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Introdução
A presente resenha pretende apresentar as principais ideias do pedagogo, teólogo e cientista Jan
Amos Komenský, e a partir da reflexão proposta pelo autor do artigo ‘A didática de Comênio: entre
o método de ensino e a viva voz do professor’, trazer contribuições analíticas do método de
Comênio na contemporaneidade.
Comênio é considerado o pai da pedagogia moderna. Foi um pedagogo com conceitos
revolucionários para sua época e procurou contribuir para a educação de forma integral, fazendo
com que pudéssemos compreender que tudo poderia ser ensinado a todos, em um momento
histórico de tanta desigualdade e bruscas mudanças no sistema político e econômico mundial.
Sabemos que até hoje as escolas e professores são influenciados pela Didática Magna de
Comenius, ainda que não sejamos a mesma sociedade do século XVII. A importância de repensar
a pedagogia de Comênio é urgente e, quem sabe, pode ser importante também que possamos
seguir seus passos e fazer uma revolução na educação para todos no contexto atual de
sociedade.
Sobre o autor
Jan Amos Komensky, conhecido como João Amós Comênio, um destacado educador e pensador
do século XVII que revolucionou a pedagogia e é considerado o pai da educação moderna.
Nascido em 28 de março de 1592, em Nivnice, Morávia (atual República Tcheca), Comênio teve
uma vida marcada por tragédias desde cedo, perdendo os pais e as duas irmãs aos 12 anos,
vítimas da peste que assolava a Europa. Após ser criado por uma tia, ele foi enviado para uma
escola secundária em Přerov, onde recebeu incentivo para seguir o ministério.
Aos 26 anos, Comênio se tornou professor e diretor das escolas do norte da Morávia. Sua
abordagem revolucionária para a educação enfatizava que todas as crianças deveriam ter acesso
ao ensino e que os métodos utilizados pelos professores deveriam ser mais rápidos e agradáveis.
Ele acreditava na importância do ensino das línguas, especialmente do latim, como um
instrumento para a compreensão da cultura europeia.
Comênio foi contratado pelo governo sueco para reformar o sistema escolar e produzir livros
didáticos. Ele também foi convidado para fundar o Colégio Pansófico na França e para ser reitor
na Universidade de Harvard. Durante mais de quatro décadas, percorreu a Europa buscando
promover reformas no ensino.
Sua visão educacional era abrangente, buscando iluminar os homens com sabedoria, organizar
uma administração civil perfeita e uni-los a Deus pela verdadeira religião. Seu legado inclui o
desenvolvimento de métodos pedagógicos inovadores e a defesa da educação em tempo integral
para todos.
A didática magna procura, através de seu método de ensino, elucidar as reflexões de Comênio
sobre a possibilidade de ensinar tudo a todos. Sua metodologia, assim como nas concepções
pedagógicas modernas, está sempre à frente de qualquer questão educacional. Comênio
procurou responder às necessidades de seu tempo, na transição da Idade Média para a Idade
Moderna.
A didática de Comênio parte de universalidade, uma vez que seu método é deduzido da harmonia
das leis universais da natureza: da racionalidade, quando verifica sua posição protestante, e da
prática, procurando ir de encontro com a natureza e as leis de Deus, de maneira que respeite o
ciclo universal das coisas.
Para que se possa fazer uma leitura efetiva do método da didática magna, é preciso estar ciente
do contexto histórico, isso porque hoje já existe um grande avanço científico em estudos sobre a
sociedade, a economia, e a psicologia, por exemplo. Caso partamos do princípio da
universalidade da didática comeniana e apliquemos hoje em salas de aula, sem o devido
entendimento do contexto, veremos que haverá subjeções, dadas as considerações sobre a
diversidade existentes, como por exemplo, a existência de classes sociais. Na época em que
Comênio idealizou a didática magna, havia se iniciado o processo de industrialização e as
consequências da desigualdade do sistema capitalista em ascensão para as classes
trabalhadoras ainda não havia se consolidado. Há também uma concepção religiosa a respeito de
todas as coisas para Comênio, mas hoje, precisamos levar em conta os processos psíquicos que
as mudanças sociais causam nos sujeitos. Esta versão mística da realidade, que combinou com o
fervor religioso luterano da época de Comênio, não é mais tão presente. Os estudos acadêmicos
estão voltados para os avanços científicos que podemos constatar e comprovar empiricamente.
Portanto, a relação que Comênio faz da educação com as questões gerais da humanidade
daquela época, não se aplicam mais integralmente hoje. Ainda assim, sua concepção sobre a
democratização do ensino é um bom pressuposto para professores que desejam democratizar o
ensino em suas salas de aula. Não descarto totalmente sua contribuição. Suas intenções para
com a sociedade no quesito “educação para todos” também são importantes, porém, ao analisar e
aplicar minunciosamente o método com este princípio universal de entendimento, fará com que
afirmemos e aceitemos passivamente as desigualdades sociais criadas pela industrialização e o
sistema econômico vigente. É necessária sim que toda e qualquer pessoa tenha acesso as salas
de aula e possa ter acesso à educação pensada e elaborada com qualidade e com métodos
verificados cientificamente, no entanto, se faz necessária também a análise de contexto, a análise
social, econômica e política dos sujeitos que acessam este espaço ao educar sujeitos para a vida
contemporânea.
Também é importante ressaltar que o artigo de Douglas Emiliano Batista parte da antinomia
presente na obra de Comênio para discussão que se propõe a fazer, quer dizer, ainda que se
exista um método universal para ensinar, Comênio tem essa contradição sujeito-sociedade no
plano de sua consciência individual, quando contesta seu drama em ser teólogo e ainda ter de se
preocupar com as questões escolares. O autor do artigo explicita que, caso a subjetividade e a
relação do professor com o saber sejam omitidos, o resultado pode ser seriamente comprometido.
Ele chama nossa atenção para este ponto e ressalta a antinomia do plano didático e a
subjetividade do professor ao aplicar este plano:
Para a psicanálise, o sujeito está dado como um ser complexo e influenciado por uma variedade
de fatores psíquicos, desenvolvimentais e interpessoais. Tanto para o professor, quanto para o
aluno, caso o processo de ensino-aprendizagem seja considerado apenas uma aplicação de
técnicas pré-estabelecidas com resultados também pré-estabelecidos, o ensino virá a transformar-
se em uma simples engrenagem de um sistema.
A mecanização dos meios de subsistência dos sujeitos está diretamente ligada à permanência e
manutenção do sistema econômico vigente, sistema este que produz diária e historicamente
desigualdades sociais. Já não existe apenas um propósito universal com a existência das
escolas, dado que a sociedade se divide em classes, e consequentemente, há uma perspectiva
distinta de método e conteúdo escolar na classe trabalhadora, por exemplo. Sabe-se que Marx e
Engels travaram uma luta incansável pelo proletariado, visando capacitar essa classe para
enfrentar as grandes responsabilidades que lhe aguardam: a missão de transcender o mundo
capitalista e criar uma nova sociedade. Essa nova sociedade deveria assegurar um
desenvolvimento cultural robusto, aproveitando toda a riqueza da produção cultural humana.
Ninguém começa do zero, porém é crucial reconhecer, por meio da apropriação, o que é negado e
o que é superado, sem partir de premissas insignificantes. Assim diz Lukács:
Esta classe deve ser a criadora revolucionária de um novo mundo, e não uma pequena
oposição reformista no seio do capitalismo decadente[...] A contínua solicitação da
verdadeira e grande herança do passado é, ao mesmo tempo, um apelo ao proletariado,
um incentivo e uma solicitação para que enfrente as grandes tarefas que os esperam.
(2010, p. 40).
Para tanto, o “ensinar tudo a todos” adquire identidade distinta. As consequências do sistema
econômico capitalista e da industrialização faz existir uma leitura completamente dessemelhante
da proposta de universalidade.
Conclusão
Referências:
COMENIUS, João Amós. Didática magna. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.