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LÍCIA MARCHIORI CRESPO

TATIANA RIBEIRO DE PAULA FIRME


GRAUCILENE FERREIRA RODRIGUES

ORIENTADORA: JOSELIA ALVES OLIARI

O SENTIDO DOS SINTOMAS

A psicanálise valoriza as questões acerca dos sintomas, e segundo


Freud (1916-1917), “os sintomas têm um sentido e se relacionam com as
experiências do paciente”. O sentido dos sintomas neuróticos, foi descoberto
através de um caso de histeria, pelo médico Josef Breuer, entre 1880 e 1882.
Pierre Janet, apresentou as mesmas confirmações em 1893 e 1895. O
psiquiatra Leuret, antes de Breuer e Janete, considerava os sintomas
neuróticos uma expressão de “idéias inconscientes” que dominavam os
pacientes. E o autor afirma: “os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido,
como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida
de quem os produz.”. (FREUD, 1916-1917/1996)
Segundo Freud (1916-1917), na neurose obsessiva, por exemplo, o
sintoma “comporta-se como assunto particular, prescinde quase que
completamente dos fenômenos somáticos e cria todos os sintomas da esfera
mental”. Ou seja, não desempenha papel físico, somente mental. O paciente se
ocupa de pensamentos em que não há interesse real; são impulsos estranhos,
cuja ação não gera satisfação, mas que são impossíveis de não os realizar. Os
pensamentos obsessivos são “carentes de significação”, mas exigem “intensa
atividade mental”, por parte do paciente, que se entrega contra sua vontade,
obrigado a priorizar a demanda. Os impulsos, também geram sensação de
“falta de sentido”; no qual, a ação remete a “proibições, renúncias e restrições
em sua liberdade”; na ação, não há sentimento de realização e sim de “fuga” e
“preocupação”. Segundo Freud (1916-1917), “os atos obsessivos são repetição
ou elaborações rituais das atividades da vida corrente”, que se tornam, tarefas
“fatigantes” e “insolúveis”. (FREUD, 1916-1917).
O paciente, lúcido e ciente dos seus sintomas neuróticos; possuidor de
uma energia mental atípica; possui a capacidade de “deslocar a obsessão”,
substituindo uma ideia “absurda” por outra atenuante, mas não consegue
remover o pensamento obsessivo. Segundo Freud (1916-1917), “a
possibilidade de deslocar qualquer sintoma para algo muito distante de sua
conformação original é uma das principais características desta doença”. A
“dúvida” (incerteza, indecisão), é muito recorrente, mesmo para aquilo que se
tem “certeza”, gerando perda energia psíquica e “restrição de liberdade”.
Apresenta caracteristicas de disposição energética, inteligência acima da
média, nível ético elevado e comportamento correto. Citado por Freud (1916-
1917), “[..] na psicanálise, constatamos que é possível eliminar
permanentemente esses estranhos sintomas obsessivos, assim como outras
queixas [...]”. (FREUD, 1916-1917).
Segundo Freud, em um caso que atendera, a paciente apresentava atos
obsessivos, muitas vezes por dia. Após algumas sessões, revelou que o ato
havia relação com uma experiência vivenciada com o marido. “A análise de um
ato obsessivo, mostrou-nos uma parte do segredo da neurose obsessiva em
geral.”, apresentando relações com a intimidade e a sexualidade da paciente.
Vejamos a ocorrência do ato obsessivo:

Ela corria desde seu quarto até um outro quarto contíguo, assumia
determinada posição ali, ao lado de uma mesa colocada no meio do
aposento, soava a campainha chamando a empregada, dava-lhe
algum recado ou dispensava-a sem maiores explicações, e, depois,
corria de volta para seu quarto. (FREUD, 1916-1917).

Outro exemplo citado por Freud, uma jovem com diagnóstico de


agorafobia e neurose obsessiva:

Uma jovem de dezenove anos de idade, bem desenvolvida e bem


dotada, era filha única de pais que superava em instrução e
vivacidade intelectual. Em criança, havia sido alegre e decidida, e no
decorrer dos últimos anos, havia se transformado, sem qualquer
causa visível, em neurótica. Era muito irritável, especialmente para
com a mãe, sempre insatisfeita e deprimida, com tendência à
indecisão e à dúvida.
[...] Essa paciente, alegou, como pretexto de suas precauções
noturnas, que necessitava de silêncio para dormir e devia abolir
qualquer fonte de ruído.

Com isso, a paciente removia todos os relógios do quarto por conta do


barulho; retirava os vasos e colocava em sequência em outro local, com medo
de que caíssem; o travesseiro tinha quantidade e posições exatas; colocava
objetos no vão da porta, pois sua porta e a dos pais deveriam ficar
entreabertas; entre outros rituais que todas as noites eram repetidos e
cercados de apreensão para que fossem feitos de forma correta. Através do
atendimento, houve algumas constatações simbólicas de que a genital feminina
estava relacionada ao relógio e ao periódico menstrual, assim como o vaso e
outras questões evolvendo a sexualidade. Por fim, até a conclusão das
diversas sessões de análises, a paciente havia abandonado todos os rituais.
(FREUD, 1916-1917).
Segundo Freud (1916-1917), “O sentido de um sintoma, possui
determinada conexão com a experiência do paciente. Quanto mais individual
for a forma dos sintomas, mais motivos teremos para esperar que seremos
capazes de estabelecer esta conexão”. Freud (1916-1917) relata que “todos
esses pacientes obsessivos têm uma tendência a repetir, a executar seus atos
ritmicamente e a mantê-los isolados de outros atos”. Na Neurose Obsessiva,
existem sintomas de tipo “diferente” e sintomas “típicos”; no segundo caso, o
ritual de dormir, possui aspectos típicos, embora tenha traços individuais.
(FREUD, 1916-1917).
Não se tratando mais da neurose obsessiva. Pacientes que sofrem de
agorafobia, descrita como ‘histeria de angústia’, repetem os mesmos aspectos
em seus sintomas: medo de espaços/locais fechados, longos, estreitos,
deserto/ermo, etc. Acompanhados por terceiros se sentem protegidos. Pode e
há mudanças nos detalhes dos sintomas de um paciente para outro.
A histeria, possui traços individuais e muitos sintomas comuns/típicos;
mas que gera dificuldade na compreensão dos sintomas individuais, mediante
sua conexão com as vivências, essa nossa capacidade deixa-nos na incerteza
quando chegamos aos sintomas típicos, que podem ser confundidos com
demandas comuns. Os sintomas psíquicos podem remontar uma experiência
que é típica em si mesma, como ação sintoma de histeria, como é o exemplo
de uma tosse, vômito, dor de cabeça, etc. Outros aspectos ocorrentes são as
repetições ou as dúvidas. (FREUD, 1916-1917).

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. O sentido dos sintomas. In: FREUD, Sigmund.


Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte III): Volume XVI (1916-
1917). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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