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A análise narrativa

O relato de vida em estado bruto (conjunto de transcrições) formam – como disse Legrand
– um “magma”. Dar sentido aos dados biográficos recolhidos (entrevistas, informes biográficos,
notas de campo, outros documentos pessoais) pode ser uma tarefa intelectual frustrante, se não
se tem algum tipo de marco teórico e propostas metodológicas para revolvê-lo. Como dizíamos em
outro lugar, trabalhar com biografias pode levar como a aquele funcionário de registro civil do
romance (todos os nomes) de José Saramago que, ao tentar reconstruí-las, nos leva a querer
refazer o caos do mundo.
O problema é como analisar esse magma, com algum tipo de análise formalizada de dados
qualitativos ou análise narrativa, de modo que se possa organizar uma sequência coerente, a partir
de umas categorias temáticas, em um eixo de coordenadas temporal ou temático. É tarefa do
biógrafo unir – do acúmulo de experiências narradas e registradas – um quadro polifônico com
sentido, em lugar de uma cacofonia de discursos fragmentados e dissonantes. Assim, o tempo
subjetivo do narrador deve ser reconstruído pelo biógrafo em um tempo “objetivo”. Como comenta
Huberman sobre sus investigação de fases na carreira docente:
dados como exceção os que enlouquecem aos especialistas em ciência social.
Ambiguidade, contradição, ambivalência são obstáculos para a medição, a análise e a
interpretação; e é lógico que sejam...; [porque eles requerem] formas de representação expressivas
(como as narrativas, realistas ou de ficção) para poder ser capturadas sem grande distorção... Se
poderia dizer que é mais fácil analisá-las em sua própria mistura, com métodos mais
fenomenológicos.
Se o objeto da análise biográfica é abarcar a vida total de um indivíduo/grupo, se deve recriar
o conjunto de experiências biográficas de uma pessoa, diferenciando o relevante do acessório. A
análise não consiste tento acumular, mas em ir “podando” muitos dos dados que se vão
acumulando. Em uma boa analogia dizia Harry Wolcott:
Isto supõe não deixar de soprar, para separar o joio do trigo. O truque consiste em descobrir
o essencial para revelá-lo depois em um contexto suficiente, mas sem chegar a se estrepar
pretendendo incluir tudo aquilo que se poderia descrever. As possibilidades das fitas, vídeos, e hoje
dos ordenadores, nos obrigam a fazer preciosamente o contrário; têm o apetite e o estômago de
Gargântua. Dada a possibilidade que temos de armazenar quantidades sempre crescentes de
dados – montanhas de dados –, devemos ter cuidado de não nos vermos sepultados por
avalanches de nossos mesmos acumulados.
Tipo de Análise narrativa

Lieblich et al. propõem um modelo para classificar e organizar os tipos de análise


narrativa, segundo grandes dimensões de conteúdo vs. forma, e holístico vs. categórico). A
dimensão holístico/categórica se refere à unidade de análise: o texto como um todo, ou
unidades temáticas ou categorias retiradas do texto. Na análise tradicional do conteúdo, por
exemplo, o relato é dividido minuciosamente em unidades categóricas extraídas do texto.
Por outro lado, os analistas holísticos tomam a história de vida de uma pessoa como um
todo, sendo cada parte interpretada em função das restantes. O categórico se utiliza quando
se analisam várias ou muitas narrativas, na medida me que permite compará-las entre si. O
holístico é preferível quando se trata de analisar a história de vida de uma pessoa
independente.
A segunda dimensão (conteúdo/forma) alude à dicotomia habitual estabelecida em
análise literária de textos. Assim se pode se concentrar no conteúdo: no que se sucedeu,
por quê, pessoas que intervieram etc.; ou inclusive no conteúdo implícito. Pelo contrário,
como como tem sido revalorizada a análise estruturalista, cabe concentrar-se na forma:
estrutura da narração, partes do discurso, sequência de eventos, relação temporal,
coerência etc.
Interseccionando as duas dimensões daria uma matriz de quatro modos de
ler/analisar a narrativa.

• TABELA
O modo de leitura holístico do conteúdo (H-C) emprega a história de vida completa de
um indivíduo e se centra no conteúdo que apresenta, analisando o significado de cada parte
à luz do que emerge do resto da narrativa o no contexto da totalidade do relato. A Análise
histórica da forma (H-F) encontra sua melhor expressão na busca da trama ou estrutura
global de uma história de vida; por exemplo a progressão, declive ou estabilidade de uma
trajetória deslocada da trama do relato. Para este tipo de análise se recorre à teoria
linguística e crítica literária (teoria ou gramática do texto, análise estrutural do relato etc.).
O enfoque categórico do conteúdo (C-C) é normalmente familiar por conta de sua
habitual “análise de conteúdo”. Fragmentos do relato são nas correspondentes
categorias/grupos de análise. Esse tipo de análise, como assinalaremos depois, é
dependente, apesar de suas reformulações, das primeiras análises de material qualitativo.
Pelo contrário, o modo categórico da forma (C-F) se centra em características linguísticas
ou estilísticas discretas – ao nível micro – de unidades definidas da narrativa. Se a análise
temática do conteúdo (tipo de categorias) reduz a sequência narrativa (sintagmático) a
núcleos temáticos separados (semântico), desaparecendo a dimensão temporal da
narrativa, deve complementar-se paralelamente com análises (holísticas ou categoriais) da forma.
Cada um desses modos de análise podem ser mais pertinentes segundo os tipos de questão
de investigação, requerem diferentes tipos de textos, e são mais apropriados ou não, segundo seja
uma só história de vida ou várias cruzadas. Em qualquer caso, sem desdenhar das análises
categóricas, optamos como preferenciais, em uma investigação narrativa, por análises holísticas.
Como disse Dominicé:
O enfoque biográfico introduz uma dimensão literária no campo científico. A palavra
registrada merece outra atenção que a simples redução a umas categorias de análise. O texto
reclama frequentemente ser citado tal e qual para que seu sentido seja legitimamente restituído.
(…) Uma análise dos relatos que apoie sobre um método de redução ou de classificação da
informação obtida não é satisfatório.

• Como analisar as entrevistas biográficas?


Apesar da extensa biografia e multidão de propostas de coleta e – sobretudo – de análise
de dados, como veremos, é preciso reconhecer que arrastamos um grave déficit metodológico
sobre como analisar as entrevistas biográficas, que são discurso narrativo. Duas obras recentes,
do contexto francês, nos podem servir como exemplo. Em Como analisar as entrevistas biográfica,
Demazière e Dubar, fazem uma bem fundamentada crítica dos métodos convencionais de análise,
quando chegam a propor como alternativa a análise estrutural de relatos, tipo Barthes, não nos
parece uma saída definitiva. Por sua parte Pierre Bourdieu em sua extensa obra sobre a miséria
do mundo, aparte as lúcidas análises a que estamos acostumados, recolhe – como havíamos
assinalado – as entrevistas, tal e qual, devidamente transcritas, ordenadas e tituladas. O argumento
principal é “das os meios para compreender, isto é, tomar as palavras das pessoas como são”,
renunciando a qualquer trabalho de análise (categorial ou não) sobre o texto mesmo. Deste modo
pretende conciliar dois objetivos não facilmente conciliáveis: a maior fidelidade possível às vozes
das pessoas, e fazê-lo de maneira que sejam legíveis, o que impede uma mera transcrição fonética.
Dumazière e Dubar rechaçam como insuficientes tanto uma postura ilustrativa que se limita
a fazer um uso seletivo das palavras dos entrevistados a serviço do que quer mostrar o investigador,
como uma postura hiperrealista que trata de dar todo o valor às próprias palavras dos entrevistados,
como se as palavras fossem por si mesmas transparentes. Em seu lugar defendem um modo
analítico de abordar as entrevistas, com uma teoria gerada da análise dos dados, e decidindo-se
por uma análise estrutural dos relatos biográficos. Nesse sentido pensam que as diferentes técnicas
de análise de conteúdo são inadequadas para analisar as entrevistas biográficas. Na primeira parte
de sua obra, Dubar e Demazière fazem uma boa crítica para as metodologias mais ascendidas.
[1] Postura “ilustrativa”
Em função de hipóteses e marcos prévios, se extraem ad hoc (isto é, descontextualizados)
pedaços ou parágrafos que permitem exemplificar, concretizar ou ilustrar o que já, previamente, se
pretende demonstrar. Se faz um uso seletivo das palavras das pessoas com uma finalidade
ilustrativa: afirmações diversas são exemplificadas, para apoiar afirmações do investigador,
por citações tiradas de entrevistas e atribuídas a tal ou qual pesquisa.
Em uma primeira variante desse procedimento, se comentam extratos das
entrevistas, parafraseando-os, segundo uma bricolagem que cada investigador confecciona.
A citação não porta nada, somente referenda o que se quer dizer, pretendendo um vago
fundamento empírico ou efeito de verdade. A palavra dos sujeitos é reduzida ao status de
anedota que ornamenta os comentários do investigador. Por isso, se faz necessário escolher
– inclusive entrecortando – as passagens que melhor provem ilustrem ou convençam. Em
uma segunda variante, o uso da citação está orientado para a confirmação de uma hipótese.
A afirmação contida em uma citação quer confirmar o que se pretende. Ilustrar é querer
verificar, sem ter podido respeitar as regras metodológicas da análise empírica da
causalidade.
As entrevistas se retraduzem em um sistema de categorias (explícitas ou implícitas)
elaborado anteriormente. Se faz, então, um uso instrumental, depreciando parte da riqueza
do próprio material, em função do que se determinou previamente. A linguagem dos
entrevistados se subordina ao poder do investigador, que a pode manipular como desejar
para seus próprios fins. Como comentam Demaziere e Dubar, há aqui uma concepção de
linguagem subjacente caracterizada porque a palavra intercambiada na situação de uma
entrevista não tem consistência própria, é informativa e constitui um conjunto de afirmações
que podem ser selecionadas pelo investigador sobre a base de suas hipóteses teóricas. Esta
palavra adquire sentido quando for integrada em uma teoria exterior ao próprio texto. A
expressão da subjetividade é um elemento do qual se deve prescindir.

[2] Postura “restitutiva” ou hiperempirista


Pelo contrário, neste caso, para não “trair” a palavra dos sujeitos, se contenta com
restituir simplesmente as entrevistas em sua retranscrição literal, reduzindo os comentários
ao mínimo. As palavras dos entrevistados são recolhidas em extenso, em uma espécie de
hiperempirismo frente ao procedimento anterior. Se supõe, neste caso, que a palavra e
discurso é expressão transparente de suas práticas, “fala por si mesma”, e a tarefa da
investigação narrativa é restabelecer o discurso recolhido em um texto. O sentido é acessível
diretamente, basta ler para compreender.
Cabem duas formas “restituir” o discurso. Uma primeira, de acordo com a
etnometodologia, em oposição a tendências anteriores, propõe restituir as palavras que os
membros de um grupo no curso de suas ações. Recolher e voltar a situar as contas obtidas no
trabalho de campo é o principal trabalho do investigador. Uma segunda, muito presente nos relatos
de vida e entrevistas biográficas, como faz Bourdieu, com comentários externos sobre o contexto
ou sobre como compreendê-las. Deste modo, a publicação de uma amplo corpus de entrevistas
formam o grosso da investigação. O próprio leitor deve realizar o trabalho de análise.
Em qualquer caso, ao colocar os títulos e subtítulos, ordenar, transcrever e selecionar, já se
está analisando. As entrevistas não falam por elas mesmas; se se quer compreender, é preciso
que o investigador as retraduza e analise, porque não deve se limitar a ser portador da palavra de
uma pessoa ou grupo. O assunto é como se faz, de momo que se introduzem “categorias”
suficientemente ricas, que – como analisadores – permitam entrar na lógica interna do modo como
o entrevistado categoriza sua vida ou o mundo. Em seu lugar, apostam nessa terceira posição:

[3] Postura analítica e desconstrução do sentido


Dubar e Dumaziere pensam que não basta ilustrar com citações descontextualizadas teorias
prévias, nem tampouco restituir as entrevistas transcritas, deixando que o leitor tire suas
conclusões. Uma postura analítica busca produzir, de modo metódico, sentido a partir da
exploração das entrevistas de investigação. Propõem três princípios:
1. uma entrevista não é só uma simples fonte de dados do mundo ou das pessoas, são fatos
de linguagem, isto é, colocação em palavras do mundo social, e assim deve ser vistas e analisadas.
Portanto, se planeja como podemos aprender de um certo tipo de discurso e de suas lógicas
internas de constituição, sem crer que os fatos podem ser aprendidos de modo transparente. As
entrevistas (e seu texto transcrito) são fenômenos discursivos, e devem ser tratados como tais. É
analisando o uso que se faz da linguagem pelo entrevistado que podemos estabelecer os sentidos
possíveis do que ele diz.
Não obstante, sobrevalorizar este ângulo tem o perigo de centrar-se no universo de sentido
dos indivíduos, desdenhando seu “universo de vida”. Se, com efeito, se deve fazer uma análise do
discurso, também a análise temática deve ocupar seu lugar.
2. Estas boas categorias não devem ser pressupostas, mas geradas por passos em um
longo processo de análise, de comparação e tipificação. Se pode seguir a “teoria fundamentada”
de Glaser e Strauss, um um processo indutivo, que permita uma teorização progressiva a partir dos
materiais empíricos.
3. O assunto é como fazer essa indução, extraindo as categorias de análise a partir dos
dados das entrevistas, de modo que deem conta do sentido que os entrevistados atribuem
subjetivamente a suas práticas. Dubar e Demaziere, não obstante, que as propostas de Glaser e
Strauss permanecem um tanto curtas; posto que tirar o sentido a partir dos fatos da linguagem
supõe uns meios metodológicos mais fortes que a categorização, para o que propõem buscar
apoios na semântica estrutural, tal como tem sido desenvolvida na França por Barthes e
Gremias nos anos sessenta e setenta.
Dubar e Demaziere decidem reativar e aplicar esta teoria linguística, o que exige –
por um lado – um forte trabalho de formalização dos textos, e – de outro – uma atenção
privilegiada às oposições, diferenças relacionais, conjunções etc., para descobrir o sentido
do código narrativo implícito. Isto supõe uma certa contradição, pois se bem dizem defender
um enfoque indutivo forte, não o é tanto quanto se recorre de antemão a uma teoria como a
semântica estrutural. Ademais, colocar em marcha uns dispositivos analíticos tão
complexos, da lugar – contra o que se pretendia – a uma excessiva formalização. Os bons
princípios teóricos têm, então, graves dificuldades para traduzirem-se em procedimentos
metodológicos de análise coerentes.

• O problema de analisar narrativas biográficas


O assunto então é, como foi mostrado no debate anterior, se uma análise formalista,
ao modo paradigmático, fragmenta e descontextualiza o discurso dos professores mediante
elementos codificáveis, e ele deve ser criptografado para representá-lo sem o expropriar.
Mas uma “fidelidade” externa ao próprio discurso, limitaria a análise a proporcionar outra
narrativa da informação recolhida, só que agora o discurso se encontra enroscado. Por isso,
se não queremos deixar as coisas como estão, como diz Goodson, os relatos dos
professores (narrativas de ação) requerem uma “genealogia do contexto”. As relações entre
quem informa e analisa a informação não podem se limitar a “tomar nota”. A tarefa é, por
uma parte, decifrar significativamente os componentes e dimensões relevantes das vidas do
sujeitos, e – por outra – situar os relatos narrativos em um contexto que contribua a prover
uma estrutura em que tome um sentido mais amplo. Para que os relatos sejam relevantes a
propósitos de investigação, devem ser reconstruídos de acordo com determinados modos
paradigmáticos aceitos para analisar a informação.
Não obstante, é evidente, está surgindo um rechaço à tendência crescente na
investigação narrativa de “recortar” as vozes dos professores e professoras “registrados”,
segundo o gosto do investigador, manipulando o discurso originário. O assunto se coloca de
modo a lograr um equilíbrio entre uma interpretação que não se limite – desde dentro – aos
discursos dos entrevistados, nem tampouco uma interpretação – desde fora – que prescinda
das matizes e modulações do discurso narrado. Entre um extremo e outro, parece que o
propósito, como diz Geetz sobre a etnografia, deva ser a “descrição do mundo no que
adquire sentido, seja este como for” ou criar “um contexto dentro do qual podem descrever-
se todos esses fenômenos de maneira inteligível, isto é, densa”. Superar a mera “colagem”
de fragmentos de textos mesclados ad hoc, implica que o investigador deve penetrar no
complexo conjunto de símbolos que a gente usa para conferir significado a seu modo e vida,
logrando uma descrição rica o suficiente da qual se obtém o sentido.
Recorrendo à metáfora da paisagem, Bruner dizia: “o relato deve construir duas paisagens
simultaneamente”: a paisagem exterior da ação e a paisagem interior do pensamento e das
intenções. Nos encontraríamos, então, havendo um duplo discurso: enunciados de fatos ou
acontecimentos, e o que pensa/sente ante eles. Se evoca o passado junto a um juízo sobre sua
vida e presente, o que suscita a antecipação de futuros possíveis. Em relação com a primeira
passagem, ao longo das entrevistas e narrações biográficas se fazem contínuas referências a
acontecimentos externos em relação aos quais se vai inscrevendo avida. Além dessa função
referencial (descreve o estado de como são as coisas), há uma função modal (o que se pensa
delas), e inclusive uma função de ato (alterar o estado do ouvinte). Se o primeiro tipo de discurso,
com função referencial, pode ser categorizado; o segundo, mais modal, não se deixa capturar com
categorias temáticas.
Margaret LeCompte falou do problema de ter que praticar uma “dupla descrição”, uma visão
binocular, na investigação narrativa. Por uma parte se necessita um retrato da realidade interna do
informante; por outra, se tem que inscrever um um contexto externo que dê significado e sentido à
realidade vivida pelo informante. Deve se situar as experiências narrativas no discurso dentro de
um conjunto de regularidades e pautas explicáveis sociohistoricamente, pensando que o relato de
vida responde a uma realidade socialmente construída, no entanto, não se pode desdenhar que é
completamente única e singular. Emfim, estamos ante o dilema, já referido, de conjugar um ponto
de vista narrativo (emic) e do investigador (etic). Em muitas ocasiões os papéis do cognoscente e
conhecido trocam ou, melhor, deixam de diferenciar-se para conjuntar-se, rompendo com o que
tem sido um princípio intocável da objetividade cognoscitiva.

• Umas propostas metodológicas


Dando uma prioridade às palavras das pessoas, parece que uma “teoria fundamentada” nos
discursos recolhidos, em seus últimos desenvolvimentos, é um caminho a perseguir. Frente a
metodologias de tipo hipotético-dedutivo que buscam confrontar teorias prévias com os dados
empírico de modo ilustrativo, a Teoria fundamentada é um enfoque indutivo, dirigido a gerar (não a
descobrir) teoria a partir dos dados no próprio curso da investigação. É uma metodologia geral para
desenvolver uma teoria que seja derivada ou fundamentada em dados obtidos e analisados
sistematicamente. A “teoria” é entendida aqui como um conjunto determinado de conceitos
relacionados, que constituem um marco integrado para explicar fenômenos.
Parte-se dos materiais recolhidos, que são microanaliticamente (linha por linha) trabalhados
para gerar as categoriais dos dados. Determinados dispositivos e técnicas permitem realizar o
processo de codificação, integrando os em categoriais que relacionem a estrutura (fenômenos ou
fatos) com o processo (sequências de ações). As relações estabelecidas em matrizes e as
comparações permitirão que a teoria seja gerada dos dados. Teorizar a partir dos dados,
posto que não falam por si mesmos, é fazer investigação social são duas partes de um
mesmo processo. As interpretações devem incluir as perspectivas e vozes das pessoas que
são o objeto de estudo.
Na investigação de Kalchtermans, a análise interpretativa dos dados narrados
biograficamente se formula como uma geração de categorias procedentes dos dados, e a
associação/relação entre as categorias induzidas. A credibilidade e confirmabilidade dos
dados será fruto de uma análise de “subjetividade disciplinada”, mediante uma dupla análise
(figura 18):
a) vertical/estudo de caso: se analisam os suportes estruturais da historia de cada
relato de vida como caso individual. Se classificam, comparam e sintetizam por meio de
categorias de análise de conteúdo. Estas categorias geralmente são de duas classes:
cronotopografia de tempos e espaços diacronicamente ordenados, e universos de crenças
(valorações acerca das primeiras). O estudo vertical vai sendo contrastado/consensuado
durante o ciclo de entrevistas, e dá lugar a um “perfil biográfico profissional” ou, na
formulação de Demazière e Dubar, a uma “forma identitária” específica.
b) horizontal/análise comparativa: comparação de cada forma/perfil biográfico de vida,
para ver padrões concorrentes, temas comuns ou regularidades, sobreposições e
divergências nos ciclos de vida dos professores. Denzin defende a triangulação interativa de
diversas histórias referidas a um mesmo tema, com especial atenção aos casos negativos
como elemento chave para a interpretação de histórias de vida. Ambos os tipos de análise,
como indica a figura 18, confluem na elaboração pelo investigador de um novo relato ou
história de vida, que é propriamente o informe da investigação.
Por sua parte, desde um enfoque de reconstrução hermenêutica, Rosenthal distingue
na análise dos dados biográficos dois níveis, que se complicam:
a) análise genética da história de vida: reconstrução do significado biográfico das
experiências ocorridas em seu curso temporal, segundo a sequência cronológica que
estabelece o narrador da autobiografia.
b) análise temática dos relatos de vida: estudo dos temas e aspectos narrados,
segundo o significado que lhe outorga o biógrafo/investigador.
Essa tarefa de análise biográfica conjunta os acontecimentos/eventos, às vezes
atomísticos, em uma sequência interrelacionada de temas, de modo que configurem uma
rede. A análise temática, Rosenthal a define como “a soma de eventos ou situações
apresentadas em conexão com o tema que forma o foco central”. Seguindo os princípios
gerais da análise qualitativa, assinala os seguintes passos no procedimento de análise:
1. análise de dados biográficos: antes de embarcar-se na análise temática, é
preciso fazer a cronologia da história de vida narrada.
2. Análise temática de campo: forma e estrutura do relato de vida, segundo temas
ordenados temporalmente. Convém distinguir sub-unidades do texto na sequência, assim como as
narrações (experiencias) das argumentações (perspectiva atual do entrevistado).
3. Reconstrução da história biográfica. Depois da análise temática, se reconstrói o
significado da perspectiva do passado, das experiências que se sucederam no tempo.
4. Microanálise de segmentos de texto individuais. Nesta parte as hipóteses que se
estabeleceram anteriormente são contrastadas e apoiadas mediante a análise de segmentos de
textos.
5. Comparação contrastada entre o relato narrativo e a biografia realizada. Na fase final
da análise hermenêutica se requer contrastar as interpretações realizadas com o sentido contextual
dos relatos.
O que se sucede é que o assunto não é só técnico, tem fortes implicações epistemológicas,
como refletimos no Capítulo 3, e esconde também questões morais e políticas, nas relações entre
investigador e informantes: se o investigador está legitimado e deve tratar a seu modo
analiticamente o discurso dos sujeitos; ou deve descrever o que dizem e pensam.
A questão última é que estatuto se lhe deve dar às palavras das pessoas ou, em outros
termos, se o biográfico é complementa ou deve ter autonomia; em qualquer caso como re-presentar
as vozes, em uma conjuntura de crise da representação. Estas não são transparentes por elas
mesmas da realidade, constroem discursivamente um mundo vivido pelos agentes, a entrevista
obedece a regras específicas de produção de sentido. Nem as posturas ilustrativas (trechos de
entrevistas, citados para ilustrar o que se diz, em uma “apropriação seletiva das vozes dos
professores”, que também disse Hargreaves), nem no caso extremo, o textualismo radical (outorgar
um grande lugar à palavra dos entrevistados, restituindo as palavras como se elas mesmas fossem
transparentes) resultam hoje sustentáveis.
A saída intermediária de uma análise categorial (com todas as variantes, inclusos programas
por ordenador, de análise de conteúdo), conduziu a um certo desengano, pois não estamos ante
textos informativos, e sim ante relatos biográficos que constroem humanamente (sentir, pensar,
atuar) uma realidade. Se reparou há pouco em que a análise empírica de conteúdo categorial surgiu
inicialmente (Berelson) para o tratamento de textos informativos ou periodísticos, onde a dimensão
pessoal-afetiva está ausente; por ele sua aplicação a textos que não descrevem fatos mas que
reconstroem um mundo/vida no próprio discurso é sempre deficiente, nunca cabe pegar os matizes
da narrativação de uma vida sob uma categoria temática.
A análise categorial de conteúdo, como a definiu Berelson, se cifra no “conteúdo manifesto”,
deixando de lado todas as dimensões subjetivas. Analisar a frequência de cada categoria
comparando-as a outras, agora revitalizadas pela ajuda do ordenador, pode dar a impressão de
uma análise “científica”, mas na hora de compreender a narrativa contribui pouco. Demazière e
Dubar chegam a afirmar que, no caso das entrevistas narrativas, “as diferentes técnicas de análise
de conteúdo são inadequadas para a análise das significações que queremos realizar”. Não
obstante, cabe combinar análises qualitativas e hermenêuticas de conteúdo, com as próprias
análises qualitativas, em um conjunção frutífera.

• Informe de investigação: elaboração, representação e autoria


É intencionalmente como a narrativa de caso se converte em algo diferente de um
simples registro de experiências; se converte em um produto do estudo de caso. E através
da destreza artística com que produz sua narrativa de caso, o científico social se converte
em algo mais que um narrador objetivo de experiências: se converte em um filtro narrativo
através do qual se modela a experiência e se lhe dá sentido (ZELLER).
Interpretar é dar significado aos fatos ou dados, em um processo de reconstruir,
transladar ou encaixar peças distintas em uma boa bricolagem. Ainda quando cada
comunidade de cientistas sociais têm seus critérios próprios para julgar a adequação de uma
interpretação, no limite – como defende Denzin – é uma arte, mais que um conjunto de
fórmulas que mecanicamente se podem seguir. A interpretação dos dados é dependente do
tratamento que foi feito deles (categorias, pautas, temas, relações, aspectos comuns etc.),
mas não se identifica com ele; mais prioritariamente dependerá das questões planejadas na
investigação. As hipóteses extraídas de um caso singular, podem ter um significado mais
geral, ao inscrevê-las em um marco teórico e um contexto de sentido.
Uma parte relevante da competência investigadora consiste na habilidade para ver
uma coerência (frequentemente implícita) nos dados. Toda interpretação é uma indagação
sobre o significado dos dados. Se empregarmos a metáfora do iceberg para descrever as
duas classes de atividades que constituem a interpretação, como faz Gudmundsdottir, a
ponta do iceberg seria a interpretação formal ou explícita que, a partir dos dados,
normalmente se deve fazer. Mas a maior parte do iceberg permanece oculta ou submersa,
que corresponde com a interpretação formal ou implícita. Ambas formam parte do mesmo
iceberg, ou – melhor ainda – a segunda devia ser o fundamento da parte sobressalente.
A investigação biogrático-narrativa dá lugar a um informe, que é – por sua vez – uma
forma particular (reescritura do sentido dos discursos) de relato, que será lida (e talvez
consensuada), em primeiro lugar pelo(s) narrador(es), e – em segundo lugar – por um
público leitor mais amplo. Uma boa investigação narrativa não é somente aquela que recolhe
bem as distintas vozes sobre o terreno, ou as interpreta, mas também aquela que dá lugar
a uma boa história narrativa, que é – no fundo – o informe da investigação. Este é sempre
uma recriação da narração do(s) informante(s), pela qual o investigador, praticando uma
certa “arte de bricolagem”, deve unir as diferentes peças de modo que outorguem um
significado. Quando desaparece o caráter narrativo no informe, por um forte tratamento
categorial ou analítico, a investigação deixou de ser narrativa.
Em qualquer caso, tampouco cabe limitar-se a ordenar os textos recolhidos. Entre um e outro
extremo se joga um bom informe de investigação. Van Manen fala que pode haver até sete estilos
de apresentação: realista, impressionista, confessional, crítico, formal, literário, ou uma conjunção
dos anteriores. O informe convencional (tipo aconselhado pela associação de psicologia
americana), com um marco teórico onde se enuncia um problema e revisa a bibliografia, se
formulam as hipóteses, o desenho e procedimento seguido, dados, resultados e conclusões ou
implicações; é evidente que impõe um marco forçado em que não encaixa a investigação
propriamente narrativa.
O informe de uma investigação narrativa devia ser o mesmo narrativo. Como assinala Zeller,
“paradoxalmente, se bem muitos investigadores na ciências humanas rechaçaram uma concepção
positivista da objetividade na metodologia de investigação, não rechaçaram sua influência sobre o
estilo de redação”, que segue muito apegado à normativa da associal de psicologia americana
(APA). Para isso propõe que na forma de apresentação se poderia aprender muito da nova
etnografia, o novo periodismo e dos relatos criativos de ficção e não ficção (por exemplo, novelas
de realismo social). Assim, as estratégias narrativas empregadas pelos periodistas mais inovadores
poder servir de modelo para a redação dos informes de casos. Como exemplo Tom Wolfe, em seu
trabalho sobre o novo periodismo, propõe os seguintes quatro esquemas de escrita para lograr a
imediatez ou verdade narrativa dos bons relatos no “periodismo literário”:
• Construção de cena por cena contando a história em episódios.
• Desenvolvimento do personagem através de um registro completo de diálogos.
• Localização de um ponto de vista subjetivo de terceira pessoa, experimentando um
acontecimento através da perspectiva dos participantes.
• Detalhe cuidadoso do “status” – ou classificação – dos participantes de uma cena:
seus gestos habituais, hábitos, modais, costumes, estilos de mobiliário, vestimenta, decoração,
modos de se comportar com crianças..., e outros detalhes simbólicos que poderiam existir dentro
de uma cena.
Se bem a voz do narrador e também do investigador devem estar presentes no texto, o
informe de investigação deve ter uma coerência: “A credibilidade de uma narrativa qualitativa – diz
Eisner – é a coerência ou severidade do argumento que apresenta”. Outros critérios conhecidos na
investigação qualitativa são igualmente aplicáveis aqui. Assim é preciso uma “triangulação” dos
dados ou confluência de múltiplas fontes de evidência que apoiem as conclusões aduzidas.
As múltiplas evidências apresentadas e a trama desenvolvida no discurso, através de
estudos de caso, devem – no limite – persuadir; se se toma esse termo, de acordo com a “nova
retórica”, não em um sentido pejorativo, e sim como uma forma de argumentação “razoável”, com
argumentos motivados que convençam de que se escreve. Mas também, pois ao fim e ao cabo a
narrativa tem apoios na retórica, porque as estratégias narrativas implantadas no informe de
investigação logram provocar a adesão ou assentimento dos leitores ao discurso desenvolvido.
Assim, o próprio Eisner afirma: “a indagação qualitativa, como as aproximações à
investigação quantitativa convencional, é em última instância uma maneira de persuasão, de
ver as coisas de uma maneira que satisfaz, ou é útil para os propósitos que nos colocamos”.
Outro aspecto é como (re)presentar os conteúdos da investigação, de modo que
possa ser melhor compreendido. Com o pós-estruturalismo e pós-modernismo chegou-se
ao que Hammersley chama um “radical textualismo”: colocando em questão que os
fenômenos sociais existem independentemente de suas representações em textos, estes se
constituem mediante as estratégias implantadas nos textos que os representam. Este
textualismo radical advoga por modos experimentais de escrever histórias, como
“bricolagem” ou “colagem” de textos, até chegar à ficção. É este outro aspecto que afeta a
investigação narrativa.
Se poderia, portanto, supor se o modo mais adequado de apresentação de narrativas
seja precisamente uma nova narrativa (de investigação), por exemplo novela. Em qualquer
caso se precisa uma “transformação” das experiências vividas ou das histórias contatdes
desde o plano pessoal ao informe público. A forma ortodoxa (redução a linguagem
proposicional e tabelas numéricas) é evidente que se torna problemática para informar da
investigação qualitativa, onde as vozes têm que estar em escrito, pelo que se pode acudir a
formas alternativas de representação. Em primeiro lugar nós contamos histórias, que pode
ser (re)presentadas de muitas diversas formas: novelas, vídeos, diagramas, matrizes etc.
Quais são as formas válidas (isto é, aceitas) de representação? – É uma decisão que
depende, em último extremo, das que são admitidas por uma comunidade científica. Mas
reduzir quantitativamente as dimensões qualitativas da experiência começou a tornar-se
problemático.
Mais além de aspectos particulares neste debate, a questão última – como exemplifica
a interessante discussão entre Howard Gardner e Elliot Eisner – é se a investigação
educativa é um saber disciplinado, e – por tanto – deve fazer-se de acordo com os padrões
de investigação e apresentação das disciplinas. Eisner defende que, se bem a narrativa
novelada não é o melhor veículo de representação para todos os problemas educativos,
pode ser um modo válido entre outros, contanto que se baseie em um trabalho de campo
exaustivo e sistemático. O relevante é que seja fruto de uma investigação, e esta não é um
tipo da ciência, e sim a ciência uma espécie de investigação. Portanto, se a apresentação
narrativa é fruto de uma investigação séria, não haveria problemas especiais em admitir um
relato narrativo como informe científico.
Qualquer forma de representação alternativa poder ser empregada, diz Eisner,
contanto que ponha em cena melhor a experiência e incremente a compreensão. Algumas
formas alternativas de representação têm, entre outras, estas vantagens:
a) Proveem um sentido de particularidade (caráter individual, qualidades distintas,
autenticidade) que as abstrações impedem.
b) O material apresentado nestas formas alternativas pode ser mais evocativo que
denotativo, ao apresenta-lo em um texto mais aberto a múltiplas interpretações, o que se lhe aporta
uma “ambiguidade produtiva”.
c) Os novos modos de apresentação ampliam nossos modos de ver e abordar os
problemas, incrementando as questões que podemos responder.
d) Os modos qualitativos de representação possibilitam, em maior grau que os
qualitativos, a criatividade do investigador e suas qualidades individuais.
No entanto, também têm seus perigos. Se o objetivo das ciências sociais convencionais era
reduzir a ambiguidade e incrementar precisão, algumas destas formas alternativas não proveem
precisão. E, ainda que a produtividade possa ser produtiva, também dá lugar à “síndrome de
Rorschach”: cada um pode conferir um significado idiossincrático aos dados, impedindo um certo
consenso. Nos importa, ademais, como o informe apresentado é usado, para o que é preciso
proporcionar um amplo contexto no qual se situa o caso.
Em terceiro lugar, a elaboração e apresentação do informe pretende a questão da autonomia
da investigação biográfica. Como, desde a antropologia pós-moderna, ressaltou Clifford, “os dados
constitutivos em condições discursivas e dialógicas, só poder ser objeto de apropriação em uma
forma textualizada. O texto, a diferença do discurso, pode viajar”. Ao converter o discurso falado na
interlocução em texto, se efetua – ao tempo – uma operação de apropriação pelo investigador, que
pode agora – longe da situação interativa de comunicação entre pessoas – interpretá-los a seu
modo, em uma “autor-idade” que lhe despoja de autoria. O texto pertence ao investigador, as “vozes
originárias” se convertem em textos anônimos citados. Estas reflexões levam a questionar
seriamente a separação entre investigador/investigado, e a reconhecer a autonomia plural ou
polifônica do relato de investigação, a compartilhar – entre outros casos – referida autoria. Como
faz tempo sugeriram Kushner e Norris:
Compartilhar a autoria pode ser uma aspiração atrativa porque oferece a oportunidade de
ampliar o ranque de teorias e significados e, de quebra, oferecer aos participantes a dignidade de
contribuir a teorizar sobre seus mundos. Mais ainda, somente através de compartilhar as produções
de significado poderemos melhorar uma compreensão significativa do fazer da escola e da
educação. O negociar dos significados com os implicados na investigação lhes introduz no rol de
colaboradores.
A autoridade (autoria) monológica do texto do investigador, que constrói uma representação
privilegiada das vozes, começa a desestabilizar-se. Atribuir um determinado significado, autorizado
como correto pelo investigador, se questiona para reivindicar a voz (e autoria) do autor no informe
mesmo de investigação. As vozes dos professores não só têm sido silenciadas pelas reformas
políticas como também, ao que nos concerne, pela própria investigação educativa. Assim, a
estratégia do emprego do pseudônimo, aparte de possível medida de precaução ética,
contribui implicitamente a este silêncio e a expropriar – deste modo camuflado – a voz do
professor. Se a pessoa biografada não pede explicitamente que se silencie seu nome real,
fazê-lo de antemão é um modo sutil de negar sua identidade; ao tempo que o investigador
pratica uma apropriação indevida de seu discurso. Por isso é saudável que M. Catani, em
uma autoria plural, firme sua magistral obra conjuntamente com a narradora da história de
vida (a tia Susana Mazé), ou que fez o mesmo Pineau com Marie-Michèle. O novo
movimento na investigação narrativa se dirige, por isso, a apresentar os professores a eles
mesmo. Em lugar da re-presentação que academicamente se fez até agora, pode – com os
problemas já resenhados – ser um meio para entender melhor a vida e trabalho dos
professores.
Goodson falou da colonização acadêmica que geralmente se faz na investigação
narrativa das histórias dos professores e professoras: utilização para propósitos decididos,
prefixados, e – sobretudo – em benefício dos investigadores. Ademais é um problema
comum com a antropologia, com descreveu Geertz:
o que em outros tempos parecia uma dificuldade técnica, colocar “as vidas de quem
se investiga” em “nossas” obras, passou a ser um assunto moral, ético, político, e inclusive
epistemologicamente delicado (..). Os antropólogos se viram obrigados a adicionar à sua
preocupação recente se é “honrado” o que estão fazendo e se perguntam quem somos “nós”
para descrever a “eles”.

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