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Mark Fisher (2009) Realismo Capitalista Como Trabalho Onírico e Distúrbio de Memória
Mark Fisher (2009) Realismo Capitalista Como Trabalho Onírico e Distúrbio de Memória
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[...] E a ela, o que fez disso tudo? Ela entendeu, enlouqueceu, o
que seria dela? Fora capaz de manter as duas linhas de memoria,
assim como ele?; a real e a nova, a velha e a verdadeira?53
54 Newsinger, John.“Brown’sjourneyfromreformismtoneoliberalism”.
Em International Socialism, julho de 2 0 17 , edição 1 1 5 .
55 n . da e .: referência ao personagem Lionel Verney, do romance O
último homem (1826) de M ary Shelley.
55 n . da t .: o autor utiliza a expressão man without a chest, que faz
referência ao ensaio de C. S. Lewis de 19 43, A abolição do homem:
“Em uma espécie de ingenuidade macabra, removemos o órgão e
demandamos sua função. Criamos os homens sem peito e esperamos
deles a virtude e a iniciativa. Zombamos da honra e ficamos chocados
ao encontrar traidores em nosso meio. Nós os castramos e exigimos
dos castrados que sejam frutíferos”. (A abolição do homem. Rio de
malandro com seu rosto histérico de Coringa. Já o implausível
ato de reinvenção de Brown era precisamente aquilo pelo qual
o próprio partido precisou passar; seu sofrido sorriso falso, o
correlato objetivo do estado real do partido, que havia capitu
lado inteiramente ao capitalismo realista: vazio, e covarde, suas
entranhas substituídas por simulacros que uma vez já parece
ram reluzentes, mas que agora eram tão atraentes quanto uma
tecnologia computacional dez anos depois de seu lançamento.
Em condições nas quais se atualizam realidades e identi
dades como softwares, não é surpreendente que os distúrbios
de memória ocupem atualmente o foco da angústia cultural -
pensemos em exemplos do cinema, como Amnésia, Brilho eter
no de uma mente sem lembranças ou a série Bourne. Na saga
cinematográfica dedicada a Jason Bourne, a busca desesperada
do protagonista para reconquistar sua identidade corre lado a
lado com uma contínua fuga de qualquer sentido do “eu” fixo.
“Tente me entender...”, afirma Bourne, em uma passagem do ro
mance original de Robert Ludlum,
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que a corrente de temporalidade humana, social e histórica nunca
seguiu seu curso de forma tão homogênea. (...) Portanto, o que
agora conseguimos perceber - e que começa a emergir como uma
constituição profunda e mais fundamental da própria pós-mo-
dernidade, ao menos em sua dimensão temporal - é que, daqui
em diante, enquanto tudo submete-se ao perpétuo contínuo de
mudança da moda e das representações midiáticas, nenhuma
mudança é possível.“
60 Idem.
61 n . da t .: “Nanny State”, um termo de origem britânica que expressa
a crítica conservadora ao estado de bem-estar social, transmitindo a
imagem de um governo paternalista, condescendente e superprotetor,
que infantiliza os cidadãos e interfere nas escolhas pessoais. A invenção
do termo é comumente atribuída ao parlamentar Iain Macleod (que o
utilizou em um artigo de 1965), mas foi popularizado por empresas de
cigarros, em reação às campanhas públicas antitabagistas, e sobretudo
por Margaret Thachter.
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