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por Benbow Ritchie, em The lormal structure ol the aesthetic


riência vivida com uma qualidade estética. Nesse sentido, as
object (A estrutura formal do objeto estético, lg52), por Isa-
eÁoçOes, em Yez de permanecerem fatos interiores' tornam-se
contrariamente
;;ú L"pressivot voltados para o exterior' Mas,através bel Creed Hungerland, em Poetic discourse (Discursô poéti
a^ rlprárãaó-ró*ut das,emoções, a.expressão da obra co. 1958), por Edward Ballard em Art and analyses (Arte e
ã"- il; produz tm surplust-um objeto particular uue cfr1ml- análise, 1957), onde, de várias maneiras deu-se prosseguimento
,r*ãl;,JÁãfào artística,,, diferente ê tigáau à emoção original. a uma teoria da "auto-significància" da obra de artê. Assim
Nitio t"tia" a particularidade da expressão artística' aque se uomo foi aprofundada a concepção da "iconicidade" da obra de
làtotu ao lado dãs outras formas de conhecimento' mas trans- arte, seja pelo já citado Wimsatt (1954), seja por Hungerland,
através de elementos não-conceituais. Tais ele-
-it"- turnne- característica
em "Iconic sign and expressiveness" ("Signo icônico e expres-
mentos são a da linguagem artística: sividade") e, enfim, por Herbert Read, em Icon and image
(Ícone e imagem, 1955), que interpreta a iconicidade da arie,
(...) toda arte possui seu "medium" particular e tal em Morris, como um princípio segundo o qual em cacla-ciiãção
*"áiu* é particularmente adaptado a um determina- artísdea háyeria sempre uma propriedade do imaginário sobre
do tipo de comunicação ( ' ' ') um medium' enquanto aidéia e sobre o cônceito. Também na Europa, a semiótica esté:
diferànte do material bruto, é sempre um tipo delin- tica teve seus seguidores, às vezes conjugada com outras orien-
guagem (DeweY, 1934, lO4)' tações teóricas. É o caso de Max Bense, que, na Aesthetica (Esté-
tica, 1954-65), combina a semiótica de Morris com as estéticas
Como se vê, remonta a Dewey a interpretação-da-arte como científicas de Birkhoff e com a teoria da informação. É o caso
linguagom, mas como linguagem-particular, dotada de caracte- também de Tomás Maldonado, que se volta para um aprofun-
.írfi;# ds imediaticidadel que Môrris evidentemente resguarda damento técnico e terminológico de Morris com o dicionário
iambém no interior de uma semiótica geral' Mas, enquanto Beitrag zul terminologie der Semiotik (Ensaio sobre a termino-
i;;ü-ri"d i-it *uiu à arte como linguággm .uma 9snécp .de
prefere distin-
logia da semiótica, 1961). Outras retomadas dos çonceitos mor-
ãuuiüujá;*perior", pois mais universal, Morris risianos surgiram também no campo do iconicismo, quando tal
i"i.-.rir simplesmenie entre vários "específicos" lingüísticos. noção se estendeu para o âmbito verbal (Valesio, 1967), musical
Óom efeito, DeweY afirmava: (Osmond-Smith, 1974') e até paru a comunicação animal (Se-
beok, 1976-1979).
A arte é um tipo cle linguagem mais uniçetsal do que
a linguagem falada ( -. .) a linguagem da arte deve ser 2.3 FORMALISMO E ESTRUTURALISMO:
adquirida (.-.) mas não é afetada pelos aciden-tes da ROMAN JAKOBSON
niitória que diferenciam os diversos gêneros da fala
humana (DeweY, 1934, 344). Não pode ser esquecido, na seqüência, um dos maiores
estudiosos da semiótica contemporânea, Roman [akobson. Tam-
atribui- bém ele tem uma orientação lingüística e literária mas, de resto,
|á Morris, pelo simples fato de que são linguagens' os atuais estudos de semiótica estética foram, em grande parte,
lhes um caráter de universalidade e tenta distinguir' no-campo
geral dos signos, as diferentes propriedades de cada precedidos por estudos de lingüística, estilística e poética. Ao
ãu
"iO".iu lado de |akobson, basta lembrar Tynianov (1923), Chklovski
uma delas.
(1925) e outros formalistas russos. fustamente devido ao carâter
A semiótica morrisiana teve grande desenvolvimento' tanto
na América corno na Europa. Nos Estados unidos, por exemplo,
literário de sua abordagem da estética, não aprofundaremos
u airii"çao de Morris entie "meaning" (significado) e "signifi
muito este setor. Limitar-nos-emos a acenar para um dos con-
cance" isignificância), isto é, entre possuir "denotata" e signi- óeitos fundamentais do formalismo: o da característica da men-
sagem estética.
ficar valorãs, foi amplamente retomadai pata citar alguns casos'

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de operacão que o stgno Esta última consiste na apresentação da mensagem de for-
Para compreender melhor o tipo e significativo, ma ambígua e auto-reflexiva, isto é, destinada a atrair a atenção
comunrcativó
desenvolve dentro de um pÍocesso
do destinatário sobre a própria estrutura e a se colocar de
muitos autores falam da ?unçao qry' eq geral' devem desen-
modo ambíguo com relação ao código, entendido somo nornla,
Éár, ErIc Buysserrs, seguido
volver o Discurso * ' il"grã;;*l a ação (man- ou seja, como sistema de expectativas.
oor Luis Prieto, tais }unçõãs Ião essencjalmente
A "ambigüidade" de |akobson torna-se verdadeiramente
u""'çao e a interrogação' Iakobson'
ili, ãl'àiá',';:;r*lh;;,ãreoria "desvio da norma" para Chklovski, e a auto-reflexidade, apre-
;'il*i;i;, propôs uma das funções da linguagem mats
sentação da pura forma para Tynianov. De qualquer maneira,
maneira especial'"de cer-
móvel e abrangente, árrt aa conta' de a coneepção formalista experirnentou notável desenvolvimento
tas atividades da lin'úgàÀ, .o*o a estética (ver Jakobson'
até os nossos dias, sobretudo quando acompanhada de uma tra-
1 e63). dição científica, lógico-matemática, de matriz alemã. Lernbre-
As seis funções são as seguintes: mos que contribuições importantes foram-lhe acrescentadas por
Abraham Moles e Max Bense, e que a própria concepção esté-
referencial'. afirma-se algo unívoco
e assertivo (A máquina
tica de Eco está baseada em |akobson e em análises posteriores
quebrou.); ligadas à teoria da informação.
"---]áiiíá o',t cle contato: náo se deseja " dizer" algo preciso' Como se viu, na teoria jakobsoniana da linguagem, a fun-
saudações' os sons
mas estabelecer a própria comunicaçâo .(as ção estética (ou poética) ocupa um lugar relevante. Isso porque,
telefônic.a);
de anuência em uma cónversação na concepção de |akobson, a poética é um setor da lingüística
i*;;;;;;;;' trdena-se alguma coisa' tentando
conattua dotado de algumas características "estranhas". Por um lado, ela
""
,,rr"iturr-determinadocomportamentonoreceptor; é interna à lingüística, porque é capaz de avaliar, mediante
da linguagem'
parafalar
metalingüístlca: usa-se u ii"g"ug"* instrumentos de análise da linguagem, a artisticidade de um
ou ainda, usa-se a li"ú;; puiu.iulut de outras linguagen-s' A texto. (Note-se que, para |akobson, o termo avaliar não signi-
dü;;;iingüísticã é"caràcterística do discurso científico; fica um juizo de valor subjetivo e individual, mas a pesqrrisa
receptor' por exem-
emotiva: vlsa suscitar uma emoção no de elementos formais que assinalem objetiva e materialmente
plo, ;";';; .*.r"-uiá"s verbais e' particularmente' suscitar a presença de artisticidade em um texto.) Por outro lado, porém,
uma resposta emotlva; a poética pode superar os limites da lingüística: as mesmas Çarac-
atenção no modo
poética on estétilcat visa concentrar a pela sub- terísticas que fazem de um texto verbal um texto estético estão,
por exemplo'
pelo qual ,ao proao,iáãt "-t"p*ttões' de fato, presentes de maneira análoga também em textos que
versão das regras usuals' se constituem mediante outros materiais de expressão. Prova
digamos' porque está, como diz |akobson, eue â função estética pode estar pre-
A subdivisão de jakobson é muito móvel' sente também na versão cinematográfiça, por exemplo, de O
contém apenas uma'
pr"rá q"" cada processo comunicativo não é necessário morro dos ventos uivantes ou até na hipotética transposiçáo pa'
Também
mas várias funções ao mesmo tempo' em ra quadrinhos da llíada e da Odisséía. Em suma, a poética é
dizet que hoje o tuis definiçõe-s tem sido colocado uma ciência ao mesmo tempo setorial e transversal: nasçe da
'ufo'-at
discussão: o qu" q'f"' di;";;";
exemplo' a função refe'rencial?
lingüística e a ela pertence de direito, mas pertence também,
(à exceção^'. talvez' da
De fato, ela não ;'";'t;"i; so11n.n1
de direito, à semiótica geral.
A função fática parece
iirtrt.üro"i"u " ao-noilario ferroviário)' é de um gênero A atenção de |akobson aos problemas da estética sempre
não ter importância excessiva e a emotiva Muito discutida é tam- foi muito grande. desde sua juventude na União Soviética. É
(psicológico) muito diferente das outras'
artística a um conhecida sua associação com os mestres da vanguarda russa,
bém a função estetica, que rcduz a mensagem
si mesmo' corno Maiakovski, NÍ7levich, Osip e Lila Brik, Klebnikov, Kruce-
;"t" p";"*;,,te foomal'de simples atenção sobre
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paises onde viveu' Entretanto, ele dedicou numerosas reflexões às artes visuais
nich, assim como com os artistas de todos os
cultural cotidiana com no quadro de um projeto mais geral sobre o desenvolvimento e
il;; ;;l;i pá.1i""tur-"nte ativa a troca
a suas obras' ele sempre a perspectiva de uma ciência geral dos signos. Por volta dos
ã, u.tirtur, ã sua contribuição teórica
problemas da poesia e, anos 20, por exemplo, analisando, mesmo sem utilizar sempre
ããai"á" rã"s te^tor de estéiica mais aos
em seral. aos textos verbais ou literários' a terminologia semiótica, o desenvolvimento das vanguardas,
-' ';i;;';;;; ;Gr-as suas reflexões teóricas referentes às )akobson implementava um trabalho intersemiótico pioneiro,
,íttJt (salvo as apreciaçóes do futurismo russo
mais "militante")'
relacionando os sistemas das artes visuais (em "Futurizm",
"o*""i"ud0..
dos anos 10, que p"ti"tt""* u '-' eifera 1919), da poesia (em Noveisaia russkaia Poàziia, 1921a) e do
com Malevich (a
É;il estas,'dóstaCu-o, a correspondência o opúsculo'so-
folclore (]akobson, 1929). Em suma: mesmo quando se estuda
;;; * &'muito destaque em |akobson'
um
1980)'
pequeno-ensaio sob.re
apenas a linguagem verbal, não se pode prescindir da análise
t;'M;;rü;t'r.i-il"r..utôn, 1e3ia) e da totalidade da cultura. A significação, como sugere Eco, tradu-
ã-"rãúi"*u do realismo na arte (Jakobson, 1963). Nesse-ensaio, zindo um dos princípios jakobsonianos (ver Eco, 1978), "é um
;#ffi;';r;;'-i;;;; cãnsideríçao Üitica em relaçáo. à histó- fenômeno que abarca a totalidade do universo cultural. Em
lâ ã" ,rrã â'i" iit"rãi*" tal como elas se vêm configyancto
ciências' E teste- toda parte, há signos fora da linguagem verbal" (Eco, 1978,
ute ftá3", isto é, como " cqttseries" e não como
nÍmero de termos usa' 14).8, de fato, |akobson não apenas se ocupou, no início, dos
;;ir; á"tta nâo-cientificidade o grande
linguagem da crítica' sistemas das várias artes, como já se disse, mas assinalou inclu-
dos de maneira e imprófria na-
sive o tipo de inter-relações possíveis no decorrer de determi-
E;;;;ã, "ut"ui
iár.orto" confusões advindas do ca-
",,,,àtu-ut
como no caso de "idealismo"' nados momentos históricos (em "The dominant", "O domi-
#; p"li;;ãi"i"o áot termos, filosófica' ora como desinte- nante", 1935), ou determináveis a partir de um objeto especí-
iri"rpi"tuao oru "o*o corente ou como no fico de análise, como no caso do simbolismo da escultura,
,"rr"'p"fot fatos materiais no ca[P! da literatura'sentido gtul?- visto através do mito de uma estátua em Puchkin, estudado em
;; á; termo "forma", entendidó às vezes
-em
Mas o termo mals "Socha v symbolice Puskinove" ("Puchkin e seu mito escul-
tical, às Yezes em oposição a "conteúdo"'
i;1;i1, ; ;'rea1ismo",'"ujà
-ioa"-t" acrítico- produziu conseqüên-cias tural", fakobson, 1937). Na maturidade, o lingüista soviético
;t;;ã";. Com efeiio, "to entendei "tealismo" sob duas chegou a definir teoricamente as relações entre os diversos sis-
propor uma
interoretaeões opostas: a intenção do artista de temas de signos, propondo um estudo comparado deles, e adian-
por parte do Íruidor' tando, entre os princípios de tal comparaçáo, a sugestão de apli-
;il;';;;;;olíi.ii o, o reconirecimento'
dar' em
ãã áa.quuçao da obra à realidade' Todavia' podem-se progres- car à música, ao cinema, ao folclore etc., o critério de pertinên'
em sentido
;il, ;; ôasos, duas interpretações, p.rimeiro caso, isto é,
uma
no
ciu ott de ampliar, da mesma forma, os pares lingüísticos de
sista e outra em sentido seleção/combinação, metdloraf metonímia e os princípios da poé'
"orrr..rádor:
artística, pode-se entender a pro- tica elaborados no Círculo de Praga (Jakobson, 1963).
a tendência à verossimilhança
aproximando-se da reali-
f"rrao a deformar os cânonás vigentes' artís-
São fundamentais, enfim, as páginas em que |akobson se
ã;á;, a tendência to,,,""'dotã dentro de uma tradição dedica à análise de textos não-verbais de aparência puramente
"
tica, consideruau à realidade; no segundo- caso' vale
sintática, como a músiça e a pintura abstrata. Aqui, o autor
"oÃã-iiel à reali
dizer, o julgamento Jieti'o sobre a.fidelidade da obra
assinala que tais sistemas também permitem interpretar seman-
dos 9u1:.""t
áua", poa"-te entender a percepção da de{ormação ticamente suas possibilidades de combinação, dado que, "subja-
como aproximação a t"ujiaual, e a deformação
dos hábitos
distin- cente a todas as manifestações do artifício, encontramos a signi-
da realidade' Baseado nestas
artísticos como alteÀção licância" (Jakobson, 1,974), ou a possibilidade de uma signifi-
formas de realismo em arte
fàer, lukobro.t up."r"nta diversas porém' o método formal da cação interna constituída pela remissão recíproca dos diversos
e literatura, upti"uráã a análise, componentes. A propósito da música, |akobson afirma:
própria poética,
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A remissão, no interior do próprio contexto, de um fato as artes estão ligadas a um sistema de convenções
semiótico a outro equivalente (...) A remissão musi- o.rtísticas. Algumas são gerais: por exemplo, o número
cal que leva do tom presente ao tom esperado ou guar- de coordenadas que serpe de base para as artes pltis-
dado na memória, na pintura abstrata torna-se a remis- ticas e cria uma distinção repleta de conseqüências
são recíproca dos fatores em jogo (Jakobson, 1974). entre quadro e estdtua, Outras conuenções, influentes
e talvez também obrigatórias para. o artista e paret
E a propósito do conjunto das artes: os destinatários imediatos de sua obra, são impostas
pelo estilo do país e da época. A originalidade da obra
(...) paralelismos de estrutura, diferentes na constru' está limitada pelo código artístico dominante na época
ção e ordenação, permitem ao intérprete de qualquer e na sociedade dadas. A rebeliã.o do artista ou sua fid"e-
sinal rnusical imediatamente percebido inferir e ante' lidade em relação a certo.s regras sõo concebidas pelos
cipar um constituinte ulterior correspondente (por contemporâneos em função do código que o inovador
exemplo, uma série) e o coniunto coerente dos consti- quer inlringir (Jakobson, 1974, SS).
tuintes (...) O código das equivalências reconhecidas
entre as partes e a correlação de tais partes com a 2.4 FORMALISMO E ESTRUTURALISMO:
totalidade é, em grande medida, um coniunto de para- IAN MUKAROVSKY
lelismos aceitos como tais no quadro de uma época,
cultura ou escola musical dada (Jakobson, 1974). Roman |akobson foi, sem dúvida, o maior representante
daquelas co-rrentes que, entre os anos 20 e J0, deram lugar às
tendências formalistas e estruturalistas no âmbito da críti-ca da
Da existência de alguns princípios semióticos comuns às di-
literatura e da arte. Mas se ele representa a polaridade mais
versas artes não-verbais e à literatura, fakobson extrai a idéia
rigorosamente lingüística daquelas correntes, pertence a um
de que a arte em geral, como fenômeno semiótico, é analisável
outro membro do Círculo Lingüístico de praga, Iãn Mukarovsky,
em termos de linguagem e operações sobre a linguagem. A pri-
um papel fundamental na constituição de uma estética semiô-
meira e fundamental dessas operações será precisamente a corre-
tica. Mais que membro estável do Círculo (colaborou nas fa-
lação interna de elementos simultâneos ou consecutivos; a se-
mosas Tesi (Teses), de 1929), Mukarovsky foi sobretudo um
gunda poderá ser a espera daquilo que numâ obra é conseqüente,
companheiro de estra_da dos expoentes do estruturalismo pra-
vem "depois" da aparição de cada elemento e baseia-se em sis- guense, também devido a uma formação diversa e a uma dife-
temas habituais ou em codificaçóes específicas. Um projeto de rente utilização da lingüística, a qual foi para ele nada mais
semiótica geral da arte nessa base é, portanto, possível: que um_princípio metodológico fundamental para a pesquisa no
campo da estética e da teoria da árte. A originalidaaã aé Muka-
A arte se esquivou por muito tempo da análise semió' rovsky está justamente nisso: no fato de não ter aplicado rigida-
tica. Contudo, não hd dúvida de que todas as artes - mente nem os princípios do formalismo, nem os do estruiura-
sejam elas essencialmente temporais, como a música lismo, mas de tê-los conjugado com uma teoria social da arte
e a poesia, ou de natureza meramente espacial, como, e da estética, eliminando destas últimas tanto o psicologismo
a pintura e a escultura, ou ainda sincréticas, espaço- (a idéia de que a obra depende das condições mentais do aútor),
temporais, como os espetdculos teatrais, o circo e o quanto a sociologia vulgar (uma concepção da arte como deri-
cinerna referetn-se ao signo. Falar de "gramdtica" vada das relações econômicas e sociais existentes em uma coleti-
-
de uma arte não é fazer uso de u|na metáÍora ociosa: vidade). Essa concepção original consiste num princípio essen-
o fato é que todas os trtes implicam uma organização cial: a obra de arte, enquanto fato semiológico, é considerada
de categorias polares e significantes com base em uma como um fato social. De fato, se a obra de arte é um signo,
oposição de termos marcados e nõo-marcados. Todas isso significa que ela responde a requisitos aceitos numa sócie-

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dade e necessários à sua troca entre os indivíduos. A troca é
regulada, precisamente, por relações formais e estruturais, como dade de uma abordagem semiológica das artes, a partir do con-
a função, a estrutura, a série, o valor. ceito de obra como derivada não da consciência individual, mas
Os méritos de Mukarovsky como "outra" personalidade do daquilo que o autor chama de "consciência coletiva". Com efei-
Círculo de Praga freqüentemente não têm sido reconhecidos to, não é possível identificar a obra com o estado de ânimo do
como seria necessário. E isso depende pelo menos de duas cau- autor, porque ela é comunicável dentro de uma sociedade e,
sas concomitantes. A primeira reside no fato de que também
portanto, deve conter elementos aceitos por esta: deve ser um
a historiografia recente considerou o estruturalismo praguense signo, especificamente estruturado para ser o produto do imagi.
como uma espécie de apêndice do formalismo russo, a ponto nário social. Nesse sentido, a obra funciona como uma espéCie
de dar por encerrada aquela experiência, com o afastamento de mediador entre o autor individual e a coletividade. A bbra
de Praga dos formalistas russos, nos primeiros anos da década de arte, entendida como signo, sem dúvida é dotada de auto-
it de 30. A segunda, mais grave, consiste, ao contrário, na desvalo-
nomia e forma uma série com as outras obras-signo, o que con-
I
rizaçáo do estruturalismo por parte da ideologia marxista domi- fere autonomia também à estética, que é precisamente uma série
nante, razão pela qual os próprios textos de Mukarovsky perma- de obras-signo. Entretanto, existe uma relação de naÍuteza
neceraln inéditos durante anos, na maicr parte até 1966, e ele muitas yezes extra-semiótica entre as séries estéticas e outras
mesmo foi forçado a escrever um artigo de repúdio às suas teses séries nas quais a obra está inserida (filosofia, política, ciência,
anteriores, no início dos anos 50. Resta, contudo, o fato de que, economia etc.). Encontramos, no princípio de relação entre as
enquanto estruturalistas e formalistas, elaborando a noção de diversas séries, a convivência de duas tendências da estética
"poética" e confiando sua análise aôs instrumentos lingüísticos tradicional, que o próprio Mukarovsky e, antes dele, dois filó-
e semióticos, rejeitavam toda filosofia da arte e toda estética, sofos tchecos, lan Zumr e Otokar Zich, ret.onhecem. Uma ten-
Mukarovsky representou a outra face do próprio estruturalismo, dência substancialmente formalista, que remonta a Kant e passa
reivindicando um papel central para uma estética semiótica, A por Schiller. Hebart, terminando no formalismo e no estrutura-
estética semiótica de Mukarovsky coloca em primeiro plano o lismo, e uma linha conteudista, que remonta ao iluminismo e ao
princípio da obra de arte como fato semiológico e da imanência materialismo mecânico, que passa depois por Schelling, Hegel
da própria obra. Mas, com relação a esse eixo fundamental, e a estética marxista. Por outro lado, também de um ponto de
recoloca no sistema estético também as questões extra-semióticas vista estritamente semiótico, a obra de arte, sendo composta
referentes ao autor, à sociedade, à série histórica etc. de uma "obra-coisa", que funciona como símbolo sensível, e
A principal obra de Mukarovsky é Studie estetiky (Estudo de um valor estético, que funciona como significado, é provida
da estética, 1966), que, no entanto, como dizíamos, é a coleú- de r,árias funções. Mukarovsky distingue quatro: três práticas,
nea, em primeira edição, dos ensaios sobre estética do autor, ret,.:ri:adas pelo lirrgüista alemão Karl Bühler (representativa,
quase todos saídos como comunicações ou artigos, entre os ancs expressiva e apelativa), e uma estética. Enquanto as primeiras
20 e 4A. No volume original, a primeira parte, "A função, a
tendem a sc rna-nifestar como dominantes e garantem a ordem
norma e o valor estético como fatos sociais" a mais interes- comunicativa, a segunda revela-se como polifuncional, multi-
sante do ponto de vista semiótico aparece- com o título de
forme, transparente e não impede a obra de agir em sentido
"Estética geral", contraposta a uma-,segunda, denominada "Teo- social. Algumas artes temáticas, por exemplo, a pintura, a arqui-
ria da arte" e a uma terceira chamada "Estudos sobre a arte tetura ou a dança (que têm um tema), mesmo tendo uma função
e sobre os artistas". Na estética geral, delineiam-se ao mesmo estética, têm também propriedades deriyadas das funções comu-
tempo uma teoria sociológica e uma teoria semi.ológica da arte. nicativas. Os dois tipos de função coexistem, e por sua dialétiça
O ensaio "A arte como fato semiológico" constitui, particular- é possível reconhecer o desenvolyimento de tais artes temáticas,
mente, um dos princípios teóricos fundamentais na história da que oscilam constantemente no mostrar sua rdlação com a rea-
disciplina. Mukarovsky defende aí o fundamento e a legitimi- lidade.

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nado comportamento etc. * tudo isso vai além da pró-
lVlas o que vem a ser es§a "relação com a realidade"?
parte'
pria palavra, de algum modo está fora da expressão
fvfrtuto"tf.y áprofunda a questão num ensaio da segunda
lingüística. Por isso a linguagem é um signo-instrumen-
:;À, ãri"_ rigúativas,,, no qual renta descobrir particularmente
"il;"i"; to, que serve a um fim externo. Uma obra figuratitta
a a rclaçáo entre obra de arte e objeto natural também pode, naturalmente, tender para a comunica-
";;" acena com o fato de que
;;;;il, ; [u* u obrà se refere'deEle"semelhança'', ção e ser, da mesma forma, um signo-instrumento.
o, dois existe uma relação como já sus-
Assim, por exemplo, as ilustrações de um catálogo têm
"rit."
;;t;";r" Charles Sanders Peirce e Charles Morris' O autor como objetivo comunicar aquilo que a palavra não pode
dois
orecisa. porém, que por "semelhança" podem-se entender expressar são um complemento legitimo da cornuni-
tffi"ât'*l;"."'; à" u-u semellrançá entre os rnateriais do -
cação verbal. Mas também a abra figurativa, tia de
;ti".";;;;l á os d* que é construída a obra, ou a relação regra, exprime alguma coisa, amiúde com precisão
."i0" o obieto natural e ô objeto representado' assim, por exentplo, o retrato ou a paisagen'1. Apesar
-
Todavia, uma explicaçaó da obra de arte ern termos
de
disso, o signilicado da obra de arle como tal não cort-
reducionista' Com efeito'
,i*pt.t;."ãâihurçu" ieria por demais siste na comunicação (...) O signo artístico, diferen-
a uma
u oÊru de arte "asiemelha-ie" ao objeto natural devido temente do cotnunicativo, não é servil, isto é, rtão é unt
diretos de espe-
íntinçao do artista e não devido aos'elementos instrumento. Ele não cornunica coisas, urus exprime
do artista implica"que,
lhamento entre uma e outro. A intenção unxa" determinada posição em relação às coisas (. . , )
;;;;;";unicável, a obra deva ser estmturada como signo' A obra, porém, nâo comunica estu posição por isso
à identificação da obra com urn signo: -
V;lt"-t;, então, o "conteúdo" de trma obrct de arte não é exprimível ent
palavras nla-s a taz nascer direiamente no fruidor.
A obra de arte (...) existe independentemente de sen- -
Chantamos essa posição de "significado" dn ohra ape'
com
timentos varidçeis. Ela se volta para o fruidor não nas porque ela é obietivamente tiada rt.a obra, ent stttt
uma relação acima de tudo
um convíte para estabelecer conforntação e, por isso, é sempre acessível u toclos e
para
sentimental, mas para compreendê-la' Não se ttolta senxpre repetível. Mas o que faz surgir essa atitude na
um único aspecto do homem, mas para o hontem
in-
obra? (...) De sintples meios de. represetttaçào, priva-
teiro, para suas faculdades' E mais: não apela a um
dos de significaclo próprio, t<tdos os componenles do
indivíâuo singular, mas a todos' É' criada para o
pú'
quadro tornam-se o quadro cotno um todo. Esse signi-
blico, e o artista, necessariantente, deseja que a obra
ficado global do quadro, proveniente de scu iogo corrr-
entabule um dirílogo entre si e o público; foi
criada
plexo, pode despertar diretatnetúe no fruidor unttt de-
com a exigência de que todos a contpreendam igtal' terntinada posiçao, ttplicável a cada realidade corÍl. tl
ideal'
mente. Se bem que tal exigência seia apenas qual entre en7 contato. Assitn a obra de arte, ttão (ttra'
praticdmente irrealizável, é uma propriedade essencial t,és do len'La, nlas precisatnente atral)é.t de seu sigttifi'
da criação artística. A obra de arte, portanto' é um cado artístico, inclefinível em palatras, cxerce turtrt irt'
qrr" deve mediar um sigrtificado suprapessoal' flttê.ttci.a sobre cL rtaneira pelcL qual o fruidor, se real-
"\gno que escrevemas "signo" e "significado"' vern à
Assim mente.teve Lul1a experiêrLcia dtL obra, verlt. cr realidade
meúe à signo mais corrente e conhecido: a palavra' tto ftttttro e agird ern relaçao a ela. É precísantente esttL
E não sent razão- Contudo, iustamente por isso' deve- a destinação mais adequada de todas üs artes ligura-
mos ter bem presente a diferença entre o signo artís' tivas e não apenas destas, mas de todas as ilríes en1
normal' não' geral (Mukarovsky, 19óó, 358-360).
tico e o lingüístico. A palavrtt, enl seu uso 'fint
paetico, seit,e à corntnicação' Tent um exterior:
Como se yê, na colocação do autor, a equivalência da obra
irn ro, tun aconteciftTento, exprimir um sentimento' des-
creve.r um obieto, estimular no receptor wn dete'rmi' com o signo abre uma problemática que se tornará tugar-comum

86 87
no debate estético-semiótico. Trata-se do problema da intencio- relaçoes com os artistas da vanguarda histórica). E ainda mais:
nalidade da obra de arte. A posição de Mukarovsky é clarar a a análise da arte requer a inter-relação entre três momentos,
obra como signo é considerada em sua intencionalidade; o signi- o geral, da estética; o setorial, das teorias de cada arte; e o
ficado não-intencional depende do fato de que a obra pode ser particular, do exame das obras e dos artistas.
entendida também como uma coisa. Devemo-nos deter, porém,
no significado do termo "intencionalidade" em Mukarovsky: 2.5 ESTÉTICAS INFORMACIONAIS
coerente com o princípio da irrelevância da criatividade indi- Um ensinamento que se pode tirar da estética de |akobson
vidual, não se deverá traduzilo como um processo mais ou é sua tentativa de conjugar o estudo humanístico com as teo-
menos consciente por parte do autor, mas como uma estratégia rias científicas modernas. Sabe-se que muitas pesquisas jakobso-
do fruidor. Este, para compreender a obra, deve se colocar nianas vão pari passu com descobertas no mundó da fisica, da
diante dela como um signo, portanto como se losse intencional. neurofisiologia, da acústica. Ou que seu "relativismo,, tem paren-
Mas a concepção da obra como signo comporta uma conseqüên- tesco com Einstein.
cia posterior, justamente o fato de que o valor estético qYe I A união das ciências humanas com as ciências físicas e
distingue deve-ser considerado como objetivo e supra-individual, teóricas não é, porém, um fato novo e remonta às estéticas mate-
como uma qualidade estruturalmente inserida na obra. Se isto máticas do século passado.
é verdade, é preciso explicar como, no decorrer da história, O objetivo de fundar estéticas científicas pode ser tomado
as obras de arte são avaliadas de forma diferente; e como, como reação ao idealismo de Hegel e de seus epígonos (como
numa mesma época, classes e indivíduos avaliam a mesma obra Croce, entre nós) e pode ser atribuído a filósofos como Hel-
com critérios fieqüentemente contrapostos. Em outras palavras: mholtz, Lipps, Fechner, Birkhoff e a um programa positivista
como se concilia a necessidade de pressupor o valor estético (a propósito, ver La scienzq e l'arte (A ciência e a arte, organi-
como objetivo e supra-individual com a evidência de que o valor zado por Ugo Volli, 1972a). A matematizaçáo da estética tem
estético é variável e descontínuo? Mukarovsky distingue, então,
em si um elemento ilusório: o de acabar por acreditar (como
entre a avaliação estética, que efetivamente é estável e cons- faziam Herbert e Wôlfflin e como fazem Moles e Bense) que a
tante, e a avaliação artística, que ao contrário depende de fatos função estética da mensagem reside totalmente no nível dá for,
extratextuais e que constitui a esfera de uma sociologia da arte. ma de expressão. a E é justamente aqui que se aguçam as maio-
A arte e a estética estão, portanto, separadas por uma conside- res críticas dos antiformalistas. Na verdade, como destaca Volli,
ração diferente da obra de arte: a primeira a considera como "as características da função residem numa relação particular en-
objeto, e a segunda, como valor contido na figuração. Derivada tre a estrutura complexa da mensagem e os vários fatores da
de fatos sociais, a primeira; identificada com a natureza sígnica comunicação" (Volli, 1972, 70).
da obra de arte, a segunda. Há, entretanto, um ponto de con- Um ponto de partida para uma estética exata baseada nos
fluência: não pode existir uma avaliação artística sem pressupor aspectos matemáticos da teoria da informação e da cibernética
a existência de uma avaliação estética universal, durável e obje- pertence a Théorie de I'inlormation et perception esthétique
tiva (tanto é verdade que todo artista trabalha como se devesse (Teoria da informação e da percepção estética, de Abrahãm
çtiat a obra-prima eterna e que todo crítico avalia como se sua Moles, 1958).
avaliação fosse estável); e não pode existir uma avaliação esté- O ponto de partida da obra é a considerução sub specie
tica sem pressupor a existência de uma avaliação artística, isto communicationis da atividade humana: enquanto atividade co-
é, de um funcionamento da obra dentro de uma sociedade (de
outra forma, a equivalência da obra com o signo cairia). Donde
4. Entenda-se por "forma da expressão", segundo Hjelmslev (1943), o
a posição geral de Mukarovsky, que tende a unir estreitamente conjunto das regtas que selecionam os elementos de expressão e os
o pensamento teórico e a atividade crítica (até na prática coti- colocam num sistema. Para a relação com o conteúdo, ver a nota 8,
diana, çaructetizada, como o foi por |akobson, pelas estreitas capítulo 1.

88 89
municativa, ela está sujeita à mensurabilidade pelas mesmas leis possível redefinir o conceito de originalidade e de inteligibili-
que orientam a transmissão mecânica de informações (a teoria dade da obra.
da informação, elaborada entre os outros aspectos científicos Corrado Maltese, em Se,miologia del messaggio oggettuale
relativos às máquinas). Tudo isso pode ser aplicável, segundo (Semiologia da mensagem objetuai, 1g7o), entiáiu,
Moles, também a aspectos da atividade humana que parecem cação de Moles, a reproposição da velha distinção a"
iã .àio_
,.valores nã."rràn
menos sujeitos a regras, como o desenvolyimento da própria entre "valores ilustrativos" e decorativos',, e uma t;;to_
percepção do mundo e a atividade estética. No fundo da proble- logia, porque uma informação estética, no sentido á" úoi"",-nao
mática levantada por Moles está, portanto, a consideração de pode ser mais que linguagem vazia. Uma mensagem
estética
que a concepção do mundo externo depende ou está estreita- que remete apenas a si. mesma não produziria maís que
refle_
mente ligada ao conhecimento de nossos processos perceptivos. xões em termos de identidade ou Çontempração imóvel
áu i.r.p"-
Moles exemplifica, no texto, a extrapolação da teoria da infor- tibílidade. Moles susrenta, porém, que ambôs os tipàs ã. i;iã;
mação com freqüentes exemplos, tirados sobretudo do campo mação estão dialeticamente presentes na obra de àrte
das mensagens sonoras e visuais. Desde o começo ele tenta " "oto.u
p.recisamente como preocllpação de funclo a de quantificrr;;;;_
esclarecer possíveis confusões terminológicas, delineando os con- o quociente de originalidade da ob., . ,r; ;;l;;_
'icamente
tgra-" O que, se se quer, encontra suas motivaçOes na burcu
ceitos de forma, periodicidade e ruído e, por fim, o de infor-
mação. Chega-se, assim, ao esclarecimento de um conceito bá- de descrições objerivas, sobretudo da vanguarclu .àriã*porarlu,
sico da teoria estética de Moles, o da diferença entre informação como faz, por exemplo, Eco, em Obra iberta, de 1962',;;;;
semântica e informação estética, sendo este último aplicável à arte informal.
estética geral. A importância de Max Bense é dupla: por um lado, propõe
uma dimensão analítica baseada .m inst.umentos conceituais
De acordo com os fundamentos da teoria da informação,
inéditos (a logística, a teoria da simetria, a estatística subatô-
uma mensagem é çonstituída por uma seqüência de elementos mica, a teoria matemática da informação), mas, por outro, tal
que transportam uma informação mensurável proporcionalmente
dimensão é sempre transformada em ação
à originalidade da mensagem e à sua imprevisibilidade. Para mesmo não pretendendo ser prescritiva, teve"uttrrut-ai."l;,-il;,
ser inteligível, a mensagem deve ser estruturada de modo redun- a função ae incidir
diretamente. na produção àrtística dos anos 5ó e 60 (pe_
dante, de maneira que no repertório de elementos à nossa dispo- sou particularmente sobre as correntes cinevisuais a" àrte
sição para transmitir uma mensagem não podem ser introduzidos programada). A Aestheticq (1954-65) bensiana tem o"valor
elementos estranhos a ele, que não são por isso significantes.
ea
característioa de ser também crítica militante e de partir
de
A informação, portanto, é reduzida pela redundância, pelos ele- cxperiências reunidas na revista de vanguarda Rot. A estética.
mentos de ordem impostos à eqüiprobabilidade do repertório à assim, acaba sendo entendida como estética da ,,constatação;,,
disposição, pela codificação. Se o Íeceptor, frente a uma mensa- is-to é, como uma espécie de arte aplicada, como prossecução
e
gem, se encontrasse na condição de conhecê-la estruturalmente não como prescrição da arte.
de antemão, a informação seria igual a zero. Que sentido tem, Bastante inovadoras são as ligações que Bense estabelece
então, falar de informação e de originalidade no caso de uma cntre_ as artes figurativas (sobretudo aquela que ele chama
-clesign' de
obra de arte já vista ou sentida? Moles diferencia, então, os " tradição contemporânea "). literatu ra
e publicitário, que,
dois tipos de informação, semântica e estética, a primeira estri- pela primeira vez, tem um lugar na pesquisá estética, provavel-
tamente utilitarista e preparatória para a açáo, a segunda anti- mente em continuação às relações que Bense estabeleieu com
Lltilitária, não-intencional, intraduzível em outros canais e prepa- Max Bill (pintor, arquiteto, gráfico e c)esigner) e com os teó_
ratória para estados de ânimo. As duas modalidades de apare- ricos pós-bauhausianos das ligações entre formas e perfeição
cimento da informação, todavia, estão sempre presentes ao mes- técnica, ligações que culminaram nas aulas de Bense nà Hocirs-
mo tempo e são inversamente proporcionais. Com base nisto, é chule für Gestaltung, de Ulm.

90 91
Os pilares especulativos da estética de Bense são Peirce, guradas e, nesse sentido, abre uma acirrada polêmica com aquela
pela primeira vez estudado na Europa como semiólogo; Morrit*, que ele chama a mais hegeliana (no sentido de interpretativa)
baliza da estética semiótica; Shannon e Weaver, fundadores da teoria estética contemporânea: a de Lukács. De qualquer forma,
teoria da informação; Wiener e os cibernéticos e, em grande permanece de grande interesse a tentativa de fundar uma esté-
medida, os teóricos da Gestalt, como Von Ehrenfels ou os tica globalmente objetual, baseada em teorias gerativas informa-
realizadores de uma estética matemática, como Birkhoff. cionais e, ao mesmo tempo, maúiz de um experimentalismo
A "estética exata e tecnológica" de Bense parte também suspeito de um novo idealismo, de uma metafísica da estética.n'
das Lições de estética de Hegel, embora o autor se coloque em As tentativas de "matematizaçáo" da arte sempre encontra-
nítida oposição a qualquer estética metafísica, a qualqu-er mo- ram, obviamente, ferrenhas oposições. Entre tantas, vale a pena
delo "interpretativo". A estética moderna, segundo Bense, deve assinalar a de Arnheim, mesmo porque colocamos este autor
ser "galileana", independente como campo de pesquisa, baseada entre os "parentes" da semiótica das artes.
na verificação objetiva da "realidade estética", buscando comu- Em Entropy and art. An essay on disorder and order (En-
nicar uma decomposição detalhada do real nos valores numé- tropia e arte. Um ensaio sobre a desordem e a ordem, 197 l),
ricos obtidos com a mensuração. Arnheim discute especificamente as teorias analíticas da arte
O fundamento de toda a teoria de Max Bense reside preci- baseadas nas ciências exatas (cibernética, matemática, física teó-
samente na confiança em que a arte possa ser definida como rica, teoria da informação), tornadas, se não em moda, certa-
"intervenção de seres inteligentes sobre situações estéticas". Nes- mente bastante correntes no panorama atual dos estudos esté-
se sentido, sempre se partirá de um dado real, posto que sempre ticos e dos estudos sobre o pensamento visual.
existirá uma realidade física que funciona como suporte de uma O texto, portanto, torna-se fundamental para relacionar a
realidade estética. Mas, enquartto a primeira tem um grau mais área de estudos explorada pelo autor alemão com as tendências
elev,ado de determinação, em conseqüência de leis naturais, a que nos interessam mais de perto. De fato, Arnheim polemiza
segunda é menos determinada. A obra de arte como elemento abertamente com as posições matematizantes do problema
espiritual, para poder ser percebida como tal, deve ter, portanto, da arte.
uma manifestação material e extensional qualquer e, além disso, Qual é a questão do autor? A teoria da informação, desde
deve ser uma realidade artificial, produzida pelo homem. Tal suas primeiras aparições (com Shannon e Weaver, e Wiener),
realidade estética, por fim, deve pertencer a um processo de ultrapassou seu âmbito puramente técnico: de um lado, afirmou-
comunicação. se no setor das máquinas simuladoras do funcionamento do
Transferindo a observação desses elementos para o campo cérebro, e, de outro, indicou um mo'do unificante de teorizar
de sua determinação numérica, Bense ilustra também de que todos os aspectos da vida cultural. A fórmula fundamental da
maneira se pode matematicamente dar conta de uma obra. A teoria da informação reproduz a da entropia, ligando-se ao se-
medida daquilo que chamamos "belo" pode depender, por exem- gundo princípio da termodinâmica e traçando uma concepção
plo, da dialética entre a complexidade do material utilizado e a estatística da realidade física. E, com os conceitos de fonte e
ordem de sua articulação (naturalmente por "famílias estéticas", receptor, de código, canal e mensagem, de ruído e redundância,
isto é, textos aparentados no plano da história da literatura e chegou a uma formulação fundamental de todos os tipos de
da arte e no de suas categorias); a indeterminação estética é, comunicação humana. Também a comunicação artística, na me-
pelo contrário, avaliável com base na teoria da informação (co- dida em que o conceito de informação, entendido como impro.
mo para Moles); a avaliação estética, o iuizo de valor, pode, babilidade, imprevisão e ruptura de uma ordem, torna-se a chave
enfim, depender da naítreza comunicativa da obra e, assim, ser interpretativa da criatividade lingüística de toda expressão.
Iigada à teoria matemática dos valores. Segundo Arnheim, porém, em todas as aplicações da teoria
Por fim, Bense descreve a própria teoria como "gerativa", da informação às atividades estéticas, nota-se uma contradição:
isto é, aberta, não fechada em um sistema de definiçóes prefi- enquanto se teoriza que a máxima informação corresponde à

g2 95
máxima imprevisibilidade, teoriza-se também que a máxima
O objetivo de Volli, com a outra antologia, é praticamente
informação corresponde ao mínimo de entropia, isto é,.à míni-
o mesmo, salvo que outras teorias, sobretudo"mat"ili""E -;;;:
ma desordem, à máxima ordem e à máxima previsibilidade. recem ao lado das cibernéticas. A questão é exatament;'#;
Arnheim propõe, portanto, estudar melhor e mais a fundo os não se trata de elaborar um único modelo de analise
conceitos de ordem e desordem e de verificar suas conseqüên-
em uma única teoria, mas de explorar as disciplina"
c;;;;;
sias em relação à noção de estrutura. Mas, entâo, ele volta à na busca de métodos que, transfeiidos para as ciências "iã"iifi"á,
sua clássica concepção da criatividade artística, fundamentada modifiquem a abordagem geral errr reláção aos objetos
,;;;;;;
em bases psicológicas, em estruturações do pensamento visual. dos' No curso da história ão pensamenio modernt,
.;;i;;:
A conseqüência óbvia é que a arte foge a qualquer tentativa ror*
as atitudes gerais no assunto: uma, ,,humanística,,, que
ãuÃ
de previsão e regulação " exata" . em reforçar a unicidade do fenômeno espiritual
;"riJ;
O uso da teoria da informação, como se viu até agora, "ráá;ã";;;;;;
"científica", que tende a ver nele os aspectos formais,;;";;i;;
oscila entre dois tipos de orientação: uma que a vê como um ,rão-causais de funcionamento. Ao coitrário de
simples instrumento auxiliar dentro de uma concepção de arte Eco, t;ã;;ir.
Volli não tenta englobar as análises científicas;";;
que, apesar disso, permanece ancorada na tradição da imprevi
rior de uma semiótica da arte. Ele procura antes colocar il#l
sibilidade da obra; outra, ao contrário, que a considera como semiótica junto às outras ciências. Daí resulta
a
um modelo teórico utilizável inclusive com o fim de projetar
o próprio texto estético. Nas últimas gerações de estudiosos, a
de teorias: semiótica,
.cibernética,
"Ã, :"riáp"Jça"
da informaçao, matimártíci,
lingüístico-transformacion-al, lógica. A primeira é,
segunda posição não apenas foi aprofundada, como também le-
ciência^ entre ourras, s9 b9m
ó"rt;il;;;
[ue mais nus inténiàe;-à; ,*
l

vada a conseqüências extremas. O problema é o seguinte: latos. Quanto à utilidade de taii abordagens,
ir pode-se pensar em uma definição " exata" e unívoca do texto Volli'é
a ciência serve à anárise da arte na med"ida em que "ut;;;ri;;;
artístico? A resposta é afirmativa, e a pesquisa não mais se c.ia representam momentos diyersos de uma
arte e ciên.
limita somente à teoria da informação como instrumento de aná- mesma capacidade
do homem de dar sentido ao mundo através a, prà.i,
lise capaz daquele resultado, mas estende-se à aplicação de qual- ."gri_
liva: ambas são "semióticas do real,' e, ,rri-
quer instrumento das ciências "puras" capazes de fornecer e1e- clemonstrar a_ presença de um caráter óstético "à-o 6ê;"
mentos à questão. Um exemplo de tal atitude é constituído por nu a"rãoú.riã
científica, poderá ser útir encontrar um aspecto científico (oero
duas coletâneas de ensaios publicadas na ltália no início dos rrenos a nível de projeções e interpretações da
rrnos 70: Estetica e teoria dell'informazione (Estética e teoria ,ã ãril.
de informação, Eco, 1972b) e Lq scienza e l'arte (A ciência . De resto, os ensaios contidos nõ vollme ta" "frrlgi.áa Rurãn,
I(ud Alsleben, Ernesto Ga-rcia Camarero, Xavie. n"p&i
e a arte, Volli, 1972a). No primeiro caso, o objetivo de Eco é tos,-Umberto Eco e dois de Ugo Volli) mostram
a"Í"rl
demonstrar como algumas diferentes aplicações da teoria da uma variedade
dc relações entre arte e ciênú nitidamente superior
informação a objetos estéticos podem ser retomadas e engloba- sc poderia esperar. Em primeiro lugar, pode_r"
; á;;;d
das no quadro de uma semiótica geral. E, com efeito, com a longa tradição de relações entre ortoir'"r*pos,
à"-orri."i-;;
introducão dedicada precisamente a esta tarefa, Eco consegue manifesta pelà
história das estéticas exatas, que remonta a Vico,
dotar de um horizonte unificado contribuições diversas entre si: , Br;rrrlt;;,
do nso da teoria, em lingüística, por |akobson, até a reflexão l,: "gpo abordagem rigorosamente formal, a Helmholtz"e Bir-
l<hoff, para chegar à linha informacional mais
sobre a informação musical de Edgard Coons e David Kraehen- recente. Bm se-
gLrrrdo-_lugar, pode-se reencontrar na tradição
buehl, Fred Attneave e Leonard B. Meyer; da estética geral de semiótica mais
Iormalizada (como a de |akobson e de Hjelmslev)
Bense e de Moles até seu uso em análise literária por parte do tártàl
tiva de definir cientificamente a própria íatureza "À,
soviético Zarccki. Em suma, a "cier-rtificidade" do instrumento da comuni-
cação artística, seja do ponto de vistá da substânci,
analítico (a teoria da informação) desloca-se para a semiótica, são (por exemplo, com o problema da especificidade
J" ;ü;;;_
conferindo-lhe precisamente o estatuto de disciplina "científica". de cãrtos
signos artísticos, como o fãto de alguns
dieles serem icônicos e

94 95
sua iconicidade não depender de uma semelhança com o real, Icraram claramente o desenvolvimento de estudos semióticos
mas de mecanismos especiais de convenção), seja do ponto de no campo estético.
vista da qualidade "estética" da comunicação artística. Com
relação a este último ponto, Volli tenta aprofundar o conceito 2.6.1 Galvqno Della Volpe e a relação
de "auto-reflexividade" da errte, proposto pelos formalistas rus- entre marxismo e estruturalismo
sos e que, do ponto de vista científico, ainda não parece satis- O primeiro deles é, certamente, a Critica del gusto
fatório, enquanto Eco, retomando o conceito jakobsoniano, pro- (Crítica
«lo gosro, 1960), de Galvano D"lll úlp;. Nesre ;;;;; õil;;
cura inverter o objetivo e, ao invés de analisar um texto já rrrn_famoso ensaio, .,Lao.coonte 1960.', qu"
produzido, tenta construir uma linguagem estética produzida em lirções "esrrururalisras.'_de Lessing, -a"
,.*at" às formu-
iaboratório. A "língua edênica" é reduzida, simples e destinada hOO, p-pãriiã^ àã
vez na" tiatiâ, agumas
irrtes.. Della-Volpe propõe, pela pn-meira
a mostrar as regras gerativas das mensagens estéticas. O resul- dcfinições dos divelosos traços êstruturais
tado é poder verificar que o uso estético de uma língua gera a*, urt.r-Iig;;?;i;;;
c..literárias, a_ partir do conõeito ae ti.r"ãrraua"lraã-ri"?ãriíri.
contradições a nível da forma de expressão que envolvem contra- ("progressividade,,, segundo Della
dições a nível da forma do conteúdo, ou seja, a ambigüidade da
Volpel aor rünÍi;;;ãil:
güísticos em oposiçào ãos Íigurativor-i'-'
forma acaba por implicar uma reestruturação do modo de per- A obra de Della Vglpõ tem muitos méritos, embora não
ceber o mundo. No que tange ao ingresso das ciências puras no csteja imune a conseqüênõias negativas.
âmbito da arte, existe uma tradição de análises matemáticas da ,r'imeiro estudioso malxista u ,ui", do
Com
-guero
"i.ir"";i; ;-;
obra; e existe, enfim, uma longa história de experiências artís- c.nsolidada estética sociológica, que julga'a
ae umá j; b.;
nas quais a ciência tem onru a. á.i",r0.àà,
ticas sobretudo de vanguardâ ,elo tanto de "sociaÍ" qye_ela apresenta. propõe,
- -
sido propriamente objeto da arte, desde os movimentos que sompre em sentido materialista, úma ", ;;r#;;;;;
estética ;roólofOgi; *.iãi
recorem à "computet art" ou à "arte programada" às expe- tlica", ou seja, atenta não apenas uo-
d; ;il;;
riências físicas da "arte cinética", até as aplicações das geome- l,rnbém. a. seus aspectos formáis _ ,-, "orrt.údo
iàitu.u au ãrrã-; il;
trias não-euclidianas. Uma estrutura ou programa científico t1.c inclui seus as,ectos técnicos e, pa.ti.rfr., ,"Ãr.,ti"àrl
pode, portanto, Íraduzir-se diretamente em programas estéticos. ,lado. que a "técnióa,' d, "m pode ser avaliada
Mas isso significa que um programa estético pode ser interpre- rro plano da linguagem. "É;;;;ui.';;,.I;r.
tado através de um programa científico. Nesse sentido, Della Volpe aplica de
maneira freqüente-
r.ente brilhante os mais recentes reJultados
aa n güirticllà.àf
2.6 O CASO ITALIANO: O ENCONTRO DE saussuriana e da glossemática hjelmsreviana
aos textos iiterários
r: poéticos, reencontrando seu valo*u.ià"rmtu
DTVERSAS TRADIÇÕES
xista dentro de uma visão materiufirtu ;;r;;';;;:
Com relação à fundação de uma estética semiótica, é pos- áà-reulidade.
Na esteira do sucesso das aplicações liter;;á;
sível falar de um "caso italiano". Iâ falamos sobre a maneira da lingüís_
destacada pela qual o fenômeno da semiótica da arte manifes-
j,::.q:1*, Della Volpe tenta uma transferência de seus concei-
r()s rundamentais ao estudo das linguagens
tou-se entre nós como moda cultural. Não obstante, apesar do
das outrr, à.ie ,
I,irÍura, escullura. arquitetura, músicã,
sucesso, não se pode afirmar o verdadeiro nascimento de uma lrrrrdar aquilo que ele *.r-o "Ir"*u. Emuma
ná mi.oa"çao,
suma, tenta
,.semió-
escola italiana. Com efeito, entfe os semiólogos da arte, contam- "hr-u,; ;;;i; .,Laocoonte
tica estética geral,,. Especialment"
t:..tém os fundamentoi de u-u a"r..ição-ãur-À.t.r-ii;;.;;ü, 1960,,
se, na Itália, na maior parte historiadores da arte que abraçaram
ou rejeitaram a noya tendência (neste último caso, aceitando-a
contraditoriamente) e que estão, contudo, ligados a uma con- 'i sobre Della-volpe semiórogo existe, entre
outros estudos, uma mo-
cepção bastante acadêmica da crítica. Deve-se falar antes de rrografia especificamente dedicãda
a iç* na matéria. ver Mo-
alguns elementos impulsionadores, que, nestes últimos anos, ace- rlica,1978. "."i.it

96
baseada em sua estrutura lingüística não-verbal' Nas pegadas loi um de seus críticos mais atentos. Seu Discorso tecnico delle
de um conceito de Lessing, não aprofundado pelo autor alemão, rrrll (Discurso técnico das artes, 1951) foi, nesse sentido, um
tenta distinguir linguagem verbal e linguagens não-verbais, com verdadeiro "escândalo" no panorama da crítica italiana: pri
base nas diferençaJde "apresentatividade" (isto é, de aparição): rneira tentativa de importação das tendências estéticas que, no
a primeira é ünêar; as sêgundas,-não-lineares. Dessa diferença cxterior, particularmente nos Estados Unidos e na Alemanha,
inicial ele deriva outras "tipicidades", desta vez relativas a ('stavam emergindo. Igualmente inoyador foi Le oscillazioni del
cada arte, de maneira a descobrir um "específico" lilgüístico 11rsÍo (As oscilações do gosto, L9TO), que remonta, como estru-
para cada uma delas. Provavelmente é este o equívoco do autor, Iura, a 1958. Mais representativo desse primeiro período é,
àquívoco que teve conseqüências negativas-.justamente. no plano t'rrtretanto, por sua atualidade permanente, Il divenire delle artí
dó desenvàlvimento da iemiótica na Itália, mergulhada, por lO devir das artes,1959). O livro nasce de diversas necdssi-
anos, na pesquisa inviável das linguagens "específicas" das rludes inter-relacionadas: por um lado, dar conta, de maneira
artes. simples e unificante, do intrincado panorama da crítica e da
Mas vejamos alguns dos "específicos" das artes figurativas, tstética internacional, de suas motivações filosóficas e ideoló-
segundo neita Votpé. A pinturá consiste em "signos que são lqicas; por outro, verificar a concretude das várias interpretações
lirihas e cores de superfície, isto é, bidimensionais" .e- que não rll arte no_ igualmente intrincado panorama constituíão pêlas
, orrentes da arte contemporânea. Tais correntes, inseridas no
são "nem incorpóreôs, nem convencionais, nem indiferentes"'
À escultura é "eipressão de valores, de idéias, com uma lingua- lluxo das novas técnicas de comunicação de massa, acabaram
gàm figurativa dã volumes não-metafóricos e de super{ícies lror invalidar os velhos conceitos e os velhos parâmetros da crí-
[u. t"v"u- à profundidade: uma linguagem de formas visuais tica tradicional, para reivindicar tipos de análise que abranjam
tiidimensionaii que expressam apenas-obietos visuais que se dão tliscursos antes considerados não-artísticos (publicidade, mundo
equanimemente êm suã multilatêralidade". A arquitetura expri- rlir "evasão", objetos industriais).
,rr! "idéiur, valores, com um sistema de signos visuais tridimen- O panorama dos anos 50 e 60 acha-se repentinamente
sionais-geométricos: com uma linguagem constituída pelas me- l,ovoado pelas mais desconcertantes manifestaçóes artísticas
didas aãaptadas à instituiçáo de ordens visuais mediante a repe- (' pelas mais contrastantes posições da uitica: qual é a
tição de *u.rur similares, onde se modifica o ambiente físico, rrurtriz comum a que podem remontar tais fenômenos? para
visando à necessidade humana". l)orfles, o fio condutor está em ver o mundo da arte e a esfera
A música é uma linguagem acústico-matemática, resultado (l() gosto como elementos em devir, em contínua transformação.
de um sistema de signoJ organizado como técnica semântica, A interpretação, por isso, não poderá mais ser normativa na
expressiva, do intervãlo f nota. A dança é uma arte cujo meio .rvirliação, mas baseada, antes de tudo, na pesquisa âos mecanis-
rrros de funcionamento, das técnicas através das quais as artes
expressivo'é o corpo e cuja linguagem visual é constituída de
é uma subespócie da rrrcontram explicações. Nesse sentido, Dorfles, após ter subme-
À.àtor (prttos e posições).-O cinema náo tirkr à crítica várias correntes da estética simbólica e semiótica,
pirturu, mas seu espácífico é constituído de algumas caracterís-
ii"ur, r reprodução da tridimensionalidade; o caráter analítico- llr,r",rra, em cada "atte", sua especificidade técnica e lingüística:
;rrrscncia de sintaxe na poesia contemporânea, atonalismo na
documenta'l do fótograma; o caráter de síntese de imagens-idéias
rrrtisiÇa de vanguarda, assincronismo no cinema e outros aspectos
f otodinamicamente montadas'
'1uc permitem compreender também fenômenos individuais das
2.6.2 Gillo Dorlles e a ampliação da estética ,rllcs dos nossos dias, como o informal na pintura, o analógico
rr;r poesia etc. Algumas avaliações, por certo, permanecem clãra-
No panorama da estética pós-dellavolpiana^, Dorfles pode rrl'nte datades. ôomo aquela sobre o próximo e rápido fim da
,., no âmbito dos precursores de uma formulação coe-
,:,r[.tica ssfiiir-rtica, *us não se pode sutestimar o uálo. pioneiro
;;;t. A" áisciplina, mas também no dos estudos e7962,
"olo"âdo das tendên-
, rrinda hoje educativo desse texto.
cias atuais da'semiótica das artes. Entre 1951 e Dorfles

98 99
Três anos mais tarde, com Simbolo, comunicazione, consu-
mo (Símbolo, comunicação, consumo, 1962), Dorfles delineia, d9 qma estética científica e as questões
cipais manifestações da arte atuai.
------ levantadas
^- pelas prin-
de forma mais esclarecedora, as características de seu discurso
estético sobre a cultura contemporânea. Todas as manifestações
culturais dos nossos dias, segundo o autor, são definíveis com 2.6.3 Emilio Garroni e a estética neokantiana
base em três parâmetÍosi a comunicação, processo sempre mais Emilio Garroni exerceu uma notável infruência
notado, dada a grandiosidade e a velocidade de transmissão do a vertente da construção de uma estética tanto sobre
pensamento através de novos canais de comunicação; o símbolo, a de uma teoria da aite de Uur.,
semiótica, áil; ;br;
Dele se podem
elemento de uso cadavez maior na comunicação; e o consumo,
processo crescente de obsolescência e decadência das formas,
;#;;;ii;;;;#;;rffi;:
destacar pelo menos três períoJó; "oÁuni".àrirur.
que coincide çom La crisi semantiro
que parece característico da comunicação atual. t.las artes, 1964c), está. inserido
íitià aril (A rãÁããii"-j
Este último elemento, em particular, acaba por impregnar lcs anos sobre a oossibilidad. aá
J;;iri;;;rre no"rir"
debate daque_
os dois anteriores: a incessante atividade dos novos meios de rrrado "estérica se'mântici', J
.àrrmi, aquilo que era cha_
r.gr-ra""f..roao é, ao contrário,
comunicação produz, sem solução de continuidade, novas formas dedicado à púpria construção dã
um ,iráa"to t;i,;;"-il'il;;;:
simbolicamente estruturadas, mas destinadas a um envelheci- ,retação semiótica das linguãgerrr rao-u..bai;, ;;;;ã;
mento precoce. Para Dorfles, não se trata de um processo que trrrnbém os objetos estétiõs,"e ;;Cffi;;
como foco central,
deva ser avaliado negativamente. Trata-se apenas de constatá-lo. ""-p1;;ã;,
.ed e.sietica ($;i;ti"" e estética, 196g) e
,rs volumes Semiotica
De resto, a redução ao efêmero é um tributó a ser pago à ampli t)rogetto di semiotica (projeto d" ,;;iltil; 1972a);
tude e velocidade do conhecimento. Liltimo período,.percebem_se , por fim, no
uÀ; ;;;;;t;ãuito maior e o afasta-
É, de fato, um dado a analisar, que também a arte, a lin- rncnto da semiótica como perspectiya
abrangente e geral de
guagem, a percepção e a própria çrítiça percebem a situaç{o ;rrrálise, incluída aí uma certà autocrítica
geral. Dorfles exemplifica sua discussão, ampliando a esfera da lirtivas precedentes. paradoxalmeri;;-; em relação a suas ten-
estética tradicional, como já fizera em seus primeiros ensaios, tlcsta fase ainda dedica o títuro á-à-ir"ipiiru,
texto exemplificador
Ricognizione deilu
em direção a universos antes não considerados, mas que o .;t,rttiotica (Reconhecimento
da r";i;-d;,'' 1977a). Mas distan_
aspecto comunicativo-simbólíco-consumista de nossa época justi- , irr-se-dela pelo conteúdo,
," uma dimensão mais
fica ligá-los às artes "maiores": a arquitetura, o desenho indus- .q.u9
lilosófica, deixando à semiàtica ";ii;;;;auu*ifiur.
,--úiJi
trial, a publicidade (nisto, seguindo as tendências emergentes Como se dizia, Garroni está ini.iãiÀ.r,t.
lritr da discussão estética tradicionai-sãilià inserido no âm-
na Alemanha de Bense e de Max Bill) e até a filosofia zen.
o p.ortema
da se-
Quinze anos depois, Dorfles retoma os problemas da rela- rrr:rrrticidade da arte..Até- o fim dos ã"ã, :0,.."*
ção entre estética e ciências humanas. Nas quarenta páginas , ;rrrpo estético, à antiga
"iãit",
,"
distinção u.t", á" i;;p, ;;;;
iniciais de Il
divenire della critica (O devir da crítica, 7976), tradição.Iessingiana, "nt."
r*;;;;àr_se
:. ::f"n^", le
r( nclaçao
:|: uma nova dife_
são reexaminados alguns fundamentos da crítica atual, especial- entre artes "semânticas" (por exemplo, , pirilr-;;
mente o debate sobre a semiótica da arte ou, com mais exatidão, ,",('rrltura) e "artes não-semântiru*,,"(por'a^emplo,
,r ,,r'rluitetura); o panorama teórico a música e
da pintura, para concluir depois com algumas interessantes aà'úeii", ü;ír-r";;fig":
observações sobÍe a relaçáo arte-ciência, arte-gosto, sobre o rrrrrrlo' com relação à questão,
a" -oJo-ruístanciarmente dividi-
kitsch, sobre as duas vanguardas, sobre o fenômeno dos multi- 'l'r; s5 partidários de uma semanticidade gerar da arte (susten-
mídias, sobre o problema do valor de uso e do valor de troca. r;,vi, que a- arte podia ser avaliada ao po"nto à"
lit'rrrlo veicula_do pelos signos artísticos),'ás riiri_
São coisas talvez já conhecidas, mas por certo renovadas pela "rrià-aà"
partidários de uma
rrrn scmanticidade não apenas
atualidade e pelo sumaríssimo, mas completo panorama sobre de algumas, màs de toau, ,, urt",
a arte contemporânea, que permite ao leitor iniciante descobrir í',('r(lo elas substancialmente difeientes'áà
,lut', fror sua natureza, é considerada firguug;;-;;;b;i
um primeiro nexo, uma primeira ligação entre o debate aaetca em relação"coá o signifi-
,;rrl.) c os detratores da validad, ao p.fiáma
(sendo a quali-
100
101
dade estética insolúvel em uma relação entre signo e signifi rlone as transferências conceituais puras
e acríticas da linsüística
cado). As primeiras contribuições de Garroni escolhem um c se torne uma verdadeira semiótica geral,
caminho diferente: dos fenômenos mais. difÍceis de analisã
dé à;;;;;;;
"upu,de vista comu-
ãã ponto
,icativo.e significativo:
(...) -as
linguagens náo-verbais ;"ir.üd"
as velhas distinções, os fatos o comprovaram, de- as visuais.

preciso lembrar, tód_a;ia, que a posiçã" "gil;;il;
monstraram-se equitocadas e incapazes de dar conta iamais foi "semiótica" no sentido tol.ai: suas pesquisas estão.
do significado, ou seja, da distinguibilidade "empírico- antes, voltadas para uma epistemologia das
conceitual" daquelas zonas críticas do fazer artístico,
t"ã.irl-r.,,iãii*J
c para a recupeÍação das posições lógicas, estéticas e
irredutíveis, salyo arbítrio, a esta ou àquela categoria teóricàs
uc alguns grandes lingüistas do passado. pertence também
(Garroni, 1964c, ll9). a
csse período uma intensa atividadê de curadoria
rlos textos clássicos da disciplina, as Tesis
,uru ,-ãái"a.
Ou seja: a recusa de uma concepção "semântica" das artes
["r"õ ã, êi.";,i":ã;
l)raga; as Teorie delle prepàzicioni (Teoria das prepo;;ã.;;),
Itrondal; os problemi di iign_iricato
ã;
como categoria absoluta, através da qual se possa decidir de lproblemàs ãã"rgrri*ià"i
antemáo se uma arte deve ser classificada sob o rótulo da dc Antal; os primeiros estüdos ,obrà peirce na ltália.
,
semanticidade ou da não-semanticidade. O problema, antes, é o Quanto,ao. aspecto.epistemológico, Garroni parte da idéia
de considerar o significado como um elemento variável da obra ,dc que as disciplinas lingüístico-semióticas são Laseadas num
(artística ou não-artística), no qual a questão não é encontrar a ç'statuto científico, forte, que contudo, posto à prova em
ãl|ei-À,
essência da esteticidade, e sim uma direção intencional do f.azer tlo análise fugidios como ôs.estéticos, especiufniá"t"
artístico, modificável de acordo com as situações e presente na
or'à;;';;;:
t"tl:,.q à comunicação visual, não confiàa sua pretensa-uniier_
obra, de maneira diversa, corno gradualidade. Por outro lado, é sirlidade. Em Semiotica ed.esteti,ca (1963), por
exemplo, Àártru_
impossível considerar a obra de arte fora do significado: :jc como a semiótica de origem lingüística nao
é áe ofere_
"upà,
r:cr instrumentos eficazes pãra u uáálire do fenôment"iÁ;i;
(...) o cotidiano (enquanto histórico, também ele é 1ir'írfico, o qual não se presta a ser estruturado em u"ia"a"rãnãiã
dotado de intencionalidade e semanticidade) estard co- 11irs às..da lingLlagem verbal, nem a ser caracteriruao .ornã.."rp;
mo que encapsulado na obra de arte ou eftt qualquer cíljgo", segundo a linha dellavolpiana, nem, por fim, u,",
uôri-
obra humana que signifique experiências não-precdrias, rrriláyel aos sistemas de carérter ãescontínuo arptá*.ni;
;;tt
não-contingentes; e não acreditamos que seia uma ex- e trlados. "
pressão pacífica aquela que afirma que a obra de arte Em Progetto di sem.iotica (projeto de Semiótica, 1972a),
estd "fora" do cotidiano. Se estiver, é porque o com- (l.c engloba também o livro anterioi, Semioticq
retira dele o significado relevante (Garroni, ('xirme do problema da ,,linguagem,,
irtiíiri,-'o
preende, "a
cinematográÍicar"
,'rr, a análise da ,.linguagem,,
1964c, 230). arquitetônica,*da qual ,."oÁpiltã
Ã;à;;
rr substancial metaforicidade (o próprio termo ;linguagem,,
J
A prova da relatividade do conceito de "semanticidade" da urna metáfora). Além disso, Gariori
(lrc, a seu ver, deve ser o caminho a indiãar"aquele
arte é fornecida pelo fato de que ela (como qualquer obieto) de "o-.çu
desenvolvimento a" r*u
é construída como tal pela análise: uma análise semântiça cons- r;er,iótica estética: um projeto teórico sistemático
,i"da toiui-
truirá o próprio objeto como semântico. A segunda prova con- rrrcnte por ser feito:-.que se livre do parasitismo -
siste nas experiências artísticas voltadas para a eliminaçáo da :r lingüística geral e elabore conceitos geiais
capazes "*,.Uçàà
de explicar
semanticidade da obra: índice este de sua existência não-abso- , aspecto comunicativo das várias artes, considerando_as
naã
luta, mas relativa (e em qualquer arte). 'especificidades,,, mas como conjunto a"
op"iojíÃ
O segundo período garroniano é constituído pelo ambicioso :::::1.:..::T
l)r'oouroras de sentido. A semiótica encontrará, então, iua
iun-
projeto de construir um modelo "forte" de semiótica que aban- \'ro, a de ser um instrumento de descrição á ã*
""pfiirçao
t02 105
,',r.1Á
,ir
:1
\,
diversos fatos operativos, ou, como diz Garroni, "um discurso rojeitam a superfície pintada devido à sua similaridade e paren-
meta-operativo " .
o projeto garroniano torna-s€ losco com a linearidade da página impressa, em favor de um
Nãs obras seguintes, porém,
chegar a um ceticismo parcial, :ristema de envolyimento simultâneo.
sempre mais autolriiço,'até
t" pode perceber em Ricognizione della semiotica (Reco- O modelo da presença é observado por Barilli sobretudo
"o-ã rras artes visuais, sendo menos incisivas as experiências dos gru-
nhecimenlo da-semiótica,l977a). A proposta de uma semiótica pos literários, mesmo que, nesse setor, possam-se notar algumas
como ciência meta-operativa, de fato, se de um lado garante-lhe pusquisas voltadas para uma fruição "autêntica" do mundo e
a coerência e a salva da contraditoriedade, ao mesmo tempo tlas coisas, como na supressão do diafragma convencional que
mina-lhe a confiança no valor de ciência interpretativa e a scpara a palavra impressa e seus objetos, rcalizada, por exem-
rebaixa para o nível de metalinguagem científica em relação a
1rlo, na literatura oralizada de Zavattini, na poesia visual, na
conceitoô já amplamente expressos no âmbito filosófico e, em rnorte da página canônica, experimentada por Butor.
particular, na dôutrina das categorias de Kant'
O modelo da ausência é baseado no critério oposto, orl
srrja, na análise, em.procedimentos dedutivos, no rigor das ciên-
2.6.4 Renato Barilli e a "culturologia"
.:ias lógico-matemáticas. E se propõe a executar um trabalho
Independentemente das declarações em contrário do autor, t:ultural não sobre a experiência dó mundo, mas sobre a reescri-
não se pôd" d.r"o.tsiderar como aparentado à semiôtica Tra Itrra e reformulação do já dito, do já ocorrido, do já culturali-
presenri e assenza (Entre presença e ausência, 1974), de Renato zado. Exemplos clássicos nesse sentido são justamente os nume-
barilli. Não se trata de um verdadeiro texto de semiótica das rosos produtos da vanguarda literária, como, por exemplo, as
artes, mas é inegável que um dos maiores críticos de arte ita- t'xperiências dos escritores franceses do nouveau roman, o1J as
lianos por vezes lança mão amplamente -da ciência dos signos: tlos italianos Calvino e Arbasino. A influência do modelo parece
de um-lado, pela pesquisa de dois grandes modelos interpreta- rnonor nas artes visuais, onde, contudo, assistimos à prática da
tivos (o que ja constiiui a pesquisa de uma norma); do outro, "r'eesçritura", conlo nas autocitações de De Chirico.
pelo notável éspuço que dedica às pesquisas semióticas (Morris), Mas Barilli não se limita a observar a açáo dos dois mode-
iingüísticas (Hjelmslêv) e neocríticas (Derrida, Foucault, De- Ios apenas em experiências criativas. Tenta, ao contrário, com-
leuze). prcender se também a nível das grandes estruturas teóricas, me-
Barilli baseia a critica estética e suas aplicaçóes em uma toilológicas e conceituais pode-se encontrar o mesmo mecanismo
oposição de modelos: o modelo da presença, ligado às filosofias 11r:ral. E a resposta é afirmativa: com efeito, sob o critério da
"ilundanas", como a fenomenologiá e o pragmatismo, todas. de l)r'esença operam as teorias fenomenológicas (Husserl, Sartre,
çaráter sintético, e o modelo da ausência, de carátet analítico, l\4cr1eau-Ponty), o pragmatismo americano e sobretudo dois au-
racionalista, confiante nos procedimentos da dedução' O modelo lr)res que Barilli toma como pontos de referência: Mcluhan e
da presença foi, segundo Barilli, retomado por dois d-e1tre. o.9 N4arcuse. Os dois são os profetas de uma sociedade tecnológica
maii presiigiosos ãutores em moda nos anos 60: Marshall (luc, enquanto tal, funciona sob o signo da presença, isto é, em
Mclulian e Herbert Marcuse. No primeiro, o modelo da pre- rrossa época todos os instrumentos de comunicagáo nos condu-
sença é legitimado pela tecnologia contemporânea baseada na zorn a uma estrita presença do mundo. Na vertente oposta, a
eletiônica,-enquanto para o filósofo alemão transferido para lirrha da ausência (que consiste em esquecer o mundo e em favo-
Berkeley u, métmrt cónclusões são propiciadas por Freud (gra- recer uma idéia do f.azer pelo Íazer) é constituída pela filosofia
ças à diminuição do trabalho possibilitada
pela eletrônica, resÍarát
l'r'ancesa contemporânea (Foucault, Deleuze, Derrida, Sollers,
mais espaço putu , libido, atualmente voltada para,fins produl Iulia Kristeva).
tivos). §of."-o mesmo modelo da recuperação da vida dos senti- Nesse quadro, reserva-se um papel à parte às disciplinas
dos trabalharam vários artistas. O happening, a atte poYera' sorniflisar e ao estruturalismo em geral. Embora, quanto à linha
a arte comportamental, a arte conceitual são movimentos que
lrrogramática geral, tenda para o modelo da ausência, todo o
to4 105
filão estrutural-semiótico aparece, segundo Barilli, duplamente de 1962, do debate sobre o conceito de "poética", colocando
orientado: paÍa a presença, quando interessado nos problemas cm confronto escolas cibernéticas e o formalismo russo; é o
do significado (e, portanto, também no horizonte do problema primeiro a discutir conjuntamente as posições filosófico-semió-
do mundo), e para a ausência, quando se limita à pesquisa sobre ticas (Peirce) e as lingüístico-estruturalistas sobre o problema da
o significante. Com Saussure, estaremos diante de um represen- articulação dos signos icônicos; é o primeiro, nos anos 60,
tante fundamental da primeira posição; com Morris e Hjelmslev a confrontar posições rigidamente convencionalistas e posiçóes
encontrar-nos-emos plenamente na segunda. Os capítulos que se rnaterialistas-mecanicistas sobre a questão do significado. Desde
referem à semiótica são, sem dúvida, os mais interessantes (tam- Obru aberta (1962), Eco formulava aquela que seria uma cons-
bém por sua vizinhança com a teoria tipológica da cultura da tante de seu pensamento sobre a atte: que a obra constitui-se
escola semiótica soviética), mas não porque Barilli, repetimos, numa mensagem fundamentalmente ambígua e auto-reflexiva.
proponha ele mesmo um modelo de análise semiótica, e sim Na edição francesa de 1965, ele recoloca a questáo em termos
porque reconhece à semiótica simplesmente um caráter de inter- iakobsonianos. Já em 1962, todavia, verificava a questão nas
pretação, encontrado também (e voltamos à chave de leitura poéticas contemporâneast as correntes de vanguarda, por exem-
da vanguarda que já vimos em Bense ou em Dorfles) no próprio 1rlo, visam explicitamente à ambigüidade da mensagem como
trabalho de certos protagonistas das correntes contemporâneas. Í'inalidade poética primária, valor preferencial a
rcalizar na
Contudo, é igualmente verdade que Barilli polemiza explici- obra. Determinado o conceito, os instrumentos para chegar à
tamente com aquela que ele define como "semiótica atomística" sua quantificação eram os matemáticos, da teoria da informa-
(ver Barilli, 1.982), identificada com as correntes mais estrutu- ção. Uma vez que os artistas contemporâneos lançavam mão de
ralistas (fakobson, de um lado; Hjelmslev, de outro)' E, quando ideais de desordem, era necessário definir a relação entre "for-
resgata alguns autores (por exemplo, Eco e Lotman), ele o faz rrra" e " abettrJta" , ou seja, os limites dentro dos quais a obra
interpretando suas posiçóes ou como explícita renúncia a teorias pode realizar a máxima ambigüidade, no interior de um quadro
geneializantes, ou como redimensionamento de obsessões totali- dc normas que continuam a caracterizá-la como obra. Dado o
iantes precedentes, ou ainda como convergência paÍa o projeto irrstrumento científico, era inevitável procurar as conexões entre
de ciência unificada que ele denomina "culturologia". Por outro ruma certa concepção de obras e as colocações científicas, por
lado, a ciência da cuitura, da forma como é proposta por ele, cxemplo, da psicologia da percepção e da lógica, que pareciam
não pode deixar de acertar contas com uma teoria da comunica- poder dar conta delas. O modelo da obra aberta é uma abstração,
ção, mesmo porque os pressupostos teóricos barillianos
já estão irrdica sobretudo um modo de colocar um problema artístico,
implicados na semiótica, por natureza' Com efeito, tais pressu- rrão r ma categoria críÍica, mas uma tendência operativa a ser
poôtos teóricos são, de um lado, a hermenêutica fenomenológica pcrseguida em diversos contextos ideológicos e culturais. Daí a
(particularmente Husserl) e, do outro, a sociologia da comuni- primeira formulação de Eco do conceito de estrutura, que não
cação de Mcluhan. ú entendida no sentido rigidamente "objetivo" do estruturalismo
l.rancês, e sim com a devida atenção à intencionalidade do
2.6.5 Umberto Eco e a estética semiótica ernissor da obra, ao fruidor, ao contexto no qual a obra se insere.
O verdadeiro elemento impulsionador (não só da semiótica, Todavia, Obra aberta é um momento de inflexão no desen-
volvimento do pensamento de Eco sobre a estética (um momento
como também de uma estética semiótica) é, sem dúvida, Umberto
Eco. Ele representa, sobretudo naltáiia, o grande sistematizador
rlo inflexão, bem entendido, não apenas no seu caso pessoal,
r)as no panorama global dos estudos na matéria). Obra aberta,
da semiótica, que passa a ser ligada também a terrenos práticos
tlc fato, por um lado conclui um período no qual, a partir de
de política cotidiana, mesmo sendo teorizada como teoria cien-
rttn ponto de vista estético, se examina a possibilidade de utilizar
tífiôa da cultura. Também Eco, não obstante seu empenho teó-
irrstrumentos oriundos do formalismo e da lingüística estrutural,
rico, coloca-se (no que concerne à estética) em um ponto inter-
rrssim como da teoria da informação e da teoria experimental da
mediário. É o primãiro a fazer um recorte original, por volta

106 l07
grau de informação, ou seja, o grau de imprevisibilidade das
percepção. Mas, por outro, inaugura um ponto de vista dife-
próprias mensagens.
rente: aquele que, partindo das ciências da comunicação, tenta Isto no que concerne à "produçáo" e ao reconhecimento
definir o papel e o estatuto comunicativo da obra de arte no de mensagens estéticas enquanto tais. No que tange aos juízos
interior de uma teoria geral dos signos. Existe uma diferença que lhes dizem respeito, estes podem depender também de
substancial entre as duas óticas: no primeiro caso, no centro do
códigos do gosto. ou seja, de sistemas de expectativa pelos quais
problema está o juízo de valor estético; .no segundo, ao contrá-
existe uma predisposição a considerar como "belas" certas men-
rio, o que conta é o embasamento cultural sobre o qual se dão sagens, e não outras. Em suma, há operações de "originalidade"
juízos de valor estéticos. Mas desde Lq struttura assente (A es-
que se consolidam no uso social cia linguagem com um juízo
trutura ausente, 1968b), encontramos em Eco uma divisão muito de valor positivo, ligado a elas. Toda "originalidade", portanto,
nítida. De um lado, está o problema do funcionamento dos uma vez em circulação no sistema do saber, torna-se fatalmente
textos que são também obras de arte; do outro, está o problema redundante, exatamente porque aceita.
da produção e da fruição estéticas. Enquanto o primeiro aspecto No quadro dos aspectos da redundância, além disso, pode-se
se resolve em uma teoria dos códigos (e no Tratado de semiótica também inserir o tema da medida de codificação das diversas
geral, 1975a, em uma teoria dos modos de produção sígnica), o "originalidades" artísticas. Alguns caracteres originais, de fato,
segundo é analisado também atrayés de uma pragmáticã da co- podem se repetir, qualificando o que fora classificado como
municação (que será elaborada plenamente em Lector in fabula, "estilo" de uma época, de um grupo, de um indivíduo. A repeti-
t979). ção de determinados usos é chamada idioleto e, no caso especí-
Nesse quadro, podemos indicar rapidamente alguns concei- [iço, idioleto est,êtico, que pode ser denominado, conforme as
tos-chave que percorrem (embora se reelaborando continua- dimensões, como epocal, social, de grupo, individual.
mente) o trabalho de Eco de 1968 a 1979. Em A estrutura No Tratado de semiótica geral (1975a), aprofunda-se, em
ausente, o problema das mensagens estéticas é examinado atra- bases hjelmslevianas, o conceito de "originalidade", fazendo-o
vés de dois momentos teóricos convergentes: de um lado, a tornar-se uma verdadeira teoria da invenção semiótica Eco
poética formalista do "desvio da norma", elaborada por |akob- distingue, com Hielmslev, um plano da expressão e um plano
son e pelo Círculo de Praga; do outro, a idéia de "quantidade do conteúdo,6 e cada um desses em matéria (o universo expres-
de informação" proveniente da cibernética. Retomando |akob- sivo e o universo dos estados possíveis do mundo), em substân-
son e Chklovski, Eco sustenta que a peculiaridade da mensagem cia (as ocorrências concretas que são materialmente expressas
estética é a de chamar a atenção sobre a própria originalidade pelos falantes) e em forma (os modelos abstratos aos quais
correspondem as substâncias). Tanto no plano do conteúdo
e diversidade: para fazer isso, a mensagem estética (se não se
quanto na expressão, a matéria ainda não é "linguagem": é um
quer voltar ao conceito idealista de "inefabilidade") tem à sua
clemento ainda informe que precede todo o processo de perti-
disposição apenas o material concreto com o qual é construída,
nência e segmentação. A linguagem, porém, está em movimento
isto é, a linguagem. O "desvio da norma" é, portanto, um desvio (como o social) e, portanto, podem ocorrer casos nos quais a
da norma lingüística, que pode acontecer tanto no plano da forma não está suficientemente estruturada para exprimir aquilo
expressão (elaboração de um código formalmente novo) quanto que se quer. Nesse ponto intervém, então, uma nova pertinência
no do conteúdo (inserir significados novos no âmbito do uni- da matéria da expressão ou do conteúdo, que renova os códigos
verso semântico consolidado). O critério da "novidade" é con- existentes e torna-os mais adaptados ao novo objetivo. O meca-
firmado por Eco também a partir da teoria da informação: se nismo da invenção configura-se, em suma, como verdadeira ins-
é verdade que todos os códigos podem prover, porque são fun- tituição de códigos, como um modo de produção sígnica no qual
cionais, um certo grau de redundância às mensagens (isto é, um
baixo conteúdo informativo), toda operação estética, sendo ba-
seada na originalidade, deve, ao contrário, aumentar muito o
6. Para a explicação do modelo hjelmsleviano, ver nota 8, capítulo 1.

108 109
algo é transformado por outra coisa ainda não definida. A con- perceptiva é considerada como modelo semântico codi-
venção se estabelece no próprio ato de inventar ambos os func- ficado (mesmo se ninguém é ainda capaz de entendê-la
tivos da correlação entre expressão e conteúdo. As invenções dessa maneira) e suas marcas perceptivas são trans-
serão resultados das translormações regidas pela ratio difficílis.7 formadas em um continuum ainda informe, com base
Mas vejamos como Eco define o processo de invenção global, e nas regras de similitude mais aceitas. O emissor pres-
com base em quais critérios chega a distinguir uma invenção supõe, portanto, nortnas de correlação, mesmo onde o
moderadq de uma invenção radical; functivo do conteúdo ainda não existe. Mas, do ponto
de vista do destinatário, o resultado aparece ainda co-
Para haver invenção, são necessdrios dois tipos de pro- mo simples artifício expressitto. Portanto, usando por
cedimento, dos quais um será definido corno modera- exemplo o quadro de Rafael como impressáo, ele deve
do e o outro como radical; ocorre invenção moderada proceder às avessas para inferir e extrapolar as regras
quando se projeta diretamente a partir de uma repre- de semelhança implicadas e reconstruir o perceptum
sentação perceptiva em um continuum expressivo, rea- original. Mas, às yezes,. o destinatdrio recusa-se a cola-
lizando uma forma da expressão que dita as regras de borar e a convenção não se estabelece. Ele deve ser,
produção da wddade de conteúdo equivalente. então, aiudado pelo emissor e o quadro não pode ser
totalmente o resultado de pura e simples invenção,
mas deye oferecer outras chaves: estilizações, unidades
combinatórias codificadas, amastras fictícias e estimu-
lações programadas. É, apenas devido à ação combina-
da desses elementos, num iogo recíproco de ajusta-
mentos, que a convenção se estabelece.
Quando o processo é coroado de êxito, eis que um not)o
plano do conteúdo (entre um perceptum que jd é ape-
estímulo modelo semântico
modeloperceptivo transformaçâo
nas a recordação do emissor e urna expressã.o fisica-
E esse o caso, por exemplo, do quadro de Rafael [Refe-
N.T.) e Não se trata tanto de unn nova unidade, mas de um
re-se ao quadro La Madonna del Cordellino
- discurso. Aquilo que era um simples continuum orga-
em geral das imagens de tipo "clássico", e é o caso da
nizado perceptivamente pelo pintor, pouco a pouco se
primeira reprodução ou reconhecimento de uma im-
pressão. Do ponto de vista do emissor, uma estrutura faz organização cultural do mundo. Uma função sígnica
emerge do trabalho exploratório e tentativo de insti-
tuição de código e, ao estabelecer-se, gera hábitos, sis-
7. Entende-se por ratio lacilis (e, ao contrário, por ratio difticilis) o temas de expectativa, maneirismos. Algumas unidades
tipo de relação existente entre tipo (o modelo abstrato) e ocorrência (a expressivas tisuais fixam-se de modo a tornarem-se
expressão concreta). A ratio lacilis acontece quando uma ocorrência disponiveis para sucessivas combinações. Surgem as
expressiva está ligada ao própiio tipo de modo institücionalizado pelo estilizações.
código (por exemplo, no caso do sintoma: a febre é interpretada como O quadro chega, assim, a oferecer unidades manipulti-
signo de doença, porque assim está previsto no código médico por veis que podem ser usadas em um trabalho subseqüen-
institucionalização). Ocorre ratio dillicilis quafido, ao contrário, uma
te de produção sígnica. A espiral semiósica, enriquecida
ocorrência expressiva está diretamente ligada ao próprio conteúdo, ou
porque não existe o tipo expressivo já socializado ou porque o tipo de noyas funções sígnicas e novos interpretantes, está
expressivo é idêntico ao tipo de conteúdo (por exemplo, no caso das pronta. para prosseguir ao in'finito.
impressóes, em que o tipo expressivo é idêntico ao tipo de conteúdo). O caso das invenções radicais é urn tanto diferente,
Ver Eco (1975a). uma l)ez que o emissor praticamente "descavalga" o

110 r11
modelo perceptivo e "escaya" díretamente no conti-
nuum informe, configurando o perceptum no mesmo mente, nem de invenção moderada pura; dado que
(como jd assinalamos), a lim de que a convenção possa
monlento em que o transforma em expressão.
nascer, é necessário que a invenção do ainda não dito
seja envolvida pelo já dito. E os textos "inventivos" são
estruturas labirínticas nas quais as invenções se entre-
laçam com réplicas, estilizações, ostensões etc, A se-
miose nunca surge ex novo e ex nihilo.
O que equivale a dizer que cada nova. proposta cultu-
ral sempre se desenha sobre o fundo da cultura jtí or-
ganizadq. ( Eco, 1975a).
transformação modclo pereptivo modelo semântico

Neste caso, a transformação, a expressão realizada Uma última observação acerca de suas implicaçeõs no
aparece como um artifício "estenogrdfico,, através do âmbito estético diz respeito a Lector in labula (1979). O tema
qual o emissor fixa os resultados de seu trabalho per- tlo livro é o da "cooperação interpretativa dos textos narrati-
ceptivo. E só apenas depois de ter realizado a expres- vos" e, portanto, um problema de pragmática do texto narrativo
sáo fÍsica, é que a percepção assume uma forma, e que, nurra primeira instância, não toca em questões referentes
pode-se passar do modelo perceptivo à representação a arte em seu conjunto. Apenas em primeira instância, porém,
semêmica. porque na verdade a cooperação interpretativa envolve o que
Tal é, por exemplo, o princípio segundo o qual foram llarthes definiu como o "prazer do texto". Na idéia de Eco,
feitas todas as grandes inovações da história da pin- Autor e Leitor de um texto não são (ou não são apenas) pessoas
tura, Veja-se o caso dos impressionistas, cuios destina- cmpíricas, mas estratégicas textuais, ou melhor ainda, papéis
tários se recusa\)am absolutamente a,.reconhecer,, os te- abstratos incorporados ao texto. Com efeito, este é concebido e
mas representados e afirmavam "nã.o entender,, o qua_ construído como uma espécie de mesa de jogo na qual as reglds
dro ou que este "não significava nad.a,,. Recusa esta clo desdobramento são as mesmas que deverão ser percorridas
devida não apenas à ausência de um modelo semân- irs avessas pelo leitor, de modo a interpretar o texto. A aposta
tíco preexistente, como no coso da figura 1, mas tam- ó a interpretaçáo, o ptazer é o prolongamento e a própria inte-
bém à falta de modelos perceptivos adequados, pois ligência do jogo. Como se vê, aqui nos deslocamos para uma
ninguém havia ainda percebido daquele modo e, por- característica diferente do texto estético, isto é, a de sua ligação
tanto, ninguém havia percebido aquelas coisas. com a fruição, que, mutotis mutandis, é assimilável a qualquer
Nesse caso, hd uma yiolenta instituição do código, ra- texto estético, mas não literário.
dical proposta de uma noya convenção. A função síg-
nica não existe ainda, nem pode ser imposta. Com 2.7 A FAVORE CONTRA A SEMIOTICA:
efeito, o emissor joga com as possibilidades de semiose PÓS.MODERNO E DESCONSTRUÇÃO
e habitualmente perde. Às yezes são necessários séculos
Neste item, examinaremos algumas recentes posições no
para que a dposta vingue e a conexão e a convenção
campo da estética que, à primeira vista, deveriam ser excluídas
se instaurem.
de nosso panorama, entre outras tazóes porque em certos casos
Esses fenômenos serão mais bem teorizados na seção
cncontramos acirradas polêmicas contra a disciplina. Também
dedicada aos tex,tos estéticos, caso tipico de intten-
é verdade, todavia, que as idéias \nti-semióticas de Lyotard e
çao (. . .)
Tudo o que dissemos até agora. leva a crer que nufica l)errida os principais expoentes do chamado "pós-modernis-
ocorrem casos de invenção radical pura e, provavel-
-
rno" e "desconstrucionismo" não seriam compreensíveis sem
que em sua base houvesse uma - tradição semiótica. E é igual-
1',t2
tt3
gãíl
ggl gigÊggs* gggeg;ggãs gE gsE
tEÊãg Éi ít t
devo a verdade em pintura e eu a direi". O método para com-
muito bem ser o de yer o regime do dispositivo libidinal no
preensão da pintura, segundo Derrida, articula-se em quatro
qual a energia liberada é canalizada.
fases possíveis: a compreensão da filosofia que domina o dis-
Segundo Lyotard, esse esquema de análise é muito mais
curso sobre a pintura; a decifração das analogias entre lingua-
coerente, em relação a qualquer tentativa teórica que "fecha", gem e forma artística; a análise dos sistemas de apropriação e
com a substância da arte contemporânea, que é arte que coloca reprodução da obra; a análise da hermenêutica da obra. Mas
em crise, que dissolve um sistema, exatamente como a crise eco-
os quatro itinerários de Derrida são alusivos, ao menos no sen-
nôrnica é um movimento de dissolução do capitalismo. A arte tido pedagógico do termo. Partindo de instâncias fenomenológi-
contemporânea é, para Lyotard, suscetível ao mesmo tipo de cas (notável é sua vizinhança, todavia critica, com Heidegger),
discurso que se pode f.azer, a nível econômico, sobre o capita- Derrida constrói apenas percursos desconstrutivos, que perse-
lismo agonizante. A dissolução da pintura ocorre como explosão guem o "sentido" das obras analisadas, mas se Íecusam a
energética, explosão a nível de "inscrições cromáticas". "explicá-las" ("não há nada a explicar").
Isso não quer dizer que os dispositivos libidinais particula- É particularmente significativo o último ensaio, no qual se
res não possam ser verificados também na arte do passado. examiná a polêmica entre Schapiro e Heidegger, a propósito da
Como comparuçáo (bastante ousada e pouco sustentável), Lyo- interpretação de um quadro de Van Gogh que representa um
tard toma o conceito de trabalho de Marx, aplicado ao capita- par de sapatos. Sem dúvida, a idéia de Heidegger é equivocada
lismo, mas nem por isso não aplicável à história pré-capitalista. de um ponto de vista determinista e, portanto; Schapiro tem
O fato fundamental está em perceber que os dispositivos ener- razáo em çritícá-la. Mas, na verdade, essa crítica se mostra
géticos são regulados, que a canalizaçáo da energia para a máo, impregnada de uma filosofia da intervenção que deve ser exa-
para o braço, para o modo de colorir está submetida a regras. minada com métodos psicanalíticos (e Derrida invoca Freud e
Do ponto de vista da análise concreta, Lyotard realiza a Ferenczi), uma forma de fetichismo pela posse da obra que se
verificação de alguns dispositivos característicos de períodos do manifesta através de três dogmas: os sapatos pintados pertencem
passado, paralelos aos desenvolvimentos econômicos da socie- a um sujeito real e devem remeter a ele; sapatos são sempre
dade em que atuaram. O autor examina quatro obras: Apoca- sapatos, mesmo quando pintados, e devem ser adequados a si
lisse (Apocalipse), de São !oáo; Flagellazíone (A Flagelação), mesmos e aos pés que devem portá-los; os pés pertencem, por
de Piero della Francesca; o detalhe de um afresco de Ambrogio sua vez, a um corpo, o corpo de alguém (os três dogmas são
Lorenzetti; Città ideale (Cidade ideal), de Francesco di Giorgio. negados tanto por aquilo que está no quadro de Van Gogh,
Nestes casos, trata-se sempre de quatro dispositivos diferentes, quanto por muitas práticas pictóricas, das quais Derrida mostra
mas caracterizados por pequenas variações com relação ao con- alguns exemplos, sobretudo a propósito de pés e de sapatos
junto dos dispositivos possíveis.
em Magritte). -
Na segunda parte do ensaio, examinam-se, ao contrário, - O exemplo de Derrida é útil, na medida em que exercita
dois quadros de Cézanne, dois de Delaunay, um de Klee, um
sobre um texto artístico o típico método da "desconstrução", na
de Tanguy, concluindo-se que, no caso da arte moderna, os yerdade teorizado desde De la grammatologie (Gramatologia,
objetos seguem dispositivos libidinais mais livres, não mais co-
1967). O problema real de Derrida é que ele não acredita no
dificados. A hipótese final é que o polimorfismo da pintura,
como da economia contemporânea, não reside mais no poder valor da interpretação, se por interpretação entendemos o signi-
de enlevo e sedução, mas na plenitude da libido comutável.
ficado real de um texto e sua reconstrução pela leitura. A única
interpretação "autêntica" de um texto não poderia ser outra
Ao mesmo tempo semelhante e dessemelhante é a posição
coisa que sua reescritura, na medida em que um texto ou
de Derrida, expressa de uma forma hermética, mas exemplar,
qualquer obra de arte, ou qualquer obra em geral -
pertence
em La vérité en peinture (A verdade na pintura, 1978). Quatro - a conti-
a uma tradição da qual não temos as chaves, da qual
ensaios e uma introdução compõem o volume, e são quatro en-
nuidade nos escapa, da qual podemos registrar as obras apenas
saios dedicados à pintura, a partfu da frase de Cézanne: "Eu lhes

117
r16
como traços opacos, obscuros, ininteligíveis de sua existência.
Desconstruir significa, então, iluminar tais traços e iluminar a
diferença em relação à continuidade da tradição de que Íaláva-
mos. Toda leitura é, entáo, possível, abetta, infinita. E a des-
construção, como sustenta Derrida em "Lettre à un ami japonais" 3
("Carta a um amigo japonês", 1983), não é nem mesmo um
método: é uma prática que escapa a qualquer definição que não TR,{DIÇÃO E PROBI-EMAS
seja negativa.
As teorias derridianas muito mais que as de Lyotard, DA SEMIÓTICA DAS ARTES
pouco conhecido nos Estados- Unidos muito influenciaram os
críticos americanos. Depois do "New - criticism", positivista e
racionalista, e depois do estruturalismo (mais aceito nos EUA),
os teóricos da literatura, na maioria da Universidade de Yale
(donde o nome "Yale critics"), começaram a desenvolver ampla-
mente as teses do filósofo francês, às vezes conjugando-as com
as de Roland Bartl-res ou as de Foucault, num curioso pastiche.
O aspecto teórico de Derrida tornou-se, assim, uma prática lite-
rária e se enraizou profundamente na'cultura americana de hoje iIAARTEÉLINGUAGEM?
numa multidão de correntes diversas ("destrucionismo", "pàra- É sabido que uma das mais frágeis constantes da crítica
crítica", "genealogismo" etc.). Mas a "reviravolta textual" não r.ojalrítica de arte, literária, cinematográfica etc') é usar uma
podia produzir senão uma tal conseqüência nos países do prag- ,'.,r'"i"oúgiu freqüentemente imprecisa é- confusa, ter um cunho
matismo: uma "teoria" (ainda que desprovida de um método) ,,,ctafóricã, ,"g.ri, *ui, o, *.,io, servilmente as modas cultu-
não pode ser verificada a não ser diretamente em suas aplica- ;. ;;-^;;;;à" ãào ai."tu*ente o andamento do mercado' uma
ções a textos concretos. ,i,;;'"ó;;;qüêncius do fluir retórico é que, com freqüência'.as-
E, para concluir, qual é a relação entre semiótica e teorias :..rlem-se com pouÇo rigor científico têrmos disciplinares liga-
"desconstrutivas"? À primeira vista, nenhuma. Ao contrário, rlos a outros contextos."Nos últimos dez ou vinte anos' isso
cuia
elas parecem se colocar como discurso antitético ao discurso ,,.o.."r, po.exemplo,-em relação à lingüística geral' sobentão'
semiótico, que, para usar uma linguagem desconstrutivista, é r.'"ttá'Ui,* mais àe um crítico tentou repousaÍ' Falou-se
tentativa de espelhamento da obra e de sua colocação nunr ,,.*"tú"., a. "linguug..n artística"' -de "linguagem cinemato- enÚe ou-
universo codificado. Mas, na verdade, o ponto de proximidade ,,,tii"r;, de "linguãgeir arquitetônica".,deconfundindo'
expressão com as aná-
é exatamente representado pelo distanciamento: as teorias "des- ,,1r,, .oi*r, o velÉo óà".eito crociano,
construtiyas", mesmo desejando um posicionamento de "desvio" '-- estruturalistas emergentês'
liscs -qu"
e de livre associação interpretativa no confronto com as obras, É-.rr.ioso, todavia, at" falar metafórico tenha conse-
têm com freqüência necessidade de um nível de análise "opos- 1,,uido, pelo menos, Àío*t em circulação a idéia da possibi-
to", precisamente aquele da evidenciação dos códigos. E, de il;;J; à" u*u análise dos fatos artísticos emantes termos de signo
de as bases
resto, como admite às vezes o próprio Lyotard, é exatamente ., pã.trrrt", áifurrdir uma consciência mesmo
esse o drama da obra de arte: buscando apresentar-se sempre t:ientíficas de tal urraiire estarem lançadas. A dificuldade veio
rlepois, quando se trátou i. ti"ut u i'"u dos entraves da ambi-
como obra dadaísta, acaba com freqüência por se codificar ou
grosseiros' E a tarefa
se autocodificar, falhando constantemente em seu objetivo e re- ;;iJ;d",';; lnexati,láo, dosaoequívocos.
làngo dela-' mostraram-se céticos
tomando-o continuamente. cra tão difíciI que
-"iiot,
sobre sua viabilidade.

118 119
O problema reduzia-se basicamente a quatro interrogações:
é- possível fazer com que os
rlos envolvidos com a questão (de resto fundamental) de
ava_
fenômenos ártísticos liar as relações entre arte e fatos estruturais e superestruturais
âmbito da comunicaçao? Existe aiferà"õa;;;;;; "ntr?--i-
municaç.ão da figuraç_ão plana, o da figuração
ril';; ;;: rla sociedade, isto é, entre arte e povo, entre arte e estrutura
tridimensional cconômica etc.
e o da linguagem veibal?^ É Íóito ."urii em uma O ponto de vista de muitos
pectiva, arquitetura, artes m€nores, pintura única pers- . estudiosos marxistas é, evi_
rlentemente, justificado: de um lado, uma análise estrutural
mensional? Existem
e figurrçaã ãiài- da
rieste
.características,-
que permitem posteriores
últir"; ;gr;pr.;;;, rrrte certamente não ch_ega a dar nenhuma explicação causal
articulações internas em bases diver- clos fenômenos observadoi; de outro, não podá substitri;
il;
sas da tradicional divisão históricâ áas- àrtesZ tleterminação econômica
Corrado Maltese, em Semiologia del messaggio oggettuale Além disso, certo formalismo 1evado a conseqüências ex_
(Semiologia da mensagem "q;;,-;; tremas, com base em uma consideração da arte em termos
-objetuãI, rc7cD ofÀ'Jruu
fundo, uma das razóesão desinteresse ou au i.p.""iraà-i..ntã r:xclusivos de autor-reflexividade, anula ô interesse por uma abor-
a esses problemas deriva de uma consideração àe ir.elevância rlagem que pode incorrer num retorno ao idealismo o"
por parte dos historiadores e dos críticos dã arte t*ái;irr;tr, tautologia. O que historicamente se tem esquecido, porgÀ,
;;
ttrra
e
sobretudo na Itália. o idealismo crociano continua resistindo. (lue uma semiótica da arte, propondo-se
a examinar esia última
Com isso, tornam-se vãos como sistema de constância e- regularidade dentro d" ,*u ufu-
_os apelos à linguagem, quando a ar_
tisticidade se resolve na "expiessão" e ó conceito individua- lcnte caoticidade e imprevisibilidade, pode muito bem ingôs_
Iista de "inefabilidade', e .,iriepetibilidade,,. N"rru p.rÀp""tiuã, sar em um projeto materialista-racionafista de estudo históIico_
todas as distinções entre estrutura das artes visuaiô e àstrutu- r:ientífico da sociedade, partindo, talvez, da história do traúa_
ras das artes verbais tornam-se irrisórias. lho intelectual no interior da história do trabalho humanà,
. Há uma passagem exemplar de Hjelmslev em relação à ati-
tude tradicionalista dos "humanistas,, tmu, poa.À;;';;;q"i- . Se houve quem simplesmente ignorasse a problemática da
rrbordagem semiótica da arte, houve também qrL* , t"nt
lamente traduzir como .,idealistas,,) qr. ,à1" u p.nu
_ u ,iÁ_
plesmente negado, como Morpurgo-Tagliabue ou Lomo Dufren_
" "it* ne. Morpurg«:-Tagliabue, por exemplo-, na esteira de Susanne
Ettt sua forma típica, essa trad.ição humanista nega l,anger, Iimita-se a declarar que a arte não é uma estrutura
a priori a existência d.a constâ.ncia e a legitimidade áe
procurd-la. De acordo com tal ponto de vista, os
comunicativa, náo é signo, não é código, não é sistema e, por_
tnenos ltumanos, enquanto opostos aos naturais, sã_o
fenô_ lanto,.não pode ser tratada com métodos lingüísticor,
nõ.o-recorrentes e, iustamente por isso, não podem ser tude de sua substância qpresentativa, como ,õ .uro da "-iir_
lingua_
sttbmetidos, como os fenômenos naturais, ct um trata_ gem verbal (Morpurgo-tagHabue, 1968, 5-45). Mais fuiaa-
fl7ento exato e generaliTante. No campo dos estudos nrentada parece ser sua çrítica à semiótica da arquitetura:
lu.tmanísticos, seria necesstirio um método d.iferente, ou
O termo significado tem um duplo emprego. IJm,,liyro,,
seja, uma pura descrição, que estaria mais próxima da
significa o livro. A coisa significa, e a palavra significa:
poesia que da ciência ex,ata ou, de qualquer modo,
um mas são duas operações inconfundíveis. A coisa repre-
método qLte se limitasse a uma forma discursiva de senta. a si mesma- A palavra (ou, se se quiser, o signo)
apresentação, na qual os fenômenos ocorressem um a representa a coisa, um além-de-si. No primeiro caso, o
Lam, senT seretn interpretados como pertencentes a um significante coincide com o significado, no outro não...
sis.tema (Hjelmslev, 1943). um pilar significa um pilar. Dizer que ele significa a
função de sustentar é como dizer que um ramo signi_
Por outro lado, também os estudiosos de origem marxista fica a função de sustentar folhas, hrotos e frutos (Mor_
quase não levaram em consideração problemas dã gênero, purgo-Tagliabue, l9ó8, 9, 2t).
to-

120 t2t
Em outro plano, o da assocíação das categorias da lingüís- () que Mounin não menciona, porém' e que constilui preci-
(como no
tica geral à análise das obras de arte, são muito críticos, por ,,rrrr'nlc o caráter semiótico das análises em Passeron
seu lado, o lingüista Georges Mounin e o estetólogo René Passe- Ctutt p"ui ti peinture, 1969) , é a descrição do ato
",,i,',,,."iii"rt"
todoi os ,"ú. -o*"ntos constituintes' dos
mais
ron. Para os dois franceses, a pintura, por exemplo, tem como r, 1,i,iiu.
objeto primário não a comunicação, mas a pura expressão auto- "-
rrrrrtcliitis, como as Çores e os instrumentos
de pintura' aos mals
segUndo o pintor e S.eys
reflexiva, o que exclui a possibilidade de ohamá-la "linguagem". lrrrrlcriais, como o conteúdo do quadro
à das
L'oeuyre d'art et les fonctions de I'appare;rce (A obra de arte i;,i,:;;;#.-í"à* rr"áámental, também- .luz nesuulsll
como os
e as funções da aparência, 1962) de Passeron, aparece na ,;;,;,,;;, ;;."*e dos modos de produção sígnica'-assim
França no auge do debate sôbre a validade da aplicação das ,,,i,],,átEco (1975)' Afinal e temos aí um elemento com o
categorias lingüísticas a diversas "linguagens" das artes não- ,r,,,'r"rn"t*" üà,rrir^"t1ã a"- acordo
--'
o fato de a obra' a
na relação entre o pintor e
verbais. 1',,,i,iiiii, ganhar um sig'i-ficado quadrl dit^
O autor é considerado entre aqueles que vêem o objeto lr (.s[cra dos fruidores cãnfirma sua presença no atraves qe
pictórico como um conjunto que escapa ao campo da semiolo- ,,r.,,iuniut e, de tal significado, é possível
dar conta
gia: "na medida em que a pintura, como arte e comunicação, l;, ,,';iáli';';;;ô,ust;i: daí'a sàr possível sustentar legitima-
não cessa de procurar a si mesma, ela escapa ao domínio dos rrrLrrrro a validade Au uíãfir" semiótica enquanto
teoria científiça
(com
sistemas semiológicos" (Passeron , 1962, 26) . Não obstante tal ;i,; ,,;;õGi, .rrirJ, ã distância é.reálmente pequena
posição de princípio, os problemas levantados por René Pas- ,l.ito, neste aspecto t. ÜÃ.iut as análises de Schefer' Marin e

seron e suas análises da obra pictórica permanecem bastante ,rutros, feitas dez anos atrás) '
pertinentes a um projeto de semiótica das artes. que se refere a outra polê-
Esiilr, "*t do, num campo (ô
É mesmo significativa a exaltação que Georges Mounin, rrrica, com r", uug"-rot u"ot Ob ensaio de Mounin é de
em chave anti-semiológica, faz das análises de Passeron, inserida Passeron é de 1962):
,'io+, ."p"fficado ãm Mounin, 1968; o de
como apêndice (com o título "Peinture et langage"), em sua ;r grolêmica entre a àu menor coerênciade uma semiologia
*àio.
Introduction à la sémiologie (Introdução à semiologia, 1968). ,lrr comunicaçao (Buíssert,
ptitto) ou de uma semiologia da
Mounin aprova, sobretudo, cerca de trinta páginas centrais .i;;iiõil (Barthesi. Tal discussão parece' todavia' ao menos
do texto dedicadas à questão "La peinture comme langage" ("4 (ver, pol9m: itens 4 '4 e 4 '5) '
'
,. ,i purte, hoje superada
'rj"-iipá'ruràu*Ã-tui;;t" diveqso- 9. a nglemi;3
pintura como linguagem"). Efetivamente, Passeron recusa a cô-
moda metáfora e, ao invés de afirmar a priori se a pintura é ou genera.le
HT:*
della criticq ('l'eorta gerat
1,,,. C"ru.é Brandi em Teoria de abordagem'
não linguagem e depois passar para a demonstração de uma ou lr" ..iii"á,
^Àrrtiãir"iplittu.-ã"" no tipo particular
§74). a t-ào -inierditcipli^"u"
"ttã a Brandi
outra tese, procura, antes de tudo, definir especificamente a pró-
pria pintura. Depois de ter descrito as condições de elaboração
,,*ir "o* 9u9
a construção ctitica
utttt visuaii' Nele'
irnalisa os fenômenot aát
de um quadro, o autor afirma que a obra, mesmo considerada síntese de lingüística geral.e estética
ú dada por uma
como objeto, existe também como não-objeto, como alguma coisa "ottúã*,
estruiuralismo
iruJi"ioirut, de e fenomenologia: sua linguagem
que transmite outra coisa a alguém, portanto como meio de comu- -^: a cada uma dessas orientações'
r'omete
nicação. Nesse ponto, porém, Passeron (eis aí a tazáo do elogio ót fundaáentais sóbre os quais.. {:poYt"..?,]1-l::
"astância" " e de "Ilagran-
de Mounin) distingue entre função de comunicação, como a rea- pretaçao de Cesare Brandi são os de
"on"eitos
"obra de
lizada pela linguagem verbal, e função de expressão: a expressão cia". A presença é ü;iio que comumente é chamado de arte
arte", isto e, u -utii.tiáça'á t a individuação
transmite alguma coisa apenas como resultado de uma conduta da obra
humana interpretável, e a pintura é exatamente expressão. O enquanto tal.
chamado "signo'pictórico" inventado pelo pintor encontraria, de
fato, um significado apenas a posteriori na comunidade de ex- -Traduztmospor..astância,,oneologismo.italiano,,astalza,',quesig-
presencia e está presente (N' do T')
periência emocional entre pintor e fruidores de sua obra. nifica algo que, simultaneamente'

122 t23
A obra como astância está fora da esfera do conteúdo e ao
Ao lado da teoria do referente há uma fundamentação
mesmo tempo não diz respeito ao formalismo exterior, bem como onto-
l,igica da_ astância, descrita em sua multiplicidad"
ao conceito hermenêutico (mas idealista) de ,,beleza,,.
A fla_ r)'r os diversos modos de contato com a ieaHdàãe áã
*,, ;.h"à;
grância se contrapõe à astância; flagrância do real, como crônica
, irr. A astância se ramifica em relação
flãg.ãr:
contraposta à história e narração ao juízo crítico. Uma teoria com as aivó.rifúuçã;^i;
,lirrlos fenomênicos: óticos, fônicoi, fônico-óticos.
geral da crítica visa encontrar o momento de passagem entre ,lirs.artes ocorre, assim,
a ,rbái"ir_
flagrância e astância a partir de uma fenomenololiu, sãm lanç;; :T base rigorosamente perceptiva,
-uTu
;rl)()iada em uma sensorialidade circulaãte,
mão da análise do significado. através áu qu;i ;;
rlctcrmina a astância.
_ A diferença entre astância e flagrância pode ser entendida, seguida, Brandi traça alguns esboços da estrutura da
todavia, somente a partir de uma baú semiótlica, e é exatamenté .Em-
r',rcsia, da música, do teatro e doiinema. E isso fundamentaào
neste ponto que Brandi introduz uma teoria do referente 1 que ('rr rma consideração geral:
parece decididamente inovadora (mesmo se não de todo mais que nas descriçõ; i;tr_
-muito
lizirrrtes das correntes, das influências
"onür-é
cente), considerando o fato de que o problema do referente de melhoi maneira
,lrr dar conta de uma obra é observandoJhe "po"u,a
um dos obstáculos mais espinhosos da semiótica. A teoria do a coerência interna,
,r cs.trutura_ própria. Brandi não apenas descrê de uma
referente esclarece o modo pelo qual o dado objetivo se elabora teoriá
trrril'icada das artes, como não aôredita em grandes
na relação com a linguagem e a própria estrutura da linguagem, divisões
l,('l ilIS,
que, para Brandi, não é exclusivamente troca comunicativa. Tal problemática talvez não possa sel considerada como es_
tril,r,ente semiótica, justamente pela matriz profundament;
hu;_
1. Tradicionalmente, entende-se por "referente', todo objeto ou situa-
',r'r'liana de seus fundamentos e
dã sua linguagem, mas constitui,
ção real individuada por um signo ou por uma mensagem. Contudo, a ( ortudo, um caso incomum de combinação ãnt.ó disciplin;
hipótese de uma correspondência termo a termo entre universo lingüís- lt'zcs tidas como irredutíveis.
;;
tico e mundo real é claramente metafísica, além de incompleta, daãa a Ainda no âmbito- estético, uuiê d.rtu.ur a posição parcial_
existência, por exemplo, de termos lingüísticos privados de referente, .r('rr0 anri-semiótica de Renato Barili (ver Bariili, rssil.
ou de outros termos, como os pronomes pessoais, que não têm referente .,,'rrrs "parcialmente,,._porque ói,
Íixo. Isso levou à impossibilidade de construir uma teoria do referente a chamada ,,estética t";;;b ;;;
,,rr "culturologia" barillianã está atenta para os resultaáosô;
completa e satisfatória. Certas teorias, porém, tentaram integrar o refe-
rente no quadro das ciências da linguagem. Ogden e Richards (1g25) l,r,stirs semióticos e, às vezes, utiliza alguns de seus at"_"ito,
(('()nro se viu no modelo ..ausência,,
propuseram um modelo triangular para dar conta da estrutura do signo, veÃus,,p..r.rgu,;, á;i;;
no qual o síràbolo (ou significante) está indiretamente ligado ao rãfe- t'.t ('s.anza e assenzo (E-ntre presença e ausência,
rente através da mediação da referência (ou significado). |akobson ,listinga, a nosso ver de moào erclrrivamente
lgi4)', embora
(1965), ao contrário, introduziu o conceito de referãnte, fazendo-o coin- rígido, ôrt." ,áu
'1'rriótica "forte" (reconhecida
cidir com o de contexto (condição necessária à explicitação da mensa- ,ll lljelmslev) e uma,semiótica_ sobretudo
,,fraca,'
ro *Jd.to iirgúrrti.ã
gem e cognoscível pelo destinatário): todo enunciado disporia de uma e, portanto, tautõlógica,
'função referencial" quando destinado à descrição do :mundo. itrc remeterr3 g-s posições de Lotman, de-um ladó, e É;;;^á;
Lyons, ao contrário, restringe a noção de refereáte (Lyons, 1977,|ohn gg) "'r.o' Em "Difficoltà di un approccio semiotico aila
não _às "coisas em si", ma1 às ,,coisas enquanto denomúadas ou Áigni_ ,1irr" ("Dificuldades de uma ãÊordagem semiótica du"rriuroú-
ficadas pelas palavras", Algirdas ]. Greimàs, enfim, propõe conside"iar lr,liirr", 1976a), a_ primeira posição é violentamente ;rl;;;;_
o mundo extralingüístico como informado pelo homem á por ele insti- criticada
, .nro_incapaz de d,ar conta
doi elémentos de inovação ,o .u_oo
tuído de significação. Então, o mundo não seria mais um ..referente,,, ,lrr cultura o modelo ,,for!e,'teria
mas ele mesmo uma linguagem, e o problema do referente tornaÀe-ia - capacidráã frãrririi";, ô'el
rir.s para aquilo que uma.cultura já
não mais questão de relações entre mundo e coisas, mas de relações cod-ificou, mas não para os
l;rt.os, em transformação. A segundã,
entre uma linguagem (a semiótica do mundo natural) e outra lingua- ao contrário, e .onriJ.râãà
rrrrilil por ser fundamentalmãnte parasita ou repetitivu
gem (Greimas-Courtês, 1979).
l:rç;io a posições já expressas ,o âmbito
.a .._
do pensamento teórico
124
125
sobre. a estética (por exemplo, as teorias de Susanne Esta perspectita revelou-se inadequada,
Langer ou, insuliciente e
anteriormente, as de Wc;ffflin ou do próprio Kant). sem conseqüência. prdtica.
a, ã.lti"rJ Eu o di[o não sem aurproT"i,
de Barilli, entretanto, parecem não lôvai em conta os dado que a cult-iuei por muito í"*,po,
avanços convencido de
mais recentes da semióiica, sobretudo da semiótica textuar. per- sua utilidade prtitica de sua produtiuidad".
manecendo fundamentadas em uma idéia da upti.uçao _e
grama ambicioso e .fascinante Uo, o- ero-
áãJàil- d.a semiótica ,:"r"íoí-r",
áu à ..iudeza" a. ruror.i.
plinas lingüísticas à estética ainda ligada numa consideraç.ão mais atenta, insuficiente
orr:i i""'-
ou ao imperialismo formalista de fafobson ao Cir"rfo
d. p;;;; dar um ponto de vista teórico'
;;" ser aplicado a
JI:l.u retomada, menos clara porém, de tais" conceitos N;;i, ntuitos setores d.e pesquisa. for"exempto,
1 980) "r" deira..semiorogia da arte, particutarlm"nt" uma verda-
d.as ,,artes da
.

O_cole lembrar, ainda no âmbito estético, a semiótica ..du- visão", não foi elaborada, n"*, otrorJ,
dela, obtivemos
vidosa" de Emilio Garroni. Desde Semiotica ed estetica-(§".iã- até hoie um acréscimo significativo
de conhecimento.
tica e estética, 1968). passando depois pelo mais E nada faz supor, se.nAo iomo simples esperança,
compleio pro_ se possa obtê-lo no que
getto di semiotica (projeto de seáióticu 1972a), puru chegar
, futuro, quando'a semiologii,
ao recente Ricognizione deila semiotica (Reconhecimento se costuma dizer, tiver se tornado ,adulta,,ic".;.;i "r*o
da"se- 1979,3).
miótica, 1977a), Garroni colocou em dúvida o ,ulor;;;;_
des sistematizações teóricas que terrtaram formalizar
gica e matemática o saber ertético e, mais em geral, d;ri;G_
A proposta de Garroni é substituir a pesquisa
semiótica _-
cação
i comuni_ vista
.como fechada, toralizante-ã-;iri.iiirirta,, em relação
visual. O projeto de.Garroni voltou_se maiJpará u p"rqriru humanas, devido à ,;; às
de uma dimensão categôrial nas artes que permanecesse inde_ :l:i:,::
,ulneno comunicativg _ po. uma ;r.tê;Iiá'a.
"iurriii.rr-',""j"
r.l
pendente do modelo da lingüística geral, do qual *ritu,
v"rÀ trtrída como ciência filosóiica.
nova semiótica, il;;;;_
ele.apresentou as dificuldades de a[ficaçao fóra da finguug"; ,lrrção de conhecimento üJti""as operações de r:ro-
e- esteja em ,oraiçá.rã.'j#;;r"
verbal. A- semiótica garroniana é, porlantó, uma pesquisu?" iipo ,,rrs operações ã:,:_
com uma linguâgem riproia. A
categorial, dirigida a soluções filosóficas kantianai e cassire- lirrrrda geração será, assim,-um-a ..rnfrri"u-
ã.-;;-semiótica
meta_operativa,
-à'p. Dois
rianas.
t c ; i;;
m a I i n gu a ge m. s i s t e m iá i
Com efeito, Garroni afirma: :,"^T:lÍ,.1 y entre
rI :oHrloscltrVâs,
as quais a estética. ^
rà i, .- ã ã, * ío"J i
Mais setorial, mas também Àuir-i.int.rna,,,
Se a semiótica até agora produziu resultados bastante
,, o ringüista francês ;;;-r"';; direção é a mítica de
ll:;lll::t'l:
,('r,çao aos autores aré aqui oposra em
parciais ou y er dadeirament e insignif icant es nes sa tir ea,
seu insucesso deve ser imputado não à iutentude da , ;rlrilidade e
citados: ,r* g.4-ú;jirffi;"r;iil
-ÃáJ.tã-iirgr,rnco
, (),ro um modelo$1 Rertinc,r.tu
,,feliz,') ao (entendido
disciplina ou à incapacidade dos semiólogos, mas a. uma. em outros comunicativos. E
"u*po,
ll:lll::11., apenas que
razão teórica não-superável. Simplesmente a semiótica conctui (exatamente-peia-'eficiência
rrrrgursttco) do modeto
não é adequada àqueles fenômenos (Garroni, l977a, gg). o .que for coerentà com ele p"á"-;.;;;;.;
,lelinição de,.sistema,,'semtoiiã-i;;l;;'r.
rr;rr,-verbal não possui uma,,tinguagem,,
Os modelos da lingüística geral, de fato, não podem explicar as características essenciais da linguagem
r, r bal. não podà ,.. .ÀÀruàu"::rirrr;";1
a arte, porque esta sempre mantém algum resíduo resistente à Tais características
',r() constituídas
análise. E, além disso, é impossível construir um sistema cate_ oela existência
l',,1o5 çsnu.rcionàis. rle_um
d";r';;p";tório finito
de sím-
gorial rigoroso como o da lingüística, na medida em que os sis_
I'irrirlórias
lado,
-d-e e a. uri"o.po de regras com_
temas artísticos se mostram irredutíveis à total pertinência de daqueles ,frnbolos,
setor comu-
suas partes. Garroni chega, assim, a uma espécie de retratação
"r""."ãrrfquer
possua tais óaracterísti"ur-nao é um .,sisrema,,.
[,:::,::"^
r\;r() sao -q,y.:^iã"
slstemas, então, alguns setores
de suas posições semióticas precedentes: vt'rriste examina: a pintura"e "o*uri"utirà,
, fotog.àfiu--M.r*o ;;;;;"_
que, com al_
126
127
gumas concessões, obras de arte possam se mostrar individual- no sentido de que ele tem um objeto que é aceito por convenção,
mente como "sistemas" em 3tg sistemas porque, no seu inte- ou melhor, que sua relação com o objeto é instituída por uma
rior, instituem unidades -
relacionadas com repertório e mostram lei. Os outÍos dois signos nem sempre são definidos por peirce
as regras de sua combinação para produção de sentido (ver Ben- de forma unívoca, ao longo dos Collected papers. Primeiramente
veniste, 1966, l97l). Peirce define o ícone como um signo determinado por seu objeto
dinâmico "em virtude de sua própria natureza interna", e o ín-
3.2 O PROBLEMA DO ICONISMO dice como signo determinado por seu objeto dinâmico em vir-
Um dos problemas fundamentais da semiótica dos anos tude da relação real que mantém com ele. Mais tarde, peirce
60 e 70, é, sem dúvida, o dos mecanismos de funcionamento elabora a noção de "nattreza interna": o ícone se refere ao
e da natureza da comunicação icônica. E a razáo é óbvia: objeto simplesmente por causa dos efetivos caracteres possuídos.
não obstante os avanços dos últimos anos, a semiótica ainda se A questão dos caracteres é um problema: Peirce susienta que
ressente de pelo menos dois grandes complexos de inferioridade. alguma coisa é um signo icônico de qualquer outra coisa devido
O primeiro ê maior deles está no confronto com a lingüística e à sua semelhança Çom essa segunda coisa e ao fato de ser usada
é, de certa forma, edípico: é o ódio-amor por uma ciência que como signo dela. A "natureza interna" do signo icônico consiste,
deveria ser filha, mas que de fato (mesmo que exista uma tra- portanto, em sua semelhança com o objeto deno(ado. Em outro
dição semiótica ou préJingüística) é mãe da semiótica' Com a lugar, porém, Peirce desenvolve o conceito de'ícone de forma
lingüística geral, que desenvolveu modelos coerentes e aperfei- cliferente: o ícone é uma repiesentação em virtude dos carac-
çoádos, trata-se de uma relação de dependência e de "ciúme". leres que possui como objeto sensível, caracteres independentes
Ô segundo complexo está na comparação com a lógica, da qual cla existência de algum objeto na natureza. Essa segunda for-
a semiótica deve emprestar determinados instrumentos de pes- mulação implica também que o ícone não comunica nenhuma
quisa, mas de quem não possui a densidade teórica e o rigor informação positiva ou fatual e não assegura a existência de seu
abstrato. O problema da comunicação visual desempenha, entá9, objeto dinâmico na realidade. Entretanto, o ícone, sempre s--
o papel de ieste fundamental da autonomia e da dignidade da gundo Peirce, é a única maneira de comunicar uma idéia, isto é,
reÀiôti"u como ciênci a çapaz de estudar Íodos os sistemas de consiste no simples fato de perceber que se trata de uma ima-
signos, mesmo porque a comunicação visual sai do terreno da gem. Essa definição satisfaria a explicação do status icônico de
lingüística e, por outro lado, mostra os limites de uma aborda- objetos inexistentes, como o centauro, a sereia etc.
gem puramente lógica. Mas, apesar dos esforços, por um bom O índice é, ao contrário, um objeto ou um fato real que
tempo os resultados foram bastante frágeis e discutíveis. Por sc torna signo de seu objeto dinâmico, porque está material-
anos, os estudos se contentaram com as formulações genéricas rncnte ligado a ele, e que se impõe à mente mesmo sem ser
de Peirce e sobretudo de Morris, sem discuti-las ou aprofundá- compreendido como signo. O nexo entre índice e objeto pode
las minimamente. Por vezes, mesmo, elas foram ignoradas, limi- scr de nat;:teza dinâmica, ótica ou existencial e a nattteza da
tando-se o debate à aplicação direta dos instrumentos da lin- ligação com freqüência oferece à consciência uma imagem de
güística geral, retomados sem nenhuma vaúaçáo. rrlguns caracteres do objeto, pela qual se obtêm dele informações
O ponto de partida do debate é Peirce, com sua conheeida positivas ou fatuais: a fotografia provoca uma aparência, mas
distinção triádica dos tipos de signo em relação com o próprio graças à conexão ótica com o objeto é claro que tal aparência
objeto. Peirce distingue entre índice, ícone e símbolo. O sím- t:«rrresponde à realidade. Mas o índice, tendo em comum com
bolo é definido de maneira talvez menos problemática que os
outros signos: ele é "determinado por seu objeto dinâmico" 2,
n:rtureza das coisas, o signo não pode exprimir" (Collected papers,
r{, 183; 8, 343' 8, 314). Em suma, é o objeto como entidade. Por isso,
2. Peirce entende por "objeto dinâmico" o objeto "como ele é", o objeto l'circe o distingue do "objeto imediato", que é, ao contrário, "o objeto
"realmente eficiente, mas não imediatamente presente", o qual, 'pela ('omo o próprio signo o representa" (Collected papers 4.536).

t28 1,29
o objeto algumas qualidades, compreende também uma espécie , l1r'1irrc a desenvolver aparatos argumentativos com o mesmo refi-
de ícone. ,,rrn('nto, devemos, entretanto, reconhecer nele um mérito im-
O conceito de "iconismo,, (ou ,,iconicidade") tem sido am- 1,,,rt:rnto: ele torna evidente tudo quanto aquele refinamento
plamente retomado e debatido na história da semiótica lr,rvirr carruflado, mascarado e obscurecido, isto é, que todo juízo
porânea. "àrt"À-
o primeiro a ocupar-se dele foi Charles Morris (Morris, ,l,r't' o significado pressupõe aceitar ou negar a objetividade
19J8, 1939a, 1939b, 1946), que, enrreranto, banalizor'o p.n- rl, rnurdo externo." Citamos esse trecho para mostrar o cenho
samento. de Peirce, sustentando que a similaridade consiste em ;,r,lr'rnico de todo o ensaio de Maldonado, que, embora cons-
propriedades comuns do Ícone e de seu Objeto (Morris, 19jg, rrrrirlo com um estilo agressivo de tipo leninista (o de Materia-
1939a) e que existem diversos graus de similaridade, calculáveis It.rrto e empiriocriticismo, é bom deixàr claro), não é núnca dog-
segundo "escalas de iconicidade,, (este conceito foi retomado rrr;,lico, mas conduzido por um notável refinamento teórico e por
modernamente também por Abraham Moles, por Martin Kram_
'rrrr;r
série de ligações conceituais extremamente estimulantes
pen e por Tomàs Maldonado). t.rinila que às vezes ousadas), que se movem por todas as áreas
O conceito de similaridade do signo icônico tem sido apli_ ,l,r'; disciplinas experimentais, procurando apreender suas impli-
cado, com diversas nuances e nem sempre com origem peirciana, ,,r(,()cs teóricas no plano epistemológico.
a diferentes setôres da semiótica. Mencionemos i individuacão Maldonado dirige a primeira parte do ensaio para a disctrs-
de elementos "icônicos" na língua natural por parte dt ,rt, 1[e5 limites do discurso lógico sobre a iconicidade e sobre
i;i;b_
son, Wescott, Wimsatt e Valesio, sobretudo nos textos estéticos; .r yrossibilidade de compreender as teses lógicas sobre a pro-
a presença de fatores visuais na música (Osmond-Smith, 1974); ;,,,sicão como teses sobre a iconicidade. Por isso, ele retorna
a construção de mensagens visuais (mesmo de ordem .,estética;j witlgenstein que, no Tractatus logico-philosophicus, afirmaria,
na.linguagem animal, individuada várias vezes por Sebeok (ver , rrr várias passagens, uma concepção modelística da proposição
Sebeok, 1976, 1979) e confirmada por estudos paralelos á" àtí , rlrr imagem. Tal concepção, derivada de estudos de engenharia
logia. Quanto às áreas que dizem iespeito direiamente a visaá, rrrr'cânica feitos na juventude, seria a constante de seu pensa-
o conceito de iconicidade tem sido igúalmente retomado e deba- rrrt'rrlo na aparente contraditoriedade que subsiste do Tractatus
.t:. ltit,estigations e às Remarks. Também em Peirce manter-se-ia
tidg \g campo do cinema, vale assinalar polêmicas entre pasà_
Iini e Metz e as discussões de Bettetini, Gaironi, casetti e Faras- ,) r'onceito da natureza proporcional do "icon", correspondente
sino, Muito morrisianas e peircianas são as interpretações do .r,, "Ilild" de Wittgenstein. O problema, porém, está em chegar
design fornecidas por Bense, Moles e Krampen. I.io campo da ,r rrrn entendimento sobre o significado a ser atribuído a pelo
pintura tem sido amplamente discutido o óonceito de simira- nrrrr)os um dos dois termos da questão ("ícone" ou "proposi-
ridade. ,,rio"). Maldonado dá como certo o segundo: a proposição não
As definições de Peirce têm sido submetidas a uma crítica r' o enunciado, nem um evento subjetivo, rnas um termo capaz
cerrada por parte de Eco, que lhes contestava a nocão de simi_ ,lL: significar um estado de coisas. Daí se conclui que também
larid.ade e, mais em.geral, a de relação com o referente. O ponto ,, ícone, se é proposição, não é um enunciado, e que estamos
de vista de Eco está coerentemente inserido nos limites de uma ,liirnte do problema do significado. Mas é válida a tese de que
teoria
.do -significado que elimina o referente do campo de per_
o ícone é um raciocínio no sentido lógico, ou seja, uma forma
tinência de uma teoria dos sistemas de signos. proposicional declarativa? A equação nem sempre é possível,
É exatamente esse tipo de concepçãó que foi duramente nrcsmo observando tipos de ícone que se comportam de ma-
atacado como- subjetivo-idealista por Màidonado, em Avanguar- nr:ira diversa (somativamente, constitutivamente, ou as duas coi-
dia e razionalità (Yangtarda e rÀcionalidade, 1974a) sas juntas). Mas Maldonado sustenta que tal contradição é parte
"Mencionemos particularmente a Eco, porque consideramos tlo próprio sistema icônico: espaço lógico e espaço icônico não
gu,e sua teoria do significado é muito rípiôa dà direção que o r,oincidem, mesmo porque toda essa problemática não pode ser
debate está tomando. . . Embora o novo modo de teorizai náo vista de um só ângulo epistemológico, mas de dois, um norma-

130 t3l
tivo e um perceptivo.
_Ícone e proposição são, assim, diferen_
ciados pelas maneiras distintas ai
os eventos. "itauàrecer
as conexões entre O ataque de Maldonado se transformou de imediato num
vcrdadeiro "caso", mesmo porque, na ltália, o sentido profun-
, , Voltando -à _questão
oe haver trquidado
do significado, Maldonado acusa Eco
apressadamente a teoria de Frege, über Sinn
damente racionalista da polêmica científica está, sem ãúuida,
adormecido há tempos.
und- Bedeutung, e de ter rejeitado muito sumariariente
as defi_ Eco, em pronta resposta ao estudioso argentino, admite o
nições de Peirce, com a acúsação de uma suposta circularidade
I'undamento de algumas objeções de Maldonado e, dentre
lógica (com isso Eco rejeitariá radical e idóahstica.;";; - de iconi-
dualismo referencial) . Nêsse sentido, o maior
ãJ;
-É.ã clas, principalmente a observação de que fenômenos
J" cidade se abrigám também na Iinguagem verbal. Mas para Eco,
é sua recusa do conceito de similarídade: entretanto,
"quiuo"oele teria o contrário também é verdadeiro: elementos de convãncionali-
isolado algumas definições peircianas do contexto mais geral
rlade são encontrados também no reino do icônico. Essa consi-
da teoria da iconicidade dos-colrected papers e, arém
airrJ, iã- clcração o teria levado a criticar a própria noção de relação com
ria ignorado apressadamente a problemática filosJfi;
gic.a ligada à própria similaridade. As ;;;r;"iã- o referente, elaborando uma semiótica anti-referencial ;,que fi
acusações de circíla.iauà1 zesse a verificação do significado dépender de sistemas de orga-
e de tautologia feitas a peirce desapareceriá. ,r*
.ru*" _ri, nizaçáo da cultura. . . e não do recurso ao suposto objeto a que
1"y..3d9.de.seu pensamento: a circularidade (melhor: ;.Ii.;i: rrm signo se referisse". Eco concorda também que seu projéto
dalidade) é um componente teórico do sistema à" a"firiçãÁ
A estrutura ausente a Le lorme del conteiuto (As iormas
co.loc.adg como hipótese pelo filósofo americano.
Ouunto ã-'tãu_ - de
do conteúdo,l97l) e ao debate sobreVersus, de 1972 corre
tologia (definir uma coisa com base na similaridua. .o- - a ver
ouià o risco de levar à conclusão de que a semiótica não tem
equivale a não defini-la, porque.todas as coisas têm
cornum) , Maldonado, afirma_ que colocar em dúvida
;ig;;; com os referentes e que os ícones resultariam de processos con-
pri"*lpi, vencionais, mas afirma ter revisto substancialmente tal posição,
da similarid.ade significa colocar em dúvida "
p.op.i"r-ãálr] conyencionalista em excesso. Seriam, basicamente, signôs moti-
tÍuctos te.óricos que "r
.fundamentam a práxis cienfífiü _
,,mo_ vados por estados de coisa, mas que mediriam tais õstados de
r.rlr 9-
stmutar srgntlicam consl.ruir similaridades; categorizar coisa através de transcrição governada por regras convencio-
e classificar significam ordenar similaridades". Trata-se
pergarntar que.tipo de similaridade é levantado pelo
,ãt., d. nais. Fica evidente, porém, a diversidade da posição de Maldo-
í.one p.iã rrado, e Eco não refuta a maigr parte das ciíticas. A respeito
rndrce de
- podeLeibniz em diante sabemos, de fito, que a" simi_ da identidade entre ícone e proposição, como modelo dg rea-
laridade ter confirmação quantitativa ou quálitativa: a Iidade operativamente válido com base no princípio de similar!
primeira pressupõe a co-presençaf a segundu,
u ,a*ãoJ;;;ç; dade, Eco contesta a interpretação de Witlgenstein: para Eco,
dos dois elementos similãres. É vortanios a peirce e süas o que é válido no filósofo neopositivista náo é a teorialinear do
deii-
nições de ícone e de íncríce, veícuros respectivamert"
q.iuirtuti- significado, e sim sua crise, trazida à luz pelas diferenças entre
e quantitativo de similaridade. No do índice, ,;riii;;;à; 'f ractatus
e as Investigations. Além disso, mesmo aceitãndo co-
ocorre por transformação métrica "uro "
ôu projetiva, enquanto 'no rno válida a "teoria da modelação", não se explicaria como fun-
caso do ícone a transformação será ae ilpó topológico. cionam os modelos (segundo Eco, baseados em normas conven-
Maldo-
nado admite, contudo, que áinda hoje não existe a cionais de similitude) . O icônico não "mostra nunca por força
de confirmação de todoi os signos icônicos e isso ,.iosrilifiJaae
d"u" à falta interna", mas apenas depois que se estabeleceram normas de
de uma história crítica das t?cnicas de iconicidaa" ina"ri"ài, pertinência. E tais normas são admitidas pelo próprio Wittgens-
no interior da falta maior de uma história crítica .da técnica, tein e colocadas em dependência da práxis operátiva. Isso im-
lamentada por Marx, em O capital. O futuro da semiótica ã, plica uma reflexão sobre as modalidades culturais mediante as
portanto, para Maldonado, um futuro de pesquisa empírica quais os modelos são constituídos e essas modalidades consti-
ó
experimental. luem "o conteúdo sistematizado como cultura',. Segundo Eco,
portanto, ocorreu com Maldonado um equívoco a respeito do
132
133
conceito de "semântica": estudo das relações entre signos e obje- A resposta de Eco, além do refinamento dialétiço, está ba-
tos, para Maldonado; estudo da taxionomia do conteúdo, para scada em alguns firmes pontos de defesa: 1) o contínuo aceno
Eco. Esta segunda semântica é, porém, absolutamente necessá- .r uma reyisão crítiça realizada a partir de Segno até chegar ao
ria para entender como os signos podem ser usados para mentir. 'l'rattato; 2) uma interpretação diversa
de Wittgenstein a pro-
E não apenas isto; mas, tratando-se de disciplina que tem o pósito da "Abbildungstheorie"; 3) a constante preocupação de
conteúdo por objeto, ela tem também por objeto a organizaçáo rnanter distintos os planos da referência e do funcionamento do
do mundo operada por uma sociedade, isto é, a ideologia e a sistema semântico; 4) a explícita (mas aparente?) concordân-
organização social. cia sobre a necessidade de uma história crítica das técnicas de
Eco também concorda com Maldonado em torno da crítica iconicidade" Torna-se agora interessaÍtte rever o tão citado de-
a seus modos anteriores de apresentar e discutir as definições scnvolvimento do pensamento de Eco sobre a iconicidade, e isso
peircianas de índice e ícone, mas afirma ter aperfeiçoado e apro- por duas razões: de urn lado vçr as diÍerenças e os desenvolr,i^
fundado a questão de Segno (Signo) em diante (textos não nrentos, extraindo daí indicações metodológicas, e, de outro,
examinados pelo adversário) e nega ter negado o valor cognos- i,bservar também âs constantes, para ter um quadro dos funda-
citivo da similaridade: o centro da questão seria apenas que a nrLrntos filosóficos que animam o petisilllento cÍe Eco.
categoria de similaridade não esclarece o funcionamento dos No primeiro capítule da seccão P, de Á estruturq ausente,
signos icônicos como modelos de realidade. E isso mesmo admi- Irco inicia a discussão sobre cócligos visuais, partindo de uma
tindo que uma expressão visual nasça da projeção de caracterís- l,rcocnpação hoje já superada em muitos aspectos: fundar uma
ticas do objeto as características devem ser tornadas perti- .irríilise da comunicação visual sobre i:ategorias difer.entes das
-
nentes com antecedência, e a projeção efetuada mediante regras. ,lrr lingüística, evitando, assim, aplicações forçadas de seus es-
Portanto, Maldonado confundiria a iconicidade da percepção (luüfiias ou, ao contráric, a apressada dedução de que os fatos
Çom a iconicidade da representação sígnica, mal-entendido que visuais não têm caráter semiótico, ou ainda, a banalidade de
seria confirmado, por exemplo, pelo telescópio de Galileu. Mal- jr' r'cditar neste úliimo corolário, mas continuar a falar dele om
I urmos metaforicamente lingüísticos.
donado, acusando Eco de não querer olhar pelo telescópio, jus-
tamente como os oponentes do cientista pisano, confundiria a Eco procede, porém, a uma transposição mecânica, e não
imagem no telescópio com um signo. Mas o telescópio é apenas '.rrficientemente motivada, de um noyo esquema (o de Peirce,
uma prótese, a iconicidade reaparece somente quando Galileu ritrivado das famosas tripartições dos tipos de signo) no campo
quer comunicar a imagem com um desenho, o que faz precisa- ,l;rs comunicações visuais. Passa, depois, à anáiise dos signos
mente de acordo com regras culturais de sua época. ,'rrr relação ao objeto (símboio, índice, ícone) , na tentativa de
r,'tlcfini-ios de um ponto de vista convencional. I)ando como
A última questão diz respeito à validade de confirmação
1,r'csr;uposto a arbitrariedade do sírnbolo, Eco interpreta a noção
de um índice mediante a categoria leibniziana de co-presença
projetiva. Segundo Eco, também nesse caso é necessária a nor- 1,,'ilciana de índice corno alguma coisa "que dirige a atenção
ma cultural. A co-presença, de fato, é apenas inferida, porque, l,iira o objeto indicado, por meio de urn impulso cego" (os
, \en-rplos são as manchas de água nâ terra, índice de chuva, o
no momento da produção, o signo é invisível. A projeção a pos-. ',inat de trânsito, as pegadas). Ecet srrstenta. porém, que "t1m
teriori é, portanto, sempre paru atrás e necessita da aplicação rrrrlice funciorra com base em convenções ou em sistemas de
de regras de transformação. Eco concorda, todavia, com a pro- , '.pcriências aprendidas. Quanto aos ícones, eles seriam "aque-
posta de Maldonado de estudar as técnicas de produção icônica: l, :r l;ig116s que têm uma certa semelhança nativa colrr o objetcr
elas servem para determinar o que é fruto de escolha, como o ,r {luÊ: se r*f,eÍelil" (os exemplcs sãc cs retratos ou os diagtamas)
objeto determina a expressão, como se remonta de uma expres- ,,:r riuc, segunrlc hiorris, "püs.suoin algirmas proprieciades cio
são para um conteúdo, como uma expressão "mais icônica" co- ,,lriülü r*pÍÊseuta,io". ílssa ciefiriçiio ó criticada poi'Eco con:o
loca em discussão um dado convencionado. ;,rrtológir:a, fato *lu qr.lai ,; prói:rio l/t*rris tinha se apercebido,

134
afirmando. que há escalas de iconicidade
signo icônico de um objeto é
e que o verdadeiro
bém a iconicidade somênte podã ,róp;il-ol1eto,.-Éai,
" sàr il,;ãil_ '''mo-forças sociais efetivas -mensagens que não saibam^#iê
I isicalisticamente uma
refretir
corre a códigos: trata-se de ielecionar "*pfi"uàu^quãr;;|J;- .realidade,;;;;.ü1,,s"ár_"ri"
cáracterísti"u, p.riú"n- linida". Mas trata-se de
tes com base em reg-ras e de-reproduzi-lu, uma aefinüào'urn pouco forçada da
.._pr" mediante ou_
tras regras. A seleção dos dad^os p.r."ptiror;"";r;;;ã;;;. iirroseologia materiarista. A teoria áã ."ir.ro
tlução termo a termo da,s relações impricaria uma re-
códigos de reconhecimento ,ru ômrnicação
depende de um triria imóvel. A concepção de-Eco
.ri* àfptr; ,i** ;;#_
código icônico oue estaberece" sua.àuirãrãr"i"
com certos sisnos ,' ó semelhante à avaliação sobre "àá1rta.rri" rirà"i* ,q"i,
gráficos. A última parte do .rpi,ri"'É-à.àt;;ã;;;;ffi;5T; a pr.t*r, circularidade lógica
problema das anarogias e das dii;rú; ,lt'.?eirce. É preciso^lembrar qr",-ã;;i;;;menre,
ãos códigos visuais com rrleiia peirciana de definiçao
assim como a
relação ao código dã língua, imôiúvu r,n',,oui,,ento de retorno
91trãri" "-"apítulo posterior
minaoproblemamaisãspécífi*àã_a'pr,".ti.,iãõàã exa- ('r. espiral, também a teoria'ao ."fle*à i;; ;*";;;;;;;
,rnálogo.
Em Lezione e contrqãdizioni dero itrutturqtismo .,Os
("Lições e contradições do estrutu.ulirrro sovietico No capítulo percursos do sentido,, de Ás
soviético,,, de 1969), ,orrteúdo, publicado ulte.r_._",m lormas do
que funciona como inrroduÇão
i ;r"i;;i,
Versus, com o título..A semiotic
lo strutturalismo sovietico (-os ,iste-u, I sistemí ií ;;s;;,; 'r1',roach to semantics"
ãà signos e o estrutura- .("Uma uh.dugãã semiótica da semân_
ti.a"), aparece de maneira
lismo soviético), Eco não fala a" p.obf"r" -ui,,rgiàu ã t"oriu do riÀnifi"J; d"
detém longamente, e- de maneir; ;;;;;;
dos signos, mas se l;to. |á esclarecemos alguns,a" ,.ir-urp""to,
exptícita, na teoria t;rrto, não retornaremos a eles, ..l"uin,"J
do significado em relaçã" ",1";:
.r; ,r^ i*pjj.rç0", gnoseológicas. E
desde que a concepção não
todo o ensaio é uma poiêmi.r, no, pár'.,"., qualquer hipó_
',rrtrstancialmente mudadr.
o ;.q;í;;;-á" r.f;;;fu; ;1"à;: foi
tese materialista. particularmente
*ntr, , ""rtra
teoria do reflexo ou ''i;r, denunciado de maneira *rlio ,itiau -ao e a denúncir-;';;;
,,v.ida através de uma
espelhamento (peÍo menos qq ;;*t;;
ij, qrur Lênin a defen- ( )ltden -crítica ,raicrl f;";-;i#g;";;
e Richards e..à famosa t"oriu a"-"Sl"n_S.a;r;i;;i
dia em Materiaiismo e e.mpirio*iti"it*ãi',' ;;
teoria definida como l'rcge. "Ligar a verificação de
"vulgar", "mecanicista,,, um signiiicante ao objeto a que
(curiosamente com a-píópúa .i,escolásti"u,l-',ibunul,, e ..medieval,, . r'cfere.cria dois problemrs ir,;i.ry'ri"iãrru
li;;;ã;," L muitos dos termos I,, sitni1,"urte d_ependente de o varor semiótico
usados por Eneels e Marx, além do"r;;;à;,
p"lo;;p;i,, Lã;tõ: seu ,rú ;; verdade: h) nhri.o
Eco atirma, pór exemplo'i; .r ,rorvrctuar o obieÍo a que
sc refere o siqnificante'";rr;;;ã:
;;ffi;*ãà semiotogo soviético I'rt'rrra condu, u i*u.rpg;i;
;;r;il;"j.;
rrr.ira êsserÇão, Eco teÀbra pràftá*u ijru
Revzin), que "em lugar de'crúr ;;;j;r;;"nte a.rorsrrar a pri_
uma reoria dos jos termos
fenômenos comunicativos como momento o correspon_
lação social, independente da ;.i;;;;-i,".diata
fundamental da re- ,,ll,l"t a objetos que não existem
entre sisremas ',r'r' um processo, iou-Jil"Ão, que o objeto pode
sígnicos e realidade 'materiar', -r"l."r".""insistir ou dizemos que não há referánte, up"ru,
no valor sin- r{'rrcia, ou dizemos ainda i*1"-
tomático do universo áo, ,.rp"iiá ao resíduo .;ú-;íg_ é ,.;;i"t" físico:'rã-prf*..r-
nico". Entre outras coisas,
^r,r_s-1i"9
;r:io, permanecemos em_ _que b); no ,"grndo nos desfaró;;;-;;
é curioso !u.- o ataque à teoria do r,Í(,r'ente; no terceiro, ,ao
reflexo_.seja conduzido- em contraposição como funciona um
à teoria marxista da 'r rr.,) ' Quanto à sequndl "ôrrp..ãr'a.ÀJ,
contradição, esquecendo-se de que
;r**lãã'rl,.hlã ripáàr.,'E"o"i.rr., que o obieto
r, podc ser um únic'o.objeto lár.*r,ã#;;;.ür;";"";L"j::
(a de Mao, em Sobre a contraüçãr) " ".Ãa"
é -ui, dirl;ii;í;, d; l,r'; 11ss não é mais entidade
Lênin, mas não se lhe opõe com-muita real, mas ufrtrutu e, portanto, cul-
fo.iu ., antes, baseia_se t r rrlmente convencionada.
r r
amptamente no ensaio tãninista iiÀiioührí"i:à;
De fato, ele está conv-encido de que " a i"á.i, a" reflexo E;s"í;. é uma
Ele examina, por fim,
, r'ircunstâncias
. outros tipos de recurso ao referente:
qr:e acompanham ã .o*uri.ução,
espécic de nova metafísica, qr" Luu
à i.imobilizaçao áu- r.uii obiero.s que ," upr.r.rtãm como
a semiotiza-
dade de categorias imutáváisi o, qu. ,,impede : :].:1,.-^r:f"rente, signos. O
de reconhecer t,innorro caso não é pertinente à senriótiça, porque
, ,'ssirÍade de fazer um catálogo a" ,oàol os objetos impiicaria a
136 cognoscí_

137
veis ou de todo o saber universal;.o- segundo (os ,.intrinsecalty th.:que sua indexicalidade derive do fato de serem assumidos
coded acts", de Ekman e Friesen) é de riatureza tipicamente .u,rrà signos em ausência do objeto significado.
cori,
vencional (uso metonímico do referente) ; o tercei;o caso e iguai- Poi outro lado, a própria noção de índice é relativa, por-
mente referível a um processo convencional, tá.nuràÀ;" tluc já Peirce adrniiia qu" ,rn mésmo signo pode ser tomado
tinentes certas unidadês curturais em um sistema * .luro írdi.., ícone ou símbolo, conforme as circunstâncias em
semâniic,
baseado em experiências passadas. (lue aparece e o uso que lhe é destinado.
"Introduction to a semiotics of iconic signs,, (.,Introdução Á crítica à noção de similaridade entre ícone e objeto per-
à semiótica dos, signos icônicos,,) é o ensaio qr" àf.., n)anece a clássica, ôom umu observação mais estrita dos signos
meiro número de Versus, o debate sobre iconismo que';;;il;- "ãlii- ostensivos e dos intrínsecos e com o reforço do conceito de
riza as primeiras edições da revista. Eco introdur'su. teoiú scmiotização do referente. Pela primeira vez, dá-se mais ênfase
da mentira como justificação teórica da necessidade de uma à escassí proficuidade da distinção entre signos motivados e
semiótica antireferencia] É ggqnre possível *i".iii signos convencionais: um ícone assemelha-se ao próprio -o!ieto,
. ,í;;; nào porqr. o reproduz, mas porque baseia-se na modalidade de
(o que já dissera weinrich) ";-
. voliamoi outra vez à tentativa"dc
criar o sistema semântico circunscrevendo_o inteir"."nà ,À proiuçaà de pôrcepções tornadàs pertinentes como similares
conjunto das relações sígnicas que constituem seu objeto. Com :,quelai
' experimentadas em presença do objeto.
Ao laão dessa primeira formulação coerente de uma tipo'
.
eteito, para Eco não há figuração senão depois qr. uáu
cultura
tornou pertinentes certas características doJ objetos num sistema logia da produção iígnica (que depois será desenvolvida no
de presença/ausência tal que os objetos tornem-se reconhecíveis
'fíatado),'Eco enfrenú também com uma certa sistematicidade
uns pelos outros. AIém disso, a culfura sempre deve estabelecer, o iconismo como problema filosófico, no âmbito da mais clássica,
dentro de um certo número de possibilidad'es gráfica, ;;r*J: seral e tradicionà questão do referente. No item "La seconda
vas, as que podem ser utilizadas. Assim, sempre com base em ãpparizione del referente: la forma dell'enunciato e la forma
normas culturais, deverá ocorrer a junção, termo a termo, entre d"i fatto" (A segunda aparição do referente: a forma do enun-
unidade gráfica e unidade cultural. Eóo não aceita o príncípio .1"a" a forma"do fato) , antecipam-se algumas questões sobre
de que certos signos gráficos são escolhidos no lugar d. ortro, o valor" proposicional e representátivo do_ícone em Wittgenstein,
para representarem algo por seu vínculo de similaridade com ore deoôis-estarão no cerlro do ensaio de Maldonado e t1a pos-
esse algo.. O próprio conceito de analogia, de resto, perde
te.ior iesposta de Eco. Este limita-se, porém, a dar por certo
seus que a identidade entre a forma do enunciado e a forma do fato
traços clássicos, se se refere, por exemplo, ao funcionamento á a proposta wittgensteiniana, remetendo sua crítica à do ico'
do computador analógico. nisrô, ,itto qu" os dois conceitos estão profundamente-liga-
Mais completa, mas também mais complexa talvez, mostra_ dos entre si. E' sobre a teoria do reflexo, ainda uma vez Eco é
se a análise dos fenômenos que dizem respeiio em Segno (Signo), intransigente: "apenas uma mentalidade primitiva ou muito
1973, Nesse livro, tenta-se uma minuciosa classificaçáo dos tipos impregnãda de misticismo identifica os signos com as.coisas"'
de signo e, ao mesmo tempo, tem início a elaboração ao ambi e ànajise das afirmações de Peirce é, sem dúvida, muito mais
cioso projeto de uma teoria unificada do signo, em bases deci- a-plu e particulariruáu qr. nos textos anteriores' Eco reconhece
didamente filosóficas. A *ítica ao iconismo é conduzida aqui qrá o piir.ípio de simiÍaridade em Peirce é muito mais com-
de maneira muito cerrada e com um aparato conceitual mais pt"*o a'o que ge.almente se pensa. O princípio da similaridade
sólido. A tripartição peirciana entre índiCe, ícone e símbolo, por está ligado u J.u .or""ito dê posse de elementos configuracio-
uxemplo, é muito mais minuciosamente criticada. Em relaàao nais cõmuns entre signo e objéto, bem como entre enunciado e
aos índices, Eco subdivide-os em categorias diversas: índices Lm fato. Mas, segundo Eco, as homologias configuracionais- são es-
sentido próprio, índices vetores (subíndices ou hipossemas) sin_ tabelecidas pã. e o discurso sobre o iconismo se
, "onuenção
tomas, shilters, ressaltando que sua convencionaÍidade depende rcduz a discurso sobre as modalidades convencionais através das

138 t39
quais o iconismo se ôonstrói. A aparente dependência causal lrcla organização dos'dados da percepção com base em sua per-
tinentização (portanto, já normatizada) e de sua transcrição
do signo em relação ao objeto seria, portanto, efeito da conven- ;rtravés de sistemas codificados. Que as manifestações icônicas
não reprodu-
çào-frodutora dá signo. Os próprioJ enunciados scjam "lidas" com base em conhecimentos adquiridos, inseridos
í"^'u forma dos fatos; "é que nós nos habituamos a pensaÍ-os rrr.rmacultura, demonstra-se tanto no campo da arte quanto
fatos da maneira pela qual õs enunciados os configuram'' Não oa rro da fotografia.
àbstante tal afirmãção, Eco parece manter alguma cautela: Recentemente, o debate sobre o iconismo, sobretudo em
r*p"i,, de reconhecimento iiônico está abrig-ada na profundi
sr:trs aspectos mais propriamente filosóficos, isto é, a discussão
ááã'" *.ttnu da percepção sensível e, mesmo admitindo que dois
:;obre Peirce, foi analiticamente tratado por um ágil ensaio de
círculos de Eulêr constituem dois artifícios convencionais, o Itossela Fabbrichesi Leo, "La polemica sulf iconismo" ("A polê-
problema retorna no momento em que se pergunta como reco-
rrrica sobre o iconismo"), de 1983. Transparece aí uma série de
nh.."-o, dois círculos como dois círculos". Ele conclui disso plcocupações que transcendem a importância semiótica do tema.
que talvez motivação e convenção não estejam em .oposição re-
I rrr resumo, a proposta de Fabbrichesi é superar a simples visão
mas podám ser complemeltares: o que não anula, se-
"ípao"u,ele, uma teoria que exilui de sua esfera as categorias de ',r'rrriótica para se ocupar mais dos fundamentos fenomenológi-
gúndo
, ,rs da percepção e então construir uma verdadeira filosofia da
õimilaridade e complementaridade entre motiv açáo e percep- ruurgem e da própria percepção. As hipóteses de Peirce, se-
ção, embora considàrando-as como legítimas no horizonte
de
psicologia e a neurofisiologia da percepção' 1'rrrrilo Fabbrichesi, não são avaliadas dentro da clássica tríade
àiências como a
rlc signos (ícone, índice, símbolo) em relação ao objeto dinâ-
Do Tratado de semiótica geral falarcmos menos: a tazáo rrrir:o. A iconicidade de Peirce abrange todo o conhecimento:
reside essencialmente no fato de que a leotia do significado e a ,r íctlne existe como "primeiridade" também na percepção. Por-
discussão sobre o iconismo retomam, de maneira mais ou me- t,rrrto, pode-se inferir que o interesse de Peirce não era simples-
nos aprofundada e sistematizada, todos os temas precedentes' rrrL'rrtt: o de chegar a novas e boas descrições das imagens com
A parte sobre signos visuais de A estruturo ausente, por exem- l,;r:;rrs comunicativo-semióticas, mas o de fornecer um conjunto
.rta complet"amente assimilada no capítulo sobre os modos
pto,'produção ,h' clementos (tudo o que, de diversos pontos de vista, chama-
àa icônica, e as bases informacionais sobre que se rrr,,s "imagem") a definir. A proposta é interessante e não deve
urr"ntuuu uquele primeiro texto estão mais bem integradas num ',, r rrcgligenciada. Mesmo porque Fabbrichesi demonstra que a
sistema maii problemático. As partes que consideramos como ,,,,çiro de iconismo tem produzido aprofundamentos do conhe-
mais "idealistás" de As lormas do conteúda parecem minucio- r rn('nto nos campos disciplinares mais díspares (linguagem, téc-
samente retomadas, mas é necessário admitir que, se aquele rrr,:rs de produção experimental, psicologia etc.) e, portanto,
texto criava uma semiótica anti-referencial, reutilizado agora .,,t,urrdo locus dif.ercntes. Também é verdadeiro, porém, que o
como teoria dos códigos, funciona como contrapeso à teoria da ,r.,1)r'c1«l genuinamente semiótico do conceito revela-se fundamen-
produÇão sígnica, na qual o problema do referente volta a ser,
r,rl pirra os diversos campos disciplinares: toda vez que se teo-
num óerto sentido, admitido pela semiótica. Certamente con- ,r,r st)bre a imagem em relação com os objetos do mundo, pro-
iinua intocada a teoria do significado, tão criticada por Maldo- ,lrrzt'rrr-se, por definição, discursos sobre a imagem, cuja origem
,udo, tnut se admite, parafalat com Bloch, o "princípio da reali- ,1, l;rto revela a semioticidade necessária do fenômeno. Mais do
dadeí'. Também a çritica ao iconismo continua sem mudanças, ,1rr,' isso, e para ficar apenas no'âmbito do aspecto semiótico
mas a adesão ao chamamento de Maldonado pata dar conta das ,1,, lrrl;blema, valerá a pena perguntar de que imagem se está
técnicas de iconicidade parece total, embora com todas as "dis- l,rlrrrtlo; de que iconicidade se estão produzindo simulacros
tinções"
- oportunas.
Ir r rr i(:()S.
Quanio a Peirce, Eco reforça o próprio conceito, em bases
Íi nítida a impressão de que, no longo debate referente ao
peircianas, da semiose ilimitada e, com isso, as próprias hipó-
,r',,unlo, nem sempre tenha havido uma mesma compreensão
ieses anti-referencialistas. De fato, os signos visuais funcionam

140 141
bate coincide exatamente com uma maior atenção à complex!
das questões, em tazão de, em épocas diferentes, os termos da
discussão apoiarem-se em pressupostos que, com o tempo, trans-
ã;à; á; p;;rumtnto de Peirce e à contribuição de instrumentos
formaram-se.
tágicos dà pesquisa para o_aprofundamento da análise dos
fenô-
- Nesse-deponto, entretanto, é importante ressaltar que as di- .nãno, icônicoi. euáse todai as intervenções voltam a atençáo
ferelças colocação do problema dos signos icônicos, em agoru.tinha sido,negligenciado pelos.es-
Umberto Eco, não dependem, provavelmenté, de suas oscila- ;;;;; frt;qu; até iío é, o da produção sí,gnica' f4 4T-
iuáioro, de semiótica,
ções teóricas, mas da própria diversidade das questões de fundo samento de horizontes não é casual e provavelmente coincide
propostas pelo debate teórico em curso, nos vários momentos
em que seus textos aparecem. Portanto, certas fragilidades e
il-;-;"*.têrcia de até agoÍa se ter aprofundado
portanto'
exclusiva-
clo alme-
contradições de A estrutura ausente, por exernplo, esião ligadas
,.rrt. ,-u semiótica descrltiva, distante,
Neste sentido, enrre
iráã-Lrt"irto de disciplina experimental.
à natureza das disçussões nos anos anteriores ã 1967, que gira_ ; ;"lh;r;t contribuiçàes estão as de Ugo Volli e Eliseo Verõn'
vam em torno da querela entre defensores e detratores -da ãxis_ Nota-se. oorém. que, emborâ a maioria dos estucliosos reconheça
tência de uma _"linguagem cinematográfica específica,,. Concre_ o lundamenlo dá relação entre signo c tefercnte, há uma ten-
tamente, o problema dos signos icônicos apenas comecou a ser áe""iu a adiar a discuisão, quando se fala de realidarle " e'tra-
colocado a propóúo da validade de uma iemiótica do cinema, r.*iãti"r; ou quando se iniiste em ficar fechado na famosa
e em relação à aplicabilidade das categorias da lingüísticu gerui
;;;;ã;t per-tinentiruçãoem de cçrtos elementos pot parte de
para o estudo de filmes. iiÁ" determinadã, um momento deterrninado"
_ No -aparentemente insuperável impasse entre uma concep- "uftutu
O que se nota é que o realizado em Versus leva
-rlebate.
ção estritamente lingüística (afirmando o princípio da dupia Eco a considerar com maior flexibilidade o problema da -iconi-
articulação) e uma concepção negativa em ielaçãô à existênãia
de uma semiótica fílmica, media-ú o grau de côesão da semió-
;;;d" ã ã rãrá, toda a questão do referente, fatono-.Tratado,
que levará
á áã"riã"rrçáo dos modos^de produção dos signos
tica tout court no debate que envolveu, entre 1964 e 196g, ;; ü;;á posições considerâdas como mais materialistas pelo
Christian Metz,- Pier Paolo pãsolini, Emiiio Garroni e Gian_ próprio Eco. A ionsciência de não mais ser- possível"elirninar
f-ra1co Bettetini, Eco identificava, na restrição do problema à ã^ qi""rtaã ào referente dos sign_os. icônicos
do domínio da se-
dupla articulação e à motivação, os termoà que eiterilizaram miática é evidente numa cont-ribuição posterior- de Ugo Voili'
o debate. F]e procurava superar os dois impasses com uma nrrblicada em 1975, mas na verdade elaborada bem antes' Em
intuição esplêndida: não discutir mais os doii conceitos, mas IA";iiri ;.*toiica della comunicazione iconica" ("Análise se-
superá-los, declarando a relatividade do primeiro e a não-per-
tinência do segundo, numa visão mais - ampla da semióiica.
.iOti* a" comunicação icônica"), depois de um longo escla-
de--tipos
,""i-""t" preliminar do problema
-e {a
e.xclusflo de
Aquilo _que hoje pode parecer contradição era^, então, o melhor sisnos oue não pertencem ao setor da iconicidade, volli afirma
modo de fazer avançar as bases teóricás da semiótica, na posi- ã,?" formul com os instrumentos da lógica pode
ç-ão em que se achava. Parece evidente, nesse quadro, que Eco ilr à; grurd. utilidade para o fenômeno da
"-rrâ"á.r1i.aião ccrnunicação
devesse atacar qualquer aceno à motivação, aí incluída à ainda
i"À"i"" [à"r. ,.. abandonado o improdutivo termo de signo
mal-entendida categoria de similaridade proposta por peirce. icônico).
_ _ Nesse sentido, não se descuida da importância da retoma_ O processo comunicativo icônico seria um proces-§o de três
da do debate sobre o iconismo, por volta de tglt-lZ, na ocasião (isto é,
fur"u, olUl"to sern reievância culturalfobjeto semiotizado
do lançamento de Versus, revista dirigida por Eco. Após um transformado pôr uma eultura em elementos pertinentes) /signo
artigo do próprio Eco no segundo número, o terceiro traz a ícônico. A reiação e,ntre as três fases seria earacterizada pela
C
publicação de ohservações de Ugo Volli, Alberto Farassino, relaçrão de inclúsão de cada uma das fases na antecedente'
Francesco Casetti e Gianfranco Bettetini; no número seguinte, signá icônico, em partícular, reduziria e simplifiearia os dados
ensaios de Eliseo Verôn e Martin Krampen" A retomada do de- fo'ín:ais do objeto semiotizado mediante dois tipos de trans-

142 Í43
formação geométrica: uma transformação projetiva e uma to_ ('xceção a uma teoria sígnica da atte,, (Monis, lg3rgb,
pológica. 37).
f'rrmbém é verdade, porém, que a noção de iconismo ê u*u
Voltando ao debate Eco-Maldonado, observemos que as ,lirs que devem ser esclarecidãs com á máxima urgência. Co-
duas posições testemunham não uma polémica individuai, mas
Ircadas em confronto com tais problemas, muitas cJntribuições
du-as concepções da semiótica que se ôolocam sobre baseí filo_ "scmióticas" sobre a-arte aca6am por se mostrar
sóficas diferentes: uma tradiçáo convencionalista, a de Ecá; ambíguas,
ituando não deixam simplesmente de ser semióticas.
um interesse específico pelas operações, a de MaÍdonado. Em
termos muito sumários, mas não sem algum fundamento, sua Os últimos estudos, sobretudo na vertente da teoria da
pt'rcepção, parecem propor uma maior cautela com relação às
oposição foi interpretada como oposição éntre idealis-o ó *u_
polêmicas do-passado recente, mas nenhuma palavra aefiniti-
terialismo. Em âmbito estritameúe filosófico, por exemplo, o
vrrncnte convincente em favor do convencionalismo ou realismo
corivencionalismo puro foi também interpretado como ,*à d.r-
cendência idealista, lá em 1955, Enzo pãci afirmava: *Ê carac_ l)irrcoe ter sido ainda pronunciada. Edward S. Reed (197g),
terístico. da posição idealista a negação de qualquer condiciona- t)()r _exemplo, sugere (baseado em Gibson, 1966) a existência
,lt' clois tipos de denotação, uma ,.natural,, e uma,,convencio-
Te.nto . . . ) isso poderia inclusive significar quã as linguagens_
(
rr:r1", esta última sendo legítima apenas a pafiir das transfor_
gbjeto são 'construídas' por um ato do pensamento pênsánte. rrr;rções da anterior. Como prova dã existênôia de uma denota-
Ora, em tal caso o at-o d_o pensamento peásante é o ató no qual
,,:r() "natural", Reed alonga-se no exemplo das cartas geográ_
exprime o princípio de convencionolidade" (paci, 1955, 3).
1e Iit'rrs, particularmente as marítimas. A grànde invenção dã úer_
Paci remontava_tal_posição a Vico, depois a Croce-e por-fim,
claramente teorizada, a Gentile.
,;rlor (cerca de 1560), a projeção giodésica, nãô seria um
A conclusão provisória do debate entre Eco e Maldonado ;,roblema de novos usos simbólicós do mapa (como sustentava
( ioodman, 1968),
parece ser uma mediação: Eco afirma ter atenuado a própria nem, por outro lado, ãe maior .,realismo,,
,,rr uderência ao verdadeiio. Mais simplesmente, a invenção de
posição a partir do Tratado de semiótica geral, com a intróau_
l\4('r'cator constitui um modo de repreientação que é ,,na:tural',,
ção de uma nova ótica de pesquisa, aquelã ,obr" o, modos de .r partir de. uma específica invariante percêptivã, a direção do
produção sígnica; Maldonado, por outro lado, terminava seus
nirvro na_ vragem por mar. Enquanto os mapas anteriores, como
"Appunti sull'iconicità" ("Apontamentos sobre a iconicidade',, ,,r, portulanos, escolhiam uma invariante diferente, que de
1974a) prevendo a necessidade de sérios aprofundamentos so_ um
,)ulro ponto de vista permitia representações igualmente ,,na-
bre as técnicas de iconicidade indexical. tr'.is", "similares" ao real. O equívoco sobre-o conceito de
É bom assinalar que se trata de uma mediação aparente: os '.( nrclhança derivaria de um uso
modos de produção sígnica estão sempre ligadoi, pur'u E"o, uo, metafórico e pouco preciso
rlt' urt termo que, em sua primeira acepçáo, prov?m da geome-
To-do: de expressividade; as técnicaj de produçao de iconici- tr i;r,.cuclidiana, mas que se tornou o eqúivalenie
de ..semeihança
dade indexical são, para Maldonado, semprê técnicas operativas. ,1,' Í'orma". Gibson demonstrou, ao côntrário, que
Além da conclusão-mediação do debate sobre o icãnismo, é a p..."pçá"
rr,r,r ó baseada na forma, mas no reconhecimerto d"'inuuiiàrr_
necessário dizer que, nos últimos tempos, não surgiram contri- r, :, l)rivadas de forma (ver Reed, 1g7g).
Leon G. Shiman, um
buições inovadoras em torno do assunto. ,,r;rternático, chgS! conclusões semelhantes, que chegou a for_
Com isso, não queremos afirmar que uma definição do ?
tr;tlizar numa lei de estabilidade perceptiva válida tãnto para
iconismo seja a única base possível paia uma semiótita das ,r', irrragens estáticas quanto pata aquelas em movimento, e ca_
artes ou para uma estética semiótica. Este é um equívoco que t,.rz de explicar em termos de "naturalidade', também as ilusões
custou a Mo*is o abalo das hipóteses fundamentaii da estética ,,tit :rs (ver Shiman, 1978) .
semiótica: às voltas com a análise da arte abstrata, Morris pre_ De resto, nota-se maior cautela ao definir também entre
cisou admitir que "a arte abstrata (talvez um nome mais eiato , . t'r)nyeÍlcionalistas
fosse arte automórfica ou metamdrfica) poderia parecer uma ' mais çonvictos. Goodman, pot exemplo,
,1rr. propôs fundar a teoria cla representação sobre a denotição

t44 145
(mas independentemente de uma teoria
da classificação) , foi
obrigado a admitir a fragilidad" d;-;;; construção (,.canons miótica da arte, e deveria ter chegado o momento de nos de-
of classification are ress õrear than the practice"j. r um tirà- termos na situação atual. Eis-nos frente a uma nova dificul-
sofo da ciência, como
_polanyi, ja adÀitij a existência de deno- dade: o panorama da disciplina apresenta-se, de fato, muito
tações naturais e até de umá réferencialidua" variado e desagregado.
,"uiiriu, ;;"dr;.
em "tacit intellecual powers,, (polanyi, 195àJ.-'õ;àil; As pesquisas na área são bastante limitadas e orientadas
Ernst G-ombrich (ver Gombrich,' tSi+; parece rever em direções totalmente diversas entre si, sempre ligadas à tra-
parcial_
mente algumas de suas clássicas aflrmaçOei dição analítrca própria de uma escola, de um país, ãe um hori-
sobre a -
nalidade da representação visual,
aspectos da percepção como fundantes
d;á" ..r"ionu"o,ir.n"io-
ãi;;;r; zonte filosófico, ou decididamente adaptadas ã uma nova ter-
utgu*À, ;p;;;;;;: minologia crítica (exatamente a semiótica), o que permite ficar
ções (precisamente ",n na moda, mas que basicamente encobre a antiga ciítica impres-
9 -ryapa geográfico e topo"gráficol iroú.à- o
tema, ver também Fabbri. lg79). sionista e intuicionista. Bastará dar uma olhaãa nos catálogos
, ^UTu posição
de Greimas
rigorosamente convencionalista é, enfim,
(ver Greímas-Courtês, úr9i . Segundo a
das galerias de arte, das mostras coletivas, das apresentaçóes
o semióloso dos pintores, das críticas nas páginas dos jornais. ô semiólogo
francês, o problema da iconiciJãil;
il 1;?;';";r.r;:';i: está em toda parte, e pode ser qualquer um, desde que use as
se continua a esrabelecer urnã ,.tuçaá palavras passe-portoul "signo", "significante", .,semâniica',,,,re-
i.-:.iil.l:l:nas,se
e mundo rear. Mas pensar que toda sernroti.u "ni.ã ferência" e algumas outras, A tudo isso junta-se uma tendência
'nguagem
não.é mais que uma imensa analogia'Jó .nunao ;;;i-;lüii; "isuài geral, por parte dos artistas contemporâÍieos, de teorizar a pró-
perder-se no labirinto das hipóteseí
roú* a existência e a na- pria obra em sentido semiótico, desautorizando a interpretação
tureza da realidade eJ ao mesmo te.mpo, dos críticos e introduzindo na obra instruções para ie, uro.
significà-àe-iãr" ,.À*
toda especificidade à. semiótica ;ürl;
lue seria dependente
desta suposta "realidad_e,,. Greimas p.Àr0".,
Também essa operação pertence à história: para ficar no âmbito
do século XX, podemos citar Paul Klee, piet Mondrian, Vassily
então, duas soluções
teóricas. A primeira: não considerur'o
-rído
entidade pertinente à semiótica, ,.rao-ro
,rtu.ui"or;ã; Kandinsky e muitos outros. Mas hoje se trata de uma tendência
sentidà dt;;^; que se generalizou em verdadeiras correntes artísticas: que se
mundo natural é ele mesmo- um objeto-seÀiotizado, pense na arte conceitual, na poesia visual, na narralive art,
turalmente transformado pelo tro.n"n,,-"-i.ansformaâo-.,,i, ãrf]
irtá
rirt" todas envolvidas, de algum modo, com a análise da linguagem
ma de signos. Deste ponio de vista, a questão (ver Menna, 1975; Pignotti-Stefanelli, 1980)
da iconicidade
entra no âmbito da supera.ção do problema
do ,.i;;;;,^;;;;;; Por fim, uma última consideracão sobre os limites disci-
. -l',Í::ii rà: aà rnu, d" q, -
plinares da questão que estamos analisando. Muitos dos pro-
Í:" :bf "--"o.."rpon
a Ér, à"r' rig:

,i
1.j oo campo
rao
^,1. operação consiste em eliminar
::9-11-d, a mesma quei_
exclusivo das semióticas visuais. De resto, anã_
blemas centrais da semiótica das artes encontram exata corres-
pondência nas aplicações semióticas de outros setores. E isso
lises recentes- provâram que existem fenômenos a partir de duas ordens diversas de questões. Do ponto de vista
de iconicidade
também nas-Iínguas natuiais ou na músicã. Dever_se-á teórico, as análises no campo do espetáculo, da fotografia, da
recorrer
antes à noção de ilusão relerencial como resultado-;; publicidade, dos objetos e da arquitetura devem acertar as contas
mentos colocados em jogo em qualquer sentiótica úãâ;
.orÀ ;;ú com o tema do iconismo, da multiplicidade dos códigos, dos
expressivos próprios parã produzir um efeito "estilos", dos gêneros, do texto. Mas, também de um ponto de
de ,ãriiá"- àã
reanoade_
vista mais específico, é bom ressaltar que o panorama das artes
r 5 g^ElllcÍFrco, o MODELO LrNcüÍsrrco, é hoje tão complexo que se torna difícil "isolar" setorialmente o
AS UNIDADES que é semiótico das artes daquilo que não é, assim como é absur-
virnos até agora probremas, as dificurdades, o debate, do "isolar-se" em relação a contribuições vindas de outras áreas.
-os
as relações interdisciplinares, Por exemplo, sabemos que são muitas as intersecções entre a
a pré-história e a história da ,"_
estrutura da linguagem poética e a estrutura da linguagem pu-
146
i47
(a.ponto de a estilística
Pl1.^rr:li.
rroJe retomadas como metodologia
e a rerórica, revisras, serem A atitude mais habitual frente à falta de instrumentos se_
semiótica aplica.la, ao teatro pãd. ;"-";;il;;;;,#;:"J ;;: guros de análise é a de "partir do zero,'. Construir um conjunto
forn..er excelentes contri_" abstrato de teorias ex-noyo, e daí partir dedutivamente, encon-
?}'HBi ?JÍi:i,1l:' r .' iipoi a"'''"p""ão u,,r,, úã'
ã,ã"àp* l..uníg resposta para os problemás singulares colocados pela
.
história da pintura.
s, p";; i ; l;fé',?:,,
p en in
l::li, i 1Tf; üjl[.,, T] !;y.,#i
dadaísmo) , enquanl. , 'r"*iãu"á"zpíiJ^a^ !?; Trata-se de uma posição que, todavia, tem profundas razões
temenre pode nos dar sugesrôes à fotografia eviden_ teóricas. Na falta de pontos de referência, alguni problemas não
sões artísticas que" faze-m
;;;;.air--..rp.?i".; ;;;l-:r_ resolvidos, ou resolvidos com explicações nao ôompletamente
rrso d"rr.r,Ã-"ios (ver airrda satisfatórias, tornam-se prioritários pata a reflexão- dos estu-
1975; pignorti-Sr"run.tti', i'õãoil"""' "'' Menna,
diosos ou são considerados como preliminares para qualquer
Voltando à oucstão da grande
fragmcnlação do panorama análise aplicativa.
semiórico-artísrico uruut,
.pãaã,"ár'airt?.que
podc scr alribuída. sem dúvida,-írir-C*,u ral fragmentação Se há, portanto, um ramo da crítica que poderemos cha-
consolidados c, ao mesmo- tempo, de modelos teóricos mar "sem pai", existe um outro em desesperadá busca de .,pa_
ao contrário, à consolidação
de escotas de rradicão dif";;;i;';;".u",ioo ternidade". Com efeito, existem numeroíos estudos aplicaàos
Em suma, o ,.u::_?.esrá na da semiórica geral. que renunciam programaticamente à colocação autôrroma de
cm ourros o;óo.i;
serores da semiórica u
disciplina. Enquanto novas bases teóricas e partem, ao contrário, áaquilo que pode-

. r"i"iuiãã1,-'ããr:p.d;;ã.-;;rr;;iH"i[
por conjeruras, provas p"iqriru mos chamar uma "tradução" em chave semiótica de- méiodos
rrcos praticamente "zeraram". ã?àrJ.;;iffiT,ã] provenientes das mais diversas disciplinas. Dir-se-á que a coisa
os prarrrp"orro, cicntíficos da é típica de muitos setoÍes do pensamento científico e particular-
qu,sa nesre campo. O p.rimeiro oes-
;;;;;ã"r" falência roral (que
podenlos atribuir às. poiiçoes.n"ot"rrinlrianas Tente da semiótica, dada sua tendência à reelabo.ação inte.-
la Volpe, nos anos sessenta) do pro-g-numa de Galvano
Del_ disciplinar. O estágio das pesquisas existentes, porém, leya-nos
componentes mínimos das de pesquisa dos
-ortfrti.r, a considerar estes estudos como pertencentes á semióticas di-
linguag.^ .I.-r"ü;ífi.;y. \rersas, entre si não comunicantes e basicamente parasitas. por
Falência que alcançou. primeirS
crnematográfica', e sobie
ã.;.lr;;
sobre a .,linguagem exemplo, vimos uma semiótica iconológica toda võltada para a
a "ti"gurã"J" arquiietônica,, e oue
frustrou de imediato as pesquisas"nerlã-rentiAo, tradução, em um novo jargão, dos princípios panofskianos. E
âmbito das artes visuaisl ó=;;;;;à;"à, promovidas no uma semiótica psicanalítica (como em Lyotaid, que trata a
il
mais recente e consiste *rutu,,1ni"-rã,i,i,ou um gorpe "peinture comme dispositif libidinal,,). E também uma semió_
"onrrario,
de que as artes tica psicológica, uma lógica, uma lingüística, uma histórica e
figurativas possam ser anaiisadas
enquanto sistema. uma filológica.
A siruaçâo dos esrud.os ;;.;';";;rníótica
assim, órfâ de bases
,üu"ã,
da arre esrá, . As razões para a_escolha desse segundo caminho são pra-
-merod"ióJ"r: ,ob." as quais fun- ticamente as mesmas do caso anterior: o ponto de partida ôon-
ouo d""'pli";;?;''empíricas que possa
H.'üd]::f r',}tnt?
tinua sendo o da solução de alguns problemas preliminares, com
a diferença de que, nessa verlente da pesquiü,
ri;;nJt,'iuã i'"",'#l [::, tem-se a segu-
: :, :t
a obietos extremarucnte l,i:.ffi n,:*, [H H.H.H:
petlo rança de que tal solução possa advir dé ouiras disciplinas.