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O conceito de

identidade em
Zygmunt Bauman

P RO FA. DRA. ANA PAULA DE SO UZA


• “... mas, uma vez recém-
chegado, será possível
abandonar essa condição
algum dia?” (BAUMAN,
2005, p. 15)
• “Estar total ou parcialmente
‘deslocado’ em toda parte,
não estar totalmente em
lugar algum [...]” (p. 19)
A identidade é uma invenção

[...] a “identidade” só nos é


revelada como algo a ser
A fragilidade e a condição
inventado, e não descoberto; [...]
eternamente provisória da
como uma coisa que ainda se
identidade não podem mais ser
precisa construir a partir do zero
ocultadas. O segredo foi revelado.
ou escolher entre alternativas e
(p. 22)
então lutar por ela e protegê-la
lutando ainda mais [...]
A identidade nacional • A ideia de “identidade”, e
particularmente de “identidade
é uma ficção nacional, não foi “naturalmente”
gestada e incubada na experiência
humana, não emergiu dessa
experiência como um “fato da
vida” autoevidente. Essa ideia foi
forçada a entrar na Lebenswelt de
homens e mulheres modernos – e
chegou como uma ficção. (p. 26)
Nascida como ficção, a identidade precisava
de muita coerção e convencimento para se
consolidar e se concretizar numa realidade
(mais corretamente: na [única realidade
imaginável) – e a história do nascimento e
da maturação do Estado moderno foi
permeada por ambos. (p. 26)

A “identidade nacional foi desde o início, e


continuou sendo por muito tempo, uma
noção agonística e um grito de guerra. Uma
comunidade nacional coesa sobrepondo-se
ao agregado de indivíduos do Estado. (p.
27)
O efeito da globalização
sobre a identidade
• Globalização significa que o Estado não tem
mais o poder ou o desejo de manter uma união
sólida e inabalável com a nação.
• [...] os Estados têm muito menos necessidade de
suprimentos de fervor patriótico. (p. 34)
• As identidade ganharam livre curso, e agora cabe
a cada indivíduo, homem ou mulher, captura-las
em pleno voo, usando os seus próprios recursos e
ferramentas.
• O anseio por identidade vem do desejo de
segurança, ele próprio um sentimento ambíguo.
(p. 35)
Comunidade
guarda-roupa
• As comunidades guarda-roupa são reunidas
enquanto dura o espetáculo e prontamente desfeitas
quando os espectadores apanham os seus casacos
nos cabides. Suas vantagens em relação à “coisa
genuína” são precisamente a curta duração de seu
ciclo de vida e a precariedade do compromisso
necessário para ingressar nelas e (embora por breve
tempo) aproveitá-las. (p. 37)
Luta de classes X grupos sociais

Como a classe não mais oferecia um seguro para


reivindicações discrepantes e difusas, o
O efeito “imprevisto” disso foi uma fragmentação
descontentamento social dissolveu-se num
acelerada da dissensão social, uma progressiva
número indefinido de ressentimentos de grupos e
desintegração do conflito social numa
categorias, cada qual procurando a sua própria
multiplicidade de confrontos intergrupais e numa
âncora social. Gênero, raça e heranças coloniais
proliferação de campos de batalha. (p. 42)
comuns parecem ser os mais seguros e
promissores.
• Num dos polos da hierarquia global emergente estão aqueles que
constituem e desarticulam as suas identidades mais ou menos à
própria vontade, escolhendo-as no leque de ofertas
extraordinariamente amplo, de abrangência planetária.
• No outro polo se abarrotam aqueles que tiveram negado o acesso
à escolha da identidade, que não têm direito de manifestar as suas
preferências e que no final se veem oprimidos por identidades
Identidade aplicadas e impostas por outros – identidades de que eles próprios
se ressentem, mas não têm permissão de abandonar nem das quais
escolhida X conseguem se livrar. Identidades que estereotipam, humilha,
desumanizam, estigmatizam... (p. 44)
Identidade
imposta
Identidade líquida

Uma identidade coesa, firmemente fixada e solidamente construída seria um fardo, uma repressão, uma
limitação da liberdade de escolha. Seria um presságio da incapacidade de destravar a porta quanto a nova
oportunidade estiver batendo.

Para a grande maioria dos habitantes do líquido mundo moderno, atitudes como cuidar da coesão,
apegar-se à regras, agir de acordo com os precedentes e manter-se fiel à lógica da continuidade, em vez
de flutuar na onda das oportunidades mutáveis e de curta duração, não constituem opções promissoras.
(p. 60)
Onda nacionalista

Outra é a reavaliação do pacto


Uma delas é a tentativa séria e
tradicional entre nação e Estado, o que
desesperada, ainda que mal orientada,
não causa nenhuma surpresa num
de encontrar um modo de proteger-se
momento em que os Estados, em
dos ventos globalizantes, ora gelados,
processo de enfraquecimento, têm
ora abrasadores, uma proteção que os
cada vez menos benefícios a oferecer
muros carcomidos do Estado-nação
em troca da lealdade exigida em nome
mais proveem.
da solidariedade nacional. (p. 62)
Para pessoas que lutam numa
Para pessoas inseguras,
estreita rede de limitações,
desorientadas, confusas e
preceitos e condenações,
assustadas pela instabilidade e
pelejando pela liberdade de
transitoriedade do mundo que
escolha e autoafirmação, a
habitam, a “comunidade” parece
mesmíssima comunidade que
uma alternativa tentadora. É um
exige lealdade absoluta e que
sonho agradável, uma visão de
guara estritamente as suas
paraíso: tranquilidade,
entradas e saídas é, pelo
segurança física e paz espiritual.
contrário, um pesadelo: uma
(p. 68)
visão do inferno ou da prisão.
• A natureza provisória de toda e qualquer
identidade e de toda e qualquer escolha entre
a infinitude de modelos culturais à disposição
não é uma descoberta das feministas, muito
menos invenção delas.
• A ideia de que nada na condição humana é
dado de uma vez por todas ou imposto sem
direito de apelo ou reforma – de que tudo que
é precisa primeiro ser “feito” e, uma vez
feito, pode ser mudado indefinidamente –
acompanhou a era moderna desde o início. (p.
90)
Referência:

• BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

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