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Filosofia
um livro para professores
Renata Lima Aspis
Silvio Gallo
Ensinar
Filosofia
um livro para professores
Ensinar Filosofia
um livro para professores
1ª edição
Copyright © 2009 Renata Lima Aspis e Silvio Gallo
Outubro 2009
Obra da capa: Caetano de Almeida – “ Briga de Vizinhos”, 2005 – Acrílica sobre tela – 120 x 150cm
Foto da obra: Edouard Fraipont
É proibida a reprodução. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada,
transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, sem a permissão,
por escrito, do editor. Os infratores serão punidos pela Lei nr. 9.610/98.
INTRODUÇÃO 9
PALACIOS, G. A. De como fazer filosofia sem ser grego, estar morto ou ser gênio.
Goiânia: Ed. UFG, 1997.
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INTRODUÇÃO
Pensar filosoficamente o ensino de filosofia
Certamente os professores de filosofia sentem-se obrigados a
uma enorme tarefa antes mesmo de começar a dar aulas, que é
a de pensar filosoficamente o ensino de filosofia. Esta tarefa nos
aparece na forma de uma obrigação desafiadora talvez pelo fato
de a filosofia não estar ainda completamente inserida nas provas
de vestibular do país. Conhecemos a imposição destas provas
sobre o ensino das disciplinas no Ensino Médio. Sabemos que,
inevitavelmente, o ensino de cada matéria fica condicionado às suas
exigências. Para o ensino de filosofia, no entanto, enquanto esta
não estiver explícita e formalmente inserida nas provas de acesso
às grandes universidades públicas do país, vige muita liberdade.
Mas, justamente esta liberdade é que abre todo o espaço para
questionamentos. Sorte nossa, pois pode ser exatamente por meio
das buscas a que esses questionamentos nos levam que poderemos
tornar o ensino de filosofia vivo, sempre renovado e buscador.
Neste livro nós nos preocupamos em percorrer as questões que
imaginamos e sabemos (quer seja por nossa própria experiência
em sala de aula, quer seja por nosso contato direto e indireto
com professores de filosofia) serem aquelas que surgem aos
professores ao se depararem com sua tarefa, concretamente,
antes de entrar em sala de aula. É por este motivo que pensamos
em estruturar o livro como um feixe de diversas partes que
tratam pontualmente dos diversos problemas que aparecem aos
professores. E estas partes estão explícitas no índice em forma
de perguntas. Este feixe, formado por estas distintas perguntas,
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Filosofia
A filosofia nasce, segundo o que tradicionalmente estudamos
da história da filosofia ocidental, quando os homens começam
a se perguntar sobre o significado de suas vidas na polis, sobre
seus valores e seus conceitos. A filosofia se coloca aí, desde cedo,
como a busca da verdade, a busca da essência, a busca do que
verdadeiramente são as coisas.
Contudo, anterior às invenções da polis, do alfabeto e da moeda
- que colocam os homens em um outro platô de elaboração mental,
o mito é a primeira formalização que conhecemos da busca por
respostas às perguntas que os homens se fazem. Estando um
tanto descolados da natureza, os homens mantêm-se um passo
afastados, a ponto de poderem se enxergar e enxergar todo o resto
como objetos, em primeiro lugar, de sua curiosidade; depois, de
sua investigação; e daí de suas suposições. Os homens são aqueles
animais que criam conhecimento. Suas consciências os obrigam a
procurar, porque estão incessantemente propulsionados por suas
questões, por um querer saber sem fim, um espaço vazio que deve
ser preenchido por significado. Os homens não são os seus corpos,
eles têm os seus corpos, eles têm suas mentes, seus espíritos.
Quem são eles? É o que se perguntam. Perguntam-se até mesmo
sobre seu próprio pensar. No início criaram as cosmogonias para
entenderem a origem do universo. A Teogonia de Hesíodo, dos
séculos VIII-VII a.C., passada oralmente pelo canto do poeta, em
um tempo em que o pensamento racional prefigurava-se, é uma
tentativa de exprimir o inefável, de expressar a experiência do
Sagrado. Pois os homens são aqueles que se sentem impelidos,
a partir da distância que experimentam do vivido, a criar as
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Sub-versões1
Imaginamos ser possível um ensino de filosofia para jovens
que seja uma arma de produção de suas próprias versões do
mundo, ou seja, de sub-versões. Um ensino que se dê de maneira
tal que leve ao desenvolvimento de uma disciplina filosófica no
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Optamos por escrever a palavra desta maneira (em oposição a subversões), para enfatizar o
processo de criação de versões, que defendemos no ensino de filosofia.
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Experiência filosófica
A experiência é aquela coisa que, ao acontecer a alguém,
transforma essa pessoa, que já não é mais a mesma. É algo que
atravessa seu pensamento, suas ideias e faz com que já não
possa mais ser o mesmo. Algo se passa, toca e é apreendido de
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2
KANT, Crítica da Razão Pura, p.407.
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Um sistema de referências
Como ensinar
A primeira parte do livro, “O que ensinar?”, culminará na
discussão sobre os métodos. Trata-se, então, de pensar que importa
menos definir um conteúdo mínimo específico da disciplina de
filosofia, que possa ser aplicado indiscriminadamente pelo país,
do que determinar algumas coordenadas metodológicas que
garantam um ensino que possa atingir os objetivos propostos.
Acreditamos que talvez não seja possível pensar em um
método para ensinar filosofia se a entendermos como algo que
não está acabado, que é uma coisa prática, que está viva. Além
disso, a defesa da elaboração de um método pressupõe a crença
na possibilidade de planejar o que vai acontecer no processo de
aprendizagem, crença que não compartilhamos. Para nós, um
ensino de filosofia para jovens tem como objetivo proporcionar aos
alunos ocasiões de experiência filosófica, e encontra possibilidade
de ser quando experimentamos o ensino da criação de conceitos
filosóficos por meio do ensino do filosofar, que é filosofia.
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Os autores
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Parte 1
O que
ensinar?
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a. A filosofia é uma disciplina
específica do pensamento?
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1. Diacronismo: antigo.
ensino e educação que um discípulo recebia do mestre.
2. Obediência às regras e aos superiores.
3. Regulamento sobre a conduta dos diversos membros de
uma coletividade, imposto ou aceito democraticamente,
que tem por finalidade o bem-estar dos membros e o bom
andamento dos trabalhos.
4. Ordem, bom comportamento.
5. Derivação: por extensão de sentido.
obediência a regras de cunho interior; firmeza, constância.
6. Diacronismo: antigo.
castigo, penitência, mortificação.
7. Ramo do conhecimento; ciência, matéria.
8. Rubrica: angiospermas.
m.q. espelina (Cayaponia espelina)
disciplinas
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O agôn era para os gregos a disputa, a batalha. Presente na cultura grega desde suas origens,
como povos guerreiros, o agonismo vai se transfigurando, estando presente também no gosto
pelo debate democrático que embasou a política grega. Giorgio Colli escreveu páginas belíssimas
em O Nascimento da Filosofia sobre como o agonismo foi assimilado pela retórica e pela linguagem
dialética.
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d. O que priorizar:
temas filosóficos ou a história da filosofia?
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mais aberto para pensar sobre o amor, algo que faz parte de
seu cotidiano, de sua vida. E, através da tematização do amor,
poderemos, por exemplo, ler o diálogo O Banquete e acompanhar
a teorização sobre o tema produzida pelo mesmo Platão. Os
conceitos e argumentos de Platão poderão servir de ferramentas
para que o aluno pense sua própria experiência com o amor,
produzindo seu próprio percurso de pensamento.
Um alerta, porém: em uma abordagem temática, os riscos do
enciclopedismo, embora menores, também estão presentes e
precisam ser enfrentados. Seria também fácil cair na armadilha
de desfilar uma série de temas filosóficos que nós, professores,
consideramos absolutamente pertinentes e relevantes, mas
que não despertam absolutamente nenhuma curiosidade nos
alunos que, se os estudarem, o farão de maneira burocrática e
por obrigação. Teríamos de novo aqui o mesmo efeito apontado
e criticado por Nietzsche em relação ao ensino da filosofia na
Alemanha de seu tempo, despertando mais o desprezo pela
filosofia do que o interesse por ela.
Segundo nossa maneira de ver, a garantia da possibilidade de
que o ensino seja a experimentação do pensar filosófico reside
em uma abordagem problemática dos temas. É necessário que o
professor evidencie os problemas que estão por trás dos temas
e da própria história da filosofia, como motores do pensamento,
como aquilo que fez com que os filósofos pensassem ao longo
da história. É a capacidade de visualizar, de fato, os problemas
que mobilizaram os filósofos e os movimentos e trajetórias de
pensamento que estes fizeram que pode produzir nos alunos a
possibilidade de que eles se afetem também pelos problemas e se
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expõe um conceito original de crença, mas não diz por que nem
como o problema do conhecimento se coloca, de tal forma que o
conhecimento seja um modo determinável de crença. A história
da filosofia deve, não redizer o que disse um filósofo, mas dizer
o que ele necessariamente subentendia, o que ele não dizia e que,
no entanto, está presente naquilo que diz.7
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menos desde Kant, que na Crítica da Razão Pura propõe que uma
coisa é o processo da filosofia, o filosofar, e outra, bem diferente,
o seu produto. O verbo, sempre no infinitivo, assinala o processo;
o substantivo, define o produto.
Em sentido kantiano, a filosofia não pode ser ensinada,
porque ela, enquanto ideia de uma ciência possível, sempre é
inacabada e, portanto, não pode ser aprendida nem apreendida.
Podemos aprender a história daquilo que foi pensado, mas isto
não é aprender filosofia. Para o filósofo alemão que, diga-se de
passagem, foi professor universitário de filosofia por quase toda
a sua vida, só é possível aprender a filosofar, isto é, “exercitar o
talento da razão”, para usarmos suas próprias palavras. O estudo
da história da filosofia pode nos dar uma dimensão daquilo que
os filósofos produziram, mas não dá a dimensão do processo
da filosofia11. Por outro lado, podemos aprender o processo
do filosofar, podemos aprender a exercitar a razão e a pensar
autonomamente12.
Hegel, no entanto, discordou de Kant. Ao tratar do ensino
da filosofia no Gymnasium, mais ou menos o equivalente na
educação alemã de sua época ao nosso Ensino Médio, ele afirmou
que este deveria estar localizado em sua etapa final e que deveria
ser marcado pela Enciclopédia, transmitindo aquilo que ele
11
Este tema foi analisado com mais profundidade por Lídia Maria Rodrigo no texto “Aprender
Filosofia ou aprender a filosofar: a propósito da tese kantiana”, publicado em Gallo; Danelon;
Cornelli (orgs.). Ensino de Filosofia: Teoria e Prática (Ijuí: Ed. Unijuí, 2004), no qual procura desfazer
os mal-entendidos em torno das afirmações de Kant no debate brasileiro contemporâneo.
12
Kant trata destas questões marginalmente no final da Crítica da Razão Pura, quando está definindo
a arquitetônica da razão pura. O ensino da filosofia é tomado como um exemplo. Na edição desta
obra na coleção Os Pensadores (3ª edição, São Paulo: Abril Cultural, 1983), as afirmações sobre o
aprender a filosofar estão nas páginas 407 a 409 (B-865 a B-869 na notação das obras de Kant).
Essa questão também aparece em seu Manual dos cursos de Lógica Geral, quando faz a distinção da
filosofia considerada segundo seu conceito na escola e seu conceito no mundo.
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A este respeito, consultar nos Escritos Pedagógicos de Hegel (México: Fondo de Cultura
Económica, 1991) o texto “Acerca de La exposición de La filosofía en los Gimnasios”, de outubro
de 1812.
14
Hegel, Escritos Pedagógicos, p. 139.
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Idem, ibidem.
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Sobre o rizoma, ver a obra de Deleuze e Guattari, Mil Platôs. Para uma aplicação deste conceito
ao contexto educacional, ver Deleuze e a Educação (2ª ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2008), de
Silvio Gallo.
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Onfray, A Política do Rebelde – tratado de resistência e de insubmissão, p. 231.
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não por todos da mesma maneira. Por outro lado, às vezes, alunos
aprenderão mais do que o professor julgou ensinar, ou mesmo
aprenderão coisas das quais o professor jamais suspeitaria. Aí
está o mistério e a abertura desta atividade de ensinar, que pode
ser tremendamente apaixonante.
O filosofar só se faz com método. A construção do pensamento
nunca é aleatória e ao acaso, mas implica sempre um regramento
do pensamento. No entanto, não há um único método do pensar:
cada filósofo na história inventou seu próprio método, seu
próprio processo de pensar. A utopia moderna de se conseguir
um método único do pensamento, felizmente, permaneceu
utopia. Em meio às tentativas de construção deste método único,
que seria comum a todos, o que vimos foi a proliferação de
métodos, múltiplos métodos.
Neste aspecto, Stéphane Doauiller faz uma observação
importante e interessante: o que anima a filosofia é o fato de ela
ser dotada de um “poder de começo”. Isto é, cada filósofo, a sua
maneira, institui na filosofia um novo começo, o seu começo, que
é o traçado de seu próprio movimento de pensamento. Douailler
recorre ao mais clássico dos exemplos: a relação entre Sócrates
e Platão. Este só introduziu-se na filosofia com a relação com o
primeiro; mas, por outro lado, para que nascesse o filósofo Platão
foi necessário que morresse o filósofo Sócrates. Platão só iniciou
sua filosofia, só começou efetivamente na filosofia depois da
morte de seu mestre20. Se Sócrates tinha seu método de filosofar,
Platão aprendeu com ele, certamente, mas só filosofou por si
20
Essas ponderações são desenvolvidas no texto “A filosofia que começa: desafios para o ensino
da filosofia no próximo milênio”, de Sthèphane Douailler, publicado em GALLO, S.; CORNELLI,
G.; DANELON, M. (orgs.). Filosofia do Ensino de Filosofia. Petrópolis: Vozes, 2003.
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mesmo quando criou seu próprio método, quando fez seu próprio
percurso, de maneira autônoma. E assim sucessivamente, pela
história da filosofia afora, fomos vendo os filósofos instituírem seu
começo na filosofia, criando seu método de pensar e produzindo
seus conceitos.
A transposição que Douailler faz para o ensino da filosofia é
evidente. É absolutamente necessário que um professor de filosofia
faça a mediação com seus alunos, para que esses possam começar
na filosofia. Mas, por outro lado, estes alunos só começarão, de
fato, seu próprio processo de filosofar, seu movimento autônomo
de pensamento, com a saída de cena do professor. Sua base de
argumentação é aquela desenvolvida por Rancière em O Mestre
Ignorante, que já citamos aqui. A autonomia do pensamento só
pode ser fundada em um começo próprio, que parte do mestre
(do professor) para prescindir dele em um momento seguinte.
Desta maneira, é evidente que o professor precisa ter seu
método de pensamento e seus métodos de ensino. Mas não há
o método. Não há o método de filosofar e não há o método de
ensinar. Há métodos, que podem ser experimentados, testados,
reelaborados, aperfeiçoados, em um trabalho contínuo e
constante.
Em nossa maneira de pensar, assumir um método específico
para o ensino de filosofia seria amarrar o professor e os alunos
em uma camisa de força, que não necessariamente tornaria
possível o exercício do pensamento. Mas, por outro lado,
um “espontaneísmo” absoluto por parte do professor ou dos
alunos tampouco oportuniza a experimentação do pensamento.
Pensamos que o professor precisa estabelecer certas estratégias
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Parte 2
Como
ensinar?
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Parte 2
a. Como despertar o interesse dos alunos?
A sensibilização
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um lugar fantasma, pois toda vez que tentamos voltar a ele, ele
nos escapa, não foi cristalizado, era puro surgimento do novo,
não pode ser repetido, não pode ser aprisionado em um modelo,
pode ser narrado e recordado e assim pode ser um exemplo.
Nossa ideia é que o professor faça tantos mapas quantas turmas
tiver. Os mapas serão diferentes, muito diferentes. Mas poderiam
estar todos no mesmo atlas, poderiam todos seguir o mesmo
sistema de referências.
Estamos aqui, portanto, discutindo o que usar como
coordenada, qual o norte a seguir, o que está além e por trás
desse mapa. Definindo isso, depois podemos ir a campo, cada
um desenhar o mapa da situação que se lhe apresentar. Vamos
tentar aqui definir diretrizes para a experiência filosófica, apenas
as diretrizes, o desenho terá que ir sendo desenhado conforme
a expedição for avançando. Conhecemos belíssimas histórias de
explorações geográficas, no passado, pelo planeta. Podemos ler
seus relatos e tomá-los apenas como narração de experiência,
que é o que são. Não servem de modelo. Nada nos garante que
o ataque de um leão será igual ou sequer semelhante ao de um
outro, em outra viagem. Não se pode saber o que vai acontecer
numa exploração territorial antes que se lance a ela. Devemos
nos embrenhar nessa floresta com clareza do que buscamos e
de quais os instrumentos que dispomos, o restante terá que ser
criado a cada passo, permitindo assim que se respeite o devir.
Assim chegamos ao que pretendemos desenvolver na segunda
parte deste livro: traçar um sistema de referências para o ensino
de filosofia para jovens. A expedição a que nos lançamos é o
ensino de filosofia como experiência filosófica. O nosso norte é
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seus cadernos, eles são obrigados a fazer uma síntese do que está
sendo dito e discutido, com suas próprias palavras, a partir de
seu entendimento e isto já é, ao mesmo tempo, um exercício de
tradução. Os alunos traduzem para o seu modo de falar ou de
esquematizar, de entender e de explicar, aquilo que está sendo
falado e explicado na classe, pela classe. É importante insistirmos
nesse tipo de uso do caderno, pois isto contribui para o aumento
da importância que se dá aos pensamentos dos alunos, o que
é imprescindível para a experiência filosófica, já que é uma
experiência dos alunos.
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dialogar com ele que nos é despertada, faz com que o entendimento
seja uma reescrita, é decifrar. Ao ler filosoficamente um texto
somos obrigados a traduzi-lo, passamos a ser autores, também,
da nossa compreensão da coisa. A leitura filosófica é também
esforço de síntese. Os professores terão de inventar suas táticas
para incentivarem os alunos a todo o momento desmontar o texto
para entendê-lo, acompanhar sua lógica, trilhar seu raciocínio,
separar as partes para conhecê-las e conhecer suas relações. Aí,
então, no diálogo, há que se fazer um trabalho de remontagem
do significado, é síntese. Esse trabalho requer dedicação: atenção
e paciência.
A primeira coisa que um texto filosófico nos ensina é que
ele não é um campo aberto onde podemos entrar correndo sem
dificuldades. Ele faz com que duvidemos de nossa capacidade de
entender a leitura: lemos, mas não deciframos, conhecemos o som
de cada palavra lida, mas elas nada nos trazem de significado.
Parecem cifradas, não temos a senha de entrada. A segunda
coisa, portanto, que ele nos ensina é persistir. Perseverar, não
esmorecer, insistir, insistir. Colocamo-nos diante dele como
intrusos. Mas nada podemos forçar. Temos de ter paciência. Aos
poucos a nossa cabeça vai se moldando ao texto, vai se abrindo
para poder encaixá-lo, a cabeça deve mudar para que o texto
caiba, é necessário criar a compreensão dele. Não pode ser o
contrário. Se nos pusermos a querer encaixar o texto naquilo que
já sabemos, ele não cabe. E, se decidirmos nos enganar e paramos
nessa altura da tentativa de leitura, nada dele saberemos, não o
teremos lido, apenas mutilado. É preciso esperar para que o texto
vá nos moldando, nos mudando. É preciso saber esperar. Ler de
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h. Como avaliar?
Táticas de (auto)avaliação
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Bibliografia – Partes 1 e 2
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Apêndices
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Parte 3
a. Exemplos de táticas de ensino
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O caderno
Uma estratégia de extrema importância durante todo o curso
é que o professor insista que os alunos habituem-se a anotar as
aulas em seus cadernos e que façam isto de forma autônoma. No
esforço de anotar, os alunos estarão exercitando a sua capacidade
de sintetizar (compreender a ponto de saber retirar as ideias
principais) e de traduzir a sua compreensão com suas próprias
palavras. Portanto, é importante que os professores, ao menos
no começo, estejam sempre alertando os alunos para o uso do
caderno mesmo quando a atividade seja apenas uma discussão
sobre um filme, por exemplo. O caderno deve funcionar como um
diário de bordo, a cada aula se escrevem nele as ideias trabalhadas
nas aulas. Este mesmo caderno será precioso quando os alunos
forem chamados a fazerem seus ensaios de escrita filosófica.
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Sínteses
Os professores podem optar por, às vezes, pedir que os
alunos façam uma síntese da aula. Neste caso, o tempo deve
ser administrado para que, ao final da aula, cada aluno faça sua
síntese das discussões daquele dia. O exercício da síntese é muito
bom, porque é impossível sintetizar se não houver minimamente
compreensão. Assim, a síntese é uma forma de fazer com que os
alunos se concentrem em colecionar suas ideias sobre o que vai
sendo proposto nas aulas. Além disso, é uma forma de exercitar a
criatividade, uma forma de desenvolver uma maneira própria de
colocar as ideias. O tempo inicial da aula seguinte àquela na qual
foram feitas as sínteses pode ser dedicado à leitura de algumas
delas. O professor pode pedir que algum aluno leia o seu texto
ou que alguém se voluntarie e depois que outros complementem,
em um movimento informal, porém rigoroso. Esta é uma boa
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Aulas expositivas
Na fase de estudo e aprofundamento, é natural que os
professores deem algumas aulas expositivas, principalmente
quando se tratar de contextualizar historicamente o problema e/
ou o autor estudado. É possível também que em algum momento
isto seja necessário em relação a algum texto dos filósofos, mesmo
se este tiver sido oferecido previamente para leitura individual
e contato direto do aluno. Quando uma aula assim acontecer,
é aconselhável que essa exposição seja previamente preparada,
que os professores planejem o que vão escrever na lousa e o
que vão falar, o que não vão colocar na lousa, mas vão pedir
que os alunos tentem ir anotando em seus cadernos. Mesmo
que o professor tenha que parar a exposição para lembrá-los do
caderno, que precise dar um tempinho para anotações ou ainda
repetir o que falou, é importante que isto seja feito.
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Quadro conceitual
Suponhamos que se esteja, no curso, na fase em que já foram
estudados três filósofos distintos criadores de conceitos sobre
o problema escolhido, que tenham sido devidamente lidos e
esmiuçados, sua história conhecida, que já tenham sido feitos
exercícios de comparação de suas teses, etc. Neste ponto é
interessante, às vezes, os professores utilizarem a estratégia do
quadro conceitual, para que os alunos se apropriem do problema
de forma abrangente. Este quadro é construído a partir dos
conceitos já estudados, os quais são apresentados aos alunos em
forma de lista, para que estes montem um quadro dos conceitos
e suas relações apenas usando os nomes dos conceitos e flechas
para indicar as relações. Divide-se a classe em grupos de quatro
a seis alunos e se oferece a lista de conceitos. Cada grupo terá
que montar um mapa, em um papel tipo cartaz com canetinha
colorida, colocando os conceitos e suas relações representadas
por flechas. Os grupos poderão, ainda, acrescentar algo que
considerem importante. As possibilidades serão muitas, cada
grupo, depois de discutir bastante vai realizar um quadro
provavelmente bem diferente dos outros. Depois que todos
tiverem acabado pode-se fazer uma exposição dos cartazes de
forma a todos poderem observar os resultados. Não se tratará aí
de corrigir o certo e o errado, mas, a partir da explicação que os
alunos derem do motivo pelo qual representaram daquela forma,
obter deles o testemunho de sua compreensão, além do exercício
de análise, síntese e tradução entre sistemas de representação
(do textual para o de esquema).
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Publicações
Uma coisa bastante simples de ser realizada e que pode trazer
efeitos muito positivos é fazer a seleção de bons textos dos alunos
e publicar essa coletânea. Esta pode ser muito simples, feita
na máquina de reproduzir cópias, na escola. Sugerimos que os
professores escrevam uma apresentação da publicação, onde
expliquem a proposta dos textos. É importante avisar aos alunos
previamente da intenção de divulgar seus textos para a escola
para que tenham chance de se dedicarem o quanto for necessário e
também para manifestarem sua concordância.
Este mesmo empreendimento em uma escala bem menor também
pode funcionar. Em uma determinada turma, depois de corrigidos
os ensaios de escrita filosófica, antes da proposta de reescrita, os
professores podem, com a permissão dos autores, fazer cópias dos
melhores textos para que todos os alunos leiam e tenham como
referência de possibilidade de criação.
Essas táticas aqui expostas são exemplos de procedimentos que
podem ser adotados pelos professores. No decorrer de suas práticas
é bom que os professores fiquem atentos às táticas que são mais
adequadas aos seus objetivos, que observem as que funcionam
melhor em cada classe. É aconselhável que os professores se
dediquem a sempre variar suas táticas, oferecendo cursos dinâmicos
e envolventes, o que os levará a melhores resultados.
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b. Indicações bibliográficas
Indicações bibliográficas de
interesse para os professores
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Dicionários de Filosofia
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