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[p.13] Quantos? Um. É muito pouco. Dois. Talvez. Muitos. É muito melhor.
Celebrar a multiplicidade e a singularidade. A divisão ao infinito. "Sou grande. Contenho
multidões" (Walt Whitman). "Como cada um de nós era vários, já era muita gente"
(Deleuze e Guattari). "Um é muito pouco, dois é apenas uma possibilidade" (Donna
Haraway).
Olhar com simpatia o mundo das aparências e dos simulacros. "Destruir os modelos
e as cópias para instaurar o caos que cria, que faz marchar os simulacros" (Deleuze).
Falsificar. Confundir o referente e a representação, o original e a cópia, a cópia e o
simulacro. Desestabilizar a exclusividade do original, do real e do verdadeiro. Renunciar a
desvelar, desmascarar, desmistificar.
Pensar e viver sem fundações últimas, sem princípios transcendentais, sem critérios
universais. Nenhuma fundação é realmente última; nenhum princípio realmente
transcendental; nenhum critério realmente universal. As fundações, os transcendentais, os
universais são estreitamente dependentes dos atos que os enunciam e das posições de onde
são enunciados. Não existem antes da linguagem e do discurso, nem fora da história e da
política, nem independentemente da sociedade e da cultura. São circulares: aquilo que eles
supostamente são tem como único fundamento o ato que os definiu como tais. Não existem
universais que não estejam baseados em um ato de exclusão. Não existem fundações que
dispensem a força da retórica que as funda. Não existem transcendentais que não derivem
de mundanos atos de força. Pensar e viver sem eles não significa simplesmente que "tudo
vale", mas que aquilo que vale não está antecipada e definitivamente decidido.
No lugar de uma ontologia, instaurar uma “ciência” dos eventos. Buscar não a
essência e o que é, mas o devir, o vir-a-ser, o tornar-se. "O que é primeiro não é a plenitude
do ser, é a fenda e a fissura, a erosão e o esgarçamento, a intermitência e a privação
mordente” (Blanchot). Dar importância não ao [p.16] significado, mas à produção. Em vez
de perguntar "o que é isto?", perguntar "o que posso fazer com isto?". Em vez de perguntar
"é verdade?", perguntar "como funciona?". Não interpretar, mas experimentar.
[p.17] Referências