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Tradução—Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2005
Pouco de nós, se é alguém, são capazes de evitar passagem por mais de uma
´´comunidade de ideias e princípios`` , sejam genuína ou supostas, bem-integradas ou
efêmeras, de modo que a maioria tem problemas em resolver (para usar os termos
cunhados por Paul Ricoeur) a questão da la memete ( a consistência e continuidade da
nossa identidade com o passar do tempo).
Minha colega de trabalho e amiga Agnes Heller, com quem compartilho, em grande
medida os apuros da vida, uma vez se queixou de que, sendo mulher, húngara, judia,
norte-americana e filósofa, estava sobrecarregada de identidades demais para uma só
pessoa. Ora, seria fácil para ela ampliar a listamas os arcabouços de referência por ela
citados já são suficientemente numerosos para demostrar a impressionante
complexidade tarefa. ( Pag 19)
Pode-se até começar a sentir-se chez soi, ´´em casa ``, em qualquer lugar- mas o preço
a ser pago é a aceitação de que em lugar algum se vai estar total e plenamente em
casa.(Pag 20)
´´ Seu cristo é judeu. Seu carro e japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega.
Seu café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas.
Só o seu vizinho é estrangeiro. `` ( Pag 33)
O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um sentimento
ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazo, cheio de promessas e
premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio num
espaço pouco definido, num lugar teimosamente, perturbadoramente, ´´nem-um-
nem-outro`` , torna-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de
ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de
possibilidades também não é uma perspectiva atraente. ( Pag 35)
O ´´efeito imprevisto`` disso foi uma fragmentação acelerada da dissensão social, uma
progressiva desintegração do conflito social numa multiplicidade de confrontos
intergrupais e numa proliferação de campo de batalha. (Pag 42)
Afinal, não foram criados numa sociedade de cartões de crédito que elimina a
distância entre a espera e o desejo? (Pag 54)
O observadores mais argutos da vida moderna notaram muito cedo, ainda no século
XIX, que a confiança em questão não tinha bases tão sólidas quanto aquelas que a
´´versão oficial`` - lutando ara se tornar o credo predominante, talvez o único-
insinuava.
O futuro sempre foi incerto, mas o seu caráter inconstante e volátil nunca percebeu
tão inextricável como no líquido mundo moderno da força de trabalho ´´flexível``, dos
frágeis vínculos entre os seres humanos, do humores fluidos, das ameaças flutuantes e
do incontrolável cortejo de perigos camaleônicos. ( Pag 74)
Bakhtin insinuava que o medo cósmico é usado( reprocessado, reciclado) por todos os
sistemas religiosos.
Leszek Kolakowski explica a religião pela crença dos seres humanos na insuficiência dos
seus próprios recursos. ( Pag 79)
E isso eles podem fazer por meio de convincente prova fornecida pelo seu uso. O
atraso na satisfação não sendo mais uma opção sensata, tanto a entrega quanto o uso,
assim como a satisfação que os bens prometem, devem, além disso, ser instantâneos.
As coisas devem estar prontas para o consumo imediato. As tarefas devem produzir
resultados antes que a atenção desvie para outros esforços. Os assuntos devem gerar
frutos antes que o entusiasmo pelo cultivo se acabe. Imortalidade? Eternidade? Ótimo-
onde está o parque temático em que eu posso experimentá-los imediatamente? ( Pag
81)