Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Relatório Escrito)
aluno n.º142722087
Índice
1. Introdução--------------------------------------------------------------------------------2.
2. Pressupostos de aplicação da proteção conferida pelo artigo 58.º, n.º 1 do
CVM---------------------------------------------------------------------------------------2.
2.1. Conformidade com as regras sobre o modo específico de transmissão do
Valor Mobiliário--------------------------------------------------------------------2.
2.2. Falta de legitimidade do alienante----------------------------------------------3.
2.3. Boa fé do terceiro adquirente----------------------------------------------------4.
3. Presunção de boa fé?--------------------------------------------------------------------6.
4. Bibliografia-------------------------------------------------------------------------------8.
1
1. Introdução
Os valores mobiliários são instrumentos financeiros, que podem ser constituídos por
situações ou posições jurídicas legalmente típicas ou por outras situações jurídicas que,
ainda que sejam atípicas, sejam suscetíveis de negociação em mercado.não basta!
Para que a proteção prevista pelo artigo 58.º do CVM mereça aplicação, exige-se
que a aquisição tenha ocorrido em conformidade com as regras sobre o modo especial
de transmissão dos VM.
1
O modo especial de circulação dos VMT é diferente do modo especial de circulação dos VME, cfr.
veremos no ponto 2. do presente relatório.
2
Doravante designado CVM.
3
Princípio segundo o qual ninguém pode dispor de mais direitos do que aqueles de que é titular.
4
Doravante designado VM.
5
Valores mobiliários titulados nominativos, já que atualmente não são admitidos em Portugal os VMT ao
portador – extintos pela Lei 15/2017 e DL 123/2017).
2
- Entrega (real ou ficta) do título ao transmissário.
Nos termos do artigo 70.º do CVM, o respeito pelas regras de transmissão torna
necessária a prévia inscrição a favor do alienante.
Importa referir que a legitimidade de que fala o artigo 58.º, n.º 1 do CVM não é a
legitimidade escritural, meramente formal (e que faz presumir a legitimidade material),
mas sim a própria legitimidade material, substancial. Aliás, nem faria sentido que o
artigo se referisse à falta de legitimidade formal, uma vez que vimos anteriormente que
um dos requisitos para que o terceiro adquirente mereça proteção é que a transmissão
tenha respeitado as formalidades exigidas. Para tal acontecer, o alienante teria de ter
legitimidade formal.
6
Nomeadamente, SOVERAL MARTINS.
7
Nomeadamente, EVARISTO MENDES.
3
Podemos adotar um conceito mais ou menos amplo, dependendo se incluímos na
“falta de legitimidade” apenas a ilegitimidade em sentido técnico, ou se incluímos
também inibições, incapacidades e outros factos que fossem suscetíveis de impedir a
alienação de valores.
Não obstante, quer se adote um conceito lato ou mais restrito de legitimidade, alerta-
se para o facto de que a tutela da circulação nunca é totalmente afastada. Para melhor
explicar, atenda-se ao seguinte exemplo: se A for menor, maior acompanhado ou
sociedade sem capacidade de gozo, e transmitir um VM a B, e este, por sua vez,
transmitir a C, será de conferir a proteção presente no artigo 58.º, n.º 1 do CVM a este
segundo adquirente de boa fé (C).
Cumpre relembrar que não existe uma única conceção de boa fé, pelo que devemos
apurar qual se encontra presente no artigo 58.º, n.º 1 do CVM.
4
- Boa fé (em sentido subjetivo) psicológica: quando o sujeito tem a convicção de
estar a atuar em conformidade com o Direito;
Podemos excluir desde logo a boa fé em sentido objetivo, uma vez que a norma
do artigo 58.º, n.º 1 não nos remete para qualquer princípio ou regra de direito. A boa fé
exigida pela mencionada norma é subjetiva, ou seja, relacionada com o estado do sujeito
adquirente do VM.
Cumpre agora responder à segunda questão que se impõe: a norma exige que o
adquirente desconhecesse, sem o dever de conhecer, a ilegitimidade material do
alienante, tendo cumprindo deveres de zelo e de indagação (boa fé em sentido ético), ou
basta-se com o mero desconhecimento (boa fé em sentido psicológico?
8
SOVERAL MARTINS, “Títulos de Crédito e Valores Mobiliários”, Parte II – Valores Mobiliários, Vol.
I, p. 71.
9
CAROLINA CUNHA, “Letras e livranças: paradigmas actuais e recompreensão de um regime, p. 456.
5
Note-se, no entanto, que será mais fácil imaginar situações em que o terceiro adquirente
desconheça com culpa grave quando estão em causa VMT do que quando estão em
causa VME – uma vez que o registo dos VME está sujeito a deveres de
confidencialidade.
Assim, quanto a estes (VMTs), inclinamo-nos para uma resposta afirmativa à questão:
parece ser de admitir a existência de uma presunção de boa fé quando estão em causa
VMT, pelos motivos que acabamos de referir – a própria lei lhe diz que a legitimidade
formal faz presumir a legitimidade material.
10
Relembre-se, uma vez mais, que atualmente todos os VMT são nominativos.
11
Nos quais se inclui o dever de controlo da legitimidade do alienante.
6
de boa fé do adquirente quando estão em causa VME. Ainda assim, e tendo em conta o
que se disse quanto aos deveres a ser cumpridos pelas Instituições Financeiras, parece
ser de aceitar a existência de presunção de boa fé também quanto aos VMEs. O terceiro
confia (e tem motivos para confiar) que a entidade que procede à inscrição do VME em
conta do adquirente (e consequente “apagamento” da conta do alienante) conhece a
legitimidade (pelo menos formal) do alienante. Ainda que aquela legitimidade seja
meramente formal, o terceiro dificilmente terá como conhecer a falta de legitimidade
material do mesmo.
7
4. Bibliografia
1. CÂMARA, Paulo, "Manual de Direito dos Valores Mobiliários" (2018).
2. CORDEIRO, Menezes, "Da Boa Fé no Direito Civil", (1984).
3. CUNHA, Carolina, "Letras e Livranças: paradigmas actuais e recompreensão de
um regime".
4. MARTINS, Alexandre Soveral, "Títulos de Crédito e Valores Mobiliários", Vol.
I -As Ações.
5. MENDES, Evaristo Ferreira, "(Da) Transmissibilidade das ações" (1989).
6. VEIGA, Alexandre Brandão da, "Transmissão de valores mobiliários", (2010).