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Esquizoanálise: remando contra marés

A esquizoanálise é uma abordagem teórica e clínica desenvolvida no campo da psicologia e da


filosofia, que se originou a partir dos trabalhos do filósofo Gilles Deleuze e do psicanalista Félix
Guattari na década de 1970. Ela representa uma ruptura significativa com a psicanálise tradicional
de Sigmund Freud e busca explorar a complexidade da mente humana e das estruturas sociais de
uma maneira radicalmente diferente.
A principal ideia por trás da esquizoanálise é a rejeição das noções tradicionais de identidade,
normalidade e estrutura. Em vez disso, ela adota uma perspectiva mais fluida e descentralizada da
mente e da sociedade. Aqui estão alguns pontos-chave para entender a esquizoanálise:
1. O Anti-Œdipe : O livro “O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia,” escrito por Deleuze e
Guattari, é uma obra fundamental da esquizoanálise. Nele, os autores argumentam contra a ênfase
freudiana na repressão e no complexo de Édipo, propondo uma visão mais positiva das forças
inconscientes e desejos humanos.
2. A Máquina Desejante: A esquizoanálise postula a existência de uma “máquina desejante” que
opera em nossa psique. Essa máquina é responsável pela produção de desejos e afetos e não se
limita à busca de satisfação sexual, como proposto pela psicanálise tradicional e dela se difere,
ainda que significativos avanços neste aspecto tenham sido produzidos por alguns campos de
saberes dessa disciplina.
3. A Esquizofrenia como Metáfora: A esquizofrenia é usada como uma metáfora para descrever a
natureza fragmentada e descentralizada da mente. Deleuze e Guattari argumentam que todos nós
temos elementos de esquizofrenia em nossas vidas, e isso não deve ser patologizado, mas sim
compreendido como uma característica da nossa experiência humana.
4. Crítica às Estruturas Sociais: Além de abordar a mente individual, a esquizoanálise também se
concentra na crítica das estruturas sociais e políticas que reforçam normas e hierarquias. Ela
promove a ideia de que as instituições sociais, como a família e o Estado, contribuem para a
opressão e a alienação das pessoas.
5. Terapia e Prática Clínica: Na prática clínica, a esquizoanálise desafia a tradicional análise do
paciente em busca de um significado oculto. Em vez disso, ela procura criar um espaço onde os
indivíduos possam explorar suas próprias multiplicidades e desejos, sem a necessidade de se
enquadrarem em categorias pré-determinadas, ou seja, dar espaço para que o enunciado seja o que
surge entre a sua própria relação de desejo e potência na construção criativa de bons encontros
coma vida.
Luiz Fuganti, psicanalista e pesquisador, ofereceu uma contribuição importante à esquizoanálise,
ele expandiu a ideia de que nossos corpos são atravessados por uma multiplicidade de forças e
desejos.
Suely Rolnik disse: “A subjetivação é um acontecimento, ou seja, o resultado da relação intensiva
entre o corpo e as forças que o atravessam, desde sempre, produzindo o novo.”.
Em resumo, a esquizoanálise é uma abordagem provocadora que busca desconstruir noções
tradicionais sobre a mente e a sociedade. Ela desafia a ideia de uma identidade estável e normativa,
favorecendo uma compreensão mais fluida e pluralista da experiência humana. Essa perspectiva
tem influenciado não apenas a psicologia e a filosofia, mas também áreas como a política, a cultura
e a arte, ao questionar e reimaginar as estruturas que moldam nossa existência.
A esquizoanálise é uma abordagem interdisciplinar que combina elementos da filosofia, da
psicanálise e da teoria crítica para explorar a mente humana e as estruturas sociais de uma maneira
descentralizada e não convencional. Suas bases filosóficas são diversas e complexas, refletindo a
ampla gama de influências intelectuais que a moldaram. Incluem elementos de filosofia continental,
psicanálise, filosofia política e teoria crítica. Algumas referências importantes:
1. Gilles Deleuze e Félix Guattari: Os fundadores da esquizoanálise são Gilles Deleuze e
Félix Guattari. Eles foram profundamente influenciados pela filosofia continental, em
particular pelo pensamento de filósofos como Friedrich Nietzsche, Henri Bergson e Michel
Foucault. Deleuze também desenvolveu seu próprio sistema filosófico, conhecido como
"filosofia da diferença", que enfatiza a multiplicidade, a diferença e a singularidade como
conceitos centrais.
2. Psicanálise: Embora a esquizoanálise seja uma crítica à psicanálise tradicional de Sigmund
Freud, ela também incorpora elementos da teoria psicanalítica em sua abordagem. Deleuze e
Guattari reinterpretaram muitos conceitos psicanalíticos, como o inconsciente e o desejo, de
uma maneira mais descentralizada e não patológica.
3. Teoria Crítica: A esquizoanálise compartilha afinidades com a tradição da teoria crítica, que
inclui pensadores como Theodor Adorno e Herbert Marcuse. Ela se preocupa com questões
sociais, políticas e culturais, e critica as estruturas de poder que moldam a subjetividade e a
sociedade.
4. Filosofia Política: A esquizoanálise também tem raízes na filosofia política, especialmente
na obra de Gilles Deleuze, que explorou questões de poder, controle e resistência. Sua
colaboração com Guattari, "O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia," contém elementos
de crítica política e social.
“É uma proposta de intervenção política, que implica os saberes psicológicos.”.1

1
FURLAN, Reinaldo. Fenomenologia e esquizoanálise na psicologia: um encontro possível?. Psicol. USP [online].
2006, vol.17, n.3 [citado 2023-09-12], pp. 105-126 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1678-51772006000300009&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1678-5177.

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