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O relato de vida em estado bruto (conjunto de transcrições) formam – como disse Legrand
– um “magma”. Dar sentido aos dados biográficos recolhidos (entrevistas, informes biográficos,
notas de campo, outros documentos pessoais) pode ser uma tarefa intelectual frustrante, se não
se tem algum tipo de marco teórico e propostas metodológicas para revolvê-lo. Como dizíamos em
outro lugar, trabalhar com biografias pode levar como a aquele funcionário de registro civil do
romance (todos os nomes) de José Saramago que, ao tentar reconstruí-las, nos leva a querer
refazer o caos do mundo.
O problema é como analisar esse magma, com algum tipo de análise formalizada de dados
qualitativos ou análise narrativa, de modo que se possa organizar uma sequência coerente, a partir
de umas categorias temáticas, em um eixo de coordenadas temporal ou temático. É tarefa do
biógrafo unir – do acúmulo de experiências narradas e registradas – um quadro polifônico com
sentido, em lugar de uma cacofonia de discursos fragmentados e dissonantes. Assim, o tempo
subjetivo do narrador deve ser reconstruído pelo biógrafo em um tempo “objetivo”. Como comenta
Huberman sobre sus investigação de fases na carreira docente:
dados como exceção os que enlouquecem aos especialistas em ciência social.
Ambiguidade, contradição, ambivalência são obstáculos para a medição, a análise e a
interpretação; e é lógico que sejam...; [porque eles requerem] formas de representação expressivas
(como as narrativas, realistas ou de ficção) para poder ser capturadas sem grande distorção... Se
poderia dizer que é mais fácil analisá-las em sua própria mistura, com métodos mais
fenomenológicos.
Se o objeto da análise biográfica é abarcar a vida total de um indivíduo/grupo, se deve recriar
o conjunto de experiências biográficas de uma pessoa, diferenciando o relevante do acessório. A
análise não consiste tento acumular, mas em ir “podando” muitos dos dados que se vão
acumulando. Em uma boa analogia dizia Harry Wolcott:
Isto supõe não deixar de soprar, para separar o joio do trigo. O truque consiste em descobrir
o essencial para revelá-lo depois em um contexto suficiente, mas sem chegar a se estrepar
pretendendo incluir tudo aquilo que se poderia descrever. As possibilidades das fitas, vídeos, e hoje
dos ordenadores, nos obrigam a fazer preciosamente o contrário; têm o apetite e o estômago de
Gargântua. Dada a possibilidade que temos de armazenar quantidades sempre crescentes de
dados – montanhas de dados –, devemos ter cuidado de não nos vermos sepultados por
avalanches de nossos mesmos acumulados.
Tipo de Análise narrativa
• TABELA
O modo de leitura holístico do conteúdo (H-C) emprega a história de vida completa de
um indivíduo e se centra no conteúdo que apresenta, analisando o significado de cada parte
à luz do que emerge do resto da narrativa o no contexto da totalidade do relato. A Análise
histórica da forma (H-F) encontra sua melhor expressão na busca da trama ou estrutura
global de uma história de vida; por exemplo a progressão, declive ou estabilidade de uma
trajetória deslocada da trama do relato. Para este tipo de análise se recorre à teoria
linguística e crítica literária (teoria ou gramática do texto, análise estrutural do relato etc.).
O enfoque categórico do conteúdo (C-C) é normalmente familiar por conta de sua
habitual “análise de conteúdo”. Fragmentos do relato são nas correspondentes
categorias/grupos de análise. Esse tipo de análise, como assinalaremos depois, é
dependente, apesar de suas reformulações, das primeiras análises de material qualitativo.
Pelo contrário, o modo categórico da forma (C-F) se centra em características linguísticas
ou estilísticas discretas – ao nível micro – de unidades definidas da narrativa. Se a análise
temática do conteúdo (tipo de categorias) reduz a sequência narrativa (sintagmático) a
núcleos temáticos separados (semântico), desaparecendo a dimensão temporal da
narrativa, deve complementar-se paralelamente com análises (holísticas ou categoriais) da forma.
Cada um desses modos de análise podem ser mais pertinentes segundo os tipos de questão
de investigação, requerem diferentes tipos de textos, e são mais apropriados ou não, segundo seja
uma só história de vida ou várias cruzadas. Em qualquer caso, sem desdenhar das análises
categóricas, optamos como preferenciais, em uma investigação narrativa, por análises holísticas.
Como disse Dominicé:
O enfoque biográfico introduz uma dimensão literária no campo científico. A palavra
registrada merece outra atenção que a simples redução a umas categorias de análise. O texto
reclama frequentemente ser citado tal e qual para que seu sentido seja legitimamente restituído.
(…) Uma análise dos relatos que apoie sobre um método de redução ou de classificação da
informação obtida não é satisfatório.