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[Deusa, esse é um MODELO CONSULTIVO DE ALEGAÇÕS FINAIS POR MEMORIAIS EM

CASO DE TRÁFICO DE DROGAS. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. TRÁFICO PRIVILEGIADO.


Analise seu caso concreto e adapte-o de acordo com a realidade do caso, um cheiro!]

Aviso importantíssimo, deusa: Esse é um modelo consultivo para sua prática, ou seja, deve ser
adaptado ao caso concreto em que você está atuando. Preste atenção em cada detalhe e faça as
alterações necessárias.
ATENÇÃO: É TERMINANTEMENTE PROIBIDO a distribuição, revenda, repasse, ainda que de forma
gratuita e sem interesse de lucro, sob pena de responder civil e criminalmente. Ao utilizar este
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE __________

Processo nº: ____________________

NOME DO CLIENTE, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem,


com o devido respeito e acatamento, por intermédio de sua advogada que ao final
subscreve, perante Vossa Excelência, com supedâneo no artigo 403, § 3º, do Código
de Processo Penal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I- DOS FATOS (seguir contando de acordo com o ocorrido, conforme exemplo


prático abaixo)
Consta da denúncia de fls. __ que, na data de __/__/___, por volta das 15h,
na Rua _________________, o réu, juntamente com sua namorada, guardava em sua
residência 560 tabletes e 310 porções de maconha, 1450 papelotes de cocaína e 350
frascos de lança perfume, conforme auto de apreensão de fls. ___ e laudo de fls. __.

Segundo os policiais militares, ante o recebimento de denúncia anônima


acerca dos entorpecentes guardados no imóvel do réu, decidiram por averiguar a
informação e, ao chegarem ao local dos fatos, verificaram que a casa estava trancada
por um portão de aço.

Ainda, aduzem ambos os policiais que observaram, através da janela, uma


caixa de papelão em cima do sofá com os referidos entorpecentes. Bateram à porta e
o réu, ao perceber a presença dos policiais, logo após abrir a porta, empreendeu fuga
para dentro do imóvel, todavia, logo foi detido.

Sendo este o caso, o réu foi denunciado por, em tese, praticar o delito
disposto no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06, com incidência do artigo 61, inciso
II, alínea j,do Código Penal.

II- DA PRELIMINAR DE NULIDADE

- Invasão de domicílio. Afronta ao artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal (se
couber ao caso concreto, faça as alterações de acordo com a realidade, do
contrário, apague!)
Impraticável é a continuação do presente sem que seja suscitada a nulidade
absoluta do feito, em virtude de violação grave à garantia constitucional insculpida
no artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal, eis que tanto a prisão quanto a
apreensão dos entorpecentes ocorreram em situação manifestamente arbitrária.
Consta nos depoimentos de fls.__, de ambos os policiais militares e
condutores da ocorrência, que se dirigiram ao local após denúncia anônima de que
ali havia um depósito de drogas. Aduzem, em síntese, que ao abrir a porta, o réu
percebeu a presença dos dois policiais e, tão logo os visualizou, empreendeu fuga,
rumo aos fundos da residência.

Indagados por esta Defesa, em audiência, ambos os policiais reiteram que o


comparecimento se deu em virtude de denúncia anônima, bem como alegam a
presença de uma caixa de papelão com drogas em seu interior, próximo a janela,
conforme passo a narrar a seguir:

(narrar trecho do depoimento que achar pertinente)

Ocorre, Excelência, data venia ao trabalho desempenhado pelos policiais,


bem como aquele desempenhado pelo douto membro do Ministério Público, que
insistiu na tentativa de enfatizar que a porta da residência foi aberta de forma
voluntária, de outro lado, não se pode negar a flagrante inconstitucionalidade da
ação perpetrada pelos agentes.
Destaquemos, pois, o que assevera o artigo 5º, inciso XI, da Carta Magna:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial.

Verifica-se da leitura do dispositivo supra que, para que a entrada no


domicílio do indivíduo seja constitucional, esta deve ocorrer após
o CONSENTIMENTO do morador, ressalvadas as exceções.
No caso em apreço, a situação não era de flagrância, tampouco os policiais
ostentavam mandado de prisão ou de busca e apreensão capazes de estear a
entrada. De forma diametralmente oposta ao que dispõe o dispositivo constitucional,
invadiram a casa do réu a partir de mera denúncia anônima.

Anote-se que ambos os policiais foram objetivos e categóricos ao mencionar


que o réu, ao perceber a presença dos policiais, não obstante ter aberto a porta em
um primeiro momento, logo em seguida empreendeu fuga.

Ora, levando-se em consideração que a palavra “consentimento”


significa permissão, licença, autorização, concessão, não parece óbvio que, ao
encostar a porta novamente e correr para dentro de seu imóvel a fim de furtar-se da
abordagem, o réu de maneira alguma consentiu com a entrada? Não houve
aquiescência para com a entrada dos policiais.
A entrada não franqueada pelo morador implica, sem sombra de dúvidas, em
violação de domicílio. Trata-se, pois, de entrada forçada, abusiva e absolutamente
incompatível com as garantias fundamentais constitucionalmente asseguradas.
Nossa jurisprudência é vasta no sentido de rechaçar este tipo de atuação policial.

A Corte Superior, por exemplo, tem decisões recentes que arregimentam o


entendimento de que “a busca, sem mandado judicial, só seria justificada por uma
fundada suspeita de prática de crime [...] pois ninguém pode ser investigado ou
denunciado, processado e muito menos condenado, com base em provas ilícitas ” ( HC
138.565, Rel. Min. Ricardo Lewandowski -18/04/2017).
É com base no entendimento supracitado que o a jurisprudência pátria vem
se consolidando e se alinhando, uniformizando a matéria.

Outrossim, além de não se tratar de flagrante delito ou situação de desastre,


tampouco de ação arrimada em determinação judicial, também é certo que a
suposta denúncia anônima não constitui fundamento idôneo capaz de sustentar a
ação policial.
Nesta esteira, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu, nos
autos do HC 611.918/SP, que a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros
elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no
domicílio sem autorização judicial.
A decisão proferida pelo ínclito Ministro Relator, Nefi Cordeiro, assim dispôs:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ILEGALIDADE. ILICITUDE DAS


PROVAS. INVASÃO DE DOMICÍLIO. ATUAÇÃO COM BASE EM
DENÚNCIA ANÔNIMA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
INVESTIGAÇÕES PRÉVIAS E DE FUNDADAS RAZÕES. ILEGALIDADE.
OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Esta Corte Superior entende
serem exigíveis fundamentos razoáveis da existência de crime
permanente para justificarem o ingresso desautorizado na residência
do agente. Desse modo, a mera denúncia anônima, desacompanhada
de outros elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o
ingresso de policiais no domicílio, sem autorização judicial. 2. A
abordagem em face do réu, em local conhecido como ponto de tráfico,
sendo encontrado com ele drogas, não autoriza o ingresso na
residência, por não demonstrar os fundamentos razoáveis da
existência de crime permanente dentro do domicílio. 3. Habeas corpus
concedido para reconhecer a ilicitude da apreensão da droga, pela
violação de domicílio, e, consequentemente, absolver o paciente
RAFAEL AUGUSTO NUNES. ( HC 611.918/SP, Rel. Ministro Nefi
Cordeiro, SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2020, DJe 10/12/2020).

A mesma Turma, nos autos do REsp 1.871.856, declarou ilícitas as provas


obtidas por meio de violação de domicílio, acompanhando o voto do Ministro
supramencionado, pois, conforme entendimento firmado, o fato de o acusado
guardar em sua residência droga posteriormente apreendida não autoriza a
conclusão da desnecessidade de mandado de busca e apreensão, de tal forma que a
prova obtida com violação à norma constitucional se torna imprestável a legitimar os
atos dela derivados.
A Quinta Turma do mesmo Superior Tribunal de Justiça também deu
provimento a Recurso em Habeas Corpus para que fosse declarada a ilicitude das
provas contra o réu derivadas de invasão de domicílio (RHC 89.853).
Para os Ministros, denúncia anônima e fuga da polícia, por si só, não configuram
fundadas razões para a violação de domicílio na hipótese de flagrante em crimes de
natureza permanente.

Conforme ressaltou o nobre Ministro Ribeiro Dantas, “não se está a exigir


diligências profundas, mas sim breve averiguação, como, por exemplo, “campana”
próxima à residência para verificar a movimentação na casa e outros elementos de
informação que possam ratificar a notícia anônima”.
Os julgados recentes demonstram que sequer a abordagem feita no quintal
da casa é suficiente para amparar a violação de domicílio, ainda que desta resulte o
encontro de substâncias entorpecentes.

Tomemos por exemplo mais uma acertada decisão da Sexta Turma do


Superior Tribunal de Justiça em caso que os policiais, ao se dirigirem a endereço
conhecido como local de tráfico, avistaram dois indivíduos no quintal, de modo que,
ao realizarem a abordagem, um dos agentes empreendeu fuga, sentido ao fundo da
casa. Posteriormente, os policiais encontraram entorpecentes e um caderno com
anotações do tráfico.

No caso demonstrado retro, restou estabelecido que, sem investigações


prévias ou elementos concretos, a invasão é, de fato, ilícita, ainda que sejam
encontrados entorpecentes no local.
A decisão tomada nos autos do HC 586.474 também ampara o aqui debatido,
eis que a Corte é resoluta e estoica em estabelecer tal entendimento.
Recentemente, a Ministra Laurita Vaz ratificou voto dado anteriormente,
no HC 598.051, a fim de adequar seu posicionamento às diretrizes e parâmetros
atualmente estabelecidos para o ingresso de policiais em residência de suspeito.
No caso, a Ministra enfatizou:
"Assim, não sendo a ação policial precedida de autorização judicial,
nem existindo a devida prova quanto ao consentimento para a
entrada na residência onde foram encontrados os entorpecentes que
figuram como"prova de materialidade"do delito imputado ao
Acusado, é medida de rigor considerar ilícitos todos os elementos
probantes carreadas aos autos em decorrência da citada ação
policial e, por conseguinte, a absolvição do réu é medida que se
impõe".

Se por um lado é certo que a palavra dos policiais possui fé pública, de outro
vértice, contudo, é necessário que as versões apresentadas pelos agentes de
segurança pública sejam acompanhadas do mínimo de comprovação inequívoca,
mormente quando se trata de autorização para entrada em residência alheia, fora
das hipóteses previstas no comando constitucional do artigo 5º, inciso XI, da Carta
Maior.
O alegado supra encontra arrimo em recente decisão, nos autos do HC 616.584, no
Superior Tribunal de Justiça, em que o já citado ilustre Ministro Ribeiro Dantas
endossa:
"Em verdade, caberia aos agentes que atuam em nome do Estado
demonstrar de modo inequívoco que o consentimento do morador foi
livremente prestado ou que, na espécie, havia em curso uma clara
situação de comercio espúrio de droga a autorizar o ingresso
domiciliar, mesmo sem consentimento".

Isto é, a relevante dúvida sobre a existência ou ausência de anuência do


morador suspeito de um crime para que policiais invadam sua residência sem
mandado não pode, de forma alguma, ser dirimida em favor do Estado.

Trazendo tais parâmetros ao caso em tela, percebe-se que sequer existe


dúvida acerca da ausência de consentimento do réu para a entrada dos policiais,
posto que estes mesmos policiais confirmam em juízo que o réu, não obstante ter
aberto a porta, logo em seguida empreendeu fuga para os fundos da casa, eis que
notou tratar-se de presença policial.

A própria conduta do réu vai de encontro a qualquer mínimo indício de


consentimento. O simples fato de abrir a porta não implica em autorizar, eis que,
consoante os fatos, resta cristalino que a porta foi aberta tão somente para o réu
visualizar quem ali estava.

Malgrado sua conduta, os policiais, ao arrepio da Lei Maior, penetraram em


seu aposento e, desta ação equivocada e em descompasso com os parâmetros
estabelecidos por nosso ordenamento jurídico pátrio, coligiram provas ilícitas que
deram azo ao presente feito.
- Da prova ilícita se couber ao caso concreto, faça as alterações de acordo com a
realidade, do contrário, apague!)

Como é cediço, o direito à prova não é absoluto, apresentando limitações,


seja em relação ao objeto da prova, seja em relação ao meio de produção.

Nossa Carta Maior, em seu artigo 5º, inciso LVI, determina que são
inadmissíveis as provas obtidas por meio ilícito no processo penal.
No mesmo sentido caminha o Codex Processual Penal, em seu artigo 157, que
testifica a inadmissibilidade de tais provas, bem como a necessidade de seu
desentranhamento do processo. Para fins processuais penais, as provas ilícitas são
aquelas obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Será ilícita, pois,
quando obtida em decorrência de lesão a direito material ou, ainda, quando
produzida ao arrepio dos princípios constitucionais.
No caso em apreço, a prova é absolutamente ilícita, eis que oriunda de
invasão de domicílio, de tal modo que caminha de encontro aos preceitos
constitucionais, ferindo garantias fundamentais.
A lesão repelida por nosso ordenamento jurídico pátrio torna a prova trazida
aos autos indigna de estear uma condenação e deve, inquestionavelmente, gerar a
absolvição do réu.

Volvemos, pois, a tudo quanto fora discutido no início, haja vista tal mácula
incinerar qualquer possibilidade de continuidade do feito sem que se amargue uma
injusta e inconstitucional condenação.

O acima explicitado encontra amparo em recente entendimento firmado pelo


Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que arregimenta a lúcida posição
de que a prova oriunda de invasão de domicílio por mera suspeita é nula.

A 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal supramencionado acolheu tese


defensiva amparada nos mesmos argumentos em tela, bem como encontrou grande
eco nas jurisprudências das Cortes Superiores.

No caso mencionado, foi reconhecida a ilicitude de provas obtidas após a


invasão da residência do réu.

O Rel. do caso, Des. Augusto Siqueira, conclui que a prova era nula, e
enfatizou:

"Nada além da mera suposição dos policiais militares, indicava a


prática de infração, ao menos naquele momento. Frise-se: não havia
notícia de tráfico no local, que não era conhecido como ponto de
drogas, inexistia qualquer informação, ainda que anônima, de ilícito
cometido pelo réu. O ingresso se deu no âmbito de mero
patrulhamento, sem qualquer diligência ou investigação precedente
a justificar, minimamente, a restrição ao direito fundamental da
inviolabilidade do domicílio [...] Flagrante, em suma, a ilicitude da
atuação policial. Invadiram residência, sem mandado de busca e
apreensão ou outro indício veemente da prática de crime que
justificasse a medida extrema." ( 1500329-36.2019.8.26.0530 ).

Estamos diante de uma das maiores expressões do direito à intimidade do


indivíduo, qual seja, o seu lar, o seu espaço de preservação. A casa é o local em que
devemos sentir a segurança e a garantia de que não sofreremos devassas
indiscriminadas e autoritárias.

Os limites impostos por nossa Constituição Federal possuem o objetivo


laudável de salvaguardar a honra e a dignidade humana, de tal modo que ingerências
arbitrárias e abusivas na vida privada do cidadão devem receber a mais dura
repreensão do Poder Judiciário.
Destarte, invasão de domicílio consubstanciada em elementos rasos de
convicção deve ser rechaçada pelo nosso Direito Penal Constitucional.

Neste diapasão, tomemos por exemplo o acertado posicionamento do


Ministro Rogerio Schietti Cruz, da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que
assim dispõe:

13. Ante a ausência de normatização que oriente e regule o ingresso


em domicílio alheio, nas hipóteses excepcionais previstas no Texto
Maior, há de se aceitar com muita reserva a usual afirmação como
ocorreu na espécie de que o morador anuiu livremente ao ingresso dos
policiais para a busca domiciliar, máxime quando a diligência não é
acompanhada de qualquer preocupação em documentar e tornar
imune a dúvidas a voluntariedade do consentimento. 14. Em que pese
eventual boa-fé dos policiais militares, não havia elementos
objetivos, seguros e racionais, que justificassem a invasão de
domicílio. Assim, como decorrência da Doutrina dos Frutos da Árvore
Envenenada (ou venenosa, visto que decorre da fruits of the poisonous
tree doctrine, de origem norte-americana), consagrada no art. 5º, LVI,
da nossa Constituição da Republica , é nula a prova derivada de
conduta ilícita no caso, a apreensão, após invasão desautorizada do
domicílio do recorrido, de 18 pedras de crack, pois evidente o nexo
causal entre uma e outra conduta, ou seja, entre a invasão de
domicílio (permeada de ilicitude) e a apreensão de drogas. 15. Recurso
especial não provido, para manter a absolvição do recorrido” (STJ
- RECURSO ESPECIAL Nº 1.574.681 - RS (2015/0307602-3), RELATOR :
MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6ª Turma, j. em 20/04/2017).

Não é salutar admitir que condutas como as que aqui se discutem sejam
perpetradas no bojo do processo criminal, sob pena de molestar-se, também, o
princípio célebre e insigne do devido processo legal.

No caso em tela, a entrada não franqueada pelo morador, em virtude de


denúncia anônima desprovida de qualquer diligência anterior e, sobretudo,
destituída de legitimidade, exprime a face mais encoberta e nebulosa desse tipo de
ação policial.

Sendo levado adiante, estará o réu, em que pese confesso, respondendo às


duras penas de um processo que não o assistiu em suas garantias mínimas,
imprescindíveis à efetivação daquilo que denominamos de dignidade da pessoa
humana.

A matéria objeto da discussão ostenta condição tão sensível que,


recentemente, foi motivo de estabelecimento de novas diretrizes, pelo Superior
Tribunal de Justiça, quanto à atuação policial em tais casos.

A Sexta Turma decidiu que policiais que precisem entrar em uma residência
para investigar a ocorrência de um crime e não tenham mandado judicial devem
registrar a autorização do morador em áudio ou vídeo, como forma de não deixar
dúvidas do consentimento dele.
No mérito do HC, o ínclito Rel. observou que esta situação está em total
consonância com o que se entende por Estado Democrático de Direito, bem como
com a própria noção de civilidade ( HC 598.051/SP 02/03/2021).
Com efeito, a alegação dos policiais de que visualizaram uma caixa de papelão que
permitia visualizar seu conteúdo interno não guarda qualquer verossimilhança, seja
pelas condições da situação, seja pela lógica dos fatos.

Parece óbvio que aquele que guarda quantidade de entorpecente


consideravelmente alta jamais deixaria uma “caixa em cima do sofá, perto da janela”,
a vista de toda e qualquer pessoa que ali passasse.

Resta claro que a alegada denúncia anônima foi suficiente para os policiais
irem até a residência do réu e, certos do que encontrariam, realizaram a entrada
forçada e arbitrária.

É por todo o exposto que o não reconhecimento de nulidade flagrante no


feito implica no deslinde de um processo criminal fora dos padrões e ditames
constitucionais.

A prova obtida de maneira ilícita, sendo a única amealhada aos autos como
gênese do crime ao réu imputado, vicia todo o processo, de tal forma que a medida
de Justiça é a absolvição.

III- DA APLICAÇÃO DO TRÁFICO PRIVILEGIADO se couber ao caso concreto, faça as


alterações de acordo com a realidade, do contrário, apague!)
Não sendo o caso de Vossa Excelência entender pela absolvição, convém
ressaltar a possibilidade de aplicação do redutor legal contido no § 4º, do artigo 33,
da Lei de Drogas, eis que o réu faz jus à modalidade privilegiada.
Por certo, deve levar-se em consideração que a quantidade de droga apreendida não
constitui fundamento idôneo para a negativa de sua aplicação, conforme
jurisprudência pátria:

(...) A quantidade de entorpecente isoladamente não é suficiente


para presumir a dedicação a atividades ligadas à traficância e, assim,
negar o direito à minorante prevista no § 4ºº do art. 33 3 da Lei de
Drogas s. ( RHC 148579/MS AGR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Segunda Turma, DJe 19.03.2018).V - Agravo regimental a que se nega
provimento. (STJ; AgRg-AREsp 1.292.877 ; Proc. 2018/0114151-0; MS;
Quinta Turma; Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; Julg.
16/08/2018; DJE 24/08/2018; Pág. 2279). [Grifos nossos].

Como é cediço, em sendo o caso de preenchimento dos requisitos necessários


ao redutor legal, a subsunção à modalidade privilegiada se torna um direito
subjetivo.

Ainda, quadra destacar que é devido o reconhecimento da incidência da


atenuante de confissão, eis que o réu prontamente confessou estar guardando em
depósito a droga. Confessa que optou pela prática delituosa diante do desemprego
súbito que assolou sua família, eis que todos os membros foram demitidos de seus
trabalhos em virtude da pandemia.

IV- DOS PEDIDOS (muita atenção e cuidado nos pedidos, fazendo as devidas
alterações de acordo com a necessidade do caso)
Por todo o exposto, requer:

1. Seja reconhecida a nulidade da prova obtida por meio ilícito, em virtude de


violação de domicílio, ferindo integralmente o comando constitucional, de tal forma
que, por consequência, a absolvição do réu se impõe como medida da mais cristalina
Justiça.

2. Na remota hipótese de não ser este o entendimento de Vossa Excelência,


requer, subsidiariamente, seja reconhecida a modalidade privilegiada do tráfico, nos
termos do que dispõe o § 4º, do artigo 33, da Lei de Drogas, bem como a fração de
diminuição seja aplicada em seu patamar máximo.

3. Caso ainda não seja este o entendimento, requer seja a pena estabelecida
em seu patamar mínimo legal, rechaçada a agravante do período de pandemia e
reconhecida a atenuante de confissão espontânea, nos termos do artigo 65, inciso III,
alínea d, do Estatuto Punitivo.

4. Nesta esteira, requer seja fixado o regime inicial de cumprimento de pena


em absoluta obediência ao que dispõe o artigo 33, § 2º, do Codex Penal.

5. Por último, para fins de eventual execução penal, bem como para fixação
de regime, requer seja contabilizado o tempo em que o réu permaneceu segregado,
a fim de que seja feita a detração penal, da data em que foi preso até a prolação de
sentença.

Nestes termos,

Pede e aguarda deferimento.

Cidade, ____ de _______ de 20XX.


SEU NOME / Advogada - OAB/UF XXXXXXX

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