Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA
ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO NO
PODER LOCAL
Lívia Copelli Copatti
DESCENT RALIZAÇÃO, PODER LOCAL E PART ICIPAÇÃO SOCIAL: PERSPECT IVAS PARA A CONS…
Daniela Arguilar Camargo
A gest ão democrát ica local: desafios e perspect ivas dos inst rument os deliberat ivos no Brasil
Cynt hia Juruena
A EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO NO PODER LOCAL
COPATTI, L. C.
sociedade, sob pena de se icar à beira de um É certo que, em face das grandes e cres-
retrocesso. Surge, assim, segundo Calmon de centes demandas sociais, o Estado atual não
Passos (1998, p. 92), a necessidade de consegue, sozinho, satisfazer a contento as
“pensar e implementar os instrumentos necessidades dos cidadãos sem a adesão
adequados, plasmar as novas instituições, políticocidadã, que deve ser construída em
enim deinir todo o necessário à consecução um meio comunicativo, numa esfera pública,
desse objetivo. E tudo aponta seja esse cami- voltada ao consenso e entendimento social
nho o da chamada democracia participativa”, pela participação dos atores sociais. Ocorre,
assim, a descentralização e o surgimento de
buscando a interação entre o econômico,
sujeitos de poder, não satisfeitos com a ine-
o político, sua formulação jurídica e possibi-
icácia dos poderes representativos estatais,
litando à sociedade, o seu poder de controle . criando para si a consciência do direito a ter
E, neste contexto, a idéia de cidadão passa direitos, buscando sua cidadania em cada
a ser apresentada não apenas como aquele momento (LEAL, 2006, p. 46).
que participa dos negócios da cidade, mas Veriica-se em Habermas, que
como aquele que interage com o meio em
que vive, que se interessa por um melhor [...] na linha da teoria do discurso, o
desenvolvimento, não apenas econômico, princípio da soberania do povo signiica
que todo o poder político é deduzido do
mas, principalmente, social.
poder comunicativo dos cidadãos. O
Importante questionamento feito atual- exercício do poder político orienta-se
mente é o destacado por Bonavides (2003, e se legitima pelas leis que os cidadãos
p. 26) quanto à identidade do povo, ou seja, criam para si mesmos numa formação
“quem é o povo, e onde está o povo, nessa da opinião e da vontade estruturada
forma de organização em que o ente político discursivamente. Quando se considera
é objeto e não sujeito, e se viu privado, pela essa prática como um processo destinado
extorsão política, da titularidade de suas a resolver problemas, descobre-se que
faculdades soberanas”? Tal indagação serve ela deve a sua força legitimadora a um
processo democrático destinado a garan-
para que se possa inserir a democracia partici-
tir um tratamento racional de questões
pativa na perspectiva do exercício da cidada-
políticas. (HABERMAS, 2003, p. 213)
nia e da soberania pelos cidadãos. O modelo
democrático de Estado em que o objetivo da O exercício da cidadania, de forma plena,
democracia é dar poder ao eleitorado para que através da democracia participativa, somen-
eleja seus representantes, não pode mais ser te poderá acontecer se o cidadão entender
tomado como absoluto, porque serve como que a “participação supõe compromisso,
um fomentador de desigualdades, acirra as envolvimento, presença em ações por vezes
competições eleitoreiras e faz com que o arriscadas e até temerárias” (DEMO, 1996,
povo abra mão da sua capacidade decisória, p. 19-20), onde é necessário deixar o como-
entregando-a para um governo, muitas vezes dismo de lado, superar a idéia de que é mais
desconectado da realidade. fácil receber as coisas prontas dos outros do
O exercício da soberania pela democra- que agir, devendo inteirar-se dos assuntos, de-
cia pressupõe participação do indivíduo no senvolvendo o capital social da comunidade
processo decisório político, fazendo “trans- e o empoderamento da mesma, inluenciando
cender a noção obscura, abstrata e irreal de decisões que são de seu interesse, porque com
povo nos sistemas representativos” (BONA- a participação, “os cidadãos tornam-se prota-
VIDES, 2003, p. 27). gonistas da sua própria história, deixam de ser
a formulação da medida, ao passo que o refe- à conclusão de que a aludida participação “se
rendo ratiica ou conirma um projeto de lei dá muito mais com o objetivo de legitimar
ou um ato administrativo que já foi aprovado. decisões dos órgãos governamentais, do que
A lei em estudo somente prevê referendo e para inserir a sociedade como sujeito ativo no
plebiscito de iniciativa parlamentar, mas não processo de deinição das políticas públicas”.
de iniciativa popular, não prevendo nem mes- (HERMANY, 2007, p. 186-187)
mo a possibilidade do referendo por iniciativa A insuiciência dos mecanismos consti-
do Presidente da República ou de iniciativa tucionais de participação popular, tendo em
popular. E isto acarretou a modiicação do vista o procedimento, as matérias e os requi-
artigo 49, inciso XV da Constituição Federal, sitos somente faz com que se busque sempre
uma vez que a competência para autorizar superar a cidadania passiva submissa ao po-
referendo e convocar plebiscito passou a ser der político e eleitoreiro, alcançando-se uma
exclusiva do Congresso Nacional, excluindo
cidadania consciente, organizada e ativa, que
portanto, o Presidente da República e a ini-
atue na construção de uma sociedade melhor,
ciativa popular (SILVA, 2007, p. 223).
com menos complexidades e desigualdades.
O art. 14, III da Constituição Federal
Em tal perspectiva, surge a necessidade de
prevê a iniciativa popular. Tal instrumento é
se construir uma estrutura estatal democráti-
aquele posto à disposição dos cidadãos, que
ca, que se formará através de mecanismos de
de forma conjunta podem iniciar um processo
democracia participativa, regular e efetiva,
de elaboração legislativa. Assim, segundo
“que se potencializa a partir de uma dimensão
Benevides (1991, p. 33) é “um processo de
local, na qual se pode construir um efetivo
participação complexo, desde a elaboração de
processo de formação democrática e legítima
um texto [...] até a votação de uma proposta,
passando pelas várias fases da campanha, co- das decisões públicas, sejam administrativas
leta de assinaturas e controle de constitucio- ou legislativas”. (HERMANY, 2007, p. 183)
nalidade”. A iniciativa popular possibilita aos A análise dos mecanismos constitucio-
cidadãos participar das atividades políticas do nais de participação dá margem para que se
Estado, buscando garantir a apresentação de estudem novas formas da mesma, que sejam
projetos de atos legislativos, reformadores voltadas para a realidade mais próxima das
das leis federais, estaduais e municipais por pessoas. E é este o objetivo do próximo ítem:
grupos de cidadãos. analisar o indivíduo como ator social, no seu
A participação, nos moldes constitucio- espaço local, dando uma ênfase maior para
nais, através dos três instrumentos antes o âmbito municipal de desenvolvimento da
referidos, deve possibilitar ao povo exercer participação cidadã.
o seu poder, de acordo com o previsto no art.
1º da Constituição. Tal situação, na maioria
das vezes, é ilusória. E isto ocorre porque não O poder local: o indivíduo como
se tem uma cidadania realmente livre, para ator social
exercer o poder que lhe foi conferido consti-
tucionalmente, mas sim uma cidadania que é A cidadania, conforme visto, está rela-
dependente dos poderes constituídos para que cionada com a democracia participativa,
possa se manifestar (plebiscito e referendo), e sendo que seu exercício acontecerá quando as
uma cidadania regulada, porque no momento condições para tanto forem favoráveis. Além
em que lhe é conferido o poder de manifestar- das previsões constitucionais de exercício,
se, lhe são limitadas as matérias, chegando-se novos instrumentos podem ser desenvolvidos
para uma mais eicaz e eiciente cidadania. cidadania” no espaço local? Os cidadãos
Neste contexto, as melhores condições de não se contentam mais em serem passivos,
desenvolver e exercer a cidadania ocorrem submissos; querem ter voz e vez, participar,
quando há a oportunidade de participação ver suas opiniões e desejos respeitados,
do cidadão, possibilitando a ele inteirar-se agindo de forma política e não politiqueira,
dos assuntos que lhe são próximos e que lhe dentro dos limites e possibilidades do Estado
dizem respeito diretamente. E isto ocorre Democrático de Direito.
através do poder local, com a participação Somente será possibilitado ao cidadão
dos cidadãos no seu meio local, não somente o desenvolvimento e exercício da sua ci-
como indivíduos que apenas vivem, mas sim, dadania quando as decisões forem tomadas
como atores sociais, que se interessam pela perto dele, porque estarão conectadas com as
sua realidade, que se engajam, interagem suas necessidades e com o que deseja para
para a paciicação social, o atendimento de o seu futuro, vinculada à descentralização
demandas e o desenvolvimento da sociedade. do poder político e econômico. (DOWBOR,
Na sociedade contemporânea, opiniões e 1999, p. 16)
escolhas das pessoas são tomadas geralmente A participação do cidadão no Estado ge-
por aquilo que elas vivem. A vivência dos ci- ralmente se resume na político-partidária ou
dadãos aumenta o seu poder de inluenciar as na sindical-representativa. Mas é necessário
decisões que são tomadas no espaço público. que se incentive e se formem cidadãos par-
E, com base no debate, na comunicação e nas ticipativos no âmbito local, organizando-se
deliberações dos cidadãos, é possível a ela- comunitariamente, agindo e interagindo no
boração dos juízos de valor destes e tomada seu município. E este processo participativo
de decisões pelo Poder Público. dos cidadãos no espaço local não se dá de
O papel da sociedade civil, segundo Oli- uma hora para outra. Ainda há desconiança
veira (2006) é “o de identiicar problemas, dos cidadãos quanto à sua participação,
captar demandas, dar voz a novos atores, se seu envolvimento será entendido pelas
experimentar, inovar, denunciar, reivindicar, autoridades de maneira séria quanto aos es-
propor, argumentar, persuadir e inluir”. É, cândalos envolvendo os “homens públicos”
também, assim que os atores sociais irão de- que deveriam ser exemplo de honestidade e
senvolver e exercitar sua cidadania. Aumenta probidade. O cidadão, também por este moti-
a cada dia a necessidade de cidadãos que se vo, se desmotiva em participar, por acreditar
preocupem com o local em que vivem e que que “a coisa não vai mudar”, ou porque “os
mais do que isso, façam algo para melhorar políticos são todos iguais, porque eu vou me
sua rua, seu bairro, seu município, para en- meter”.
tão pensar no global. Por isto, um cidadão A democracia é um processo e não re-
pensante, deliberativo serve para revitalizar sultado, estando por isso, em permanente
e valorizar a democracia, principalmente a conlito com as forças que desejam manter os
participativa. seus interesses acima dos interesses do bem
Os indivíduos tornam-se atores sociais comum, gerando acomodação da sociedade,
no espaço em que vivem. O espaço local por ausência de representatividade e descrédito
excelência é o município, sendo que bairros com os resultados (MAGALHÃES, 2006,
e quarteirões também o são. Dowbor (1999, p. 20). Assim, o processo de participação
p. 10) questiona “como é que o cidadão dos indivíduos no espaço local, como atores
recupera uma dimensão essencial da sua sociais capazes de transformar a realidade
é longo, deve ser conquistado, construído elaboração de decisões que terão relexos no
passo a passo, com articulação e convenci- seu próprio futuro.
mento dos cidadãos de que pode dar certo a Dentro do contexto do espaço local,
sua participação na deinição dos rumos da municípios, bairros e ruas possuem papel
sociedade, do seu meio, pelo espaço local. importante para o desenvolvimento efetivo
A idéia de poder local vincula-se, também, da cidadania pela participação e consolidação
à subsidiariedade. Baracho deine subsidia- da democracia participativa. Assim, a análise
riedade como princípio pelo qual as decisões de algumas ideias acerca do ente municipal
devem ser tomadas em um nível político mais assume relevo diante da proposta de concre-
baixo, ou seja, em um nível que esteja mais tização da cidadania.
próximo da execução das decisões. Assim,
vincula-se com a descentralização política
e administrativa (BARACHO, 1996, p .92). O município e a concretização da
Um Estado subsidiário insere-se entre um cidadania pela participação
Estado-providência e um Estado liberal
como uma posição intermediária, atendendo A importância que o Município tem para
às fraquezas individuais não circunstanciais desenvolver a cidadania no espaço local,
nem permanentes, onde existe uma sociedade é incontestável. A efetiva participação dos
plural, com um sentido mais amplo do que cidadãos no espaço local, na busca de um
a democracia porque visa à diversidade de consenso, tomada de decisões em prol do
opiniões e discussão, a atuação dos cidadãos bem comum, não pode desvincular-se da
para efetivar ins individuais e sociais (BA- Constituição Federal. A preocupação com a
RACHO, 1996, p. 88-89). vinculação da participação no espaço local
a um conteúdo mínimo constitucional para
O que o princípio de subsidiariedade
concretizar direitos sociais, se faz presente
apresenta é a possibilidade de equilibrar
nas palavras de Hermany, quando refere o
poder central e local no momento em que
seguinte:
seja possibilitada a formação do cidadão
municipal, com a repartição de competências Em vista disso, a simples autonomiza-
entre o Estado e a coletividade (BARACHO, ção do poder, se desvinculada de um
1996, p. 32). Isto quer dizer que o espaço conteúdo constitucional mínimo, pode
signiicar um retorno ao contexto do
local deve desenvolver-se com a participação
liberalismo clássico, em que as deci-
dos cidadãos, de modo que eles próprios pos-
sões públicas eram determinadas pelos
sam identiicar os problemas, deliberando, atores que conseguiam influenciar a
enim, ampliando os espaços de articulação vontade da população a partir de um
da sociedade na esfera local, possibilitando pseudo-interesse público. Dessa forma,
a cooperação entre Estado – notadamente o é imprescindível que, além da abertura
Município – e sociedade, para a consecução dos espaços decisórios para a sociedade,
do bem comum. haja instrumentos capazes de garantir a
Assim, o espaço local é o grande propul- observância dos limites constitucionais,
traduzidos especialmente nos direitos
sor do exercício da cidadania pelos cidadãos,
fundamentais. (HERMANY, 2007, p.
de modo que a participação destes se dará
254).
mais facilmente no âmbito local, pela pro-
ximidade de assuntos com suas vidas, pela As garantias constitucionais devem ser
necessidade que terão de envolver-se na respeitadas e mantidas. A participação do
povo no processo decisório não pode servir grupos que apenas querem mostrar o seu
de escudo para realizarem-se atos que sejam domínio sobre uma sociedade qualquer. Além
contrários à lei, contrários à Constituição e de formas conscientes, é preciso que haja
que violem as suas garantias. A efetivação da políticas de organização para que se possam
cidadania passa, necessariamente, pela noção reduzir os conlitos e as desigualdades que
de federalismo. A Constituição Federal de são sentidas principalmente em um âmbito
1988 restaurou a federação e a democracia, local. É, pois, o município quem pode “asse-
caracterizando-se por um federalismo cen- gurar que cada comunidade, cada bairro tenha
trífugo, que deve buscar a descentralização. o seu posto de saúde, a sua escola, o seu cine-
Assim, é importante compreender o federa- ma, os seus meios de transporte e segurança
lismo centrífugo na efetivação da democracia adequados” (DOWBOR, 1999, p. 62). Tudo
(MAGALHÃES, 2006), de modo que as isto faz com que a sociedade, através da sua
decisões possam ser descentralizadas para organização, possa pensar na garantia da sua
um âmbito menor, mais baixo, ou seja, para sobrevivência, motivando seus membros para
o âmbito municipal, conforme entendimento participarem democraticamente das decisões,
de Baracho, antes salientado, sobre a subsi- deixando de ser instrumento de manipulação
diariedade. e submissão a uns poucos.
É no Município que as pessoas se co- Quando exclusivamente realizado pelo
nhecem, que a sociedade pode articular-se, Estado, o planejamento tem uma tendência
estabelecer suas relações mais próximas a ser tecnocrático, sistêmico e impositivo,
voltadas para o interesse puramente local. É por isso a importância de ser participativo,
no espaço local que é mais fácil de encontrar formulando uma consciência crítica e au-
o consenso, e também por isso que Hermany tocrítica na comunidade, uma estratégia de
(2007, p. 261) refere que “o local adquire enfrentamento dos problemas e uma capaci-
importância signiicativa na ampliação dos dade de organização para poder inluenciar e
espaços de controle social, de concretização ter mudanças em prol da sociedade (DEMO,
do princípio constitucional da cidadania”. 1996, p. 42).
Através da concepção de o Município Educação como formação à cidadania,
ser o espaço local menor, no sentido de pos- no município, é uma das mais importantes e,
sibilitar o melhor contato entre os cidadãos pode-se dizer, mais difíceis tarefas. A educa-
e destes com o próprio Estado, é possível a ção presta-se ao desenvolvimento do país, à
organização e sistematização das potenciali- socialização, à melhora de condições prois-
dades locais. Pedro Demo elenca cinco canais sionais. Para Demo, a função da educação é
de participação que podem ser aplicadas no “de ordem política, como condição à partici-
âmbito local, quais sejam: organização da pação, como incubadora da cidadania, como
sociedade civil, planejamento participativo, processo formativo. Se um país cresce sem
educação como formação à cidadania, cultura educação, não se desenvolve sem educação.
como processo de identiicação comunitária Este efeito qualitativo, que é da ordem dos
e processo de conquista de direitos (DEMO, ins na sociedade, perfaz o cerne do fenômeno
1996, 26). educativo” (DEMO, 1996, p. 52).
A organização da sociedade reporta-se à No entendimento de Demo, a cultura
capacidade de assumir formas conscientes, como um processo de identiicação comu-
para ter conhecimento de quais são os seus nitária é humano, e social. Para que haja
reais interesses, e não apenas interesses de projeto de vida social comum, é necessário
industrializado, outro pode ter mais atrativos também para ele, mas sobretudo e ca-
culturais, em outro predomina a área residen- racteristicamente o cidadão organizado.
cial. A divisão de um município em bairros Assim, é a cidadania organizada que
não quer dizer que seja um retorno ao indivi- funda a legitimidade de todos os pro-
dualismo e à competição entre os bairros, mas cessos participativos. Dela se parte e
a ela se retorna. Não nasce na cúpula a
sim, um incentivo à organização social e um
legitimidade, pois é apenas delegação.
melhor relacionamento com a Administração
Cidadão é sujeito de direitos, não objeto
Pública e entre os próprios moradores. de espoliação. (DEMO, 1996, p. 120)
A autonomia que os bairros possuem gera,
em seus moradores, um maior interesse na Assim, a união de um grupo de mora-
sua proteção e busca de benefícios para o dores, sob a forma de uma associação toma
ambiente local. A criação de uma associação contornos importantes, principalmente face
de moradores do bairro é o primeiro passo às diiculdades atuais, sejam sociais, econô-
para que este possa se organizar, veriicar micas, políticas ou ambientais, de modo que a
suas prioridades e assim, buscar alternativas articulação dos cidadãos os torna capazes de
para o atendimento das prioridades. preocuparem-se com o futuro em um sentido
coletivo, sempre buscando a melhoria da
Uma associação de bairro tem melhores
condição de vida de todos, exercendo, então,
condições de fazer com que os cidadãos par-
sua cidadania.
ticipem da decisão dos rumos do seu bairro
dentro do contexto do município, melhores
condições de detectar as necessidades mais Outras previsões
urgentes, de veriicar quais as prioridades. E
não é somente isto, através da associação, o
Para o desenvolvimento da cidadania ati-
desenvolvimento do bem-estar da comuni-
va e participativa, outros instrumentos estão
dade, a promoção da assistência social, da
previstos no ordenamento jurídico nacional,
saúde, educação entre outros assuntos perti-
notadamente no Estatuto da Cidade, quando
nentes se torna mais eiciente e eicaz, uma
no art. 40 prevê as audiências públicas e
vez que, os cidadãos podem organizar-se para
debates com a participação da população
reivindicar e também, podem colaborar para e associações para a elaboração do plano
que não ique somente nas mãos do Poder diretor e iscalização da sua implementação
Público a realização de tais prioridades. no Município. Na Lei de Responsabilidade
É importante que uma associação de mo- Fiscal (art. 48), na Lei de Licitações (art.
radores tenha membros, pessoas compromis- 39), na Resoluções 001 (art. 2º) e 009 do
sadas e conscientes e não meros associados, Conselho Nacional do Meio Ambiente e na
porque estes pressupõem uma relação mais Constituição Federal entre outros diplomas
liberal, com maior pertencimento, porque legais também são previstas as audiências
como diz Demo: públicas. Também os Conselhos Municipais
A legitimidade se nutre na defesa da são instrumentos de participação dos cida-
igualdade de oportunidades, pelo menos dãos, como por exemplo, Conselho Munici-
diante da lei. Neste sentido, ser membro pal dos Direitos da Criança e Adolescente.
de uma associação signiica ser genui- Ainda, a título de participação regional dos
namente cidadão. O ator substancial de cidadãos são os chamados Conselhos Regio-
processos participativos é o cidadão, nais de Desenvolvimento do Rio Grande do
menos o individual, embora haja lugar Sul – COREDES – que têm como objetivos
formular e executar estratégias regionais, de que é preciso agir, participar, ser cidadão
consolidando-as em planos de desenvolvi- de verdade, ter coragem e vontade de mudar
mento regional, possibilitando a participação para melhor a sociedade.
social e cidadã (CONSELHO REGIONAL Os instrumentos constitucionais para
DE DESENVOLVIMENTO, 2009). A esco- exercício da cidadania – plebiscito, referendo
lha das prioridades da região se faz através da e iniciativa popular – são importantes, mas
Consulta Popular (RIO GRANDE DO SUL, não suicientes para que a cidadania seja
2010), onde os cidadãos votam e escolhem realmente ativa, porque a vinculação de tais
quais são as necessidades que precisam de mecanismos a uma democracia semidireta,
maior atenção do governo. Portanto, com requisitos ou preestabelecidos ou na
são diversos os instrumentos de participação maioria das vezes, quase impossíveis de
direta do cidadão, do exercício da sua cida-
cumprir, os torna insuicientes, urgindo se-
dania ativa; os acima listados, são os mais
jam buscadas novas formas de participação
conhecidos e, talvez, mais utilizados e efeti-
cidadã, de interação entre Estado e sociedade.
vos, nada impedindo que novos mecanismos
de participação no espaço local sejam criados É preciso tomar consciência de que o
e implementados. indivíduo deve passar a ser cidadão, alguém
interessado no seu espaço local. O exercício
da cidadania é muito mais fácil e possível em
Conclusão um espaço mais próximo dos cidadãos, onde
estes poderão deliberar, entender, interagir
O Estado, ao longo das décadas, vem uns com os outros. É pelo poder local no Mu-
passando por constantes modiicações. Ele, nicípio que o cidadão tem mais condições de
por si só, não tem condições de suprir as participar na tomada de decisões, na deinição
demandas originadas no meio social. Esta dos rumos do espaço comunitário e social,
insuiciência fez com que novas formas de que poderá veriicar e buscar a solução para
democracia fossem sendo criadas e implanta- as necessidades da sua comunidade.
das para que se pudesse atender às demandas Para corroborar a idéia de que a cida-
da sociedade com os rumos e prioridades dania ativa melhor será exercitada em um
deinidas por ela própria e, implementando-se âmbito participativo local, foram elencados
inclusive a descentralização estatal, que é um alguns instrumentos, cada um com suas
dos fatores mais importantes para o exercício características, seja na visão mais voltada
da cidadania. para o suprimento das necessidades apenas
Na atualidade, são conhecidas três formas pela Administração Pública – Orçamento
de democracia: direta, indireta ou representa- Participativo –, seja naquela que conta com
tiva e participativa. É por esta última que os a participação do capital social, com a popu-
cidadãos terão a possibilidade de exercer sua lação agindo em comunhão de esforços com
cidadania de forma plena. Assim, veriicou-se o Poder Público para atender às demandas –
que a cidadania pode ser efetivada através da Governança Solidária Local – ou, também,
democracia participativa, onde a participação através das Associações de Moradores dos
dos cidadãos no governo deve ser constante, Bairros, numa visão mais localista ainda,
sendo possibilitada através de uma quebra onde a união dos moradores será benéica
de paradigmas estatais e da população, de para toda a comunidade do Bairro, podendo-
modo que o Estado permita a abertura de um se referir ainda as previsões na Constituição
espaço para o povo e que este se conscientize Federal e em leis esparsas.
AUTOR
Lívia Copelli Copatti - Graduada em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – URI Campus Erechim. Mestranda em Direito pela Universidade de
Santa Cruz do Sul, com ênfase na linha de pesquisa em Políticas Públicas de Inclusão Social.
Membro do Grupo de Pesquisa Poder Local e Inclusão Social e do Grupo de Pesquisas Direito,
Cidadania, Políticas Públicas. Advogada. E-mail: livia_dto@yahoo.com.br
REFERÊNCIAS