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MATEMÁTICA E
A RELAÇÃO COM
OUTROS CAMPOS DO
SABER NO CICLO DE
ALFABETIZAÇÃO
Ano XXIV - Boletim 10 - Setembro 2014
Matemática e a relação com outros campos do
saber no ciclo de alfabetização
SUMÁRIO
Apresentação........................................................................................................................... 3
Rosa Helena Mendonça
Introdução............................................................................................................................... 4
Antonio José Lopes (Bigode)
Texto 2: Serve para alguma coisa saber para que ‘serve’ a Matemática? (Ou é melhor pensar
sobre o que ela muda no mundo?) ........................................................................................ 13
Romulo Campos Lins
A publicação Salto para o Futuro comple- A edição 10 de 2014 traz como tema: Mate-
menta as edições televisivas do programa mática e a relação com outros campos do
de mesmo nome da TV Escola (MEC). Este saber no ciclo de alfabetização e conta com
aspecto não significa, no entanto, uma sim- a consultoria de Antonio José Lopes (Bigo-
ples dependência entre as duas versões. Ao de), Mestre em Didática das Ciências e das
contrário, os leitores e os telespectadores Matemáticas pela Universidade Autôno-
– professores e gestores da Educação Bási- ma de Barcelona - UAB, autor e apresenta-
ca, em sua maioria, além de estudantes de dor da série “Matemática em Toda Parte”,
cursos de formação de professores, de Fa- de divulgação científica e popularização
culdades de Pedagogia e de diferentes licen- da Matemática, pela TV Escola MEC/UNES-
ciaturas – poderão perceber que existe uma CO e Consultor desta Edição Temática.Os
interlocução entre textos e programas, pre- textos que integram essa publicação são: 3
servadas as especificidades dessas formas
distintas de apresentar e debater temáticas 1. Matemática no dia-a-dia
variadas no campo da educação. Na página
eletrônica do programa, encontrarão ainda 2. Serve para alguma coisa saber para que
outras funcionalidades que compõem uma ‘serve’ a Matemática? (Ou é melhor pensar
rede de conhecimentos e significados que se sobre o que ela muda no mundo?)
efetiva nos diversos usos desses recursos nas
escolas e nas instituições de formação. Os 3. Matemática do cotidiano: um ensaio de
textos que integram cada edição temática, problematização a partir do futebol
além de constituírem material de pesquisa e
estudo para professores, servem também de
base para a produção dos programas.
Boa leitura!
1 Mestre em Didática das Ciências e das Matemáticas pela Universidade Autônoma de Barcelona - UAB. Autor das
coleções Matemática do Cotidiano & suas Conexões (prêmio Jabuti de 2006) e Matemática Hoje é Feita Assim, Ed. FTD.
Autor e apresentador da série “Matemática em Toda Parte”, de divulgação científica e popularização da Matemática, pela
TV Escola MEC/UNESCO e Consultor desta Edição Temática.
É difícil situar quando esta parceria lombolas ou ainda grupos específicos, como
entre Matemática e realidade começou, até costureiras, bordadeiras ou pescadores, que
mesmo porque, na história das ideias, con- praticam Matemáticas significativas, que
ceitos e ferramentas matemáticas, esta re- nem sempre têm sido consideradas em pro-
lação sempre esteve presente. Basta abrir gramas e materiais didáticos.
qualquer livro de História da Matemática
para constatar que a maioria das teorias ma- No cenário internacional, o principal
temáticas surgiu de problemas reais. nome é o de Hans Freudenthal, considerado
o pai da Educação Matemática Realística,
No Brasil, um dos principais entu- que está baseada na resolução de problemas
siastas das aplicações factíveis da Matemá- reais, factíveis e significativos a partir de ex-
tica do cotidiano, da interdisciplinaridade e periências cotidianas em lugar de regras de
da Matemática lúdica, que explora a realida- matemática abstratas e divorciadas da reali-
de das crianças, foi Malba Tahan, pseudôni- dade vivencial ou cognitiva dos estudantes.
mo do professor Julio César de Mello e Sou- Como matemático e educador, Freudenthal
za, que ficou mundialmente conhecido pelo vê a matemática como uma atividade huma-
clássico “O Homem que Calculava”, que es- na, que deve ser aprendida e utilizada por
creveu quando era professor do Colégio Pe- todos os indivíduos, independentemente de 5
dro II, no Rio de Janeiro, onde nasceu e con- sua condição social e cultural ou de sua ativi-
viveu com grandes educadores, entre eles, dade profissional. Freudenthal e D´Ambrósio
Euclides Roxo e os pioneiros da Escola Nova. são criadores e militantes do movimento
Em meados do primeiro semestre do sécu- internacional Matemática para Todos, uma
lo XX, educadores como Anísio Teixeira, in- perspectiva que considera que todos podem
fluenciado pelas ideias de John Dewey, trou- aprendê-la, e, mais do que isso, que todos
xeram para o ensino ideias que são muito têm o direito de aprendê-la.
próximas da Educação Matemática Realista.
É desta época a proposta de ensinar através Freudenthal sempre acreditou que
de projetos. Mais recentemente, um nome as crianças podem aprender Matemática
que merece ser lembrado é o do professor reinventando-a, e se a Matemática é uma
Ubiratan D´Ambrósio, que criou o conceito atividade, a melhor forma de aprendê-la é
de Etnomatemática, uma visão ampla sobre praticando-a a partir de problemas que sur-
o conhecimento matemático que confere gem da realidade: um problema prático da
legitimidade às produções de natureza ma- vida da criança, uma brincadeira, a estra-
temática feitas por comunidades e povos tégia de um jogo, seu álbum de figurinhas,
de distintas culturas, como indígenas, qui- um conto, uma notícia que ouviu na TV, um
game que aprendeu a jogar no computador, os números em contextos de medidas, a per-
a organização de seu horário pessoal, uma cepção de padrões no entorno, etc. Da leitu-
situação de troco envolvendo quantias em ra do texto de Janete fica uma sensação de
dinheiro, o planejamento para fazer econo- “a realidade está aí”, a um palmo de nossos
mia, a interpretação de um texto na aula de narizes e as crianças estão imersas nesta re-
Português ou de um mapa na aula de Geogra- alidade. Cabe aos professores reconhecê-la e
fia, a construção de um desenho ou a maque- explorá-la, problematizando e instigando as
te de um cenário na aula de Artes, seu corpo, crianças, para, por fim, saborear a riqueza
suas roupas, suas medidas, os números de de sua capacidade de nos surpreender com
sua vida, seu endereço, telefone ou CEP. Não ideias e soluções criativas.
há limites para explorar Matemáticas em
contextos ricos de significados e as possibi- O segundo texto é do professor Ro-
lidades de envolver as crianças e desenvolver mulo Campos Lins, que tem refletido sobre
suas potencialidades são enormes. a natureza da Matemática e a produção de
significados pelos alunos no ambiente da
Nesta edição do Salto para o Futuro sala de aula, e, ao mesmo tempo em que
de apoio ao Pacto Nacional pela Alfabetização apresenta uma perspectiva crítica, traz con-
6
na Idade Certa, um programa foi dedicado a tribuições para que possamos ler o que as
discutir as relações da Matemática com os crianças são capazes de produzir quando o
outros saberes, os contextos e a realidade das professor tem como foco o desenvolvimento
crianças. Três educadores matemáticos ofere- do pensamento matemático da criança. Nes-
ceram seus pontos de vista e sugestões para te texto, ele inicia discutindo criticamente o
alimentar as reflexões dos professores sobre culto à matemática utilitária, que tal como
esta temática, que está na ordem do dia. tem sido “utilizada”, pode turvar a visão dos
professores sobre o que é essencial no ensi-
nete Bolite Frant, trata de modo muito inte- se pode fazer Matemática com as crianças
ressante, simples, direto e preciso as possi- são ilustradas por meio de um relato de uma
do universo das crianças em tópicos e cam- ano conduz seus alunos a trabalhar com
alcance dos olhos e das mãos das crianças, construção do pensamento matemático.
O terceiro texto, do professor Antonio
José Lopes, um estudioso de metodologia e
currículo na perspectiva da Educação Mate-
mática Realística, apresenta um panorama
e os fundamentos desta corrente do ensino,
além da discussão de sequências didáticas
focadas em um contexto específico, aprovei-
tando o fato de que 2014 foi o ano em que o
Brasil sediou a Copa do Mundo do Futebol,
o que, apesar do resultado adverso no cam-
po de grama, tem potencial de dar muitas
alegrias no campo do saber. O objetivo foi
oferecer para os professores um modelo de
problematização de situações simples a par-
tir de um contexto, pondo em relação tudo o
que é possível para que os alunos aprendam
conceitos e adquiram habilidades frente a
situações-problema que lhes sejam familia- 7
Matemática no dia-a-dia
1 PhD pela New York University em Educação Matemática e Professora na Universidade Bandeirante de Sao Paulo.
meninas, o total de alunos. Assim, começa- - Qual o dia é seu aniversário? Escre-
mos a estabelecer um vocabulário comum vendo no quadro, por exemplo: 2 de maio; 3
aos membros da sala. de junho etc...
Observando padrões
BIGODE, Antonio J.L.; FRANT, Janete Bolite. Matemática: Soluções para dez desafios do professor.
1 a 3 ano do Ensino Fundamental. Rio de janeiro: Ed. Ática, 2011 .
LERNER, Delia. Matemática na Escola: Aqui e agora. 2 ed. Porto Alegre: Ed ArtMed, 1996.
12
texto 2
“Professora, pra que serve a matemática?” rem mesmo é saber para que serve. Mas não
foi esta a pergunta que eu havia respondido?
Em geral, as respostas tomam a per-
gunta ao pé da letra: utilidade. Para que é que Será que utilidade é poder produzir
usa? Esta pergunta é meio estranha, porque coisas: casas, carros, foguetes, aviões, com-
eu acredito que a grande maioria das pessoas putadores? Mas não tem que servir também
vai saber dizer que tem que fazer contas na – ou não – para fazer comida? Livros? Filmes?
venda, saber ler números (como nos ônibus, Casas, carros, computadores (e tablets e ce-
por exemplo), contar dinheiro para pagar lulares e tocadores de MP3)? Talvez não im-
13
contas ou compras, e por aí vai. E tem os nú- porte saber de que modo a Matemática tem
meros de telefone, números de casa, cartões a ver com fazer tudo isso. Por exemplo, eu
de banco etc. Penso que bem poucas pessoas mesmo não penso em como um carro funcio-
iriam dizer que esta Matemática – números, na quando sento ao volante e saio dirigindo;
contagem, aritmética básica –, que apren- quer dizer, me interessa apenas saber o que
demos na escola, não serve para nada. O tenho que fazer para o carro me levar aonde
problema talvez seja outro, mais específico: quero ir. O funcionamento “interno” de car-
“Professora, prá que serve esta matemática, ros é um conhecimento especializado que,
a que a gente estuda na escola?”. provavelmente, eu não vou usar nunca – por
exemplo, provavelmente eu jamais vou con-
Uma resposta que eu gosto de dar é sertar um carro. E, para falar a verdade, quan-
“Serve para me dar emprego.” Meus alunos tos dos mais de 200 milhões de brasileiros e
costumam dar risadas quando digo isto, e brasileiras tiveram que resolver uma equação
quando eu insisto que é uma resposta de ver- do segundo grau fora do contexto escolar, nos
dade, eles, em geral, dizem que não, que que- últimos 30 dias? Seno e cosseno?
1 Este texto incorpora partes de material produzido no contexto do Convênio CECEMCA, UNESP-MEC.
2 Professor do Departamento de Matemática e Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática,
UNESP/Rio Claro.
Por outro lado, “(...) gostar ou não por semana, para todos
há muitas pessoas que os alunos e alunas de
de Matemática não
gostam de Matemática todos os anos? A discus-
depende de se ver ou
sem se preocupar se ela são pode ser estendida
serve ou não para algu-
não utilidade para ela, a muitos outros assun-
ma coisa. Quer dizer, es- e, acredito, querer tos e temas: futebol e
tas pessoas até sabem convencer nossos linguagens de progra-
que ela é útil, mas não alunos a gostarem das mação de computado-
é por isso que gostam res, por exemplo.
matemáticas porque
dela; num certo senti-
ela é “muito útil” não Há muitos anos estou
do é como a música:
gostar deste ou daque-
vai nos levar muito convencido do seguinte:
No fim, acabaram com duas tabelas bichos que têm pelo, com certeza! E a girafa
3 A razão é que aquilo que se ganha indo além das classificações por apenas um atributo, é interessante o bastante
para justificar a intervenção da professora, ao invés de se esperar que as crianças desenvolvessem outras representações.
Isto é totalmente similar a diversas situações nas quais vale a pena usarmos calculadoras na sala de aula.
Talvez ele não exista, assim como não existe Comem vegetais Comem ‘carne’
um inseto com 2m de comprimento, mas o Formiga (come fungo, Lagarto
da mesma família dos Aranha (come insetos)
importante é que o fato de as crianças esta-
cogumelos) Peixe
rem classificando animais e usando a tabela Tatu Cobra (come pequenos
Tartaruga animais)
de dupla entrada pode levá-las a uma espécie
Rato Passarinho (come
de caça ao tesouro: vamos ver quem descobre Coelho minhocas)
Macaco (come Jacaré
primeiro um animal grande e com penas! E lá
bananas!) Gato (come carne se
vamos de volta ao mundo-maior-que-a-sala- Cabra deixarem...)
-de-aula, às pessoas e aos livros! Passarinho (come Cachorro (se deixarem...)
frutas!) Lobo
Porco Urubu (come carne de
Pois bem, existem, sim, animais grandes Vaca animais mortos)
Elefante Galinha (come minhocas!)
e com penas, e um deles é o avestruz, a maior Galinha (come milho) Leão
ave que ainda existe, e que pode chegar a medir Hipopótamo Baleia
Rinoceronte Dinossauro (alguns)
2,7m de altura (quase do tamanho de um tigre) e
Dinossauro (alguns)
pesar 150 kg (bem menos que um tigre: por que Cavalo
Camelo
será?). Uma idéia matemática importante entra
Girafa
em jogo, a de que, se estamos olhando para duas
características, todas as combinações de tipos 18
Muito que bem, temos mais uma
de cada uma sejam consideradas.
característica, e classificamos nossos ani-
mais de acordo com ela. A pergunta agora é:
A tabela de dupla entrada pode ter,
“Como representar (agora que são três carac-
no trabalho com os animais, este efeito, o de
terísticas!), em um único diagrama, esta clas-
mostrar visualmente que faltam algumas pos-
sificação de tripla entrada? Poderíamos usar,
sibilidades, fazendo com que, ao mesmo tem-
se fosse prática, uma tabela de tripla entrada,
po, as crianças comecem a pensar em todas
mas o desenho dela ia ser “tridimensional”,
as combinações e comecem a buscar, no caso
o que dificultaria bastante. Talvez você quei-
dos animais, quem é que pode estar na caixa
ra fazer uma tabela concreta, física, de três
(célula) vazia. De duas, podemos passar a três
entradas, mas dá um pouco de trabalho! Ou-
características. No caso de nossa professora,
tra vez, em nome de continuar o processo de
foi “o que comem”. Vamos ficar apenas com
estudo dos animais, a professora pode pro-
os animais que já temos, e vamos ser mais fle-
por uma nova forma de representação, a re-
xíveis com nossa nova característica, porque
presentação em árvore. O nome é sugestivo,
nosso interesse é mais no processo de repre-
porque o desenho se parece, realmente, com
sentação de uma “classificação” do que nos
uma árvore (neste nosso caso, “de cabeça
dados “reais”:
para baixo”!), com seus galhos se dividindo
ao crescerem. A árvore começa com a classe novo conhecimento. Neste caso, a partir da
mais abrangente, em nosso caso, “animais”. ideia de que todas as combinações de carac-
Em seguida, ela se divide entre animais “pe- terísticas teriam representantes no mundo
quenos”, “médios” e “grandes”: animal (e aqui estamos frente a um uso da
importante ideia de produto cartesiano).
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa:
Saberes Matemáticos e Outros Campos do Saber/Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: SEB, 2014.
21
texto 3
Hans Freudenthal2, a principal referência a melhorar muito, pois, nas últimas déca-
atividade humana, que deve ser aprendida cos e educadores matemáticos de todo o
e utilizada por todos os indivíduos, inde- mundo, têm estado atentos a esse quadro
1 Mestre em Didática das Ciências e das Matemáticas pela Universidade Autônoma de Barcelona - UAB.
Autor das coleções Matemática do Cotidiano & suas Conexões (prêmio Jabuti de 2006) e Matemática Hoje é
Feita Assim, Ed. FTD. Autor e apresentador da série “Matemática em Toda Parte”, de divulgação científica e
popularização da Matemática, pela TV Escola MEC/UNESCO e Consultor desta Edição Temática.
2 Hans Freudenthal (1905-1990), criador da Educação Matemática Realística (EMR) foi um matemático
alemão radicado na Holanda, que se dedicou à Educação Matemática. Foi presidente do ICME, fundador do PME,
criador da revista Educational Studies in Mathematics. A medalha Freudenthal é um dos principais prêmios da
educação matemática.
cidadania cognitiva, Para os professores, o A resposta a este desa-
passem a gostar da fio tem sido enfrentada
desafio é o de encontrar
Matemática e a usá-la em muitos países de-
e construir caminhos
com competência em senvolvidos e com alto
suas tarefas do dia a dia
confiáveis e viáveis que desenvolvimento hu-
nos âmbitos pessoal ou possam resgatar os mano, em especial na-
profissional. valores da Matemática queles com os melho-
vés de contextos da vida diária que sejam explorar Matemática a partir da realidade
familiares (que não sejam estranhos ou são bastante amplas, basta para isto que o
extremamente áridos), de tal modo que professor se dê conta deste potencial e te-
os alunos possam imaginar as situações nha a sensibilidade de perceber o que pode
em questão. Freudenthal entende que, e o que não pode ser problematizado para
ao serem significativos para o estudante,
explorar relações, construir ideias e ensi-
os contextos realistas se constituem em
nar procedimentos matemáticos.
pontos de partida de sua atividade ma-
temática, contribuindo para promover o
O cenário a partir do qual se podem 25
uso de seus conhecimentos prévios, a in-
tuição e suas estratégias informais, para discutir ideias matemáticas com os alunos
enfrentar e responder às questões coloca- pode ser uma situação do cotidiano como
das, permitindo-lhes, em seguida, avançar uma informação que a criança ouviu dos
por si próprios até níveis mais complexos pais ou viu na TV. Num contexto como o
de matematização. Problemas e situações que vivemos em 2014, em que todo o país
realistas geram nos estudantes a necessi- se volta para a Copa do Mundo de Fute-
dade de utilizar ferramentas matemáticas bol e a seleção brasileira, qualquer infor-
para sua organização.
mação pode ser constituir em fonte para
explorar Matemática.
Explorar estas questões implica em - Quantos anos você acha que Pelé le-
trabalhar com os alunos o Sentido Numéri- vou para marcar os 1281 gols ?
co, que no caso envolve a atribuição de sig-
nificado a um número da ordem dos milha- - Se o Neymar continuar marcando
res, o que leva a uma revisita ao Sistema de a quantidade de gols que marcou no último
Numeração Decimal (SND), suas estruturas ano, será que conseguirá alcançar os 1281
e propriedades. gols de Pelé até o final de sua carreira ?
as crianças possam resolver problemas mate- contribui para que criança se habitue a ler o
máticos. O interesse pela Copa do Mundo de mundo, raciocinando, o que contribui para
de para desenvolver nos alunos esta capaci- “cidadãozinho”. O que se espera deste tipo
dade e não deve ser desperdiçada. Considere de atividade é que a criança seja capaz de
copa seguinte, realizada no Chile, o Brasil sora converse com os alunos o significado
voltou a ganhar o campeonato mundial. dos prefixos bi, tri, tetra, penta e hexa, que
Passaram-se oito anos até ganhar mais usamos em diferentes situações, os alunos
uma copa, no México, quando o Brasil se são capazes de utilizar estratégias variadas
com Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson, Jairzi- ção e subtração), para descobrir que o Brasil
nho e outros craques da bola. Passaram- ganhou as Copas, somando 4 a 1958, para
-se mais de vinte anos até que o Brasil obter 1962; somando 8 a 1962, para obter
conquistasse outra taça, a quarta, nos 1970; e subtraindo 12 de 2014, para obter
Estados Unidos, com o craque Romário, 2002. Entretanto, a informação de que “Pas-
que brilhou junto de outros companhei- saram-se mais de vinte anos até que o Brasil
ros de time. A última Copa do Mundo, conquistasse outra taça” não permite deter-
que foi conquistada na Coréia e no Japão, minar com certeza qual foi o ano do tetra,
foi há 12 anos, com Ronaldo, Ronaldinho por meio da estratégia aditiva. Devido às su-
Gaúcho, Rivaldo e outros reis da bola. tilezas do texto, sabemos que não pode ser
1990, pois o texto diz que se passaram “mais
Desafie seus alunos a descobrir em de 20 anos”. Portanto, poderiam ser 24 ou
28 anos, e não há como saber se foi no ano O próximo passo é trabalhar as tabu-
de 1994 ou 1998. Porém, mesmo no caso da adas, que podem ser apresentadas como um
ausência de uma informação crucial, ainda tipo de sequência com determinado tipo de
assim o trabalho de interpretação do texto regularidade.
tem seu mérito, pois decidir que um enun-
ciado não tem as informações necessárias Dica: para fazer a linha do tempo, use papel
para que se responda a uma pergunta só manilha ou bobina de calculadora de mesa.
pode ser feito a partir de raciocínio lógico e
isto dá conta de uma das competências do
pensamento matemático, que é a capacida-
de de argumentar. A título de curiosidade,
saibam que muitos artigos científicos de
Matemática pura demonstram, por meio de Uma segunda e interessante versão
argumentos lógicos, por que determinado desta atividade, de produzir informação a
problema não tem uma solução, ou ainda, partir de um texto, é a de preencher as la-
por que um determinado fato matemático cunas de um texto em que foram apagadas
não pode ser demonstrado. O produto des- todas as informações de natureza numéri-
tes estudos é a lógica da demonstração. ca. Os alunos têm que preenchê-las usan- 28
do seus conhecimentos prévios e tendo
Em sala de aula, atividades como atenção para as relações que aparecem no
esta, de extrair informações de um texto, texto. É recomendável que estas atividades
levam à realização de outras atividades de sejam feitas em grupo, ou no mínimo em
natureza matemática. No caso deste texto, duplas, pois o debate, a troca de opiniões
que relaciona datas, pode-se propor aos alu- e a discussão de estratégias são essenciais
nos a construção de uma linha do tempo, neste tipo de situação.
em que eles devem marcar, numa linha nu-
mérica, os anos, desde a primeira Copa (em O Brasil é o único país *#####* campeão
1930), usar cores para marcar os anos em mundial de futebol, isto quer dizer que a se-
diais e ícones para marcar os anos em que o onatos mundiais. O *#####* foi na Suécia,
aproveitam a regularidade da linha numéri- Pelé. *####* anos depois, na copa seguinte,
ca, para explorar sequências cujo padrão é realizada no Chile, no ano de *#####*, o
Atente para os conteúdos que podem seus conhecimentos sobre operações básicas.
cias, tabela, datas, operações). A atividade em dois turnos, isto quer dizer que cada
tem algo interessante, que é levar os alu- time joga duas vezes com cada um dos ti-
nos a perceberem que o padrão “de 4 em 4” mes adversários. Se no primeiro turno ele
possibilita a existência de sequências distin- joga em casa, isto é, no seu próprio campo,
tas, como a dos anos de copas (2006, 2010, então no segundo turno, ele joga na casa do
30
2014,...), idades (1, 5, 9,..) e, em alguns casos, adversário como time visitante.
V E D PG
d) Qual foi o lanterninha ? Santos 15 12 11 ?
Considerações finais 35
LOPES, Antonio José. Saberes Matemáticos e outros campos do saber. In: Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa: Saberes Matemáticos e Outros Campos do Saber (caderno 8)/
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacio-
nal. – Brasília: MEC, SEB, 2014.
Matemática no Futebol. Programa da série Matemática em Toda Parte (1ª temporada). TV Es-
cola. Disponível em: http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_
id=2349
36
BIGODE, Antonio J. L. Labirinto da Tabuada. Game com temática do futebol e tabuadas, hospe-
dado no site da Revista Nova Escola.
Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/swf/jogos/exibi-jogo.shtml?209_tabuada-2.swf
BIGODE, Antonio J. L e FRANT, Janete B. Nós da Matemática. Série Nós da Educação. São Paulo:
Ática Educadores, 2012.
D´AMBRÓSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre educação (e) matemática. São
Paulo: Summus, 1986.
SKOVSMOSE, Ole. Educação matemática crítica: a questão da democracia. Campinas: Papirus, 2001.
37
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Acompanhamento Pedagógico
Grazielle Bragança
Copidesque e Revisão
Milena Campos Eich
Diagramação e Editoração
Bruno Nin
Virgílio Veiga
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvescola.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4º andar – Centro.
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Setembro 2014