completa, tal
aplicação do direito requer a consideração de matéria de ordem pública não arguida pelas partes nem conhecida nas
instâncias anteriores.
Diante disso, a interpretação inicialmente referida tende a ser alterada, de modo que os tribunais superiores
passem a admitir o conhecimento ex officio de matéria de ordem pública. A tal respeito há interessante passagem
na Exposição de Motivos do CPC/2015:

Significativas foram as alterações, no que tange aos recursos para o STJ e para o STF. O novo Código contém
regra expressa, que leva ao aproveitamento do processo de forma plena, devendo ser decididas todas as razões que
podem levar ao provimento ou ao improvimento do recurso.

Cumpre, porém, observar que, devido à obrigatoriedade de observância do contraditório (compreendido como
direito de influência) e da proibição da surpresa, antes de decidir, deve o órgão judicial conferir à parte oportunidade
de se manifestar sobre o ponto ou a questão. É o que estabelece o art. 10 do CP C/2015: “O juiz não pode decidir,
em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.”

8.1.4 Contrariedade à disposição expressa da Constituição


Pela primeira hipótese de cabimento do recurso especial eleitoral, deve o acórdão de TRE contrariar disposição
expressa da Constituição Federal.
Se se considerar que a Lei Maior adotou um sistema misto de controle de constitucionalidade, no qual convivem
elementos dos modelos abstrato e concreto (difuso ou incidental), é lícito concluir não haver novidade na presente
hipótese de cabimento. Isso porque, no modelo incidental ou concreto de controle de constitucionalidade, a todo e
qualquer órgão judicial é dado controlar a adequação de lei ou ato normativo diante da Constituição. Se assim é, tal
função também pertence ao Tribunal Superior Eleitoral.
Em verdade, a regra enfocada tem a importante função de canalizar a discussão de questão constitucional para
o tribunal superior, devendo este sodalício pronunciar-se sobre ela antes do Pretório Excelso. O Supremo somente se
manifestará se o aresto do TSE for impugnado mediante recurso extraordinário, nos termos do art. 121, § 3º, da CF.
Note-se que tal fundamento não consta entre os que autorizam a interposição de recurso especial comum;
conforme dispõe o art. 105, III,a, da Constituição, ao STJ compete julgar, em recurso especial, as causas decididas,
em única ou última instância, quando a decisão recorrida “contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência”.
No sistema recursal comum: (i) se o acórdão do tribunal recorrido (tribunal de justiça ou tribunal regional
federal) contiver questão legal e constitucional, a parte sucumbente deve desde logo apresentar simultânea e
separadamente os recursos especial e extraordinário; (ii) se contiver o acórdão apenas questão constitucional,
deverá a parte sucumbente interpor tão somente o extraordinário; (iii) contendo o acórdão tão só questão legal,
interpor-se-á apenas o especial. Tanto o recurso extraordinário quanto o especial devem exibir os fundamentos que
lhes sejam próprios, conforme dispõem os arts. 102, III, e 105, III, da Constituição Federal.
O recurso extraordinário e o recurso especial comum devem ser interpostos “em petições distintas [...]”
(CP C/2015, art. 1.029,caput). Apresentados os dois recursos e sendo ambos admitidos, sua tramitação é regulada
pelo art. 1.031 do CPC/2015.12
Diferentemente, no sistema processual eleitoral não se aplica a regra que determina a interposição simultânea
dos recursos especial e extraordinário. Isso porque o recurso extraordinário não é cabível contra decisão de tribunal
regional eleitoral, mas somente contra acórdão do Tribunal Superior Eleitoral. E não é cabível porque a primeira
hipótese autorizadora do recurso especial eleitoral consiste em o acórdão regional infringir disposição expressa da
Constituição. De sorte que o acórdão regional só pode ser impugnado, na via recursal, pelos recursos ordinário e
especial eleitorais, atendidos os pressupostos de cada qual deles.
A interposição de recurso extraordinário contra acórdão de tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro,
por isso não enseja a fungibilidade recursal, i.e., que o extraordinário aviado seja recebido e processado como
recurso especial.

[...] 1. Contra acórdão de tribunal regional eleitoral somente cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, mesmo
que nele se discuta matéria constitucional. 2. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, inc. I, da
Constituição Federal de 1988, e nos artigos 22, inc. II, e 276, I e II, do Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15.07.1965).
3. No âmbito da Justiça eleitoral, somente os acórdãos do Tribunal Superior Eleitoral é que podem ser impugnados,
perante o STF, em recurso extraordinário (arts. 121, § 3º, e 102, lII, a, b e c, da CF). 4. RE inadmitido. Precedentes.
5. Agravo improvido (STF, AgRg no Ag nº 164.491/MG, 1ª T., Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 22.03.1996).
[...] É firme a orientação desta corte no sentido de que a interposição de recurso extraordinário contra acórdão de
tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro, inviabilizando a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.
Hipótese em que demonstrado o equívoco do agravante em querer dar a recurso extraordinário interposto de decisão
do TRE o mesmo tratamento que é conferido aos extraordinários manejados contra acórdãos de tribunais estaduais
e regionais federais, quando envolvida questão constitucional. Agravo interno a que se nega provimento. Decisão: O
tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI nº
286893/SP, DJe, t. 183, 23.09.2011, p. 22).

Daí dispor o art. 121, § 4º, I, da Lei Maior ser cabível o recurso especial eleitoral diante de decisão de tribunal
regional proferida “contra disposição expressa desta Constituição”. Malgrado a matéria impugnada tenha natureza
constitucional, o certo é que o recurso previsto é o especial eleitoral.
É a própria Constituição que impõe que a decisão recorrida infrinja “disposição expressa” de seu texto. Assim,
se as ofensas arguidas forem implícitas ou subjacentes ao texto constitucional, bem como se ocorrerem de modo
indireto, oblíquo ou reflexo, não é autorizada a abertura da via especial. Nesse sentido: STF, AI-AgR nº 648688/DF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 11.04.2008; STF, ARE nº 676182/MS, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 27.06.2012.
Observe-se porém que, a par da ofensa indireta ou reflexa à Constituição, se também houver ofensa à lei,
caberá o recurso especial sob o fundamento de ofensa à lei, conforme se verá na sequência.
Pode ocorrer, ainda, que a um só tempo o acórdão recorrido infrinja de forma direta a Constituição e a lei.
Haverá, então, mais de um fundamento para o recurso especial. Todos os fundamentos devem ser especificamente
impugnados, sob pena de, se assim não se proceder, não ser o recurso admitido. É que, dada a ocorrência de
preclusão temporal em relação ao fundamento não impugnado, com base nele o acórdão recorrido se manteria. A
esse respeito, afirma a Súmula TSE nº 26: “É inadmissível o recurso que deixa de impugnar especificamente
fundamento da decisão recorrida que é, por si só, suficiente para a manutenção desta.”
Conquanto o presente recurso se funde em questão constitucional, não é preciso que nas razões, em preliminar,
se faça a demonstração da “repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso”. Isso porque tal
requisito é pertinente ao recurso extraordinário, nos termos do § 3º do art. 102 da Lei Maior.

8.1.5 Contrariedade à disposição expressa de lei


O segundo fundamento que autoriza a interposição de recurso especial consiste em o acórdão de TRE
contrariar disposição expressa de lei.
Aqui o tribunal superior exerce controle de legalidade a fim de que seja preservadas a harmonia, a coerência e
a eficácia da legislação eleitoral.
O termo “lei” deve ser compreendido com maior amplitude que o normal, pois no Direito eleitoral ele encerra
certas normas gerais e abstratas emanadas do Tribunal Superior Eleitoral muito semelhantes à lei em sentido formal
e estrito – originada no Congresso Nacional. Exemplo disso é a Resolução nº 22.610/2007, que trata da perda de
mandato público-eletivo por infidelidade partidária – indubitavelmente, essa norma é lei em sentido material, embora
não o seja em sentido formal. Assim, a violação a disposição expressa nela inserta enseja a interposição de recurso
especial eleitoral.
Entretanto, no conceito desse termo não cabem figuras como Regimento Interno de Tribunal Eleitoral,
Resoluções sobre Consulta, Súmulas.
Quanto à última, embora a súmula expresse o sentido da iterativa jurisprudência do tribunal que a edita, não se
refere a decisão proferida em caso concreto, tampouco é lei em sentido formal. Nesse diapasão: “[...] 2. Os
verbetes ou enunciados dos tribunais não se equiparam às leis federais para a finalidade prevista no art. 105, III,a,
da Constituição Federal [...]” (STJ, AgRg no Ag nº 959622/SP, 5ª T., Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe
04.08.2008).
A lei cuja disposição se afirma contrariada deve ser federal e tratar de matéria eleitoral. E a infringência deve
necessariamente emanar de decisão de Tribunal Regional Eleitoral.
Nesse quadro, dispõe a Súmula TSE nº 32: “É inadmissível recurso especial eleitoral por violação à legislação
municipal ou estadual, ao Regimento Interno dos Tribunais Eleitorais ou às normas partidárias.”
Sob o presente fundamento, não é suficiente apenas afirmar que houve contrariedade à norma tida como
infringida. Antes, cumpre demonstrar, de modo cristalino e preciso, a violação imediata e expressa do texto legal,
seja por se tê-lo aplicado de forma errônea, seja por se ter omitido sua aplicação (negando-lhe vigência), seja, enfim,
por se tê-lo interpretado equivocamente.

8.1.6 Dissídio jurisprudencial: divergência na interpretação entre dois ou mais tribunais eleitorais
A terceira hipótese de cabimento de recurso especial consiste na divergência na interpretação de lei entre dois
ou mais tribunais eleitorais. Aqui se cuida do denominado dissídio jurisprudencial. Visa-se harmonizar e adequar,
em todo o país, a aplicação da legislação eleitoral relativamente a fatos iguais ou similares.
Mais que oportuna, a harmonização da interpretação das normas eleitorais se faz necessária ante a
possibilidade (aliás, confirmada na prática) de haver disparidade de decisões emanadas dos 27 tribunais regionais, do
Tribunal Superior Eleitoral e do próprio Supremo Tribunal Federal, todos integrantes do sistema jurídico-eleitoral.
Fustigado seria o princípio da isonomia se a solução jurídica de um caso acolhida por um tribunal fosse distinta da
afirmada por outro, pois, nessa hipótese, o direito reconhecido em um local poderia ser negado em outro.
No que concerne ao Pretório Excelso, parece claro o seu perfil de tribunal eleitoral. Isso porque também
exerce funções próprias de tribunal eleitoral ao conhecer e julgar matéria eleitoral quer originariamente, quer em
grau de recurso. Assim é que, por disposição expressa e específica, a Lei Maior dota o Supremo de competência
ordinária (CF, art. 121, § 3º, in fine) e extraordinária (CF, art. 121, § 3º, primeira parte) em matéria eleitoral. De
sorte que não há qualquer exagero em afirmar que, à luz do sistema jurídico brasileiro, o Pretório Excelso é de fato e
de direito a Suprema Corte Eleitoral.
Consiste o dissídio jurisprudencial na divergência atual e efetiva de interpretações jurídicas emanadas de dois
ou mais tribunais eleitorais acerca de fatos iguais ou assemelhados.
Há mister de que a divergência se estabeleça entre tribunais eleitorais. De sorte que não são aptos a
constituir dissídio:

acórdãos de tribunal eleitoral e outro não eleitoral. Ex.: julgado de tribunais de alçada (hoje não mais existentes), de
justiça (TSE, AI nº 2577/SP,DJ, v. 1, 16.03.2001, p. 201); aresto do Superior Tribunal de Justiça (TSE, RO nº
398/SC, DJ 10.03.2000, p. 64; REspe nº 25094/ GO,DJ 07.10.2005, p. 126); acórdão de tribunal regional federal, de
tribunal do trabalho e de tribunal militar;
acórdão de tribunal eleitoral e decisão singular ou monocrática proferida por membro de outro tribunal eleitoral,
independente da instância (TSE, AgR-AI nº 10101/P R,DJe 12.03.2010, p. 50-51; ARO nº 1220/SP, DJ 11.12.2006,
p. 215; AAI nº 5806/BA, DJ, v. 1, 30.09.2005, p. 123; AAI nº 6061/SP, DJ, v. 1, 07.04.2006, p. 165);
acórdão de um tribunal eleitoral e despacho do presidente de outro (TSE, REspe nº 3323/MG, Acórdão nº 4.783, de
09.03.1971, Boletim Eleitoral, v. 237, t. 1, p. 589);
acórdão de tribunal eleitoral e sentença de juiz eleitoral de primeiro grau de jurisdição;
acórdãos do mesmo tribunal. É clara a Súmula TSE nº 29: “A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não se
presta a configurar dissídio jurisprudencial apto a fundamentar recurso especial eleitoral. No mesmo sentido: STF,
Súmula 369; STJ, Súmula 13; TSE, AAg nº 6208/SP,DJ 03.02.2006, p. 171. Registre-se que o TSE já admitiu
recurso especial fundado em divergência jurisprudencial no seio do mesmo tribunal regional, desde que fosse diversa
a composição do colegiado quando do julgamento do acórdão paradigma – vide REspe nº 11663/RS,DJ 10.03.1995,
p. 4.915; o relator desse recurso, Ministro Marco Aurélio, assim fundamentou essa tese: “[...] quando se cogita do
cabimento de um recurso especial por discrepância jurisprudencial, por desinteligência de julgados, visa-se, acima de
tudo, a atividade precípua do Tribunal Superior Eleitoral que é a uniformizadora da jurisprudência [...]”. Atualmente,
essa interpretação é robustecida pelo disposto no art. 1.043, § 3º, do CP C/2015, que prevê o cabimento de
embargos de divergência “quando o acórdão paradigma for da mesma turma que proferiu a decisão embargada,
desde que sua composição tenha sofrido alteração em mais da metade de seus membros”. Ora, no plano analógico,
não se vislumbra razão que obste a extensão dessa regra ao recurso especial. Afinal, conquanto o acórdão
paradigma emane do mesmo tribunal, substancialmente diverso é o órgão colegiado;
acórdão de tribunal e resolução decorrente de consulta administrativa (TSE, REspe nº 26171/GO,DJ 1º.12.2006, p.
201).

Aresto do Supremo Tribunal Federal versando matéria eleitoral pode ser invocado como paradigma para
demonstração de divergência? Essa questão foi respondida positivamente pela corte superior ao julgar o AREspe nº
9606/ SP (DJ 03.09.1993, p. 17.808). No voto de desempate, argumentou o então Presidente, Ministro Sepúlveda
Pertence, que na verdade o STF possui jurisdição eleitoral, representando a última instância da Justiça eleitoral.
Tanto assim que é dotado de “competência ordinária em matéria eleitoral”, o que é demonstrado pela previsão de
recurso ordinário em habeas corpus e em mandado de segurança, impetrados no STF contra decisões originárias
da Corte Superior Eleitoral. Aduziu, ainda:

E, mesmo quando conhece recurso extraordinário, aí restrito à matéria constitucional, diz a palavra definitiva sobre
legislação eleitoral sobre Direito eleitoral, lato sensu, que, ainda quando veiculado pela Constituição, se compreende,
a meu ver, na menção do Código à lei eleitoral.

Posteriormente, porém, o TSE negou a possibilidade de julgado do Supremo Tribunal ser invocado como
paradigma para demonstração de divergência. Desta feita, sem aprofundar a discussão, argumentou que “a
divergência pretoriana, para atender ao requisito de admissibilidade do recurso especial eleitoral, há de ocorrer entre
tribunais eleitorais (Ag. nº 1.974, Rel. Min. Nelson Jobim,DJU 04.02.2000)” (TSE, AREspe nº 17713/AL, P SS
24.10.2000, trecho extraído do voto do relator). Entretanto, cumpre esclarecer que, apesar da expressa invocação do
Agravo nº 1.974 como sustentáculo dessa tese, os julgados paradigmas considerados nesse agravo não emanaram
do Supremo Tribunal, mas sim do STJ e do TJ/MT. Para além desse deslize na argumentação, não foram infirmados
os fundamentos postos no precedente supracitado (i. e., o AREspe nº 9606/SP, DJ 03.09.1993, p. 17.808), que é
anterior e admite acórdãos do Supremo como paradigmas de dissenso jurisprudencial. Na verdade, contanto que
tenha por objeto matéria eleitoral, não se vislumbra qualquer empecilho jurídico a que acórdão do Pretório Excelso
seja admitido como paradigma. Isso porque, ao conhecer e julgar matéria eleitoral, em grau de recurso ordinário ou
extraordinário, é o Supremo de fato e de direito a Suprema Corte Eleitoral.
Deve ser atual a divergência jurisprudencial. Por isso, reza Súmula TSE nº 30: “Não se conhece de recurso
especial eleitoral por dissídio jurisprudencial, quando a decisão recorrida estiver em conformidade com a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.” Essa também é a posição STJ, consoante se vê em sua Súmula 83 do
STJ: “Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo
sentido da decisão recorrida.” Em igual sentido é a Súmula 286 do STF: “Não se conhece do recurso extraordinário
fundado em divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal já se firmou
no mesmo sentido da decisão recorrida.” Assim, a divergência é inviável, e não se estabelece se o entendimento do
tribunal ad quem firmou-se no mesmo sentido do acórdão recorrido. Significa dizer que atualmente a interpretação
prevalecente encontra-se firmada, embora no passado (ainda que recente) pudesse ter ocorrido o dissenso.
A configuração do dissídio jurisprudencial requer que o julgado indicado como paradigma verse sobre fatos
idênticos ou assemelhados aos do acórdão recorrido. É pacífico na jurisprudência o entendimento de que “a ausência
de similitude fática impede a configuração da divergência jurisprudencial” (TSE, REspe nº 26378/P R,DJ
08.09.2008, p. 6; TSE, ARgAI nº 9036/SP, DJ 24.04.2008, p. 10). Daí ter o TSE expedido a Súmula nº 28, que reza:

A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial interposto com base na alínea b do inciso I do art.
276 do Código Eleitoral, somente estará demonstrada mediante a realização de cotejo analítico e a existência de
similitude fática entre os acórdãos paradigma e o aresto recorrido.

Afigura-se essencialmente correto esse entendimento, porquanto o direito exsurge da apreciação valorativa de
um fato à luz de dada norma jurídica. A ausência de similitude entre as situações consideradas torna despicienda a
homogeneidade da solução jurídica.
Outrossim, não basta que a questão arguida seja apreciada no acórdão invocado como paradigma, sendo
necessário que a tese resulte vitoriosa no julgamento. Deveras, inexiste divergência se a questão suscitada for objeto
de voto vencido no acórdão paradigma.13
Nas razões recursais é preciso transcrever e efetivamente cotejar os trechos configuradores da divergência,
mencionando nitidamente as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. Incide aqui o
disposto no § 1º do art. 1.029 do CPC/2015, que reza:

Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a certidão,
cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que
houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.14

Assim, no tocante à demonstração do dissídio jurisprudencial, pode ela ser feita: (i) por certidão expedida
pelo tribunal de origem do aresto cotejado; (ii) por cópia autenticada do acórdão; (iii) pela citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que tiver sido publicada a decisão
divergente; (iv) pela reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores (Internet), com indicação da
respectiva fonte.
Quanto aos trechos ou circunstâncias configuradoras da divergência , está claro na última parte da
transcrita regra legal a necessidade de proceder a efetivo confronto dos julgados recorrido e paradigma, não
bastando a mera transcrição de ementas ou a só reprodução de esparsos trechos de votos. É preciso, “em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados”. Nesse sentido, é firme
a jurisprudência, tanto assim que a citada Súmula TSE nº 28 expressamente requer a “realização de cotejo analítico
[...] entre os acórdãos paradigma e o aresto recorrido”. De sorte que: “[...] 2. A simples transcrição de ementa de
julgados, sem que seja evidenciada a divergência mediante cotejo analítico e demonstração da similitude fática, não
configura a divergência jurisprudencial [...]” (TSE, REspe nº 114/SC, DJe, t. 106, 06.06.2012, p. 32-33).

8.2 PRAZO
O art. 276, § 1º, primeira figura, do Código Eleitoral prevê regra específica de prazo para interposição de
recurso especial. O prazo aí fixado é de três dias, coincidindo com a norma geral inscrita no art. 258 do mesmo
código. Esse mesmo lapso temporal consta do art. 35, § 1º, do RITSE.
Conforme já ressaltado, o § 8º do art. 96 da Lei nº 9.504/1997 prevê o prazo recursal de 24 horas (que é
convertido em um dia) sempre que a demanda for regida por essa norma e ela própria não contiver regra específica
excepcionando tal lapso temporal. Diante dessa premissa legal, correta se afiguraria a conclusão de que, nas
hipóteses previstas na referida lei, também o prazo para interposição de recurso especial é de 24 horas (= um dia),
salvo previsão diversa nela mesma contida.
Não foi essa, entretanto, a conclusão firmada na jurisprudência. Pacificou-se a interpretação segundo a qual o
“prazo para interposição de recurso especial eleitoral nas representações regidas pela Lei nº 9.504/1997 é de três
dias [...]” (TSE, AgR-REspe nº 32743/RN, DJe, t. 120, 27.06.2011, p. 23).
Tal interpretação é respaldada pelas resoluções do Tribunal Superior que regulamentam eleições. À guisa de
exemplo, citem-se: art. 21, caput, da Res. nº 23.547/2017; art. 37 da Res. nº 23.462/2015; art. 35, caput, da Res. nº
23.367/2011; art. 34, caput, da Res. nº 23.193/2009; art. 21, caput, da Res. nº 22.624/2007.
Como exceção a essa regra geral tem-se apenas a hipótese de recurso especial interposto em demanda
envolvendo direito de resposta. Nesse caso, o prazo recursal é de 24 horas (que é convertido em um dia), conforme
prescreve expressamente o § 5º do art. 58 da Lei nº 9.504/1997, in verbis:

Da decisão sobre o exercício do direito de resposta cabe recurso às instâncias superiores, em 24 horas da data de
sua publicação em cartório ou sessão, assegurado ao recorrido oferecer contrarrazões em igual prazo, a contar da
sua notificação.

Frise-se inexistir discrepância jurisprudencial no sentido de que, cuidando-se de direito de resposta, o prazo para
interposição de recurso especial é de 24 horas, ou melhor, de um dia. Por todos, confira-se o seguinte aresto:

Direito de resposta. Recurso especial. Intempestividade. Por se tratar de direito de resposta, nos termos do § 5º do
art. 58 da Lei nº 9.504/1997, o recurso especial deve ser interposto no prazo de 24 horas, ainda que o acórdão
recorrido tenha por objeto pretensão executória. Agravo regimental não provido (TSE, AgR-REspe nº 362996/RJ,
DJe, t. 237, 16.12.2011, p. 58).

Em idêntico sentido são as resoluções do TSE que regulamentam as eleições. Consoante se vê nos dispositivos
há pouco mencionados, há sempre ressalva à hipótese de direito de resposta.
No que concerne à contagem do prazo recursal, é ela feita a partir da intimação do decisum recorrido, o que se
dá com a sua publicação: (i) em geral, no Diário da Justiça Eletrônico; (ii) durante o período eleitoral: (ii.a) na
própria sessão de julgamento ou (ii.b) por edital ou mural eletrônico publicado na página do respectivo tribunal na
Internet (LE, art. 94, § 5º). Nesse último caso, a contagem do prazo inicia-se “no dia seguinte ao da divulgação”.
Já quanto ao dies ad quem ou termo final do prazo, deve-se considerar o instante em que a peça recursal é
protocolada na Justiça eleitoral.15
Lembre-se de que, no período compreendido entre a data do registro de candidatura e a diplomação dos
candidatos eleitos (em geral, denominado “período eleitoral”), os prazos dos feitos atinentes às eleições em curso são
peremptórios e contínuos, correndo nos finais de semana e feriados. Nesse sentido: TSE, AgR-REsp nº 32743/RN,
DJe, t. 120, 27.06.2011, p. 23; TSE, AgR-REsp nº 396338/SP, P SS 23.11.2010. Nesse período, portanto, não poderia
incidir a regra do art. 219 do CP C/2015, pela qual, em seu caput, na contagem dos prazos processuais “computar-
se-ão somente os dias úteis”16. Incide, antes, o disposto no art. 16 da LC nº 64/1990.17

8.3 EFEITOS
Dada sua natureza excepcional, o recurso especial não é dotado de efeito suspensivo (CPC/2015, art. 995).
Excepcionalmente, para obter efeito suspensivo, há mister que o recorrente o pleiteie ao órgão judicial
competente. Sobre isso, dispõe o § 5º do art. 1.029 do CP C/2015 que o pedido de concessão de efeito suspensivo a
recurso excepcional poderá ser formulado por requerimento dirigido:

I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e
sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;
II – ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso
e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos
do art. 1.037.

Observe-se que o pedido de suspensão pode ser pleiteado junto ao tribunal recorrido em duas situações: i) se
for formulado no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da respectiva decisão de
admissão; ii) no regime de recurso repetitivo relativamente aos processos que se encontram suspensos por força do
art. 1.037, II, do CP C/2015.18 Fora desses casos, deve ser dirigido ao tribunal ad quem, notadamente ao relator, se
o recurso já tiver sido distribuído.
Quanto ao efeito devolutivo, comum a todos os recursos, ao tribunal superior o recurso especial não transfere a
reapreciação de matérias fáticas. Os fatos e as respectivas provas devem ser assentados nas instâncias ordinárias
(isto é, na 1ª e 2ª instâncias), sendo vedado seu revolvimento na seara especial. A rediscussão de matéria fática, em
si mesma, é vetada, ainda que por via indireta, oblíqua ou reflexa. Nesse sentido, impera a Súmula 279 do STF:
“Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.” Do mesmo modo, reza a Súmula TSE nº 24:
“Não cabe recurso especial eleitoral para simples reexame do conjunto fático-probatório”. No mesmo diapasão é a
Súmula 7 do STJ,in verbis: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.” A
jurisprudência do TSE segue idêntica direção, a ver:

[...] 3. O reexame de fatos e provas não é possível no recurso especial. Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal (TSE,
AgR-AI nº 412034/BA, DJe 21.11.2011, p. 37-38);
[...] Tendo em conta possuir o recurso especial natureza extraordinária, o julgamento ocorre a partir das premissas
fáticas constantes do acórdão impugnado, sendo defeso substituí-las (TSE, Ag-REspe nº 163-17/CE,DJe
10.05.2013);
Não cabe a reapreciação do contexto fático-probatório em sede de recurso especial, para alterar conclusão de tribunal
regional eleitoral que entendeu caracterizada a propaganda eleitoral extemporânea (TSE, AgR-AI nº 4268-45/P R, j.
23.04.2013).

Reexame de fatos reconhecidos e afirmados pelo tribunal a quo, como demonstrado, não se confunde, no
entanto, com seu reenquadramento jurídico. Por isso, admite-se o reenquadramento jurídico dos fatos pelo tribunal
superior, desde que a análise: (i) “limite-se à moldura fática assentada no acórdão da corte a quo” (TSE, AgR-
REspe nº 36650/AC, DJe 02.06.2010, p. 74); (ii) “restrinja-se às premissas fáticas assentadas pela corte de origem”
(TSE, AREspe nº 26135/MG, DJe 03.11.2009, p. 44).

Recurso especial. Revisão da prova × enquadramento jurídico. No julgamento do recurso especial, de nítida natureza
extraordinária, não cabe o reexame dos elementos probatórios decorrentes da instrução processual, com o que não
se confunde a busca do enquadramento jurídico dos fatos constantes do acórdão impugnado [...] (TSE, REspe nº
25247/PE, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 171).

O reenquadramento jurídico se faz com base nos mesmos fatos admitidos no acórdão recorrido. Há apenas
revisão dos efeitos jurídicos a eles reconhecidos.

8.4 TRÂMITE DO RESPE NO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL


O recurso especial eleitoral é interposto perante o presidente do tribunal regional eleitoral recorrido, devendo a
petição conter: “I – a exposição do fato e do direito; II – a demonstração do cabimento do recurso interposto; III –
as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida” (CPC/2015, art. 1.029, caput).
A tramitação do REspe no tribunal regional é regulada pelo art. 278 do Código Eleitoral. Vale registrar que o
art. 1.030 do CPC/2015 também dispõe sobre a tramitação de recurso especial e extraordinário no tribunal recorrido.
Eis o confronto entre esses dois artigos:

Código
Código de Processo Civil
Eleitoral

Art. 278. Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
Interposto intimado para apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias, findo o qual os autos
recurso serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
especial contra
decisão do I – negar seguimento:
tribunal
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo
regional, a
Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a
petição será
recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
juntada nas 48
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;
horas b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja
seguintes e os em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
autos Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
conclusos ao repetitivos; II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de
presidente retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal
dentro de 24 Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de
horas. repercussão geral ou de recursos repetitivos; III – sobrestar o recurso que versar
sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
§ 1º O Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria
presidente, constitucional ou infraconstitucional; IV – selecionar o recurso como representativo de
dentro em 48 controvérsia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036; V
horas do – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal
recebimento Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que:
dos autos
conclusos, a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
proferirá julgamento de recursos repetitivos;
despacho
fundamentado, b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou
admitindo ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
não o recurso.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá
§ 2º Admitido
agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
o recurso, será
aberta vista § 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno,
dos autos ao nos termos do art. 1.021.
recorrido para
que, no
mesmo prazo,
apresente as
suas razões.

§ 3º Em
seguida serão
os autos
conclusos ao
presidente,
que mandará
remetê-los ao
tribunal
superior.
A só leitura dos dois preceitos evidencia relevantes diferenças entre eles. Neste passo, importa destacar que,
enquanto pelo art. 278 do CE só é aberta vista ao recorrido para apresentação de contrarrazões depois da admissão
do recurso por ato do presidente do tribunal, pelo art. 1.030, caput, do CP C/2015 a vista lhe é aberta pelo próprio
servidor da secretaria do tribunal (CP C/2015, art. 203, § 4º) tão logo a petição recursal seja protocolada e acostada
aos autos – portanto, antes do ato de admissão do recurso. Ademais, o art. 1.030 especifica diversas providências
que poderão ser adotadas após a apresentação de contrarrazões. Existem, pois, diferenças de percurso dos recursos
especial comum e eleitoral em seus ulteriores desdobramentos, diferenças essas que podem refletir no exercício do
direito de defesa.
Em regra, o recurso especial eleitoral submete-se a um primeiro juízo de admissibilidade no tribunal eleitoral
recorrido e, depois, a um segundo no tribunal superior. Excepcionalmente, porém, não há juízo de admissibilidade no
tribunal recorrido em processo atinente a registro de candidatura. Tal exceção é prevista no art. 12, parágrafo único,
da LC nº 64/1990, que impera: “Apresentadas as contrarrazões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal
Superior Eleitoral.” Logo, cuidando-se de registro de candidatura, o juízo de admissibilidade do recurso especial é
realizado exclusivamente pelo tribunal ad quem. A exceção se funda na urgência que há no julgamento dos pedidos
de registro de candidatura e respectivas impugnações.
A admissão ou não do REspe deve se dar por “despacho fundamentado” (CE, art. 278, § 1º) emanado do
presidente do tribunal recorrido, podendo ser sucinta a fundamentação.
Ao examinar a admissibilidade, é fundamental que se averigue se as hipóteses de cabimento estão presentes.
Por vezes, tal análise implica adentrar ao próprio mérito do recurso especial. Mas isso não significa que o tribunal
regional invada a competência do TSE, pois tal verificação é própria e inerente ao exame de admissibilidade. Assim,
inexiste usurpação de competência quando, ao realizar juízo de admissibilidade, o tribunal a quo adentra ao mérito
recursal e excede o exame dos requisitos extrínsecos de admissibilidade do recurso especial.

Recurso de natureza extraordinária. Juízo primeiro de admissibilidade. Alcance do crivo. Tratando-se de recurso de
natureza extraordinária, interposto a partir de alegada vulneração a lei, é indispensável o exame de fundo. A um só
tempo encerra ele pressuposto específico de recorribilidade e mérito do próprio conflito a ser dirimido uma vez
processado o recurso [...]. O cotejo indispensável a que se diga enquadrado o recurso especial em um dos
permissivos próprios faz-se a partir das premissas fáticas do acórdão proferido, sendo defeso proceder-se a exame
da prova para substituí-las. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo, nos termos do voto do relator
(TSE, AI nº 5646/SP, DJ 28.10.2005, p. 137).

Aliás, evidenciando inexistir irregularidade nessa prática, a transcrita alínea b, I, art. 1.030 do CP C/2015 prevê
expressamente a negativa de seguimento a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade
com entendimento de tribunal superior (STF e STJ) exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos.
Ao aportar no tribunal superior, o recurso especial se submete a novo exame de admissibilidade, que não está
adstrito ao juízo realizado no tribunal de origem.19 Nesse sentido: “1. O fato de o presidente do tribunal a quo, por
ocasião da análise de admissibilidade, adentrar o mérito recursal não importa em preclusão que obste este tribunal de
exercer segundo juízo de admissibilidade, não havendo falar em usurpação de competência [...]” (TSE, AgR-AI nº
206950/CE, DJe, t. 43, 05.03.2012, p. 39).
É irrecorrível a decisão que admite o recurso especial. Mesmo porque ela não preclui, podendo ser revista: i)
pelo próprio órgão do tribunal recorrido que admitiu o recurso, após a apresentação das contrarrazões; ii) pelo
tribunal ad quem, quer seja por ato singular do relator, quer seja pelo órgão colegiado.
Uma vez admitido o recurso especial, “será aberta vista dos autos ao recorrido para que, no mesmo prazo,
apresente as suas razões” (CE, art. 278, § 2º). Protocoladas e juntadas aos autos as contrarrazões, são eles
“conclusos ao presidente, que mandará remetê-los ao tribunal superior” (§ 3º).
Não sendo o recurso admitido, no entanto, a respectiva decisão interlocutória poderá ser questionada no tribunal
superior. Para tanto, é cabível o agravo em recurso especial ou extraordinário, consoante dispõe o art. 1.030, § 1º,
c/c o art. 1.042, caput (primeira parte), do CPC/2015.
Esse agravo foi objeto do Capítulo 6 (item 6.5) desta obra. Cumpre, agora, registrar que seu rito foi pensado à
luz do procedimento recursal comum, próprio do CP C. Neste, como visto, a admissão do recurso especial é
apreciada e decidida após o escoamento do prazo para apresentação de contrarrazões pela parte recorrida. De sorte
que, quando da interposição do agravo, já se encontrarão juntadas as contrarrazões do recurso especial. Entretanto,
não é isso o que ocorre no recurso especial eleitoral, porque o art. 278 do CE dispõe que o juízo de admissibilidade
no REspe é feito antes da abertura de vista à parte para contrarrazões.
Daí a necessidade de que, não sendo o REspe admitido e interpondo o recorrente o agravo em exame, seja o
recorrido intimado também para apresentar contrarrazões no recurso especial eleitoral. De outro modo, se o tribunal
superior der provimento ao agravo, não poderá desde logo passar à apreciação e julgamento do mérito do REspe. E
não poderá julgá-lo porque, se o fizesse, infringiria os princípios do devido processo legal e da ampla defesa, já que
ao recorrido não se teria dado oportunidade para se manifestar acerca do recurso especial eleitoral.
Diga-se, por fim, que, em obséquio à instrumentalidade das formas, sendo tempestivo o recurso, poderá o
tribunal superior desconsiderar eventual vício formal que venha a apresentar “ou determinar sua correção, desde que
não o repute grave” (CPC/2015, art. 1.029, § 3º).

8.5 TRÂMITE DO RESPE NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL


O art. 280 do Código Eleitoral determina que se apliquem “ao tribunal superior as disposições dos artigos 268,
269, 270, 271 (caput), 272, 273, 274 e 275” nele contidas. Esses artigos referem-se à tramitação do recurso eleitoral
no âmbito dos tribunais regionais. Portanto, com as adaptações necessárias, no TSE oiter do recurso especial
assemelha-se ao do recurso eleitoral nos tribunais regionais.
Tão logo cheguem os autos à secretaria do tribunal, deve o recurso ser registrado e distribuído. A distribuição
deve ser feita “na ordem rigorosa da antiguidade dos respectivos membros”. O preterimento dessa formalidade
causa “nulidade de qualquer ato ou decisão do relator ou do tribunal” (CE, art. 269, caput).20
Em seguida, será aberta vista dos autos à Procuradoria-Geral Eleitoral (P GE), que tem o prazo de cinco dias
para se pronunciar (CE, art. 269, § 1º; RITSE, art. 13, c).21
Retornando os autos com o parecer da PGE, serão conclusos ao relator.
Por analogia, observa-se nessa fase o disposto no art. 1.011, I e II, do CP C/2015, pelo que, conclusos os autos
ao relator, este poderá decidir o recurso monocraticamente “nas hipóteses do art. 932, incisos III a V”; não sendo
esse o caso, “elaborará seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado”. Nos termos do aludido
dispositivo:
Art. 932. Incumbe ao relator: [...]
III – não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os
fundamentos da decisão recorrida;
IV – negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for
contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência [...].
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de cinco dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.

Se a hipótese prevista no inciso III desse artigo é eminentemente processual, as demais (incisos IV e V) tocam
o próprio mérito recursal.
O Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral contempla essas hipóteses em seu art. 36, §§ 6º22 e 7º,23
cujas redações foram conferidas pelo art. 1º da Res. TSE nº 20.595/2000. De sorte que nas aludidas hipóteses é
expressamente prevista a possibilidade de o relator decidir por si só os recursos que lhe forem distribuídos.
Note-se que, respeitada a delimitação posta nos citados dispositivos, a decisão monocrática do relator poderá
ter lugar ainda que o objeto do recurso contenha matéria que só possa ser decidida pelo órgão pleno do tribunal com
a presença, na respectiva sessão de julgamento, de todos os membros, a exemplo do que ocorre com a anulação de
eleição e perda de diploma.24 A tal respeito, firmou-se o entendimento de que:

[...] a nova redação do art. 36, §§ 6º e 7º, do RITSE está em consonância com a do art. 557 do Código de Processo
Civil [de 1973; vide art. 932 do CP C de 2015]. Além disso, tem entendido [a Corte Superior Eleitoral] que a
aplicação desses dispositivos regimentais prestigia os princípios da economia e celeridade processuais que norteiam
o Direito eleitoral [...].
O art. 36, § 7º, do Regimento Interno desta corte autoriza o relator a apreciar o mérito do recurso e dar-lhe
provimento, se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal ou de tribunal superior, mesmo que essa decisão singular implique anulação de eleição ou
perda de diploma. A parte irresignada com a decisão poderá interpor agravo regimental, este sim – e é o que
estamos fazendo – deverá ser realizado em conformidade com o disposto no art. 19, parágrafo único, do Código
Eleitoral, vale dizer, com a composição plena da corte (TSE, AgREspe nº 19561/MA,DJ, v. 1, 10.05.2002, p. 184,
excerto do voto da relatora).
Em igual sentido, vide TSE, AAg nº 5282/SP, DJ, v. 1, 03.06.2005, p. 141).

Conforme assinalado alhures, o relator pode se retratar de sua decisão. Essa previsão também consta do § 9º
do art. 36 do RITSE.
Havendo ou não retratação, a decisão singular do relator poderá ser impugnada por agravo interno, que deve
ser endereçado ao órgão colegiado do tribunal superior. O agravo em tela deve ser interposto no prazo de três dias
(CPC/2015, art. 1.021; RITSE, art. 36, § 8º).25
Inexiste a figura do revisor no recurso especial. A esse respeito, o art. 18 do RITSE estabelece que “os
processos serão vistos pelo relator, sem revisão, podendo qualquer dos juízes, na sessão do julgamento, pedir vista
dos autos”. Essa assertiva é corroborada pelo art. 24 do mesmo Regimento, o qual estabelece a ordem em que os
votos devem ser tomados após o debate entre os julgadores; assim, encerrada a discussão, “o presidente tomará os
votos, em primeiro lugar do relator e, a seguir, dos demais membros do tribunal, na ordem da precedência regimental,
a partir do relator, votando em último lugar em todas as matérias”. Como se vê, esse dispositivo não faz alusão ao
revisor, cujo voto, em tese, deve ser proferido logo após o do relator.
Em tal quadro, se o relator der seguimento ao recurso, serão os autos encaminhados à secretaria para inclusão
na pauta de julgamento do tribunal.
Conforme estabelece o art. 12 do CP C/2015, os tribunais devem obedecer preferencialmente à ordem
cronológica de conclusão dos autos para julgamento.26 Ademais, a “lista de processos aptos a julgamento deverá
estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores” (§ 1º).
Na sessão de julgamento, o relator deverá inicialmente apresentar seu relatório. Em seguida, “cada uma das
partes poderá, no prazo improrrogável de dez minutos, sustentar oralmente as suas conclusões” (CE, art. 272, caput;
RITSE, art. 23, caput, primeira parte, art. 36, § 5º).27
Atuando no feito como custos legis, o Procurador-Geral Eleitoral terá o mesmo tempo de sustentação oral
deferido às partes (ou seja: 10 minutos), devendo manifestar-se depois delas. Observe-se que mesmo nos recursos
interpostos por órgão do Ministério Público Eleitoral de 2º grau (isto é, Procuradoria Regional Eleitoral), funcionará o
P GE como fiscal da lei – o que não o impede de recorrer do acórdão, nos termos dos arts. 177, 179 e 996, todos do
novo CPC.
Diferentemente, tendo a demanda sido ajuizada pelo próprio P GE – o que ocorre nas hipóteses de competência
originária do tribunal superior –, sua posição no processo é a de parte-autora. Terá, portanto, os mesmos direitos,
prerrogativas, ônus e deveres conferidos às partes. Em tal caso, na sessão de julgamento no tribunal, fará o P GE
sustentação oral em primeiro lugar, com prazo de 15 minutos (Res. TSE nº 23.478/2016, art. 16, I28).
Encerradas as sustentações orais, inicia-se o julgamento. Se houver alegação de questão preliminar, esta
deve ser enfrentada em primeiro lugar. Sendo ela rejeitada, ou se a apreciação do mérito for com ela compatível,
segue-se, então, à discussão e ao julgamento da matéria principal. No julgamento do mérito, também participam os
juízes que ficaram vencidos na preliminar (CPC, art. 939).
No julgamento, se for constatada a ocorrência de vício sanável, o relator ou o órgão colegiado deve
determinar a realização ou a renovação do ato processual, prosseguindo-se, em seguida, no julgamento do mérito do
recurso (CPC, art. 938, § 1º).
Se não se considerar habilitado para proferir voto na sessão de julgamento, qualquer juiz (inclusive o próprio
relator) poderá solicitar vista dos autos, o que acarreta a suspensão do julgamento (CPC, art. 940).
O Tribunal Superior delibera por maioria de votos, em sessão pública, com a presença da maioria de seus
membros (CE, art. 19, caput). Todavia, em certas hipóteses, a deliberação deve contar com a presença de todos os
ministros. É o que dispõe o parágrafo único do art. 19 do CE:

As decisões do tribunal superior, assim na interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição e cassação de
registro de partidos políticos, como sobre quaisquer recursos que importem anulação geral de eleições ou perda de
diplomas, só poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento de algum juiz,
será convocado o substituto ou o respectivo suplente.

Nas matérias assinaladas nesse dispositivo, o quorum qualificado impõe a presença real e efetiva e o
pronunciamento de todos os membros do tribunal. Todos, portanto, devem presenciar as sustentações orais,
acompanhar os debates e apresentar voto. Nulo será julgamento realizado sem a participação de todos.

1. As decisões do Tribunal Superior Eleitoral que versem matéria constitucional só poderão ser tomadas com a
presença de todos os seus membros (CE, art. 19, parágrafo único). 2. No caso, examinada a violação ao art. 14, §
4º, da CF, impõe-se reconhecer a nulidade do julgamento por não ter sido observada a exigência da composição
plena do colegiado para apreciar o tema. 3. Embargos declaratórios providos a fim de declarar a insubsistência do
acórdão embargado. Decisão: O tribunal, por unanimidade, acolheu os embargos de declaração, com efeitos
modificativos, para anular o acórdão, nos termos do voto do relator (TSE, ED-REspe nº 30465/BA, P SS
11.10.2008).

Não havendo quorum em razão de ausência, impedimento ou suspeição de algum ministro, o ausente, impedido
ou suspeito deverá ser substituído por outro da mesma categoria, designado na forma legal. Portanto, inexiste a
figura de membro ad hoc de tribunal eleitoral. Contudo, não sendo possível convocar substituto ou inexistindo este
(ex.: por falta de designação do órgão competente), poderá o julgamento, excepcionalmente, ser levado a efeito com
o quorum incompleto. Nesse caso, “se deve realizar o julgamento com o quorum possível, segundo a lei” (TSE,
REspe nº 16684/SP, PSS 26.09.2000, excerto extraído da consulta na questão de ordem).
Enquanto não for proclamado o resultado do julgamento pelo presidente da corte superior, poderá o voto ser
alterado, exceto o “já proferido por juiz afastado ou substituído” (CPC/2015, art. 941, § 1º).
Concluído o julgamento, deve o presidente anunciar o resultado; “o relator, se vitorioso, ou o relator designado
para redigir o acórdão, apresentará a redação deste, o mais tardar, dentro em cinco dias” (CE, art. 273, caput). Um
reparo deve ser feito no texto desse dispositivo. É que não há dois relatores no recurso, mas apenas um. Se este
ficar vencido, o membro do colegiado autor do primeiro voto vencedor será designado para redigir o acórdão – trata-
se, portanto, do redator do aresto.
Se houver voto vencido, deve ser declarado, sendo “considerado parte integrante do acórdão para todos os fins
legais, inclusive de pré-questionamento” (CPC, art. 941, § 3º).
Sob pena de nulidade, há mister que o acórdão aprecie todos os fundamentos arguidos pelas partes. Nesse
sentido, dispõe o art. 489, § 1º, IV, do CP C/2015 que não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
inclusive acórdão, que “não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador”.
Por fim, não sendo o caso de publicação em sessão, segue o acórdão para publicação no veículo oficial.

8.6 RECURSO ESPECIAL REPETITIVO


O sistema processual contempla alguns institutos voltados à racionalização da tramitação de processos
envolvendo demandas em massa e direitos coletivos. Objetiva-se sobretudo a celeridade processual, a efetivação da
garantia fundamental de duração razoável do processo, a isonomia e a segurança jurídica. Entre tais institutos,
destaca-se o atinente aos recursos repetitivos.29
Assim, com vistas a racionalizar a tramitação de recursos excepcionais que envolvam inúmeras demandas
contendo basicamente a mesma tese jurídica, os arts. 1.036 a 1.041 do novo CP C regulam o regime dos recursos
especial e extraordinário repetitivos.30 Tem-se em vista a disciplina de demandas repetitivas, assim consideradas
aquelas em que há “multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito”. Pressupõe-se,
portanto, a repetição da mesma questão jurídica em diversos recursos e processos em tramitação no Poder
Judiciário.
A repetitividade das demandas requer a existência não só de identidade da “questão de direito” (ex.: incidência
do mesmo dispositivo legal), como também de semelhanças entre elas respeitantes ao quadro fático que se
apresenta no processo. O procedimento em exame enseja que o tribunal superior enfrente por apenas uma ou
algumas vezes a questão de direito delineada nesse quadro. Como consequência, reduz-se o volume de recursos
com objetos praticamente iguais, mas com idêntica solução jurídica. Respeita-se, com isso, o princípio fundamental
da igualdade e impõe-se eficiência à atividade jurisdicional.
Cabe ao presidente do tribunal de 2º grau recorrido (TJ ou TRF) selecionar dois ou maisrecursos
representativos da controvérsia para fins de afetação, encaminhando-os ao STJ. A tramitação dos demais
processos pendentes, individuais ou coletivos, no estado ou na região, ficará suspensa até que o superior sodalício
julgue os recursos representativos (CPC/2015, art. 1.036, § 1º, in fine). O relator no STJ “também poderá selecionar
dois ou mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente da
iniciativa do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem” (CP C/2015, art. 1.036, § 5º). Em qualquer caso,
“somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente argumentação e discussão a
respeito da questão a ser decidida” (§ 6º).
Uma vez selecionados os recursos a serem afetados, o relator, no tribunal superior, proferirá decisão de
afetação (CP C/2015, art. 1.037, caput). Nessa decisão, será identificada “com precisão a questão a ser submetida
a julgamento”, bem como determinada “a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais
ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional” (incisos I e II).
Os recursos afetados devem ser julgados com “preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que
envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus” (CPC/2015, art. 1.037, § 4º, e art. 1.038, § 2º).
O julgamento deverá ocorrer no prazo de um ano contado da publicação da decisão de afetação (CP C/2015,
art. 1.037, § 4º).
Julgados os recursos afetados e publicado o acórdão paradigma, determina o art. 1.040 do CPC/2015:

I – o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais ou


extraordinários sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do tribunal superior; II – o
órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de competência originária, a remessa
necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do tribunal superior;
III – os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição retomarão o curso para julgamento e
aplicação da tese firmada pelo tribunal superior;
IV – se os recursos versarem sobre questão relativa a prestação de serviço público objeto de concessão, permissão
ou autorização, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente
para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.

A hipótese veiculada no inciso I pressupõe que a tese adotada no acórdão recorrido coincida com a orientação
do tribunal superior, esta firmada no julgamento dos recursos afetados e estampada no acórdão paradigma. Nesse
caso, porque as decisões recorridas não deverão sofrer qualquer alteração, “o presidente ou o vice-presidente do
tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais sobrestados na origem”.
Diferentemente, a hipótese veiculada no inciso II pressupõe que o acór-dão recorrido contrarie a orientação
assentada pelo tribunal superior. Por isso, é determinado ao “órgão que proferiu o acórdão recorrido”, no âmbito do
tribunal de 2º grau, que reexamine “o processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso
anteriormente julgado”. Note-se que no texto legal o verbo é empregado no modo imperativo – “reexaminará”; daí
ser obrigatório o reexame da decisão recorrida com adoção da tese firmada no acórdão paradigma. Para tanto,
deverão os autos (que se encontram sobrestados na presidência ou na vice-presidência do tribunal) ser remetidos
àquele órgão.
Feito o reexame pelo órgão colegiado de origem:

i) o acórdão divergente é mantido, caso em que o recurso especial será remetido ao tribunal superior para que este o
aprecie (CP C/2015, art. 1.041, caput). Nesse caso, poderá o relator, em decisão monocrática, negar ou dar
provimento ao recurso especial, nos termos do art. 932, IV, b, e V, b, do CPC/2015;31
ii) há retratação e alteração do acórdão recorrido, caso em que, determina o § 1º do art. 1.041 do CP C/2015, sejam
resolvidas “as demais questões ainda não decididas cujo enfrentamento se tornou necessário em decorrência da
alteração”;
iii) se o recurso especial versar sobre outras questões, diversas daquelas já assentadas no acórdão paradigma,
serão os autos enviados ao presidente do tribunal para que este, caso o admita, determine sua remessa “ao tribunal
superior para julgamento das demais questões” (CPC/2015, art. 1.041, § 2º).

Já na hipótese do inciso III, os processos suspensos ainda estão em tramitação, não tendo ainda atingido a fase
recursal. Nesse caso, “retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior”.
Finalmente, o inciso IV requer que os recursos versem sobre questão relativa a prestação de serviço público
objeto de contrato de concessão, permissão ou autorização. Nesse caso, o resultado do julgamento deverá ser
comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte
dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada. A hipótese prevista nesse inciso é de difícil ou mesmo impossível
aplicação ao processo eleitoral.
Não há no Direito processual eleitoral previsão de regime de demandas repetitivas.
É certo, porém, que a regulamentação contida no Código de Processo Civil não traz qualquer restrição de
matérias em que tal técnica possa ser empregada.
Embora não se tenha notícia de dados estatísticos, em certas circunstâncias, é alto o número de recursos
especiais eleitorais em que se discute a mesma questão jurídica. Isso ocorre sobretudo em eleições municipais, em
que o acesso ao tribunal superior se dá quase exclusivamente pela via do recurso especial. Como exemplo, figurem-
se as centenas de recursos especiais que têm por objeto idênticas questões jurídicas ligadas a temas, como filiação
partidária, inelegibilidade, prestação de contas.
De lege ferenda, é recomendável que regime semelhante ao exposto seja desenvolvido no âmbito do processo
jurisdicional eleitoral, guardadas, por óbvio, as especificidades dessa seara.
Um primeiro passo nessa direção foi dado pela Res. TSE nº 23.478/2016, cujo art. 20 dispõe:

Art. 20 A sistemática dos recursos repetitivos prevista nos arts. 1.036 a 1.042 do Novo Código de Processo Civil
não se aplica aos feitos que versem ou possam ter reflexo sobre inelegibilidade, registro de candidatura, diplomação
e resultado ou anulação de eleições.

No entanto, embora essa norma não repila de modo absoluto a adoção do regime dos recursos repetitivos, em
muito restringe suas possibilidades na medida em que peremptoriamente determina sua não aplicação “aos feitos que
versem ou possam ter reflexo sobre inelegibilidade, registro de candidatura, diplomação e resultado ou anulação de
eleições”.

1 Sobre as funções da Justiça eleitoral, vide o meu Direito eleitoral. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2015, p. 69 e ss.
2 É pacífico o entendimento de que as decisões de caráter estritamente administrativo dos TREs não são
impugnáveis por recurso especial. Nesse sentido: “Recurso especial. Decisão de natureza administrativa do
TRE/RS. Não cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar recurso especial contra decisão de natureza
estritamente administrativa dos tribunais regionais. Recurso não conhecido. Decisão: Não conhecido o especial.
Decisão unânime” (TSE, REsp nº 11405/RS,DJ 16.08.1996, p. 28133). Exemplos de decisões desse gênero: (i)
concessão de auxílio-alimentação, auxílio-creche, auxílio-transporte a servidor municipal ou estadual requisitado
pela Justiça eleitoral (TSE, REsp nº 25390/PI, DJ 19.03.2007, p. 176); (ii) alteração de função de confiança (TSE,
REsp nº 25836/P B,DJ 19.03.2007, p. 178); (iii) contrato e licitação para aquisição de produtos ou serviços; (iv)
conflitos decorrentes da realização de concurso público; (v) aplicação de sanção disciplinar a servidores; (vi)
procedimento de tomada de contas especial, exceto quanto a contas prestadas por partido político (TSE, AgR-AI
nº 13030/RJ, DJe, t. 180, 25.09.2014, p. 35).
3 São exemplos de decisões de natureza administrativo-eleitoral emanadas de TRE: (i) prestação de contas de
campanha eleitoral; (ii) pedido de registro de candidatura; (iii) decisão em procedimento de tomada de contas
especial realizada pela Justiça eleitoral quanto a contas partidárias (TSE, AgR-AI nº 13030/RJ,DJe, t. 180,
25.09.2014, p. 35).
4 Os atos ou pronunciamentos decisórios dos órgãos judiciais estão enumerados nos arts. 203 e 204 do CP C/2015,
sendo eles: sentença, decisão interlocutória, despacho e acórdão. Sentença “é o pronunciamento por meio do qual
o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 [do CP C/2015], põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
bem como extingue a execução” (CP C/2015, art. 203, § 1º) Decisão interlocutória “é todo pronunciamento
judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º”, ou seja, que não seja sentença (CP C/2015, art. 203, §
2º). Despacho são “todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento
da parte” (CP C/2015, art. 203, § 3º). Por fim,acórdão “é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais” (art.
204). No tocante ao despacho, tradicionalmente entende-se que ele não possui carga decisória. Contra ele, “não
cabe recurso” (CP C/2015, art. 1.001). No entanto, no vigente CP C/2015, autores como Wambieret al. (2015, p.
371) sustentam que o despacho que não seja de mero expediente, ou seja, de mera movimentação processual
(que, inclusive, é praticado por serventuário da Justiça) pode possuir “conteúdo discretamente decisório”.
5 O termo demanda é aqui compreendido como o exercício ou a concretização do direito abstrato de ação, o que se
dá com o protocolo da petição inicial em que se postula um provimento judicial. São elementos que individualizam
a demanda: partes, causa de pedir e pedido. Não se deve, pois, confundir, no texto, “causa” com “causa de pedir”,
pois essa última é um dos elementos caracterizadores (e não sinônimo) da demanda.
6 Há vários dispositivos no CP C/2015 em que o vocábulocausa é empregado como sinônimo de demanda, por
exemplo: art. 12, IX (“a causa que exija urgência no julgamento [...]”), art. 24, parágrafo único (“A pendência de
causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida
para produzir efeitos no Brasil”), art. 42 (“As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de
sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei”), art. 51 (“É competente
o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União”) etc.
7 No CPC/1973, o recurso especial contra decisão interlocutória ficava retido nos autos por força do § 3º do art. 542
daquele Código, que dispunha: “O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos contra decisão
interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos autos e somente
será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão final, ou para as
contrarrazões.” Esse dispositivo era aplicável ao processo jurisdicional eleitoral: TSE, MC nº 1311/SP,DJ
21.06.2004; Ag. nº 4588/SP, DJ 15.10.2004. A não impugnação de decisão interlocutória implicava sua preclusão,
por isso a parte tinha de interpor o recurso especial, sob pena de não poder rediscuti-la em outra oportunidade.
8 No sentido do texto, dispõe a Súmula TSE nº 31: “Não cabe recurso especial eleitoral contra acórdão que decide
sobre pedido de medida liminar.” Vale lembrar que a medida liminar concedida pode ser revogada ulteriormente,
em outra fase do processo, ou ter cessada sua eficácia se o pedido principal for julgado improcedente ou, ainda,
se o processo for extinto sem resolução de mérito (CP C/2015, art. 309, III). Portanto, não se trata de decisão
definitiva.
9 Não era essa a interpretação dos tribunais superiores, que seguia o entendimento consolidado na Súmula 320 do
S T J ,in verbis: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do
prequestionamento.”
10 O citado art. 1.025 do CP C/2015 desautoriza o entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito do
problema exposto, entendimento esse expresso na Súmula 211 daquele sodalício, que reza: “Inadmissível recurso
especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal
a quo.” À luz dessa súmula, não é suficiente a só interposição de embargos declaratórios, sendo condição sine
qua non do recurso especial a real e efetiva apreciação da matéria pelo tribunal recorrido. O prequestionamento
exsurge do julgamento do órgão jurisdicional colegiado, e não da só interposição de embargos declaratórios ou das
razões expostas nessa peça processual. Em outros termos, o debate da questão deve ficar evidenciado no
acórdão do tribunal e não na argumentação presente nas razões dos embargos; a questão, enfim, deve ser
decidida pelo órgão jurisdicional colegiado. Nessa linha de pensamento, se, mesmo depois de provocado por meio
de embargos declaratórios, o tribunal perseverar em não apreciar a questão cuja omissão se questiona, poderá a
parte ingressar com recurso especial com fulcro no inciso I (in fine), § 4º, do art. 121 da Constituição Federal,
arguindo a infringência do art. 275 do Código Eleitoral. Note-se que o objeto desse REspe circunscreve-se tão só
a discutir a violação do art. 275 do CE; de modo que o TSE apreciaria apenas se o tribunala quo infringiu ou não
esse dispositivo legal ao julgar os embargos de declaração, ou seja, se apreciou ou não o alegado vício. O
provimento do pedido formulado nesse REspe implica a anulação do acórdão regional que concluiu pela
inexistência da alegada omissão e, por consequência, rejeitou os embargos. Uma vez anulado o acórdão prolatado
nos embargos declaratórios, os autos devem ser devolvidos à instância regional para que o julgamento seja
retomado, apreciando-se a questão cuja omissão foi antes alegada. Só após essa apreciação é que se poderá
afirmar a existência de prequestionamento. Findo o novo julgamento dos embargos de declaração e publicado o
respectivo acórdão, reinicia-se a contagem do prazo para interposição de recurso especial, desta feita contra o
acórdão principal (integrado pelo acórdão dos embargos). Até essa altura, tal prazo permaneceu interrompido por
força do § 5º do art. 275 do CE.
11 Eis o teor do § 3º, art. 267, CP C/1973: “O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição,
enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a
não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.”
12 Reza o art. 1.031 do CP C/2015: “Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º Concluído o julgamento do recurso
especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado. § 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário,
em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal. § 3º Na
hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade,
devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.”
13 Frise-se que o texto alude ao voto vencido constante do acórdão invocado como paradigma. Vale lembrar que o
art. 941, § 3º, do CP C/2015 determina que o voto vencido seja “declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento”. Mas o voto vencido a que esse dispositivo se
refere é o constante do acórdão impugnado pela parte – consoante salientado, poderá ele ser considerado para
fins de prequestionamento da questão jurídica.
14 A redação desse dispositivo legal é quase igual a do art. 541, parágrafo único, do CP C/1973 (conforme Lei nº
11.341/2006), sendo, ainda, semelhante ao disposto na Súmula 291 do STF. Eis o teor dessa súmula: “No recurso
extraordinário pela letra d do art. 101, III, da Constituição, a prova do dissídio jurisprudencial far-se-á por certidão
ou mediante indicação no Diário da Justiça ou de repertório de jurisprudência autorizado, com a transcrição do
trecho que configure a divergência, mencionadas as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos
confrontados.” Observe-se que esse enunciado foi aprovado na sessão plenária do Supremo ocorrida em
13.12.1963, de maneira que o art. 101, III, d, aí aludido refere-se à Constituição de 1946.
15 Essa afirmação considera que os processos são eletrônicos. Em processos físicos, sendo a petição postada nos
correios, havia se pacificado o entendimento no sentido de que não influi na contagem do prazo o momento em
que ela é postada. Nesse sentido: i) “[...] 3. Segundo a jurisprudência do TSE, a tempestividade da interposição do
recurso é aferida pela data do protocolo em cartório, e não do envio da petição pelo correio. Precedentes [...]”
(TSE, AgR-REspe nº 100004916/RS,DJe, t. 175, 12.09.2012, p. 56-57); ii) “[...] O momento da interposição de
recurso conta-se a partir de sua protocolização no cartório, e não de seu envio pelo correio [...]” (TSE, EREspe nº
22.818/MG, P SS 23.09.2004). Contudo, a tendência é que haja mudança nesse entendimento, à vista do disposto
no § 4º do art. 1.003 do vigente CP C, segundo o qual: “Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo
correio, será considerada como data de interposição a data de postagem”. Consagra-se nesse dispositivo a
compreensão de que à parte não pode ser atribuída responsabilidade por eventual demora (ex.: greve) na entrega.
16 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-
se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.”
17 No sentido do texto, vide Res. TSE nº 23.478/2016, art. 7º, § 1º, que dispõe: “Os prazos processuais, durante o
período definido no calendário eleitoral, serão computados na forma do art. 16 da Lei Complementar nº 64, de
1990, não se suspendendo nos fins de semana ou feriados.”
18 Eis o teor dessa regra: “Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a
presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual: [...]; II – determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a
questão e tramitem no território nacional; [...].”
19 Salvo se se tratar de registro de candidatura, porque aí o primeiro juízo de admissibilidade é feito diretamente pelo
tribunal superior.
20 Registre-se o disposto no art. 14 do RITSE: “Os processos e as petições serão registrados no mesmo dia do
recebimento, na seção própria, distribuídos por classes (art. 15), mediante sorteio, por meio do sistema de
computação de dados e conclusos, dentro em 24 horas, por intermédio do secretário judiciário, ao presidente do
tribunal.”
21 Será, entretanto, de dois dias o prazo para a P GE se manifestar em processos de registro de candidatura (LC nº
64/1990, art. 10, c/c o art. 14).
22 RITSE, art. 36, § 6º: “O relator negará seguimento a pedido ou recurso intempestivo, manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do tribunal, do Supremo
Tribunal Federal ou de tribunal superior.”
23 RITSE, art. 36, § 7º: “Poderá o relator dar provimento ao recurso, se a decisão recorrida estiver em manifesto
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal ou de tribunal superior.”
24 Sobre isso, reza o art. 19 do CE: “O tribunal superior delibera por maioria de votos, em sessão pública, com a
presença da maioria de seus membros. Parágrafo único. As decisões do tribunal superior, assim na interpretação
do Código Eleitoral em face da Constituição e cassação de registro de partidos políticos, como sobre quaisquer
recursos que importem anulação geral de eleições ou perda de diplomas, só poderão ser tomadas com a presença
de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento de algum juiz, será convocado o substituto ou o respectivo
suplente.” Nesse mesmo sentido é o art. 6º do RITSE.
25 Mas esse prazo será de um dia_na hipótese de a lide versar sobre direito de resposta (LE, art. 58, § 5º). Conforme
ressaltado, há julgados do TSE afirmando a incidência do art. 96, § 8º, da Lei nº 9.504/1997 – que prevê prazo
recursal de 24 horas (que é convertido em um dia), exceto se essa própria norma legal prescrever lapso diverso.
Nesse sentido, vide: TSE, AgRp nº 1.350/DF, DJ 11.04.2007, p. 199; AgRp nº 884/DF, DJ 12.09.2006, p. 149.
26 São excluídos dessa exigência: “[...] IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V – o julgamento
de embargos de declaração; VI – o julgamento de agravo interno; VII – as preferências legais e as metas
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que
tenham competência penal; IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada” (CPC/2015, art. 12, § 2º).
27 Conforme salientado anteriormente, é incabível a produção de sustentação oral em julgamento de agravo interno. A
esse respeito, vide: CP C/2015, art. 937; TSE: EAAg nº 2170/BA, DJ, v. 1, 23.09.2005, p. 126; AgR-REspe nº
30649/TO, P SS 02.12.2008; AgR-REspe nº 35642/P R,DJe 24.08.2011, p. 20; AgR-REspe nº 36432/RJ,DJe
18.05.2010, p. 30. Entretanto, se for provido agravo interno interposto contra a decisão monocrática do relator
que, por exemplo, não conheceu ou julgou o mérito do recurso especial, o devido processo legal requer seja
deferida a realização de sustentação oral. Note-se, porém, que em tal caso, a sustentação oral só é viabilizada
com o provimento do agravo para que o recurso especial seja examinado pelo colegiado (TSE – AgR-REspe nº
23554/RS – DJe, t. 196, 15-10-2015, p. 90). Em igual sentido: TSE – AgR-REspeSP E nº 14746/P E –DJe 11-4-
2017, p. 33; TSE – AgR-REspe nº 13021/SP – PSS 19-12-2016. Ou seja: a sustentação é para o recurso especial.
28 Reza esse dispositivo: “Art. 16. Nos Tribunais Eleitorais, o prazo para sustentação oral dos advogados das partes e
do representante do Ministério Público será de: I – 15 (quinze) minutos nos feitos originários (art. 937 do Novo
Código de Processo Civil); [...].”
29 Mencionem-se ainda os seguintes institutos: incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR (CP C/2015,
arts. 976 a 987), súmula vinculante (CF, art. 103-A), súmula impeditiva de recursos (CP C/2015, art. 932, IV,a).
Todos eles visam a agilizar o julgamento de inúmeras demandas – semelhantes ou idênticas – que abarrotam o
Poder Judiciário, tornando a prestação jurisdicional mais célere, útil e confiável.
30 Esse tema foi introduzido no CPC/1973 pela Lei nº 11.672/2008, sendo disciplinado no art. 543-C daquele Código.
31 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 932. Incumbe ao relator: [...]; IV – negar provimento a recurso que for contrário
a: [...]; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a: [...]; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos [...].”
9
RECURSO EXTRAORDINÁRIO

9.1 NOÇÕES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE


A Constituição Federal conferiu ao Supremo Tribunal Federal, em caráter definitivo, a relevantíssima função de
controle jurisdicional de constitucionalidade. Tem-se em vista assegurar a supremacia da Constituição diante das
normas positivadas no sistema jurídico.
Constitucionalidade e inconstitucionalidade são conceitos jurídicos relacionais, referindo-se à conformação de
normas jurídicas (leis e atos normativos) à Constituição. A esse respeito, Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1.093-
1.094) ensinam:

Como anota Jorge Miranda, constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de relação, isto é, “a
relação que se estabelece entre uma coisa – a Constituição – e outra coisa – um comportamento – que lhe está ou
não conforme, que com ela é ou não compatível, que cabe ou não no seu sentido”. Não se cuida, porém, de uma
relação lógica ou intelectiva, adverte o mestre português, mas de uma relação de caráter normativo e valorativo. Em
verdade, é essa relação de índole normativa que qualifica a inconstitucionalidade, pois somente assim logra-se
afirmar a obrigatoriedade do texto constitucional e a ineficácia de todo e qualquer ato normativo contraveniente.
“Não estão em causa – diz Jorge Miranda – simplesmente a adequação de uma realidade a outra realidade, de um
quid a outro quid, ou a descorrespondência entre este e aquele ato, mas o cumprimento ou não de certa norma
jurídica.”

Destarte, pelo controle de constitucionalidade examina-se a adequação de uma norma jurídica à Constituição
Federal.
Quanto à natureza, o controle pode ser político ou judicial. Diz-se político quando exercido por órgão não
integrante do Poder Judiciário, enquanto judicial é o confiado a esse poder. No que concerne ao momento em que é
exercido, pode o controle ser preventivo ou repressivo. Preventivo ou a priori é o ultimado antes que a norma se
aperfeiçoe (ex.: veto presidencial), e o repressivo ou a posteriori é aquele realizado depois do aperfeiçoamento da
norma, o que se dá com o ato de sanção.
Podem-se divisar duas possíveis ocorrências de inconstitucionalidades. Em primeiro lugar, há contradição entre
o conteúdo da lei e a substância da Constituição; é isso o que ocorre, e. g., quando a lei não respeita direitos e
garantias fundamentais consagrados na Constituição. Em segundo lugar, há o desatendimento do modelo previsto
para a elaboração da lei; isso ocorre quando forem infringidos requisitos subjetivos (como a competência do órgão
que editou a norma) e objetivos (como o rito e os prazos do processo legislativo). No segundo caso, assevera
Tavares (2012, p. 229) que “o conteúdo da lei não está em desacordo com a Constituição: apenas seu procedimento
de formação não obedeceu ao procedimento previsto na Constituição”. Enquanto a primeira ocorrência recebe a
denominação de inconstitucionalidade material, substancial ou intrínseca, a segunda é chamada inconstitucionalidade
formal ou extrínseca.
Conhecem-se três sistemas de controle de constitucionalidade, a saber: concreto ou difuso, abstrato ou
concentrado e misto.
O modelo concreto foi desenvolvido pelo constitucionalismo norte-americano a partir da famosa discussão que
se travou na Suprema Corte dos EUA no casoMarbury v. Madison. O controle é exercido pelo Poder Judiciário
no âmbito de determinado processo jurisdicional, portanto à vista de uma lide, de um caso concreto envolvendo
sujeitos processuais bem definidos. Como afirmam Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1.100), por ele é assegurado
“a qualquer órgão judicial incumbido de aplicar a lei a um caso concreto o poder-dever de afastar a sua aplicação se
a considerar incompatível com a ordem constitucional”. Assim, havendo dúvida acerca da constitucionalidade da
norma jurídica invocada pela parte, o juiz a resolverá de forma incidental no próprio processo em que foi suscitada; a
partir da solução apresentada, resolverá a questão principal, isto é, a lide propriamente dita. De sorte que, se o juiz
entender que a norma acoimada é constitucional, aplicá-la-á; do contrário, a repelirá, reafirmando o comando e a
supremacia da norma constitucional.
Já o modelo abstrato é de matriz austríaca, tendo sido delineado pelo jusfilósofo Hans Kelsen. Seu marco
normativo situa-se na Constituição austríaca de 1920, e se difundiu por toda a Europa. Nesse modelo, o controle é
igualmente realizado pelo Poder Judiciário, que atua por um órgão superior próprio, o Tribunal ou Corte
Constitucional. Aqui o controle é feito de maneira direta e em abstrato, i. e., independentemente da existência de lide
ou de um caso concreto a ser solvido – por isso se diz que o controle é por via direta e não incidental. O objeto da
ação é a própria questão constitucional, sendo que o tribunal analisa se a norma jurídica acoimada infringe ou não a
Constituição. Para garantir a supremacia da Constituição, são previstas ações próprias para a discussão da
constitucionalidade e um processo objetivo com perfil e requisitos próprios.
Por fim, o sistema misto de controle de constitucionalidade reúne elementos dos assinalados controles concreto
e abstrato. Segundo Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1.100), em geral, nos modelos mistos “defere-se aos órgãos
ordinários do Poder Judiciário a prerrogativa de afastar a aplicação da lei nas ações e processos judiciais, mas se
reconhece a determinado órgão de cúpula – Tribunal Supremo ou Corte Constitucional – a competência para
proferir decisões em determinadas ações de perfil abstrato e concentrado”.
A Constituição de 1988 acolheu o sistema misto, que é temperado pela experiência histórico-constitucional
brasileira. Como órgão de controle, ao Supremo Tribunal Federal compete, “precipuamente, a guarda da
Constituição” (CF, art. 102, caput). Em obséquio ao sistema abstrato, é delineado um peculiar processo objetivo de
controle de constitucionalidade, que segue normas e regime próprio. Nesse processo objetivo, assinala Tavares
(2012, p. 268), não incidem todos “os princípios constitucionais do processo”; além disso, “os delineamentos gerais
do processo ordinário implementados pela legislação infraconstitucional só poderão ser aproveitados se e na medida
em que forem compatíveis e necessários” – isso porque o “processo de controle abstrato da constitucionalidade não
é nem poderia ser regido pelas mesmas diretrizes ou especificidades do processo comum”. Entre as espécies de
ações relativas ao processo objetivo, figuram: arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADP F), ação
direta de inconstitucionalidade (ADI), ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO), ação declaratória de
constitucionalidade (ADC) e representação interventiva contra ato estadual infringente de princípios sensíveis (CF,
art. 34, VII).1 Já no tocante ao sistema concreto ou difuso, a Lei Maior assegura a todos os juízes e tribunais o
poder de afastar a aplicação in concreto da norma infraconstitucional (CF, arts. 97, 102, III, 121, §§ 3º e 4º, I).
O controle concreto, então, é realizado por qualquer juiz no âmbito de um processo judicial. A questão
constitucional deve ser arguida pelas partes2 ou pelo Ministério Público, ou, ainda, ser levantada ex officio pelo
órgão judicial. O objeto da decisão judicial é a questão constitucional, e esta não coincide com o objeto da ação, isto
é, com a lide. A lide só será decidida após a resolução do incidente.
Na tradição do sistema processual brasileiro, a matéria só chegará ao Supremo Tribunal pela via do recurso
extraordinário. Salienta Tavares (2012, p. 249) que, quando o Excelso Pretório decide esse recurso, insere-se no
contexto do controle difuso concreto, o que significa que também deve “decidir o caso concreto, quer dizer, aplicar
sua decisão sobre a constitucionalidade ou não da lei ou ato normativo no caso que ensejou o recurso extraordinário.
É por isso que o controle ainda é concreto, e não abstrato, nessas circunstâncias”.

9.2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E DIREITO PRÉ-CONSTITUCIONAL


Com a promulgação de uma nova Constituição pela manifestação do Poder Constituinte originário opera-se a
extinção das normas anteriores incompatíveis com o novo ordenamento jurídico. Isso porque, no momento em que a
nova Constituição entra em vigor, o sistema jurídico anterior perde seu fundamento de validade, sendo integralmente
abolido. No entanto, as normas harmônicas com o novo sistema são por ele recebidas – fenômeno denominado
recepção. A Constituição funciona como filtro, pelo qual só passam as normas jurídicas compatíveis com ela, sendo
fulminadas todas as demais.3
Por isso, não há controle de constitucionalidade em relação às normas vigentes no sistema anterior, que foi
abolido. A não recepção de ato estatal pré-constitucional não implica a declaração de sua inconstitucionalidade, mas
o reconhecimento de sua pura e simples revogação (STF, RE 353508 AgR/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello,
DJe 47, de 29.06.2007).
Eventual conflito entre o direito pré-constitucional e a nova Constituição deve ser resolvido à luz dos princípios
de Direito intertemporal. Nesse caso, asseveram Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1.181), “caberia à jurisdição
ordinária, tanto quanto ao STF, examinar a vigência do direito no âmbito do controle incidental de normas, uma vez
que, nesse caso, cuidar-se-ia, na terminologia civilista, de simples aplicação do princípio lex posterior derogat
priori, e não propriamente de um exame de constitucionalidade”.
Deveras, é assente na jurisprudência do Supremo Tribunal a possibilidade de declarar na via incidental “a
incompatibilidade do direito pré-constitucional com a Constituição vigente, quando referida declaração configurar tão
somente a causa de pedir da ação, como se dá no caso dos autos” (STF, RE nº 633195 ED-AgR/SP, 1ª Turma, Rel.
Min. Dias Toffoli, DJe 127, de 29.06.2012 – excerto do voto do relator).
Logo, não é juridicamente possível que o recurso extraordinário tenha por objeto o controle de
constitucionalidade de norma legal positivada em momento anterior à Constituição de 1988.
Tal constatação é especialmente relevante no Direito Eleitoral, porque importantes normas dessa seara são
anteriores à vigente Constituição, bastando lembrar que o Código Eleitoral foi instituído pela Lei nº 4.737, de 15 de
julho de 1965, quando ainda vigorava a Constituição de 1946.
Isso significa que, quanto às normas pré-constitucionais, a decisão emanada do Tribunal Superior Eleitoral tem
caráter definitivo.
Registre-se que, na esfera do controle abstrato de constitucionalidade, eventual controvérsia envolvendo norma
eleitoral pré-constitucional só pode ser levada ao Supremo Tribunal Federal via Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADP F). Instituída no art. 102, § 1º, da Constituição, essa ação situa-se no âmbito do controle
concentrado ou abstrato de constitucionalidade. Entre outras hipóteses, ela terá cabimento “quando for relevante o
fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os
anteriores à Constituição” (Lei nº 9.882/1999, art. 1º, parágrafo único, I).4

9.3 CARACTERIZAÇÃO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


O recurso extraordinário é o instrumento processual que enseja a realização do controle de constitucionalidade
concreto ou difuso. Apresenta natureza excepcional. Sua finalidade imediata é a tutela da Constituição Federal, e
não propriamente de situações jurídicas concretas ou direitos individuais. Assim, só é admissível depois de esgotados
todos os recursos e meios impugnatórios possíveis nas demais instâncias.
Por ele apenas se pode discutir questão de direito (quaestio iuris) de natureza constitucional, sendo vedada a
arguição de direito federal, bem como revisão de fatos e de provas.
Assim, não sendo esse recurso vocacionado para discussão a respeito da existência ou inexistência de fatos ou
do modo como eles ocorreram (quaestio facti), a narrativa fática deve necessariamente encontrar-se resolvida nas
instâncias ordinárias por ocasião de sua interposição.
Note-se, porém, que a questão de direito abrange os fatos da causa. Estes são, na verdade, fatos jurídicos,
pois a aplicação do direito sempre ocorre em relação a fatos. Tanto é assim que o art. 1.029 do CP C determina que
a petição recursal contenha “I – a exposição do fato e do direito; [...]”. Destarte, quando se diz que no recurso em
exame não se pode discutir fatos ou só se pode discutir questão jurídica, o que se quer dizer, na verdade, é que por
ele não se pode alterar a configuração fática estabelecida pelas instâncias ordinárias. Ou seja: no recurso
extraordinário, discute-se apenas os fatos da causa tal qual estabelecidos pelo tribunal recorrido.
Conforme dispõe o art. 102 da Lei Maior, ao Supremo Tribunal Federal compete, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe: “[...] III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade
de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição; d) julgar
válida lei local contestada em face de lei federal”.
Na seara eleitoral, contudo, o recurso em exame encontra-se previsto em outra sede, a saber, na primeira parte
do § 3º do art. 121 da Lei Maior. Por esse dispositivo, “são irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral,
salvo as que contrariarem esta Constituição [...]”. Tal previsão coincide com a da citada alínea a do inciso III do art.
102 da Constituição. Trata-se de ampla fórmula, verdadeira cláusula geral, em que são encerradas as possibilidades
de interposição de recurso extraordinário em matéria eleitoral.
Na esfera infraconstitucional, o art. 281 do Código Eleitoral dispõe, em sua parte inicial, serem “irrecorríveis as
decisões do tribunal superior, salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal”.
Declarar a invalidade de uma norma (lei ou ato) diante da Constituição equivale a afirmar sua contrariedade à Lei
Maior, bem como reconhecer sua inconstitucionalidade. É induvidosa, portanto, a recepção desse dispositivo legal
pela Constituição Federal de 1988.
Vê-se, pois, que no Direito eleitoral o recurso extraordinário só pode ser fundado em argumentos de
contrariedade à Lei Maior. E mais: a transgressão deve ser direta e imediata, pois a infração indireta, reflexa ou
oblíqua não autoriza o manejo desse recurso.
Agravo regimental. Necessidade de apreciação dos fatos e das provas da causa. Ofensa reflexa à Constituição. 1.
O recurso extraordinário não é cabível nos casos em que se impõe o reexame do quadro fático-probatório para
apreciar a apontada ofensa à Constituição Federal. Incidência da Súmula STF 279. 2. Inviável o recurso
extraordinário quando a alegada ofensa à Constituição Federal, se existente, ocorrer de forma reflexa, a depender da
prévia análise da legislação infraconstitucional. 3. Agravo regimental improvido (STF, AI nº 681668 AgR/SP, 2ª
Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 86 de 14.05.2010).

Logo, tem caráter final e definitivo o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral acerca de matéria
infraconstitucional.

[...] Os pronunciamentos jurisdicionais do Tribunal Superior Eleitoral, que se esgotem na esfera do ordenamento
positivo, infraconstitucional, qualificam-se como manifestações revestidas de definitividade, insuscetíveis, em
consequência, de revisão pelo Supremo Tribunal Federal na via recursal extraordinária, cuja instauração pressupõe,
sempre, a ocorrência de conflito direto, imediato e frontal com o texto da Constituição [...] (STF, RE nº 160432/SP,
1ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 06.05.1994, p. 10.494).

Saliente-se que, na via extraordinária, é indiferente que o acórdão do TSE seja pronunciado em única ou última
instância, ou melhor, se decorrente de sua competência recursal ou originária. Relevante é apenas que fira a
Constituição Federal e não seja admissível outro recurso, isto é, que tenha havido o esgotamento das vias ordinárias.
O recurso em exame mereceu específica regulamentação no Código de Processo Civil (arts. 1.029 a 1.035) e
no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF) (arts. 9º, III, e 321 a 329).

9.4 NÃO CABIMENTO DE RE DIANTE DE ACÓRDÃO DE TRE


É incabível recurso extraordinário contra acórdão de tribunal regional eleitoral, ainda que o objeto do julgamento
compreenda ponto ou questão jurídica de natureza constitucional.
No sistema recursal comum: (i) se o acórdão do tribunal de 2º grau (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional
Federal) contiver questão constitucional e legal, a parte sucumbente deve, desde logo, apresentar simultaneamente o
recurso extraordinário e o recurso especial; (ii) se contiver o acórdão recorrido apenas questão constitucional,
deverá a parte sucumbente interpor tão somente o extraordinário; (iii) contendo o acórdão só questão legal, interpor-
se-á apenas o especial.
Apresentados simultânea e separadamente (CP C/2015, art. 1.029,caput), cada um desses recursos deve
atender aos pressupostos e exibir os fundamentos que lhes sejam pertinentes, conforme dispõem os arts. 102, III, e
105, III, da Constituição Federal. Se ambos forem admitidos, suas tramitações são reguladas pelo art. 1.031 do
CPC/2015.5
Diferentemente, no sistema processual eleitoral não se aplica a regra que determina a interposição simultânea
dos recursos especial e extraordinário. Isso porque o recurso extraordinário não é cabível contra decisão de tribunal
regional eleitoral, mas somente em face de aresto do Tribunal Superior Eleitoral. E não é cabível porque uma das
hipóteses autorizadoras do recurso especial eleitoral consiste em o decisum regional infringir disposição expressa da
Constituição (CF, art. 121, § 4º, I, primeira figura). De sorte que o acórdão regional só pode ser impugnado, na via
recursal, pelos recursos ordinário e especial eleitorais.
[...] 1. Contra acórdão de tribunal regional eleitoral somente cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, mesmo
que nele se discuta matéria constitucional. 2. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, inc. I, da
Constituição Federal de 1988, e nos artigos 22, inc. II, e 276, I e II, do Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15.07.1965).
3. No âmbito da Justiça eleitoral, somente os acórdãos do Tribunal Superior Eleitoral é que podem ser impugnados,
perante o STF, em recurso extraordinário (arts. 121, § 3º, e 102, III,a, b e c, da CF). 4. RE inadmitido.
Precedentes. 5. Agravo improvido (STF, AgRg no Ag nº 164.491/MG, 1ª Turma, Rel. Min. Sydney Sanches,DJ
22.03.1996).

A interposição de recurso extraordinário contra acórdão de tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro,
por isso não rende ensejo à aplicação do princípio da fungibilidade recursal, i. e., que o extraordinário aviado seja
admitido como recurso especial.

[...] É firme a orientação desta corte no sentido de que a interposição de recurso extraordinário contra acórdão de
tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro, inviabilizando a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.
Hipótese em que demonstrado o equívoco do agravante em querer dar a recurso extraordinário interposto de decisão
do TRE o mesmo tratamento que é conferido aos extraordinários manejados contra acórdãos de tribunais estaduais
e regionais federais, quando envolvida questão constitucional. Agravo interno a que se nega provimento. Decisão. O
tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI nº
286893/SP, DJe, t. 183, 23.09.2011, p. 22).
Recurso especial. Agravo de instrumento. Agravo regimental. Recurso extraordinário. Interposição. TRE.
Inadmissibilidade. Precedentes do TSE e do STF. Agravo regimental a que se nega provimento. É incabível a
interposição de recurso extraordinário a acórdão dos tribunais regionais eleitorais (arts. 121, § 3º, e 102, III,a, b e c,
da Constituição Federal) (TSE, AgRgAg nº 7.688/RS, DJ 04.08.2008).

Pode acontecer de o mesmo acórdão recorrido infringir de forma direta a Constituição e a lei, contendo, pois,
questão constitucional e legal. Nesse caso, todos os fundamentos devem ser especificamente impugnados no recurso
especial, sob pena de, se assim não se proceder, não ser o recurso admitido. Isso porque, devido à ocorrência de
preclusão temporal em relação ao fundamento não impugnado, com base nele o acórdão recorrido poderia se
manter. Sobre isso, afirma a Súmula TSE nº 26: “É inadmissível o recurso que deixa de impugnar especificamente
fundamento da decisão recorrida que é, por si só, suficiente para a manutenção desta.”

9.5 ADMISSIBILIDADE: REQUISITOS ESPECÍFICOS


Além dos pressupostos recursais comuns a todos os recursos, internos e externos, para que o recurso
extraordinário seja admitido há mister de que sejam atendidos requisitos específicos atinentes ao prequestionamento
e à repercussão geral da questão constitucional suscitada.

9.5.1 Prequestionamento
O instituto do prequestionamento já foi exposto neste texto por ocasião do recurso especial. Em essência, trata-
se da necessidade de haver debate prévio e efetiva manifestação do tribunal recorrido acerca da questão jurídico-
constitucional suscitada no recurso extraordinário.
Tal requisito é expresso de maneira insofismável no texto constitucional, pois o § 3º do art. 121 da CF só admite
a interposição de recurso extraordinário contra “decisões” do TSE. De igual modo, reza o inciso III do art. 102 da
mesma Constituição que o recurso extraordinário “comum” só é interponível diante de “causas decididas”, em única
ou última instância, por órgãos judiciais.
Essa ideia é contida na Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal, que reza: “É inadmissível recurso
extraordinário, quando não ventilada na decisão recorrida a questão federal suscitada.” Observe-se, porém, que pelo
teor da súmula basta que a questão suscitada seja “ventilada na decisão recorrida”, ou seja, que a questão se
apresente no acórdão recorrido. Não é esse efetivamente o sentido das citadas regras constitucionais, que exigem
que a questão constitucional seja decidida e não apenas “ventilada” na decisão impugnada.
Destarte, no recurso extraordinário as razões devem exibir pontos ou questões jurídicas sobre os quais o
tribunal superior tenha decidido. Caso contrário, haverá supressão de instância, sendo incabível o recurso por falta
de manifestação expressa do tribunal recorrido acerca da questão jurídica suscitada.
Conforme salientado alhures, em boa técnica, o prequestionamento não se limita à mera arguição do recorrente,
devendo a matéria ser realmente apreciada no julgado impugnado.
Se o tribunal superior se omitir em relação à questão jurídica arguida, impõe-se a interposição de embargos de
declaração a fim de que a falta alegada seja sanada.
A finalidade dos embargos declaratórios é sempre aclarar ou integrar o acórdão ante a existência de
obscuridade, contradição, omissão ou erro material. Na hipótese de omissão, sua interposição pressupõe que a
questão tenha sido suscitada pela parte em momento anterior (i.e., no recurso para o tribunal a quo) ou, ainda, que
tenha surgido nos debates quando do julgamento do tribunal superior; nesse último caso, a omissão da questão no
texto do acórdão pode ser demonstrada pelas notas taquigráficas ou pela degravação dos debates havidos na sessão
de julgamento. Afinal, só se pode falar em omissão de algo que já tenha sido levado ao debate travado no processo.
Interpostos os embargos, se forem rejeitados sem que a matéria tenha sido efetivamente apreciada, determina o art.
1.025 do CP C/2015 que se considerem “incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
prequestionamento”.
Entretanto, só se pode considerar “incluídas no acórdão” as questões que o embargante suscitou no recurso
interposto perante o tribunal a quo. Deveras, não se pode afirmar tenha havido prequestionamento se a parte não
arguir a questão no recurso interposto perante o tribunal a quo e este, justo por não ter havido arguição, sobre ela
não se pronunciar. Ora, se não houver arguição no recurso sobre a questão, o tribunal não teria mesmo que se
pronunciar sobre ela. Em outros termos: a questão cuja omissão é afirmada e que poderá ser considerada incluída no
acórdão, nos termos do citado art. 1.025 do CP C/2015, não pode surgir pela vez primeira nos embargos
declaratórios.
Esse dispositivo do código processual se harmoniza com o entendimento há muito firmado no Supremo Tribunal
Federal segundo o qual a só interposição de embargos declaratórios é bastante para que a questão constitucional
suscitada seja havida por prequestionada, ainda que a omissão arguida persista, i. e., ainda que o tribunal a quo não
decida a questão cuja omissão se afirma. Essa conclusão é extraída por interpretação contrario sensu da Súmula
356, que dispõe: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser
objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.” Interpretando sua própria súmula,
asseverou o Pretório Excelso:
I. RE: prequestionamento: Súmula 356. O que, a teor da Súmula 356, se reputa carente de prequestionamento é o
ponto que, indevidamente omitido pelo acórdão, não foi objeto de embargos de declaração; mas opostos esses, se
não obstante se recusa o tribunal a suprir a omissão por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da parte,
permitindo-se-lhe de logo interpor recurso extraordinário sobre a matéria dos embargos de declaração e não sobre a
recusa, no julgamento deles, de manifestação sobre ela [...] (STF, RE 334279/PA, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 20.08.2004, p. 50).

A tal respeito, assinala Freitas Câmara (2012, p. 137) que, conquanto não prime pelo rigor técnico (porque não
exige que a questão constitucional objeto do recurso extraordinário seja expressamente decidida para que haja
prequestionamento), essa solução apresenta inegável caráter prático, porque evita idas e vindas desnecessárias do
processo. Deveras, não pode haver dúvida do viés pragmático da interpretação do Supremo, certamente mais
afinada com a premente necessidade de celeridade na prestação jurisdicional. Entretanto, não se pode deixar de
remarcar que ela implica supressão de instância, já que, por se tratar de prequestionamento ficto, o tribunal recorrido
não se terá pronunciado realmente acerca da questão.

9.5.2 Repercussão geral

9.5.2.1 Caracterização da repercussão geral


Prevista no § 3º do art. 102 da Lei Maior (aí incluído pela EC nº 45/2004), a “repercussão geral das questões
constitucionais discutidas no caso” constitui requisito específico de admissibilidade do recurso extraordinário. Por
isso, deve ser evidenciada de maneira “formal e fundamentada” em preliminar das razões recursais, sob pena de o
recurso sequer ser conhecido (CP C/2015, art. 1.035,caput; RISTF, art. 327). Saliente-se não ser bastante expor
julgados da Suprema Corte, dizer ou tão só alegar que há repercussão geral, sendo imperiosa a necessidade de sua
demonstração com fundamentos coerentes e substanciais.
Essa figura jurídica não é novidade no ordenamento brasileiro, pois tem por antecedente a arguição de
relevância da questão federal, conforme previa o § 1º do art. 119 da Constituição de 1967/1969 (com a redação
dada pela EC nº 7, de 1977).
No âmbito infraconstitucional, a repercussão geral é regulada pelo art. 1.035 do CP C/2015. Para esse fim,
“será considerada a existência ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,
que ultrapassem os interesses subjetivos do processo” (§ 1º). É, pois, preciso que haja transcendência da questão
suscitada, ou seja, que ela transcenda ou vá além dos interesses particulares ou subjetivos da parte.
Ademais, segundo dispõe o § 3º do referido art. 1.035: “Haverá repercussão geral sempre que o recurso
impugnar acórdão que: I – contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal; II –
revogado; III – tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da
Constituição Federal.” Nesses casos, a transcendência da questão é já presumida pelo legislador.
A competência para julgar a existência de repercussão geral é exclusiva do Supremo Tribunal Federal
(CPC/2015, art. 1.035, § 2º).
Ao analisar o requisito em tela, poderá ser admitida “a manifestação de terceiros, subscrita por procurador
habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal” (CP C/2015, art. 1.035, § 4º). Tem-se aí
a figura do amicus curiae, amigo da corte (e não das partes), pessoa ou ente com grande interesse na questão
jurídico-constitucional discutida, e sobre ela poderá se manifestar nos autos do processo. Promove-se com isso uma
efetiva abertura no debate constitucional travado no processo,6 o que enseja seu enriquecimento e, pois, maior
aproximação de uma solução justa ou de uma equânime prestação jurisdicional.
Em sua parte final, o § 3º do art. 102 da Lei Maior impera que a existência de repercussão geral só pode ser
recusada “pela manifestação de dois terços” dos membros do Supremo. Como o Pretório Excelso é composto por
onze ministros, dois terços equivalem a 7,3. Esse número fracionário não pode ser arredondado para menos (para 7),
pois isso implicaria admitir quorum inferior ao exigido pela Lei Maior. Logo, a negativa de repercussão geral deve
ser asseverada por pelo menos oito ministros, arredondando-se a fração para o primeiro número inteiro que lhe for
superior. Não se pode deixar de reconhecer que a exigência de tão elevado quorum pode dificultar a rejeição de
recurso extraordinário.
Se a rejeição da repercussão geral requer no mínimo oito votos, isso significa que seu reconhecimento exige a
presença de pelo menos quatro votos. Logo, se houver quatro votos afirmando a existência de repercussão geral e
sete a negando, será ela admitida.
O Supremo Tribunal é composto por duas turmas, contando cada qual com cinco ministros. Assim, a
repercussão geral pode ser reconhecida por quatro dos cinco membros da turma, sendo desnecessário, nesse caso,
que o pleno do tribunal se pronuncie. Mas para sua rejeição não bastam os votos de uma só turma, sendo necessário
que a questão seja remetida à apreciação do plenário.
Com vistas a facilitar a manifestação plenária e superar dificuldades notadamente decorrentes do atendimento
do quorum qualificado exigido para rejeição da repercussão geral, implantou-se no Supremo o modelo de plenário
virtual, que dispensa a reunião do plenário real. Trata-se de sistema eletrônico de votação, operado
individualmente pelos próprios membros do tribunal.
Assim é que, após ser autuado e distribuído o recurso extraordinário, o relator sorteado deve se manifestar
sobre a existência ou não de repercussão geral. Cópia dessa manifestação será, por meio eletrônico, distribuída aos
demais ministros (RISTF, art. 323,caput). Estes, também por meio eletrônico, devem remeter ao relator, “no prazo
comum de vinte dias, manifestação sobre a questão da repercussão geral” (RISTF, art. 324,caput). Decorrido esse
lapso temporal “sem manifestações suficientes para recusa do recurso [ou seja, de pelo menos oito ministros],
reputar-se-á existente a repercussão geral” (§ 1º). Assim, a ausência de manifestações contrárias em número
suficiente gera a presunção de existência de repercussão geral.
Diante disso, infere-se que a repercussão geral: (i) será afirmada se houver manifestações suficientes, isto é,
de no mínimo quatro ministros; (ii) será afirmada se não houver manifestações em número bastante para afastá-la,
isto é, de pelo menos oito ministros – nessa hipótese, em tese, é possível que o número de manifestações expressas
seja inferior a quatro; (iii) será negada se nesse sentido houver manifestações expressas de pelo menos oito
ministros.
As decisões sobre a repercussão geral devem ser sumuladas. Consoante estabelece o § 11 do art. 1.035 do
CPC/2015, a súmula “constará de ata, que será publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão”.
Na hipótese de o Supremo Tribunal já ter se pronunciado acerca da tese arguida, afirmando ou negando a
existência de repercussão geral, a análise dessa poderá ser feita diretamente por sua própria presidência ou pelo
ministro relator sorteado para o recurso extraordinário (RISTF, art. 327,caput, § 1º). Contra a denegatória decisão
singular do presidente ou do relator caberá recurso de agravo (§ 2º).
9.5.2.2 Questões constitucionais reiteradas
No âmbito da repercussão geral, é regulamentada a situação do recurso extraordinário individual que tenha
por fundamento questões constitucionais reiteradas ou repetidas em outros processos em tramitação nas
instâncias inferiores.
Com o individual, não se confundem os recursos extraordinários sob o regime repetitivo , que são regulados
nos arts. 1.036 a 1.041 do CPC/2015, e têm por base demandas em massa e direitos coletivos.
O RE em exame tem caráter individual, ainda que existam outras demandas e recursos (sem caráter repetitivo
ou em massa) em que é discutida a mesma questão jurídico-constitucional. Apesar de possuírem idênticas questões
constitucionais, essas demandas e recursos não são necessariamente classificáveis como demandas em massa ou
coletivas.
Em atenção ao princípio fundamental da isonomia, há mister haver coincidência entre as soluções jurídicas
dadas a questões idênticas. Afinal, para questões essencialmente iguais, não deve haver distintas soluções jurídicas.
Por isso, asseveram Wambier et al. (2015, p. 1.523),

[...] engendrou-se um procedimento diferenciado também para os recursos extraordinários INDIVIDUAIS, em


reconhecimento da situação de que, de rigor, ainda mais agora com a repercussão geral, muito provavelmente aquele
conflito sobre o qual o STF há de se manifestar não é só daquelas partes (A e B), mas se repete para C e D, E e F,
G e H e assim por diante. Preserva-se, assim, a autoridade das decisões do STF – mesmo as proferidasincidenter
tantum –, respeita-se de modo mais contundente a isonomia, gerando-se com isso dois efeitos: (a) Diminuição de
trabalho do Judiciário, com a consequente melhora na qualidade das decisões e na eficiência da prestação
jurisdicional; (b) Cria-se a desejável segurança jurídica, de que somos, lamentavelmente, tão carentes.

O procedimento é traçado nos §§ 5º a 11 do art. 1.035 do CPC/2015.


Uma vez reconhecida a repercussão geral em determinado recurso extraordinário, “o relator no Supremo
Tribunal Federal determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional” (CPC/2015, art. 1.035, § 5º).
Essa decisão tem caráter erga omnes, a todos vinculando.
Enquanto o Supremo não julgar o RE que examina, os demais recursos que versarem sobre a mesma questão
constitucional deverão permanecer sobrestados no tribunal a quo, portanto não sendo remetidos para aquele
sodalício. A decisão específica de sobrestamento é atribuição do presidente ou vice-presidente do tribunal a quo.
Caso algum dos recursos sobrestados seja intempestivo, o § 6º do art. 1.035 do CP C/2015 permite que o
interessado requeira ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem que o exclua da decisão de
sobrestamento e desde logo o inadmita. Contra a decisão de inadmissão cabe o recurso de agravo interno previsto
no § 7º do mesmo art. 1.035 do CPC/2015.7
O recurso que tiver repercussão geral reconhecida deve ser julgado dentro de um ano, prazo esse contado da
decisão que a reconheceu. Para tanto, “terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu
preso e os pedidos de habeas corpus” (CPC/2015, art. 1.035, § 9º).
Julgado o recurso extraordinário e publicado o respectivo acórdão (paradigma), os recursos sobrestados nos
tribunais inferiores retomam seus cursos. Tal qual ocorre no regime dos recursos repetitivos (CP C/2015, art. 1.040),
a solução adotada no acórdão paradigma impõe-se aos recursos que se encontravam suspensos. Assim: i) se a tese
adotada no acórdão recorrido coincidir com a orientação do STF firmada no julgamento do RE, será negado
seguimento ao respectivo recurso sobrestado; ii) se o acórdão recorrido contrariar a orientação assentada pelo STF,
o tribunal a quo terá de reexaminá-lo e fazer as necessárias adequações, inclusive, se for o caso, se retratar.
Por outro lado – sendo negada a existência de repercussão geral –, os recursos extraordinários sobrestados na
origem que versarem sobre matéria idêntica terão seus seguimentos igualmente negados; a decisão de inadmissão é
atribuição do presidente ou vice-presidente do tribunal de origem (CP C/2015, art. 1.035, § 8º). Por óbvio, se o
Pretório Excelso já infirmou a repercussão geral na questão, não faz sentido siga recebendo recursos em que aquela
mesma questão é discutida. A negativa de repercussão geral da questão em um recurso terá efeito geral, atingindo
os demais processos.
Nesse caso, é irrecorrível a decisão de inadmissão do recurso extraordinário proferida pelo presidente ou vice-
presidente do tribunal a quo. Essa decisão tem natureza interlocutória e sua qualidade de irrecorrível funda-se na
ressalva contida no caput do art. 1.042 do CP C/2015. Por esse dispositivo, cabe agravo contra decisão do
presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário, “salvo quando fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral”. Ante a não previsão de recurso específico
para impugnar referida decisão interlocutória, impõe-se o cabimento do mandado de segurança contra ato judicial
(Lei nº 12.016/2009, art. 5º, II, contrario sensu).
Vale ressaltar que o procedimento em apreço é inteiramente aplicável ao recurso extraordinário eleitoral.

9.5.2.3 Repercussão geral em matéria eleitoral


O Supremo Tribunal Federal já apreciou a repercussão geral de diversas questões envolvendo matéria eleitoral.
No quadro seguinte, são apresentadas algumas delas:

Rep.
Tema Tese Paradigma
Geral
061 Constitucional. Eleitoral. Inelegibilidade. Ex-cônjuge de prefeito reeleito. RE Sim
Art. 14, § 7º, da Constituição. Existência de repercussão geral. Questão 568596/MG
relevante do ponto de vista político, social e jurídico (DJe 78, 02.05.2008).
124 Constitucional. Direito eleitoral. Prestação de contas. Cabimento de RE Sim
recurso especial eleitoral. Art. 121, § 4º, da Constituição da República. 825274/DF
Repercussão geral reconhecida. 1. Tem repercussão geral a questão (substitui o
constitucional relativa à delimitação da competência que a Constituição da RE
República outorgou ao Tribunal Superior Eleitoral para examinar recurso 591470/MG)
especial eleitoral (art. 121, § 4º, da Constituição da República), mormente
no que diz respeito à dúvida de seu cabimento nas prestações de contas
de campanhas eleitorais. 2. Relevância jurídica e transcendência de
interesses caracterizados (DJe 206, 31.10.2008).
172 Recurso extraordinário. Eleitoral. Membro do Ministério Público. RE Sim
Recandidatura. Direito adquirido. Direito atual. Ausência de regra de 597994/PA
transição. Preceitos constitucionais. Arts. 14, § 5º, e 128, § 5º, II, e, da
Constituição do Brasil. Ausência de contradição. Situação peculiar a
configurar exceção. Exceção capturada pelo ordenamento jurídico.
Interpretação da Constituição no seu todo [...] (DJe 162, 28.08.2009).
387 Lei Complementar nº 135/2010, denominada Lei da Ficha Limpa. RE Sim
Inaplicabilidade às eleições gerais 2010. Princípio da anterioridade eleitoral 633703/MG
(art. 16 da Constituição da República). I. O princípio da anterioridade
eleitoral como garantia do devido processo legal eleitoral [...]. II. O
princípio da anterioridade eleitoral como garantia constitucional da
igualdade de chances [...]. III. O princípio da anterioridade eleitoral como
garantia constitucional das minorias e o papel da jurisdição constitucional
na democracia [...]. IV. Recurso extraordinário conhecido e provido.
Recurso extraordinário conhecido para: a) reconhecer a repercussão geral
da questão constitucional atinente à aplicabilidade da LC 135/2010 às
eleições de 2010, em face do princípio da anterioridade eleitoral (art. 16
da Constituição), de modo a permitir aos tribunais e turmas recursais do
País a adoção dos procedimentos relacionados ao exercício de retratação
ou declaração de inadmissibilidade dos recursos repetitivos, sempre que
as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora
firmada; b) dar provimento ao recurso, fixando a não aplicabilidade da Lei
Complementar nº 135/2010 às eleições gerais de 2010 (DJe 219,
18.11.2011).
534 Recurso representativo da controvérsia. Prazo para ajuizamento de ARE Sim
representações fundadas em doações para campanhas eleitorais acima 664575/AM
do limite legal. Aplicação do prazo de decadência de 180 dias com
fundamento no art. 32 da Lei nº 9.504/1997. Necessidade de preservar
a licitude do processo eleitoral por meio da fiscalização efetiva das contas
de campanha. Repercussão geral reconhecida (DJe 118, 18.06.2012).
564 Recurso extraordinário. Repercussão geral. Reeleição. Prefeito. RE Sim
Interpretação do art. 14, § 5º, da Constituição. Mudança da 637485/RJ
jurisprudência em matéria eleitoral. Segurança jurídica. I. Reeleição.
Municípios. Interpretação do art. 14, § 5º, da Constituição. Prefeito.
Proibição de terceira eleição em cargo da mesma natureza, ainda que em
município diverso. [...] Decisão: O tribunal, por unanimidade, reconheceu
a repercussão geral das questões constitucionais. Em seguida, o tribunal,
por maioria e nos termos do voto do relator, deu provimento ao recurso
e julgou inaplicável a alteração da jurisprudência do Tribunal Superior
Eleitoral quanto à interpretação do § 5º do artigo 14 da Constituição
Federal nas eleições de 2008 [...] (DJe 95, 21.05.2013).
586 Repercussão geral. Servidor público. Gratificação. Escrivães eleitorais. Lei AI Não
8.868/1994. Lei nº 9.421/1996 e Resolução nº 19.784/1997 do TSE. 855810/RS
Exigência de lei em sentido formal para fixar o valor das gratificações
mensais pagas a chefes de cartório e escrivães eleitorais. Matéria
infraconstitucional. Precedentes da corte. Inexistência de repercussão
geral (DJe 80, 30.04.2013).
678 Apresenta repercussão geral o recurso extraordinário em que se RE Sim
questionam o sentido e o alcance da restrição ao direito de elegibilidade 758461/PB
de que trata o art. 14, §§ 5º e 7º, da Constituição Federal e a Súmula
Vinculante 18, notadamente em casos em que a dissolução da sociedade
conjugal decorre não de ato de vontade, mas da morte de um dos
cônjuges (DJe 226, 18.11.2013).

680 Recurso extraordinário. Eleitoral. Legitimidade do Ministério Público para ARE Sim
recorrer de decisão que defere registro de candidatura, ainda que não 728188/RJ
haja apresentado impugnação ao pedido inicial. Repercussão geral.
Existência. Decisão: O tribunal, por maioria, reputou constitucional a
questão [...]. O tribunal, por maioria, reconheceu a existência de
repercussão geral da questão constitucional suscitada [...] (DJe 206,
17.10.2013).

731 I – A controvérsia sobre a necessidade de serem aprovadas as contas ARE Não


de campanha para a obtenção da certidão de quitação eleitoral é matéria 728181/RJ
infraconstitucional. II – O tema carece de repercussão geral, conforme
decidiram os ministros desta corte ao analisar o RE 728.181-RG/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio. III – Agravo regimental a que se nega provimento
(DJe 111, 10.06.2014).
860 A condenação por abuso de poder econômico ou político em ação de RE Sim
investigação judicial eleitoral transitada em julgado, ex vi do art. 22, XIV, 929670/DF
da Lei Complementar n. 64/1990, em sua redação primitiva, é apta a
atrair a incidência na inelegibilidade do art. 1º, I, alínea d, na redação
dada pela Lei Complementar n. 135/2010, aplicando-se a todos os
processos de registro de candidatura em trâmite.
974 Saber se é possível haver candidaturas avulsas, independente de filiação ARE Sim
partidária, para pleitos majoritários (CF, art. 14, § 3º). 1054490/RJ

9.6 INTERPOSIÇÃO
O recurso deve ser interposto por petição dirigida ao Presidente do TSE (CE, art. 281, § 1º), a qual deve ser
acompanhada das razões respectivas. Podem as razões ser lançadas na própria petição recursal ou em peça
apartada, como é da tradição da cultura forense brasileira. Nos termos do art. 1.029 do CP C/2015, essa peça deve
conter: “I – a exposição do fato e do direito; Il – a demonstração do cabimento do recurso interposto; III – as razões
do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida”. Outrossim, deve indicar o juízo ad quem, bem como
exibir os nomes das partes (que já estarão qualificadas nos autos) e a “indicação do dispositivo” que autorize a
interposição do recurso (RISTF, art. 321, caput).
Nas razões é preciso que se fundamente o cabimento do RE e se exponham os motivos de sua admissibilidade.
Conforme ressaltado anteriormente, em preliminar, há mister de que o recorrente demonstre a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso.

9.7 PRAZO DE INTERPOSIÇÃO


O prazo para interposição de RE eleitoral é de três dias, conforme expressa o texto do art. 281,caput, do CE.
Deve ser contado da publicação do acórdão. Nesse diapasão, reza a Súmula 728 do STF:

É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral,
contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de julgamento, nos termos do art.
12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei 8.950/1994.8

Em certas situações, o acórdão do TSE é publicado na própria sessão de julgamento. É isso que ocorre,e. g.,
em processos de registro de candidatura. Em tais casos o marco inicial do prazo recursal será a própria sessão de
julgamento. Se forem opostos embargos declaratórios, o curso do prazo para interposição de RE será interrompido
(CE, art. 275, § 4º), reiniciando-se com a publicação do acórdão na sessão que julgar os embargos.
Além disso, o art. 94, § 5º, da LE, prevê a intimação “dos advogados dos candidatos ou dos partidos e
coligações” por meio de publicação de edital ou mural eletrônico veiculado na página do respectivo tribunal na
internet, caso em que a contagem do prazo inicia-se no dia seguinte ao da divulgação do edital.9

9.8 EFEITOS
Diante de sua natureza excepcional, o recurso extraordinário não é dotado de efeito suspensivo (CPC/2015, art.
995; RISTF, art. 321, § 4º).
Excepcionalmente, para obter efeito suspensivo, há mister que o recorrente o pleiteie junto ao órgão judicial
competente. Sobre isso, dispõe o § 5º do art. 1.029 do CP C/2015 que o pedido de concessão de efeito suspensivo a
recurso excepcional poderá ser formulado por requerimento dirigido:

I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e
sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;
II – ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso
e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos
do art. 1.037.

Extrai-se, pois, que o pedido de suspensão pode ser pleiteado junto ao tribunal recorrido em duas situações: i)
se for formulado no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da respectiva decisão de
admissão;10 ii) no regime de recurso repetitivo relativamente aos processos que se encontram suspensos por força
do art. 1.037, II, do CP C/2015.11 Fora desses casos, deve ser dirigido ao tribunal ad quem, notadamente ao relator,
se o recurso já tiver sido distribuído.
De sorte que deve o RE ser recebido no efeito devolutivo, que, em diferentes medidas, é comum a todos os
recursos. Frise-se, porém, que no RE não há transferência de matérias fática e probatória. Há mister de que fatos e
provas sejam assentados nas instâncias ordinárias (isto é, na 1ª e 2ª instâncias), sendo vedado seu revolvimento na
seara extraordinária. A rediscussão de tais matérias é vetada ainda que por via indireta, oblíqua ou reflexa. Nesse
sentido, impera a Súmula 279 do STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”12
Note-se, porém, que é permitido o reenquadramento jurídico de fatos considerados provados nas instâncias
ordinárias.

9.9 TRÂMITE NO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL


O recurso extraordinário eleitoral deve ser interposto perante o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Sua
tramitação nesse tribunal é regulada pelos arts. 280 e 281 do Código Eleitoral. Vale registrar que o anteriormente
transcrito art. 1.030 do CPC/2015 também dispõe sobre a tramitação de recurso extraordinário no tribunal recorrido.
Ultimada a juntada da petição de interposição do recurso extraordinário eleitoral, devem os autos ser conclusos
ao presidente do TSE, que deverá proferir decisão, admitindo ou não o recurso (CE, art. 281, § 1º). Embora sucinta,
a decisão presidencial deve ser fundamentada.
Admitido o recurso, será aberta vista dos autos à parte recorrida para que, no mesmo prazo de três dias,
apresente contrarrazões (CE, art. 281, § 2º).
Em seguida, serão os autos remetidos ao Supremo Tribunal (CE, art. 281, § 3º).
Conquanto possa ser revisto ex officio no Supremo, é irrecorrível a decisão do presidente do TSE que admite
recurso extraordinário.
A decisão que não o admite, no entanto, é passível de recurso. Para tanto, é cabível o agravo em recurso
extraordinário, consoante dispõe o art. 1.030, § 1º, c/c o art. 1.042, caput (primeira parte), do CPC/2015.
Esse agravo foi objeto do Capítulo 6 (item 6.5) desta obra. Cumpre agora registrar que seu rito foi pensado à
luz do procedimento recursal comum, próprio do CP C. Neste, como visto, a admissão do recurso extraordinário é
apreciada e decidida após o escoamento do prazo para apresentação de contrarrazões pela parte recorrida. De sorte
que, quando da interposição do agravo, já se encontrarão juntadas as contrarrazões do recurso extraordinário.
Entretanto, não é isso o que ocorre no recurso extraordinário eleitoral, porque pelo art. 281, § 2º, do CE o juízo de
admissibilidade no RE é feito antes da abertura de vista à parte para contrarrazões.
Daí a necessidade de que, não sendo o RE admitido na origem e interpondo o recorrente o agravo em exame,
seja o recorrido intimado também para apresentar contrarrazões ao recurso extraordinário. De outro modo, se o
Pretório Excelso der provimento ao agravo, não poderá desde logo passar à apreciação e julgamento do mérito do
RE. E não poderá julgá-lo porque, se o fizesse, infringiria os princípios do devido processo legal e da ampla defesa, já
que ao recorrido não se teria dado oportunidade para se manifestar acerca do recurso extraordinário.
Por fim, em obséquio à instrumentalidade das formas, sendo tempestivo o recurso extraordinário, poderá o
Supremo desconsiderar eventual vício formal que venha a apresentar, “ou determinar sua correção, desde que não o
repute grave” (CPC/2015, art. 1.029, § 3º).
9.10 TRÂMITE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
A tramitação do recurso extraordinário no Supremo Tribunal Federal se dá em conformidade com o disposto
em seu Regimento Interno, norma que contém regras específicas em seus arts. 321 a 329 e outras dispersas em seu
texto.
Antes do julgamento, o Ministério Público deve ter vista dos autos para se manifestar em quinze dias (RISTF,
arts. 50, § 1º, e 52, I; CPC/2015, arts. 178, I).

9.11 EFICÁCIA DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


No âmbito do controle abstrato de constitucionalidade não há conflito intersubjetivo de interesses (lide) a ser
resolvido. O objeto da demanda é a própria questão constitucional. O que está em causa, então, é a adequação da
norma inquinada à letra e ao espírito da Constituição. Nesse caso, a decisão do Pretório Excelso goza de eficácia
erga omnes, por si só espraiando seus efeitos para o futuro e em relação a toda a sociedade.
Diferentemente, no controle incidental ou concreto de constitucionalidade a decisão do Supremo Tribunal
acolhendo o pedido recursal gera efeitos inter partes. Limita-se, portanto, aos sujeitos da relação processual. No
julgamento, o tribunal resolve a questão incidente de constitucionalidade e, em seguida, faz incidir no caso concreto
que ensejou a interposição do recurso extraordinário o entendimento firmado.
Põe-se em destaque, no entanto, a decisão incidental, cujo objeto é a questão constitucional. É nela que o
tribunal afirma a incongruência entre a norma ou o ato inquinado e a Lei Maior.
À luz da racionalidade pressuposta no Direito, não faz nenhum sentido que uma norma jurídica – que por
definição deve ser geral e abstrata – seja inválida (inconstitucional) para a pessoa que é parte no processo, e válida
(constitucional) para todos os demais integrantes da comunhão social. Se isso ocorresse, haveria por certo grave
violação ao princípio lógico do terceiro excluído , segundo o qual ou “A” é verdadeiro ou “A” é falso, sendo
impossível uma terceira hipótese em que “A” seja simultaneamente verdadeiro e falso.
A fim de afastar essa incoerência e impedir a infringência ao princípio da isonomia, prevê a Constituição um
mecanismo específico para conferir eficácia erga omnes à decisão que declara incidentalmente a
inconstitucionalidade de uma norma. Para tanto, há mister de que o supremo tribunal faça comunicação ao Senado a
fim de que este suspenda, no todo ou em parte, sua execução (CF, art. 52, X). A esse respeito, observa Tavares
(2012, p. 411) que o “Senado Federal ocupa importante função neste contexto, na medida em que atua para conferir
às decisões do STF, proferidas em âmbito incidental, a desejável eficácia erga omnes”.
A rigor, a necessidade de o Senado editar regra suspensiva da eficácia da norma declarada inconstitucional não
coaduna com a concepção de invalidade dos atos jurídicos. Isso porque, em Direito, a invalidação de qualquer ato o
priva de produzir efeitos jurídicos, e essa privação pode se dar ex tunc (desde a edição do ato) ou ex nunc (a partir
da decisão invalidatória) conforme o caso. Considerando que o Senado não pode rever o mérito do julgamento (i. e.,
a afirmação de inconstitucionalidade do ato normativo que, pela teoria tradicional, equivale à sua invalidação), o ato
do STF só por si já seria bastante para sustar a eficácia da norma declarada inconstitucional.
Na verdade, à luz da teoria do ato jurídico – notadamente a que o analisa sob a tríplice dimensão de existência,
validade e eficácia –, o ato do Senado tem natureza de fator de eficácia, não sendo ele, em si mesmo, constitutivo
da invalidação.
Para que efetivamente gere resultados no plano fático, um ato pode depender da ocorrência de determinados
eventos ou fatores que lhe sejam extrínsecos ou externos, denominados fatores de eficácia. Embora não integrem
nem participem do ato, tais fatores propiciam o alcance do resultado almejado. Conforme salientei em outra obra:

Os fatores de eficácia consubstanciam-se em contributos necessários para a ocorrência de determinado resultado.


O fator não integra a estrutura do ato (se a integrasse, seria elemento dele, não um fator), tampouco é requisito ou
pressuposto de sua ocorrência, mas concorre para que ele atinja o resultado a que se encontra preordenado; ou seja,
concorre para que se produzam os efeitos perseguidos e queridos pelos instituidores do ato. Há fatores cuja
ocorrência atribui ou confere eficácia ao ato (fatores atributivos de eficácia) e existem outros cuja ocorrência lha
retiram.
Perfeito e completo é o ato jurídico que, existindo validamente, seja também plenamente eficaz, isto é, gere efetiva
ou potencialmente os efeitos para os quais foi concebido (Gomes, 2012b, p. 32, 39).

Nesse quadro, ao Senado é reservada a relevante função de certificar a declaração emanada do Supremo
Tribunal, ficando a eficácia (erga omnes) invalidante da decisão do Supremo, a depender dessa certificação e
respectiva publicação no órgão oficial. A eficácia invalidante emana diretamente do decisum do Excelso Pretório
que reconhece a inconstitucionalidade da norma legal inquinada, mas essa eficácia fica paralisada enquanto não é
editado o ato do Senado.
De lege lata, discute-se se a Câmara Alta tem ou não a obrigação de editar ato suspendendo a lei declarada
inconstitucional pelo STF, se se trataria de ato vinculado ou discricionário, se poderia haver suspensão apenas em
parte da norma. Quanto a isso, assevera Fernandes (2011, p. 924) que o Senado “terá a discricionariedade para
suspender a Lei que o STF declara inconstitucional em controle difuso”, não sendo, portanto, obrigado a tanto.
Em sentido oposto, afirmando ser obrigatório para o Senado a edição do referido ato, ressalta Ferreira Filho
(2005, p. 43):

Nas hipóteses de controle difuso, a decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal é por este comunicada ao
Senado Federal. Cabe, então, a esta Câmara suspender a execução do ato, o que significa suspender-lhe a eficácia.
Note-se que essa suspensão não é posta ao critério do Senado, mas lhe é imposta como obrigatória. Quer dizer, o
Senado, à vista da decisão do Supremo Tribunal Federal, tem de efetuar a suspensão da execução do ato
inconstitucional. Do contrário, o Senado teria o poder de convalidar ato inconstitucional, mantendo-o eficaz, o que
repugna ao nosso sistema jurídico.

Sob a luz do atual sistema jurídico-constitucional, no entanto, tem-se sustentado a mutação de sentido do art. 52,
X, da Lei Maior. Nessa linha de interpretação, a comunicação ao Senado deve ser feita apenas para que a
suspensão da norma seja publicada no Diário do Congresso, e não para que ela seja real e efetivamente suspensa.
Isso porque a suspensão da norma declarada inconstitucional pelo Pretório Excelso já constitui consequência do
próprio julgamento. Essa interpretação resulta das inúmeras situações concretas em que se reconhece eficácia erga
omnes às decisões do Supremo Tribunal, bem como do papel do instituto da súmula vinculante e da eficácia das
decisões judiciais em processos coletivos, como mandado de segurança coletivo e ação civil pública. Trata-se, pois,
de interpretação de cariz sistêmico. A tal respeito, obtemperam Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1208):

Parece legítimo entender que a fórmula relativa à suspensão de execução da Lei pelo Senado Federal há de ter
simples efeito de publicidade. Dessa forma, se o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle incidental, chegar à
conclusão, de modo definitivo, de que a lei é inconstitucional, essa decisão terá efeitos gerais, fazendo-se a
comunicação ao Senado Federal para que publique a decisão no Diário do Congresso. Tal como assente, não é
(mais) a decisão do Senado que confere eficácia geral ao julgamento do Supremo. A própria decisão da Corte
contém essa força normativa. Parece evidente ser essa a orientação implícita nas diversas decisões judiciais e
legislativas acima referidas. Assim, o Senado não terá a faculdade de publicar ou não a decisão, uma vez que não
cuida de decisão substantiva, mas de simples dever de publicação, tal como reconhecido a outros órgãos políticos em
alguns sistemas constitucionais (Constituição austríaca, art. 140, 5, publicação a cargo do Chanceler Federal, e a Lei
Orgânica da Corte Constitucional alemã, art. 31, 2, publicação a cargo do Ministro da Justiça). A não publicação não
terá o condão de impedir que a decisão do Supremo assuma a sua real eficácia.
Essa solução resolve de forma superior uma das mais tormentosas questões da nossa jurisdição constitucional.
Superam-se, assim, também as incongruências, cada vez maiores, entre a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal e a orientação dominante na legislação processual, de um lado, e, de outro, a visão doutrinária ortodoxa e –
permita-nos dizer – ultrapassada do disposto no art. 52, X, da Constituição de 1988.
Ressalte-se que a eclosão da súmula vinculante reforça a ideia de superação do art. 52, X, da CF, na medida em que
permite aferir a inconstitucionalidade de determinada orientação pelo próprio tribunal sem qualquer interferência do
Senado Federal.

De qualquer sorte, a suspensão da norma ou de sua eficácia não implica sua revogação. A revogação só se dá
por ato emanado do mesmo órgão que a produziu. Deveras, a Lei Maior não conferiu ao Judiciário ou a uma só das
Casas do Congresso poderes revogatórios de normas emanadas de outros órgãos.
Debate-se, ainda, acerca da retroatividade ou não do ato suspensivo emanado do Senado. Classicamente se
entende que a decisão do STF tem natureza declaratória, limitando-se a declarar a nulidade da norma inquinada,
sendo sua eficácia ex tunc, ou seja, opera retroativamente. Por isso, o ato do Senado também seria dotado de
eficácia retroativa. Atualmente, porém, tem-se esboçado entendimento no sentido de que o ato senatorial tem efeito
ex nunc, ou seja, para o futuro. É o que informa Fernandes (2011, p. 923), segundo quem, hoje, o “[...] entendimento
levemente majoritário na doutrina (José Afonso da Silva, Lenio Streck, Alexandre de Moraes, Ana Cândida da
Cunha Ferraz, Regina Macedo Nery Ferraz, Marcelo Cattoni, Nagib Slaibi Filho, entre outros) é que os efeitos
devem ser ex nunc (não retroativos) [...]”. Isso porque – prossegue o autor – “o Senado não poderia julgar, e, se os
efeitos são ex tunc, ele estaria julgando, sendo que a resolução apenas suspende a execução da lei, e
definitivamente não declara a sua inconstitucionalidade”.

9.12 RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS REPETITIVOS


No regime dos recursos repetitivos, é previsto um único procedimento para o recurso extraordinário e para o
recurso especial. Tal procedimento é traçado nos arts. 1.036 a 1.041 do CPC/2015.
Para se evitarem repetições desnecessárias, mutatis mutandis reitera-se aqui o que foi expresso
anteriormente, no item relativo ao recurso especial repetitivo.

9.13 SÚMULAS DO STF SOBRE RECURSO EXTRAORDINÁRIO


Há diversas súmulas do Supremo Tribunal Federal versando o recurso extraordinário.
A seguir são arrolados enunciados de súmulas, sendo a maioria pertinente a temas envolvendo a admissibilidade
do recurso em exame.
Súmula 279: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”
Súmula 281: “É inadmissível o recurso extraordinário quando couber na Justiça de origem recurso ordinário da
decisão impugnada.”
Súmula 282: “É inadmissível recurso extraordinário quando não ventilada na decisão recorrida a questão federal
suscitada.”
Súmula 283: “É inadmissível o recurso extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de um
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.”
Súmula 284: “É inadmissível o recurso extraordinário quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia.”
Súmula 285: “Não sendo razoável a arguição de inconstitucionalidade, não se conhece do recurso extraordinário
fundado na letra c do art. 101, III, da Constituição Federal.”
Súmula 286: “Não se conhece do recurso extraordinário fundado em divergência jurisprudencial quando a
orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal já se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.”
Súmula 292: “Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos indicados no art. 101, III, da
Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos outros.”
Súmula 322: “Não terá seguimento pedido ou recurso dirigido ao Supremo Tribunal Federal, quando
manifestamente incabível, ou apresentado fora do prazo, ou quando for evidente a incompetência do tribunal.”
Súmula 356: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser
objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.”
Súmula 400: “Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza recurso
extraordinário pela letra a do art. 101, III, da Constituição Federal.”
Súmula 456: “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o
Direito à espécie.”
Súmula 636: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade,
quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão
recorrida.”
Súmula 728: “É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra decisão do Tribunal
Superior Eleitoral, contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de julgamento,
nos termos do art. 12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei 8.950/1994.”
Súmula 735: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar.”

1 Essas ações foram expostas e amplamente discutidas por Tavares (2012, p. 312-360) e Mendes e Gonet Branco
(2012, p. 1.167, 1.221-1.356).
2 Consoante observa Tavares (2012, p. 362), faz-se depender do particular o desencadeamento de um controle da
legitimidade constitucional das leis em geral, para a tutela dos direitos constitucionais, especialmente os humanos
fundamentais. Em verdade, há “uma subjetivação no sistema ou, se se quiser, uma humanização, considerando-se
mesmo que o Direito está posto não para atender aos problemas abstratamente colocados. O Direito está a
serviço do indivíduo, do Homem, e o controle concreto é aquele que mais bem representa essa ideia”.
3 Pode-se vislumbrar nesse fenômeno uma forma de novação. No Direito das obrigações, a novação constitui uma
forma de extinção da obrigação sem pagamento, na qual se apresentam duas forças: uma extintiva e outra
geradora. Extingue-se uma dívida e no mesmo ato outra, nova, é constituída. Diz-se, então, que a dívida antiga foi
novada. Transportando-se a lógica desse instituto para a presente situação, tem-se que todas as normas do
ordenamento anterior são extintas, renascendo, porém, com idêntico teor, as que estiverem em consonância com a
nova Constituição. A esse respeito, ressalta o jusfilósofo Kelsen (2000, p. 172) que “a nova ordem recebe, i. e.,
adota normas da velha ordem; isso quer dizer que a nova ordem dá validade (coloca em vigor) às normas que
possuem o mesmo conteúdo que normas da velha ordem [...]”. A validade das normas recepcionadas passa a
fundar-se na nova Constituição, já que a antiga encontra-se extinta.
4 O art. 102, § 1º, da Constituição foi regulamentado pela Lei nº 9.882/1999. Dispõe o art. 1º, parágrafo único, I,
dessa norma: “Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o
Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do
Poder Público. Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental: I –
quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal, incluídos os anteriores à Constituição [...].”
5 Dispõe o art. 1.031 do CP C/2015: “Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º Concluído o julgamento do recurso
especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado. § 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário,
em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal. § 3º Na
hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade,
devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.”
6 Segundo o art. 5º da Res. TSE nº 23.478/2016: “Não se aplica aos feitos eleitorais o instituto do Amicus Curiae de
que trata o art. 138 da Lei nº 13.105, de 2015.” Entretanto, não houve qualquer referência ao citado art. 1.035, §
4º, do CP C, que é especial em relação à regra do art. 138. Pode-se, pois, concluir que, se a vedação posta
naquela Resolução incide nas ações eleitorais em geral, não alcança, porém, a análise da repercussão geral no
Recurso Extraordinário.
7 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 1.035 [...]. § 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que
aplicar entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá
agravo interno.”
8 A Lei nº 6.055, de 17.06.1974, entre outras coisas, estabelece regras para as eleições de governador e vice-
governador realizadas naquele ano. Já a Lei nº 8.950, de 13.12.1994, altera dispositivos do CP C de 1973 relativos
a recursos.
9 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 94, § 5º Nos Tribunais Eleitorais, os advogados dos candidatos ou dos partidos e
coligações serão intimados para os feitos que não versem sobre a cassação do registro ou do diploma de que trata
esta Lei por meio da publicação de edital eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na internet,
iniciando-se a contagem do prazo no dia seguinte ao da divulgação.”
10 No ponto, vale destacar o teor da Súmula 634 do STF, que reza: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de
admissibilidade na origem.” Por outro lado, reza a Súmula 635 daquele mesmo tribunal: “Cabe ao presidente do
tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de
admissibilidade.”
11 Eis o teor dessa regra: “Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a
presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual: [...]; II – determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a
questão e tramitem no território nacional [...].”
12 Em idêntico sentido é a Súmula TSE nº 24: “Não cabe recurso especial eleitoral para simples reexame do conjunto
fático-probatório”. E também a Súmula 7 do STJ,in verbis: “A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial.”
10
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

Os embargos de divergência têm por objetivo harmonizar dissensões na interpretação do Direito exarada pelos
órgãos integrantes dos tribunais de sobreposição, nomeadamente o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo
Tribunal Federal. Pressupõem a ocorrência de divergência de interpretação de questão jurídica quando uma decisão
de órgão fracionário do tribunal discrepar de outra, do mesmo tribunal, esta denominada paradigma.
São previstos nos arts. 1.043 e 1.044 do CPC/2015. Extrai-se do primeiro:

Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que:


I – em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo
tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito;
II – (revogado);
III – em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo
tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a
controvérsia;
IV – (revogado);

As teses jurídicas confrontadas podem estar “contidas em julgamentos de recursos e de ações de competência
originária” (CPC/2015, art. 1.043, § 1º).
Por outro lado, a divergência que autoriza a interposição dos embargos “pode verificar-se na aplicação do
Direito material ou do Direito processual” (CPC/2015, art. 1.043, § 2º).
A decisão paradigma deve ter sido prolatada por órgão do mesmo tribunal, ou seja, por outra turma, seção ou
mesmo pelo órgão pleno. Também se admite que ela emane da mesma turma cuja decisão é embargada, “desde que
sua composição tenha sofrido alteração em mais da metade de seus membros” (CPC/2015, art. 1.043, § 3º).
No Supremo Tribunal Federal, a tramitação do recurso em tela segue o disposto no Regimento Interno, que lhe
dedica os arts. 330 a 336.
Incabíveis são os embargos de divergência no âmbito dos tribunais regionais eleitorais e do Tribunal Superior
Eleitoral. Isso porque eles não funcionam divididos em turmas, tampouco em seções. As decisões colegiadas são
sempre tomadas por seus órgãos plenos.1
Os presentes embargos são, no entanto, viáveis no Supremo Tribunal Federal quando este aprecia matéria de
natureza eleitoral. Isso porque o Supremo é composto por duas turmas, além do órgão pleno.
Assim, cabem embargos de divergência à decisão de turma que, em recurso extraordinário ou em ação de
competência originária, divergir de julgado da própria turma (com composição diversa – cf. § 3º, art. 1.043,
CPC/2015), da outra turma ou do plenário (RISTF, art. 330).
Nos termos do art. 1.043, § 4º, do CP C/2015 (e também art. 331 do RISTF), a divergência deve ser
comprovada mediante “certidão, cópia ou citação de repositório oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive
em mídia eletrônica, em que foi publicado o acórdão divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na rede
mundial de computadores, indicando a respectiva fonte, e mencionará as circunstâncias que identificam ou
assemelham os casos confrontados.” Anote-se ser esse dispositivo reprodução integral do § 1º do art. 1.029 do
CPC/2015.
Deve ser atual a divergência suscitada. Deveras, incabíveis são os embargos em exame se a jurisprudência do
plenário ou das turmas estiver firmada no sentido da decisão embargada, salvo se houver revisão. Nesse sentido
dispõe o art. 332, c/c o art. 103 do RISTF.2
No que concerne ao prazo, o art. 334 do RISTF dispõe que os embargos de divergência “serão opostos no
prazo de quinze dias, perante a secretaria, e juntos aos autos, independentemente de despacho”. Todavia, cuidando-
se de processo jurisdicional eleitoral, esse prazo de quinze dias é demasiado longo e não faz sentido. Isso porque o
maior lapso recursal nessa seara é de três dias. Como visto anteriormente, de três dias é o prazo para interposição
de recurso extraordinário. Assim, a interpretação sistemática da matéria indica que os embargos de divergência
devem ser aviados em três dias. Nesse mesmo prazo deve a parte recorrida apresentar contrarrazões.
Sendo o recurso admitido,3 os autos são encaminhados para distribuição, o que é feito nos termos do art. 76 do
RISTF,in verbis: “Se a decisão embargada for de uma turma, far-se-á a distribuição dos embargos entre os
ministros da outra; se do plenário, serão excluídos da distribuição o relator e o revisor.”4
Como todos os recursos, os embargos de divergência são dotados de efeito devolutivo. Mas, devido à sua
natureza excepcional (por extensão do RE), a transferência por ele operada limita-se à matéria jurídica. De maneira
que em seu âmbito não é possível rediscutir o quadro fático desenhado nas instâncias ordinárias, podendo apenas
haver adequação jurídica desse mesmo quadro.
De outro lado, porque interponíveis na esfera do recurso extraordinário, tal qual ocorre com este, não têm os
embargos efeito suspensivo.5 Entendimento diverso subverteria a lógica ínsita no sistema processual. Afinal, se o
recurso antecedente (extraordinário) não tem esse efeito, não há razão jurídica para que o recurso consequente (os
embargos) o tenha. Assim, os embargos não estorvam a execução do julgado contra o qual foi manejado.

1 Dispõe o § 3º do art. 96 da Lei nº 9.504/1997: “Os tribunais eleitorais designarão três juízes auxiliares para a
apreciação das reclamações ou representações que lhes forem dirigidas.” Conforme salientei alhures (vide
Gomes, 2012, p. 401 e ss.), tais juízes são designados nas eleições estaduais (governador e vice-governador,
deputado estadual) e federais (senador e deputado federal) e têm competência para apreciar todas as
reclamações e representações fundadas na Lei nº 9.504/1997 dirigidas ao tribunal. Mas ainda nessa hipótese não
há formação de turmas nos tribunais eleitorais, porque os auxiliares decidem as lides monocraticamente. Contra
as decisões singulares por eles proferidas, o recurso cabível é o previsto no art. 96, § 4º, da LE para o órgão
pleno. Portanto, não se apresenta o pressuposto essencial de cabimento dos embargos de divergência consistente
na divergência entre turmas do mesmo tribunal. De sorte que as divergências de interpretação porventura
existentes entre os juízes auxiliares já serão resolvidas pelo Colegiado.
2 A restrição aludida no texto também é expressa na Súmula 286 do STF, que reza: “Não se conhece do recurso
extraordinário fundado em divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo Tribunal
Federal já se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.”
3 A decisão que não admitir os embargos é recorrível mediante agravo, que deve ser interposto perante o órgão
competente para julgar os embargos de divergência (RISTF, art. 335, § 2º).
4 O RISTF consultado foi atualizado até janeiro de 2015, sendo seu texto consolidado até a Emenda Regimental nº 49
e a Resolução nº 514/2013. Logo, o citado art. 76 do RISTF é anterior ao § 3º do art. 1.043 do CP C/2015 (que
permite que o acórdão paradigma emane da própria turma cuja decisão é embargada). Nesse caso, é de indagar:
a quem os embargos de divergência devem ser distribuídos? Considerando-se que a dissensão se estabelece no
âmbito do mesmo órgão julgador, parece lógico que os embargos sejam distribuídos também para ele, pois é dele o
acórdão que se embarga, excluindo-se da distribuição o relator e o revisor.
5 Vale registrar, entretanto, que os embargos de divergência interpostos contra acórdão do STJ interrompem o prazo
para interposição de recurso extraordinário. É nesse sentido o § 1º do art. 1.044 do CP C/2015, que reza: “A
interposição de embargos de divergência no Superior Tribunal de Justiça interrompe o prazo para interposição de
recurso extraordinário por qualquer das partes.”
11
EMBARGOS INFRINGENTES E A TÉCNICA DE
JULGAMENTO DO ART. 942 DO CPC/2015

O recurso de embargos infringentes foi extinto no CP C de 2015. Antes, estava previsto no art. 530 do
revogado CP C/1973, segundo o qual era cabível “quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de
apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória”.1
No sistema recursal eleitoral os embargos infringentes sempre foram repelidos.2 De um lado, não foram
previstos no Código Eleitoral, tampouco na legislação eleitoral extravagante. De outro lado, sob a égide do art. 120
da Constituição Federal de 1946,3 firmou-se a interpretação de que o recurso em apreço não é cabível no âmbito do
Tribunal Superior Eleitoral, porque suas decisões são, em regra, irrecorríveis. Confira-se:

Inconstitucionalidade do art. 54 da Lei nº 2.550, instituindo no Tribunal Superior Eleitoral o recurso de embargos
infringentes e de nulidade, em face do princípio geral da irrecorribilidade das decisões daquele tribunal, estabelecido
no art. 120 da Constituição de 1946.
Letra, sistema, histórico e finalidade do citado princípio constitucional, que abrange os recursos quer para outro, quer
para o próprio tribunal, excluindo os embargos de declaração, impropriamente denominados recurso, pois não podem
alterar decisão anterior.
Irrecorribilidade d’uma decisão significa sua definitividade, sua imodificabilidade.
Decisão: Não conheceu do embargo. Maioria (TSE, EREspe nº 703/SP, Ac. nº 2.224, de 31.08.1956. Redator do
acórdão Min. Haroldo Teixeira Valladão, BEL v. 69, t. 1, p. 519).

Em seu voto vencedor, depois de recordar que o art. 120 da Constituição de 1946 “usou a expressão
‘irrecorríveis as decisões do T.S.E.’ sem qualquer restrição”, argumentou o culto Ministro Haroldo Valladão que,
se admitidos, os embargos infringentes atentariam “não somente contra a simplicidade e a presteza do processo
eleitoral, senão também, e com sério gravame para a tranquilidade pública, em matéria que tanto apaixona, contra a
estabilidade das decisões da última instância da Justiça eleitoral”.
Conquanto não tenha sido unânime esse julgamento (ficou vencido o então Ministro Cunha Vasconcellos Filho,
a quem originalmente tocara a relatoria do feito), o entendimento que nele prevaleceu foi reiteradamente observado,
conforme evidenciam os seguintes julgados do TSE: AREspe nº 2065/RJ, Ac. de 12.12.1963,BEL, v. 151, p. 249;
RCED nº 191/RJ, Ac. de 17.03.1964,BEL, v. 153, t. 1, p. 315. E assim perdurou mesmo após a instituição do
vigente Código Eleitoral, em 1965, e do Código de Processo Civil em1973. Chegou-se a repudiar o manejo indevido
de embargos de declaração com vistas a alcançar o mesmo objetivo dos infringentes, dada a ausência de “assento
legal” para este (TSE, EREspe nº 4586/SP, Ac. de 27.10.1976, BEL, v. 306, t. 1, p. 62).
É interessante observar que o referido art. 120 da Constituição de 1946 foi quase literalmente reproduzido no
art. 281 do vigente Código Eleitoral.4 Há também grande semelhança com o texto do § 3º do art. 121 da
Constituição de 1988.5 Nesses dois últimos dispositivos foi reiterada a expressão “são irrecorríveis as decisões do
Tribunal Superior Eleitoral”, a qual constou do art. 120 da CF de 1946 e fundamentou o alijamento dos embargos
infringentes do sistema recursal eleitoral, conforme exposto no aresto há pouco citado.
Em substituição aos embargos infringentes, o CP C de 2015 estabeleceu uma novatécnica de julgamento, a
ver:

Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser
designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no
regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às
partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
§ 1º Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros
julgadores que porventura componham o órgão colegiado.
§ 2º Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do julgamento.
§ 3º A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não unânime proferido em:
I – ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu prosseguimento ocorrer
em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
II – agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.
§ 4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:
I – do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II – da remessa necessária;
III – não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

Não parece possível a aplicação dessa técnica de julgamento na seara eleitoral, ou melhor, no âmbito dos
tribunais eleitorais – TREs e TSE. Isso porque esses tribunais funcionam sempre em suas composições plenas, não
sendo possível, no caso, o prosseguimento do julgamento “em sessão a ser designada com a presença de outros
julgadores”. Faltaria, portanto, um pressuposto essencial para a aplicação da aludida técnica.
Ocorre, porém, que os embargos infringentes são contemplados nos arts. 333 a 336 do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal.6 Entre os pressupostos de cabimento desse recurso, figura a ocorrência de “decisão não
unânime do plenário ou da turma: [...] III – que julgar a ação rescisória” (RISTF, art. 333, III). Ademais, é
necessário que existam, no mínimo, quatro votos divergentes.
No Regimento Interno do Excelso Pretório a ação rescisória é regulada nos arts. 259usque 262. Segundo
dispõe o primeiro dispositivo, “Caberá ação rescisória de decisão proferida pelo plenário ou por turma do tribunal,
bem assim pelo presidente, nos casos previstos na lei processual”. É sabido que a lei processual civil prevê a ação
rescisória nos arts. 966 a 975.7
Note-se que o citado art. 942, § 4º, III, do CP C/2015 veda a aplicação da técnica de julgamento nele prevista
“ao julgamento não unânime, proferido nos tribunais pelo plenário”. Diferentemente, o também citado art. 333, III, do
RISTF prevê o cabimento de embargos infringentes na hipótese de decisão não unânime do plenário que julgar a
ação rescisória.
Embora se possa argumentar que o referido artigo do RISTF foi derrogado pelo art. 942 do CP C/2015, por ter
este regulado inteiramente a matéria objeto dos embargos infringentes,8 o certo é que, aparentemente, não houve tal
derrogação. Isso porque, sendo a ação rescisória de competência do órgão pleno do Pretório Excelso, seriam os
infringentes os únicos recursos cabíveis, além, é claro, dos embargos de declaração.
Como a matéria eleitoral pode chegar ao Supremo Tribunal seja por recurso ordinário, seja por recurso
extraordinário, em tese afigura-se possível o ajuizamento de ação rescisória diante de aresto emanado do órgão
pleno do Supremo e, contra o julgamento não unânime deste, interporem-se embargos infringentes.
Embora essa hipótese seja de remota ocorrência, de lege lata não chega a ser impossível.

1 Numa perspectiva histórico-comparada, tem-se que o recurso de embargos infringentes é peculiar ao Direito
brasileiro. Mas ainda aqui sempre houve viva controvérsia acerca da conveniência de mantê-lo no sistema
processual. Dessa discussão dá notícia Greco Filho (2012, p. 388), segundo o qual a “doutrina não tem sido
favorável à manutenção dos embargos infringentes”. A Freitas Câmara (2012, p. 114-115) não parece “adequado
que o mero fato de ter havido voto divergente em um julgamento colegiado deva ser capaz de permitir a
interposição de recurso contra a decisão proferida”. Já Barbosa Moreira (2012, nº 282, p. 516 e ss.), embora se
pronuncie a favor de sua conservação com restrições, assinala que a preservação dessa figura processual foi de
certo modo surpreendente, já que ela tinha sido abandonada pelo Anteprojeto de Código de Processo Civil
apresentado por Buzaid; tanto assim que na Exposição de Motivos do Anteprojeto afirmava-se que a existência
de um voto vencido não basta por si só para justificar a criação do recurso em exame.
2 Não se confunda o repúdio ao cabimento do recurso denominado “embargos infringentes” no processo eleitoral com
a aceitação de efeitos infringentes (modificativos) na decisão prolatada em embargos de declaração. Em verdade,
esses dois recursos são inconfundíveis. Conforme salientado alhures, quando se fala em efeitos infringentes dos
embargos de declaração quer-se ressaltar a modificação por ele promovida no julgado em relação ao qual é
aviado.
3 Eis o teor do art. 120 da Constituição de 1946: “São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as
que declararem a invalidade de lei ou ato contrários a esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou
mandado de segurança, das quais caberá recurso para o Supremo Tribunal Federal.”
4 Reza o art. 281 do CE: “São irrecorríveis as decisões do tribunal superior, salvo as que declararem a invalidade de
lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança, das
quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de três dias.”
5 O § 3º do art. 121 da CF de 1988 dispõe: “São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que
contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.”
6 Dispõe o art. 333 do RISTF (atualizado até janeiro de 2015, com texto consolidado até a Emenda Regimental nº 49
e a Resolução nº 514/2013): “Cabem embargos infringentes à decisão não unânime do plenário ou da turma: I –
que julgar procedente a ação penal; II – que julgar improcedente a revisão criminal; III – que julgar a ação
rescisória; IV – que julgar a representação de inconstitucionalidade; V – que, em recurso criminal ordinário, for
desfavorável ao acusado. Parágrafo único. O cabimento dos embargos, em decisão do plenário, depende da
existência, no mínimo, de quatro votos divergentes, salvo nos casos de julgamento criminal em sessão secreta.”
7 As hipóteses de cabimento de ação rescisória são previstas no art. 966 do CP C/2015, que reza: “A decisão de
mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I – se verificar que foi proferida por força de
prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II – for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente
incompetente; III – resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV – ofender a coisa julgada; V – violar
manifestamente norma jurídica; VI – for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII – obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável; VIII – for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.”
8 É o que dispõe a parte final do § 1º do art. 2º da LINDB (D-L nº 4.657/1942): “Art. 2º [...]. § 1º A lei posterior
revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”
12
OUTROS MEIOS IMPUGNATIVOS NO PROCESSO
JURISDICIONAL ELEITORAL

12.1 INTRODUÇÃO
Os meios impugnativos no processo jurisdicional eleitoral não se restringem aos recursos eleitorais
anteriormente expostos. No presente capítulo são apresentados outros instrumentos processuais de inegável
relevância nessa seara.
Assim é que serão abordados os seguintes temas: garantias ou remédios constitucionais (mandado de
segurança, mandado de injunção, habeas data e ação popular), tutela provisória de urgência de natureza cautelar,
recurso contra expedição do diploma (RCED), reclamação e ação rescisória.

12.2 GARANTIAS OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS


Desde as lições de Rui Barbosa, o constitucionalismo brasileiro releva a distinção entre direitos e garantias
fundamentais. Os direitos apresentam sentido substancial ou material, podendo ser compreendidos como os atributos,
bens e faculdades reconhecidos ao ser humano para que tenha existência livre e digna; sob a perspectiva subjetiva,
trata-se da situação jurídica, faculdade ou poder atribuído ou reconhecido a uma pessoa. Têm-se em vista
nomeadamente os direitos fundamentais assegurados à pessoa humana, que são de três ordens: direitos de liberdade
– consagrados simbolicamente na Declaração francesa de 1789; direitos sociais, culturais e econômicos –
consagrados na Constituição de Weimar; e direitos de solidariedade e fraternidade – em voga atualmente,
representados pelo amplo leque de direitos difusos e coletivos.1
No tocante às garantias,2 têm elas o propósito de ensejar o exercício efetivo de direitos constitucionais
fundamentais. Sem elas, o direito substancial tornar-se-ia ineficaz, porque desprovido dos instrumentos e meios
necessários à sua efetivação, isto é, ao seu reconhecimento e afirmação na realidade do meio social.
As garantias constitucionais são também denominadas remédios pela doutrina pátria, porquanto – ensina
Tavares (2013, p. 693) – são meios disponibilizados às pessoas “para provocar a atuação das autoridades em defesa
do padecimento de direitos declarados”. A noção de remédios – prossegue o autor –, “usada em seu sentido
figurado, por óbvio, é boa, já que tanto denota o fato de servirem para prevenir lesões como para reparar aquelas
que eventualmente já tenham ocorrido”.
O art. 5º, § 1º, da Constituição dispõe que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata”. À luz desse dispositivo, tais normas já conteriam em si mesmas os elementos e as condições
necessárias de aplicação às situações e relações por elas visadas. Assim, ainda que um preceito constitucional
definidor de direito ou garantia fundamental não seja completo, a ausência de norma regulamentadora
infraconstitucional não impediria sua aplicação em dado caso concreto. Isso é decorrência da força normativa da
Constituição e do princípio de máxima efetividade de suas normas.
Na sequência, far-se-á uma breve exposição a respeito das garantias seguintes: mandado de segurança,
mandado de injunção, habeas data e ação popular.

12.2.1 Mandado de segurança


O mandado de segurança é a garantia constitucional que visa a proteger direito líquido e certo das pessoas
contra ato ilícito ou abusivo praticado por autoridade estatal.
Historicamente, deriva do writ of habeas corpus, tendo também se inspirado no juicio de amparo mexicano.
Seu ingresso no ordenamento brasileiro foi formalmente proposto em 1926 no Projeto de Lei nº 148, mas somente
mereceu acolhida na Constituição de 1934, cujo art. 113, § 33, dispunha ser ele cabível para a defesa de direito
“certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer
autoridade”; o procedimento era o mesmo previsto para o habeas corpus. Embora a Constituição de 1937 não o
tenha mantido, foi ele previsto nas Constituições subsequentes: 1946, art. 141, § 24; 1967, art. 150, § 21; EC nº
1/1969, art. 153, § 21.
Na Constituição Federal de 1988, o writ of mandamus é contemplado no rol de direitos fundamentais do art. 5º,
comportando duas modalidades: individual (inciso LXIX) e coletivo (inciso LXX). É regulamentado pela Lei nº
12.016/2009 (LMS). Eis o teor desses dispositivos:

Art. 5º [...]; LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos
um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.

O mandado de segurança apresenta natureza de ação constitucional, de caráter mandamental. Porque, sendo
previsto na Constituição, por ele se pode invocar a jurisdição com vistas à afirmação de um direito ou à proteção de
uma situação ou posição jurídica violada ou ameaça.
Tem por objeto a proteção de direito líquido e certo. Como tal se considera o direito evidente, manifesto, apto
a ser exercido de imediato pelo seu titular, podendo, pois, ser demonstrado de plano por prova pré-constituída. Como
afirmam Meirelles et al. (2009, p. 34), se o direito “depender de comprovação posterior, não é líquido nem certo,
para fins de segurança”.
Como o direito em si mesmo é sempre líquido e certo (tanto que, nos termos da Súmula 625 do STF:
“controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança”), os requisitos de liquidez
e certeza dizem respeito mais propriamente à existência de provas dos fatos que embasam o direito alegado. De
maneira que, no processo de mandado de segurança, não é possível haver dilação probatória com vistas à
demonstração dos fatos que sustentam o direito, devendo eles ser documentalmente provados já no início da
demanda. Logo, sendo necessária a produção de provas, inviável é o manejo da ação em exame, devendo a parte
apresentar sua pretensão na via jurisdicional comum.
Na modalidade individual, o direito violado ou ameaçado pode ser titulado por qualquer pessoa, física ou
jurídica. Caso pertença a várias pessoas, qualquer delas poderá pleitear a segurança individualmente, ou ingressar
com a demanda em regime de litisconsórcio ativo.
Nessa espécie, o remédio heroico só permite que a pessoa defenda em juízo direito líquido e certo que lhe seja
próprio, isto é, que lhe pertença. Esse entendimento é pacífico, conforme demonstra o seguinte aresto do órgão pleno
do Excelso Pretório: “1. O mandado de segurança pressupõe a existência de direito próprio do impetrante. Somente
pode socorrer-se dessa ação o titular do direito lesado ou ameaçado de lesão por ato ou omissão de autoridade, o
que não se vislumbra na espécie. [...]. 3. Agravo regimental não provido” (STF, MS nº 32052 AgR/DF, Pleno, Rel.
Min. Dias Toffoli, DJe 19.02.2014).
Já na modalidade coletiva, é facultada a defesa de direito de natureza transindividual, a saber, coletivo em
sentido estrito e individual homogêneo. Nos termos do art. 21, parágrafo único, da Lei nº 12.016/2009, os direitos
protegidos pelo mandamus podem ser: “I – coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica básica; II – individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de
origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
impetrante.”3
Não cabe, portanto, mandado de segurança coletivo para a defesa de direito difuso, assim entendidos “os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de
fato” (Lei nº 8.078/1990, art. 81, parágrafo único, I).
A legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança coletivo é exclusiva dos entes expressamente
indicados no citado inciso LXX, art. 5º,da CF, a saber: partido político com representação no Congresso Nacional,4
organização sindical, entidade de classe5 ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos
um ano. E os interesses defendidos devem pertencer aos membros ou associados daquelas entidades. Assim, sendo
transindividual ou coletivo o direito/interesse postulado, não ostenta a pessoa física legitimidade ativa para a
impetração.

Processual civil. Recurso ordinário em mandado de segurança. [...] Defesa de direito coletivo. Descabimento de
mandado de segurança individual. Ilegitimidade ativa. [...] 3. O impetrante, candidato do concurso público de
Remoção Notarial e Registral lançado pelo Edital 3/2003 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
insurgiu-se quanto ao critério adotado pela comissão do concurso para a delegação das serventias mistas, isto é, nas
quais as atividades notarial e registral são cumuladas. Solicitou que, na audiência pública de escolha, fossem esses
cartórios oferecidos apenas para concorrentes inscritos e atuantes nas duas áreas. A pretensão ultrapassa a esfera
individual, pois atinge a situação de outras pessoas. Ainda que não propositalmente, coloca-se em benefício de
candidatos na mesma situação, os quais não são litisconsortes ativos na presente ação. 4. Teria o interessado,
mediante o mandado de segurança individual, a possibilidade de pleitear o afastamento da suposta ilegalidade
cometida pela autoridade tida como coatora se indicasse a qual serventia faria jus, tomada em conta sua posição no
certame. O pedido de utilização de determinado regramento em audiência de eleição de serventias, com repercussão
benéfica sobre a situação dos outros concorrentes em condição idêntica, traduz hipótese de mandado de segurança
coletivo, para o qual o jurisdicionado não tem legitimidade ativa. 5. Hipótese de denegação da ordem com fulcro no
art. 267, VI, do CP C [de 1973], c/c o art. 6º, § 5º, da Lei n. 12.016/2009. 6. Agravo regimental a que se nega
provimento (STJ, AgRg no AgRg no RMS nº 37778/RS, 2ª T., Rel. Min. Og Fernandes, DJe 20.11.2014).

É residual a cobertura proporcionada pela ação em exame. De maneira que, sendo o direito invocado amparado
por habeas corpus ou habeas data, devem esses remédios ser manejados, pois ensejam proteção específica. No
caso, o mandado de segurança constituiria via processual inadequada.
Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: “I – de ato do qual caiba recurso administrativo
com efeito suspensivo, independentemente de caução; II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito
suspensivo;6 III – de decisão judicial transitada em julgado7” (Lei nº 12.016/2009, art. 5º). Ademais, nos termos da
Súmula 266 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.”
No âmbito dos tribunais eleitorais, os processos relativos a mandado de segurança tramitam eletronicamente
pelo sistema PJe. Veja-se nesse sentido a regulamentação constante da Resolução TSE nº 23.417/2014 e da
Portaria TSE nº 396/2015.
O procedimento apresenta duas propriedades básicas, a saber: celeridade e sumariedade. A celeridade funda-
se na necessidade de imediata proteção ao direito líquido e certo violado ou sob ameaça. Já a sumariedade se deve
ao fato de o procedimento ser simplificado, de cognição limitada. Por isso, os fatos alegados devem ser
comprovados de plano, mediante provas pré-constituídas ou documentos, que deverão ser anexados à petição inicial,
bem como às informações prestadas pelo impetrado.
O fundamento (causa de pedir) do writ pode ser tanto a efetiva violação de direito quanto o “justo receio” de
sofrê-la. Enquanto no primeiro caso o writ tem caráter repressivo, no segundo é do tipo preventivo.
A violação ou ameaça deve se consubstanciar em ato ilegal ou em que haja abuso de poder. Há mister que se
compreenda o termo ato em sentido amplo, abrangendo tanto o ato comissivo (ação) quanto o omissivo (omissão).
O ato deve emanar de autoridade pública, ou seja, de agente público. À autoridade pública são equiparados
“os representantes ou órgãos de partidos políticos8 e os administradores de entidades autárquicas, bem como os
dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que
disser respeito a essas atribuições” (Lei nº 12.016/2009, art. 1º, § 1º).
Destarte, a autoridade coatora – e sujeito passivo da ação em exame – é sempre uma autoridade pública ou
equiparada.9 Pois é ela a responsável direta pelo ato impugnado, seja porque o praticou, seja por ter ordenado a
outrem que o praticasse, seja, ainda, por ser dela a renitência em não praticá-lo quando deveria tê-lo feito. Deve,
portanto, ser a autoridade com atribuição (ou poderes bastantes) para alterar ou desfazer o ato, tornando-o regular e
legal.
A competência para conhecer e julgar o writ baseia-se na situação da autoridade coatora, sendo definida pela
natureza do cargo que ela ocupa ou pela função que exerce, bem como pela sede funcional. É nesse sentido a lição
de Meirelles et al. (2009, p. 75): “A competência para julgar mandado de segurança define-se pela categoria da
autoridade coatora e pela sede funcional.” É irrelevante, portanto, a natureza do ato impugnado.10
Em alguns casos a competência é estabelecida diretamente na Constituição Federal. Nesse sentido, dispõe o
art. 102, I, d, da Lei Maior competir ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, o mandado de
segurança “contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do
Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal”. Por sua
vez, o Superior Tribunal de Justiça detém competência para – nos termos do art. 105, I,b, da Lei Maior – processar
e julgar, originariamente, os mandados de segurança “contra ato de ministro de Estado, dos comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio tribunal”. Portanto, se o ato praticado por todas essas
autoridades tiver natureza eleitoral, a competência para processar e julgar o mandamus impetrado contra ele será
respectivamente do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. De sorte que não foi inteiramente
recepcionada pela Constituição Federal a regra inscrita na alínea e, I, art. 22 do Código Eleitoral.11
O Supremo Tribunal ainda detém competência recursal. Nos termos do art. 121, § 3º, da Lei Maior, compete-
lhe conhecer e julgar recurso ordinário interposto contra decisão do TSE denegatória da ordem pleiteada. Caso a
ordem seja concedida, cabível será o recurso extraordinário.
Quanto ao Tribunal Superior Eleitoral (e também aos Tribunais Regionais Eleitorais), uma interpretação
sistemática da Constituição revela ser ele competente para conhecer e julgar originariamente os mandados de
segurança impetrados contra seus próprios atos.12 Além disso, compete ao TSE conhecer e julgar originariamente
“mandado de segurança, em matéria eleitoral, relativos a atos [...] dos Tribunais Regionais” (CE, art. 22,e13). Tal
competência circunscreve-se aos atos praticados pelo “tribunal”, portanto pelo seu órgão colegiado, e não por seus
membros, independentemente da qualidade destes (ou seja, se presidente, corregedor ou relator de processo). A
propósito, reza a Súmula TSE nº 34: “Não compete ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar mandado de
segurança contra ato de membro de Tribunal Regional Eleitoral.”
No âmbito recursal, a competência do TSE em sede dewrit se dá por: i) recurso ordinário, na hipótese de
denegação por TRE da ordem pleiteada (CF, art. 121, § 4º, V);ii) recurso especial, na hipótese de concessão por
TRE da ordem.
Por sua vez, aos Tribunais Regionais Eleitorais compete conhecer e julgar mandados de segurança impetrados
contra seus próprios atos, contra ato de juiz eleitoral, e também, nos termos do art. 29, I, e, do CE: i) originariamente
“em matéria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam perante os Tribunais de Justiça por crime de
responsabilidade”; ii) em grau de recurso, “os denegados ou concedidos pelos juízes eleitorais”.
Por fim, quanto aos juízes eleitorais, dispõe o art. 35, III, do CE competir-lhes conhecer e decidir “mandado de
segurança, em matéria eleitoral, desde que essa competência não esteja atribuída privativamente a instância
superior”.
A petição inicial deve preencher os requisitos do art. 319 do CP C/2015, sendo mister que indique: “I – o juízo a
que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o
domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as
suas especificações; V – o valor da causa;14 VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados;15 VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.”16
Essa peça, nos termos do art. 6º da Lei nº 12.016/2009, há de ser “apresentada em duas vias com os
documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda”; ademais, deve indicar “a autoridade coatora e a
pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.”
Poderá a petição inicial ser indeferida já no limiar do processo: “se não for o caso de mandado de segurança ou
lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração” (Lei nº 12.016/2009, art.
10).
Para impugnar a decisão de indeferimento da petição inicial, é cabível: i) recurso eleitoral, sendo a decisão
proferida por juiz eleitoral; ii) agravo, se a decisão for do relator no tribunal, na hipótese de competência originária;
iii) caso o órgão colegiado do tribunal mantenha o indeferimento, o respectivo acórdão poderá ser impugnado por
recurso ordinário (CF, art. 121, § 4º, V).
Plenamente viável no writ a tutela provisória de urgência, assim a de natureza cautelar como a antecipatória
(CP C/2015, arts. 300 e ss.). Nesse âmbito, a concessão de liminar tem como requisitos a verossimilhança das
alegações do impetrante, a plausibilidade da tese jurídica defendida e a possibilidade de ocorrência de lesão
irreparável ou de difícil reparação ao direito invocado.
A propósito, o art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2009 autoriza o juiz a, ao despachar a petição inicial, ordenar a
suspensão liminar do ato “quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
medida, caso seja finalmente deferida”.17 Em tal caso, poder-se-á exigir do impetrante a prestação de “caução,
fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica”.
Sendo deferido pedido de liminar, os efeitos dessa medida perduram até a publicação da decisão final, salvo se
ela for revogada durante o processo. No final, se a sentença denegar a ordem, a liminar perde eficácia. A esse
respeito dispõe a Súmula 405 do STF: “Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do
agravo dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.”
A decisão que concede ou denega liminar é sempre recorrível. Além de embargos de declaração, pode-se
ainda cogitar o seguinte: i) se prolatada por juiz de primeiro grau, é impugnável por agravo de instrumento (Lei nº
12.016/2009, art. 7º, § 1º; CP C/2015, art. 1.015, I);ii) se proferida pelo relator do processo no tribunal (caso de
competência originária), poderá ser impugnada por agravo interno (Lei nº 12.016/2009, art. 16, parágrafo único;
CPC/2015, art. 1.021, caput).
Não sendo o caso de indeferimento da petição inicial, ao despachá-la o juiz ordenará “que se notifique o coator
do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que,
no prazo de dez dias, preste as informações” (Lei nº 12.016/2009, art. 7º, I). Ademais, o inciso II desse mesmo art.
7º determina “que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-
lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito”.
Com as informações da autoridade dita coatora, positiva-se o contraditório no processo do mandamus. Tal
peça é, na verdade, a defesa da Administração Pública. Deve necessariamente ser subscrita pela própria autoridade,
sem prejuízo de o procurador ou advogado do respectivo órgão ou entidade também apor sua assinatura.
As informações podem vir acompanhadas de documentos. Nesse caso, por imposição do due process of law,
há mister se intime o impetrante a fim de conhecê-los e sobre eles se manifestar.
Subsequentemente, deve-se abrir vista dos autos ao Ministério Público, pelo lapso de dez dias (Lei nº 12.016,
art. 12), para que ele se pronuncie na qualidade de fiscal da ordem jurídica. A intervenção do Parquet se justifica
pelo interesse eminentemente público envolvido nas lides eleitorais. Afinal, entre suas funções está a defesa da
ordem jurídica e do regime democrático (CF, art. 127, caput).
Em seguida, julga-se o pedido formulado na petição inicial, concedendo-se ou negando-se a ordem pleiteada.
A concessão da segurança significa que a ilegalidade ou o abuso alegado deve cessar ou, sendo preventivo o
writ, não se consumar. A decisão, portanto, expressa um mandado ou uma ordem para que o direito do impetrante
não seja violado.
A decisão apresenta natureza preponderantemente mandamental, pois seu objeto primordial é a determinação
da imediata realização de um ato pelo coator, ato esse que pode ser expresso por uma ação ou omissão.
A sentença que julga procedente o pedido está “sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição” (Lei nº
12.016/2009, art. 14, § 1º). Seu reexame, então, é necessário, obrigatório, devendo o juiz determinar a remessa dos
autos ao tribunal ad quem. Se isso não for feito, a sentença não transita em julgado. A esse respeito, reza Súmula
423 do STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recursoex officio, que se considera interposto
ex lege.”
Por outro lado, nos termos da Súmula 45 do STJ: “No reexame necessário, é defeso ao tribunal agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.” O agravamento da situação do impetrado só pode decorrer de recurso
voluntário aviado pelo interessado.
Para além do reexame necessário, a parte (impetrante ou impetrado18) que tiver interesse poderá sempre
recorrer da decisão. Além dos embargos de declaração (CE, art. 275; CP C/2015, art. 1.022), que são sempre
cabíveis, têm-se ainda:

se prolatada por juiz de primeiro grau, a sentença é impugnável por recurso eleitoral (CE, art. 265; LMS, art. 14);
se proferida por tribunal regional eleitoral (na hipótese de competência originária): ii.a) quando denegatória, poderá a
decisão ser impugnada por recurso ordinário (CF, art. 121, § 4º, V; CE, art. 276, II,b; LMS, art. 18); ii.b) sendo
concedida a ordem, poderá a decisão ser impugnada por recurso especial eleitoral (CF, art. 121, § 4º, I e II; CE, art.
276, I; LMS, art. 18);
se proferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (na hipótese de competência originária): ii.a) quando denegatória, poderá
a decisão ser impugnada por recurso ordinário para o STF (CF, art. 121, § 3º, in fine; CE, art. 281, caput; LMS, art.
18); ii.b) sendo concedida a ordem, poderá a decisão ser impugnada por recurso extraordinário para o Excelso
Pretório (CF, art. 121, § 3º, primeira parte; CE, art. 281, caput; LMS, art. 18).

É de três dias o prazo para interposição de todos esses recursos (CE, art. 258).
Em princípio, os recursos no mandado de segurança não têm efeito suspensivo, de modo que a execução da
decisão que conceder a ordem é imediata, ocorrendo nos mesmos autos do processo em que foi produzida. Mas
enquanto não houver trânsito em julgado, a execução tem caráter provisório. Note-se, porém, que não poderá haver
execução provisória “nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar” (Lei nº 12.016/2009, art. 14, §
3º).
Quanto aos limites subjetivos da coisa julgada material, há que se distinguir entre o mandado de segurança
individual e o coletivo, pois cada qual deles apresenta regime próprio.
N o individual, segue-se a regra comum, de modo que faz coisa julgada material a decisão que extingue o
processo com apreciação e julgamento do mérito, concedendo ou denegando a ordem. Cumpre, porém, salientar que
no writ a coisa julgada não se forma em relação à autoridade coatora, mas sim em relação à entidade ou pessoa
jurídica a que ela se encontra vinculada.
Já no mandado de segurança coletivo, dispõe o art. 22 da Lei nº 12.016/2009 que “a sentença fará coisa
julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante”. Como não houve distinção
entre a decisão de procedência ou improcedência do pedido, a coisa julgada abrange as duas situações se houver
apreciação e julgamento do mérito. Assim, a coisa julgada se forma não só em relação às partes no processo como
também a todas as demais pessoas que foram substituídas pelo impetrante (isto é, todos que, embora não sejam
parte no processo, integram o grupo, classe ou entidade). Isso significa que, havendo resolução do mérito da
demanda: i) se a ordem for concedida, todos os integrantes do grupo, classe ou entidade se beneficiarão da decisão,
ainda que não tenham integrado a relação processual; ii) se a ordem for denegada, todos serão prejudicados, de
modo que não poderá haver impetração de mandamus individual contra a mesma parte, com o mesmo pedido e
causa de pedir. Caso isso aconteça, o processo deverá ser extinto sem resolução do mérito com fulcro no art. 485,
V (última figura), do CPC/2015.
O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais. Todavia, caso algum
integrante do grupo o tenha impetrado individualmente para discutir a mesma questão, os efeitos da coisa julgada não
o beneficiarão se ele “não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de trinta dias a contar da
ciência comprovada da impetração da segurança coletiva” (Lei nº 12.016/2009, art. 22, § 1º).
Se o processo for extinto sem apreciação do mérito (CP C/2015, arts. 354 e 485), a decisão respectiva não faz
coisa julgada material. De maneira que o pedido poderá “ser renovado dentro do prazo decadencial” (Lei nº
12.016/2009, art. 6º, § 6º) previsto para o ajuizamento do mandado de segurança.
Havendo improcedência da demanda sem apreciação do mérito (ex.: insuficiência de prova), não se perfaz a
coisa julgada material. Nesse caso, é dado ao interessado, em ação própria, pleitear “os seus direitos e os
respectivos efeitos patrimoniais” (Lei nº 12.016/2009, art. 19). A propósito, reza a Súmula 304 do STF: “Decisão
denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação
própria.”
No Direito eleitoral, vige a regra de gratuidade das ações, pois tem-se em vista a prática de “atos necessários
ao exercício da cidadania” (CF, art. 5º, LXXVII; Lei nº 9.265/1996, art. 1º). Daí ser indevida a condenação em
custas judiciais e honorários advocatícios. A proibição de condenação em honorários de advogado também consta do
art. 25 da Lei nº 12.016/2009, da Súmula 512 do STF e da Súmula 105 do STJ.
Relativamente à execução, o caráter mandamental da decisão permite que seu comando seja concretizado nos
autos do próprio processo em que foi proferida. Não há, pois, um processo autônomo de execução.
A esse respeito, o art. 26 da Lei nº 12.016/2009 encerra uma importante regra:

Art. 26. Constitui crime de desobediência, nos termos do art. 330 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940, o não cumprimento das decisões proferidas em mandado de segurança, sem prejuízo das sanções
administrativas e da aplicação da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, quando cabíveis.

Assim, o descumprimento de decisão proferida em mandado de segurança – seja de natureza liminar ou


definitiva – enseja três âmbitos de responsabilidade, a saber: i) criminal, constituindo a conduta do agente crime de
desobediência;19 ii) administrativa; e iii) política.20
Sob pena de decadência, deve o writ ser impetrado no prazo 120 dias, “contados da ciência, pelo interessado,
do ato impugnado” (Lei nº 12.016/2009, art. 23). O ato, aqui, tem natureza comissiva. Tal marco é justificado pelo
fato de ser com a ciência do interessado que o ato se torna apto a lesionar seu direito. Ressalte-se que o fluxo do
prazo não é interrompido por “pedido de reconsideração na via administrativa” (STF, Súmula 430). Por outro lado, a
Súmula 632 do Pretório Excelso considerou ser “constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração
de mandado de segurança”.
No que concerne ao ato omissivo, por não ter ele prazo certo para ser executado, é inaplicável o aludido marco
decadencial. Nesse sentido, o Pretório Excelso já assentou que, enquanto houver “omissão continuada da
Administração Pública, não corre o prazo de decadência para a impetração do mandado de segurança, sendo certo,
porém, que essa omissão cessa no momento em que há situação jurídica de que decorre inequivocamente a recusa,
por parte da Administração Pública, do pretendido direito, fluindo a partir daí o prazo de 120 dias para a impetração
da segurança contra essa recusa [...]” (STF, RMS nº 23987/DF, 1ª T., Rel. Min. Moreira Alves,DJ 02.05.2003, p.
40). Por outro lado, havendo prazo legal para a prática do ato pelo Poder Público, esgotado esse lapso, “começa a
correr o prazo de 120 dias, para impetrar mandado de segurança” (STF, MS nº 23126/DF, Pleno, Rel. Min. Ilmar
Galvão, DJ 08.09.2000, p. 6). E mais: em se tratando de relação jurídica de caráter continuado, “o prazo para
impetrar mandado de segurança renova-se a cada omissão da Administração Pública” (STF, MS nº 26733 AgR/ DF,
Pleno, Rel. Min. Eros Grau, DJe 152, 30.11.2007).
Como não poderia deixar de ser, o writ of mandamus é sobremodo importante para a proteção de direitos nos
âmbitos de atuação da Justiça eleitoral. Deveras, é ele muito utilizado não só na seara administrativa como também
na jurisdicional. Sobre essa variedade de uso, vejam-se, à guisa de exemplos, os seguintes arestos:

Agravo regimental. Recurso ordinário. Mandado de segurança. Matéria administrativa. Desprovimento. 1.


Consoante a Súmula 450/STF, o pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o
mandado de segurança. Decadência configurada. 2. Ainda que superado esse óbice, verifica-se que o pedido de
concessão do benefício de auxílio-alimentação foi devidamente apreciado pelo TRE/DF, em mais de uma
oportunidade, não sendo possível a interposição de sucessivos recursos administrativos versando sobre a mesma
matéria. Consequentemente, não se reveste de ilegalidade a decisão de juiz membro que indefere, por esse
fundamento, novo recurso administrativo interposto pela agravante. 3. Agravo regimental não provido (TSE, AgR-
RMS nº 442523/DF, DJe, t. 142, 04.08.2014, p. 43-44).
Recurso em mandado de segurança. Eleições 2012. Vice-prefeito. Registro indeferido. Inelegibilidade. Execução.
Trânsito em julgado. Desnecessidade. Princípio da segurança jurídica. Alegação. Processo de registro. Súmula
267/STF. Desprovimento. [...] 3. Consoante a Súmula 267/STF, não cabe mandado de segurança contra ato judicial
do qual caiba recurso. Na espécie, a alegada violação do princípio da segurança jurídica – decorrente do fato de a
candidatura do recorrente ter sido indeferida a partir de mudança de jurisprudência acerca da inelegibilidade do art.
1º, I, g, da LC 64/90 – deve ser discutida no respectivo processo de registro. 4. Recurso em mandado de segurança
desprovido (TSE, RMS nº 50452/RJ, DJe, t. 50, 14.03.2014, p. 59-60).
Recurso em mandado de segurança. Servidor. Demissão. Direito líquido e certo. O cabimento do mandado de
segurança pressupõe a existência de direito líquido e certo que seja incontroverso e possa ser facilmente percebido a
partir de prova pré-constituída, não sendo cabível, nesta via estreita, a análise aprofundada das provas produzidas em
processo administrativo e em ação penal para verificação das circunstâncias e fatos que ensejaram a demissão do
funcionário. Recurso em mandado de segurança a que se nega provimento (TSE, RMS nº 97621/MG,DJe, t. 224,
25.11.2013, p. 50-51).
Mandado de segurança. Recurso ordinário. Decisão de relator. Tribunal regional eleitoral. Não cabimento. Não cabe
recurso ordinário dirigido ao Tribunal Superior Eleitoral em face de decisão de relator na corte de origem que
indefere liminarmente mandado de segurança, pois contra tal decisão caberia agravo, na forma do art. 10, § 1º, da
Lei nº 12.016/2009. Precedentes: AgR-AI nº 8.446, rel. Min. Arnaldo Versiani,DJe 06.03.2009; RMS nº 406, rel.
Min. José Delgado,DJe 1º.08.2006; RMS nº 323, rel. Min. Peçanha Martins,DJe 04.02.2005. Agravo regimental a
que se nega provimento (TSE, AgR-RMS nº 90365/PR, DJe, t. 203, 22.10.2013).
Eleições 2008. Mandado de segurança. Ação de impugnação de mandato eletivo. Procedência. Determinação de
cumprimento após o decurso de prazo para oposição de embargos de declaração. Ausência de teratologia.
Segurança denegada. Decisão: O tribunal, por unanimidade, denegou a ordem, nos termos do voto da relatora (TSE,
MS nº 174004/PB, DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 43).
Recurso em mandado de segurança. Administrativo. Concurso público. Analista judiciário – área judiciária.
Impugnação a edital de concurso de remoção. Inobservância do prazo legal de 120 dias. Decadência. Recurso ao
qual se nega provimento. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o recurso, nos termos do voto da relatora
(TSE, RMS nº 547/CE, DJe, t. 52, 16.03.2012, p. 23-24).
[...] I – Mandado de segurança: decisão de TRE sobre critério a ser adotado na apuração eleitoral. 1. Admissível o
mandado de segurança impetrado pelo candidato a governador que obteve a segunda votação no primeiro turno da
eleição contra decisão do TRE que, resolvendo questão de ordem suscitada pela comissão apuradora, determina se
considerem nulos votos dados a outro candidato, o que resultará alcançar o primeiro colocado a maioria absoluta dos
votos válidos e, consequentemente, a não realização do segundo turno [...] (TSE, MS nº 3100/MA,DJ, v. 1,
07.02.2003, p. 139).
[...] 1. Cabe mandado de segurança contra decisão interlocutória proferida em investigação judicial eleitoral, por não
existir recurso hábil para evitar eventual dano por ela causado. 2. Denega-se o mandado de segurança quando não
demonstrada a violação de direito líquido e certo. 3. Recurso improvido (TSE, RMS nº 176/RJ, DJ 07.06.2002).
Mandado de segurança. Decisão que obstou o restabelecimento de direitos políticos do impetrante. Medida cautelar
de suspensão do exercício da função pública não enseja a suspensão dos direitos políticos. Concessão da ordem para
que sejam restabelecidos os direitos políticos, com determinação. Decisão: Concederam a segurança. V.u. (TRE-
SP, MS nº 399164, DJESP-TRESP, 24.09.2014).
Processual civil. Agravo regimental contra decisão liminar proferida em mandado de segurança contra decisão da
juíza coordenadora da fiscalização da propaganda eleitoral. Impetrante que é pré-candidato à chefia do Poder
Executivo estadual. Impossibilidade de realização de propaganda eleitoral antes do período estabelecido na lei.
Distribuição nos eventos chamados de “Caravana da Paz” de bíblias, calendários e livros, bem como de uma
“carteirinha” do “Clube das Donas de Casa”, todos com a foto do pré-candidato. Pré-candidato que não é pastor
religioso, realizando eventos de cunho religioso. Evento que é, na realidade, promoção política e pessoal do pré-
candidato, caracterizando propaganda eleitoral antecipada, o que é vedado pela lei eleitoral. Provimento do recurso
(TRE-RJ, AgR-MS nº 17739, DJERJ-TRE-RJ, t. 106, 23.05.2014, p. 26-31).
Recurso em mandado de segurança. Pedido de registro de candidatura. Dados não recebidos pelo módulo externo
do Sistema de Candidaturas (CANDex). Inconsistência das informações. Partido não coligado. Indeferimento da
inicial. Art. 10 da Lei nº 12.016/2009. Inexistência dos requisitos necessários ao recebimento do mandamus. Inicial
sem clara indicação da autoridade coatora. Recepção de dados do partido no sistema CANDex. Pedido de
intimação de representantes de coligações partidárias como autoridades coatoras. Autoridades que, em tese, não
poderiam corrigir o ato questionado. Ausência de óbice efetivo ao pedido de registro da candidatura, no prazo legal.
A pretensão do impetrante – registro individual de candidatura – deveria ter sido veiculada por meio de requerimento
do próprio candidato perante a Justiça eleitoral, no prazo máximo de 48 horas seguintes à publicação da lista dos
candidatos pela Justiça eleitoral (art. 11, § 4º, da Lei nº 9.504/1997). Inadequação da via eleita. Recurso a que se
nega provimento. Decisão: O tribunal, à unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do relator
(TRE-MG, RMS nº 81389, DJEMG-TREMG 03.09.2012).
Mandado de segurança. Candidato eleito. Diploma eleitoral. Não expedição. Solenidade essencial. Não observância.
Nulidade da posse. Configuração. 1. A interposição concomitante de mandado de segurança, calcado em suposto
vício no ato de posse do candidato, pretendendo apenas a decretação de sua nulidade, e de recurso contra expedição
de diploma, que visa a cassação do correspondente mandato eletivo, não configura litispendência, porquanto não
configurados os requisitos do art. 301 do CP C [de 1973]. Preliminar de litispendência rejeitada. [...] 6. Segurança
parcialmente concedida, apenas para declarar nula a posse do candidato [...] e ordenar a expedição de ofício ao
Juízo Eleitoral da 15ª Zona de Icó/ CE, para que adote as medidas necessárias à imediata regularização da situação
do candidato em relevo, com a expedição, o mais célere possível, do respectivo diploma eleitoral, a fim de que seja
dado integral cumprimento ao provimento liminar emanado do Tribunal Superior Eleitoral (TRE-CE, MS nº 128,DJe,
t. 174, 20.09.2011, p. 7-8).
Mandado de segurança. Perda dos direitos políticos. Cancelamento de inscrição eleitoral. Decadência. Art. 54 da
Lei 9.784/1999. A recusa de cumprimento de obrigação a todos imposta ou prestação alternativa acarreta a perda
dos direitos políticos, nos termos do art. 15, inc. IV, da Constituição Federal. O prazo decadencial para a
Administração Pública cancelar a inscrição eleitoral, em decorrência da perda de direitos políticos, em razão do não
cumprimento de obrigação é de cinco anos, ex vi do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999. Decisão: À unanimidade
de votos, a corte concedeu a segurança para confirmar a liminar deferida às fls. 24 e 32 e declarar a decadência do
direito da Administração Pública em cancelar a inscrição eleitoral do impetrante (TRE-P R, MS nº 77,DJ
14.02.2003).
Mandado de segurança. Rejeitada preliminar de extinção da segurança sem julgamento do mérito. A substituição de
juízes eleitorais pelo sistema de rodízio não implica lesão aos princípios da inamovibilidade e da vitaliciedade.
Segurança denegada. Decisão unânime (TRE-PE, MS nº 246, DJ, t. 142, 27.07.2000, p. 42).

12.2.2 Mandado de injunção


Na seara eleitoral, o cabimento de mandado de injunção é expressamente contemplado no art. 121, § 4º, V, da
Constituição Federal. Segundo esse dispositivo, são recorríveis as decisões dos tribunais regionais eleitorais quando
“denegarem [...] mandado de injunção”. Ademais, o art. 105, I, h, da Constituição, ao definir a competência do
Superior Tribunal de Justiça nessa matéria, excetua, entre outros, “os casos de competência da Justiça eleitoral”.
O art. 5º, LXXI, da Lei Maior assim dispõe sobre a enfocada garantia: “conceder-se-á mandado de injunção
sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
O mandado de injunção é regulamentado pela Lei nº 13.300/2016, denominada Lei do Mandado de Injunção –
LMI. Antes dessa lei entrar em vigor, o art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.038/1990 determinava que quanto a ele
fossem “observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança, enquanto não editada legislação
específica”.21
Apresenta natureza de ação constitucional que tem por escopo suprir norma regulamentadora cuja não edição
torne inviável o exercício concreto de direitos, liberdades ou prerrogativas constitucionais. Por ele, pode-se
demandar atuação normativa de natureza legal ou infralegal (decreto, portaria, resolução).
Conforme esclarece Tavares (2013, p. 698):
As normas constitucionais que podem ser invocadas como causa do cabimento do mandado de injunção devem
reunir dois predicados básicos: i) disporem sobre direitos, liberdades ou prerrogativas; ii) terem eficácia material não
plena, ou seja, serem dependentes de detalhamento de seu conteúdo para fins de incidência, o que no caso deveria
ser feito, ante a recusa parlamentar ou administrativa, pelo Poder Judiciário.

A ausência de regulamentação legal pode ser total ou parcial. Será total quando não houver qualquer norma
tratando da matéria, e parcial “quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente”
(LMI, art. 2º, parágrafo único).
O procedimento do mandado de injunção é similar ao do mandado de segurança, tanto que as normas deste lhe
são aplicáveis subsidiariamente (LMI, art. 14).
No âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, os processos relativos a mandado de injunção tramitam
eletronicamente, pelo sistema PJe, conforme regulamentação constante da Resolução TSE nº 23.417/2014 e
Portaria TSE nº 396/2015.
A legitimidade ativa para impetrar mandado de injunção pertence à pessoa – natural ou jurídica – titular do
direito que se afirma violado.
Já a legitimidade passiva é do poder, órgão ou autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora,
e que se encontra em mora legislativa.
A competência para conhecer e julgar a causa é estabelecida em conformidade com o sujeito passivo,
ressalvada a competência originária do Supremo Tribunal Federal. Quanto a isso, dispõe o art. 102, I,q, da Lei
Maior competir ao Supremo Tribunal Federal: “I – processar e julgar, originariamente: [...] q) o mandado de
injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso
Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal
de Contas da União, de um dos tribunais superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal.”
A petição inicial segue as linhas do art. 319 do CP C/2015 no que for cabível. Consoante ocaput do art. 4º da
LMI, essa peça deve indicar, “além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou aquela a que está
vinculado”.
Caso a impetração seja “manifestamente incabível ou manifestamente improcedente” (LMI, art. 6º), poderá a
petição inicial ser indeferida de plano.
Sendo recebida a petição inicial, deve o impetrado ser notificado para prestar informações em dez dias.
Também é preciso que o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada seja cientificado do
ajuizamento da ação, “devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, ingresse no feito” (LMI,
art. 5º, II).
Findo o prazo para apresentação de informações pelo impetrado, há mister que se proceda à abertura de vista
dos autos ao Ministério Público para que, na qualidade de fiscal da ordem jurídica, se manifeste sobre a questão.
Nesse sentido, o art. 7º da LMI estabelece o prazo de dez dias para a manifestação do Parquet.
Haverá perda superveniente de interesse se no curso do processo (antes da decisão final) sobrevier norma
regulamentando a matéria. Em tal caso, o processo deverá ser extinto sem julgamento do mérito (CP C/2015, art.
485, VI), ficando prejudicada a impetração.
Pode ocorrer de a norma regulamentadora vir a lume quando já proferida decisão judicial nos autos do writ em
exame. Em tal caso, a norma superveniente não terá efeito retroativo, exceto – reza o art. 11, caput, da LMI – se
sua aplicação for mais favorável.
Na sequência, julga-se a questão, deferindo-se ou não o pedido, ou melhor, a injunção.
A procedência do pedido implica o reconhecimento do estado de mora legislativa.
Há controvérsia sobre a natureza da decisão. Inicialmente, prevaleceu na jurisprudência o entendimento de que
a decisão tem caráter meramente declaratório da inércia ou mora do órgão competente para regulamentar a
matéria.22 Outra corrente, porém, defende a natureza constitutiva da decisão judicial no sentido de que, declarando a
mora do Poder Público, possa ela desde logo implementar o exercício do direito, liberdade ou prerrogativa
constitucionais postulado pelo autor.
A esse respeito, o art. 8º da LMI estabelece solução que procura conciliar essas duas posições. Reconhecida a
mora legislativa, deve-se fixar prazo – razoável – para que ela seja sanada. Somente depois de vencido tal lapso é
que se imporá a observância da regulamentação constante da decisão judicial. Eis o teor daquele dispositivo:

Art. 8º. Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para:
I – determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora;
II – estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas
reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-
los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput quando comprovado que o
impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.

Pelo art. 9º da referida lei, a decisão judicial “terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até o
advento da norma regulamentadora”. Mas a ela se poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes
sempre que se entender que isso seja inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da
prerrogativa objeto da impetração.
A LMI também regulamenta o mandado de injunção coletivo. Esse visa a proteger os direitos, liberdades e
prerrogativas “pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo,
classe ou categoria” (art. 12, parágrafo único). Tem legitimidade ativa para promovê-lo: o Ministério Público, partido
político com representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, um ano, e, finalmente, a Defensoria Pública.
É indevida a condenação em custas judiciais e honorários advocatícios na ação em apreço. É que no Eleitoral
vige a regra de gratuidade das ações, pois tem-se em vista a prática de “atos necessários ao exercício da cidadania”
(CF, art. 5º, LXXVII; Lei nº 9.265/1996, art. 1º).
A Justiça eleitoral já teve oportunidade de julgar mandados de injunção perante ela impetrados. Vejam-se
alguns arestos:

Mandado de injunção. Voto. Eleitor em trânsito. Regulamentação. Norma. Atribuição. Tribunal Superior Eleitoral.
Improcedência. 1. Hipótese em que não há falar em omissão desta corte quanto à regulamentação de disposição
constitucional, a fim de que pudesse ser efetivada a possibilidade do voto em trânsito. Mandado de injunção julgado
improcedente. Decisão: O tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o pedido no mandado de injunção, na
forma do voto do relator (TSE, MI nº 4/RO, DJ, v. 1, 04.10.2006, p. 157).
Mandado de injunção. Regulamentação do Cap. V, III, II da Carta Magna. Partidos políticos. Inexistência de
restrições ao exercício dos direitos constitucionais inerentes a organização partidária decorrente da ausência de
norma regulamentadora (CF, art. 5º, LXXI). A LOP P não se encontra revogada pela CF/1988 (prec.: Res-TSE n.
15.271, de 23.05.1989). Indeferimento da inicial por falta de representação legal. Decisão: o tribunal, por votação
unânime, em questão de ordem, indeferiu liminarmente a petição inicial (TSE, MI nº 9/SP, DJ 01.11.1990, p. 12.369).
1. Mandado de injunção. Cabimento. CF, art. 5º, inciso LXXI. A impetração de mandado de injunção pressupõe falta
de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes a nacionalidade, a soberania e a cidadania, o que inocorre na espécie em exame. 2. Câmara de
vereadores. Fixação de membros. Eleição de 15.11.1988. Competência dos TREs. Face o disposto no § 4º do art. 5º
do ADCT, c/c o disposto no art. 29, IV, da Constituição Federal de 1988, a fixação do número de vagas a preencher
nas câmaras municipais na eleição de 1988 coube aos respectivos tribunais regionais, não tendo efeito retroativo
decisão de Assembleia Constituinte Estadual, que dispôs de forma diversa. Recurso ordinário desprovido. Decisão:
negou-se provimento ao recurso ordinário. Unânime (TSE, RMI nº 11/ GO, DJ 04.05.1990, p. 1).

12.2.3 Habeas data


Nos domínios eleitorais, o habeas data é expressamente referido no art. 121, § 4º, V, da Constituição Federal.
Segundo esse dispositivo, são recorríveis as decisões dos tribunais regionais eleitorais quando “denegarem [...]
habeas data”.
O art. 5º, LXXII, da Lei Maior assim dispõe sobre a enfocada garantia.

Art. 5º [...]; LXXII – conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou
bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

Vale ressaltar que o art. 5º, XXXIII, da Lei Maior reconhece o direito de todos “a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular [...]”, informações essas que devem ser prestadas no prazo legal, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Consoante ensina Tavares (2013, p. 698), o habeas data constitui

[...] a ação constitucional pela qual todo interessado pode exigir o conhecimento do conteúdo de registro de dados,
relativamente a sua pessoa, mas que se encontrem em repartições públicas ou particulares acessíveis ao público em
geral. Permite-se, ainda, por meio da ação, pedido para retificar dados constantes dos referidos registros e, inclusive,
sua retirada imediata, quando se tratar de informações obtidas com violação de direitos fundamentais ou cuja
exposição viole direitos fundamentais (como privacidade, intimidade, imagem etc.).

A regulamentação da garantia em tela encontra-se na Lei nº 9.507/1997.


O habeas data destina-se a amparar a pessoa em três aspectos fundamentais, a saber: i) acesso às
informações relativas a si própria, constante de registro ou banco de dados de caráter público; ii) direito de
retificação de incorreções lá constantes; iii) direito de complementação das informações.
Considera-se de caráter público – reza o parágrafo único do art. 1º da Lei nº 9.507/1997 – “todo registro ou
banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de
uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações”.
É sabido que a Justiça eleitoral produz e gerencia um gigantesco banco de informações a respeito de todos os
cidadãos, denominado cadastro eleitoral. Nele ficam armazenadas diversas informações pertinentes à identificação
de cada eleitor, como carteira de identidade, carteira de trabalho, certificado de quitação do serviço militar,
residência etc. No cadastro eleitoral ainda são registrados dados sobre a situação dos eleitores, por exemplo, o
comparecimento às urnas, justificativa eleitoral, trabalho como mesário. Também há informações sobre suspensão
de direitos políticos, débitos com a Justiça eleitoral, filiação a partido político etc. Há dados do cadastro que são
sigilosos, a exemplo de filiação, endereço, telefone, data de nascimento, dados biométricos.
Além disso, a Lei nº 13.444/2017 criou a Identificação Civil Nacional (ICN), cuja base de dados será
armazenada e gerida pelo TSE (art. 2º, § 1º).
Dois são os procedimentos previstos na Lei nº 9.507/1997: um de natureza administrativa e outro jurisdicional.
No âmbito administrativo, o interessado deve requerer acesso à informação diretamente ao órgão ou entidade
depositária do registro ou banco de dados. O requerimento deve ser apreciado “no prazo de 48 horas”. Sendo
deferido, poderá o requerente pleitear junto ao próprio órgão a retificação ou a complementação dos dados a seu
respeito caso sejam constadas inexatidões (Lei nº 9.507/1997, arts. 2º, 4º e 7º).
Do não atendimento dessas pretensões é que surge o interesse na impetração de habeas data.
Assim, há mister que primeiramente se busque administrativamente a informação, sua retificação ou
complementação, sob pena de não haver interesse processual que enseje a propositura da demanda. A esse respeito,
o STJ editou a Súmula 2, que dispõe: “Não cabe ohabeas data (CF, art. 5º, LXXII, letraa) se não houve recusa de
informações por parte da autoridade administrativa.”
Na via judicial, o procedimento é, em linhas gerais, similar ao do mandado de segurança.
Nos tribunais eleitorais, os processos atinentes a habeas data tramitam eletronicamente pelo sistema PJe.
Veja-se nesse sentido a regulamentação constante da Resolução TSE nº 23.417/2014 e da Portaria TSE nº
396/2015.
A legitimidade ativa para a propositura da demanda é da pessoa interessada em obter as informações, retificá-
las ou complementá-las.
Já a legitimidade passiva é da “entidade governamental ou de caráter público” em que se encontram os
registros ou o banco de dados.
A competência é definida em conformidade com a autoridade que nega a informação solicitada ou sua
retificação.
No âmbito da competência originária, o art. 102, I, d, da CF estabelece competir ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar o “o habeas data contra atos do Presidente da República, das mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal”. Ao Superior Tribunal de Justiça – reza o art. 105, I,b, da CF – compete processar e
julgar “os habeas data contra ato de ministro de Estado, dos comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica ou do próprio tribunal”. Nos dois casos, o rol é numerus clausus, isto é, taxativo, não comportando o
acréscimo de novas hipóteses.
Além disso, o art. 20, I, da Lei nº 9.507/1997 dispõe competir originariamente: “[...] c) aos tribunais regionais
federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais; e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na
Constituição do Estado; f) a juiz estadual, nos demais casos.”
Note-se, porém, que tanto a Constituição quanto a aludida lei silenciam acerca da competência originária dos
órgãos da Justiça eleitoral. No caso do Tribunal Superior Eleitoral, a ausência de específico dispositivo na
Constituição levou à formação do entendimento de que o “habeas data não está inserido no rol de competências
desta corte” (TSE, AgR-HD nº 3/DF, DJe 06.05.2009, p. 10).
Já no âmbito da competência recursal, os incisos II e III do aludido art. 20 da Lei nº 9.507/1997 dispõem que
o julgamento de habeas data compete: “[...] II – em grau de recurso: a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a
decisão denegatória for proferida em única instância pelos tribunais superiores; b) ao Superior Tribunal de Justiça,
quando a decisão for proferida em única instância pelos tribunais regionais federais; c) aos tribunais regionais
federais, quando a decisão for proferida por juiz federal; d) aos tribunais estaduais e ao do Distrito Federal e
territórios, conforme dispuserem a respectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal; III –
mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos na Constituição.”
Novamente, a norma infraconstitucional nada diz acerca da competência recursal da Justiça eleitoral.
O art. 121, § 4º, V, da Constituição Federal dispõe, entretanto, serem recorríveis as decisões dos tribunais
regionais eleitorais quando “denegarem [...] habeas data”.
De qualquer sorte, nada impede que as aludidas disposições sejam tomadas como parâmetro para a definição
da competência dos órgãos da Justiça eleitoral.
Nesse quadro, tem-se o seguinte: i) a decisão de juiz eleitoral denegatória de habeas data proferida por juiz
eleitoral é recorrível ao TRE mediante recurso eleitoral; i.a) sendo mantida a denegação, o acórdão regional poderá
ser impugnado mediante recurso especial eleitoral – porquanto, trata-se de decisão em última instância; ii) a decisão
do TRE (emúnica instância – competência originária) deve ser impugnada mediante recurso ordinário eleitoral; iii)
por fim, o acórdão do tribunal superior só é impugnável por recurso extraordinário, já que proferido no âmbito de sua
competência recursal (em última instância).
A petição inicial deve preencher os requisitos do art. 319 do novo CP C, “sendo apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda”. Deve, ainda, ser instruída com
prova pré-constituída: “I – da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão; II –
da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou III – da recusa em fazer-
se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão” (Lei nº
9.507/1997, art. 8º).
Claro está, pois, que o habeas data é uma ação documental, no sentido de que deve ser instruído ab initio
com a prova da violação do direito do impetrante.
Poderá a exordial ser indeferida já no limiar do processo, “se não for o caso de habeas data, ou lhe faltar
algum dos requisitos previstos nesta Lei” (Lei nº 9.507/1997, art. 10). Para impugnar a decisão de indeferimento, é
cabível: i) recurso eleitoral, sendo a decisão proferida por juiz eleitoral; ii) agravo, se a decisão for do relator no
tribunal, na hipótese de competência originária; nesse caso, se o órgão colegiado do tribunal mantiver o
indeferimento, o respectivo acórdão deverá ser impugnado por recurso ordinário (CF, art. 121, § 4º, V).
Recebida a petição inicial, deve o impetrado ser notificado para prestar informações no prazo de dez dias.
Em seguida, deve-se proceder à abertura de vista dos autos ao Ministério Público para que, em cinco dias, na
qualidade de fiscal da ordem jurídica, se manifeste sobre a questão.
Finalmente, julga-se a controvérsia, deferindo-se ou não o pedido.
Sendo o pedido julgado procedente: i) não há previsão legal de reexame necessário; ii) o recurso
eventualmente interposto não terá efeito suspensivo, mas tão só devolutivo (Lei nº 9.507/1997, art. 15, parágrafo
único); iii) será o decisum executado de imediato, devendo o juiz marcar data e horário para que o coator: “I –
apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros ou bancos de dadas; ou II –
apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos do impetrante” (Lei nº 9.507/1997,
art. 13).
Caso o pedido seja denegado, a parte poderá recorrer da decisão. Além dos embargos de declaração (CE, art.
275; CPC/2015, art. 1.022), que são sempre cabíveis, tem-se ainda:

se prolatada por juiz de primeiro grau, a sentença é impugnável por recurso eleitoral (CE, art. 265; Lei nº 9.507/1997,
art. 15, caput);
se proferida por tribunal regional eleitoral: ii.a) na hipótese de competência originária, quando denegatória, poderá a
decisão ser impugnada por recurso ordinário (CF, art. 121, § 4º, V); ii.b) na hipótese de competência recursal,
quando denegatória, poderá a decisão ser impugnada por recurso especial eleitoral (CF, art. 121, § 4º, I e II; CE, art.
276, I);
se proferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (na hipótese de competência recursal), quando denegatória, poderá a
decisão ser impugnada por recurso extraordinário (CF, art. 121, § 3º, primeira parte; Lei nº 9.507/1997, art. 20, III).

É de três dias o prazo para interposição de todos esses recursos.


No que concerne à coisa julgada, segue-se a regra comum, de modo que faz coisa julgada material a decisão
que extingue o processo com apreciação e julgamento do mérito, concedendo ou denegando o pedido.
Se, todavia, o pedido for negado e o processo, extinto sem apreciação do mérito, a decisão respectiva não faz
coisa julgada. Nesse caso – reza o art. 18 da Lei nº 9.507/1997 – poderá o pedido de habeas data ser renovado.
É gratuita a ação de habeas data (CF, art. 5º, LXXVII; Lei nº 9.507/1997, art. 21; Lei nº 9.265/1996, art. 1º,
III e V), sendo, pois, indevida a condenação em custas judiciais e honorários advocatícios.

12.2.4 Ação popular


A ação popular possui natureza constitucional e tem por objetivo a invalidação de ato praticado por agente
público que for lesivo ao Erário, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Para exercê-la, tem legitimidade ativa qualquer cidadão que esteja no gozo de direitos políticos, ou seja: qualquer
pessoa que goze de cidadania ativa.
É prevista no art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal nos seguintes termos:

[...] qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
Sua regulamentação é feita na Lei nº 4.717/1965.
A ação em exame não tem cabimento no âmbito do processo jurisdicional eleitoral. Isso porque, por um lado,
sua específica finalidade é a invalidação de ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Por outro, o processo jurisdicional eleitoral já conta com seus próprios
instrumentos impugnativos, que não são substituíveis por outro. Assim, por exemplo, não é adequada a ação popular
contra a expedição de diploma conquistado com infração à “moralidade administrativa”; no caso, a pessoa ou ente
legitimado deve buscar a cassação do diploma em ação eleitoral própria, tal como a ação de investigação judicial
eleitoral (AIJE).
Na verdade, a ação popular comparece circunstancialmente no processo jurisdicional eleitoral, no bojo de
discussões envolvendo abuso de poder praticado por candidato quando do exercício (pretérito) de cargo ou função
públicos, e da inelegibilidade que daí possa decorrer. Isso é evidenciado nos seguintes arestos:

1. A simples condenação em ação popular não gera inelegibilidade por vida pregressa, por não ser autoaplicável o §
9º, art. 14 da Constituição Federal, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão nº 4/1994, nos termos da
Súmula TSE nº 13. 2. O objeto da ação popular é a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público, bem como a condenação do responsável pelo ato ao pagamento de perdas e danos (arts. 1º e 11
da Lei nº 4.717/1965). Dessa maneira, não se inclui entre as finalidades da ação popular a cominação de sanção de
suspensão de direitos políticos por ato de improbidade administrativa. Por conseguinte, condenação a ressarcimento
do Erário em ação popular não conduz, por si só, à inelegibilidade. 3. A ação popular e a ação por improbidade
administrativa são institutos diversos. 4. A sanção de suspensão dos direitos políticos, por meio de ação de
improbidade administrativa, não possui natureza penal e depende de aplicação expressa e motivada por parte do juízo
competente, estando condicionada a sua efetividade ao trânsito em julgado da sentença condenatória, consoante
expressa previsão legal do art. 20 da Lei nº 8.429/1992. 5. Para estar caracterizada a inelegibilidade do art. 1º, inciso
I, alínea h, é imprescindível a finalidade eleitoral. 6. A ação popular não é pressuposto da inelegibilidade descrita no
art. 1º, inciso I, alínea g, da LC nº 64/1990. 7. Negado provimento ao recurso. Decisão: O tribunal, por unanimidade,
negou provimento ao recurso, nos termos do voto do relator (TSE, REspe nº 23347/PR, PSS 22.09.2004).
1. O requerente, enquanto prefeito [...] foi condenado por decisão proferida por órgão judicial colegiado em ação
popular. Todavia referida condenação não atrai a inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea h, da Lei das
Inelegibilidades, vez que ausente a finalidade eleitoral.
2. Para configurar a inelegibilidade da letra h do item I do art. 1º da Lei Complementar nº 64/1990, o abuso deve
vincular-se a finalidades eleitorais. Precedentes: TSE. 3. Impugnação rejeitada. Indeferimento. Decisão: Deferiram
o registro. V.u. (TRE-SP, REG nº 90670/SP, PSS 01.09.2014).
Registro de candidatura. Eleições 2010. Impugnação. Condenações confirmadas por órgão de segunda instância em
ação civil pública e ação popular. Em sede de ação civil pública ou ação popular, a inelegibilidade não decorre da
condenação por ressarcimento ao Erário. É necessário que a sanção de suspensão de direitos políticos seja
expressamente aplicada, de acordo com a redação do art. 1º, I, l, da Lei Complementar nº 64/1990. Cumpridos os
requisitos estabelecidos na Lei nº 9.504, de 30.09.1997 (Lei das Eleições), e na Resolução nº 23.221/2010/TSE.
Ação de impugnação ao registro de candidatura improcedente. Registro deferido. Decisão: O tribunal julgou
improcedente a ação de impugnação ao registro de candidatura, e deferiu o pedido de registro de candidatura, nos
termos dos votos que integram a decisão (TRE-MG, RCAND nº 363571/MG, PSS 02.08.2010).
Note-se, porém, que no âmbito das funções administrativas da Justiça Eleitoral é possível o ajuizamento de
ação popular com a finalidade, por exemplo, de se anular ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade
administrativa, ao patrimônio histórico e cultural. Figure-se como exemplo o ajuizamento da ação em tela com o
objetivo de anular contrato firmado por tribunal eleitoral.
Nesse caso, porém, a questão apresenta natureza administrativa, e não propriamente eleitoral.

12.3 TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR23


A tutela provisória de urgência de natureza cautelar é frequentemente invocada nos procedimentos eleitorais.
Tem ela em vista salvaguardar a eficácia do provimento final no processo principal, ou melhor, o resultado útil que
dele possa derivar. O resultado do processo (ou o direito pleiteado) é protegido para, no final, ser satisfeito.
O fundamento dessa tutela encontra-se no Livro V da Parte Geral do CP C/2015, notadamente em seu art. 300,
que requer a presença de “elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo”. Ou seja, para lograr essa tutela, basta que se evidencie o fumus boni iuris e o
periculum in mora.
O pleito cautelar poderá ser deduzido de forma autônoma e antecedente (CP C/2015, art. 305) à formalização
da demanda, ou incidentalmente em relação a processo que já se encontra em tramitação.24 Ademais, poderá o
pedido ser concedido liminarmente (CPC/2015, art. 300, § 2º).
Há dispositivos na legislação eleitoral que fazem evidente referência à tutela cautelar. Assim, por exemplo: i) o
art. 22, I, b, da LC nº 64/1990 autoriza expressamente o seu manejo ao impor ao órgão judicial que, ao despachar a
exordial, determine “que se suspenda o ato que deu motivo à representação, quando for relevante o fundamento e do
ato impugnado puder resultar a ineficiência da medida, caso seja julgada procedente”; ii) o art. 73, § 4º, da Lei nº
9.504/1997 determina “a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso”.
Frequente é o uso da tutela em exame no âmbito dos recursos eleitorais. Isso ocorre sempre que se pleiteia a
concessão de efeito suspensivo a recurso que não o tenha. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 995 do
CP C/2015 veicula regra geral estabelecendo que o relator do recurso no tribunal poderá determinar a suspensão da
eficácia da decisão recorrida “se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”. Essa regra geral é reiterada
naquele Código quando da regulamentação dos recursos, consoante se vê no art. 1.012, §§ 1º e 4º (apelação), no art.
1.019, I (agravo de instrumento), nos arts. 1.027, § 2º, e 1.029, § 5º (recursos ordinário, especial e extraordinário),
todos do CPC/2015.
Certo é que, para lograr a sustação da eficácia imediata da decisão que lhe é desfavorável, deve o interessado
manejar o instrumento processual adequado. Normalmente, isso é feito em sede de tutela provisória de urgência de
natureza cautelar, requerida em caráter antecedente, em consonância com os arts. 300 e 305 do CP C/2015.
Cumpre-lhe, então, demonstrar a existência de fumus boni juris (consubstanciado na viabilidade do recurso ou na
plausibilidade dos fundamentos que argui) e periculum in mora (expresso pelo risco concreto de ocorrência de dano
grave, como, e.g., ser o mandatário afastado do exercício do cargo).
Sobre esse tema, a jurisprudência já se pronunciou em diversas oportunidades:

Agravo regimental. Ação cautelar. Decisão liminar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial.
Excepcionalidade demonstrada. A atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial – apelo que, nos termos do
art. 257 do Código Eleitoral, é desprovido de tal efeito – é medida excepcional, apenas admissível quando
demonstrados o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação e a plausibilidade jurídica das razões recursais [...]
(TSE, AgR-AC nº 194443/SP, DJe, t. 68, 10.04.2015, p. 32).
[...] 3. A ausência de demonstração da viabilidade do recurso inviabiliza a concessão de efeito suspensivo em sede
cautelar [...] (TSE, AgR-AC nº 428581/MG, DJe 14.03.2011, p. 13-14).
1. O deferimento de pedido liminar em ação cautelar para atribuir efeito suspensivo a recurso não dotado desse
efeito exige a presença conjugada do fumus boni juris, consubstanciado na plausibilidade do direito invocado, e do
periculum in mora, o qual se traduz na ineficácia da decisão se concedida somente no julgamento definitivo da ação
[...] (TSE, AgR-AC nº 91072/MG, DJe 05.08.2010, p. 81).
O fumus boni iuris, que enseja a concessão de liminar em medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso
especial, diz com a viabilidade deste [...] (TSE, AMC nº 1688/RJ, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 170).

Ressalte-se que pela via da tutela cautelar não se pode desfazer o registro já deferido do candidato
representado, tampouco constituir inelegibilidade.
Por fim, cumpre lembrar que, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, o processo atinente a tutela cautelar
requerida em caráter antecedente tramita eletronicamente, pelo sistema PJe, conforme regulamentação constante
da Resolução TSE nº 23.417/2014 e Portaria TSE nº 396/2015.

12.4 RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA (RCED)


O recurso contra expedição do diploma é previsto no art. 262 do Código Eleitoral (com a redação da Lei nº
12.891/2013) nos seguintes termos: “O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos de
inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de elegibilidade.”
Três, portanto, são os fundamentos possíveis para o RCED, a saber: inelegibilidade superveniente,25
inelegibilidade constitucional e falta de condição de elegibilidade. Esse rol é fechado, taxativo ou numerus clausus,
não admitindo ampliação.
Apesar de, originariamente, ter sido concebido como recurso no Código Eleitoral (o que é explicitado em sua
denominação), o instituto em exame não possui natureza recursal, cuidando-se, antes, de ação. É que, por definição,
recurso constitui via impugnativa de decisão judicial, sendo manejado no interior de um processo estabelecido entre
partes. Outrossim, em regra, é inviável a ampla produção de provas em procedimento recursal, e isso pode suceder
no RCED.
Ora, se não se questiona uma decisão judicial (emanada do poder jurisdicional, frise-se) desfavorável, se não há
sucumbência e se existe uma fase probatória, não se pode falar propriamente em recurso, mas em outro instituto.
Deveras, a diplomação em si não constitui decisão judicial, tampouco resulta exclusivamente da atividade
jurisdicional do Estado. Trata-se, antes, de atividade administrativa da Justiça eleitoral, na qual é certificado
oficialmente o resultado final do processo eleitoral. Nela, patenteia-se o cumprimento dos procedimentos e
pressupostos exigidos para a investidura em mandato político-eletivo.
Note-se, ainda, que a decisão de conferir mandato político a alguém não emana da Justiça eleitoral, mas sim do
povo soberano, que comparece às urnas para manifestar sua vontade. Trata-se de expressão lídima da soberania
popular. O candidato eleito não é mandatário da Justiça eleitoral, mas sim do povo. Cristalina, portanto, a natureza
eminentemente administrativa do ato de expedição de diploma, porquanto não há, aí, decisão judicial no sentido
processual; nem sequer existe uma lide a ser solvida. Nesse diapasão, bem observou Sepúlveda Pertence:

1. De logo, tanto a proclamação dos resultados da eleição quanto a diplomação dos eleitos são atos de administração
eleitoral, e não de jurisdição.
2. Por isso mesmo, tenho observado que o chamado “recurso contra expedição de diplomação” (Código Eleitoral,
art. 262), antes de ser um recurso, é, na verdade, uma ação constitutiva negativa do ato administrativo da
diplomação (TSE, MS nº 3100/MA, Rel. Min. José Paulo Sepúlveda Pertence,DJ, v. 1, 07.02.2003, p. 139 – trecho
do voto).

A discussão acerca da natureza jurídica reflete na linguagem empregada no RCED, que por vezes é imprecisa
e vacilante. Assim, por exemplo, o sujeito ativo da relação processual ora é denominado “recorrente”, ora “autor”,
ora se fala em “interposição” do RCED, ora em “ajuizamento”, ora em “provimento do recurso”, ora em
“procedência do pedido”.
Inexiste na legislação eleitoral a expressa previsão de rito específico para o RCED. Diante disso, procura-se
estruturar seu procedimento a partir de regras atinentes aos recursos eleitorais, eis que ele é previsto no lugar que o
código reservou aos recursos, a saber: Parte Quinta (Disposições Várias), Título III (Dos Recursos), Capítulo I
(Disposições Preliminares).
No entanto, tendo em vista que a Lei nº 12.891/2013 limitou suas hipóteses de cabimento à inelegibilidade e
falta de condição de elegibilidade, nada impede a aplicação, supletiva ao rito do RCED do procedimento previsto nos
arts. 2º a 16 da LC nº 64/1990. Além de se tratar de procedimento célere, cujo objetivo específico é a impugnação
de registro fundada igualmente em inelegibilidade e falta de condição de elegibilidade, encontra-se ele bem adaptado
às diversas instâncias da Justiça Eleitoral.
Assim, nas eleições municipais, a petição inicial de RCED deve ser protocolada perante o juiz que presidir a
Junta Eleitoral, observando-se o disposto nos arts. 266 e 267 do Código Eleitoral. Não há necessidade de preparo.
Recebida a petição, será o réu citado, abrindo-se-lhe vista dos autos para, em três dias, oferecer defesa ou
contrarrazões. Em seguida, o juiz fará subir os autos ao Tribunal Regional Eleitoral – que é o órgão competente para
o processamento e julgamento da causa em exame. Não é preciso abrir vista dos autos ao Órgão do Ministério
Público que atua perante o Juiz Eleitoral, pois funcionará no processo o Procurador Regional Eleitoral.
Nas eleições gerais (= federais e estaduais), a petição de RCED deve ser protocolada perante o presidente do
TRE. Não há juízo de admissibilidade nessa instância, o qual é feito imediatamente pelo Tribunal Superior Eleitoral –
o órgão competente para o processamento e julgamento conforme assentado pelo órgão pleno do Supremo Tribunal
Federal no julgamento da ADP F nº 167 MC-REF/DF, em 08.03.2018. Juntada a defesa, serão os autos remetidos
àquele superior sodalício. Também aqui não é preciso abrir vista dos autos ao Procurador Regional Eleitoral, já que
atuará no processo o Procurador-Geral Eleitoral. A propósito, dispõe a Súmula TSE nº 37:

Compete originariamente ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar recurso contra expedição de diploma
envolvendo eleições federais ou estaduais.

Já no que concerne às eleições presidenciais, a diplomação é realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral. De
sorte que a impugnação à diplomação, com fundamento no art. 262 do CE, deve ser manejada diretamente ao
próprio Tribunal Superior, nos termos do artigo 22, I, g, desse código26, pois é dele a competência para o
processamento e julgamento da causa.

12.5 RECLAMAÇÃO
No processo jurisdicional eleitoral brasileiro há diversas espécies de ações, dentre as quais destacam-se as
seguintes: i) ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder (AIJE) (LC nº 64/1990, arts. 19 e 22); ii) ação
por captação ou gasto ilícito de recursos para fins eleitorais (Lei nº 9.504/1997, art. 30-A); iii) ação por captação
ilícita de sufrágio (Lei nº 9.504/1997, art. 41-A); iv) ação por conduta vedada (Lei nº 9.504/1997, art. 73 e ss.); v)
ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) (CF, art. 14, §§ 10 e 11).
O termo representação é comumente empregado no Direito processual eleitoral como sinônimo de ação para
identificar as ações eleitorais previstas na Lei nº 9.504/1997 (LE) e separá-las da AIJE (prevista no art. 22 da LC
64/1990).
Também é frequente o uso do vocábulo reclamação.
A reclamação do Direito eleitoral não tem, entretanto, natureza de ação, mas de medida administrativa. Trata-
se de notícia de ato supostamente irregular praticado por alguma entidade, agente ou órgão da Justiça eleitoral, na
qual se pede à autoridade eleitoral a adoção de providência. Ostenta ela caráter correcional, não sendo vocacionada
à provocação da jurisdição eleitoral. À guisa de exemplo, cite-se o disposto nos arts. 22, I, f, e 29, I, f, ambos do
Código Eleitoral, que preveem a competência respectivamente do TSE e dos TREs para conhecer reclamações “
relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apuração da origem dos
seus recursos”. Cite-se também o § 1º, art. 4º da Res. TSE nº 22.624/2007, segundo o qual a reclamação tem “como
objeto ato de servidor da Justiça eleitoral”.
Na esfera processual, o termo reclamação também remete ao instituto previsto nos arts. 102, I, l, e 105, I, f, da
Constituição Federal, que preveem respectivamente a competência originária do STF e do STJ para processar e
julgar “a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões”. Sobre isso,
dispõe o art. 988 do CPC/2015:

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: I – preservar a competência do
tribunal; II – garantir a autoridade das decisões do tribunal; III – garantir a observância de enunciado de súmula
vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; IV – garantir
a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
incidente de assunção de competência.

No tocante à natureza jurídica do instituto enfocado, assinalam Mendes e Gonet Branco (2012, p. 1.452) que “a
posição dominante parece ser aquela que atribui à reclamação natureza de ação propriamente dita [...]”, isso por ela
permitir a provocação da jurisdição e a formação de pedido de tutela jurisdicional, “além de conter em seu bojo uma
lide a ser solvida, decorrente do conflito entre aqueles que persistem na invasão de competência ou no desrespeito
das decisões do tribunal e, por outro lado, aqueles que pretendem ver preservadas a competência e a eficácia das
decisões exaradas pela Corte”.
Conquanto nem a Constituição Federal nem o CP C/2015 façam alusão aos tribunais eleitorais, por analogia e
semelhança de situações, não se vislumbra óbice a que – nas hipóteses dos incisos I e II do citado art. 988 – a
reclamação enfocada seja manejada perante eles, caso se apresentem seus pressupostos.
No entanto, cumpre consignar o teor da Súmula TSE nº 35, consoante a qual: “Não é cabível reclamação para
arguir o descumprimento de resposta a consulta ou de ato normativo do Tribunal Superior Eleitoral.”

12.6 AÇÃO RESCISÓRIA

12.6.1 Ação rescisória eleitoral


A coisa julgada constitui garantia fundamental inscrita no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Trata-se da
“autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso” (CP C, art. 502). Ela
vincula as partes à declaração contida no dispositivo da decisão que julgou o mérito da causa.
A razão essencial desse instituto assenta-se na necessidade de se conferir segurança jurídica às relações
jurídico-sociais, bem como na proteção da confiança. Não fosse por ele, não haveria certeza nem estabilidade do
direito, o que poderia prejudicar o equilíbrio e a harmonia da vida social.
No entanto, em determinadas e excepcionais situações, é permitido o rompimento da coisa julgada e,
consequentemente, a rediscussão da causa já julgada em caráter definitivo. De sorte que a manutenção da
imutabilidade da decisão judicial perpetuaria grave injustiça, podendo acarretar maior instabilidade social que a sua
revisão.
A ação rescisória constitui instrumento processual cujo objeto é a desconstituição de decisão judicial transitada
em julgado. É de competência originária dos tribunais e possui procedimento próprio. Por ela, pode o autor pleitear
não só a rescisão do julgado (= juízo rescindente ou iudicium rescindens), como também o novo julgamento da causa
(= juízo rescisório ou iudicium rescissorium).
O juízo rescindente é o que caracteriza a ação rescisória como tal, pelo qual é decidido se a coisa julgada deve
ser desconstituída, ou não. Sua formulação requer que a parte tenha invocado pelo menos uma das hipóteses
legalmente previstas. Sendo o pedido rescindente julgado procedente, “o tribunal rescindirá a decisão” (CP C, art.
974 do CP C, primeira parte). Essa decisão possui natureza desconstitutiva, porque desfaz o julgado impugnado e a
respectiva coisa julgada.
Desconstituída a decisão transitada em julgado, sendo o caso, passa-se à formulação do segundo juízo, o
rescisório. Por ele, realiza-se novo julgamento da causa (CPC, art. 974 do CPC, segunda parte).
Os fundamentos que podem embasar o juízo rescindente são arrolados no art. 966 do CP C, segundo o qual a
decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

I – se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II – for proferida por
juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III – resultar de dolo ou coação da parte vencedora em
detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV – ofender
a coisa julgada; V – violar manifestamente norma jurídica; VI – for fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII – obtiver o autor,
posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por
si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII – for fundada em erro de fato verificável do exame dos
autos. § 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente
fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido
sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. § 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a
decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I – nova propositura da demanda; ou II –
admissibilidade do recurso correspondente. § 3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da
decisão.

A ação rescisória eleitoral é prevista no art. 22, I, j, do Código Eleitoral (incluído pela LC nº 86/1996), que trata
da competência do Tribunal Superior Eleitoral. Originalmente, essa alínea continha a seguinte redação: “Art. 1º, I,j)
a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão
irrecorrível, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado”. Todavia, ao decidir a
Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 1.459-5 –DJ 07.05.1999 –, o Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade da expressão “possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado”.
Assim, atualmente, só a primeira parte se encontra em vigor.
O aludido do art. 22, I, j, do CE não indicou os fundamentos que podem embasar o juízo rescindente. Em face
da omissão legal, aceita-se a aplicação por analogia – e com as adaptações necessárias – das hipóteses arroladas no
citado art. 966 do CPC.
A ação rescisória eleitoral segue procedimento especial.
O prazo para ajuizamento é de 120 dias, contado do trânsito em julgado da decisão que se pretende desfazer.
Dada a expressa previsão contida no art. 22, I, j, do CE, não se aplica aqui o lapso de dois anos previsto no art. 975
do CPC.
Detém legitimidade ad causam ativa quem foi parte no processo que deu origem à decisão rescindenda. Além
disso, o art. 487 do CP C ainda confere legitimidade ao terceiro juridicamente interessado e também ao Ministério
Público, este apenas nas seguintes hipóteses: “(a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a
intervenção; (b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a
lei; c) em outros casos em que se imponha sua atuação [...]”.
A citada alínea j, I, art. 22 do CE atribuiu competência rescisória tão somente ao TSE, de sorte que apenas os
julgados desse Tribunal podem ser rescindidos. Diante da expressa previsão legal e da incidência do princípio da
especialidade, os Tribunais Regionais Eleitorais não detêm competência para processar e julgar a ação em tela, nem
mesmo em face de seus próprios julgados.
No âmbito do Tribunal Superior, o processo tramitará sob a responsabilidade do relator sorteado, que recebeu a
distribuição do processo. Em decisão singular, o relator poderá in initio litis indeferir a petição inicial nas hipóteses
previstas no art. 330 do CP C, bem como julgar improcedente o pedido nas hipóteses do art. 332 do mesmo código
(CP C, art. 968, §§ 3º e 4º). A petição inicial também será rejeitada no caso de ajuizamento intempestivo da ação
rescisória (TSE – AgR-AR nº 185.440/PB – DJe 5-10-2012).
O relator ainda poderá apreciar e decidir pedido de tutela provisória (CPC, art. 932, II, c.c. art. 294 ss.).
A demanda deve ter por objeto a rescisão de decisão do próprio Tribunal Superior Eleitoral, proferida no âmbito
de sua competência originária ou recursal. Destarte, esse sodalício não detém competência para rescindir julgado de
Tribunal Regional, tampouco de juiz eleitoral de 1º grau.
A decisão rescindenda pode ter natureza colegiada (= acórdão), ou monocrática (= singular, do relator do
recurso) – contanto que essa última tenha apreciado o mérito da causa (TSE – AR nº 64.621/BA –DJe 22-8-2011,
p. 15).
Quanto à matéria impugnável, a enfocada alínea j estabelece expressamente que a decisão cujo desfazimento
se pleiteia deve versar sobre inelegibilidade. A esse respeito, é clara a Súmula TSE nº 33: “Somente é cabível ação
rescisória de decisões do Tribunal Superior Eleitoral que versem sobre a incidência de causa de inelegibilidade”.
Assim, há mister que se tenha declarado ou constituído inelegibilidade. De sorte que o julgado rescindendo
deve proceder de: (i) AIJE fundada no art. 22, XIV, da LC nº 64/1990;(ii) processo de registro de candidatura; (iii)
ação impugnatória de registro de candidatura (AIRC); ou,(iv) recurso contra expedição de diploma (RCED)
fundado no art. 262 do CE.

[...] 1. No âmbito da Justiça Eleitoral, a ação rescisória só é cabível para desconstituir acórdãos do TSE que
contenham declaração de inelegibilidade (art. 22, I, j, do Código Eleitoral). Precedentes. 2. Agravo regimental
desprovido. Decisão: O Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator
(TSE – AgR-AR nº 179.722/ PE – DJe 24-9-2012, p. 25).

Note-se que o termo inelegibilidade é aí compreendido em sentido estrito, de maneira que é incabível a ação
em apreço se o julgado rescindendo versar sobre “ausência de condição de elegibilidade” (TSE – AgR-AR nº
16.927/SP – DJe, t. 164, 28-8-2013, p. 36; AgR-AR nº 4.975/MT – DJe 9-8-2013, p. 167).
É preciso que a decisão tenha apreciado o mérito da causa ou do recurso, pronunciando-se efetivamente
acerca da inelegibilidade. Não atende a esse pressuposto o julgado que extinguiu o processo sem apreciar seu
mérito, bem como o que não conheceu ou negou seguimento ao recurso. Nesse sentido, a jurisprudência tem
afirmado ser incabível ação rescisória para desconstituir ato do TSE que “se limitou a julgar inadmissível recurso
especial” (TSE – AgR-AR nº 422.426/TO –DJe, t. 208, 3-11-2011, p. 68; AgR-AR nº 150.911/ SP – DJe 12-5-
2011, p. 28-29).
Em tal quadro, indevida é a via processual em exame para rescindir atos jurisdicionais que, na verdade, figuram
como pressuposto ou causa de juízos declaratórios de inelegibilidade. Isso ocorre, e. g., com as ações fundadas nos
arts. 30-A (captação ou gasto ilícito de recurso em campanha eleitoral), 41-A (captação ilícita de sufrágio) e 73
(conduta vedada a agente público), todos da LE, que não têm por objeto direto nem a declaração nem a constituição
de inelegibilidade e, por tal razão, as decisões nelas prolatadas não podem ser desfeitas via ação rescisória eleitoral.
É que essas ações ensejam a inelegibilidade apenas de modo indireto ou reflexo, nos termos do art. 1º, I, j, da LC nº
64/1990; de sorte que a inelegibilidade somente será declarada em futuro e eventual processo de registro de
candidatura (isso porque, na dicção do § 10 do art. 11 da LE: “as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no
momento da formalização do pedido de registro da candidatura”). Nesse sentido:

Ação rescisória. Cabimento. 1. A ação rescisória somente é cabível no âmbito da Justiça Eleitoral contra decisão do
Tribunal Superior Eleitoral e que verse sobre inelegibilidade. 2. Não cabe ação rescisória para desconstituir decisão
condenatória, em sede de representação do art. 41-A da Lei nº 9.504/97, já que nela não há, no âmbito da própria
ação, declaração de inelegibilidade. Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão: O Tribunal, por
unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator (TSE – AgR-AR nº 41.557/PA –DJe,
t. 201, 17-10-2012, p. 15).

[...] 2. Não é possível, por meio da via excepcional da ação rescisória, a simples pretensão de rediscussão da causa
de indeferimento do registro de candidatura. [...] (TSE – AgR-AR nº 185.440/PB – DJe 5-10-2012).

Cumpre ressaltar que nem sempre é necessário que ocorra novo julgamento da causa – e, pois, que se formule
juízo rescisório. Há situações em que o juízo rescindente é suficiente para a adequada tutela jurisdicional. Tanto
assim que o art. 968, I, do CP C permite que o autor cumule “ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo
julgamento do processo”. Como se vê, o juízo rescisório deve ser formulado apenas se for o caso. Exemplos: i) se o
fundamento da ação rescisória for ofensa à coisa julgada, basta que haja rescisão da decisão para que prevaleça a
autoridade do julgado anterior; ii) se foi imposta sanção de inelegibilidade com fulcro no art. 22, XIV, da LC nº
64/1990, a simples procedência do pedido rescisório a extinguirá, restabelecendo-se a elegibilidade do autor.
Para impugnar a decisão que julga a ação rescisória, pode-se cogitar dos seguintes recursos: (i) agravo interno
– no caso de decisão singular do relator; (ii) recurso extraordinário – se se tratar de decisão colegiada.

12.6.2 Ação de anulação de ato processual


O § 4º do art. 966 do CP C prevê hipóteses em que a ação cabível será anulatória – e não rescisória. Eis o seu
teor: “§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e
homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à
anulação, nos termos da lei”.
Extrai-se desse dispositivo que o objeto da ação em exame é a invalidação de ato processual praticado pela
parte no processo e homologado pelo juízo. Não se trata de invalidação do ato judicial de homologação, mas sim do
ato dispositivo praticado pela parte, tal como transação ou renúncia a direito.
A ação anulatória não deve ser confundida com a rescisória. Primeiro, porque o objeto da anulatória é a
invalidação de ato dispositivo praticado pela parte no processo, enquanto a rescisória tem por objeto desconstituir a
coisa julgada. Segundo, porque a anulatória é de competência do juízo de primeiro grau, e não originariamente dos
tribunais – como ocorre com a rescisória. Por fim, o procedimento a ser observado na anulatória é o comum,
enquanto a rescisória se submete a procedimento especial.
De qualquer sorte, a ação em exame tem pouco ou nenhum interesse nos domínios eleitorais. Isso porque,
nessa seara, não há que se falar em direito disponível ou que possa ser objeto de disposição pela parte.

12.6.3 Ação de querela nullitatis insanabilis


À semelhança da ação rescisória, a ação de querela nullitatis insanabilis também visa à impugnação de
anterior decisão judicial transitada em julgado. Entretanto, essas duas ações diferenciam-se em seus fundamentos.
É que a querela nullitatis pressupõe a não existência do processo ou do ato decisório. Seu cabimento requer a
ausência de pressuposto processual de existência do processo (ex.: jurisdição) ou a falta ou nulidade de citação do
réu. De maneira que, se não existiu processo nem sentença válidos, não há que se falar em coisa julgada.
Ao contrário do que ocorre com a rescisória, a ação de querela nullitatis é de competência do juízo de
primeiro grau – e não originária dos tribunais. Ademais, nela deve-se observar o procedimento comum.
1 A esse respeito, vide Paulo Bonavides (2010, p. 560-593) e Ferreira Filho (2010, p. 83 e ss.). O primeiro põe
ainda em destaque a existência de duas outras gerações de direitos fundamentais, a saber: a quarta, representada
pelo “direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo”, e a quinta geração, esta simbolizada
pelo direito à paz.
2 O sentido do termo garantia não é unívoco. Sobre outros sentidos que ele assume, vide Ferreira Filho (2010, p. 93-
94).
3 As definições de direito coletivo em sentido estrito e individual homogêneo são idênticas às do art. 81, parágrafo
único, II e III, da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor – CDC).
4 No caso de impetração por partido político, o objeto do writ deve relacionar-se com sua específica atuação política
ou com a defesa dos interesses de seus filiados. Confira-se precedente do STF: “[...] 2. O partido político não
está, pois, autorizado a valer-se do mandado de segurança coletivo para, substituindo todos os cidadãos na defesa
de interesses individuais, impugnar majoração de tributo. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido” (STF,
RE nº 196184/AM, 1ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 18.02.2005, p. 6).
5 STF, Súmula 629: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes.” STF, Súmula 630: “A entidade de classe tem legitimação para o
mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria.”
6 Dispõe a Súmula 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.” Entretanto, o rigor dessa súmula há muito foi mitigado pelo próprio STF, admitindo-se o writ “se no
ato judicial houvesse teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante” (STF, MS nº 31831 AgR/PA, Pleno, Rel. Min.
Dias Toffoli, DJe 234, 28.11.2013). De igual modo, reza a Súmula TSE nº 22: “Não cabe mandado de segurança
contra decisão judicial recorrível, salvo situações de teratologia ou manifestamente ilegais.” De qualquer forma,
como obtemperam Meirelles et al. (2009, p. 41 e 43): “Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo
do recurso próprio, pois por ele não se reforma a decisão impugnada, mas apenas se obtém a sustação de seus
efeitos lesivos ao direito líquido e certo do impetrante, até a revisão do julgado no recurso cabível. [...] No entanto,
é importante ressaltar que a mera existência de recurso processual cabível não afasta o mandado de segurança se
tal recurso é insuficiente para coibir a ilegalidade do Judiciário e impedir a lesão ao direito evidente do impetrante
[...].”
7 Dispõe a Súmula 268 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.”
Do mesmo modo, dispõe a Súmula TSE nº 23: “Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada
em julgado.”
8 No Direito brasileiro havia se consolidado o entendimento de que não cabe mandado de segurança contra ato de
partido político ou de seus dirigentes – já que não se trata de autoridade. No entanto, esse entendimento não
mais subsiste, pois a Lei nº 12.016/2009, que conferiu nova disciplina à ação mandamental, equiparou às
autoridades os “representantes ou órgãos de partidos políticos” (LMS, art. 1º, § 1º).
9 O impetrado é sempre a autoridade coatora, e não – afirmam Meirelles et al. (2009, p. 62-63) – “a pessoa jurídica
ou o órgão a que pertence e ao qual seu ato é imputado em razão do ofício. A entidade interessada deve ingressar
no mandado dentro do prazo para as informações, como litisconsorte do impetrado (art. 7º, inc. II, da Lei nº
12.016/90).” Por outro lado, reza a Súmula 510 do STF: “Praticado o ato por autoridade, no exercício de
competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.”
10 Observe-se, porém, que “a natureza do ato impugnado” é critério considerado relevante pela jurisprudência.
Confira-se: “1. No Mandado de Segurança a competência para processar e julgar a ação define-se pela categoria,
qualificação e hierarquia funcional da autoridade coatora e pela natureza do ato impugnado. [...].” (STJ – CC nº
28065/MA – 1ª Seção – Rel. Min. Milton Luiz Pereira - DJ 28-5-2001, p. 145).
11 Eis o teor desse dispositivo: “CE, art. 22. Compete ao Tribunal Superior: I – Processar e julgar originariamente: [...]
e) o [...] mandado de segurança, em matéria eleitoral, relativos a atos do Presidente da República, dos ministros
de Estado e dos tribunais regionais; ou, ainda, o habeas corpus, quando houver perigo de se consumar a violência
antes que o juiz competente possa prover sobre a impetração.”
12 Essa interpretação harmoniza-se com o disposto no art. 102, I, d, da Constituição Federal, que afirma competir
originariamente ao STF processar e julgar o mandado de segurança “contra atos [...] do próprio Supremo Tribunal
Federal”. O mesmo se passa com o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I,b: “os mandados de segurança
[...] contra ato [...] do próprio Tribunal”) e também com os Tribunais Regionais Federais (CF, art. 108, I,c, in
verbis: “os mandados de segurança “contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal”). Idêntica normativa consta
do art. 21, VI, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) (LC nº 35/1979). Em tais dispositivos, o sentido
da expressão “ato do próprio tribunal” também compreende o ato praticado isoladamente por um membro seu, o
que atrai a competência do respectivo sodalício. Considerando que os tribunais eleitorais têm natureza federal, a
regra em comento ainda se harmoniza com a exceção preconizada no inciso VIII do art. 109 da Lei Maior,
segundo o qual aos juízes federais compete processar e julgar “os mandados de segurança e os habeas data
contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais”.
13 Embora não tenha sido inteiramente recepcionada pela Constituição Federal, nessa parte a regra inscrita na alínea
e, I, art. 22 do CE segue em vigor.
14 No processo eleitoral, as causas não têm valor e são sempre gratuitas. Isso por serem compreendidas como “atos
necessários ao exercício da cidadania” (CF, art. 5º, LXXVII; Lei nº 9.265/1996, art. 1º).
15 As provas no mandado de segurança são sempre documentais e devem acompanhar a petição inicial.
16 A audiência prevista nesse inciso VII não tem cabimento no mandado de segurança.
17 Saliente-se, porém, que, nos termos do § 2º do art. 7º da LMS, “Não será concedida medida liminar que tenha por
objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza”.
18 Nos termos do § 2º do art. 14 da LMS: “Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.”
19 Por se tratar de desobediência de decisão da Justiça eleitoral, o crime de desobediência aqui é o previsto no art.
347 do Código Eleitoral e não o tipificado no art. 330 do Código Penal. Aquele dispositivo estabelece: “Art. 347.
Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça eleitoral ou opor
embaraços à sua execução: Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento de dez a vinte dias-multa.”
20 O art. 85, VII, da Constituição Federal prevê como crime de responsabilidade os atos do Presidente da República
que atentem – entre outras coisas – contra a Constituição Federal e, especialmente, contra “o cumprimento das
leis e das decisões judiciais”. Essa matéria é regulada pela Lei nº 1.079/1950, cujo art. 12 estabelece: “Art. 12.
São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 1 – impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos,
mandados ou decisões do Poder Judiciário; 2 – recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que
depender do exercício das funções do Poder Executivo; 3 – deixar de atender a requisição de intervenção federal
do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral; 4 – impedir ou frustrar pagamento determinado
por sentença judiciária.” Outrossim, o art. 74 dessa lei estende o crime em apreço aos governadores dos estados
e seus respectivos secretários, in verbis: “Art. 74. Constituem crimes de responsabilidade dos governadores dos
estados ou dos seus secretários, quando por eles praticados, os atos definidos como crimes nesta lei.”
21 Anote-se que o parágrafo único, art. 24, da Lei nº 8.038/1990, fica revogado na parte concernente ao mandado de
injunção.
22 Vide STF, MI nº 107/DF, Pleno, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 02.08.1991, p. 9.916.
23 As ações cautelares nominais foram extintas pelo CPC de 2015. Extrai-se da Exposição de Motivos desse Código:
“Extinguiram-se também as ações cautelares nominadas. Adotou-se a regra no sentido de que basta à parte a
demonstração do fumus boni juris e do perigo de ineficácia da prestação jurisdicional para que a providência
pleiteada deva ser deferida. Disciplina-se também a tutela sumária, que visa a proteger o direito evidente,
independentemente de periculum in mora. O novo CP C agora deixa clara a possibilidade de concessão de tutela
de urgência e de tutela de evidência. Considerou-se conveniente esclarecer de forma expressa que a resposta do
Poder Judiciário deve ser rápida não só em situações em que a urgência decorre do risco de eficácia do processo
e do eventual perecimento do próprio direito. Também em hipóteses em que as alegações da parte se revelam de
juridicidade ostensiva deve a tutela ser antecipadamente (total ou parcialmente) concedida, independentemente de
periculum in mora, por não haver razão relevante para a espera, até porque, via de regra, a demora do processo
gera agravamento do dano.”
24 Determina o art. 14 da Res. TSE nº 23.478/2016 que: “Os pedidos autônomos de tutela provisória serão autuados
em classe própria.” Mas até que seja criada essa classe processual, serão eles “autuados, no Processo Judicial
Eletrônico, na classe de Ação Cautelar” (art. 21 da referida Resolução). Já os pedidos apresentados de forma
incidental em relação a feitos em tramitação deverão ser juntados aos autos principais.
25 Cuida-se aqui de inelegibilidade infraconstitucional superveniente “ao registro de candidatura, e que surge até a
data do pleito” (Súmula TSE nº 47).
26 Eis o teor do citado dispositivo: “Art. 22. Compete ao Tribunal Superior: I – Processar e julgar originariamente: [...]
g) as impugnações à apuração do resultado geral, proclamação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de
Presidente e Vice-Presidente da República; [...].”
APÊNDICE

SÚMULAS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL – TSE

– Súmula-TSE nº 22
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial recorrível, salvo situações de teratologia ou
manifestamente ilegais.

– Súmula-TSE nº 23
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado.

– Súmula-TSE nº 24
Não cabe recurso especial eleitoral para simples reexame do conjunto fático-probatório.

– Súmula-TSE nº 25
É indispensável o esgotamento das instâncias ordinárias para a interposição de recurso especial eleitoral.

– Súmula-TSE nº 26
É inadmissível o recurso que deixa de impugnar especificamente fundamento da decisão recorrida que é, por si
só, suficiente para a manutenção desta.

– Súmula-TSE nº 27
É inadmissível recurso cuja deficiência de fundamentação impossibilite a compreensão da controvérsia.

– Súmula-TSE nº 28
A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial interposto com base na alínea b do inciso I do
art. 276 do Código Eleitoral somente estará demonstrada mediante a realização de cotejo analítico e a
existência de similitude fática entre os acórdãos paradigma e o aresto recorrido.

– Súmula-TSE nº 29
A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não se presta a configurar dissídio jurisprudencial apto a
fundamentar recurso especial eleitoral.

– Súmula-TSE nº 30
Não se conhece de recurso especial eleitoral por dissídio jurisprudencial, quando a decisão recorrida estiver em
conformidade com a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

– Súmula-TSE nº 31
Não cabe recurso especial eleitoral contra acórdão que decide sobre pedido de medida liminar.
– Súmula-TSE nº 32
É inadmissível recurso especial eleitoral por violação à legislação municipal ou estadual, ao Regimento Interno
dos Tribunais Eleitorais ou às normas partidárias.

– Súmula-TSE nº 33
Somente é cabível ação rescisória de decisões do Tribunal Superior Eleitoral que versem sobre a incidência de
causa de inelegibilidade.

– Súmula-TSE nº 34
Não compete ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar mandado de segurança contra ato de membro de
Tribunal Regional Eleitoral.

– Súmula-TSE nº 35
Não é cabível reclamação para arguir o descumprimento de resposta a consulta ou de ato normativo do
Tribunal Superior Eleitoral.

– Súmula-TSE nº 36
Cabe recurso ordinário de acórdão de Tribunal Regional Eleitoral que decida sobre inelegibilidade, expedição ou
anulação de diploma ou perda de mandato eletivo nas eleições federais ou estaduais (art. 121, § 4º, incisos III e
IV, da Constituição Federal).

– Súmula-TSE nº 37
Compete originariamente ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar recurso contra expedição de diploma
envolvendo eleições federais ou estaduais.

– Súmula-TSE nº 47
A inelegibilidade superveniente que autoriza a interposição de recurso contra expedição de diploma, fundado no
art. 262 do Código Eleitoral, é aquela de índole constitucional ou, se infraconstitucional, superveniente ao
registro de candidatura, e que surge até a data do pleito.

– Súmula-TSE nº 64
Contra acórdão que discute, simultaneamente, condições de elegibilidade e de inelegibilidade, é cabível o
recurso ordinário.

– Súmula-TSE nº 65
Considera-se tempestivo o recurso interposto antes da publicação da decisão recorrida.

– Súmula-TSE nº 71
Na hipótese de negativa de seguimento ao recurso especial e da consequente interposição de agravo, a parte
deverá apresentar contrarrazões tanto ao agravo quanto ao recurso especial, dentro do mesmo tríduo legal.

– Súmula-TSE nº 72
É inadmissível o recurso especial eleitoral quando a questão suscitada não foi debatida na decisão recorrida e
não foi objeto de embargos de declaração.
REFERÊNCIAS

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.
AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas de Direito processual civil, v. 3. 12. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 1989.
ARAÚJO CINTRA, Antônio Carlos de; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
geral do processo. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros Editores, 1995.
BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Curso de processo civil: processo de conhecimento, v. 1. 3. ed. rev. e
atual. Porto Alegre: Fabris, 1996.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil . 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense, 2012.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito constitucional. 25. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2010.
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. 10. ed. rev., atual. e ampl. Bauru: Edipro, 2002.
CHEIM JORGE, Flávio. Teoria geral dos recursos cíveis. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2011.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. II. 4. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda., 2004.
ECHANDÍA, Hernando Devis. Teoría general del processo. Bogotá: Editoral Temis S.A., 2015.
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito constitucional. 3. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito constitucional. 31. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2005.
_____. Princípios fundamentais do Direito constitucional: 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de Direito processual civil, v. 2. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2012a.
_____. Direito eleitoral. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2015.
_____. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB. São Paulo: Atlas, 2012b.
_____. Teoria geral do Direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro, v. 2. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. Trad. Luís Carlos Borges. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: teoria geral do processo, v. 1. 2. ed. rev. e atual. São
Paulo: RT, 2007.
_____. Teoria geral do processo. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2007 (Curso de Processo Civil, v. 1).
_____; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento, v. 2. 6. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: RT, 2007.
______; ______; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante
procedimento comum, v. 2. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2016.
MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira. Mandado de segurança e ações
constitucionais. 32. ed. atual. com a Lei nº 12.016/2009. São Paulo: Malheiros, 2009.
MENDES, Gilmar Ferreira; GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito constitucional. 7. ed. rev. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2012.
PAIXÃO JÚNIOR, Manuel Galdino da. Teoria geral do processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002.
RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 6. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2006.
SOARES DA COSTA, Adriano. Instituições de Direito eleitoral. 6. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del
Rey, 2006.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito constitucional. 10. ed. rev. e at. São Paulo: Saraiva, 2012.
_____. Curso de Direito constitucional. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e
processo de conhecimento, v. 1. 53. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
______; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo CPC: fundamentos
e sistematização. 3. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva;
MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros comentários ao Código de Processo Civil: artigo por
artigo. São Paulo: RT, 2015.

Você também pode gostar