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DECISÃO
Nesta Corte, o impetrante reitera a tese de violação de domicílio, uma vez que a
diligência policial no imóvel do paciente foi efetivada sem autorização judicial ou justa causa.
Afirma que "a entrada no terreno do Pacientese deu por conta da existência de
denúncias anônimas e pelo fato do mesmo se evadir para o interior de sua residência após
visualizar a viatura policial, circunstâncias que evidentemente não são causa provável de
ocorrência de crime."
Requer, assim, a declaração de invalidade da busca domiciliar.
É o relatório.
Decido.
Esta Corte - HC 535.063/SP, Terceira Seção, Rel. Ministro Sebastião Reis Junior,
julgado em 10/6/2020 - e o Supremo Tribunal Federal - AgRg no HC 180.365, Primeira Turma,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/3/2020; AgR no HC 147.210, Segunda Turma, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 -, pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no
ato judicial impugnado.
Assim, passo ao exame das alegações trazidas pela defesa, a fim de verificar a
ocorrência de manifesta ilegalidade que autorize a concessão da ordem, de ofício.
Sobre o tema, vale anotar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 603.616/RO, firmou entendimento no sentido de que "a entrada forçada em
domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em
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Publicação no DJe/STJ nº 3222 de 31/08/2021. Código de Controle do Documento: c1311511-b22d-44de-be81-786d850a6ca4
fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre
situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade dos atos praticados" (Rel. Ministro GILMAR MENDES, julgado em
5/11/2015, DJe de 10/5/2016).
Ou seja, o ingresso em domicílio alheio, independentemente de consentimento do
morador, é legítimo quando justificado pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem
ocorrer, no interior da residência, situação de flagrante delito.
Na hipótese, da análise atenta dos autos, não verifico a presença de justa causa
necessária para legitimar o ingresso dos policiais na residência do paciente, visto que, após
receberem denúncia anônima da prática de tráfico de drogas, se dirigiram até o local e decidiram
adentrar na residência tão somente pelo fato de o paciente, ao avistar a guarnição, ter apresentado
comportamento suspeito e ingressado no imóvel.
Confira-se, inclusive, o seguinte excerto no qual o Juiz de primeiro grau refutou a
tese de violação domiciliar, e descreve a dinâmica da prisão em flagrante:
No presente caso, havia justa causa autorizando a autoridade policial a considerar que
o acusadoexercia atividade de tráfico ilícito de entorpecentes, tendo em depósito em
sua residência substâncias ilícitas. Isto porque a equipe policial já havia recebido
diversas denúncias anônimas dando conta de que o acusado, naresidência indicada na
denúncia, realizava o comércio ilícito de substâncias entorpecentes, conforme
deobserva nos movs. 1.16 a 1.18.
Além de tais denúncias, uma equipe policial deslocou-se até as proximidades da
residência indicada(rua Sete de Setembro, nº 200, bairro Ponte Nova, União da
Vitória/PR), local onde, de fato, foi visualizado orequerido, o qual demonstrou
nervosismo e se evadiu da abordagem, tentando jogar para dentro de suaresidência o
invólucro mencionado no auto de exibição e apreensão de mov. 1.13, contendo 19
buchas dasubstância popularmente conhecida como cocaína.
Diante de tais elementos de informação, restou devidamente demonstrada a justa
causa que autorizoua autoridade policial a adentrar na residência do acusado, posto
que o crime permanente de tráfico de drogaspossivelmente estava sendo cometido
pelo réu.
Sendo assim, afasto a alegação de ilegalidade da prisão e da busca e apreensão
realizada na residênciado denunciado.
No ADPF, consta:
Esta Corte já se manifestou que "A mera intuição acerca de eventual traficância
praticada pelo paciente, embora pudesse autorizar abordagem policial, em via pública, para
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averiguação, não configura, por si só, justa causa a permitir o ingresso em seu domicílio, sem seu
consentimento - que deve ser mínima e seguramente comprovado - e sem determinação judicial
(HC n. 415.332/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 21/8/2018).
Nesse contexto, vale anotar que a simples fuga do agente para o interior do imóvel,
ao avistar os agentes de segurança, por si só, não configura justa causa suficiente para autorizar a
mitigação do direito à inviolabilidade de domicílio.
A seguir os julgados que respaldam esse entendimento:
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Portanto, constatada a ilegalidade do ingresso dos policiais na residência do paciente
sem prévia autorização judicial, devem ser declaradas ilícitas as provas colhidas na operação,
quais sejam, as 19 porções de cocaína (e-STJ, fl. 14/16).
Apoiada a acusação pela prática do delito descrito no art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006 unicamente nos elementos acima referenciados, impõe-se o trancamento da ação
penal por falta de comprovação da materialidade delitiva.
Nesse sentido:
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6. Reconhecida a ilegalidade da entrada da autoridade policial no domicílio do
paciente sem prévia autorização judicial, a prova colhida na ocasião (23,8 gramas de
cocaína, uma balança de precisão e um celular) deve ser considerada ilícita.
7. Já tendo havido condenação do paciente transitada em julgado, ancorada
unicamente nas provas colhidas por ocasião do flagrante, deve a sentença ser anulada,
absolvendo-se o paciente, com fulcro no art. 386, II, do Código de Processo Penal.
8. Agravo regimental do Ministério Público de Santa Catarina a que se nega
provimento."
(AgRg no HC 585.150/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 4/8/2020, DJe 13/8/2020);
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