Você está na página 1de 5

HABEAS CORPUS Nº 690367 - PR (2021/0278562-5)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


IMPETRANTE : ANDREI DEMBISKI
ADVOGADO : ANDREI DEMBISKI - PR083173
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
PACIENTE : JULIO CESAR FAGUNDES DE OLIVEIRA
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

DECISÃO

Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, com pedido de liminar,


impetrado em favor de JULIO CESAR FAGUNDES DE OLIVEIRA, em que se aponta como
autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
Consta dos autos que o paciente teve a prisão preventiva decretada pela suposta
prática do delito tipificado no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, porque, em 29/05/2021, tinha
em depósito, na sua residência, 19 porções de cocaína sem autorização legal.
Objetivando o reconhecimento da ilegalidade da busca domiciliar, a defesa impetrou
habeas corpus na origem, que foi assim denegado:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTE. ALEGADA


NULIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL E ATOSSUBSEQUENTES EM RAZÃO
DA INVASÃO DE DOMICÍLIO. NÃOACOLHIMENTO. CRIME PERMANENTE
QUE JUSTIFICA O INGRESSODOS POLICIAIS NA RESIDÊNCIA SEM
MANDADO JUDICIAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 5º, INCISO XI, DA CF.
PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA.

Nesta Corte, o impetrante reitera a tese de violação de domicílio, uma vez que a
diligência policial no imóvel do paciente foi efetivada sem autorização judicial ou justa causa.
Afirma que "a entrada no terreno do Pacientese deu por conta da existência de
denúncias anônimas e pelo fato do mesmo se evadir para o interior de sua residência após
visualizar a viatura policial, circunstâncias que evidentemente não são causa provável de
ocorrência de crime."
Requer, assim, a declaração de invalidade da busca domiciliar.
É o relatório.
Decido.
Esta Corte - HC 535.063/SP, Terceira Seção, Rel. Ministro Sebastião Reis Junior,
julgado em 10/6/2020 - e o Supremo Tribunal Federal - AgRg no HC 180.365, Primeira Turma,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/3/2020; AgR no HC 147.210, Segunda Turma, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 -, pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no
ato judicial impugnado.
Assim, passo ao exame das alegações trazidas pela defesa, a fim de verificar a
ocorrência de manifesta ilegalidade que autorize a concessão da ordem, de ofício.
Sobre o tema, vale anotar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 603.616/RO, firmou entendimento no sentido de que "a entrada forçada em
domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA29972092 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Ribeiro Dantas Assinado em: 30/08/2021 16:08:55
Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4
fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade dos atos praticados" (Rel. Ministro GILMAR MENDES, julgado em
5/11/2015, DJe de 10/5/2016).
Ou seja, o ingresso em domicílio alheio, independentemente de consentimento do
morador, é legítimo quando justificado pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem
ocorrer, no interior da residência, situação de flagrante delito.
Na hipótese, da análise atenta dos autos, não verifico a presença de justa causa
necessária para legitimar o ingresso dos policiais na residência do paciente, visto que, após
receberem denúncia anônima da prática de tráfico de drogas, se dirigiram até o local e decidiram
adentrar na residência tão somente pelo fato de o paciente, ao avistar a guarnição, ter apresentado
comportamento suspeito e ingressado no imóvel.
Confira-se, inclusive, o seguinte excerto no qual o Juiz de primeiro grau refutou a
tese de violação domiciliar, e descreve a dinâmica da prisão em flagrante:

No presente caso, havia justa causa autorizando a autoridade policial a considerar que
o acusadoexercia atividade de tráfico ilícito de entorpecentes, tendo em depósito em
sua residência substâncias ilícitas. Isto porque a equipe policial já havia recebido
diversas denúncias anônimas dando conta de que o acusado, naresidência indicada na
denúncia, realizava o comércio ilícito de substâncias entorpecentes, conforme
deobserva nos movs. 1.16 a 1.18.
Além de tais denúncias, uma equipe policial deslocou-se até as proximidades da
residência indicada(rua Sete de Setembro, nº 200, bairro Ponte Nova, União da
Vitória/PR), local onde, de fato, foi visualizado orequerido, o qual demonstrou
nervosismo e se evadiu da abordagem, tentando jogar para dentro de suaresidência o
invólucro mencionado no auto de exibição e apreensão de mov. 1.13, contendo 19
buchas dasubstância popularmente conhecida como cocaína.
Diante de tais elementos de informação, restou devidamente demonstrada a justa
causa que autorizoua autoridade policial a adentrar na residência do acusado, posto
que o crime permanente de tráfico de drogaspossivelmente estava sendo cometido
pelo réu.
Sendo assim, afasto a alegação de ilegalidade da prisão e da busca e apreensão
realizada na residênciado denunciado.

No ADPF, consta:

EM PATRULHAMENTO PELO ENDEREÇO ACIMA, LOCAL ESTE QUE


EXISTE VARIAS DENUNCIAS DE TRAFICO DEDROGAS, SENDO QUE
FOI VISUALIZADO UM HOMEM O QUAL AO VER SE A VIATURA
DEMONSTROU MUITO NERVOSISMOSENDO QUE AO PERCEBER
QUE SERIA ABORDADO SE EVADIU PARA O INTERIOR DA
RESIDENCIA O QUAL FOIACOMPANHADO, SENDO VISUALIZADO
O MESMO TENTADO JOGAR UM ENVOLUCRO PELA JANELA,
POREM NAO TEVEEXITO E FOI CONTIDO, FEITO BUSCAS RÁPIDAS
E LOCALIZADO TAL OBJETO O QUAL SE TRATAVA DE 19
BUCHASDE COCAÍNA. NO LOCAL COMPARECEU O SENHOR
ANDREI DEMBISKI O QUAL SE IDENTIFICOU COMO ADVOGADO
DOAUTOR, FOI IDENTIFICADO COMO TESTEMUNHA TENDO EM
VISTA TER ACOMPANHADO PARTE DA ABORDAGEM. OAUTOR
FOI CONDUZIDO A 4SDP PARA PROVIDENCIAS. O LOCAL AINDA
POSSUI VARIAS DENUNCIAS DE TRAFICO ASQUAIS FORAM
REPASSADAS AO ESCRIVÃO DIA APLICATIVO WHATSAPP.

Esta Corte já se manifestou que "A mera intuição acerca de eventual traficância
praticada pelo paciente, embora pudesse autorizar abordagem policial, em via pública, para

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA29972092 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Ribeiro Dantas Assinado em: 30/08/2021 16:08:55
Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4
averiguação, não configura, por si só, justa causa a permitir o ingresso em seu domicílio, sem seu
consentimento - que deve ser mínima e seguramente comprovado - e sem determinação judicial
(HC n. 415.332/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 21/8/2018).
Nesse contexto, vale anotar que a simples fuga do agente para o interior do imóvel,
ao avistar os agentes de segurança, por si só, não configura justa causa suficiente para autorizar a
mitigação do direito à inviolabilidade de domicílio.
A seguir os julgados que respaldam esse entendimento:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ILEGALIDADE. ILICITUDE DAS


PROVAS. INVASÃO DE DOMICÍLIO. AUSÊNCIA DE INVESTIGAÇÕES
PRÉVIAS E DE FUNDADAS RAZÕES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. É pacífico, nesta Corte, o entendimento de que, nos crimes permanentes, tal como
o tráfico de drogas, o estado de flagrância protrai-se no tempo, o que não é suficiente,
por si só, para justificar busca domiciliar desprovida de mandado judicial, exigindo-
se a demonstração de indícios mínimos de que, naquele momento, dentro da
residência, encontra-se em situação de flagrante delito.
2. A fuga do paciente ao avistar patrulhamento não autoriza presumir armazenamento
de drogas na residência, nem o ingresso nela sem mandado pelos policiais. O objetivo
de combate ao crime não justifica a violação "virtuosa" da garantia constitucional da
inviolabilidade do domicilio (art. 5º, XI - CF).
3. Habeas corpus concedido para reconhecer a ilicitude da apreensão da droga, pela
violação de domicílio, e, consequentemente, absolver o paciente BRUNO PEREIRA
DA SILVA OLIVEIRA.
(HC 660.118/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 25/05/2021,
DJe 31/05/2021);

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS


CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO
DE USO PERMITIDO. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. TEMA 280/STF. FUGA DO
AGENTE E DENÚNCIA ANÔNIMA. JUSTA CAUSA NÃO CONFIGURADA.
ILEGALIDADE DA BUSCA DOMICILIAR. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no exame do RE n. 603.616 (Tema
280/STF), em matéria de repercussão geral, assentou que "a entrada forçada em
domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos
praticados" (Rel. Ministro GILMAR MENDES, julgado em 5/11/2015).
2. "A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo paciente, embora
pudesse autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não
configura, por si só, justa causa a permitir o ingresso em seu domicílio, sem seu
consentimento - que deve ser mínima e seguramente comprovado - e sem
determinação judicial (HC n. 415.332/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, DJe 21/8/2018).
3. Hipótese em que a simples fuga do agente para o interior do imóvel, ao avistar os
agentes de segurança, por si só, não configura justa causa suficiente para autorizar a
mitigação do direito à inviolabilidade de domicílio.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no RHC 132.343/RN, de minha relatoria, QUINTA TURMA, julgado em
27/04/2021, DJe 30/04/2021).

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA29972092 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Ribeiro Dantas Assinado em: 30/08/2021 16:08:55
Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4
Portanto, constatada a ilegalidade do ingresso dos policiais na residência do paciente
sem prévia autorização judicial, devem ser declaradas ilícitas as provas colhidas na operação,
quais sejam, as 19 porções de cocaína (e-STJ, fl. 14/16).
Apoiada a acusação pela prática do delito descrito no art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006 unicamente nos elementos acima referenciados, impõe-se o trancamento da ação
penal por falta de comprovação da materialidade delitiva.
Nesse sentido:

"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. INVASÃO
DOMICILIAR EFETUADA POR POLICIAIS MILITARES SEM AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL. DENÚNCIA ANÔNIMA E FUGA DE INDIVÍDUO PARA O
INTERIOR DA RESIDÊNCIA DO PACIENTE, AO AVISTAR A VIATURA
POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DAS PROVAS
OBTIDAS NA BUSCA E APREENSÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA
DE OFÍCIO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à nova jurisprudência da Corte
Suprema, também passou a restringir as hipóteses de cabimento do habeas corpus,
não admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao recurso
ou ação cabível, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade do
ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade do paciente, seja cogente a
concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus. (AgRg no HC 437.522/PR, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe
15/06/2018)
2. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral, que o ingresso forçado
em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do
dia, inclusive durante o período noturno - quando amparado em fundadas razões,
devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar
ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n. 603.616/RO, Rel.
Ministro Gilmar Mendes) DJe 8/10/2010). Nessa linha de raciocínio, o ingresso em
moradia alheia depende, para sua validade e sua regularidade, da existência de
fundadas razões (justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do
direito fundamental em questão. É dizer, somente quando o contexto fático anterior à
invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência é
que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade do domicílio. Precedentes
desta Corte.
3. "a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos preliminares
indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado,
estando, ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida." (HC
512.418/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
26/11/2019, DJe 03/12/2019.)
4. A existência de denúncia anônima de tráfico de drogas no local associada ao
avistamento de um indivíduo correndo para o interior de sua residência não
constituem fundamento suficiente para autorizar a conclusão de que, na residência em
questão, estava sendo cometido algum tipo de delito, permanente ou não. Necessária
a prévia realização de diligências policiais para verificar a veracidade das
informações recebidas (ex: "campana que ateste movimentação atípica na
residência"). Precedentes: RHC 89.853/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 02/03/2020; RHC 83.501/SP, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe
05/04/2018; REsp 1.593.028/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 10/03/2020, DJe 17/03/2020; AgInt no HC
530.272/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 09/06/2020, DJe 18/06/2020.
5. No caso concreto, a leitura do auto de prisão em flagrante demonstra que os
policiais adentraram a residência do Paciente sem sua prévia permissão e sem prévia
autorização judicial, baseados apenas em conhecimento prévio de que o local seria
ponto de drogas, desacompanhada tal informação de outros elementos preliminares
indicativos de crime, e no fato de que, ao ver a viatura policial, um rapaz que estava
em frente à residência do Paciente teria corrido para o pátio de sua casa.

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA29972092 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Ribeiro Dantas Assinado em: 30/08/2021 16:08:55
Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4
6. Reconhecida a ilegalidade da entrada da autoridade policial no domicílio do
paciente sem prévia autorização judicial, a prova colhida na ocasião (23,8 gramas de
cocaína, uma balança de precisão e um celular) deve ser considerada ilícita.
7. Já tendo havido condenação do paciente transitada em julgado, ancorada
unicamente nas provas colhidas por ocasião do flagrante, deve a sentença ser anulada,
absolvendo-se o paciente, com fulcro no art. 386, II, do Código de Processo Penal.
8. Agravo regimental do Ministério Público de Santa Catarina a que se nega
provimento."
(AgRg no HC 585.150/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 4/8/2020, DJe 13/8/2020);

"RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. BUSCA DOMICILIAR


DESPROVIDA DE MANDADO JUDICIAL. ESTADO DE FLAGRÂNCIA.
INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DA PRÁTICA DELITIVA. DENÚNCIA
ANÔNIMA. AUSÊNCIA DE INVESTIGAÇÕES PRÉVIAS E DE FUNDADAS
RAZÕES. ILEGALIDADE. NULIDADE DA PROVA OBTIDA E DAQUELAS
DELA DERIVADAS. ABSOLVIÇÃO DO AGENTE. RECURSO PROVIDO.
1. Nos crimes permanentes, tal como o tráfico de drogas, o estado de flagrância
protrai-se no tempo, o que, todavia, não é suficiente, por si só, para justificar busca
domiciliar desprovida de mandado judicial, exigindo-se a demonstração de indícios
mínimos de que, naquele momento, dentro da residência, ocorra situação de flagrante
delito.
2. A denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos indicativos da
ocorrência de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado,
inexistindo, nessas situações, justa causa para a medida.
3. A prova obtida com violação à norma constitucional é imprestável a legitimar os
atos dela derivados.
4. Recurso especial provido para reconhecer a ilicitude das provas obtidas por meio
de violação de domicílio e dela derivadas, por conseguinte, absolver o recorrente,
com fulcro no art. 386, II, do CPP."
(REsp 1871856/SE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
23/6/2020, DJe 30/6/2020)

Ante o exposto, não conheço do habeas corpus. Contudo, concedo a ordem, de


ofício, para determinar o trancamento da ação penal n. 0003236-67.2021.8.16.0174, no qual se
imputava ao paciente a prática do delito do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, conforme razões acima
expostas.
Cientifique-se o Ministério Público Federal.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 30 de agosto de 2021.

Ministro Ribeiro Dantas


Relator

Edição nº 0 - Brasília,
Documento eletrônico VDA29972092 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Ribeiro Dantas Assinado em: 30/08/2021 16:08:55
Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4

Você também pode gostar