Você está na página 1de 1

KOTHE, Flávio R. A Alegoria. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1986.

p. 6 – A alegoria é geralmente vista como figura de linguagem, portanto como parte da retórica. Mas seu
meio de representação não precisa ser, necessariamente, a linguagem verbal. Pode ser também, por
exemplo, a pintura ou a escultura. A alegoria costuma ser entendida como uma representação concreta
de uma ideia abstrata.

p.7 […] o que nessa figura [a imagem da estátua da Justiça] se mostra é que cada um dos elementos
alegóricos quer dizer alguma outra coisa além dele próprio e não aquilo que à primeira vista parece. Mas,
ao mesmo tempo, há uma relação entre o que aí aparece e o seu significado subjacente. Alegoria
significa, literalmente, “dizer o outro”.

p.14 Não só através de assertivas explícitas de personagens ou versos, mas especialmente do recorte que
faz do mundo e do modo de enfoca-lo em sua estruturação mais profunda, toda obra de arte realiza um
gesto semântico. Ela é uma sinédoque do mundo, uma parte que está pelo todo; mas, sendo uma parte
em que o todo se concentra, não é propriamente uma “parte”, assim como o “todo” (do qual ela seria
“parte”) não pode ser captado nunca em sua plenitude (não permitido, portanto, que se fale
propriamente em “todo”).
[…] a obra de arte procura dizer o real (ainda que subjetivo), como o real procura se dizer através da obra:
cada uma diz o seu outro e se diz no outro (como faz todo elemento alegórico).
[…] Entre o que ela nos diz “em relação” à realidade (sendo de fato, porém, parte sinedóquica da
realidade) e a “própria” realidade (que jamais, para nós, é em si), há uma proximidade e uma similitude
muito maiores com o processo de significação alegórica do que parece à primeira vista. E é exatamente
isso que, afinal, precisa ser examinado.

Você também pode gostar