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ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
Quando se trata do tema ‘Participação Popular’ a primeira idéia que nos deve vir à mente
é: democracia. Assim, iniciar um estudo, ainda que em breves linhas, sobre a participação
popular sem nada discorrer acerca da democracia seria, minimamente, inviável.
Evidentemente não mais aquela democracia grega, que não seria sequer possível
de ser aplicada nos tempos atuais. A partir do século XVIII, com o Estado Democrático de
Direito, a relação de poder que justificava a atuação dos governantes foi modificada para
sempre: o poder deixou de ser incontestável, divino, absoluto ou herdado, para se tornar
um poder temporário, contestável e conferido pelo povo para ser utilizado sem benefício
do povo. Isso muda radicalmente toda a estrutura de poder dos Estados que adotaram a
democracia. Mas foi somente a partir do século XIX que o modelo democrático evoluiu
para se aproximar da forma de governo que conhecemos hoje, semidireta e com
instrumentos de participação do povo na atividade estatal.
Nesse tocante, assinala Perez (2004, p. 28) que “Desde então o governo
democrático vem sendo associado máxima quase enigmática de Lincoln do “governo do
povo, pelo povo e para o povo” e, mais especificamente aos princípios liberais de proteção
ao indivíduo e contra o abuso do poder estatal”.
Por isso mesmo, além dos mecanismos previstos no mencionado artigo 14, que
caracterizam a soberania popular, temos em todo o texto constitucional outras formas de
intervenção do povo na atuação estatal e, mais do que isso, consagradas muitas delas,
como direitos fundamentais. É o caso, por exemplo, do direito à informação, previsto no
artigo 5º, inciso XXXIII2, que assegura a todos, o direito a receber informações
particulares, de interesse geral ou de interesse coletivo, de qualquer órgão público.
1 Artigo 14 da Constituição Federal de 1988: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual a todos e, nos ternos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular”.
2 Artigo 5º, inciso XXXIII da Constituição Federal de 1988: ”todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
Para fins desse estudo a participação popular será divida em dois grandes
grupos: o primeiro grupo será nomeado de ‘Instrumentos de Controle e Fiscalização’ e o
segundo grupo será chamado de ‘Instrumentos de Participação’.
3Trata-se da lei de processos administrativos na esfera estadual que permite diversas formas de controle da atuação estatal,
sem a necessidade de ingresso em juízo, sem pagamento de custas e, em muitas das situações previstas naquela lei, sem o
acompanhamento e atuação de advogado. Os procedimentos acontecem na Procuradoria Geral do Estado e têm prazos
curtos para seu trâmite e decisão.
Diante de tudo o que foi apresentado, fica claro que a participação popular é
princípio que se coaduna perfeitamente ao conceito e aos objetivos da democracia
participativa, sendo que a utilização desses mecanismos pelos particulares pode conduzir
a resultados sociais extremamente mais vantajosos ao interesse público e adequados à
realidade social.
4 Art. 2º: “A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I-(...); II – gestão democrática por meio da participação da
população e de associações representativas dos vários seguimentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;(...)”
para compreender e atuar sob um modelo de gestão democrática, apesar de ser lógica e
vir de encontro com a democracia participativa, pode ser lenta e bastante dolorosa, pois
tanto agentes políticos quanto população precisam ainda aprender a trabalhar em
conjunto e a unir esforços para o atingimento de finalidades públicas. A gestão
democrática das cidades é decorrência natural da própria Constituição Federal, que
privilegia a participação popular, mas mesmo assim encontra grandes entraves práticos
em sua aplicabilidade.
Trata-se de excelente instrumento, que traz ganhos aos dois lados da sociedade:
administração pública e população, no momento em que possibilita a tomada de decisões
políticas com real conhecimento das necessidades sócias. A troca de informações
possibilitada pela audiência pública, aproximando administrados e administração
pública, revela a transparência da gestão pública e permite uma tomada de decisões mais
consciente, próxima da realidade social e condizente com os interesses públicos
(MENCIO, 2007).
6 Para Vanderlei Siraque os conselhos de políticas públicas podem também existir na modalidade meramente consultiva.
Mas aqui não será estudada essa modalidade, porquanto não guarda qualquer relação como tema proposto.
5. POLÍTICAS PÚBLICAS
No entender de Maria Paula Dallari Bucci, “as políticas públicas são instrumentos de ação
dos governos – government by policies que desenvolve e aprimora o government by Law.”
(BUCCI, 2006, p. 254).
Relativamente à eficácia das políticas públicas é importante que se diga que nem
sempre os resultados atingidos são aqueles pretendidos, demonstrando assim, uma falha
6. CONCLUSÃO
De tal sorte que, depois de tudo o que foi exposto, a conclusão única que se chega é no
sentido de que para o melhor atingimento das finalidades públicas, indispensável a
participação popular na elaboração, formulação e acompanhamento de execução das
políticas públicas.
Assim, não é demais afirmar e concluir que o resultado eficaz das políticas
públicas está diretamente relacionado com o grau de participação popular adotada na
gestão municipal. Quanto mais instrumentos de gestão democrática das cidades forem
utilizados, quanto maior for o campo de ação dos particulares na tomada de decisões
políticas, mais chance existe dessas decisões serem adequadas e eficazes aos interesses
públicos reais e às verdadeiras necessidades sociais.
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